FACULDADE DE TEOLOGIA
TESTEMUNHAS HOJE
CURSO LIVRE
RABI AKIVA
UMA HISTÓRIA DE CORAGEM E AMOR
O GRANDE ERUDITO: RABI
AKIVA BEN YOSEF
Rabi Akiva foi um dos
maiores eruditos que já viveram. Ele tinha explicações para todos os versículos
da Torá. Talvez o dito mais famoso de Akiva seja: “Ama teu próximo como a ti
mesmo.”
Rabi Akiva vivia aquilo
que ensinava, realmente se preocupava com o bem-estar das pessoas e sempre
tentava ajudar os outros. Dizia-se que dar dinheiro a Rabi Akiva era como dá-lo
diretamente aos pobres, tão rapidamente ele levava aos necessitados.
Durante esses anos, Israel
estava sob o domínio romano, o que tornava a vida difícil para o povo judeu. Os
romanos estavam determinados a erradicar a Torá e os eruditos de Torá. Eles
ameaçaram Akiva caso continuasse a sua obra. Essa ameaça não o deteve, e logo
foi capturado e condenado à morte.
A praça da cidade de
Cesareia estava apinhada de espectadores que ali foram para ter um vislumbre
final do querido e sagrado Rabi Akiva. Até mesmo enquanto seu fim se
aproximava, esse grande e justo líder se alegrava e entoava louvores a D'us. A
praça da cidade de Cesareia estava repleta de espectadores que foram
testemunhar a morte do querido e sagrado Rabi Akiva, o líder espiritual de
milhares de judeus de muitos países. Esse dia abalou o mundo judaico numa
maneira que ninguém julgava possível. A vida do notável Rabi
Akiva teve um fim trágico pelas mãos do Imperador Romano Adriano. O crime de
Akiva? Divulgar o Judaísmo.
MAS
QUAL FOI A HISTÓRIA POR TRÁS DESSE GRANDE HOMEM E COMO ELE ATINGIU TANTA FAMA?
Quando menino, Akiva
cresceu numa família pobre e não recebeu educação. Ele nem sequer sabia ler! O
jovem Akiva teve a sorte de conseguir um emprego de pastor e cuidava das
ovelhas de um rico proprietário de terras chamado Kalba Savua. Ser pastor era
considerado um dos trabalhos mais inferiores possíveis, portanto ninguém
prestava muita atenção a Akiva, exceto uma pessoa.
Enquanto Akiva levava as
ovelhas ao pasto, dava-lhes água, e as contava para certificar-se de que
estavam todas em segurança junto ao rebanho, captou o olhar da inteligente e
sensível filha de Kalva Savua, uma jovem extraordinária chamada Rachel. Akiva
cuidava amorosamente das ovelhas e as alimentava como se cada uma delas fosse a
coisa mais preciosa do mundo. Certamente esse era um homem que poderia liderar,
ensinar, se tivesse uma chance. Impressionada pela natureza bondosa de Akiva,
Rachel decidiu que ele era o homem com quem desejava se casar. Seu pai ficou
desgostoso com sua escolha e tentou fazê-la mudar de ideia, mas Rachel estava
certa do que queria. Em fúria, Kalba Savuah expulsou o jovem casal de sua casa
e disse à filha Rachel que, enquanto ela estivesse casada com aquele pastor,
ela não receberia nem uma só moeda de sua vasta fortuna!
Rachel abandonou o luxo da
casa paterna e mudou-se para uma cabana com Akiva. Ali passaram fome e frio,
dificuldades e pobreza, porém com a forte crença que tinha na grandeza do
marido, Rachel sentia-se feliz. Akiva fazia trabalhos esporádicos para as
pessoas na cidade vizinha, e eles viviam com o pouco dinheiro que ele levava
para casa. Uma das pessoas para quem trabalhava era Elazor Ben Horkanus, que
mais tarde se tornaria um dos professores de Akiva.
Certo dia, Akiva estava
cuidando do rebanho de ovelhas de Rabi Elazor, quando notou uma pedra com um
buraco no meio. O que era tão poderoso a ponto de abrir um buraco em algo tão
duro quanto uma rocha? Ao se aproximar, Akiva notou uma gota d’água, uma
simples gota que caía de cima e tinha provocado aquele buraco no decorrer do
tempo. Essa foi uma descoberta que alterou a vida do simples pastor. Ele pensou
consigo mesmo: “Se algo tão duro quanto uma rocha pode ser furado por algo tão
delicado quanto a água, certamente minha mente poderá absorver o estudo de
Torá, pouco a pouco!”
Aquele foi o início da
notável jornada de Akiva. Aos 40 anos, ele foi à escola com seu filho de cinco
anos e aprendeu a ler o Alef Bet. Quando já podia ler, aprendeu os fundamentos
do Chumash, Mishná e Guemará tão rapidamente, que surpreendeu os professores.
Com a bênção de sua esposa, Akiva saiu de casa para estudar nas escolas dos
grandes eruditos de Torá. Ele se destacou nos estudos e no ensinamento de Torá
com espantoso talento e profundidade.
É o que se pode chamar de
uma verdadeira história de amor. Uma história de coragem, heroísmo e sacrifício
que, ao mesmo tempo, aquece o coração e o arrebata; inspira-nos, provocando
júbilo e lágrimas. É a história do pastor humilde que se torna o maior dos
rabinos da história judaica.
Akiva, filho de José, trabalhava
para Kalba Savua, um dos homens mais ricos de Jerusalém, conhecido por sua
generosidade. Rachel, sua bela filha, tomou-se de amores por Akiva, prometendo
tornar-se mulher dele se ele concordasse em dedicar sua vida ao estudo da Torá.
Mas, além de pobre, ele, aos 40 anos, era analfabeto. Certo dia, Akiva percebeu
que as gotas d'água que caíam sobre uma pedra conseguiam perfurá-la. E lhe
ocorreu um pensamento: "Se a água, que é tão mole, pode furar uma pedra
dura, as palavras da Torá - que são tão concretas - certamente poderão deixar
sua marca em meu coração sensível". Concorda, então, com a exigência de
Rachel e os dois se casam. Kalba Savua, horrorizado com a escolha da filha, a
rejeita e faz votos de deserdá-la. E, assim, acompanhado de sua dedicada
esposa, que deixara para trás uma vida de luxo para estar a seu lado, Akiva
começa a estudar a Torá cercado da mais cruel pobreza. O casal se mantinha
juntando toras de madeira que Akiva, em parte, vendia, e ficava com o
remanescente para fazer gravetos. Acesos, serviam para iluminar a casa durante
suas prolongadas horas de estudo. Apesar de trabalharem, ainda lhes faltava
alimento, em casa, e Raquel cortou suas lindas tranças e as vendeu. Com isso,
seu marido podia devotar mais tempo a estudar a Lei.
Rabi Akiva deixou sua casa
para estudar na Academia de Yavne, que, após a destruição de Jerusalém,
tornara-se a sede do Sanhedrin e da erudição judaica. Lá, estudou sob a
orientação de dois luminares talmúdicos - Rabi Eliezer e Rabi Yoshua. Após uma
ausência de doze anos, voltou à sua cidade natal, acompanhado de 12 mil alunos.
Ao se aproximar de casa, ouviu sua mulher que conversava com uma vizinha. Esta
lhe perguntava: "Quanto tempo ainda você viverá como viúva?" Ao que
ela respondeu que agüentaria outros doze anos de solidão para que seu marido se
dedicasse por completo ao estudo da Torá. Ao ouvir aquilo, Rabi Akiva
retrocede, voltando à yeshivá. Decorridos mais doze anos, ele finalmente volta
a casa, acompanhado, desta vez, de 24 mil doutos estudiosos da Lei de Moisés.
Rachel corre até ele, prostrando-se a seus pés. Seus discípulos, desconhecendo
de quem se tratava, tentaram afastá-la, mas seu mestre os deteve com as
palavras que ficaram imortalizadas: "O que hoje possuo e do qual todos
vocês desfrutam, somente pude conquistar graças a ela".
Muitas pessoas que não
conhecem o judaísmo a fundo interpretam traços da cultura judaica como sendo
machistas, opressivos para com as mulheres. A mulher no judaísmo tem papel
central, sendo muito valorizada. Ninguém melhor que o maior rabino da história
judaica para afirmar esse papel em palavras.
Foi Rabi Akiva quem iniciou o trabalho de
classificação de cada uma das leis da Torá Shebeal Pê (Torá Oral) de acordo com
seus teores. Era o início de um trabalho que culminaria com a compilação da
Mishná (parte do Talmud) por Rabi Yehuda HaNassi.
Akiva ben Yossef (nosso Rabi em questão)
gozava de grande prestígio junto ao Sanhedrin. Assistia às sessões da corte
judaica frequentemente e era referência para assuntos de Halachá (Lei Judaica).
Uma passagem conta que certa feita o Rabi chegou atrasado a uma sessão e ficou
aguardando do lado de fora. Alguém anunciou, então, dentro da sala de reuniões:
“A Torá se encontra lá fora”. Somente com a entrada do grande tzadik (justo),
tomou prosseguimento a sessão.
Akiva dizia que em benefício do próprio
D'us Ele escolhera os judeus, entre todas as nações, pois os outros povos
louvavam seus deuses na prosperidade e os amaldiçoavam quando sua sorte lhes
dava as costas. Os judeus, entretanto, ensinava o Rabi, sempre louvam a D'us,
quer na prosperidade quer na penúria.
Um princípio muito valorizado no
Cristianismo e cuja citação é atribuída a Jesus vem na verdade do judaísmo e
foi celebrado já por Rabi Akiva. Nosso sábio afirmava que a essência de todo o
judaísmo e de sua Torá podia ser definida em um só de seus versos: “E amarás o
teu próximo como a ti mesmo.” [Vaikrá(Levítico), 19:18]. O judaísmo está
alicerçado em relações de amor para com o próximo, e a palavra amor pode tomar
as mais diversas conotações.
Akiva era conhecedor de diversas ciências,
como medicina e astronomia. Falava várias línguas e tinha como princípio
valorizar muito a vida. Houve episódio em que chegou a afirmar que se fosse um
magistrado, jamais condenaria alguém à pena capital.
O Talmud conta que Rabi Akiva foi um dos
quatro únicos sábios que adentraram o Pardes(jardim, dimensão mística) ainda em
vida e desfrutaram do Olam Habá (Mundo Vindouro). Três deles não suportaram-
enlouqueceram ou morreram- mas Akiva retornou intacto. A história de Rabi Akiva
ainda explica mais costumes judaicos. Uma peste assolou os discípulos do Rabi
nas semanas entre Pessach e Shavuót, quando fazemos a Sefirat HaÔmer(contagem do
Ômer). Milhares morreram. Durante esse período, costumamos nos privar de
realizar casamentos, de cortar os cabelos e de escutar música, justamente em
sinal de luto por esses mortos. Em Lag BaÔmer(33º dia de Ômer) comemoramos
também o fim das mortes dos discípulos de Akiva.
É famosa a seguinte história sobre o
chacham. Seu mestre, Rabi Eliezer ben Hircano, levantou-se de um dia de jejum
para entoar a prece pela chuva. Recitou 24 bênçãos, mas nenhum pingo se viu.
Rabi Akiva acercou-se, então, do púlpito e exclamou: "Avinu Malkenu, nosso
Pai, nosso Rei: não temos outro rei além de Ti. Nosso Pai, nosso Rei, age por
Tua causa e tem misericórdia de nós". De imediato, os pingos de chuva caem
sobre eles. Mas a história não termina aí. O povo judeu adotou sua prece e, até
os dias de hoje, recitamos o mesmo rogo nos jejuns coletivos, em Rosh Hashaná
(Ano Novo judaico) e durante os Yamim Noraim (Dias Terríveis), que culminam em
Yom Kipur(Dia do Perdão).
O Kadish foi concebido por Rabi Akiva.
Estes versos, recitados em várias Tefilót(rezas),foram instituídos também para
a celebração da memória dos falecidos. O Kadish não cita a morte em nenhuma de
suas passagens.
Akiva ben Yossef passou a Torá Shebeal Pê a
seus pupilos, que vieram a ser grandes sábios do judaísmo: Rabi Meir Baal
HaNess - o Mestre dos Milagres - e Rabi Shimon Bar Yochai - autor do Zohar, o
Livro do Esplendor, que sistematizou e começou a divulgar a sabedoria da
Cabalá(misticismo judaico).
Rabi Akiva estava vivo quando da destruição
do segundo Beit HaMikdash (Templo Sagrado). Testemunhou, ainda, a famosa
Revolta de Bar Kochba. Nessa revolta, o general Shimon Bar Kochba rebelou-se
contra Roma em Betar, uma cidade de Eretz Israel. Pelo sucesso inicial do
general, Akiva chegou a proclamá-lo como o Mashiach (Messias). Bar Kochba,
entretanto, foi derrotado e morto.
Rabi Akiva, após a queda de Betar, foi
preso e condenado à morte pelos romanos. Foi mais um episódio da história
judaica em que um homem morreu pelo seu amor ao judaísmo, pela sua condição de
judeu. Akiva ensinava Torá aos judeus mesmo sob a proibição de tal ação pelos
dominadores romanos. Sua luta pela continuidade do judaísmo lhe custou a vida.
O Rabi foi esfolado vivo até perecer. Rabi Akiva (Z”L) foi enterrado em
Tiberíades.
PASSAGEM
DO TALMUD REFERENTE AO RABI AKIVA
Talmud Bablí (Talmud Babilônico),
Massechet(Tratado) Menahot 29b
“Quando Moshé(Moisés) ascendeu ao céu,
encontrou o Santo-Abençoado seja Ele [D’us] – ocupado em adicionar coroas
(detalhes) às letras [do Tanach(Bíblia)]. Disse Moshé: “Senhor do Universo,
quem detém Sua mão?” [significando: há algo faltando na Tora que torna estas
adições necessárias?]. Ele respondeu: “Levantar-se-á um homem, no final de
muitas gerações, Akiva ben Yossef (Rabi Akiva) é seu nome, que esclarecerá cada
detalhe das Halachót. Disse Moshé: “Senhor do Universo, permita-me vê-lo”. Ele
respondeu: “Vire-se”. Moshé foi e sentou-se atrás da oitava fileira [de
estudantes na yeshivá de Rabi Akiva, enquanto este falava sobre Halachá].Não
podendo acompanhar as argumentações, Moshé sentiu-se desconfortável. Mas quando
chegaram a um certo assunto e os discípulos perguntaram ao mestre de onde ele
sabia isso, ele [Akiva] respondeu: “É uma lei dada a Moshé no Sinai”. E ele
[Moshé] sentiu-se confortado.”
ESTA
FAMOSA HAGADÁ CONTINUA DA SEGUINTE MANEIRA
“Por causa disto, ele [Moshé] retornou ao
Santo-Abençoado seja Ele[D’us] – e disse: “Senhor do Universo, Tu tens tal
homem [à disposição] e deste a Tora através de mim!”.Ele respondeu: “Silêncio,
pois este é o Meu decreto!”. Então disse Moshé: “Senhor do Universo,
mostraste-me sua [de Akiva] Tora, mostre-me [agora] sua recompensa”. “Vire-se”,
Ele disse. Moshé virou-se e viu-os pesando a carne dele [de Akiva, após ser
morto pelos romanos] no açougue. Gritou Moshé: “Senhor do Universo, esta é a
Tora e esta é a recompensa!”. Ele respondeu: “Silêncio, pois este é Meu
decreto!”.”
Nesse ínterim, Kalba Savua
tendo sabido da chegada à cidade de um notável erudito judeu, decide procurá-lo
para conseguir a anulação dos votos que fizera contra a filha. Arrependia-se de
ter permitido que Rachel passasse fome durante 24 anos e queria o seu perdão. E
o grande erudito não era outro senão seu próprio genro, a quem rejeitara. Os
dois se reconciliam e Kalba Savua dá a metade de sua fortuna a Rabi Akiva.
"Quem estuda a Torá
na pobreza um dia o fará na riqueza", ensinam nossos Sábios. E foi o que
ocorreu a Akiva. O Talmud revela que a partir de então, ele se tornou um homem
abastado. Em sua casa havia mesas de ouro e prata. Para sua esposa, que tanto
sofrera, que vendera o lindo cabelo para que ele estudasse, Rabi Akiva comprava
os mais belos adornos. Um destes era uma reprodução de Jerusalém gravada em
ouro.
A
TORÁ DE RABI AKIVA
O mestre ensinava que a
Torá, por ter sido escrita pelo Criador, é completa, nada lhe faltando e, por
outro lado, não contendo sequer uma letra supérflua. Em sua inteireza, é toda
conteúdo, sem filigranas retóricas nem palavras vãs. Cada uma de suas letras e
de suas pontuações abriga um significado profundo e, com freqüência,
misterioso.
Até a época de Rabi Akiva,
a Torá Oral, cuja transcrição era proibida, não era classificada nem organizada
segundo seu conteúdo. Conseqüentemente, um erudito tinha que possuir tremenda
capacidade de memorização para conseguir lembrar-se de todos os seus preceitos
e ensinamentos. Para evitar que o povo judeu pudesse, algum dia, esquecer-se da
Torá Oral, Rabi Akiva iniciou um trabalho de classificação de cada uma de suas
leis de acordo com o teor. Assim, estabelecia as fundações para as compilações
da Mishná - núcleo do Talmud - que acabou sendo transcrito e editado, anos mais
tarde, pelo Rabi Yehudá HaNassi. Ao assim proceder, o sábio Akiva preservou a
Torá Oral, assegurando, destarte, a sobrevivência do judaísmo.
Rabi Akiva dirigia uma
academia de Torá em Bnei Brak. Com freqüência, assistia as sessões do Sanhedrin
- a Suprema Corte Judaica - na cidade de Yavne. Esta corte jamais adotou uma
lei importante de cuja redação ele não tivesse participado. Certa vez, chegando
atrasado para uma sessão, permaneceu aguardando do lado de fora. Ouviu-se,
então, alguém dizer, no recinto, que "a Torá se encontrava fora"; e
enquanto o mestre não entrou, não se tomou interpretação judicial ou decisão
qualquer.
Rabi Akiva também era
versado em diferentes ciências, como medicina e astronomia. Falava vários
idiomas e, a miúde, acompanhava um de seus mestres, Raban Gamliel, a Roma, levados
pela causa do povo judeu.
Durante suas palestras, o
estudioso mestre moralizava os ouvintes de forma inspiradora. Suas lições eram
relatadas em todas as casas judias e todo judeu empenhava-se em regular sua
vida segundo os preceitos morais de Rabi Akiva.
Seus professores, seus
colegas e seus ensinamentos atestavam ser ele a personificação do amor e da
generosidade. O mestre gostava de repetir que tudo o que D'us fizesse, era para
o bem, "Gamzu le-tová". Dizia que o mundo deveria ser julgado segundo
suas virtudes e o bem que aqui se recebia era apenas uma pequena parcela da
recompensa que nos aguardava no Mundo Vindouro. Acreditava que até o mais
simplório dos judeus se deveria considerar um aristocrata, por ser filho de
Abrahão, Isaac e Jacob. Rabi Akiva também costumava dizer que o povo judeu
atestava a grandeza de D'us: o Criador libertara os filhos de Israel do
cativeiro para Se redimir juntamente com eles. E Akiva oferecia um ensinamento
profético e assustador que acabou sendo aplicável a ele próprio: era em
benefício do próprio D'us que Ele escolhera os judeus, entre todas as nações,
pois que os outros povos louvavam seus deuses na prosperidade e os amaldiçoavam
quando sua sorte lhes dava as costas. Mas os judeus, ensinava o Rabi, sempre
louvam a D'us, quer na prosperidade quer na penúria. Não surpreende, pois, que
de todos os livros da Torá, Rabi Akiva mais apreciasse o Cântico dos Cânticos.
Foi dos primeiros a nele perceber a descrição do amor entre D'us e o povo
judeu. E era, de fato, o amor o tema central de sua vida e de seus
ensinamentos. Em seu entender, a essência de todo o judaísmo, o todo abrangente
mandamento da Torá, pode ser encontrado em um de seus versos: "E amarás o
teu próximo como a ti mesmo" (Levítico, 19:18).
O Talmud nos descortina
inúmeras revelações sobre o homem Akiva - que ele pedia ajuda para os pobres,
que reverenciava os Sábios e rejubilava no cumprimento dos mandamentos da Torá;
que visitava pessoalmente um discípulo enfermo e varria seu quarto quando
outros não o faziam. Ao orar, perdia-se por completo; o conceito de tempo e
espaço deixava de existir para ele, quando se deixava enlevar pelo Divino. E, a
despeito de sua grandiosidade, continuava humilde. Sabemos de sua generosidade
e do quanto valorizava a vida, tendo declarado, em certa ocasião, que se
porventura fosse um magistrado, homem algum jamais seria condenado à pena
capital. Rabi Akiva era um homem do mundo - verdadeiro legislador da Torá,
preocupavam-no as filigranas da lei - mas, ainda assim, um místico. Foi um dos
quatro Sábios que, ainda em vida, adentrou o Pardêss - o Jardim Místico -
vivenciando o Mundo Vindouro, ha-Olam Habá. Foi o único a voltar com vida e em
paz consigo mesmo, pois fora o único a aprender a harmonizar sua existência
física com a espiritual.
É famosa a seguinte
história sobre sua pessoa. Seu mestre, Rabi Eliezer ben Hircano, levantou-se de
um dia de jejum para entoar a prece pela chuva. Recitou 24 bênçãos, mas nenhum
pingo se viu. Rabi Akiva acercou-se, então, do púlpito e exclamou:
""Avinu Malkenu, nosso Pai, nosso Rei: não temos outro rei além de
Ti. Nosso Pai, nosso Rei, age por Tua causa e tem misericórdia de nós". De
imediato, os pingos de chuva caem sobre eles. Mas a história não termina aí. O
povo judeu adotou sua prece e, até os dias de hoje, recitamos o mesmo rogo nos
jejuns coletivos, em Rosh Hashaná e durante os Dez Dias de Penitência, que
culminam em Yom Kipur.
Rabi Akiva também leva a
reputação de ter composto o Kadish - a oração recitada pelas almas dos que
partiram deste mundo. Mas, curiosamente, o Kadish não fala em morte - nem uma
vez sequer. Pelo contrário, é comprovadamente o texto mais lindo, mais
emocionante em toda a liturgia judaica de louvor a D'us. Somente uma alma nobre
como Akiva para encontrar significado e conforto mesmo na morte.
SEU
SACRIFÍCIO E MORTE
Sua vida foi sempre
pontilhada pela tragédia, mas ele a superava, vez após vez, com seu amor
infinito. Durante a epidemia que terminou em Lag Ba'Omer, 24 mil de seus
discípulos pereceram. [O fim dessa peste é uma das razões que fazem do 33º dia
de Omer uma data festiva]. Como teria qualquer outro ser humano, professor ou
rabino, reagido a uma tal catástrofe? Abandonariam o ofício, afogar-se-iam em
depressão, buscariam o exílio; quiçá almejassem a morte. Mas não Rabi Akiva.
Armou-se de novas forças e, começou de novo, conquistou novos alunos a quem
guiou pelos meandros do judaísmo. Seu amor pelo povo judeu, pela Torá e por
D'us não se deixavam vergar pela tragédia. Nunca se desesperava e jamais,
durante toda a sua vida - nem mesmo nos momentos mais sombrios - desistiu.
Sequer titubeou. Como mérito por sua coragem e perseverança, ele legou ao povo
judeu dois de seus maiores Sábios: Rabi Meir Baal HaNess - o Mestre dos
Milagres - e Rabi Shimon Bar Yochai, autor do Zohar, o Livro do Esplendor, que
sistematizou e começou a divulgar a sabedoria da Cabalá.
Rabi Akiva estava vivo
quando o Segundo Templo foi destruído. Testemunhou, também, um dos holocaustos
do povo judeu: em Betar, uma cidade em Eretz Israel, um general judeu de nome
Shimon Bar Kochba iniciou uma revolta contra Roma. Bar Kochba, a princípio, teve
êxito em sua campanha, levando Rabi Akiva a crer - e proclamar - que o grande
guerreiro era o Messias. Mas a revolta judaica terminou vencida e os romanos
capturaram e deram cabo à vida de Bar Kochba. Após a destruição de Betar, o
Imperador romano, Adriano, anti-semita e assassino, decidiu aniquilar todo o
povo judeu. Se os romanos capturassem algum judeu importante, este era
torturado antes de ser exterminado. A brutalidade imposta a cada judeu de
renome era proporcional à sua grandeza e importância.
Após a queda de Betar,
Rabi Akiva foi preso e condenado à morte pelos romanos. Foi sentenciado à pena
capital por ter violado o decreto romano que proibia o ensino da Torá. Em total
desprezo a Roma, Akiva desafiadoramente ensinava a Lei de Moisés em público,
agrupando os alunos onde os encontrasse. E por assim agir - e salvar o judaísmo
- Roma exigia mais que a sua morte. Teria que ser barbaramente torturado - não
na cruz, como o tinham sido outros 250 mil judeus. Para ele, Roma escolhera uma
forma mais horripilante ainda de morte: Rabi Akiva seria esfolado vivo com
rastelos de ferro. O algoz romano o rasgaria, pedaço por pedaço, até seu último
suspiro.
E agora, voltemos ao
Talmud e ao Midrash para conhecer seus momentos finais na Terra.
Uma história do Talmud.
Nos Céus, Moisés viu um homem e o ouviu interpretar a Torá para seus
discípulos. Dirigindo-se ao Eterno, perguntou Moisés: "Senhor de todo o
mundo! Tendo tão grande homem na Terra, a mim caberia receber Tua Torá?"
Ao que D'us respondeu: "Foi este o Meu desejo". Moisés retrucou,
então: "Mostraste-me o homem; agora revela-me o seu fim".
E D'us disse a Moisés que
se virasse para testemunhar a tortura e morte de Akiva. "Senhor do
Universo!", protestou Moisés, "tanto conhecimento da Torá e esta é a
recompensa que lhe toca?" E D'us lhe ordena: "Cala-te! Pois é este o
Meu desejo".
Há outra história
semelhante, também do Talmud. D'us revelou a Adão todo o registro das gerações
que o sucederiam - os futuros eruditos e líderes judeus que comporiam a sua
descendência. O Criador também fez ver ao primeiro homem a geração de Rabi
Akiva. Adão apreciou deveras tais informações, mas ficou profundamente
entristecido com a visão da morte que aguardava Rabi Akiva. Tentou, por todas
as maneiras, obter uma morte mais suave para o grande rabi, mas viu seu pedido
negado.
Os anjos nos Céus também
tentaram anular tal decreto. Uma lenda mística do Midrash nos conta que
enquanto Akiva estava sendo destroçado pelos romanos, os anjos choravam
amargamente e suas lágrimas caíram no grande mar e o fizeram ferver, enquanto o
mundo todo era sacudido pela voz angelical que questionava D'us: "É esta a
Tua recompensa a um homem que cumpriu tão fielmente a Tua Torá?"
Mas, na Terra, abaixo, um
homem - um dos maiores a tocar seu solo, caminhava, com bravura, em direção à
morte, sem que um som saísse de sua garganta, em protesto, nem uma lágrima de
seus olhos escapasse. Rabi Akiva foi julgado e condenado à morte pelo
governador romano na Terra de Israel, o maléfico Tirano Rufo. No dia de Kipur,
Akiva foi conduzido ao local da execução. Era cedo, o dia começava; hora de
recitar o Shemá. O povo judeu reuniu-se em torno de seu líder, acompanhando-o
em seus derradeiros momentos. A execução era pública e presenciada por toda a
população.
Mas, para choque e
surpresa de todos os presentes, ao começarem a despedaçá-lo, Rabi Akiva tinha
um sorriso nos lábios, prestes a desatar em riso. Exasperado, o governador
romano grita-lhe: "Mesmo nesta hora, zombas de mim! Deves ser o demônio.
Não há como um ser humano agüentar tanto sofrimento físico com tua calma e teu
sorriso!". Seus alunos indagavam: "Mestre, o que está ocorrendo? Como
podes rir numa hora destas?"
E o que lhes respondeu
Akiva? Foi isto o que lhes declarou o maior rabino na história judaica: "Por
que sorrio? Pois este é o momento mais glorioso de minha vida! Dia após dia,
dia e noite, recitei as palavras do Shemá: 'e amarás o Eterno, Teu D'us, com
todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu vigor'. Entendia as
palavras 'com toda a tua alma' como sendo 'mesmo às custas de toda a tua alma',
e sempre imaginava se mereceria a oportunidade de cumprir esse mandamento - o
de abrir mão de minha própria alma em nome de D'us".
E Rabi Akiva continuou:
"Hoje, isto está acontecendo. Hoje estou sendo morto por ser judeu. Hoje
estou sendo morto por minha fé em D'us e por tê-la fortalecido entre os outros.
Não é, pois, este, o momento supremo de minha vida - em que posso oferecer
minha vida a D'us?" A seguir, recitou as palavras: "Shemá Israel, Ad-nai
Elo-enu, Ad-nai Echad"- Escuta, ó Israel, o Eterno é nosso D'us, o Eterno
é Um". Deteve-se na pronúncia da palavra Echad - "Um", como
afirmação da Absoluta Unicidade de D'us - até que sua alma foi recolhida e
devolvida ao Criador.
Foi enterrado em Tiberíades,
assim como o foram outros grandes Sábios. Seus despojos físicos lá estão, mas
sua alma está também em outras partes, talvez em todas as partes onde haja
judeus. O Talmud ensina que uma pessoa que perde a vida por ser judeu torna-se
santificada e não há quem a ela se iguale, em mérito. Um dos maiores sábios do
Talmud, Rabi Yehoshua ben Levi, revelou que o Paraíso tem sete níveis e que a
alma de Rabi Akiva está no mais alto deles, ao lado de todos os judeus de todas
as gerações que foram mortos por serem judeus.
SUA
GRANDEZA E SEU LEGADO
Rabi Akiva, pastor pobre e
analfabeto que começou a estudar a Torá aos quarenta anos, tornou-se o maior
sábio de sua era - um homem que seria chamado de "pai do mundo". Foi
odiado e admirado por seus inimigos romanos e reverenciado pelos judeus. Certa
vez, debatia com um colega, o sábio Rabi Tarfon, sobre a lei que exigia dos
sacerdotes condutores dos serviços no Templo não ter imperfeições físicas. A
posição do colega era mais flexível que a de Rabi Akiva. "Lembro-me",
disse Rabi Tarfon, "de ter visto meu tio, que era manco, tocar o shofar no
pátio do Templo". Rabi Akiva não estava convencido e explicou que Rabi
Tarfon presenciara uma assembléia - não um ritual de sacrifício - já que
qualquer imperfeição física desqualificaria um sacerdote de realizar os
sacrifícios. Ao que Rabi Tarfon retrucou: "Eu estava lá! Vi e ouvi tudo,
ao passo que você nem lá esteve! Tudo o que tem é esse seu poder de interpretar
a lei da Torá. E mesmo assim, sabe mais do que eu. Akiva, Akiva: afastar-se de
você é afastar-se da própria vida!"
Assim como Moisés, Rabi
Akiva, morreu aos 120 anos. Os dois - o maior dos profetas e o maior dos
rabinos da história judaica - tiveram caminhos semelhantes. Ambos eram
pastores. Seus primeiros quarenta anos foram isentos de Torá: Moisés vivia no
palácio do Faraó, enquanto Akiva nem sabia ler. Os quarenta anos seguintes
foram vividos longe de casa - um vivenciou a Revelação Divina e se tornou o
maior profeta da história. O outro encontrou o Divino através do estudo,
tornando-se o mais destacado mestre da Torá. E, por último, os derradeiros
quarenta anos na vida de ambos foram vividos liderando o povo judeu e lhes
transmitindo a Divina Torá.
Como Moisés, que
constantemente colocava sua vida e seus méritos na posição de pleitear em nome
do povo judeu, Akiva encontrava maneiras de eximir os outros de qualquer culpa
por suas falhas ou transgressões. Com sua coragem e brilhantismo, o Rabi servia
de inspiração a quem o conhecesse. Onde os demais viam tragédia e desespero,
via esperança. Certa vez, enquanto ele e três outros grandes Sábios subiam a
Jerusalém, ao Monte do Templo, viu uma raposa que saía do local do Santo
Santíssimo, que era a câmara mais sagrada do Templo. Os três Sábios se puseram
a chorar e Akiva a rir. Quando lhe perguntaram o motivo do riso, explicou: duas
profecias tinham sido feitas acerca do Templo Sagrado - uma por Uriá e a outra
por Zechariá. O primeiro previu sua total destruição; o segundo, aludindo à Era
Messiânica, prometeu que os anciãos voltariam às ruas de Jerusalém. E explicou
que enquanto a profecia de Uriá não se tinha cumprido, ele temia que a de
Zechariá não se concretizaria. Mas agora, tendo presenciado a ocorrência do
pior, ele estava certo de que haveria de chegar o dia em que o Terceiro Templo
- e definitivo - seria erguido. Os Rabinos, aceitando seu raciocínio,
disseram-lhe: "Akiva, tu nos confortaste. Akiva, tu nos confortaste".
O sol não se põe sem haver
outro nascente, ensinam os Sábios. D'us não deixa este nosso mundo totalmente
destituído de luz. O dia em que Rabi Akiva ascendeu aos Céus, naquele dramático
Yom Kipur, nascia um grande líder do povo judeu - um homem cuja liderança e
erudição em Torá são comparadas, pelo Talmud, com as de Moisés. Esse homem,
Rabi Yehudá HaNassi, continuou a obra de Rabi Akiva; compilou e redigiu a Torá
Oral, para que o povo judeu nunca a olvidasse, destarte salvaguardando o
judaísmo para todo o sempre. Mas isto é uma outra história...
Rabi Akiva foi o exemplo
supremo do Baal Teshuvá - o judeu que "retorna", voltando a abraçar o
judaísmo. Sua trajetória até a grandiosidade não foi rápida nem fácil. Praticou
a arte do silêncio antes de começar a falar a língua da sabedoria da Torá.
Quando começou a aprender e a praticar os seus mandamentos, errava, às vezes,
chegando até a ser repreendido por mestres e colegas. Ele nos faz lembrar que
nunca é tarde demais, nunca há total desalento, pois que até o mais
desinteressado dos judeus pode voltar à sua religião e à sua herança, e até o
mais inculto dos judeus pode não apenas estudar a Torá, mas também a dominar e
difundir. Rabi Akiva legou ao povo judeu a sua coragem, o seu heroísmo e o seu
amor. Sua execução invoca uma imagem, tragicamente exibida muitas vezes na
história de nosso povo: inúmeros judeus a caminho da morte certa - da fogueira,
das câmaras de gás - rezando, recitando o Shemá, proclamando a unidade de seu
Criador; e eis que de súbito irrompem em cantos. Teriam sido inspirados pelo
amor de Rabi Akiva? Teria sido a sua coragem que os carregara quando desceram
ao vale da morte e ascenderam à Eternidade?
Ele permanece como nosso
grande herói. É difícil contar sua história com os olhos secos, ausentes. É
difícil ouvir falar dele sem se curvar em humildade e gratidão. Akiva foi um
pergaminho vivo da Torá, um ser que caminhava e respirava como nós, mortais.
Foi Moisés quem nos trouxe a Torá dos Céus. Mas foi Rabi Akiva quem assegurou
que a Lei de Moisés continuaria a imperar, para sempre, na Terra. Como rabino e
mestre, ele continua sem paralelo, jamais igualado na história de nosso povo.
Um grande Sábio do Talmud,
Rabi Dosa ben Harkinas, assim se referia a Rabi Akiva: "Seu nome ressoa de
uma extremidade a outra do mundo". E assim continua a ressoar,
reverberando, para sempre, através dos tempos. Seu nome se tornou uma bênção,
um cântico, uma prece. Sim, foi Rabi Tarfon quem melhor o colocou em palavras:
"Akiva, Akiva, afastar-se de ti é afastar-se da própria vida".
Rabi Akiva vive por
intermédio dos seus ensinamentos. Hoje milhares o homenageiam visitando seu
sagrado túmulo na cidade de Tiberíades, em Israel.
"Zecher Tzadik
Le'Verechá". Que sua memória abençoe e proteja todos os filhos e filhas de
Israel.
(Traduzido por Lilia
Wachsmann)
FIM
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