SOMOS SALVOS
PARA PRESTAR CULTO AO SENHOR JESUS CRISTO
Muitas vezes, as pessoas se
perguntam por quê existem. Para quê fomos criados? A Bíblia nos mostra que
existimos para o louvor e glória do Deus único e Senhor Jesus Cristo. Sendo
este um fato espiritual, é natural concluirmos que o culto está vinculado à
nossa natureza. Nascemos com um “instinto cultual”. Tal afirmativa é endossada
pelos historiadores, antropólogos e arqueólogos. Em todas as civilizações de
todos os tempos, encontra-se presente o fenômeno chamado “culto”. O culto é a
expressão da fé. É o tributo de honra, louvor e serviço àquele que se venera.
Quem é “aquele”? Bem... nesse ponto as civilizações não se entendem. Os alvos
do culto humano têm sido os mais diversos possíveis. Há quem adore o sol, a
lua, as estrelas, os rios, os animais. Outros veneram o seu semelhante, vivo ou
morto, ou imagens de sua própria criação. Mais longe vão os que espiritualizam
o culto: adoram espíritos que são identificados por centenas ou milhares de
nomes. Em muitos povos foi constatada também a adoração a um “ser supremo”,
criador de todas as coisas. Provavelmente, tais pessoas tiveram algum tipo de
experiência espiritual genuína. Entretanto, é através do povo de Israel que o
criador se apresentou à humanidade. Jesus disse: “Vós adorais o que não sabeis.
Nós adoramos o que sabemos, porque a salvação vem dos judeus”. (João 4:22). Somente
o único Deus deve ser o alvo de culto de todo ser humano: o Deus de Abraão, de
Isaque e de Jacó. Os judeus são o nosso ponto de referência religiosa na
história. Portanto, convém que nos dediquemos a conhecer aspectos do seu culto
que nos serão de grande utilidade no entendimento de nossas práticas e fé.
Enquanto muitos se perdem em
cultos vãos, adorando ao que não se deve, a Bíblia nos mostra que Deus está à
procura de verdadeiros adoradores. Antes de buscar pregadores, intercessores,
evangelistas, etc, o Senhor procura pessoas que se dediquem a cultuá-lo. O
culto a Deus está fundamentado no conhecimento que se tem dele. À medida em que
o conhecemos, o adoramos. (Os.6:1-3,6;Is.1:3;5:13;Prov.11:9;Jo.8:32)O
verdadeiro culto é um relacionamento purificador e transformador com o Deus
Pai, Filho e Espírito Santo. Ao Único Deus o Senhor Jesus Cristo, seja a honra
a glória, o louvor para todo sempre. Amém
A Igreja Evangélica de hoje se
encontra na delicada situação de estar errada ao mesmo tempo em que está certa;
uma simples preposição nesse caso faz a diferença.
Penso
que não há dúvida, mas se deixarmos a Bíblia decidir o que está certo e o que
está errado, os evangélicos estão certos em sua posição doutrinária. Se a
Bíblia é verdadeira, os fundamentalistas estão certos.
Um
ponto em que estamos errados e, ao mesmo tempo certos, está na ênfase relativa
que damos às preposições para e de quando estas acompanham a palavra salvos.
Por uma longa geração, defendemos a palavra da verdade ao mesmo tempo em que
nos afastávamos dela em espírito porque estávamos preocupados com a questão do
que fomos salvos em vez da questão para que fomos salvos.
A
importância correta referente a estes dois conceitos é apresentada por Paulo em
sua primeira epístola aos Tessalonicences: “(…) e como, deixando os ídolos, vos
convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro e para aguardardes
dos céus o Seu Filho” (Ts.1:10).
O
cristão é salvo dos seus pecados do passado. Ele não tem mais nada a ver com
eles; esses pecados estão entre as coisas que devem ser esquecidas assim como o
é a noite ao romper do dia. Ele também é salvo da ira vindoura. Também nada tem
a ver com isso. Ela existe, mas não para ele. O pecado e a ira tem uma relação
de causa e efeito, e uma vez que o pecado do cristão é anulado, a ira também é
revogada. As preposições de da vida cristã dizem respeito a preposições
negativas, e interessar-se profundamente por elas é viver em um estado de
negação. Contudo, esta é a situação vivida por muitos cristãos sérios na maior
parte do tempo.
Não
fomos chamados para ter comunhão com a inexistência. Fomos chamados às coisas
que existem na verdade, às coisas positivas, e é quando nos ocupamos com essas
coisas que nossa alma é curada. A vida espiritual não pode se satisfazer com
situações negativas. O homem que constantemente relembra as maldades dos dias
em que não era convertido está olhando para a direção errada. É como um homem
que tenta vencer uma corrida olhando pra trás por sobre os ombros.
O
que o cristão costuma ser é a questão menos importante a seu respeito. O que
deveria ser é tudo o que deveria lhe importar. Ele pode, de vez em quando, como
fez Paulo, lembrar-se da vida que outrora levava para sua própria vergonha; mas
isto não deve passar de um rápido retrospecto; nunca deve ser um olhar fixo.
Nosso olhar permanente e prolongado está em Cristo e na glória que será
revelada.(Cl.3:1-11;ITm.6:14-16)
Para
que fomos salvos têm a mesma relação entre si como uma doença grave e a saúde
recuperada. Curada a terrível doença, sua lembrança deve ser banida da mente a
fim de que fique mais vaga e mais fraca uma vez que se trata de um fato muito
distante; e o ditoso homem, cuja saúde foi restabelecida, deve continuar a usar
sua nova força para realizar algo útil para a humanidade.
Contudo,
muitas pessoas permitem que o estado debilitado de seu corpo limite sua
capacidade mental de modo que, após o restabelecimento do corpo, elas ainda
guardam o velho sentimento de invalidez crônica que sentiam antes. Estão
restabelecidas, é verdade, mas não para alguma coisa. Basta imaginarmos um
grupo de pessoas testemunhando todos os domingos sobre suas últimas
enfermidades e entoando cânticos tristes sobre elas e teremos um quadro
perfeito de muitas reuniões cristãs de hoje.
Há
uma arte por trás do esquecer, e todo cristão deve tornar-se um mestre nela.
Esquecer as coisas que ficaram para trás é uma necessidade positiva para que
nos tornemos simples crianças em Cristo. Se não podemos confiar em Deus para
lidar com eficiência com nosso passado, podemos pegar uma esponja e começar a
apagá-lo. Cinqüenta anos sofrendo por nossos pecados não podem apagar a nossa
culpa. No entanto, se Deus, de fato, nos perdoou e nos purificou, então,
devemos dar a questão por encerrada e não perder mais tempo com lamentações que
para nada mais servem.(ICO.5:17;Hb.10:14-23)
E,
graças a Deus, o esquecimento súbito de nosso conhecido passado não nos deixa
com um vazio. Longe disso. O bendito Espírito Santo de Deus corre para ocupar o
lugar vazio deixado por nossos pecados e falhas, trazendo consigo toda novidade
de vida. Uma nova vida, uma nova esperança, novas alegrias, novos interesses,
uma nova obra significativa e, o melhor de todas as coisas, um novo e
suficiente objeto para o qual voltar o olhar arrebatador de nossa alma. Deus
agora enche o jardim restaurado, e não há razão para termos medo de caminhar e
comungar com Ele no frescor do dia.
Bem
aqui está o ponto de fraqueza de muitos cristãos atualmente. Não aprendemos o
que devemos enfatizar. Em particular, não entendemos que fomos salvos para
conhecer Deus, entrar em Sua presença repleta de milagres pelo novo e vivo
caminho e permanecer nela eternamente. Fomos chamados para uma eterna
preocupação em relação a Deus. O Deus Trino, com todo o Seu mistério e
majestade, é nosso e somos dEle,e a eternidade não será longa o suficiente para
experimentarmos tudo o que Ele é em termos de bondade, santidade e verdade.
Nos
céus, a adoração extasiada da Divindade não cessa nem de dia nem de noite.
Professamos estar a caminho deste lugar; não devemos começar agora a adorar na
terra como adoraremos no céu?
A ESSÊNCIA DO CULTO BÍBLICO
Haverá, em meio às múltiplas maneiras
de cultuar, um sine qua non na adoração, um elemento que seja imprescindível?
Cremos firmemente que há. Jesus reafirmou o que Moisés, no Antigo Testamento,
deixou claro: o primeiro mandamento exige um amor a Deus, sem limites
(Dt.6:4,5). Séculos depois que Deuteronômio foi escrito, um intérprete da lei
levantou esta pergunta para Jesus: “Qual é o grande mandamento da lei?” Respondeu o Mestre: “Amarás o Senhor teu Deus
de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento”(Mt.
22:36-37). No texto original de Deuteronômio, encontramos a palavra “força” em
lugar de “entendimento”. O texto de Marcos (12:30) transcreve ambos,
“entendimento” e “força”, na resposta de Jesus. O cristão, cuja mente e coração
estão voltados para o Criador e Pai Eterno, percebe nestas palavras de Jesus um
verdadeiro desafio, pois nelas estão a raiz, o tronco e o fruto da adoração.
Sem o incentivo do amor por
Deus, o culto não passa de palha, pura “casca”, isento de qualquer valor. Pode
até se tornar em culto a Satanás. Uma adoração que se realiza sem o objetivo de
expressar e aumentar nosso amor por aquele “de quem, e por meio de quem e para
quem, são todas as coisas” (Rm.11:36),
falha completamente. Deixa de ser culto a Deus, pois carece da essência, que é
o amor.
Ora, quando se trata de amor
por pessoas amigas ou entes queridos da família, não encontramos dificuldades
em atender o sentido de amar. Mas, como se há de amar a Deus, a quem “ninguém
jamais viu”? (Jo.1:18) Como havemos de colocar o Senhor no centro de nossas
ambições? Ou, como nutriremos a amizade que venhamos a oferecer a Deus, sendo
nós pecadores, enquanto Ele é Espírito infinito e mora em luz inacessível? Como
faremos de Deus o “Senhor absoluto” de nossa existência? Os cristãos, reunidos
em adoração a Deus, devem ter este objetivo como prioritário.
Culto verdadeiro requer amor de todo o coração
Para o hebreu, o coração, no
sentido metafórico, representava o centro da vida intelectual e espiritual.
Associando-se de perto com a alma, o leitor original de Deuteronômio teria
pensado em seus sentimentos, suas avaliações, sua vontade, todos emanando do
coração. Esta realidade pessoal emite emoções tais como alegria, pesar,
tranqüilidade e ansiedade. Igualmente alcança as áreas intelectuais tais como
compreensão e conhecimento, e exerce o poder de raciocinar ou lembrar.
Diríamos, enfim, que coração e alma representam o homem interior como um todo.
Em seu coração o homem é responsável diante de Deus, em todos os seus atos e
palavras. Somente um coração inclinado para Deus é capaz de adorá-lo, agradá-lo
e amá-lo.
Tanto no Antigo Testamento
como no Novo Testamento, o amor que há no coração é o alvo da busca de Deus.
Ele se dirige ao coração porque ali está a sede do amor. Prof. Bruce Waltke, do
Regent College, no Canadá, lembra-nos que antes de o Senhor mandar seu povo
buscá-lo unicamente no lugar onde Ele estabeleceria seu nome (Dt.12), Deus, em
seis capítulos antecedentes (Dt. 6-11), exorta os israelitas a darem-se a si
mesmos inteiramente ao Senhor. “Circuncidai, pois, o vosso coração” (Dt. 10:16). Pois é no coração que o
Todo-poderoso toca, ao fazer contato conosco, “... aquela parte do homem ...
onde, em primeira instância, se decide a questão pró ou contra Deus” (Gutbrod).
Por ser o coração
essencialmente espiritual, mantendo o que resta da imagem de Deus no homem
caído, é possível amar àquele que não tem corpo físico e nem existe ao alcance
dos nossos cinco sentidos? Evidentemente, para amarmos a Deus, precisamos crer
que Ele se revelou através de palavras por Ele inspiradas (II Tim. 3:16), e uma
vez recebidas pelos profetas, homens por Ele escolhidos, estes fizeram seus
devidos registros. Contudo, sua revelação não se limita à transmissão de conceitos
comunicáveis por linguagem humana. Inclui atos que claramente evidenciam seu
amor e paciência para com seres que têm negligenciado e ignorado as evidências
do seu profundo interesse por eles. Inclui convicção criada por Deus no coração
que ele decide abrir (At.16:14), para fazer brilhar a luz de sua personalidade
(II Cor. 4:4,6). Resulta no reconhecimento do testemunho do Espírito Santo de
Deus “com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm.8:16).
Enquanto Deus revela a si
mesmo no íntimo do coração pela Palavra lida e recebida, pelo reconhecimento de
sua ação no mundo e pela comunicação pessoal do Espírito residente, nós devemos
responder em adoração a ele que declara e aprofunda nosso amor.
Uma moça presa numa casa em
chamas foi resgatada por um jovem bombeiro que pôs sua própria vida em risco
para retirá-la do incêndio. Ela sentiu profunda responsabilidade de
agradecer-lhe o ato sacrificial. Poucos dias depois, a jovem, que foi
resgatada, procurou o bombeiro para externar sua gratidão. Eles conversaram,
passearam, e, finalmente, acabaram se casando. Ela, que devia a vida ao jovem
bombeiro, passou a namorá-lo e, lentamente, um mero sentimento de gratidão
transformou-se num amor profundo. Pagou uma dívida de vida com a oferta
permanente do seu amor e mostrou sua alegria em conviver com aquele que
arriscou sua vida para lhe resgatar.
Assim Deus procura uma
comunhão por meio da experiência verdadeira com cada pessoa que experimentou
passar da morte para a vida (Jo.5:24), pelo sacrifício de Jesus Cristo. O novo
adorador começa com um sentimento de obrigação de servir a Deus no culto; vai
aprendendo a amá-lo e progride até que todo o seu coração se concentre na
beleza da pessoa do Senhor: “Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não
temerei, porque o Senhor Deus é a minha força e o meu cântico... vós com
alegria tirareis água das fontes da salvação” (Is.12:2,3). Davi, no deserto de
Judá, disse: “Ó Deus, tu és meu Deus forte, eu te busco ansiosamente; a minha
alma tem sede de ti” (Sl. 63:1). Desse modo se expressaram os que, na Antiga
aliança, amavam a Deus.
É natural, para quem
experimentou a “graça melhor do que a vida” (Sl. 63:3), descobrir um eco
semelhante no seu coração. Agostinho afirmou, acertadamente, nas linhas bem
conhecidas que deixou para a posteridade: “O homem mantém-se agitado até
encontrar seu descanso em Deus”.
O evangelho é deveras uma
posição doutrinária, mas antes é um relacionamento do cristão com Deus. “Se
alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele
e faremos nele morada” (Jo. 14:23). “E nós o amamos porque ele nos amou
primeiro” (I Jo.4:19). Porque na
realidade, “cada indivíduo dá seu coração àquilo que considera de máxima
importância, e esta lealdade determina a direção e o conteúdo da sua vida”.
O general William Booth,
fundador do Exército da Salvação, foi indagado acerca do segredo do seu
sucesso. Hesitou um instante e, com os olhos cheios de lágrimas, respondeu: “Eu
compartilharei o segredo. Deus tem se apoderado de tudo que há em mim. Podem
ter havido homens com maiores oportunidades, mas desde o dia em que os pobres
de Londres dominaram meu coração e ganhei uma visão daquilo que Jesus Cristo
podia fazer, determinei que Deus teria tudo do que houvesse em William Booth.
Se há algum poder no Exército da Salvação, hoje, é porque Deus tem recebido
toda a adoração do meu coração, todo o poder da minha vontade e toda a
influência da minha vida.
Concluímos que Deus nos quer
como seus verdadeiros adoradores, por nos amar profundamente ( I Jo. 4:8,16) .
Seu mandamento singular requer que nós o amemos de todo o coração e alma.
Participar em todo e qualquer culto requer primeiramente uma melhor aproximação
dele em amor. Assim, a adoração da igreja cumprirá seu objetivo se :
- O
louvor focalizar sua dignidade, a beleza da sua pessoa e a perfeição do seus
caráter. Deve, ainda, convidar todo homem a atribuir glória ao Pai maravilhoso
(Sl. 46:10);
- A
confissão do pecado que cometemos externar o reconhecimento da nossa indignidade e declarar nosso arrependimento pela rebelião
contra a expressa vontade de Deus. Também, não deixa de ser um estímulo forte
de amor, confiar no seu imediato e imerecido perdão (I Jo.1:9);
- Nossa
oração procurar assimilar seus pensamentos; expressar petições de acordo com seus conhecidos desejos. Amor
genuíno funde os desejos dos que buscam o Reino e a vontade única de Deus;
- A
mensagem, ouvido ou lida, suscitar pensamentos de gratidão e encorajamento.
Serão veículos de transformação de inimigos em amigos que a ele buscarão agradar (Jo.15:14,15);
- A
música atrair o coração para a beleza de Deus revelada na criação, na redenção
e na regeneração, refletindo assim a harmonia do universo, por ele criado.
Enfim, quando adoramos, só
devemos ficar satisfeitos se expressarmos o verdadeiro amor ou se nosso culto
revelar toda a preciosidade do Senhor, infundindo-a nos participantes.
Certamente, reconhecemos que
nunca alcançaremos um amor perfeito por Deus, à altura do amor que ele tem por
nós, seus filhos. Se, como a Pedro, ele nos perguntasse: “Amas-me mais do que
estes?” (Jo.21:15), estaríamos prontos a
responder-lhe: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”, mesmo sabendo que o vocábulo
da pergunta de Jesus seja agape ( amor sacrificial decidido), em contraste com
a resposta philos (amor de amizade e afeição). Amamos, mas não podemos confiar
muito em nosso amor, nem nos orgulhar por declarações petrinas. Há o risco de
uma lealdade falha.
O CULTO NO VELHO TESTAMENTO
A lei judaica determinava que
os israelitas servissem a Deus na vida de cada dia, observando os preceitos e
as instruções; ou então , mediante o culto celebrado em lugar sagrado e em hora
regulamentada. Esta segunda forma, na BÍblia e em muitos idiomas, é denominada
“serviço divino”. Não apenas uma instituição humana, mas antes uma expressão
institucional do relacionamento recíproco entre Deus e o homem. Tanto do lado
de Deus como do homem opera-se um agir e um falar. O lugar especial e o tempo
certo separam o culto do dia a dia, bem como a presença do sacerdote como
intermediário.
O serviço divino assim
concebido foi introduzido como fruto maduro da teofania sinaítica; ao pé do
monte sagrado, o grupo, transfuga do Egito e em caminho pelo deserto,
experimentava pela primeira vez a sacralidade de um lugar a par com a palavra
de Javé precedente da aparição de Deus, funcionando Moisés como medianeiro
(Êx.19).
O CULTO PRÉ-MOSAICO
O culto é patrimônio comum do
gênero humano. Em Gênesis 1 a
11 encontramos por duas vezes uma ação litúrgica: os sacrifícios de Caim e
Abel, e a oferta de Noé depois do
dilúvio. Conclui-se daí com direito ser o culto fenômeno essencialmente humano
de acordo também com as pesquisas da História das Religiões. Os sacrifícios
descritos em Gênesis 1 a
11 representam dois tipos diferentes quanto à sua motivação. Caim e Abel
ofereceram as primícias da lavoura e do rebanho, em ação de graças e para
impetrar a bênção para o futuro. Já o sacrifício de Noé teve como fundo a
salvação de perigo mortal. Os sobreviventes recomeçam sua vida olhando para o
Salvador a quem pertence a vida recém doada. Ambos os motivos conservam seu
valor até os tempos atuais. Honra-se ainda tanto o Deus benfeitor como o Deus
redentor, no ritmo das solenidades anuais , a par com as ações cultuais
motivados por ocasiões peculiares.
Os patriarcas celebraram o
seu culto no seio da família nômade, em lugares improvisados, no alto de um
monte, debaixo de uma árvore frondosa, junto a fonte de água. Alude-se apenas a
um santuário a ser fundado futuramente (Gn.28), marcando então a transição para
outra forma de vida.
Na inexistência de tempos
sagrados festejavam-se certas ocasiões importantes, como a mudança das
pastagens (antecipações da páscoa), o nascimento de filhos, imposição do nome à
criança. O pai funcionava como intermediário, ele ou a mãe recebiam as palavras
orientadoras e promissoras de Deus; o pai administrava a bênção. O sacrifício é
motivado por objetivo fortuito, não por instituição regulamentada. A prece,
igualmente, nasce da situação concreta (Gn.12:15,32).
O CULTO E O TEMPO - O SÁBADO E AS FESTAS
A adoração, quando expressa
em ritual, exige tempo. Sob o antigo pacto, Deus fez provisão para períodos de
tempo diários, semanais, anuais e mesmo de gerações, para o cumprimento da
obrigação de culto em Israel. O sacrifício diário, o descanso do sábado ou do
sétimo dia, os primeiros dias do mês e as cinco festas anuais do período
pré-exílico foram divinamente determinados. “Tempos designados” (Num. 29:39)
eram considerados centrais na expressão da adoração a Deus em Israel, porque
eventos passados, nos quais Deus agira, nunca deveriam ser esquecidos.
O sábado, dia semanal de
descanso e adoração é um exemplo fundamental do tempo consagrado a Deus. Embora
alguém tenha se referido ao sábado como uma criação singular do gênio religioso
hebraico e uma das contribuições hebraicas mais valiosas à civilização da
humanidade, a Bíblia simplesmente atribui a santidade do sétimo dia à lei de
Deus. Ele foi fundamentado no descanso de Deus após a criação (Gn.1:1-2,3). O
quarto mandamento impõe rigidamente a sua observância. Ele foi tanto abençoado
como santificado por Deus (Ex.20:11). Sendo uma parte integral do pacto, Israel
aceitou a observância do sábado como um sinal exigido de submissão nacional a
Deus (Ex.31:13). Em resumo, esta festa semanal foi instituída para lembrar ao
homem a sua responsabilidade de adorar a Deus em tempos e lugares determinados,
bem como para proporcionar ao corpo físico o descanso necessário.
Apesar da cessação de toda
obra, os sacerdotes continuavam o seu serviço (Lv.24:8); a circuncisão era
executada; o sábado, embora sendo apenas uma observância semanal, foi incluído
nas “festas fixas do Senhor” (Lv.23:1-3), “uma convocação santa”, não devendo
ser profanada. Quer visitando um profeta, quer participando da adoração no
templo, os hebreus encarregados de tal serviço o consideravam coincidente com a
santidade do sábado. Isaías desafiou os seus leitores a se desviarem dos seus
próprios prazeres e “se deleitarem no Senhor” (58:13). Muitos outros textos
poderiam ser citados para mostrar qual significado o dia deveria ter para os
israelitas (Sal.92).
Durante e após o exílio, a
proeminência do sábado aumentou. O surgimento da sinagoga aumentou ainda mais a
centralidade da adoração no sábado (Lc.4:16).
Por ocasião das festas
anuais, em Israel e em muitas outras religiões, as famílias visitavam o templo.
Os vários elencos das festas, com ligeiras modificações, são os seguintes :
Êx.23:14-19, 34:18-26. Originariamente festas cananéias, os israelitas as
assumiram depois da sua imigração para Canaã. De acordo com o ritmo anual
celebravam-se as bênçãos divinas da sementeira e da colheita. Somente a festa
da Páscoa regride até a época do nomadismo, refletindo as mudanças periódicas
das pastagens, embora recebendo novo conteúdo no tempo da saída do Egito
(Êx.12).
As festas agrícolas de Canaã
receberam uma dose de historicidade em combinação com os eventos ocorridos
entre Javé e o povo. E foi esta re-interpretação que preservou as solenidades
de sua total paganização, posto que também em Israel permanecessem ligadas à
lavoura. O caso mais eloqüente de um historicização é a festa da Páscoa que se
transformou em memória das origens de Israel.
A páscoa lembra ainda outra
evolução significativa do culto divino em Israel. Na sua qualidade de festa
pastoril, ela foi celebrada na intimidade da família; crescendo, porém, a
importância do templo em Jerusalém, todos os festejos foram transferidos para
lá, entre eles também a páscoa. Destruído o templo, ou talvez já um pouco
antes, a celebração desta festa voltou para a família. Vê-se daí que as festas
não dependiam exclusivamente do santuário.
Outra faceta da evolução era
a coincidência direta com o objetivo agrícola, como, por exemplo, a vindima.
Tempos depois, sua data passou a depender de calendário fixo e nem sempre
simultâneo com o seu objetivo.
LUGAR SAGRADO - O TEMPLO
Na adoração do antigo Israel, o espaço
sagrado era comparável em importância, aos tempos divinamente designados. Deus
escolheu locais especiais para se revelar no decorrer da história
vétero-testamentária. Especialmente após o êxodo e a instituição da lei, o
levantamento do tabernáculo significava localizar a glória de Deus no Lugar
Santo. Deus proibiu Israel de erigir altares sacrificiais em qualquer lugar
onde seu nome residisse (Dt.12:5) Nos recessos inacessíveis do Santo dos
Santos, aquele aposento santo, respeitável primeiramente no tabernáculo e
depois no templo onde Deus “residia”, ficavam o propiciatório e a arca que
continha as tábuas da sua lei. Ali, o sangue da expiação pelos pecados da nação
era aspergido, no mais solene rito anual de adoração (Lv.16). A adoração é o
protocolo pelo qual se pode entrar na presença divina.
O Santo dos Santos representa o monte
Sinai, onde Deus se encontrou com Moisés, dando-lhe sua palavra e mostrando-lhe
a sua glória. Assim, o tabernáculo e , posteriormente, o templo se tornaram
extensões históricas daquele encontro, o modelo de adoração para o povo eleito.
O templo era o único local de sacrifícios, consagrações e entrega de dízimos
agradável a Deus. Jesus mostrou grande respeito pelo templo, purificando-o para
realçar sua santidade. Contudo, apesar da identificação do templo com a “casa
do Pai”, assim mesmo ele foi destinado à destruição. Jesus declarou que um
templo “não feito por mãos” estava destinado a tomar o lugar da temível
grandiosidade da arquitetura herodiana (Mc.14:58). O término do templo
ocorreria na associação da sua morte com a invasão romana. A ressurreição do
corpo de Jesus, então , criaria um templo de uma ordem distinta para o
substituir, um conceito compreensível aos discípulos depois da ressurreição
apenas com a ajuda do Espírito Santo.
O
caráter sagrado do templo não era absoluto, isto é, não se impunha a separação
do ambiente considerado “profano”, fora do lugar santo; ele era entes
funcional, na sua qualidade de fonte de bênçãos para o país, retribuindo o país
estas bênçãos em forma de ofertas para o culto do templo. A santidade do templo
teve a sua concretização quando os habitantes do país a ele se dirigiram,
retornando às suas casas repletos do que lá haviam recebido. Este vaivém das
casas para o templo e do templo para as casas perfaz um elemento essencial do
culto e da sacralidade. Nas procissões e nas peregrinações, igualmente,
revelava-se a consciência da santidade funcional da casa de Deus. Já no templo
concebido por Ezequiel, o caráter sacral é diferente: a glória de Javé
abandonara a sua habitação no meio do povo, juntamente com a ameaça do juízo
definitivo e voltaria somente para residir num templo restaurado e com os
ministérios purificados.
O SACRIFÍCIO
Considerando que o homem é pecador, ele
precisa de um sacrifício propiciatório para remover qualquer ofensa que o
separe de Deus, de modo que possa ter comunhão com seu Criador. Como “Moisés...
se interpôs, impedindo que sua cólera os destruísse” (Sal.106:23); assim o
sacerdote e o pecador sob a égide do Antigo Pacto se uniam para oferecerem a
Deus uma vítima sacrificial em propiciação. Seguindo as ordens divinas, os
pecadores gozavam da bênção de pecados cobertos (Sal.32:1) ou apagados
(Is.43:25). Há, contudo, uma verdade básica a ser lembrada. “Deus não é
influenciado por meio de sacrifício sacerdotal... É realmente o próprio Deus
quem realiza o ato de perdão e expiação, mas o culto sacerdotal é designado
como resposta ao seu ato e como testemunho da purificação do pecador.
Quatro tipos distintos de sacrifício eram
prescritos:
1 - A oferta queimada, significando
literalmente “aquilo que ascende” (Lv.1:6,8-13). Ela produzia um “sabor de
satisfação” de modo que do altar, no
tribunal da casa de Deus, um fogo perpétuo e o sacrifício pudessem, duas vezes
por dia, “simbolizar a resposta do homem à promessa de Deus. Apenas o melhor
animal, um macho sem mácula, podia ser oferecido, o que sugere a máxima
devoção. A imposição de mãos retratava a identificação completa.
2 - A oferta de manjares era
literalmente chamada uma “dádiva”. Oferecida junto com a oferta queimada e a
oferta pacífica, ela exigia “o sal da aliança do teu Deus” (2:13). A “porção
memorial”, queimada com incenso ao Senhor, tinha como objetivo trazer a aliança
à lembrança de Deus. O simbolismo sugeria que Deus era o convidado de honra.
3 -
A oferta pacífica (Lv.3:7,11-14). Seguindo um ritual preparatório
idêntico àquele de quem apresentou a oferta queimada, o ofertante comia o
sacrifício com alegria diante do Senhor. Não era permitido que a festa
resultante durasse mais que um dia, para garantir que um número de amigos fosse
incluído. Ela expressava a plenitude e o bem-estar denotados pela paz de Deus,
compartilhada com sacerdotes e amigos.
4 - As ofertas pelo pecado e pela culpa
(Lv.4:1-6,7). Distintas das três festas anteriores que eram voluntárias, estas
eram exigidas quando um pecador quebrava a lei de Deus e tinha o seu
relacionamento interrompido com o Criador. Nem a congregação nem o Sumo
sacerdote estavam sem pecado; conseqüentemente, eles precisavam de sangue para
ser aspergido diante do véu e aplicado aos dois altares. Uma vez por ano o
sangue expiatório tinha de ser levado para dentro do véu. Os objetivos desse
sacrifício eram a restauração da comunhão e o acesso à presença de Deus.
O CULTO CRISTÃO NA IGREJA PRIMITIVA
O que sabemos do culto
cristão nos dá uma idéia do modo como aqueles cristãos do primeiro século
percebiam e experimentavam sua fé. Com efeito, quando estudamos o modo como a
igreja antiga adorava, nós nos apercebemos do impacto que sua fé deve ter tido
para as massas depojadas que constituíam a maioria dos fiéis.
Desde o princípio, a igreja
cristã costumava se reunir no primeiro dia da semana para “partir o pão”. A
razão pela qual o culto tinha lugar no primeiro dia da semana era que nesse dia
se comemorava a ressurreição do Senhor. Logo, o propósito principal do culto
não era chamar os fiéis à penitência, nem fazê-los sentir o peso de seus
pecados, mas celebrar a ressurreição do Senhor e as promessas das quais essa
ressurreição era a garantia. ~E por isso que o livro de Atos descreve aqueles
cultos dizendo que “ partindo o pão nas casas comiam juntos com alegria, e
singeleza de coração” (Atos 2:46) . A atenção naqueles cultos de comunhão não
se centralizava tanto nos acontecimentos de Sexta-feira santa como nos do
domingo de ressurreição. Uma nova realidade havia amanhecido, e os cristãos
reuniam-se para celebrá-la e fazerem-se participantes dela.
A partir de então e através
de quase toda a história da igreja, a comunhão tem sido o centro do culto
cristão. ~E somente em época relativamente recente que algumas igrejas
estabeleceram a prática de se reunir para adorar aos domingos sem celebrar a
comunhão.
Além dos indícios que nos
oferece o Novo Testamento e que são de todos conhecidos , sabemos acerca do
modo em que os antigos cristãos celebravam a ceia do Senhor graças a uma série
de documentos que perduraram até nossos dias. Mesmo que não possamos entrar em
detalhes acerca de cada um destes documentos, e das diferenças entre eles,
podemos assinalar algumas das características comuns, que parecem ter formado
parte de todas as celebrações da comunhão.
A primeira delas, a que já
nos aludimos anteriormente, é que a ceia do Senhor era uma celebração. O tom
característico do culto era o gozo e a gratidão, e não a dor ou a compunção. No
princípio, a comunhão era celebrada em meio de uma refeição. Cada qual trazia o
que podia, e depois da comida em comum, celebravam orações sobre o pão e o
vinho. Já em princípios do século segundo, entretanto, e possivelmente devido,
em parte, às perseguições e às calúnias que circulavam acerca das “festas de
amor” dos cristãos, começou a se celebrar a comunhão sem o refeição em comum.
Mas sempre se manteve o espírito de celebração dos primeiros anos.
Pelo menos a partir do século
segundo, o culto de comunhão constava de duas partes. Na primeira liam-se e
comentavam-se as Escrituras, faziam-se orações e cantavam-se hinos. A segunda
parte do culto começava geralmente com o ósculo da paz. Logo alguém trazia o
pão e o vinho para frente e os apresentava a quem presidia. Em seguida, o
presidente pronunciava uma oração sobre o pão e o vinho, na qual se recordavam
os atos salvíficos de Deus e se invocava a ação do Espírito Santo sobre o pão e
o vinho. Depois se partia o pão, os presentes comungavam, e se despediam com a
benção. Naturalmente, a esses elementos comuns acrescentavam-se muitos outros
em diversos lugares e circunstâncias.
Outra característica comum do
culto nesta época é que só podia participar dele quem tivesse sido batizado. Os
que vinham de outras congregações podiam participar livremente, sempre e quando
estivessem batizados. Em alguns casos, era permitido aos convertidos que ainda
não tinham recebido o batismo assitir à primeira parte do culto - isto é, as
leituras bíblicas, as homilias e as orações - mas tinham que se retirar antes
da celebração da ceia do Senhor propriamente dita.
Outro dos costumes que aparece desde
muito cedo era celebrar a ceia do Senhor nos lugares onde estavam sepultados os
fiéis já falecidos. Esta era a função das catacumbas. Alguns autores
dramatizaram a “igreja das catacumbas”, dando a entender que estas eram lugares
secretos em que os cristãos se reuniam para celebrar seus cultos escondidos das
autoridades. Isto é um exagero. Na realidade as catacumbas eram cemitérios e
sua existência era conhecida pelas autoridades, pois não eram só os cristãos
que tinham tais cemitérios subterrâneos. Mesmo que em algumas ocasiões os
cristãos tenham utilizado algumas das
catacumbas para se esconder dos seus perseguidores, a razão pela qual se
reuniam nelas era que ali estavam enterrados os heróis da fé.
OS BATISMOS
Segundo já foi dito
anteriormente, só quem havia sido batizado podia estar presente durante a
comunhão. No livro de Atos, vemos que tão logo alguém se convertia era
batizado. Isto era possível na primitiva comunidade cristão, onde a maioria dos
conversos vinha do judaísmo, e tinha, portanto, certo preparo para compreender
o alcance do Evangelho. Mas conforme a igreja foi incluindo mais gentios
tornou-se cada vez mais necessário um período de preparo e ensino da palavra
após a ministração do batismo (Mt.28:19,20 – Batizando-os ...; ensinando –os a
guardar...). Este período recebe o nome de “ catecumenato” , e no princípio do
século terceiro durava uns três anos. Durante este tempo, o catecúmeno recebia
instrução acerca da doutrina cristã, e tratava de dar mostras em sua vida
diária da firmeza de sua fé. Por fim, pouco tempo antes de sua consagração ao
ministério, era examinado e era admitido e estava prontos para servir na Igreja e ao ministério.
A PRÁTICA DA ADORAÇÃO
Deus mandou que seu povo, sob
a Antiga Aliança, cumprisse ao pé da letra todas as suas instruções a respeito
da adoração. Ele advertiu Moisés sobre a construção do Tabernáculo. Tinha de
ser “segundo a tudo o que eu te mostrar para modelo de todos os seus móveis,
assim mesmo o fareis” (Êx.25:9). Os detalhes que Deus comunicou ao chefe da
nação foram dados para que o povo não se desviasse em nenhum ponto da vontade
estipulada por Deus. O temor de Deus arraigado no coração do piedoso israelita,
não permitia que ele desobedecesse conscientemente qualquer regrinha que
regulamentava o ritual dos cultos (Dt.6:1,2). Foi Deus quem planejou a
participação dos sacerdotes e levitas no culto que Ele mandou que oferecessem
(Nm. 8:1 I Cr. 9:33 23:5
II Cr. 29:25, etc.) .
Após a leitura do Antigo
Testamento, estranhamos o fato de não descobrirmos no Novo Testamento regras
explícitas para nos informar que tipo de culto Deus quer. Numerosas pesquisas,
feitas com o intuito de descobrir as diretrizes que devem reger a forma de
adoração realmente neo-testamentária, criam pouca convicção além daquela
formada na cabeça do estudioso. Ele descobre, geralmente, o que procura. Tudo
isto poderia levar-nos a desvalorizar a prática nos cultos da igreja primitiva.
Mesmo assim, cremos que é válido examinar as indicações sobre as formas de
adoração nos escritos dos apóstolos.
Após o derramamento do
Espírito Santo no dia de Pentecoste, a igreja de Jerusalém “ perseverava na
doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”
(At.2:42). Este verso nos traz um breve esboço dos componentes do culto
primitivo. As práticas sob a tutela dos apóstolos fornecem-nos um fundamento
geral, mas seguro. Adoração, para manter o padrão apostólico, deve se aprimorar
no ensino, comunhão, celebração da ceia e oração.
A DOUTRINA DOS APÓSTOLOS
Adoração e doutrina apóiam-se
mutuamente, porque um culto oferecido na ignorância evapora (Jo.4:22 At.17:23),
carece de substância e de verdade. Doutrina não significa apenas granjear
informação. Não foi uma aula bíblica acadêmica que os apóstolos ministraram,
mas ensinamentos junto com apelos aos discípulos para que acatassem as
diretrizes do Senhor. Quando igrejas do século XX dão uma ênfase exagerada à
transmissão da informação e não à sua expressão, elas promovem depressão
espiritual.
Jesus convocou os seus
discípulos a “discipularem todas as nações” (Mt. 28:19). O primeiro passo foi o
batismo que representava um compromisso público, total, com o Senhor Jesus
Cristo. Em seguida, Jesus ordenou aos apóstolos que ensinassem aos futuros discípulos
da segunda geração a “guardar todas as coisas” que Ele ensinara a seus
seguidores. Esses ensinos foram exemplos práticos em torno de uma nova
compreensão do relacionamento com Deus.
Dentro do culto primitivo, os
novos discípulos recebiam a orientação sobre a vida consagrada, que glorifica a
Deus (I Pd.1:16). Quando os assistentes novatos no culto da igreja de Jerusalém
ou Antioquia ouviam pela primeira vez : “ vinde a mim todos os que estais
cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e
aprendei de mim porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para
as vossas almas” (Mat.11:28), certamente sentiram o impulso do Espírito para
renovarem sua confiança em Jesus, e queriam entender num sentido prático o que
significaria levar o “jugo suave” do Senhor.
A adoração, na prática, deve
dar lugar central à palavra de Deus porque ele assim ordena. “Pregue a Palavra”
(II Tm.4:2) representa a preocupação de Paulo com a igreja de Éfeso. Um homem
que almeja o pastorado precisa ter uma qualidade que lhe recomende a conduzir
os cristãos num culto verdadeiro. Ele deve ser apto para ensinar. Ensino requer
entendimento, explicação, relacionamento entre o ouvinte e o Pai.
COMUNHÃO - A CEIA DO SENHOR
Junto com o serviço da
palavra, a primeira igreja da história perseverava na comunhão (At.2:42). Lucas
explica algo mais a respeito desta comunhão nos versos subseqüentes. Os crentes
ficavam juntos indica que estavam juntos como família de Deus, isto é,
regularmente, e tinham tudo em comum. Marshall sugere que “ não seria
surpreendente... que pelo menos um outro grupo contemporâneo judaico, a seita
de Cunrã, adotasse este modo de vida.”
A adoração genuína conduz-nos
à lembrança de que não somos de nós mesmos. Fomos comprados por preço
infinitamente alto. Conseqüentemente, somos escravos de Deus e dos membros do
Seu Corpo. Ações de graça pelo sacrifício do Filho de Deus incitam os filhos
beneficiados a indagar como se
desincumbir da obrigação imposta. Que presente digno devemos trazer para
o altar cristão?
O pano de fundo da eucaristia
cristã descobre-se na refeição da Páscoa. Esta celebração consistia de duas
partes : primeira, “enquanto comiam”, e segunda, “depois de cear” (I
Cor.11:24). O que Jesus insistiu originalmente era repetido como duas partes de
uma refeição maior - ágape ou “ festa de amor”, com a intenção de beneficiar os
cristão mais carentes da igreja. Esta refeição, que substituiu a Páscoa dos judeus,
era tomada diária ou semanalmente. Percebe-se pela leitura de I Cor. 11:17-22,
que esta refeição era a “ Ceia do Senhor”, que reunia todos os membros da
família de Deus. além de relembrar a morte de Jesus e a inauguração da Nova
aliança, a Ceia confirmava, de maneira inconfundível, que todos os
participantes tinham uma vida em comum. Ricos e pobres, livres e escravos,
todos se comprometiam diante de Deus a ter e manter uma responsabilidade mútua,
uns pêlos outros.
O caráter dessa refeição não
se evidencia somente numa dramatização do sacrifício único do Filho de Deus
pêlos nossos pecados, mas era também uma demonstração da adoração que tem
implicações horizontais. Daí, o veemente protesto de Paulo, em Corinto, diante
da negação na prática da comunhão que a ceia devia demonstrar. “... não é a
ceia do Senhor que comeis. Porque ao comerdes, cada um toma antecipadamente a
sua própria ceia” (I Cor. 11:20). Agindo
assim, profanavam o Corpo de Cristo formado pela morte e ressurreição. Comiam e
bebiam juízo para si.
Os cristãos que comem juntos
no culto são integrados num corpo comparável ao corpo humano. Uma vida ou
personalidade ocupa a unidade física humana, de tal forma que nenhuma parte
pode se desligar sem prejuízo para as outras, nem podem desprezar uma à outra,
nem devem ter inveja.
AS ORAÇÕES
Um
dos elementos que têm destaque no culto da igreja primitiva é a oração. O judeu
do primeiro século dificilmente podia imaginar um culto sem orações, pelo menos
na sinagoga. Conseqüentemente, era natural que os primeiros cristãos
continuassem essa prática, ainda que com algumas modificações. A importância
básica das orações é notada no nome “lugar de oração” (At.16:13). Em Filipos,
uma colônia romana, não havia os dez homens necessários para formar uma sinagoga,
mas havia um lugar de orações, onde mulheres se reuniam. Paulo e Silas não
sentiram nenhum embaraço ao participarem desse primeiro culto “ecumênico”,
transformando o que antes era especificamente judaico em culto cristão. Daquele
local foi feito um palco para anunciar o evangelho.
Jesus
ensinou que a oração deve ser particular (Mat.6:6) e pessoal. Ele pouco falou
sobre oração em comunhão com outros irmãos , com exceção da famosa afirmativa:
“Se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa
que porventura pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos
céus”(Mat.18:19), relacionada com o contexto de disciplina na igreja. Sua
própria prática foi de orar sozinho, num monte ou lugar afastado (Lc.6:12).
Ainda
que pensando num sentido mais geral, a oração se distingue da adoração pela
preocupação do suplicante com suas necessidades, enquanto a adoração conceitua
a alma sobre seu Deus. Um comentário puritano sobre o Salmo 107 dizia: “A
miséria instrui maravilhosamente a pessoa na arte de orar”.
Mas
as orações bíblicas valorizam a comunhão com Deus. Como aparelhos complicados,
projetados para uma função particular, deixamos de alcançar o objetivo de nossa
existência fora da comunhão que a oração cria. Egoísmo, soberba e murmuração
aniquilam a comunhão. Somos, então como quem tenta martelar um prego com
sabonete. Orar de verdade quer dizer abandonar a rebelião e aceitar a
reconciliação. Jesus quis ensinar, acerca da oração , a verdade
incomparavelmente preciosa de que Deus deseja nossa comunhão. Ele nos ama mais
do que um pai humano é capaz (Lc.11:11-13). Ele deseja ouvir as nossas
necessidades e supri-las (Mat.7:7-11). Amar a Deus acima de todo objeto por ele
criado só pode significar que ele quer ser conhecido e desejado pelas suas
criaturas. Por isso, as orações dos santos são qualificadas como o incenso que
enche os vasos de ouro nas mãos dos 24 anciãos que rodeiam o trono do Senhor do
universo (Apc.5:8). O altar de incenso do propiciatório simbolizava o prazer
com que Deus recebia os louvores e petições do seu povo.
O CÂNTICO NO NOVO TESTAMENTO
Surpreendentemente
encontramos poucas referências ao cântico no Novo Testamento. Os evangelistas
relatam que Jesus cantou um hino (Mat.26:30 Mac.14:26) após a celebração da
Páscoa. Paulo e Silas “cantavam louvores a Deus” na prisão em Filipos, na
contundente ocasião após seu espancamento e antes do terremoto que abriu as
portas da prisão. Acreditamos que essa música evangelística concorreu para a
conversão do carcereiro (At.16:25). O autor de Hebreus cita Salmo 22:22 :
“Cantar-te-ei louvores no meio da congregação” (2:12). Paulo cita o Salmo
18:49: “... cantarei louvores ao teu nome”(Rm.15:9).
Mas, ainda que referências à
música sejam raras no Novo Testamento, seguramente o soar de vozes em louvor a
Deus teve muito destaque nos cultos dos primórdios da igreja. “Cânticos
espirituais” (Cl.3:16), surgiram, provavelmente, por inspiração imediata do
Espírito Santo. W.Lock identifica tais composições como semelhantes a alguns
cânticos preservados no Novo Testamento. No Apocalipse, várias referências aos
cânticos dos adoradores celestiais revelam características de exultação e
júbilo na contemplação da vitória retumbante de Deus e Seu Filho sobre todas as
forças do maligno.
Os “salmos” (Cl.3:16)
provavelmente são os mesmos do Antigo Testamento, amados por nós e lidos em
nossos cultos. Ocasionalmente cantamos porções de alguns salmos. Nas igrejas
que se reuniam nas casas, no primeiro século, o entoar de salmos deve ter sido
comum, “formando parte do culto religiosos e da fraternidade cristã”. Nas
sinagogas, os judeus cantavam salmos, como também os essênios do Mar Morto.
Os “hinos” também,
provavelmente, referem-se aos hinos de louvor a Deus e a Cristo, compostos
espontaneamente por cristãos no momento do culto, ou em outras horas. McDonald
escreve: “É de se esperar a priori, que um movimento que suscitou tanta emoção,
lealdade e entusiasmo, encontre expressão em cântico”. Avivamentos e
despertamentos religiosos, com o passar dos séculos, estimularam o louvor por
meio da música; seria estranho se no primeiro século não houvesse aparecido
expressões musicais para tornar a adoração mais real e agradável.
Estas três palavras, “salmos,
hinos e cânticos”(Cl.3:16), tomadas juntas, descrevem de modo global o âmbito
da adoração expressa pela música e estimulada pelo Espírito. O termo
“espirituais” refere-se a todas as formas de expressão de louvor contidas nos
três termos, ainda que não possamos precisar as formas exatas da expressão
musical.
O CULTO E OS DONS ESPIRITUAIS
Passando a descrição do culto
em Atos para Romanos e I Coríntios, descobrimos que o exercício dos dons do
Espírito deve ser encarado como uma expressão de culto a Deus. Somente no caso
dos dons serem motivados por amor genuíno pelos irmãos e por Deus é que podemos
encaixá-los no quadro de um culto genuíno, “em Espírito e em verdade”.
Paulo lembra aos romanos que
a oferta de seus corpos a Deus é um ato de adoração espiritual, se, contudo,
esses mesmos corpos estiverem sujeitos ao Cabeça para servir, profetizar,
ensinar, exortar, contribuir, presidir e exercer misericórdia (Rm.12:1-8).
Certamente a lista pode ser estendido para incluir todo e qualquer ministério.
A vida do cristão, se não se isolar da família de Deus, nem se separar do
próprio Senhor, expressará adoração nas reuniões ou nas atividades do dia a
dia.
A significação dos cultos nos
quais a congregação se reunia alcançou relevância particular na concentração de
vozes louvando e ensinando juntas, com corações sedentos, aprendendo e
aplicando a palavra. Era um ocasião apropriada para o treinamento dos santos
para servirem a Deus dentro e fora das reuniões. Os dons de apóstolo, profeta,
evangelista, pastor e mestre cooperam e fecundam no centro do culto para
encorajar o bom ajustamento, o auxílio de toda junta e a cooperação de cada
parte, o que “efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em
amor”(Ef.4:16).
O CULTO NA IGREJA COMPARADO
AO
CULTO JUDAICO
O cristianismo é bipolar pela
sua própria natureza. Esses dois polos são o conteúdo da fé, fundamentado na
sua mensagem revelada, e a adoração prática, através da qual o cristão e Deus
mantêm comunhão. Ambos os polos não são fortalecidos repelindo-se ou
ignorando-se, mas são vitalizados por apoio mútuo. A avaliação de W.Tozer sobre
a adoração do cristianismo evangélico como “a jóia perdida” reflete a dicotomia
insalubre entre a verdade proclamada e a vitalidade da adoração, hoje. Podemos
criticar a observação: “Em toda a parte os cristãos estão perdendo o interesse,
passando a simplesmente simular na igreja”, pois milhares de protestante,
católicos e cristãos ortodoxos estão satisfeitos em participar de maneiras
vazias, porém rígidas, com apenas uma vaga percepção do conceito bíblico de
adoração em Espírito e em verdade.
De um modo geral, os cristão
não estão consciente de que sua adoração reflete a teologia prática da
comunidade onde estão inseridos. O cunho puritano no dito “a finalidade
principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre” é inequívoco. Os puritanos focalizaram o
significado da existência inteira do homem em glorificar a Deus e deleitar-se
em sua comunhão , porque este era o único resultado prático de suas crenças. A
adoração centralizada no homem tende a negar a realidade do coração que
confessamos. De um lado, a lei ameaça deslocar a graça como o motivo
fundamental para se adorar a Deus. Tanto o hábito quanto a busca da paz
espiritual devem ser suspeitos quando procuramos uma base lógica e bíblica para
a adorar a Deus. Em resumo, a liturgia é teologia representada, a resposta
humana a Deus e ao seu favor. As formas persistem enquanto o conteúdo evapora
ou muda o seu centro de Deus para o homem. Assim, o liberalismo nega realidade
de um Deus que está presente. Fazendo assim, não pode evitar de transmutar as
verdades religiosas em mitos. O resultado é visto em toda parte na
secularização do “pós-cristão que atingiu a maioridade”. A teologia da
libertação procura contextualizar a adoração num programa de ação
sócio-político. Assim, o despertamento da consciência torna-se identificável
com a percepção de Deus no processo da história.
Os evangélicos têm tendência
de separar a centralidade do senhorio de Cristo, biblicamente fundamentada, do
viver cotidiano, de modo que a adoração se torna, com efeito, compartimentada
em cápsulas de uma hora de duração, não sendo levado em consideração quão
importante pode ser o ato de se “invocar o nome do Senhor juntos”. Mas o Novo
Testamento projeta uma visão de adoração que invade toda a vida com a presença
e a glória de Deus. O objetivo desse estudo é mostrar, através de um exame dos
conceitos de tempo, templo, sacrifício e sacerdócio, como o Novo Testamento
refundiu as formas vétero-testamentárias da adoração sem anular a importância
da reunião da igreja.
A Bíblia apresenta a questão
do culto de Gênesis a Apocalipse. Das ofertas de Caim e Abel até a adoração dos
seres celestiais. No transcorrer da história bíblica, Deus vem ensinando o seu
povo a cultuá-lo. No Velho Testamento, as formas exteriores do culto eram as
mais enfatizadas. Percebemos que elas tinham um objetivo didático afim de
trazer à percepção humana realidades espirituais. No Novo Testamento, a
utilização de tais recursos fica reduzida a um número bem pequeno. Na Nova Aliança,
o culto é, antes de tudo, uma forma de vida. Seja o comer, o beber, o falar,
tudo deve ser feito para a glória de Deus. Não obstante, as reuniões da igreja,
que chamamos de cultos, têm grande importância nesse contexto. Elas constituem
o culto coletivo, oportunidade de comunhão e ensino. Sua ênfase é espiritual e
não tanto ritual. Assim sendo, dependemos do Espírito Santo para realizarmos um
culto aceitável diante de Deus. Em outras palavras, o culto verdadeiro é aquele
cuja essência provém do próprio Deus e a ele retorna.
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