A
TEOLOGIA DA
PROSPERIDADE
À LUZ
DA BÍBLIA
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, tem sido apregoada aos quatro cantos do
mundo um ensino exagerado sobre a prosperidade cristã. Segundo este
ensinamento, todo crente tem que ser rico, não morar em casa alugada, ganhar
bem, além de ter saúde plena, sem nunca adoecer. Caso não seja assim, é porque
está em pecado ou não tem fé. Neste estudo, procuraremos examinar o assunto à
luz da Bíblia, buscando entender a verdadeira doutrina da prosperidade.
I - O QUE É PROSPERIDADE.
No Dic. Aurélio, encontramos vários significados em torno da
palavra prosperidade.:
1. PROSPERIDADE (do lat., prosperitate). Qualidade ou estado
de próspero; situação próspera.
2. PROSPERAR. Tornar-se próspero ou afortunado; enriquecer;
ser favorável; progredir; desenvolver.
3. PRÓSPERO. Propício, favorável, ditoso, feliz, venturoso.
4. BIBLICAMENTE, prosperidade é mais que isso. É o que diz o
Salmo 1. 1-3.
II - A MODERNA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE EM CONFRONTO COM A
BÍBLIA.
1. NOMES INFLUENTES.
1.1. KENYON. Nasceu em 24.04.1867, Saratoga, Nova York, EUA,
falecendo aos 19.03.48. Nos anos 30
a 40, desenvolveram-se os ensinos de Essek William
Kenyon. Segundo Pieratt (p. 27), ele tinha pouco conhecimento teológico formal.
"Kenyon nutria uma simpatia por Mary Baker Eddy" (Gondim, p. 44),
fundadora do movimento herético "Ciência Cristã", que afirma que a
matéria, a doença não existem. Tudo depende da mente. Pastoreou igrejas
batistas, metodistas e pentecostais. Depois, ficou sem ligar-se a qualquer
igreja. De acordo com Hanegraaff, Kenyon sofreu influência das seitas
metafísicas como Ciência da Mente, Ciência Cristã e Novo Pensamento, que é o
pai do chamado "Movimento da Fé". Esses ensinos afirmam que tudo o
que você pensar e disser transformará em realidade. Enfatizam o "Poder da
Mente".
1.2. KENNETH HAGIN.
Discípulo de Kenyon. Nasceu em 20.08.1918, em McKinney,
Estado do Texas, EUA. sofreu várias enfermidades e pobreza; diz que se
converteu após ter ido três vezes ao inferno (Romeiro, p. 10). Aos 16 anos diz
ter recebido uma revelação de Mc 11.23,24, entendendo que tudo se pode obter de
Deus, desde que confesse em voz alta, nunca duvidando da obtenção da resposta,
mesmo que as evidências indiquem o contrário. Isso é a essência da
"Confissão Positiva".
Foi pastor de uma igreja batista (1934-1937); depois
ligou-se à Assembléia de Deus (1937-1949), em seguida passou por várias igrejas
pentecostais, e , finalmente, fundou seu próprio ministério, aos 30 anos,
fundando o Instituto Bíblico Rhema. Foi criticado por ter escrito livros com
total semelhança aos de Kenyon, mas defendeu-se , dizendo que não era plágio,
que os recebera diretamente de Deus.
OUTROS.
Kenneth Copeland, seguidor de Haggin, diz que "Satanás
venceu Jesus na cruz" (Hanegraaff, p. 36). Benny Hinn. Tem feito muito
sucesso. Diz que teve a revelação de que as mulheres originalmente deveriam dar
à luz pelo lado de seus corpos (id., p. 36). Há muitos outros nomes, mas este
espaço do estudo não permite registrá-los.
III - OS ENSINOS DO EVANGELHO DA
PROSPERIDADE EM CONFRONTO COM A BÍBLIA.
Os defensores da "teologia ou do evangelho da
prosperidade" baseiam-se em três pontos a serem considerados:
1. AUTORIDADE ESPIRITUAL.
1.1. PROFETAS, HOJE.
Segundo K. Hagin, Deus tem dado autoridade (unção) a
profetas nos dias atuais, como seus porta-vozes. Ele diz que "recebe
revelações diretamente do Senhor"; "...Dou graças a Deus pela unção
de profeta...Reconheço que se trata de uma unção diferente...é a mesma unção,
multiplicada cerca de cem vezes" (Hagin, Compreendendo a Unção, p. 7). è
O QUE DIZ A BÍBLIA:
O ministério profético, nos termos do AT, duraram até João
(Mt 11.13). Os profetas de hoje são os ministros da Palavra (Ef 4.11). O dom de
profecia (1 Co 12.10) não confere autoridade profética.
1.2. "AUTORIDADE DAS
REVELAÇÕES".
Essa autoridade deriva das "visões, profecias,
entrevistas com Jesus, curas, palavras de conhecimento, nuvens de glória,
rostos que brilham, ser abatido (cair) no Espírito", rejeição às doenças,
ordenando-lhes que saiam, etc. Ele diz que quem rejeitar seus ensinos
"serão atingidos de morte, como Ananias e Safira" (Pieratt, p. 48). è
O QUE DIZ A BÍBLIA.
A Palavra de Deus garante autoridade aos servos do Senhor
(cf. Lc 24.49; At 1.8; Mc 16.17,18). Mas essa autoridade ou poder deriva da fé
no Nome de Jesus e da Sua Palavra, e não das experiências pessoais, de visões e
revelações atuais. Não pode existir qualquer "nova revelação" da
vontade de Deus. Tudo está na Bíblia (Ver At 20.20; Ap 22.18,19).
Se um homem diz que lhe foi revelado que a mulher deveria
ter filhos pelos lados do corpo, isso não tem base bíblica, carecendo tal
pessoa de autoridade espiritual. Deveria seguir o exemplo de Paulo, que recebeu
revelação extraordinária, mas não a escreveu (cf. 2 Co 12.1-6).
1.3. HOMENS SÃO DEUSES!
Diz Hagin: "Você é tanto uma encarnação de Deus quanto
Jesus Cristo o foi..." (Hagin, Word of Faith, 1980, p. 14). "Você não
tem um deus dentro de você. Você é um Deus" (Kenneth Copeland, fita
cassete The Force of Love, BBC-56). "Eis quem somos: somos Cristo!"
(Hagin, Zoe: A Própria Vida de Deus, p.57). Baseiam-se, erroneamente, no Sl
82.6, citado por Jesus em Jo 10.31-39. "Eu sou um pequeno Messias"
(Hagin, citado por Hanegraaff, p. 119).
O QUE A
BÍBLIA DIZ. Satanás, no Éden, incluiu no seu engodo, que o homem seria
"como Deus, sabendo o bem e o mal" (Gn 3.5). Isso é doutrina de
demônio. Em Jo 10.34, Jesus citou o Sl 82.6, mostrando a fragilidade do homem e
não sua deificação: "...Todavia, como homem morrereis e caireis, como qualquer
dos príncipes" (v. 7). "Deus não é homem" (Nm 23.19; 1 Sm 15.29;
Os 11.9 Ex 9.14). Fomos feitos semelhantes a Deus, mas não somos iguais a Ele,
que é Onipotente (Jó 42.2;...); o homem é frágil (1 Co 1.25); Deus é Onisciente
(Is 40.13, 14; Sl 147.5); o homem é limitado no conhecimento (Is 55.8,9). Deus
é Onipresente (Jr 23.23,24). O homem só pode estar num lugar (Sl 139.1-12).
Diante desse ensino, pode-se entender porque os adeptos da doutrina da
prosperidade pregam que podem obter o que quiserem, nunca sendo pobres, nunca
adoecendo. É que se consideram deuses!
2. SAÚDE E PROSPERIDADE.
Esse tema insere-se no âmbito das "promessas da
doutrina da prosperidade". Segundo essa doutrina, o cristão tem direito a
saúde e riqueza; diante disso, doença e pobreza são maldições da lei.
2.1. BÊNÇÃO E MALDIÇÃO DA LEI.
Com base em Gl 3.13,14, K.Hagin diz que fomos libertos da
maldição da lei, que são: 1) Pobreza; 2) doença e 3) morte espiritual. Ele toma
emprestadas as maldições de Dt 28 contra os israelitas que pecassem. Hagin diz
que os cristão sofrem doenças por causa da lei de Moisés.
O QUE DIZ A BÍBLIA.
Paulo refere-se, no texto de Gl 3 à maldição da lei a todos
os homens, que permanecem nos seus pecados. A igreja não se encontra debaixo da
maldição da lei de Moisés. (cf. Rm 3.19; Ef 2.14). Hagin diz que ficamos
debaixo da bênção de Abraão (Gl 3.7-9), que inclui não ter doenças e ser rico.
Ora, Abraão foi abençoado por causa da fé e não das riquezas. Aliás, estas lhe
causaram grandes problemas. Muitos cristãos fiéis ficaram doentes e foram
martirizados, vivendo na pobreza, mas herdeiros das riquezas celestiais (1 Pe
3.7).
Os teólogos da prosperidade dizem que Cristo, na Cruz,
"removeu não somente a culpa do pecado, mas os efeitos do pecado"
(Pieratt, p. 132). Mas isso não é verdade, pois Paulo diz que "toda a
criação geme", inclusive os crentes, aguardando a completa redenção.
2.2. O CRISTÃO NÃO DEVE ADOECER.
Eles ensinam que "todo cristão deve esperar viver uma
vida plena, isenta de doenças" e viver de 70 a 80 anos, sem dor ou
sofrimento. Quem ficar doente é porque não reivindica seus direitos ou não tem
fé. E não há exceções (Pieratt, p. 135). Pregam que Is. 53.4,5 é algo absoluto.
Fomos sarados e não existe mais doença para o crente.
O QUE DIZ A BÍBLIA:
"No mundo, tereis aflições" (Jo 16.33). São Paulo
viveu doente (Ver 1 Co 4.11; Gl 4.13), passou fome, sede, nudez, agressões,
etc. Seus companheiros adoeceram (Fp 2.30). Timóteo tinha uma doença crônica (1
Tm 5.23). Trófimo ficou doente (2 Tm 4.20). Essas pessoas não tinham fé? Jesus
curou enfermos, e citou Is 53.4,5 (cf. Mt 8.16,17).
No tanque de Betesda, havia muitos doentes, mas Jesus só
curou um (cf. Jo 5.3,8,9). Deus cura, sim. Mas não cura todos as pessoas. Se
assim fosse, não haveria nenhum crente doente. Deve-se considerar os desígnios
e a soberania divina. Conhecemos homens e mulheres de Deus, gigantes na fé, que
têm adoecido e passado para o Senhor.
2.3. O CRISTÃO NÃO DEVE SER POBRE.
Os seguidores de Hagin enfatizam muito que o crente deve ter
carro novo, casa nova (jamais morar em casa alugada!), as melhores roupas, uma
vida de luxo. Dizem que Jesus andou no "cadillac" da época, o
jumentinho. Isso é ingênuo, pois o "cadillac" da época de Cristo
seria a carruagem de luxo, e não o simples jumentinho.
O QUE DIZ A BÍBLIA.
A Palavra de Deus não incentiva a riqueza (também não a
proíbe, desde que adquirida com honestidade, nem santifica a pobreza); S. Paulo
diz que aprendeu a contentar-se com o que tinha (cf. Fp 4.11,12; 1 Tm 6.8);
Jesus enfatizou que só uma coisa era necessária: ouvir sua
palavra (Lc 10.42); Ele disse que é difícil um rico entrar no céu (Mt 19.23);
disse, também, que a vida não se constitui de riquezas (Lc 12.15). Os apóstolos
não foram ricaços, mas homens simples, sem a posse de riquezas materiais. S.
Paulo advertiu para o perigo das riquezas (1 Tm 6.7-10)
3. CONFISSÃO POSITIVA.
É o terceiro ponto da teologia da prosperidade. Ela está
incluída na "fórmula da fé", que Hagin diz ter recebido diretamente
de Jesus, que lhe apareceu e mandou escrever de 1 a 4, a "fórmula".
Se alguém deseja receber algo de Jesus, basta segui-la:
1) "Diga a coisa" positiva ou negativamente, tudo
depende do indivíduo. De acordo com o que o indivíduo quiser, ele
receberá". Essa é a essência da confissão positiva.
2) " Faça a coisa". "Seus atos derrotam-no ou
lhe dão vitória. De acordo com sua ação, você será impedido ou receberá".
3) "Receba a coisa". Compete a nós a conexão com o
dínamo do céu". A fé é o pino da tomada. Basta conectá-lo.
4) "Conte a coisa" a fim de que outros também
possam crer". Para fazer a "confissão positiva", o cristão dever
usar as expressões: exijo, decreto, declaro, determino, reivindico, em lugar de
dizer : peço, rogo, suplico; jamais dizer: "se for da tua vontade",
segundo Benny Hinn, pois isto destrói a fé.
Mas Jesus orou ao Pai, dizendo: "Se é da tua
vontade...faça-se a tua vontade..." (Mt 26.39,42). "Confissão
positiva" se refere literalmente a trazer à existência o que declaramos
com nossa boca, uma vez que a fé é uma confissão" (Romeiro, p. 6).
IV - A VERDADEIRA PROSPERIDADE.
A Palavra de Deus tem promessas de prosperidade para seus
filhos. Ao refutar a "Teologia da Prosperidade", não devemos aceitar
nem pregar a "Teologia da Miserabilidade".
1. A PROSPERIDADE ESPIRITUAL.
Esta deve vir em primeiro lugar. Sl 112.3; Sl 73.23-28. É
ser salvo em Cristo Jesus; batizado com o Espírito Santo; é ter o nome escrito
no Livro da Vida; é ser herdeiro com Cristo (Rm 8.17); Deus escolheu os pobres
deste mundo para serem herdeiros do reino (Tg 2.5); somos co-herdeiros da graça
(1 Pe 3.7); devemos ser ricos de boas obras (1 Tm 6.18,19); tudo isso nos é
concedido pela graça de Deus.
2. PROSPERIDADE EM TUDO.
Deus promete bênçãos materiais a seus servos,
condicionando-as à obediência à sua Palavra e não à "Confissão
Positiva".
2.1. BÊNÇÃOS E OBEDIÊNCIA. Dt 28.1-14. São bênçãos
prometidas a Israel, que podem ser aplicadas aos crentes, hoje.
2.2. PROSPERIDADE EM TUDO (Sl 1.1-3; Dt 29.29; ). As
promessas de Deus para o justo são perfeitamente válidas para hoje. Mas isso
não significa que o crente que não tiver todos os bens, casa própria, carro
novo, etc, não seja fiel.
2.3. CRENDO NOS SEU PROFETAS (2 Cr 20.20;). Deus promete
prosperidada para quem crê na Sua palavra, transmitida pelos seus profetas, ou
seja, homens e mulheres de Deus, que falam verdadeiramente pela direção do
Espírito Santo, em acordo com a Bíblia, e não por entendimento pessoal.
2.4. PROSPERIDADE E SAÚDE (3 Jo 2). A saúde é uma bênção de
Deus para seu povo em todos os tempos. Mas não se deve exagerar, dizendo que
quem ficar doente é porque está em pecado ou porque não tem fé.
2.5. BÊNÇÃOS DECORRENTES DA FIDELIDADE NO DÍZIMO (Ml
3.10,11). As janelas do céu são abertas para aqueles que entregam seus dízimos
fielmente, pela fé e obediência à Palavra de Deus.
2.6. O JUSTO NÃO DEVE SER MISERÁVEL. (Sl 37.25). O servo de
Deus não deve ser miserável, ainda que possa ser pobre, pois a pobreza nunca
foi maldição, de acordo com a Bíblia.
CONCLUSÃO.
O crente no Senhor Jesus Cristo tem o direito de ser
próspero espiritual e materialmente, segundo a bênção de Deus sobre sua vida,
sua família, seu trabalho. Ef.1:3 - Mas isso não significa que todos tenham de
ser ricos materialmente, no luxo e na ostentação. Ser pobre não é pecado nem
ser rico é sinônimo de santidade. Não devemos aceitar os exageros da
"Teologia da Prosperidade", nem aceitar a "Teologia da
Miserabilidade". Deus é fiel em suas promessa. Na vida material, a
promessa de bênçãos decorrentes da fidelidade nos dízimos aplicam-se á igreja.
A saúde é bênção de Deus. Contudo, servos de Deus, humildes e fiéis, adoecem e
muitos são chamados á glória, não por pecado ou falta de fé, mas por desígnio
de Deus. Que o Senhor nos ajude a entender melhor essas verdades.
BIBLIOGRAFIA.
- Bíblia Sagrada, ERC. Ed. Vida, S. Paulo, 1982.
- GONDIM, Ricardo. O Evangelho da Nova Era. Abba,
S. Paulo , 1993.
-
HANEGRAAFF, Hank. Cristianismo
em Crise. CPAD, Rio, 1996.
- ROMEIRO, Paulo. Super Crentes. Mundo Cristão, S. Paulo,
1993.
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