FACULDADE DE TEOLOGIA
TESTEMUNHAS HOJE
CURSO LIVRE
HISTÓRIA DE ISRAEL
CONCEITO GERAL DE HISTÓRIA DE ISRAEL
CONCEITO GERAL DE HISTÓRIA DE ISRAEL
Introdução
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3000
(+ ou -) – Nasce Noé, que acha graça diante de Deus e foi escolhido para construir a arca que
subsistiria ao dilúvio. Filho de Matusalém, o homem que mais viveu, segundo a
Bíblia, que viveu cerca de 969 anos. Noé viveu 600 anos e então veio o diluvio
que durou 375 dias. De Noé saíram Sem, Cão e Jafé. Os judeus são descendência
de Sem.
2160
– Nasce Abrão em Ur dos Caldeus, na Mesopotâmia, que viria a ser o patriarca do povo judeu, possuídos da promessa feita
por Deus. O Senhor o chamou e disse para que seguisse no deserto a caminho de
uma terra desconhecida. Levando seu sobrinho Ló consigo chegou a Canaã
prometida passando mais tarde para o Egito por
causa da fome. Separaram-se Abraão e Ló e Deus lhe promete um Filho, apesar de sua idade
avançada.
2060
– Isaque nasce (Gn 21.1-7). Como havia prometido Deus a Abraão, seria ele o
primogênito de toda uma nação sendo um
tipo de Cristo. Isaque casa-se com Rebeca e continua a genealogia de Jesus (Gn
24).
2000
– Nascem Jacó e Esaú, Jacó usurpa a bênção da
progenitura de Esaú (Gn 27.1-45). Esaú ira-se contra Jacó e este foge em
direção a Betel onde teve o sonho da escada
com anjos. Jacó casa-se com Raquel, depois de ter sido enganado por
Labão. Jacó e Esaú se reencontra. Jacó luta com Deus no Jaboque e tem o nome
mudado para Israel Jacó teve doze Filhos que vieram a ser os doze patriarcas da tribo de Israel, e uma Filha,
Diná.
1889
– Nasce José, o filho preferido de Jacó que foi vendido ao Egito por seus
irmãos. No Egito prosperou pela mão do Senhor e se tornou ministro. Nesse tempo
os Hicsos tinham o poder sobre o Egito por ocasião da queda da XIII dinastia egípcia.
1870
– Jacó e seus filhos descem para o Egito por causa da fome, José apesar de
humilhado recebeu-os e cuidou deles (Gn 46). Os hebreus permanecem no Egito por
430 anos.
1580
– Nesse período os Hicsos são expulsos. A Síria e a Palestina tornaram-se
tributárias de Egito. A terra é
devolvida à coroa e os hebreus são escravizados.
1520
- Nasce Moisés. Totmés I governa o Egito. Moisés é colocado nas águas e
encontrado pela Filha de faraó (Êx 2).
1497
– Totmés I morre e é substituído por Totmés II que reina só quatro anos.
1493
– HATSHEPSUT, que resgatou Moisés das águas torna-se rainha do Egito.
1480
– Moisés comete um homicídio e foge para Midiã, onde se casa com Zípora, filha
de Jetro.
1448
– Moisés é chamado por Deus e volta ao
Egito para livrar o povo (Êx 3.1 – 4.31). Depois de contatar com Faraó e prevalecer através de sinais e
prodígios, entre eles as dez pragas (Êx
5.1 – 11.10) e celebrar a páscoa (Êx 12.1-13.19) o Senhor livra o povo através
de Moisés depois de 430 anos assim como havia prometido a Abraão Isaque e Jacó
(Êx 2.24).
1440
– O povo sai do Egito e vai em direção a terra prometida depois de verem os
inimigos se afogarem no mar vermelho (Êx 14). No deserto as águas do mar se tornam doces (Êx 15) há provisão de
cordonizes, maná (Êx 16.1-36) e água da rocha (Êx 17.1-7), depois disso surgem
os problemas domésticos e externos, como a visita de Jetro e a batalha
contra os amalequitas (Êx 17.8-16) e (Êx
18.1-27). Deus faz chamada ao pacto (Êx 19.1-25) e dá o decálogo (Êx 20.1-21) e
as leis litúrgicas (Êx 20.21-26), também as leis civis e criminais (Êx
21.1-22.17) e as leis morais e religiosas (Êx 22.18–23.19), Deus dá ordenanças
a respeito do tabernáculo (Êx
24.15-31.18), que é cumprida mais adiante (Êx 35.1-40.38). É feito um
recenseamento (Nm 1.1-46) e Moisés envia espias à terra prometida (Nm
33.50-34.29).
1400
– Morre Moisés ao avistar a terra prometida do cume de Pisga, no monte Nebo,
nas campinas de Moabe (Dt 34.1-12).
1 - A OCUPAÇÃO DE CANAÃ
Chegara
o dia há muito esperado. Tendo morrido Moisés, Josué foi comissionado a
conduzir a nação de Israel na conquista da Palestina. Séculos se tinham passado
desde que aos patriarcas fora prometido que seus descendentes herdariam a terra
de Canaã. Neste ínterim, cada geração sucessiva das populações da Palestina
fora influenciada por vários povos provenientes do Crescente Fértil. Motivados
por interesses econômicos e militares, eles atravessavam a terra de Canaã de
quando em vez.
O
povo de Canaã não foi organizado em fortes unidades políticas. Fatores
geográficos, tanto quanto a pressão de nações circunvizinhas, no Crescente
Fértil, que se utilizavam de Canaã como território tampão, explicam o fato
de que os Cananeus jamais foram um
império forte e integrado. Numerosas cidades-estados controlavam tanto o
território quanto possível, com a cidade bem fortificada de forma a resistir a
possíveis ataques inimigos, quando Canaã era atravessada por exércitos. Essas
cidades com freqüência evitavam ser atacadas mediante o pagamento de um
tributo. Entretanto, quando algum povo vinha ocupar a terra, como Israel fez
sob Josué, essas cidades-estados formavam ligas e se uniam para resistir ao
invasor. Isso é bem ilustrado no livro de Josué.
A
localização da Palestina dentro do Crescente Fértil, e a configuração geográfica
da própria terra, com freqüência afetou seus
desenvolvimentos culturais e políticos. Na palestina aluvial dos rios
Tigre e Eufrates, bem como no vales do Nilo, Numerosas cidades-estados vassalas
e pequenos principados ou distritos por mais de uma vez se uniram, formando uma
só grande nação. Isso não era facilmente realizado na Síria-Palestina,
porquanto a topografia não se moldava a tais amálgamas. Em resultado disso,
Canaã se achava em condições mais débil, já que nenhuma das cidades-estados se
equiparavam em forças às tropas invasoras que vinham de reinos poderosos ao
longo do Nilo ou do Eufrates. Ao mesmo tempo, Canaã era um prêmio cobiçado por
essas nações mais fortes. Estando localizada entre os dois grandes centros da
civilização, Canaã, com seus vales férteis, por muitas vezes esteve sujeita a
invasões de potências maiores. Reinos minúsculos, sem forças suficientes para
resistir a forças invasoras, achavam ser expediente humilhar-se
momentaneamente, pagando tributos a algum reino, como o Egito. Contudo, com
freqüência, quando o invasor se retirava, os “presentes” eram interrompidos.
Embora essas cidades-estados pudessem ser facilmente conquistadas, era difícil
para os vitoriosos conservarem-nas como possessões permanentes.
A
religião de Canaã era politeísta. El era reputado como principal divindade
cananéia. Simbolizando como um touro entre um rebanho de vacas, o povo se
referia a ele como “pai touro”, considerando-o criador. Asera era a esposa de
El. Nos dias de Elias, Jesebel patrocinava a quatrocentos profetas de Asera
(veja 1Rs 18.19). O rei Manassés erigiu a imagem dela no templo de Jerusalém
(veja 2Rs 21.7). O primeiro dentre os setenta deuses e deusas que eram tidos
como prole de El e Asera era Hadade, mais comumente conhecido pelo nome de
Baal, que quer dizer “senhor”. Como monarca reinante dos deuses, ele
controlaria os céus e a terra. Por ser deus da chuva e da tempestade, ele era o
responsável pela vegetação e pela fertilidade. Anate, a deusa amante da guerra,
era sua irmã e consorte. No século IX
a.C., Astarte, deusa da estrela vespertina, era adorada como sua esposa.
Mote, deus da morte, era o principal adversário de Baal. Iom, deus do mar, foi
derrotado por Baal. Esses e muitos outros deuses são os primeiros a figurarem
no catálogo do panteão cananeu.
Visto
que as divindades dos Cananeus não teriam caráter moral, não é de surpreender
que a moralidade daquele povo fosse extremamente baixa. A brutalidade e
imoralidade que se destacam nas narrativas sobre esses deuses é algo muito pior
que qualquer outra coisa vista no Oriente Próximo. E, posto que isso se
refletia na sociedade cananéia, os Cananeus, nos dias de Josué, praticavam
sacrifícios de crianças, a prostituição sagrada e adoração à serpente com seus
ritos e cerimonias religiosas. Naturalmente, a civilização deles se degenerou
debaixo dessa influência desmoralizadora.
As
Escrituras testificam sobre essa sórdida condição, mediante Numerosas
proibições que foram dadas como advertências aos israelitas. Essa degradante
influência religiosa já se evidenciava nos dias de Abraão (veja Gn 15.16 e
19.5). Séculos mais tarde, Moisés encarregou solenemente o seu povo de
destruir os Cananeus –
não somente para puni-los por causa de sua iniqüidade, mas também para
impedir a contaminação do povo escolhido por Deus (veja Lv 18.24-28; 20.33; Dt
12.31 e 20.17,l8).
1.1.
Era de conquistas
A
experiência e o treinamento haviam preparado Josué para a exaustiva tarefa de
conquistar Canaã. Em Refidim, ele dirigiu o exército israelita na derrota imposta
a Amaleque. Tendo sido espia, ele obtivera conhecimento em primeira mão sobre
as condições vigentes na Palestina (veja um 13-14).
Sob
a tutela de Moisés, Josué foi treinado para a liderança, tendo sido preparado
para dirigir a conquista e a ocupação da terra prometida.
Tal
qual a narrativa sobre a peregrinação no deserto, o registro das atividades de
Josué é incompleto. Não se faz qualquer menção à conquista da área de Siquém,
entre o monte Ebal e o monte Gerizim, mas foi ali que Josué reuniu o povo inteiro
de Israel para ouvir a leitura da Lei de Moisés (veja Js 8.30-35). Mui
provavelmente, muitas outras áreas e locais foram conquistadas e ocupadas,
embora isso não seja aludido no livro de Josué. Durante o período da vida de
Josué a terra de Canaã foi tomada pelos israelitas, mas de modo algum foram
expulsos todos os seus habitantes. Dessa maneira, o livro de Josué precisava
ser considerado como relato apenas parcial dos empreendimentos de Josué.
1.1.1.
A conquista
Acampado
em Gilgal, o povo de Israel foi realisticamente preparado para viver em Canaã,
como nação escolhida por Deus. Durante quarenta anos, enquanto a geração
incrédula morria no deserto, a circuncisão, que servia de sinal de relação de
pacto (veja Gn 17.1-27), não fora observada. Por meio desse rito, a nova
geração foi dolorosamente relembrada do pacto e da promessa de Deus de que os
introduziria na terra que “fluía leite e mel”. A entrada na terra também foi
assinalada pela observância da Páscoa e pela cessão da provisão do maná. O povo
remido, doravante, consumiria os frutos da terra.
O
próprio Josué fora preparado para a conquista, mediante uma experiência similar
àquela que tivera Moisés, quando Deus o convocou (veja Êx 3). Mediante uma
teofonia, Deus insuflou em Josué a consciência de que a conquista da terra não
dependia somente dele, mas que ele fora divinamente comissionado e dotado.
Embora fosse o líder responsável por Israel, Josué era apenas um servo, sujeito
ao comando do exército do Senhor (veja Js 5.13-15).
A
conquista de Jericó foi uma vitória que serviu de exemplo. Israel não atacou a
cidade de acordo com a estratégia militar regular, mas simplesmente segui as
instruções dadas pelo Senhor. Uma vez por dia, durante seis dias, os israelitas
marchavam ao redor da cidade. No sétimo dia, quando marchavam ao redor das
muralhas por sete vezes, estas ruíram, e eles puderam entrar e tomar conta da
cidade. Mas aos israelitas não foi permitido se apropriarem de qualquer parte
dos despojos. Aquilo que não foi destruído - objetos metálicos - foi depositado
no tesouro do Senhor. Excetuando Raabe e a casa de seu pai, os habitantes de
Jericó foram extintos.
A
miraculosa conquista de Jericó foi demonstração convincente, para os
israelitas, de que seus inimigos poderiam ser dominados. Ai, era o próximo alvo
a ser conquistado. Seguindo o conselho de sua dupla de reconhecimento Josué
enviou um exército de três mil homens, que sofreram severa derrota. Uma
investigação regada por oração, feita por Josué e pelos anciãos, revelou o fato
que Acã pecara durante a conquista de Jericó, ao apropriar-se de uma atrativa
capa de origem mesopotâmica, além de alguma prata e ouro. Devido a seu
deliberado ato de desafio contra a ordem
de devotar todos os despojos ao Senhor. Acã e seus familiares foram apedrejados
no vale de Acor.
Sendo-lhe
garantido o sucesso, Josué renovou seus planos para conquistar Ai. De modo
contrário ao procedimento anterior, os israelitas poderiam apossar-se do gado
vivo e de outras propriedades transportáveis. As forças inimigas foram atraídas
ao campo aberto, para que os trinta mil homens que haviam sido postados à noite
por detrás da cidade, pudessem atacar Ai pela retaguarda, a fim de incendiá-la.
Os defensores foram aniquilados, seu rei foi enforcado, e o sítio foi reduzido
a escombros.
Quando
se espalharam por Canaã as notícias da conquista de Jericó e Ai, o povo de
várias localidades organizou resistência contra a ocupação israelita (veja Js
9.1,2). Os habitantes de Gibeom, cidade localizada a doze quilômetros e meio ao
norte de Jerusalém, traçaram astutamente um plano de engodo. Fingindo ter vindo
de um país distante, o que era patenteado
por suas roupas surradas e por seu alimento estragado, chegaram ao
acampamento Israelita de Gilgal, expressando seu temor de Deus de Israel, oferecendo-se
para ser servo, se Jeová entrasse em aliança com eles. Visto não terem buscado
orientação divina, os líderes de Israel foram vítimas da ficção, negociando um
tratado de paz com os gibeonitas. Três dias mais tarde, porém, descobriu-se que
Gibeom e três aldeias satélites eram próximas. Embora os israelitas houvessem
murmurado contra seus líderes, o tratado não foi violado. Ao invés disso, os
gibeonitas foram encarregados de suprir lenha e água o acampamento israelita.
Gibeom
era uma grande cidade da Palestina. Quando ela capitulou ante Israel, o rei de
Jerusalém ficou profundamente alarmado. Em resposta a seu apelo, outros reis
Amorreus, de Hebrom, Jarmute, Laquis e Eglom, aliaram-se com ele, a fim de
atacarem a cidade de Gibeom. Havendo firmado acordo com Israel, a cidade
assediada imediatamente despachou mensageiros para que rogassem por ajuda
daquele quadrante. Mediante a marcha de
uma noite inteira, desde Gilgal, Josué apareceu inesperadamente em Gibeom, onde
derrotou e pôs em fuga desordenada o inimigo, através do passo de Bete-Horom
(também conhecido como o vale de Aijalom), até Azeca e Maquedá.
A
ajuda sobrenatural nessa batalha resultou em vitória esmagadora para os
israelitas. Além do elemento de surpresa e do pânico lançado no campo inimigo,
a saraiva que caiu fez maior número de vítimas entre os Amorreus do que o
tinham feito os soldados combatentes de Israel (veja Js 10.11). Outrossim, um
longo dia foi outorgado aos israelitas quando perseguiam os inimigos. A
ambigüidade da linguagem a respeito desse longo dia de Josué tem dado margem a
diversas interpretações. A linguagem usada seria poética? Josué pedira mais luz
do sol ou alívio do calor do dia? Se se trata de linguagem poética, então
ter-se-ia tratado de mero apelo, da parte de Josué, por ajuda e força. Em
resultado, os israelitas foram de tal modo revigorados que o trabalho de um dia
foi realizado em meio dia. Mas, se aceitarmos que houve prolongamento das horas
do dia, esse foi um milagre em que o sol ou a lua e a terra estacaram. Se o sol
e lua prosseguiram em seus cursos
regulares, pode ter-se dado um milagre de refração ou um milagre sobrenatural
dada, que prolongou a luz do dia, de tal modo que o sol e a lua apareciam fora
de seus cursos regulares. O apelo de Josué pelo auxílio divino pode ter sido um
pedido de alívio do calor escaldante do sol, tendo ordenado que o sol ficasse
silente ou mudo, isto é, deixasse de brilhar. Em resposta, Deus enviou a
saraiva, que trouxe tanto alívio do calor solar como a destruição para as hostes
inimigas. Os soldados, sentido-se refrigerados, fizeram a marcha de um dia em
apenas meio dia, desde Gibeom a Maquadá, uma distância de quase 50 Km, e
pareceu-lhes ter passado um dia inteiro, quando na verdade, o dia ainda ia pela
metade. Embora o relato do livro de Josué não nos forneça os detalhes de como
isso sucedeu, é evidente que Deus interveio em favor de Israel, e a liga dos
Amorreus foi completamente derrotada.
Em
Laquedá, os cinco reis da liga dos Amorreus foram encurralados em uma caverna,
tendo sido em seguida mortos por Josué. Com a conquista de Maquedá e Libna,
estando esta última localizada na estrada do vale de Elá, onde Davi
posteriormente feriu Golias, os reis dessas duas cidades, por igual modo, foram
executados. Josué, então assediou a bem fortificada cidade de Laquis (moderna
Tell-ed-Duweir), e no segundo dia do assédio esse baluarte foi derrubado.
Quando o rei de Gezer tentou socorrer Laquis, também pereceu ele com sua força;
entretanto, nenhuma reivindicação é feita acerca da conquista de Gezer. Ato contínuo, Israel se lançou vitoriosamente
na tomada de Eglom, que atualmente é com a moderna Tell-el-Hesi. Dali as tropas
atacaram para o sul, entrando na região montanhosa e assediando Hebrom, que não
foi facilmente defendida. Então, dirigindo-se para o sudoeste, assaltaram e
tomaram Debir, ou Quiriater-sefer. Embora as fortes cidades-estados de Gezer e
Jerusalém não tivessem sido conquistadas, foram isoladas por meio dessa
campanha, de tal maneira que toda a área
sulista, de Gibeom a Cades-Barnéia e Gaza, ficou sob o controle de Israel,
quando Josué reconduziu seus guerreiros afeitos às batalhas ao acampamento de
Gilgal.
A
conquista e a ocupação da porção norte de Canaã é descrita de modo bem
abreviado. A oposição foi organizada e liderada por Jabim, rei de Hazor, que tinha a seu
dispor Nm erosos carros de guerra. Grande batalha teve lugar perto das águas de
Merom, cujo resultado foi que cananéia
foi totalmente derrotada por Josué. Os cavalos e os carros foram destruídos, e
a cidade de Hazor foi incendiada até o chão. Não há qualquer menção sobre a
destruição de outras cidades na Galiléia.
De
forma sumária, o trecho de Js 11.16-12.24 relata a conquista de toda a terra de
Canaã por parte de Israel. O território
coberto pelas forças de ocupação
se espraiou desde Cades-Barnéia, ou seja, nos extremos do Neguebe, até ao norte
quanto o vale do Líbano, abaixo do monte Hermom. No lado oriental da fenda do
Jordão, a área que previamente fora conquistada sob Moisés se estendia desde o
monte Hermom, no norte, até o vale do rio Arnom, a leste do mar Morto.
Trinta
e um reis são listados entre os derrotados por Josué. Havendo tantas
cidades-estados, cada qual com seu próprio rei, um país tão pequeno, foi
possível a Josué e aos israelitas derrotarem esses governantes locais em
pequenas federações. Embora os reis tivessem sido derrotados, nem todas as
cidades foram realmente capturadas ou ocupadas. Por intermédio dessa conquista
Josué subjugou os habitantes até ao ponto em que, durante o período imediato de
paz os israelitas puderam estabelecer-se na terra prometida.
1.1.2.
A divisão de Canaã
Apesar
dos principais reis terem sido derrotados e que então prevaleceu um período de
paz, restaram ainda muitas áreas não-ocupadas na terra (veja Js 13.1-7), Josué foi divinamente
comissionado para dividir o território conquistado entre as nove tribos e meia.
Rúben, Gade e metade da tribo de Manassés, tinham recebido seus quinhões a
leste do rio Jordão, sob Moisés e Elezar (veja Js 13.8-33 e Nm 32).
Durante
o período da conquista o acampamento de Israel ficava localizado em Gilgal,
ligeiramente para nordeste de Jericó, perto do Jordão. Sob a supervisão de
Josué e Eleazar foram distribuídos os quinhões de algumas das tribos, enquanto
Israel ainda estava acampado ali. Calebe, que demonstrara fé incomum quarenta e
cinco anos antes, quando os doze espias tinham sido enviados a Canaã (veja
Nm 13-14), agora recebeu consideração
especial, tendo-lhe sido dada como prêmio a cidade de Hebrom, para ser sua
herança (veja Js 14.6-15).
A
tribo de Judá se apropriou da área entre o mar Morto e o mar Mediterrâneo,
incluindo a cidade de Belém. Efraim e a outra metade da tribo de Manasses
receberam a maior parte da área a oeste do rio Jordão, entre o mar da Galiléia
e o mar Morto (veja Js 16.1-17.18).
Siló
foi estabelecida como centro religioso de Israel (veja Js 18.1). Foi ali que as
demais tribos foram desafiadas a tomar posse de seus territórios respectivos.
Enquanto a Simeão foi dada a região ao sul de Judá, as tribos de Benjamim e Dã
receberam seu quinhão imediatamente ao norte de Judá. Ao norte de Manasses,
começando com o vale de Megido e com o monte Carmelo, receberam suas possessões
Issacar, Zebulom, Aser e Naftali.
Cidades
de refúgio foram selecionadas por toda a extensão do pais (veja Js 10.1-9). A
oeste do Jordão essas cidades eram Cades, em Naftali, Siquem, em Efraim, e
Hebrom em Judá. A leste do Jordão, em cada uma das áreas tribais, havia as
cidades seguintes. Bezer, em Rúben, Ramote, em Gileade, dentro das fronteiras de
Gade e Golã, em Basã, na área de Manassés. Para essas cidades qualquer
indivíduo poderia fugir para estar livre de vinganças de sangue, no caso de
ter-se tornado homicida involuntário.
A
tribo de Levi não recebeu quinhão na forma de território, porquanto eram
responsáveis pelos serviços religiosos por toda a nação. As diversas tribos
foram encarregadas da obrigação de selecionarem cidades para os levitas. Terras
de pasto, em redor de cada uma das quarenta e oito cidades, foram igualmente
providas, pelo que os levitas podiam dar pasto a seu gado.
Elogiando
o serviço fiel delas e admoestando-as a permanecerem leais a Deus, Josué
despediu as tribos transjordanianas que haviam servido junto com o resto da
nação, sob suas ordens, para conquistar o território a oeste do Jordão. Quando
retornam à Transjordânia, erigiram um altar ação essa que alarmou os israelitas
que se tinham estabelecido na própria terra de Canaã. Finéias, filho do sumo
sacerdote, foi enviado de Siló para avaliar a situação. Sua investigação
assegurou-lhe que o altar na terra de Gileade servia ao propósito de manter a
adoração apropriada a Deus.
Por
quanto tempo ainda viveu Josué, após suas campanhas militares, não é
esclarecido na Bíblia. Uma interferência, com base em Js 14.6-12, é que a conquista
de Canaã foi realizada em um período de cerca de sete anos. Josué pode ter
pouco depois disso, ou pode ter continuado vivo durante uns vinte ou trinta
anos no máximo. Antes de morrer, com a idade de cento e dez anos, reuniu o povo
de Israel em Siquém e advertiu-os severamente para que temessem a Deus.
Relembrou-lhes o fato de que Deus chamara a Abraão para que não servissem a
ídolos e cumprira o pacto estabelecido com os patriarcas, introduzindo Israel
na terra prometida. Um compromisso público foi feito, mediante o qual os
líderes asseguraram a Josué de que serviram ao Senhor. Após a morte de Josué
Israel cumpriu essa promessa somente enquanto vivia a geração mais idosa.
1.2.
Análise moral da conquista de Canaã
O
livro salienta uma questão ética crucial: como se justificaria que um povo
escolhido por Deus se apossasse de Canaã, massacrando a população, tomando a
sua terra e riquezas? Defrontamo-nos com esse problema moral em outros livros, como Números e 1 e 2 Samuel,
onde Israel impõe armas contra os pagãos
em vez de pregar a Palavra. Por que não foram enviados a Canaã como
evangelistas em vez de carrascos? Diversas razões importantes devem ser
observadas a partir do cenário histórico:
1.2.1.
Devido à degradante religião de Canaã
A
religião de Canaã tinha-se tornado tremendamente abominável aos olhos de Deus e
da própria moralidade. Escavações mostraram a extrema obscenidade da religião
que tinha um panteão de deuses: El, o deus principal, é orgulhosamente apresentado como sendo
inteiramente sensual, sórdido e sanguinário até consigo mesmo: as três deusas
cananéias, enroladas em serpentes, são apresentadas em posturas vis e sensuais.
O sistema prestava homenagem a serpente, eram totalmente depravado e estava
fadado à destruição.
1.2.2.
Devido à sua cultura corrompida
A
adoração ao sexo demoníaco e aos ídolos de guerra refletiam uma sociedade
permeada da mais grosseira imoralidade e violência. Escavações arqueológicas
revelaram que os seus templos eram centros de vícios com sacerdotes sodomitas e
sacerdotisas prostitutas. Queimar crianças vivas nos altares se tinha tornado
ritual comum. A baixeza da idolatria de Canaã formava contraste com a idolatria
do Egito e da Mesopotâmia, cuja moralidade não tinha caído em tão profunda
vulgaridade e brutalidade. A cultura estava fadada à destruição (Levítico
18.25)
1.2.3.
Devido às admoestações e paciência de Deus
O
texto declara muitas vezes que o Senhor era o verdadeiro dono da terra de Canaã
e podia dá-la ou negá-la a quem quisesse, por razões nem sempre evidentes aos
homens. O seu plano de cessão
e período de experiência é observado diversas vezes muito antes de
Moisés e Josué.
a)Através
de Noé, Deus profetizou julgamento para os Cananeus pela sua obscenidade
(Gênesis 9.22-27);
b)Para
Abraão e os seus descendentes o Senhor prometeu a terra de Canaã, a qual eles
receberiam depois de cheia a medida da iniqüidade dos Amorreus (Gênesis
15.13-16);
c) Justamente como aconteceu com os habitantes de
Sodoma antes da sua destruição, o Senhor deu aos Cananeus muitas oportunidades
de arrependimento (Gênesis 18.25; Romanos 1.18-22). Deus esperou 400 anos.
1.2.4.
Devido à comissão divina de Israel
Israel
não foi designado para ser uma organização religiosa, mas um governo civil com
obrigações da aliança perante o Senhor. Como tal, sua primeira missão era
executar o julgamento de uma sociedade corrupta e violenta de acordo com a
aliança noéica (Gênesis 9.6). Apesar de sempre reticente na execução daquele
sórdido dever, Israel estava sob o comando específico do Senhor para tomar a
terra, destruir os Cananeus e receber a sua riqueza (Números 31.7; Deuteronômio
9.3; Josué 1.1-7). Na realidade, os ataques de Israel eram quase sempre
respostas aos ataques iniciais dos Cananeus (Números 21.1;23-24,33; Josué
9.1-2; 10.1-4; 11.1-5).
1.2.5.
Devido às promessas da aliança feita por Deus
Conforme
o Senhor declarou a Abraão e a Israel, a ocupação final da Palestina por Israel
estender-se-á desde o Egito até o Eufrates (Gênesis 15.8; Deuteronômio 1.7-8;
30.5). Antes daquela futura ocupação final, entretanto, o Senhor novamente
limpará a terra da violência e brutalidade introduzida por um sistema religioso
inspirado por Satanás (Apocalipse 14.16 e ss; 19.15).
Os
eventos registrados no livro de Juízes são intimamente relacionados aos
acontecimentos dos dias de Josué. Visto que os Cananeus não haviam sido
plenamente desalojados, e que a ocupação por Israel não se completara,
condições similares continuaram por todo o período dos Juízes. Em conseqüência
disso, prosseguiam as guerras, enquanto áreas ou cidades locais eram reocupadas
no decurso do tempo. Referências diversas, como Jz 1.1; 2.6-10 e 20.26-28,
parecem indicar que os acontecimentos dos livros de Josué e Juízes estão bem
relacionados cronologicamente, e que talvez sejam até simultâneos.
É
difícil precisar a cronologia desse período. O fato de que quarenta a cinqüenta
métodos diferentes tem sido sugeridos para explanar a era dos juízes indica
quão grande é o problema.
É
óbvio que qualquer esquema cronológico proposto para essa era dos juízes é
apenas uma solução sugerida. Os informes das Escrituras são insuficientes para
que se estabeleça uma cronologia absoluta. Parece bastante certo que os autores
dos livros de Josué e Juízes não tiveram o intuito de apresentar um relato que
se encaixasse com exatidão dentro de uma cronologia completa relativa ao
período. A fidelidade às tradições que figuram em 1Rs 6.1 e Js 11.23, requer a
cronologia mais dilatada.
Israel
não contava com qualquer capital política nos dias dos juízes. Siló, que fora estabelecida como centro
religioso, no dias de Josué (veja Js 18.1), continuou nessa categoria nos dia
de Eli (veja 1Sm 1.3). Visto que Israel não tinha rei (veja Jz 17.6; 18.1; 19.1
e 21.25), não havia localidade central de onde um juiz pudesse oficiar. Esses
juízes subiram à liderança conforme exigiam as condições locais ou nacionais. A
influência e reconhecimento de muitos deles se limitava às suas comunidades ou
tribos locais. Alguns deles foram líderes militares, que livraram os israelitas
de algum inimigo opressor, ao passo que outros dentre eles foram reconhecidos
como magistrados, para os quais o povo olhava, esperando decisões legais e
políticas. Não tendo governo central e nem capital, as tribos de Israel eram
governadas irregularmente, sem sucessão imediata quando do falecimento de
qualquer dos juízes. Visto que alguns dos juízes agiam em áreas locais
restritas, também é razoável pensarmos que várias das judicaturas tiveram lugar
justapostas.
Apesar
de que Josué derrotara as principais forças opositoras, ao introduzir Israel na
terra de Canaã e dividi-las entre as várias tribos, muitas localidades
permaneceram nas mãos dos Cananeus e outros habitantes. Em seu recado final aos
israelitas Josué advertiu o povo para que não se mesclasse e nem entrassem em
relações de matrimônio com os habitantes locais que permanecessem, mas
admoestou-os para que expulsassem esses povos idólatras e ocupassem suas terras. Novas tentativas foram feitas
para desalojar aquela gente, mas
o registro sagrado indica com clareza que os israelitas mostraram-se obedientes
apenas em parte.
A
despeito de terem sido conquistadas
algumas áreas, certas cidades fortemente armadas, como Taanaque e Megido.
Continuaram na posse dos Cananeus. Quando Israel se tornasse suficientemente
poderosa, deveria sujeitar esses povos, impondo-lhes o trabalho forçado e o
pagamento de taxas; mas os israelitas
fracassaram na comissão recebida de expeli-los da terra. Consequentemente, os
Amorreus, Cananeus e outros permaneceram na terra que fora dada a Israel, para
que a conquistasse completamente e ocupasse. Pareceria perfeitamente natural
que quando Israel ainda era débil, esses povos tenham reconquistado cidades e
aldeias antes tomadas pelos israelitas (cf. Jz 1.34).
A
ocupação parcial da terra deixou Israel em contínuas dificuldades. O ciclo de
acontecimentos se repetia interminavelmente. Mediante a confraternização com os
habitantes locais os israelitas vieram a
participar da adoração a Baal, esquecendo-se da adoração a Deus. Os povos
particularmente mencionados, que fizeram Israel afastar-se de Deus, foram os
Cananeus, os Hititas, os Amorreus, os Perizeus, os Heveus e os Jebuseus.
Durante esse período de apostasia, os casamentos mistos empurraram os
israelitas à maior negligência ainda no serviço e na devoção a Deus. No curso
de uma geração a multidão de Israel se tornou tão idólatra que foram retiradas
as bênçãos divinas, prometidas por intermédio de Moisés e Josué. Ao adorarem a
Baal os israelitas quebravam o primeiro mandamento do decálogo.
O
arrependimento era parte seguinte do ciclo. Quando os israelitas perdiam sua
independência e serviam aos opressores, reconheciam então que sofriam as
conseqüências da desobediência a Deus. Quando tomavam consciência de seus
pecados voltavam-se penitentes para Deus. E seu apelo não era feito em vão.
O
livramento ocorria por meio de campeões que Deus levantava para desafiarem aos
opressores. Os líderes militares que encabeçaram os israelitas no ataque contra
nações inimigas foram Otniel, Eúde, Sangar, Débora e Baraque, Gideão, Jefté e
Sansão. Especialmente dotado de capacidades divinas, esses líderes repeliam os
adversários, e Israel, uma vez mais, desfrutou de um período de descanso.
2 - CONDIÇÕES RELIGIOSAS, POLÍTICAS E SOCIAIS
Os
capítulos finais dos livros de Juízes e Rute descrevem as condições reinantes
nos dias de líderes heróicos como Débora, Gideão e Sansão. Sem referências
cruzadas às atividades de qualquer dos juízes particulares nomeados nos
capítulos anteriores, é difícil datar esses acontecimentos de modo específico.
Os rabinos associaram a narrativa de Mica e da migração danita à época de
Otoniel; mas, devido à ausência de detalhes históricos é impossível
certificarmo-nos de quão dignas de confiança são essa e outras tradições
rabínicas similares. O máximo que se pode fazer é limitar esses eventos aos
dias “... em que julgavam os juízes ...”e nos quais “....não havia rei em
Israel” (Rt 1.1 e Jz 21.25).
Mica
e seu santuário servem de exemplo da apostasia religiosa que prevalecia nos
dias dos juízes. Quando Mica, um efraimita, devolveu 1.160 siclos furtados de
sua mãe, ela deu 200 siclos a um ourives, o qual fez uma imagem de escultura,
esculpida em madeira e recoberta de prata, bem como outra imagem fundida feita
inteiramente de prata. Com esses símbolos idólatras Mica estabeleceu um
santuário, ao qual acrescentou uma estola sacerdotal e ídolos do lar, tendo
nomeado ainda sacerdote a um de seus filhos. Quando um levita de Belém por
acaso fez parada nessa capela, sobre o monte Efraim, Mica firmou com ele um
acordo, contratando-o como seu sacerdote oficial, na esperança de que o Senhor
faria prosperar o seu empreendimento.
Cinco
danitas, enviados como grupo de reconhecimento para localizar mais terras para
sua tribo, pararam no santuário de Mica afim de pedir conselhos de seu levita.
Após ser-lhes assegurado o sucesso, prosseguiram caminho e encontraram
condições favoráveis para conquista de mais territórios em Laís, cidade
localizada nas vizinhanças das cabeceiras do rio Jordão. Em resultado disso,
seiscentos danitas migraram para o norte. A caminho, convenceram ao levita de
que lhe era melhor servir de sacerdote para uma tribo do que para um só
indivíduo. Quando Mica e seus vizinhos fizeram objeção, os danitas, sendo mais
Nm erosos, simplesmente levaram os levitas e os deuses de Mica para Laís, ao
norte, que daí por diante foi denominada Dã. Ali Jônatas, que sem dúvida era o
nome do levita, estabeleceu um santuário para os danitas, em substituição a
Siló. Se nenhuma omissão ocorre na genealogia (veja Jz 18.30) desse Jônatas, é
perfeitamente possível que a imigração teve lugar nos primeiros dias dos
juízes.
O
crime sexual em Gibeá e os acontecimentos que se seguiram provocaram guerra
civil em Israel. Um levita da região montanhosa de Efraim e sua concubina, ao
retornarem de uma visita aos pais da mulher, em Belém, pararam em Gibeá para
passar a noite. Tinham passado além de Jebus, na esperança de receber melhor
hospitalidade em Gibá, que era uma cidade benjamita. Durante a noite, os homens
de Gibeá reclamaram e então se apossaram da concubina do levita. Pela manhã,
ela foi encontrada morta à entrada da casa. O levita tomou o cadáver ao
interior da casa e cortou em doze pedaços, que ele enviou por toda a terra. O
povo inteiro de Israel, de Dã e Berseba, ficou tão chocado diante dessa
atrocidade que se reuniram aos homens de Mispa. Ali diante de um ajuntamento de
400 mil homens, o levita narrou o quanto fora maltratado pelos benjamitas.
Quando
a tribo de Benjamin se recusou a entregar os homens de Gibá que haviam cometido
esse crime, estourou a guerra civil. Os benjamitas reuniram um força combatente
de 26 mil homens, incluindo uma divisão de 700 homens que atiravam com funda. O
resto de Israel, então reuniu-se em Betel, onde estava localizada a arca do
Senhor, a fim de receber instruções de guerra da parte de Finéias, o sumo
sacerdote. Por duas vezes as forças israelitas foram derrotadas em seu ataque
contra Gibeá. Da terceira vez, entretanto, conquistaram e incendiaram a cidade,
matando a todos os benjamitas, com exceção de seiscentos homens que fugiram e
se refugiaram na penha Rimom. A destruição e
devastação em Benjamim foi bastante extensa, de tal modo que a tribo se
viu muito reduzida à desgraça. Após
quatro meses houve reconciliação com os 600 homens restantes. Então
providenciaram a restauração e o casamento daqueles homens, a fim de que os
benjamitas fossem reintegrados como uma das tribos da nação de Israel.
A
história de Rute, nos provê um vislumbre Nm a era mais pacífica dos dias em que
governavam os juízes. Essa narrativa fala
da migração de uma família israelita inteira - Elimeleque, Noemi e seus
dois filhos - para Moabe, quando houve fome em Judá. Ali os dois filhos se casaram
com mulheres moabitas, Rute e Orfa. Após a morte de seu marido e de ambos os
filhos, Noemi retornou a Belém,
acompanhada por Rute. Com a passagem do tempo Rute contraiu núpcias com Boaz e,
subseqüentemente, figurou na linhagem
davídica, da família real de Israel.
2.1.
Tempo de transição sob a liderança de Eli e Samuel
Os
tempos de Eli e Samuel assinalam a era de transição da liderança intermitente
dos juízes para o levantamento da monarquia Israelita. Os dois homens não são
mencionados no livro de Juízes, mas receberam atenção nos capítulos iniciais de
1 Samuel 1.1-8,22, como introdução da narrativa acerca do primeiro monarca de
Israel.
A
história de Eli serve de pano de fundo do ministério de Samuel. Na posição de
sumo sacerdote, Eli estava encarregado da adoração e dos sacrifícios no tabernáculo
de Siló. Os israelitas esperavam dele a liderança e a orientação, nas questões religiosas e civis.
A
religião de Israel se encontrava no nível mais baixo que já existira, nos dias
de Eli. Ele falhou, não ensinando seus próprios filhos a reverenciarem a Deus:
“... não se importavam com o Senhor” (1Sm 2.12). Sob sua jurisdição, eles
assumiram responsabilidade sacerdotais, abusando das pessoas que vinham
oferecer sacrifícios e adorar. Não somente furtavam de Deus, exigindo a porção
sacerdotal antes dos sacrifícios serem feitos, mas também se comportavam de tal
modo que o povo abominou a idéia de levar seus sacrifícios a Siló. Também
profanaram o santuário com a vileza e o deboche comuns à religião dos Cananeus.
Conforme já seria de esperar, recusavam-se a dar ouvidos às reprimendas amargas
de seu pai contra a conduta deles. Não é de surpreender que Israel tivesse
continuado a degenerar-se, caindo em práticas religiosas crescentemente
corruptas.
Foi
nessa atmosfera abominável que Samuel foi criado na infância, sob os cuidados
de Eli como fora entregue. Consagrado a Deus e encorajado por sua piedosa mãe,
Samuel cresceu no meio ambiente do tabernáculo, impermeável para a ímpia
influência dos filhos de Eli. Um profeta cujo nome não é dado repreendeu a Eli
porque ele honrava mais a seus filhos do que a Deus (veja 1Sm 2.27 ss). Sua
lassidão provocara o juízo de Deus; por conseguinte, seus filhos perderiam a
vida e um sacerdote fiel
haveria de ministrar
em lugar deles. A reiteração desse decreto foi revelada a Samuel, quando
Deus falou com ele durante a noite (veja 1Sm 3.1-18).
Súbita
e rapidamente essas palavras proféticas tiveram cumprimento. Quando os
assustados israelitas perceberam que estavam sendo derrotados em um encontro
com os filisteus, conseguiram convencer os filhos de Eli para que trouxesse a
arca da aliança, objeto mais sagrado de Israel, ao campo de batalha. A religião
chegara a um nível tão baixo que o povo acreditava que a arca que representava
a própria presença de Deus, poderia salvá-los da derrota. Contudo, não puderam
forçar Deus a servi-los. A derrota dos israelitas foi esmagadora. O inimigo
capturou a arca, matando os filhos de Eli. Não admira que quando Eli ouviu as
chocantes notícias de que a arca caíra em mãos filistéias tivesse desmaiado e
morrido!
Aquele
foi um dia fatal para Israel. Embora a Bíblia nada diga sobre a destruição de
Siló, as outras evidências que dão a
entender que, nessa ocasião, os
filisteus reduziram a ruína o santuário central que havia conservado as tribos
unidas.
Quatro
séculos mais tarde Jeremias advertiu os moradores de Jerusalém para que não
pusessem sua confiança no templo (veja Jr 7.12-24 e 26.6-9). Assim como os
israelitas haviam confiado na arca para sua segurança, por semelhante modo, a
geração de Jeremias supôs que Jerusalém na qualidade de lugar da habitação de
Deus, não poderia cair nas mãos das nações gentílicas. Jeremias sugeriu que
considerassem as ruínas de Siló e tirassem proveito desse exemplo histórico. As
escavações arqueológicas mostraram que Siló fora reduzida a cinzas no século XI a.C. Sua destruição, nesse
tempo, explica o fato de que pouco depois os sacerdotes oficiavam em Nobe (veja
1Sm 21.1). Também é digno de nota, nessa conexão, que Israel em ocasião alguma,
tentou trazer a arca de volta para Siló.
A
vitória dos Filisteus desmoralizou eficazmente os israelitas. Quando a nora de
Eli deu à luz a um filho, mui apropriadamente lhe deu o nome de “Icabode”,
porquanto ela sentia profundamente que a benção divina fora retirada de Israel
(veja 1Sm 4.19-22). O nome dessa criança significa “onde está a glória?”, ao
mesmo tempo que talvez demonstre que a religião cananéia já conseguira penetrar
no pensamento israelita, porque para os devotos de Baal, tal nome seria uma
alusão à morte do deus da fertilidade.
O
lugar na história de Israel, é singular. Sendo o último dos juízes, ele exercia
jurisdição civil por toda a terra de Israel. Outrossim, ele obteve o
reconhecimento de ser o maior profeta de Israel desde os tempos mosaicos. E ele
também oficiava como principal sacerdote, embora não fosse da linhagem de Arão,
à qual pertenciam as responsabilidade do sumo sacerdócio.
A
Bíblia preserva comparativamente pouco acerca do ministério real desse grande
líder. Quando Eli faleceu e a ameaça da opressão filistéia tornou-se mais
pronunciada, mui naturalmente os israelitas se voltaram para Samuel esperando
liderança. Depois de haver escapado do despojamento do santuário de Siló,
Samuel estabeleceu morada em Ramá, onde erigiu um altar. Não há qualquer
indicação, todavia, de que Ramá se tenha tornado o centro religioso ou civil da
nação. O tabernáculo, que de acordo com Sl 78.60 fora abandonado por Deus, não
é jamais mencionado em conexão com Samuel. Israel retomou a arca das mão dos
filisteus (veja 1Sm 5.1-7.2), mas esta foi conservada em Quiriate Jearim, na
casa particular de Abinadabe, até aos dias de Davi.
Deve
se lançar no crédito de Samuel que ele se impôs sobre os israelitas para que
expurgassem a adoração nos moldes do culto cananeu, em suas fileiras (veja 1Sm
7.3 ss.). Em Mispa, o povo se reuniu penitente para orar, jejuar e oferecer
sacrifícios. A palavra de convocação chegou aos ouvidos dos filisteus, que em
vista disso se aproveitaram da situação para lançar um ataque. Em meio à
refrega, severa tempestade lançou o termo nos corações dos mercenários
filisteus, provocando confusão e pondo-os em fuga. Evidentemente a trovoada
adquiriu significado portentoso para os filisteus, pois nunca mais tentou
engajar os israelitas em batalha, enquanto Samuel esteve no comando das tribos.
Eventualmente,
os líderes tribais sentiram que deveriam fomentar sua resistência à agressão
dos filisteus; de acordo com isso, clamavam por um rei. Como justificativa para
o estabelecimento da monarquia salientaram que Samuel era homem idoso e que
seus filhos eram moralmente ineptos para assumir o lugar dele. Astutamente
Samuel rejeitou a proposta deles, implorando-lhes com eloqüência que “não
impusessem a si mesmos uma instituição cananéia estranha à própria maneira de
vida deles”. Quando, a despeito disso, eles persistiram em suas existências,
Samuel aquiesceu, embora só o tivesse feito após intervenção divina (veja 1Sm
8).
Quando
Samuel, com relutância, consentiu ante a invocação de um reinado, não fazia idéia sobre quem Deus escolheria.
Um dia, quando oficiava em um sacrifício, veio-lhe ao encontro um benjamita que
viera consultá-lo acerca da localização de alguns asnos de seu pai que se
tinham extraviado. Avisado de antemão sobre a chegada dele, Samuel entendeu que
Saul era o escolhido de Deus para seu
primeiro rei de Israel. Não somente Samuel entreteve Saul como seu convidado de
honra, quando da festividade de sacrifício, mas também o ungiu em particular,
como “capitão sobre sua herança”, dessa forma dando a conhecer que sua posição
real era uma incumbência sagrada. Quando retornava a Gibeá, Saul testemunhou o
cumprimento das palavras preditivas de Samuel em confirmação de haver sido
selecionado para aquela responsabilidade. Em convocação subsequente em Mispa,
Saul foi publicamente escolhido e entusiasticamente apoiado pela maioria, em
meio às aclamações populares: “Viva o rei!” à
sua cidade natal de Gibeá, em Benjamim.
2.2.
O primeiro rei de Israel
Saul
desfrutou de apoio entusiasta por parte de seu povo, depois de uma vitória
inicial sobre os Amonitas, em Jabes de Gileade. É verdade que nem todos
encararam sua ascensão ao trono com satisfação fingida, mas aqueles obstinados
não podiam tolerar sua avassaladora popularidade (veja 1Sm 10.27 e 11.12). No
entanto, através de desobediência deliberada, Saul não tardou a arruinar suas
oportunidades de sucesso. Devido às suspeitas e ao ódio, seus esforços
tornaram-se tão dispersivos e as forças nacionais foram tão dissipadas que o
seu reinado terminou em fracasso completo.
Saul
foi um guerreiro que conduziu sua nação a inúmeras vitórias militares. Em uma
localidade estratégica, em uma colina, a quase cinco quilômetros ao norte de
Jerusalém, Saul fortificou Gibeá a fim de contrabalançar a superioridade
militar dos filisteus. Aproveitando-se do bem sucedido ataque que fora lançado
por seu filho, Jônatas, Saul pôs os filisteus em fuga, na batalha de Micmás
(veja 1Sm 13-14). Entre outras nações derrotadas por Saul (veja 1Sm 14.47, 48),
figuravam os amalequitas (veja 1Sm 15.1-9).
O
sucesso inicial do primeiro rei de Israel não obscureceu suas fraquezas
pessoais. O rei de Israel ocupava uma posição singular entre os dirigentes
contemporâneos, tendo a responsabilidade de reconhecer pessoalmente o profeta,
que era o representante de Deus. Quanto a esse particular, Saul falhou duas
vezes. Aguardando impacientemente pela
chegada de Samuel em Gilgal, Saul oficiou pessoalmente o sacrifício (veja 1Sm
13.8,9). Em sua vitória sobre os amalequitas ele cedeu ante à pressão do povo,
ao invés de por em execução as instruções de Samuel. Solenemente o profeta
advertiu-o de que Deus não se agrada com
sacrifícios que visem a substituir a obediência. Com essa escaldante reprimenda
Samuel deixou o rei Saul entregue aos seus próprios recursos. Por causa da
desobediência, Saul perdeu seu reinado.
A
unção de Davi, por Samuel, em cerimônia particular, era algo que Saul
desconhecia. Devido a ter posto fim a Golias, Davi subiu para o centro de
atenção na nação. Quando foi enviado por seu pai a fim de levar suprimentos a
seus irmãos, que serviam no exército israelita, acampado defronte dos
filisteus, Davi ouvia as ameaças blasfemas de Golias. Davi raciocinou que Deus,
que o ajudara a matar ursos e leões, também lhe daria capacidade para matar
aquele inimigo que desafiava os exércitos de Israel. Quando os filisteus
perceberam que Golias, o gigante de Gate, fora morto, fugiram de diante de
Israel. O reconhecimento nacional conferido ao heróico Davi foi
subseqüentemente expresso na declaração popular: “Saul feriu os seus milhares,
porém Davi os seus dez milhares “.
Abandonado
a seus próprios recursos, Saul tornou-se suspeitoso e extremamente invejoso de
Davi. Por Nm erosos e sutis esquemas Saul procurou remover esse jovem herói
nacional. Exposto aos arremessos de lança de Saul ou aos perigos da batalha,
Davi consegui escapar com êxito a toda manobra que visava à sua ruína. Mesmo
quando Saul pessoalmente se dirigiu a Naiote, onde Davi se refugiara em
companhia de Samuel, ele foi influenciado pelo espírito dos profetas de modo
tal que não foi capaz de prejudicar ou de deter Davi. Por diversas vezes Davi
teve a oportunidade pessoal de tirar a vida do rei de Israel. Mas cada vez ele
se recusou a isso, reconhecendo que Saul era o ungido do Senhor. Embora Saul
tenha ficado profundamente comovido, admitindo temporariamente suas atitudes
aberrantes, não demorou para que reiniciasse suas hostilidades.
Davi
temia que algum dia Saul pudesse apanhá-lo desprevenido. A fim de resguardar a
si mesmo e seu grupo de mais de seiscentos homens, além de mulheres e crianças,
ele pediu e obteve permissão de Aquis para residir na cidade filistéia de
Ziclaque. Ali ele ficou durante, aproximadamente, o ano e meio que ainda restou
do reinado de Saul. Perto do final desse período Davi acompanhou os filisteus a
Afeque, para combater contra Israel.
Porém, foi-lhe negada a participação na
batalha. Retornou a Ziclague em tempo de recuperar suas possessões que tinham
sido tomadas em um ataque dos amalequitas.
Os
exércitos israelitas se acamparam no monte Gilboa para combater contra os
filisteus. Algo mais do que o temor do inimigo, a quem já derrotara em
oportunidade anteriores, perturbava ao rei de Israel nessa época. Samuel, desde
há muito ignorado por Saul, não podia mais ser entrevistado. Saul voltou-se
para Deus, mas não obteve resposta por meio de sonhos, de Urim ou dos profetas,
ficou aterrorizado. Em desespero, apelou para médiuns espíritas, que ele mesmo
banira no passado. Localizando em Endor uma mulher que era possessa de um
espírito de adivinhação e pede-lhe para ver a Samuel. Sem importar-se com o
poder que essa mulher possuía, buscou uma intervenção da parte dela. Uma vez mais é lembrado pelo “pseudo Samuel” que, por causa de sua
própria desobediência, ele perdera o reino. Em sua mensagem a Saul o “pseudo
profeta” predisse a morte do rei e de seus três filhos, bem como a derrota de
Israel.
De
coração oprimido e com a idéia dos trágicos acontecimentos que o esperavam,
Saul retornou ao acampamento naquela noite lúgubre. Durante a batalha que houve
na planície de Jezreel as forças israelitas foram postas em fuga, retirando-se
para o monte Gilboa. No decurso da peregrinação os filisteus tiraram as vidas
dos três filhos do rei. O próprio Saul foi ferido por arqueiros inimigos. A fim
de evitar tratamento brutal nas mãos do inimigo, ele caiu sobre a própria
espada, pondo fim à própria vida. Os filisteus obtiveram uma vitória decisiva,
conseguindo um controle indisputável sobre o fértil vale, desde a costa até o
rio Jordão. Também ocuparam muitas cidades, de onde os israelitas foram
forçados a fugir. Os corpos de Saul e de seus filhos foram mutilados e
enforcados na fortaleza de Bete-Seã, pertencente aos filisteus. Mas os cidadãos
de Jabes de Gileade resgataram-nos afim de dar-lhes sepultura. Posteriormente,
Davi providenciou a transferência dos restos mortais para a propriedade da
família de Saul, em Zela, na tribo de Benjamim (veja 2Sm 21.14).
Verdadeiramente
trágico foi o final do reinado de Saul, que foi o primeiro rei de Israel.
Embora escolhido por Deus e ungido mediante a oração do profeta Samuel, ele não
percebeu que a obediência era essencial para a incumbência sagrada e singular
que lhe foi proporcionada por Deus - para ser “capitão sobre sua herança”.
2.3.
A união de Israel sob Davi e Salomão
O
período áureo de Davi e Salomão nunca
foi duplicado nos tempos do Antigo Testamento. A Expansão territorial e os
ideais religiosos, conforme são contemplados por Moisés, se concretizaram em
grau maior do que jamais antes ou depois, na história de Israel. Nos séculos
seguintes, as esperanças proféticas acerca
da restauração da sorte de Israel são repetidamente alusivas ao reino
davídico como um ideal.
2.3.1.
União e expansão Davídicas
Os
empreendimentos políticos de Davi foram assinalados pelo sucesso. Em menos de
uma década, depois da morte de Saul, todo o Israel se juntou em apoio a Davi, o qual dera início a seu reinado somente com o
pequeno reino de Judá. Por meio de sucessos militares e de gestos de amizade em
breve ele controlava o território que vai desde o rio do Egito e o golfo de
Ácaba até as costas fenícias e a terra de Hamate. O respeito internacional e o
reconhecimento obtidos por Davi para
Israel continuaram intocados pelas potências estrangeiras até aos anos finais
do reino de Salomão.
O
novo rei também se distinguiu como líder religioso. Embora lhe fosse negado o
privilégio de construir o templo, ele fez laboriosos preparativos para sua
edificação, por seu filho, Salomão. Através da liderança de Davi, os sacerdotes e levitas, foram
profundamente organizados para que participassem eficazmente nas atividades
religiosas da nação inteira.
O
livro de 2 Samuel retrata o reinado de Davi com grande detalhes. Uma longa
seção (11-20) nos proporciona o relato exclusivo do passado, crime e rebeldia
que houve na família real. A transferência do trono para Salomão e o
falecimento de Davi são narrados nos capítulos iniciais de 1 Reis. O livro de 1
Crônicas, que igualmente conta a história do período de Davi, representa uma
unidade independente, que focaliza a
atenção como o primeiro monarca de uma anistia contínua. À guisa de introdução
ao estabelecimento do trono davídico, o cronista apresenta o pano-de-fundo
genealógico das doze tribos sobre as quais Davi governava. Saul é escassamente
mencionado, após o que Davi é apresentado como rei de toda a nação de Israel. A
organização de Israel, política e religiosamente falando, é exposta de forma
mais elaborada, e a supremacia de Davi sobre nações circunvizinhas recebe maior ênfase. Antes
de chegar à conclusão, com a
morte de Davi, os últimos oito capítulos do livro apresentam extensas
descrições de sua preparação para a construção do templo. Conseqüentemente, 1
Crônicas é um valioso complemento ao registro de 2 Samuel.
2.4.
O rei de Judá
Nascido
em tempo turbulentos, Davi foi sujeitado a um duro período de treinamento, a
fim de prepará-lo para ser o rei de Israel. Foi requisitado pelo rei, para o serviço militar, depois que matou
Golias, tendo ganho valiosa experiência militar em seus feitos heróicos contra
os filisteus. Depois que foi forçado a abandonar a corte, dirigiu um bando de
fugitivos e se tornou simpático para os proprietários de terras e de ovelhas
que havia no sul de Israel, provendo-lhes proteção. Ao mesmo tempo, negociava
bem sucedidas relações diplomáticas com os filisteus e moabitas, ao mesmo tempo
que era considerado um fora da lei de Israel.
Davi
se encontrava em território filisteu quando o exército de Saul foi
decisivamente derrotado no monte Gilboa. Pouco depois que Davi resgatara suas
esposas e recuperara os despojos que haviam sido tomados pelos assaltantes
amalequitas, um mensageiro lhe deu notícias sobre os importantíssimos eventos
que tinham ocorrido em Israel. Dominado pela tristeza, Davi prestou tributo imortal
a Saul e Jônatas, em um dos maiores panegíricos que há no Antigo Testamento.
Não somente Israel perdera seu rei, mas Davi também sentiu agudamente a perda
de seu amigo mais chegado, Jônatas. Quando o portador da notícia, um
amalequita, antecipava uma recompensa por ter reivindicado crédito pela morte
de Saul, Davi ordenou sua execução por haver tocado no ungido do Senhor.
Após
ter-se certificado da aprovação divina Davi retornou à terra de Israel. Em
Hebrom os líderes de sua própria tribo (Judá) ungiram-no e aclamaram-no seu
rei. Ele era bem conhecido dos clãs da região, tendo protegido aos
proprietários de terras e tendo compartilhado com eles dos despojos obtidos nos
ataques contra seus inimigos (veja 1Sm 30.20-31). Na qualidade de rei de Judá,
Davi enviou uma mensagem elogiosa, aos homens de Jabes, por terem conferido ao
rei Saul um sepultamento condigno. Não há que duvidar que esse gesto amigável e
grandioso também teve reflexos políticos, porquanto Davi estava solicitando o
apoio deles. Israel se viu em tribulação séria quando terminou o reinado de
Saul. A capital em Gibeá, ou foi destruída ou gradualmente caiu em ruínas.
Eventualmente, Abner, comandante do exército israelita, foi capaz de restaurar
a ordem suficiente para que Is-Bosete (Isbaal) fosse ungido rei. A entronização
teve lugar em Gileade, porque os filisteus controlavam as terras a leste do rio
Jordão. Visto que o filho de Saul reinou sobre as tribos nortistas apenas por
dois anos (veja 2Sm 2.10), Durante os
sete anos e meio em que Davi governou Israel em Hebrom, parece que o problema
filisteu adiou a subida ao trono do novo rei por cerca de cinco anos.
Dessa
maneira o povo de Judá prometeu lealdade a Davi, ao passo que os demais
israelitas permaneceram leais à dinastia de Saul sob a liderança de Abner e
Is-Bosete. Em resultado disso, irrompeu-se a guerra civil. Após ter sido
severamente repreendido por Is-Bosete, Abner voltou-se para Davi e lhe ofereceu
o apoio de todo o povo de Israel. De conformidade com o pedido de Davi, Mical,
filha de Saul, lhe foi devolvida como esposa. Isso foi realizado sobre
supervisão de Abner, com o consentimento de Isbonete. Dessa maneira foi
publicamente expresso a Israel que Davi não cultivava animosidade contra a
dinastia de Saul. O próprio Abner se dirigiu a Hebrom, onde prometeu a Davi a
lealdade de todo o povo. Depois que essa aliança fora firmada, Abner foi morto
por Joabe, querendo ele vingar-se de seu irmão, Asael, a quem Abner matara
durante a guerra civil. A morte de Abner deixou Israel sem liderança forte. Não
demorou muito tempo para que Is-Bosete fosse assassinado por dois homens da
tribo de Benjamim. Quando os assassinos apareceram diante de Davi, foram
imediatamente executados. Ele desaprovou o fato de terem morto uma pessoa justa. Sem malícia e sem vinganças
Davi obteve o reconhecimento de todo o Israel, ao passo que a dinastia foi
eliminada da liderança política.
Não
há indicação de que os filisteus tivessem interferido com a ascensão de Davi
como rei de Hebrom. É possível que eles simplesmente tivessem-no considerado um
vassalo enquanto o resto de Israel, dividido pela guerra civil, não oferecesse
resistência unificada.
Ficaram
alarmados, porém, quando Davi foi aceito pela nação toda. Um ataque desfechado
pelos filisteus (veja 2Sm 5.17-25 e 1Cr 14.8-17) mui provavelmente teve lugar
antes da conquista e ocupação de Sião. Por duas vezes Davi os derrotou, assim
impedindo a interferência deles na unificação de Israel sob o novo monarca. Não
se duvida que a própria ameaça filistéia foi um fator unificador de Israel.
Ao
procurar uma localização central para servir de capital da nação unificada de
Israel, Davi voltou sua atenção para Jerusalém. Estava ela em local
estratégico, sendo menos vulnerável a ataques. Sendo uma fortaleza cananéia,
ocupada pelos Jebuseus, resistia com êxito à conquista e à ocupação israelita.
No Egito, registros tão remotos quanto os de 1900 a.C. alude a essa cidade com
o nome de Jerusalém. Quando Davi desafiou seus homens para que conquistassem a
cidade e expulsassem aos Jebuseus, Joabe aceitou o desafio e recebeu como
recompensa a nomeação de chefe do quadro de pessoal militar de Israel. Com a
ocupação dessa fortaleza por Davi, ela veio a tornar-se conhecida como “cidade
de Davi” (1Cr 11.7).
Quando
Davi assumiu o reino sobre as doze tribos, selecionou Jerusalém para ser sua
capital política. Durante os dias em que foi tido como fora da lei, era seguido
por centenas de homens. Esses foram bem organizados sob suas ordens, em
Ziclaque, e, posteriormente, em Hebrom (veja 1Cr 11.20-12.22). Esses homens se
tinham destacado de tal modo em feitos militares que foram nomeados príncipes e
líderes. Quando todo o Israel se unificou em apoio a Davi, a organização foi
ampliada a fim de incluir a nação toda, tendo Jerusalém como centro (veja 1Cr
12.23-40). Firmando um contrato com os fenícios, um magnificente palácio foi
erigido para Davi, o rei (veja 2Sm 5.11,12).
Ao
mesmo tempo, Jerusalém tornou-se o centro religioso da nação inteira (veja 1Cr
13.1-17.27 e 2Sm 6.1-7.29). Quando Davi tentou mudar a arca da aliança da casa
de Abinadabe, em Quiriate-Jearim, por meio de um carro, ao invés de fazê-la
transportar pelos sacerdotes (veja Nm 4), Uzá subitamente caiu morto. Ao invés
de levar a arca para Jerusalém, Davi guardou-a na casa de Obede-Edom, em Gibeá.
Quando sentiu que o Senhor estava abençoando aquele lar, imediatamente Davi
transferiu a arca para Jerusalém, para que fosse abrigada em uma tenda ou
tabernáculo. Uma adoração apropriada foi dessa forma restaurada a Israel, em
escala nacional.
Renovando
seus interesses pela religião de Israel, Davi desejou construir uma casa de
adoração que fosse mais permanente. Quando expôs seu plano a Natã, o profeta,
obteve a imediata aprovação deste. Na noite seguinte, entretanto, Deus
comissionou Natã para que informasse ao rei de que a edificação do templo seria
adiada até que o filho de Davi fosse estabelecido no trono. Isso serviu de
garantia divina, dada a Davi, de que seu filho o sucederia, e de que ele
mesmo não seria sujeitado a uma sorte
calamitosa como aquela que sobreveio ao rei Saul. A magnitude dessa promessa
feita a Deus, todavia, se estendeu para muito além do tempo e do escopo do
reinado salomônico. A descendência de Davi incluía mais do que Salomão, visto
que a promessa divina claramente afirmava que o trono davídico seria firmado para sempre. Mesmo que a
iniquidade e o pecado prevalecessem entre os pósteros de Davi, Deus julgaria e
puniria aos mesmos temporariamente, mas não neutralizaria Sua promessa e nem
retiraria indefinidamente a Sua misericórdia.
Nenhum
reino ou dinastia terrenos jamais tiveram duração eterna - tanto quanto os céus
e a terra. Nem mesmo o trono terreno de Davi - se não ligarmos sua linhagem com
Jesus, o qual é especificamente identificado como Filho de Davi, no Novo
Testamento. Essa certeza, dada a Davi por intermédio do profeta Natã, constitui
outro vínculo na série de promessas messiânicas, dadas nos tempos do Antigo
Testamento. Deus vinha desdobrando gradualmente sua promessa inicial de que a
vitória final seria realizada mediante o descendente da mulher (veja Gn 3.15).
Uma revelação mais plena sobre o Messias e Seu reino eterno foi dada pelos
profetas de séculos subseqüentes.
Na
posição de rei do império israelita, Davi não deixou de reconhecer que Deus era
quem outorgava vitórias militares e prosperidade material a Israel. Em um
Salmos de ação de graças (veja 2Sm
22.1-51), Davi expressou seu louvor ao Onipotente, pelo livramento de Israel
das mãos inimigas, bem como das nações pagãs. Esse Salmos também está registrado em Salmos s 18.
Representa apenas um exemplo dentre os muitos Salmos s que Davi compôs em
diversas ocasiões durante sua movimentada carreira como menino pastor, servo na
corte real, fora da lei em Israel e, finalmente, arquiteto e edificador do mais
vasto império de Israel.
2.5.
Pecado na família real
As
imperfeições de caráter, de qualquer membro da família real, não são
minimizadas nas Escrituras hebraicas. Um rei de Israel que caiu em pecado não
poderia mesmo esperar escapar ao juízo de Deus. Ao mesmo tempo Davi, como
pecador verdadeiramente penitente, que reconheceu sua iniqüidade qualificou-se
assim como homem que agradava a Deus (veja 1Sm 13.14).
Davi
tornara-se polígamo (veja 2Sm e 11.27). Embora isso seja definitivamente
proibido na revelação mais completa do Novo Testamento, foi tolerado nos
tempos vetero-testamentários por
causa da dureza de coração do povo israelita. E também era livremente
praticado pelas nações circunvizinhas. Um harém na corte era algo perfeitamente
natural. Embora advertido acerca da multiplicidade de esposas na lei mosaica
(veja Dt 17.17), Davi adquiriu muitas delas. Alguns desses casamentos sem
dúvida alguma tiveram implicações políticas, tal como seu matrimônio com Mical,
filha de Saul, e com Maaca, filha de Talmai, rei de Gesur. Tal como sucedeu com
outro, Davi teve de sofrer as conseqüências, como os crimes de incesto,
homicídio e rebeldia, que passaram a suceder na sua vida doméstica.
2.5.1.
Pecado de Davi com Bate-Seba
Esse
“caso” no auge do reinado de Davi tornou-se um divisor de águas em sua vida. É
o ponto que faz a divisão entre os seus triunfos e as suas dificuldades. O
pecado em si aconteceu quase acidentalmente. O fato de olhar por acaso para a
esposa do vizinho conduziu-o à cobiça e o arrastou ao adultério. Isso levou-o à
falsidade e ao disfarce, ao roubo da esposa de um dos seus oficiais, e ao
assassínio, Nm a conspiração contra um dos homens mais nobres do seu exército.
Esse assassínio foi disfarçado elegantemente como uma triste conseqüência da guerra.
Contudo, a poderosa parábola do profeta Natã expôs o sórdido acontecimento.
Quatro foram as conseqüências desse pecado, duas condenatórias e duas
compassivas:
1)A
primeira delas foi o julgamento que atingiu o coração de Davi e a perda do
filho recém-nascido;
2)A
segunda foi o perdão do Senhor, quando Davi confessou o seu pecado (2Sm 12.13);
3)A
terceira foi a colheita do julgamento que Davi ceifou em sua família. Um escândalo sexual o atingiu
pesadamente quando o seu filho mais velho Amnom seduziu sua filha (de Davi)
Tamar. Davi colheu também o que semeara quando dois dos seus filhos foram
assassinados por outros dois dos seus filhos. Colheu as conseqüências do roubo
da esposa de um homem quando Absalão usurpou o reinado e envergonhou as suas
concubinas em público. Apesar de ter recebido perdão imediato após suas
confissões, as conseqüências humanas dos seus crimes renderam-lhe um alto preço
a ser pago pelo resto da sua vida;
4)A
quarta conseqüência foi a graça de Deus para com Davi depois do seu profundo
arrependimento, permitindo que Bate-Seba tivesse de Davi outro filho a quem o
trono seria dado. Os Salmos s 32 e 51 revelam a grandeza de Davi ao
confessar-se e humilhar-se, e a grandeza da sua reintegração ao serviço
eficiente para o Senhor.
2.6.
Tragédia dos Filhos de Davi
Ele
teve doze esposas (estão registrados os nomes de oito) e pelo menos dez
concubinas, vinte e um filhos e uma filha (2Sm 3.2-5, 5.13-16; 1Cr 3.1-9;
14.3-7; 2Cr 11.18). Três dos seus filhos mais velhos sofreram o golpe de morte
violenta (Amnom, Absalão e Adonias), quando cada um era herdeiro em potencial
do trono. O Senhor atribuiu parte da culpa por essas mortes violentas a Davi,
pela maneira compassiva com que conduzia seus filhos (1 Reis 1.6). Essas
tragédias na família piedosa de Davi são difíceis de explicar, mas lembram-nos
de uma anomalia estranha nas famílias de quatro homens preeminentes de 1 e 2
Samuel. Está registrado que os três homens preeminentes de Deus (Eli, Samuel e
Davi) deixaram de disciplinar os seus filhos e por esse motivo perderam o
governo (Davi temporariamente). Todavia, o rei Saul, que não era piedoso, teve
um filho que dentre os homens foi o mais nobre: Jônatas. Essa estranha anomalia
também será vista muitas vezes na família de reis posteriores.
2.7.
A Era Áurea de Salomão
O
reinado de Salomão se caracterizou por paz e prosperidade. Davi estabelecera o
reino - agora Salomão haveria de colher os benefícios dos labores de seu pai.
A
narrativa sobre essa era é brevemente contada em 1Rs 1.1-11.43 e 2Cr 1.1-9.31.
O ponto focal de ambos os livros é a construção e dedicação do templo, o que
recebe muito maior consideração do que qualquer outro aspecto do reinado de
Salomão. Outros projetos de construção, negócios e comércios, progresso
industrial e sábia administração do reino, são mencionados apenas de passagem.
Muitas dessas atividades, escassamente mencionadas no registro bíblico, tem
sido iluminadas mediante as escavações arqueológicas que tem havido nas três
últimas décadas. Excetuando a edificação do templo, que é atribuída à primeira
década de seu reinado, e a construção de
seu palácio, o qual foi
completado treze anos mais tarde, quanto ao resto há pouca informação
que possa ser utilizada para servir de
base de uma análise cronológica do reinado de Salomão.
2.8.
Estabelecimento do Trono
A
ascensão de Salomão ao trono de seu pai não ocorreu sem oposição. Enquanto
Salomão não fora publicamente coroado, Adonias fomentou a ambição de ser o
sucessor de Davi. Em certo sentido ele estava justificado disso. Amnom e
Absalão haviam sido mortos. Quileabe, o terceiro filho mais velho de Davi,
aparentemente falecera, pois não é mencionado; e Adonias era o próximo na linha
de sucessão. Por outro lado, a fraqueza inerente de Davi quanto aos problemas
domésticos se evidenciou na falta de disciplina entre seus familiares (veja 1Rs
1.6). É claro que Adonias não fora ensinado a respeitar o fato divinamente
revelado de que Salomão seria o herdeiro do trono de Davi (veja 2Sm 7.12 e 1Rs
1.17). Seguindo o exemplo de Absalão, seu irmão, Adonias adquiriu uma escolta
de cinqüenta homens, dotada de cavalos e carros, conseguiu o apoio de Joabe,
convidou Abiatar, o sacerdote em Jerusalém, e providenciou para que ele mesmo
fosse ungido rei. Esse acontecimento teve lugar nos jardins reais de En-Rogel,
ao sul de Jerusalém. Conspicuamente ausentes nessa reunião de oficiais do
governo e da família real estavam Natã, o profeta, Benaia, o comandante do
exército pessoal de Davi, Zadoque, o sacerdote oficiante em Gibeá, e Salomão
com sua mãe, Bate-Seba.
Quando
chegaram ao palácio as notícias dessa reunião festiva, Natã e Bate-Seba
imediatamente fizeram um apelo a Davi. Em resultado, Salomão montou a mula do rei Davi, em Gibeom, escoltado por
Benaia e pelo exército real. Ali, nas vertentes orientais do monte Ofel,
Zadoque ungiu a Salomão, e assim ele foi publicamente declarado rei e Israel. A
população de Jerusalém se juntou na aclamação pública: “Viva o rei Salomão!”
Quando o ruído da coroação ressoou por todo o vale de Cedrom, Adonias e seus
adeptos ficaram profundamente perturbados. Cessou de pronto a celebração, o
povo se dispersou, e Adonias buscou refúgio nos chifres do altar do
tabernáculo, em Jerusalém. Somente depois que Salomão garantiu-lhe a vida, sob
a condição de boa conduta, é que Adonias deixou esse abrigo.
Em
solenidade subseqüente, Salomão foi oficialmente coroado e reconhecido
(veja 1Cr 28.1
ss). Com a presença de oficiais e
estadistas vindo de todos os rincões da nação, Davi incumbiu o povo de certa
tarefa, esboçado a responsabilidade deles para com Salomão, o rei escolhido por
Deus.
Em
incumbência imposta particularmente a Salomão (veja 1Rs 2.1-12), Davi relembrou
seu filho de sua responsabilidade de obedecer à lei de Moisés. Nas palavras
finais de sua vida, Davi impressionou Salomão com o fato de que fora derramado
sangue inocente por Joabe, por haver mortos a Abner e Amasa, e também com o
fato de que Simei desrespeitara a Davi, quando este fugiu de Jerusalém, e
também com o fato da hospitalidade que fora dada ao rei por Barzilai, o
gileadita, nos dias da rebelião de Absalão.
Após
a morte de Davi, Salomão fortaleceu sua reivindicação ao trono, ao eliminar
todo possível conspirador. O pedido de Adonias de casar-se com Abisague, a
donzela sunamita, foi interpretado por Salomão como traição. Adonias foi
executado. Abiatar foi removido do lugar de honra que mantivera sob Davi e foi
banido para Anatote. Visto que ele pertencia à linguagem de Eli (veja 1Sm
14.3-4), a deposição de Abiatar assinalou o cumprimento das solenes palavras
que haviam sido ditas a Eli, por um profeta cujo nome não é dado, que viera à
Siló (veja 1Sm 2.27-36). Embora Joabe se tivesse tornado culpado de conduta
traiçoeira, quando deu seu apoio a Adonias, foi executado primariamente pelos
crimes por ele cometidos durante o reinado de Davi. Simei, que estava sob
livramento condicional, não observou as restrições que lhe tinham sido
impostas, e, por igual modo, sofreu a pena de morte.
Salomão
assumiu a liderança de Israel em seus verdes anos. Por certo ele tinha menos de
trinta anos, talvez cerca de vinte anos de idade. Sentindo a necessidade que
tinha de sabedoria divina, ele reuniu os israelitas em Gibeom, onde estavam
localizados o tabernáculo e o altar de cobre, e ofereceu ali grande sacrifício.
Por meio de um sonho ele recebeu a certeza, divinamente conferida, de que lhe
seria conferido seu pedido de sabedoria. Em adição a uma mente de grande
discernimento, Deus também o dotaria de riqueza, honrarias e vida longa, tudo
sob a condição de obediência (veja 1Rs
3.14).
A
sagacidade de Salomão tornou-se motivo de profunda admiração. A decisão dada
pelo rei, quando duas mulheres contendiam por um único
filho vivo (veja
1Rs 3.16-28), sem dúvida alguma representa apenas um exemplo
dentre os casos que demonstraram a sua
sabedoria. Quando essa e outras notícias passaram a circular por toda a nação,
os israelitas reconheceram que a oração do rei, pedindo sabedoria, lhe fora
respondida.
2.9.
Organização do reino
Comparativamente
pouca é a informação dada acerca da organização do vasto império de Salomão.
Aparentemente ela foi simples no começo, mas não se dúvida que foi assumindo
complexidade crescente com a passagem dos anos e com o aumento da
responsabilidade. O próprio rei constituía o tribunal supremo, conforme é
exemplificado no caso das duas mulheres contendoras. Em 1Rs 4.1-6 são
mencionadas nomeações para os ofícios seguintes: três sacerdotes, dois escribas
ou secretários, um chanceler, um supervisor de funcionários, um sacerdote da
corte, um superintendente do palácio, um oficial encarregado do trabalho
forçado, e um comandante do exército. Isso representa apenas uma pequena
expansão além dos ofícios instituídos por Davi.
Para
propósitos de cobrança de impostos, a nação foi dividida em doze distritos
(veja 1Rs 4.7-19). O oficial incumbido de cada distrito tinha de suprir
provisões para o governo central durante um mês de cada ano. Durante os demais
onze meses do ano ele teria de coletar e armazenar provisões nos armazéns
existentes em seu distrito. O suprimento diário do rei e sua corte, com
militares e pessoal de construção consistia de 11 toneladas de farinha de
trigo, de mais de 25 toneladas de carne, de dez reses cevadas, de 20 vacas engordadas no pasto, de 100 ovelhas,
sem falar noutras caças e aves (veja 1Rs 4.22,23). Isso exigia intensa
organização em cada distrito.
Salomão
mantinha Numerosa força armada (veja 1Rs 4.24-28). Em adição à organização do
exército, segundo fora estabelecido por Davi, Salomão também empregava uma
força de combate de 1400 carros de guerra e 12 mil cavaleiros, que ele postou
em Jerusalém e noutras cidades de toda a nação (veja 2Cr 1.14-17). Isso
acrescia à carga de impostos, exigindo um suprimento diário de cevada e feno.
Organização eficiente e administração sábia eram essenciais para a manutenção
de um estado de prosperidade e progresso.
2.10.
A construção do templo
De
máxima importância, no vasto e extenso programa de edificações de Salomão,
figurava o templo. Enquanto outros projetos de construção são meramente
mencionados, aproximadamente cinqüenta por cento da narrativa bíblica sobre o
reinado de Salomão são dedicados à construção e consagração desse centro focal
da religião de Israel. Isso assinalou o cumprimento do desejo sincero de Davi,
expresso na primeira metade de seu reinado em Jerusalém - estabeleceu um lugar
central de adoração.
2.10.1.
Dedicação do Templo
Visto
que o templo foi contemplado no oitavo mês do décimo primeiro ano (veja 1Rs
6.37,38), é bastante provável que as cerimônias consagratórias tivessem sido
efetuadas no sétimo mês do décimo segundo ano, e não um mês antes de haver sido
terminado. Isso teria dado tempo para o elaborado planejamento para esse grande
evento histórico (veja 1Rs 8.1-9 e 2Cr 5.2-7.22). Para essa ocasião, todo o Israel
se fez presente, representado por anciões e líderes.
Salomão
foi a figura chave das cerimônias de consagração. Sua posição como rei de
Israel era singular. Sob o pacto, todos os israelitas eram servos de Deus (veja
Lv 25.41,44; Jr 30.10 e outros trechos bíblicos), sendo reputados reino de
sacerdotes para Deus (veja Êx 19.6). Durante todo o decurso dos cultos de consagração Salomão tomou a posição de servo
de Deus, representando a nação escolhida por Deus para ser Seu povo. Esse
relacionamento com Deus era comum para os profetas, sacerdotes e leigos,
incluindo o próprio monarca, sendo verdadeiramente reconhecida a dignidade do
homem. Nessa capacidade, Salomão ofereceu orações, fez o sermão de consagração
e oficiou nas oferendas sacrificiais.
Na
história de Israel, a consagração de templos foi o mais significativo evento
desde que o povo deixou a região do Sinai. A súbita transformação que os tirou
da servidão no Egito para serem uma nação independente no deserto serviu de
importantíssima demonstração do poder de Deus em favor de Seu povo. Naquela
oportunidade o tabernáculo foi erigido para ajudá-los a reconhecer a Deus e a
servi-lo. Agora o templo fora construído por direção de Salomão. Isso
constituiu a confirmação do estabelecimento do trono davídico
em Israel. Assim como a presença de Deus se tornou
visivelmente manifesta na coluna de
nuvens sobre o tabernáculo, assim também
a glória de Deus pairou sobre o templo e deu a entender a bênção e a graça de
Deus. Isso confirmou divinamente o estabelecimento do reino, conforme fora
antecipado por Moisés (veja Dt 17.14-20).
2.11.
A apostasia e suas conseqüências
O
capítulo final do reinado de Salomão é trágico (veja 1Rs 11). Por qual razão o
rei de Israel, que chegou ao zênite do sucesso nos campos da sabedoria, da
riqueza, da fama e da aclamação internacional sob a bênção divina, teria
terminado seu reinado de quarenta anos sob augúrios de fracasso, é algo que
realmente nos deixa perplexos! Em conseqüência, alguns tem considerado o registro bíblico a respeito
como indigno de confiança e contraditório, buscando outras explicações. A
verdade da questão é que Salomão, que desempenhou o liderante papel de
consagrar o templo, afastou-se de uma total dedicação a Deus - experiência essa
paralela à do povo de Israel, no deserto, depois da construção do tabernáculo.
Salomão desobedeceu justamente ao primeiro mandamento, com sua norma
inclusivista que permitiu a adoração aos ídolos em Jerusalém.
Os
casamentos mistos entre as famílias reais era prática comum no Oriente Próximo.
No começo de seu reinado, Salomão firmou aliança com Faraó, aceitando a filha
deste em matrimônio. Embora ele a
tivesse trazido para Jerusalém, não há indicação de que ela recebera permissão
para trazer consigo a sua idolatria (veja 1Rs 3.1). No auge de seu sucesso, Salomão obteve
esposas entre os Moabitas, Amonitas, Edomitas, Sidônios e Hititas. Além disso,
adquiriu um harém de setecentas esposas e princesas, além de trezentas
concubinas. Não é declarado se isso foi
motivado por expedientes diplomáticos e políticos, para assegurar a paz e a
segurança, ou foi motivado pela tentativa de ultrapassar soberanos de outras
nações, cujo luxo era expresso por meio de grandes haréns. Não obstante, isso
era contra a ordem expressa de Deus (veja Dt 17.17). Salomão permitiu a
multiplicação de esposas para sua própria ruína, permitindo que seu coração se
desviasse de Deus.
Salomão
não apenas tolerou a idolatria, mas ele mesmo prestou honrarias a Astarote, a
deusa fenícia da fertilidade, que era conhecida pelo nome de Astarte entre os
gregos e Istar entre os babilônios. Para veneração de Milcom ou Moloque, o deus
dos Amonitas, e de Camos, o deus dos
Moabitas, Salomão erigiu um lugar elevado em um monte a leste de Jerusalém.
Esse lugar alto não foi removido durante três séculos e meio, mas continuou
sendo uma abominação nas proximidades do templo de Jerusalém até aos dias de Josias (veja 2Rs 23.13).
Salomão também erigiu altares a outras divindades estrangeiras que não são
mencionadas por nome (veja 1Rs 11.8).
A
idolatria, que era violação das palavras iniciais do decálogo (veja Êx
20), não podia ser tolerada. A repressão
divina (veja 1Rs 11.9-13) provavelmente foi feita a Salomão por intermédio do
profeta Aías, que figura mais adiante
naquele capítulo. A dinastia davídica continuaria governando sobre uma
parte do reino, por amor a Davi, com quem Deus estabelecera um pacto, e por
causa de Jerusalém, que Deus escolhera. Deus não quebrantaria Sua promessa de
pacto, embora Salomão houvesse perdido suas bênçãos e Seu favor, ficando
temporariamente suspenso o juízo. Além disso, por amor a Davi, o reino não
seria dividido durante os dias de Salomão, embora viessem a levantar-se
adversários que ameaçariam a paz e a segurança, antes do término do seu
reinado.
Conforme
as coisas ocorreram, um dos próprios homens de Salomão, Jeroboão, filho de
Nebate, mostrou ser o verdadeiro fator de perturbação em Israel. Sendo homem
muito capaz, ele fora responsabilizado pela unidade de trabalho forçado que
reparava as muralhas de Jerusalém. Ele usou essa oportunidade para sua própria
vantagem política, tendo conseguido um bom
número de adeptos. Um dia, o profeta, encontrou-se com ele e despedaçou
sua capa nova em doze pedaços, entregando-os para ele. Por intermédio desse ato
simbólico, ele informou Jeroboão de que o reino de Salomão seria dividido,
deixando apenas duas tribos com a
dinastia davídica, ao passo que dez tribos constituiriam o seu reino. Sob a
condição de obediência de todo o coração, Jeroboão recebeu a certeza de que seu
reino seria permanentemente estabelecido, tanto quanto o de Davi.
Aparentemente
Jeroboão não estava disposto a esperar acontecimentos; fica subentendido que
ele indicou abertamente a sua oposição ao rei. Seja como for, Salomão suspeitou
de uma insurreição e procurou tirar a vida de Jeroboão. Conseqüentemente,
Jeroboão fugiu para o Egito, onde achou asilo na corte de Sisaque até que
Salomão morreu.
Embora
o reino tivesse continuado de pé, não sendo dividido senão após a sua morte,
Salomão foi sujeitado à angústia da rebelião em casa e a secessão em várias
porções de seu reinado. Em resultado de sua falha pessoal, não obedecendo e
servindo a Deus de todo coração, o bem estar geral e a prosperidade pacífica de
seu reino foram ameaçados.
2.12.
A monarquia unida
A
monarquia hebraica teve início com a ascensão de Saul, terminando com a queda
de Jerusalém. A data desse último acontecimento é definitivamente determinada
por muitos testemunhos decorridos como sendo entre 588 e 586 a.C., o décimo
nono ano de reinado de Nabucodonozor. Para estabelecer desse período uma
cronologia coerente, lembremos aqui que no hebraico se conta só uma parte como
um ano inteiro.
Saul,
o primeiro governante, tinha pela frente um caminho difícil a percorrer. E
muitas surpresas o aguardavam. Depois de organizar o governo, criar planos de
administração e reorganizar a defesa dos territórios, teria de partir para
expulsão do inimigo das áreas invadidas e consolidar as posições de defesa.
Esse objetivo o rei alcançou em grande parte, com as vitórias sobre os Amonitas
e sobre os Filisteus (1Sm 11.8-11 e 14.6-23). Mas enquanto Saul batia-se contra
o inimigo e obtinha grandes vitórias, no plano interno havia descontentamento.
Samuel já não se entendia com Saul. O poder espiritual e a monarquia entravam
em choque, em conseqüência de erros cometidos pelo rei, que mereceram a
reprovação por parte de Samuel. Este retirou seu apoio ao rei e afastou-se para
sua morada em Ramá (1Sm 15.34). Saul terminou suicidando-se em conseqüência da
derrota sofrida em combate contra tropas inimigas.
Após
sua morte Davi tornou-se rei de Judá e Israel. Ao assumir o trono, Davi
elaborou um plano de governo de largas realizações e a primeira preocupação foi
marchar sobre Jerusalém, de onde poderia melhor conceber e elaborar seus planos
com vista à formação de um Governo forte para construir uma pátria soberana e
livre. Preparou seu exército, marchou disposto a combater os Jebuseus e
expulsá-los de Jerusalém. Ocupou a cidade e instituiu Jerusalém como capital do
reino de Israel (2Sm 5.5-9).
Davi
passou fases difíceis na sua vida, tanto particular como pública. Foi o
responsável pela morte de um seu oficial, de nome Urias, em campo de batalha,
com a finalidade de tomar por esposa a mulher do oficial morto, ação
esta condenada pelo profeta Natã, que fez previsões sombrias
contra a casa real (2Sm 11). As previsões se confirmaram com a morte do filho
Amnon, assassinado pelo irmão, Absalão, e a rebelião deste contra Davi, seu
Pai.
A
soma dos anos pesando sobre Davi e uma rebelde e incurável doença retinha-lhe
os passos, obrigando-o a se manter no leito de sofrimento. Para sua sucessão
tinha preferência por Salomão, mas manteve em segredo seu desejo até que certo
dia, o filho Adonias, sentindo o agravamento da saúde do pai, resolveu
proclamar-se como legítimo sucessor,
pois era o primogênito da família.
Davi recebeu de Deus a promessa de que a sua
descendência ocuparia o trono de Israel para sempre. Nos seus últimos dias
chamou Salomão, deu-lhe o trono e fez suas últimas recomendações, chamando-o à
atenção especialmente para o cumprimento da lei de Moisés. Depois de dar os
últimos conselhos ao jovem rei, dormiu com seus pais, tendo reinado em
Jerusalém 33 anos e 7 em Hebrom.
Tão
pronto serenaram os ânimos palacianos, Salomão considerou o sonho supremo de
seu pai Davi, a construção do templo ao Senhor. O local não podia ser melhor. O
monte Moriá, Nm a sublime elevação, separado do monte Sião pelo vale Tiropeon,
uma ponte unindo os dois montes. A construção do templo é narrado em 1 Crônicas
22. A sua magnificência só pode ser comparada com o esplendor das edificações
antigas de que o Egito e Babilônica nos falam.
2.12.1.
O reinado de Salomão marca o apogeu e declínio da monarquia israelita
Segue-se
um período de grande prosperidade no qual se destacam intensas relações
comerciais com a Fenícia,
particularmente com Hiro, rei de tiro. Ao sul, no Golfo de Ocaba, o porto de
Eziam- Geber transformou-se no grande
centro comercial do Mar Vermelho. A política fiscal e tributária de Salomão
fez o que parecia mal aos olhos do
Senhor, e não perseverou em seguir ao
Senhor, como Davi seu pai. Assim, o Senhor rasgou o reino de sua mão. Reinou
Salomão em Jerusalém 40 anos, e morreu. Após sua morte, a monarquia cinde-se em
dois reinos: o de Israel e o de Judá.
2.12.2.
A monarquia dividida
Os
israelitas reunidos em Siquém para proclamarem Reoboão o novo rei, apresentaram
suas reivindicações. Mas Reoboão manteve-se insensível às pretensões do povo.
Em lugar de atender seus reclamos, respondeu com mão de ferro. Eis sua
resposta: “Se meu pai impôs-vos um jugo pesado, eu o tornarei ainda mais
pesado”. A resposta seca de Reoboão inflamou os ânimos do povo em injustas
pretensões e a contra-resposta veio de imediato. “Que parte temos nós com Davi? Não há para nós herança no filho de
Jessé. Às tuas tendas, ó Israel! Provê, agora à tua casa, ó Davi. Então Israel
se foi às suas tendas.” (1Rs 12.16).
Surpreendido
com a reação, Reoboão retirou-se da cidade e regressou apressadamente a
Jerusalém. Sua intenção era empregar a força para obrigar o povo a aceitar a
sua decisão, mas o profeta Samaías conseguiu demovê-lo de sua intenção.
Jeroboão,
que estava presente à concentração, aproveitou-se da situação tensa e
irreconciliável para influenciar o povo, sensibilizando-o com argumentos que
atingiram em suas raízes nacionalistas e terminou organizando o reino do Norte
com a reunião de dez tribos, ficando as duas restantes tribos do sul com
Reoboão.
2.13.
O reino do Norte (924 a 722 a.C.)
Jeroboão
havia recebido de Deus a promessa de governar o reino de Israel, mas logo que
se deu a divisão do reino unificado das
doze tribos, e foi proclamado rei do novo Estado do Norte, afastou-se
completamente do Templo de Jerusalém e adotou a idolatria, instituindo a
religião que lhe convinha. Assim o reino iniciado por Jeroboão nunca ficou
firme diante de Deus.
O
reino do Norte teve, em sua existência, 19 reis (Jeroboão, Nadabe, Baasa, Elá,
Zirri, Onri, Acabe, Aczias, Jorão, Jeú, Jeoacaz, Jeoás, Jeroboão II, Zacarias,
Salum, Menaém, Pecaías, Peca e Oséias). Foi um reino que se desenvolveu Nm clima de instabilidade pelas divergências
constantes entre os políticos, resultado, como conseqüência, a descontinuidade
no seio da monarquia, que se caracterizou pelas mudanças sucessivas na linha
sucessora com dinastias diferentes.
Nunca
o país chegou a se consolidar Nm a estrutura de governo capaz de oferecer
segurança e paz aos governantes, de modo
a conduzir os problemas nacionais livres
de injunções prejudiciais ao progresso da nação. E se não havia estabilidade na
política interna também não era possível uma conexão segura, desembaraçada e
firme para resolver os intrincados problemas da política externa. Devido à
falta de entendimento entre os políticos, as crises se repetiam minando o organismo nacional, as bases de segurança da
nação. O problema religioso, que deveria ser um dos suportes de sustentação do
regime monárquico do povo de Israel, descia a ponto zero.
A
consciência do povo minada por falsas idéias religiosas, ao sabor de uma
minoria influenciada por tradições estranhas, acrescida ainda de muitos fatores
negativos, envolvendo problemas de ordem moral, enriquecimento ilícito em
detrimento dos direitos do povo, assistência social deficiente, tudo isso
acumulado, apressava o desmoronamento da nação.
As
pressões externas atuavam sempre mais violentas, ameaçando a soberania
nacional. E sob constante ameaça de
invasão pelos Assírios, para os quais despendia pesados tributos, o governo
procurou ajuda com os Egípcios. Salmanazar V, porém, o rei da Assíria, não era
monarca para se amedrontar com alianças ocidentais. Marchou contra Samaria e
cercou-a durante três anos, para cair em 722 nas mãos de Sargão II. O que se
passou, então, dentro dos muros da cidade de Onri está além de qualquer
descrição. Vencidos pela fome e pela peste, com os exércitos assírios em redor,
entregaram-se, e os que não morreram foram levados em cativeiro para as regiões da Assíria e Babilônia. O ano
722 marca o fim do reino do Norte, o começo do cativeiro israelita e também o
auge do Império Assírio, que a este tempo dominava todas as cidades assírias,
bem como grande parte do Império Hiteu, estendendo os seus domínios para o sul, ameaçando a
existência de Jerusalém, que ainda resistiu mais tarde nas mãos dos babilônicos.
A destruição
do reino de Israel foi a grande lição que Deus deu ao mundo. Enquanto o povo se mantém
fiel, há prosperidade e paz; quando o povo se esquece de Deus, tudo desaparece.
Esta tem sido a lição que a maioria dos povos não tem querido aprender.
2.14.
O reino do Sul
A
dinastia davídica continuou com a instituição do Reino de Judá em 588 a.C.
Eis a dinastia de Davi: Davi, Salomão, Reoboão, Abião, Asa, Jeosafá, Jeorão, Acazias, Atália, Joás, Amazias,
Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias, Manassés, Amom, Josias, Jeoacaz, Jeoiaquim,
Joaquim (Jeconias) e Zedequias.
Judá
ficava enclausurada entre as suas altas montanhas, sem contato com a vida grandiosa que ao longo se
desenvolvia, especialmente nas costas mediterrâneas e pelos confins da Síria e
Assíria. Por isso, particularmente, é que a sua sobrevivência ao Reino do
Norte deve ser vista. O reino do Norte servia de
barreira contra o espírito
avassalador dos Sírios, e depois, dos
Assírios, situação esta que gerou não pequenas crises em Judá e nos seus
profetas. Jerusalém, devido ao seu prestígio de centro de culto e da
nacionalidade, dominava as outras
cidades e contribuiu para que as influências desintegradoras que minava
outras cidades do norte não atingissem o Sul.
Enquanto
Jeroboão era puramente um grande político, pouco se dando a religião, isto é
apenas se servisse a fins políticos,
Reoboão era religioso e a isso se deve uma parte do seu esforço. Ante a ameaça
constante que afetava diretamente a segurança dos dois reinos de Israel e Judá,
seus governantes recorriam ora a um ora a outro, firmando aliança
para garantir a defesa dos seus
territórios, e por esse meio, havia uma penetração das idéias pagãs, que não só
se propagavam no meio do povo, mas até mesmo entre sacerdotes e governantes.
Nos
dias de Acaz, houve uma aliança entre Israel
e a Síria e estes atacaram Judá, fazendo com que Acaz pedisse socorro ao
rei da Síria e foi atendido, tendo o Rei Tiglate-Pileser atacado e ocupado a cidade de
Damasco. Rezim, rei da Síria, foi morto e toda população deportada para Quir,
Judá, entretanto, teve de suportar pesados ônus em conseqüência da ajuda
recebida, ficando subordinado ao pagamento de tributo ao rei da Assíria.
Nos
dias de Ezequias, filho de Acaz, Senaqueribe ocupou o trono da Assíria. Judá
estava na mira do novo soberano que mobilizou seu exército e o enviou contra as
forças defesa do rei Ezequias. O país foi invadido e ocupadas todas as cidades
fortificadas. Objetivando conter o ímpeto do invasor, Ezequias enviou
emissários relatando sua disposição de submeter-se aos
tributos que fossem impostos. Mas a submissão tributária não satisfez o invasor. A pressão
continuou com o envio de tropas até as
proximidades de Jerusalém, exigindo a rendição do país e blasfemando do Deus de
Israel. Jerusalém ficou isolada com as comunicações cortadas com o exterior, parecendo que estava por
pouco tempo a queda da cidade. Ezequias, envia seus servos a Isaías profeta de Deus, através desse envia resposta
consoladora ao rei Ezequias, que orando a Deus foi atendido. Deus enviou o seu
anjo e Nm a só noite foi destruído o exército assírio composto de 185.000
soldados. Em Nínive pouco tempo depois, Senaqueribe, foi assassinado.
O pesadelo passou, caiu o cerco e Jerusalém
voltou à normalidade.
Com
Manassés e Amom o reino de Judá experimentou um período de declínio espiritual,
o qual terminou com a ascensão de Josias ao trono, o qual implantou uma
reforma, religiosa fazendo o que era reto diante dos olhos do Senhor.
Como
parte de seu plano de governo, Josias
ampliou as fronteiras do país ocupando
parte do território do antigo reino de
Israel. O reino de Judá passava por uma
fase de tranqüilidade. Essa foi interrompida pela movimentação de tropas do
Egito forçando passagem na direção de Carquêmis, marchando contra o império
assírio. Opondo-se à passagem dessas tropas pelo território de Judá, Josias mobilizou seu exército e marchou em
defesa da soberania nacional. Travou combate com tropas de Faraó Neco e
encontrou a morte no campo de
batalha, na planície de Megido.
Morre
Josias e o povo de Israel sofre tremendo golpe. A grande reforma empreendida por ele
sofreu um impasse, porque viu-se
estancada por uma série de mudanças incompatíveis com o objetivo da reforma.
Jeoacaz, filho de Josias, assume o governo sob a tutela do Egito. Porém Faraó
Neco o mandou prender em Riba, em terra
de Hamate, para que não reinasse em Jerusalém, e estabeleceu a Jeoiaquim, também
filho de Josias. Dominado o Egito pela Babilônia, passa Judá ao seu domínio.
Jeoiaquim tentou resistir, mas morre em combate e Joaquim, seu filho, reinou em
seu lugar. Poucos meses depois é preso e
exilado para a Babilônia, juntamente com sua mãe, suas mulheres, seus eunucos,
os poderosos da terra, os valentes
até sete mil, os carpinteiros e ferreiros até mil, e todos os varões
destros na guerra.
E
o rei de Babilônia estabeleceu a Zedequias em lugar de Joaquim, e este reinou
11 anos em Jerusalém, sendo o último rei do período dos reis de Israel.
No
ano nono de seu reinado, no mês décimo,
aos dez do mês, Nabucodonozor, rei de Babilônia, veio contra Jerusalém, ele e
todo o seu exército, e se acampou contra ela, e levantaram contra ela
tranqueiras em redor. E a cidade foi sitiada até ao undécimo ano do rei
Zedequias, aos nove do quarto mês, quando a cidade se via apertada da fome, nem
havia pão para o povo da terra. Os sofrimentos
do povo foram indescritíveis. As lamentações de Jeremias nos dão uma idéia
do que ocorreu dentro dos muros da Cidade Santa durante o cerco. Quando os
muros foram arrombados e os soldados caldeus invadiram a cidade, os famintos
foram passados à espada, as mulheres foram presas, os nobres alguns foram
mortos outros amarrados e levados para a Babilônia. Alguns conseguiram fugir
para os montes, mas foram caçados como animais selvagens e, depois de
torturados, uns foram mortos, outros conduzidos amarrados para as planícies da
Mesopotâmia. Os cadáveres amontoavam-se pelas ruas; e os nobres eram amarrados,
mão a mão, e conduzidos ao suplício.
Nunca
na história do mundo, o pecado produziu tão amargos resultados. Além da
destruição da Cidade Santa, da ruína das famílias e da juventude, justamente os
mais afetados, a vergonha e a humilhação sem igual puseram esta infeliz gente
ao ridículo, diante dos seus antigos inimigos Edomitas, Amonitas e todos os
povos seus vizinhos. O Templo foi queimado e a cidade arrasada, carregando-se
todas as riquezas para os tesouros da Babilônia.
Para
que a terra não se despovoasse, Nabucodonozor deu ordem para que um chefe
nacional lá ficasse para tomar conta dos cativos. Esta escolha caiu em
Gedalias. Jeremias, o profeta, foi tratado com brandura, devido ao papel
conciliador que tinha tomado nas disputas entre o Egito e a Babilônia sobre Judá,
e teve à escolha ir para a Babilônia ou ficar na terra, escolhendo a segunda
opção. Juntamente com Gedalias, procurou aproveitar qualquer vantagem que ainda
pudesse restar, reunindo e encorajando o povo. O terror que havia caído sobre o povo era
aliviado por algumas vagas esperanças de salvação vindas do Egito e por isso prepararam uma traição, sendo
Gedalias morto, após o que os revoltosos carregaram Jeremias e fugiram para o
Egito.
2.15.
O papel dos profetas
Já
mencionamos os profetas Isaías e Jeremias mas outros merecem entrar no rol. Jeremias foi, sem dúvida o que teve a
sorte de profetizar contra o seu povo e contra a nação, visto como tanto os
reis como o povo eram rebeldes a Deus. Diante da situação internacional
daqueles dias, só um poder podia livrar - o de Jeová. Os líderes, porém,
entendiam que mais valia um forte rei, que um grande Deus, e por essa causa
selaram a sorte da nação e da religião para aqueles dias. Habacuque
profetizou nos últimos dias de Jerusalém. Pouco se sabe sobre suas atividades,
senão que seria companheiro de Jeremias, e com ele compartilharia das amarguras
que a próxima queda da Cidade Santa iria sofrer. Obadias teria trabalhado
também nos últimos dias de Jerusalém, e sua profecia breve dirige-se aos
Edomitas, para mostrar que se o povo eleito ia sofrer por seus pecados, eles
não seriam poupados, mesmo que morassem nas cabeças das rochas. Naum, bem como
Miquéias, contemporâneos de Isaías tiveram o seu papel de conselheiros dos reis
e do povo. Não foi por falta de conselho e ajuda que a nação foi destruída.
Deus não descansava, mandando os seus profetas admoestar uns e outros; a
rebeldia, porém, podia mais que os conselhos sábios. A luta travada durante os longos anos da existência dos reinos
foi uma luta de religião contra paganismo, de Deus contra idolatria.
Nenhum já teve alguma vez tanta ajuda, e nenhum jamais teve um Deus zeloso como
o teve o povo de Israel.
2.16.
O cativeiro
O
cativeiro foi uma calamidade nacional e religiosa. A julgar pelo
sentimento dos povos daqueles dias, um
povo assim arruinado dava prova de que o seu Deus tinha sido impotente para o preservar. Jeová,
pois teria sido julgado pelos observadores, e mesmo historiadores, como um Deus
igual aos dos outros povos. Do ponto de vista
nacional, a calamidade não foi
menor, porque arruinou toda a estrutura maravilhosa, construída à custa de tantos esforços e duros labores. Os dias
dos juízes de Israel, as
experiências de vida de Saul e Davi, o
apogeu de Salomão, tudo foi reduzido a nada. As maravilhosas promessas feitas,
de que nenhum povo seria tão glorioso
quanto este, de pouco valeram. Entretanto, nem tudo foi perdido. Os Judeus perderam
a sua cidade, a sua
terra e a sua importância como nação, mas ganharam o que não tinham podido obter
nos dias pacíficos. Os seus profetas foram cuidadosamente estudados, os
conselhos do pastor do cativeiro, Ezequias foram ouvidos, a religião entrou Nm
estágio espiritual, com a fundação de escolas, sinagogas e tantos outros meios
de que se valeram os desterrados, nos dias de suas tristezas junto ao rio
Quebar. Quando pois voltaram para sua terra, vinham curados para sempre da
idolatria e da apostasia. Os judeus destes últimos vinte e cinco séculos podem
ser acusados de muitas falhas, mas ,de idolatria e apostasia, não. Hoje, ainda
espalhados pelo mundo por causa do
pecado da rejeição do Messias aguardam fielmente o cumprimento
das promessas de Deus.
Passados
70 anos de cativeiro, veio a queda do império Babilônico sob os medos e os persas. E no primeiro ano
de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse a palavra do Senhor pela boca do profeta Jeremias, despertou o
Senhor o espírito de Ciro, o qual fez
passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito, dizendo: “O Senhor, Deus dos céus, me deu todos os reinos
da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá. Quem há entre
vós, de todo o seu povo, o Senhor seu Deus seja com ele, e suba” (2 Crônicas 36.22,23).
Estava
concedida a liberdade aos judeus e terminado o cativeiro.
2.17.
O período interbíblico
O
período inteiro consiste de quatro
épocas, sendo: Período Pérsico, Período Grego, Período Macabeu, ou Asmoneano e
Período Romano.
2.18.
O Período Pérsico ( 537 a 330 a.C.)
Neemias
fora muito benquisto na corte, à qual noventa mil, mais cedo, dos judeus
deveram a sua volta do exílio; e, em geral, o remanescente, a despeito do
tributo e outros elementos dolorosos da
sua sujeição, ficou leal ao grande rei. Nesse período foram reconstruídos o templo e a cidade de
Jerusalém com seus muros. Entretanto, cerca de 350 a.C., muitos judeus, por
tomarem parte de uma revolta, foram deportados para Babilônia e outros lugares, por Artaxerxes Ocus. Ao
último século do domínio pérsico
pertencem o rompimento final entre
os judeus e os samaritanos, a
substituição lenta entre os
judeus do hebraico pelo dialeto
aramaico tão difundido, e o início
da nova conquista da Galiléia
pela religião de Jeová.
2.19.
O período grego (330 a 167 a.C.)
Chamamos
“Período Grego“ o tempo da dominação
Macedônica no mundo. Estende-se das primeiras conquistas de Filipe, até as Guerras Macabéias.
Alexandre
Magno, sucessor de seu pai Filipe, derrotou os Persas apossando-se do vasto
Império que formaram.
Alexandre,
além de conceder a Jerusalém privilégios especiais, distinguiu com provas de
amizade os judeus que por ele se estabeleceram na cidade de Alexandria, onde o
judaísmo assumiu as suas relações mais íntimas com o helenismo quanto à sua
filosofia e à sua literatura. Ao morrer Alexandre, as suas conquistas passaram
para as mãos de seus generais; e, durante as pelejas desde então sucederam, a
Palestina compartilhava da confusão, até que a batalha de Ipso (301 a.C.) fez
dos reis do Egito (os Ptolomeus) os dominadores dela durante um século inteiro,
a despeito de diversos atentados por parte dos seus antagonistas, os reis da
Síria (os Selêucidas) para vencê-los. O novo poder soberano era tanto mais forte como mais justo
que pérsico, e sob a sua administração o governo de Jerusalém nas mãos da
dinastia sumo-sacerdotal auxiliada por
uma espécie de senado, incluindo as ordens superiores do sacerdócio, cresceu e
se consolidou.
Fora
da Palestina também os judeus tornavam-se influentes, não somente em
Alexandria, mas também na Líbia, em Cirene, na Ásia Menor e em toda parte da Síria onde se
estabeleciam pela coação ou pelo favor dos Ptolomeus e Selêucidas. Do outro
lado também o intercâmbio estrangeiro
nutria-se pelas colônias gregas da
Palestina setentrional, especialmente as
da zona que cercava o Mar da Galiléia.
O
resultado mais importante de tudo isso foi a versão grega das Escrituras Hebraicas, chamada de Septuaginta, obra esta
que fez desaparecer o isolamento dos judeus e determinou a forma de linguagem
em que havia de ser escrito o Novo Testamento. Durante a supremacia Ptolemaica, a influência da cultura Helênica
se fazia sentir na vida e na literatura
dos judeus; porém, os seus efeitos tornaram-se mais evidentes depois de 198
a.C., quando Antíoco, o grande (Selêucida),subjugou a Judéia. Ao
passo que o Helenismo avançava, a nobreza sacerdotal tornava-se mais mundana.
O
cargo de sumo sacerdote veio a ser objeto de baixas intrigas. No tempo de
Antíoco Epifânio, entre as classes
superiores, ficou em moda verter o nome em forma grega (por ex: Menelau em
Menaém) e de outras maneiras menos inocentes, obscurecer a sua origem judaica.
Afinal a loucura de Antíoco e de seus partidários sumo sacerdotais produziu uma
crise seguida por uma revolta violenta.
2.20.
O período Macabeu ou Asmoneano (167 a 63
a.C.)
Os
ultrajes à religião nacional, que molestaram os Macabeus despertaram o povo
para que se compenetrasse do valor da sua fé própria. A palavra MAKKABA
(martelo) pertence propriamente a Judas,
o terceiro dos cinco filhos de Matatias,
que, do falecimento de seu pai em 166 a.C. até sua própria morte na batalha de
Elasa em 161 a.C., comandou em uma das mais heróicas campanhas da história, os
defensores da sua terra e da sua fé. Seu trabalho foi terminado por seus irmãos
que fundaram a dinastia asmonea: Das suas fileiras levantaram-se o partido
chamado Chasidim, que se destinguiu pela
piedade e que se aderiu ao movimento macabeu, o qual serviu de estímulo para
reunir a nação toda, em volta da fé dos patriarcas.
Por
meio das guerras a favor da libertação do jugo sírio, o fim religioso se alcançou. O
templo foi restaurado e de novo solenemente consagrado (165 a.C.); o templo rival sobre o Monte Gerizim como também a própria
capital samaritana foram arrasados (129 a.C.) ; e o líder macabeu foi
reconhecido como o Governador e Sumo
Sacerdote para sempre, até que se levantasse um profeta fiel.
Entretanto,
nessa época, a maior parte da nação estava possuída do espírito da agressão
estrangeira; e contra o mesmo os sucessores do sossegado Chasidim, cuja
esperança estava em Deus e não na
intervenção humana, constantemente levantavam os seus protestos. Aos olhos
dessa crescente oposição religiosa, que nos últimos dias de Hircano (135-106 a.C.)
veio a ser conhecida como fariseus (Heb.,
perushim, isto é, separatistas), a idéia do judaísmo estava em perigo. Esses
homens, cuja fortaleza estava nos escribas ou estudantes professos da Lei,
pouco a pouco ganharam a atenção do povo. Sofreram grande revés sob Alexandre
Janeu (165-78 a.C.), a favor de quem se deu uma reação popular. Mas o terreno
perdido foi mais do que recuperado sob
sua viúva Alexandra (78-69 a.C.), que separou a liderança secular da sagrada
(seu filho Hircano
II ficando como Sumo Sacerdote).
Cerca dessa época, o Sinédrio, mais do que nunca, ficou dominado pelos escribas
e assim continuou daí por diante. Ao morrer Alexandra, dissenções internas,
concentrando-se ao redor de Hircano e de seu irmão Aristóbulo, deram aos
romanos o seu ensejo: sob Pompeu ocuparam Jerusalém, aboliram a monarquia,
restituíram a Hircano o título de Sumo Sacerdote.
2.21.
O período romano
Enquanto
os fariseus lucravam com a mudança que roubou aos saduceus (casta exclusivista
composta de homens ricos e de posição; tinham sua sede no templo em Jerusalém e
eram sujeitos a toda espécie de influências mundanas, incluindo a cultura grega
e a política romana), a sua influência política, ela realçou o contraste entre o ideal farisaico e a esperança popular da
restauração do reino. A dureza do seu jugo se sentiu, especialmente, quando Antípater, da odiada
raça iduméia, sob mandado de Roma, ficou até a sua morte em 43 a.C. ocupando o
verdadeiro poder de estado, e quando, em 37 a.C. seu filho Herodes o Grande, com
o apoio de Roma, tornou-se rei da Judéia.
Por
nascimento, idumeu; por profissão, judeu; por necessidade, romano; por cultura e por escolha, grego; esse
monarca sem escrúpulo, por inspirar temor, conserva-se no poder. Preencheu os
principais cargos do governo com homens desconhecidos e de descendência
sacerdotal da Babilônia e de Alexandria, e aboliu a posição de sumo sacerdote
vitalício. Por interessar os judeus no grande empreendimento nacional - isto é,
a edificação de um novo templo, iniciada
em 18 a.C. - ele procurou desviar de si a apatia do povo.
Por ocasião de sua morte em 4 a.C., foi feita uma tentativa de insurreição que
os romanos, no entanto reprimiram severamente, entregando o país aos três
filhos de Herodes.
Filipe
ficou com a região ao leste do Jordão; Antipas com a Galiléia e Peréia;
Arquelau com a Judéia e Samaria. Depois de 6 d.C., passou o reino de Arquelau
para o governo direto de Roma, Pôncio Pilatos sendo procurador de 26 a 36 d.C.
2.22.
O nascimento de Jesus
Deus
preparou o mundo para receber o Seu Filho Unigênito. Roma, pelas armas fechou
as portas de JANO, havia paz no mundo; Grécia, deu ao mundo a cultura, a
língua; Judéia contribuiu com seu tradicionalismo religioso e nacional,
fidelidade ao Senhor e o mundo estava
plenamente preparado para receber o Messias. Jesus não nasceu ao acaso. O seu
nascimento em Belém ligava-se ao passado
multi-secular da intensa atividade de Deus em preparar todas as coisas para aquele glorioso momento. O Apóstolo
Paulo (Gl 4.4) diz que Jesus nasceu na
plenitude dos tempos. Quando tudo estava preparado, quando tudo estava em
condições de recebê-lo, então Ele, o “sol”
da profecia de Malaquias,
despontou nos horizontes da humanidade.
A
seu tempo” é o que Paulo diz (Rm 5.6), Cristo se manifestou. O mundo em que
Jesus nasceu, era o melhor de toda a sua história, para assistir o evento de
tamanha significação e repercussão. Por um lado, olhamos e vemos um mundo
desiludido, vivendo em constantes lutas, em meio a imoralidades; um mundo
escravo de opressores, de ambiciosos; um mundo de filosofias, ciências, artes,
literatura; um mundo de religião, deuses, templos, sacerdotes; um mundo de
conquistadores; um mundo de crimes, divórcios, infanticídios, horrores. Por
outro lado, olhamos e vemos a mão de Deus ultimando tudo, dando os derradeiros toques
e sobre as ruínas de um passado inglório, construir um mundo cristão e, por
meio da Cruz de seu Filho, salvar a humanidade errante e perdida. Foi em tal
tempo que nasceu nosso SENHOR E SALVADOR
JESUS CRISTO.
Em
70 da era Cristo, após uma fracassada revolta contra a dominação romana,
Jerusalém foi conquistada por Tito e seus exércitos, ocorrendo uma segunda
destruição do templo. Em 73, o último foco de resistência desapareceu, com o
suicídio coletivo dos judeus sitiados no rochedo de Massada. Os judeus foram
expulsos da Palestina, ficando este acontecimento conhecido na história
pelo nome de Diáspora, só retomando no
século XX, onde fundaram em 1948 o atual Estado de Israel. Custou-lhes caro a
resposta à pergunta feita por Pilatos: “O seu sangue caia sobre nós e sobre
nossos filhos” (Mt 27.25). Quase 19 séculos sem nação e sendo rejeitados por
todos os povos, e até mesmo em nosso Brasil.
2.23.
A restauração do estado de Israel a figueira brotando
A
idéia da restauração de um estado judeu ganhou forças em meados do século XIX,
particularmente entre os judeus russos, vítimas de Numerosas medidas
discriminatórias; subenvencionadas por sociedades judias, milhares deles
emigraram para a Palestina; em 1914, eles já somavam 100.000, espalhados por
colônias agrícolas.
Em
1917, o Secretário de Negócios Estrangeiros da Inglaterra, Lord Balfour,
anunciou que seu país favorecia o estabelecimento de um lar nacional judeu na
região, após o término da primeira guerra mundial; em 1922, a Liga da Nações
entregou a administração da Palestina aos ingleses, exigindo que levassem
adiante a Declaração Balfour. O crescente número de imigrantes judeus, sua
oposição à ocupação britânica e os choques constantes entre eles e os árabes
originários da região fizeram com que, depois da II Guerra Mundial, o problema
fosse levado às Nações Unidas, que em 29/11/1947, decidiram pela partilha da
Palestina, renascendo assim o Estado de Israel e cumprindo assim a profecia de
Isaías 66.8 que diz: “Quem jamais ouviu tal coisa? quem viu coisa semelhante?
Pode acaso, nascer uma terra Nm só dia?
ou nasce uma nação de uma só vez? Pois Siló, antes que lhe viessem as dores deu
à luz seus filhos”.
Desde
a fundação do Estado de Israel os países árabes fizeram combates violentos
contra Israel. Porém Deus sempre esteve com Israel, ajudando-o, fortalecendo-o,
e encorajando-o, conforme Isaías 41.14,15 que diz: “Não temas, ó vermezinho de
Jacó, povozinho de Israel; eu te ajudo, diz o Senhor, e o teu Redentor é o
Santo de Israel. Eis que farei de ti um trilho cortante e novo, armado de
lâminas duplas; os montes trilharás e moerás e os outeiros reduzirás a palha”.
Em
1967 ocorreu a Guerra dos Seis Dias. O Egito impôs um bloqueio a Israel, no
Estreito de Ocaba e até a tensão aumentou, agravada pela formação de movimentos
terroristas de libertação da Palestina. Armadas pelas grandes potências e
estimulados por seus governos belicosos, os árabes, liderados pelo ditador
egípcio Gamal Abdel Nasser, planejaram e tentaram em junho de 1967, a
destruição do estado judaico.
Nasser,
na qualidade de comandante supremo das Numerosas e bem armadas forças árabes,
discursando a 29 de maio daquele ano, portanto uma semana antes do início do
conflito, afirma solenemente: “o povo árabe quer lutar, esperamos o dia
propício para estarmos plenamente preparados ... Agora nos sentimos bastantes
fortes e se entrarmos na batalha contra Israel, Deus nos ajudará e havemos de
triunfar. Com esta certeza decido dar os passos atuais”.
Nada
disso ocorreu. Aluf Shlomo Goren,
principal capelão do exército israelita, redigiu uma prece para os soldados
judeus recitarem antes do combate, baseado nas seguintes passagens bíblicas: Dt
20.3,4; Sl 35.1,2; 83.2,3 etc... Os judeus foram vitoriosos
e muitos voltaram dos campos de
batalha convertidos e relataram os milagres que tinham visto com seus próprios
olhos.
Um
jornal cristão de Jerusalém publicou alguns desses milagres salientando que, de
maneira estranha e inexplicável, centenas de tanques e canhões inimigos nem
sequer chegaram a entrar em ação; muitos aviões de combate egípcios não
chegaram a estar preparados, apesar de alerta total; o radar não funcionava
devidamente e, por vezes, o alarme dos ataques aéreos só era ouvido quando as
fortalezas voadoras de Israel já haviam atingido os seus objetivos e
regressavam ilesas às suas bases. Os milagres aconteceram no Oriente Médio em
razão da presença ali do povo de Israel.
No
fim da guerra dos Seis Dias, os Israelitas ocupam toda a península do Sinai, a margem leste do canal
de Suez, a faixa de Gaza e toda a margem oeste do Jordão e as colinas de Golã
na Síria. Como resultado de mais este confronto bélico, também Jerusalém passou
inteiramente para o domínio israelita, no 8 de Junho de 1967.
Em
1973 ocorreu a Guerra do Yam Kippur (Dia do Perdão). A questão dos territórios
ocupados por Israel em 1967 tornou-se, então, novo foco de tensão para o
Oriente Médio. O novo conflito iniciou-se 6 anos depois (06/10/1973). A Síria
ao norte ocupou as colinas de Golã e o Egito tomou os campos de petróleo de
Balayim chegando a controlar toda a área do canal de Port Said a Suez. O contra
ataque israelense foi violento: recuou as forças egípcias e destrui aeroportos
militares sírios. Novos tanques egípcios cruzam o canal, avançando cerca de 15
km para dentro do território inimigo e
forçando os israelitas a abandonarem a linha de fortificação de Barley. Damasco
foi bombardeada pelos aviões Phanton de Israel. 10.000 soldados atacaram e
destruíram instalações de artilharia e bases de lançamento de mísseis, apoiados
por 200 tanques, do lado Oeste do canal, interceptaram o fornecimento de
víveres e munições às tropas egípcias que estavam no Sinai; o exército Sírio
foi obrigado a recuar de Golã até a linha do cessar fogo de 1967.
Um
acordo de paz foi assinado, com intervenção de Leonid Brejnev e Richard Nixon
(22/10/1973), mais ocorreram ainda novos choques dentro do território egípcio,
o que valeu a Israel a acusação de romper a trégua e exigiu a formação de uma
tropa especial das Nações Unidas para zelar pela observância do cessar fogo.
Novos
acordos foram assinados
com a Síria
(31/05/1974) e entre Israel e o
Egito (Nov. de 1973, 18/01/1974 e 04/09/1975).
Em
1978 com a mediação de Jimmy Carter, dos EUA, Anuar Sadat e Menahem Begin
assinam um tratado de paz entre o Egito e Israel.
No
dia 24 de Julho de 1980 o Parlamento Israelense aprova lei que converte
Jerusalém na capital de Israel e anexa o setor árabe da cidade. Vários países
árabes decidem adotar sanções contra quem reconhecer Jerusalém como capital de
Israel.
Este
é um pequeno relato das coisas que aconteceram em Israel, com respeito a ele e
seus países vizinhos. Muitas perguntas podem surgir a esse respeito, indagando
qual o mistério, a força, que dá a Israel vitória contra os seus inimigos. Nós,
crentes em Jesus Cristo sabemos o porquê.
Deus
prometeu a Israel a sua terra como podemos ler em Êx 23.29-31 e em Dt 11.23-25.
Para
nós, cristãos, Jesus deixou um alerta: “Aprendei, pois a parábola da figueira:
quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está próximo
o verão. Assim também vós quando virdes todas estas coisas, sabei que está
próximo, às portas” (Mt 24.32,33).
Israel
foi restaurado como nação. A figueira brotou. Amém, vem Senhor Jesus!
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