FACULDADE DE TEOLOGIA
TESTEMUNHAS HOJE
CURSO LIVRE
SOTERIOLOGIA
CONCEITO GERAL
Soteriologia (Do gr. = ciência da salvação). É a parte da Teologia e da Cristologia
que diretamente trata da redenção da humanidade pecadora pelo sacrifício de
Jesus Cristo. Enviado pelo Pai, feito homem em tudo igual aos homens exceto no
pecado, em nome deles e em seu proveito, ofereceu a vida na Cruz para remir o
pecado da humanidade e abrir-lhe as portas do Céu. Esta redenção oferecida
gratuitamente apela à aceitação por cada homem dos merecimentos de Jesus
Cristo, mediante os meios de salvação e santificação, objeto de outras secções
da Teologia.
01 - DEFINIÇÃO DO
TERMO.
Em teologia nos costumamos usar termos técnicos, termos próprios
da ciência teológica, da mesma forma como a medicina usa palavras próprias dos
estudos médicos, como por exemplo: os médicos empregam a palavra “cardia” em
lugar de “coração”, sendo que “cárdia” é uma definição grega para a palavra,
daí deriva “cardiologista”, ataque “cardíaco” etc. Em teologia usamos a palavra
Soteriologia para definir tudo o que se relaciona com “salvação”, pois a
palavra deriva de SOTER que em grego significa: “salvação” “libertação”
“preservação”. Note-se de início que uma palavra grega pode ter mais do que um
significado.
Para guardar na
memória: Soter é uma palavra grega que significa: Salvação, Libertação
e Preservação. – Léxico do Novo
Testamento Grego Português, de F. Wilbur Gingrich, Edições Vida Nova, 1993,
página 202.
Para se ter uma noção básica do uso da palavra: recomendamos a leitura
dos seguintes textos: Deus como sendo Salvador, Libertador e
Preservador – Lucas 1:47; 1 Timóteo 1:1; 2:3 e 4:10; Tito 1:3; 2:10 e 3:4;
Judas 25. Jesus como sendo Salvador, Libertador e Preservador
Lucas 2:11; João 4:42; Atos 5:31; 13:23; Efésios 5:23; Filipenses 3:20; 2
Timóteo 1:10; Tito 1:4; 2:13; 3:6; 1 João 4:14; 2 Pedro 1:1 e verso 11; 2:20;
3:2 e 18. Entre muitos outros textos.
Por que é necessário o estudo da soteriologia? Por causa da existência do
pecado (Em grego: hamartia), portanto, hamartia é o oposto a soter, “o
pecado nos separa de Deus, o pecado desarraiga-nos do meio em que devemos
viver. O pecado converte a luz em trevas, o gozo em tristeza, o céu em inferno,
e vida em morte. O
pecado é o maior e mais terrível inimigo da alma humana. Ele destrói as
promessas, mata as esperanças, dá-nos serpentes, em vez de peixes, pedra, em
lugar de pão, tormento, em lugar de prazer. O pecado sempre destrói a nunca
edifica. Promete, mas nunca cumpre a promessa. É como diz a Bíblia ‘O salário
do pecado é a morte’” – Romanos 6:23”. Esboço
de Teologia Sistemática, A. B. Lanston, Editora JUERP, página 151.
Temos então que a causa para o estudo da soteriologia é a existência do
pecado, se não existisse esse mal universal, não haveria necessidade de
salvação. Para compreender em toda sua plenitude a Salvação provida por Deus,
devemos entender o que é o princípio fundamental do pecado.
O que entendemos por
princípio fundamental? Em teologia devemos sempre
procurar definir corretamente os termos empregados, saber o que estamos falando
e porquê. Cada conceito usado deve ser explicado, pois, a teologia é conceitual,
ou seja, define termos e conceitos de maneira correta e apropriada. Devemos
entender por princípio fundamental aquilo de onde se originou o conceito, por
exemplo: se nos estamos estudando sobre salvação, devemos primeiro, antes de
tudo, definir corretamente de onde se originou o pecado, a sua razão de ser.
Temos que descobrir a fonte de onde ele é oriundo, saber porque ele opera e
porque existe na vida do homem. Em termos gerais temos que compreender,
entender e saber explicar onde nasceu o pecado e porquê. Pois é do pecado que
somos salvos. Na linha de compreensão, entender o pecado será entender a razão
para sua solução que é: SOTER = salvação, libertação, preservação.
Para guardar na
memória: O que você entende por “princípio fundamental de um conceito”
teológico? Por que a teologia é conceitual?
(Nota: estas perguntas são para ir guardando na memória o que
estamos lendo, não necessita responder por escrito)
A melhor definição bíblica para o pecado é: um estado mau da alma,
em que esse estado tem suas próprias manifestações que são os atos
pecaminosos. Entendendo por estado uma posição definida, determinada, como
quando falamos: qual é o estado de saúde do paciente? Assim, a alma que
está em pecado está num estado mau, a alma está deteriorada e aviltada.
Note-se que existem dois conceitos completamente diferentes: estado e ato. O estado
pecaminoso é uma coisa enquanto que o ato do pecado é outra coisa.
Esta primeira compreensão é extraída de suas origens, das origens do
pecado no homem. O relato de Gênesis é muito claro quando logo após o pecado
Deus perguntou para Adão “Onde estás?”. Gênesis 3:9 – Note-se que é a
primeira pergunta de Deus logo após o pecado, imediatamente logo após o
ato do pecado. Isto significa que Adão mudou de posição, pois “onde” é
em hebraico (no texto original “ay”) um advérbio de lugar. Portanto,
quem mudou foi Adão e não Deus, as mudanças sempre acontecem no homem e nunca em Deus. Deus não muda.
Agora que sabemos o princípio fundamental do pecado que é exatamente uma
mudança de posição em relação a Deus, uma distância, separação. Sendo um estado
da alma. Vejamos mais uma prova: “Clama a plenos pulmões, não te detenhas,
ergue a voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão e à
casa de Jacó, os seus pecados. Mesmo neste estado, ainda
me procuram dia a dia...” Isaías 58:1-2. Bíblia Sagrada, Revista e Atualizada,
2a Edição, 1993. (Usamos sempre esta Versão, se houver o uso de
outra Versão será indicado no texto.). Note-se no texto de Isaías a palavra “estado”
para descrever a condição pecaminosa de Judá na época. Judá estava em
transgressão e pecado, um estado da alma. Podemos entender que o pecado é um estado
de separação de Deus lendo Isaías 59:2. Obviamente que
entendendo dessa maneira, da maneira bíblica podemos agora compreender que o
homem pode se separar de Deus por um momento ou por toda a eternidade.
A universalidade do
pecado – Este estado mau da alma é universal, ou seja,
significa que todos os homens nascem nesta condição ou posição. (usamos
a palavra “homem” de forma genérica, nos referindo à raça humana). Todos
quantos nascem neste mundo já nascem nessa posição ou estado de pecado, ou
seja, nascem debaixo desse princípio fundamental. Paulo chama a este estado
universal da alma de “morte” (leitura: Efésios 2:5).
Agora vamos sugerir uma leitura bíblica: Seguindo a orientação dos
estudos realizados até aqui, a seu modo de ver, o que ensinam os seguintes
textos? Salmos 143:2; Lucas 11:13; Romanos 3:10; 1 João 1:8; Lucas 6:43-45;
Mateus 12:34 e Salmos 51:5-7. Se desejar se aprofundar melhor então trabalhe os
textos e faça um resumo da conclusão tirada da leitura dos textos em relação com
a questão do princípio fundamental do pecado (lembre o que você já sabe
sobre princípio fundamental).
Um resumo de nossos
estudos de Soteriologia
"O termo 'justificação' refere-se ao ato divino mediante o qual,
com base na obra infinitamente justa e satisfatória de Cristo na cruz, Deus
declara que os pecadores condenados livres de toda a culpa do pecado e de suas
conseqüências eternas, declarando-os plenamente justos aos seus olhos"
Teologia Sistemática - Uma Perspectiva Pentecostal, Stanley M.
Horton (CPAD). Texto citado como adendo cultural.
A justificação é um ato declarativo, ou seja, uma declaração de Deus. Não
é algo operado no homem, mas sim algo declarado a respeito do homem. Um ato
fora de nós, por nós e completamente realizado pela soberania de Deus.
A justificação significa para o pecador arrependido, a mudança de
posição diante de Deus de condenado para justificado (Romanos 5:1; 8:33,
34). Lembre de Gênesis 3:9 estudado nesta aula.
02 - O QUE ESTÁ
ENVOLVIDO NA JUSTIFICAÇÃO.
A Remissão da Pena.
A pena para o pecado é a morte nos seus três aspectos, espiritual,
física e eterna (Gênesis 2:17, Romanos 5:12-14; 6:23).
Esta pena foi removida de forma eficaz, completa e satisfatória na morte
de Cristo, que sofreu o castigo de nossos pecados em seu próprio corpo (Isaías
53:5-6; 1ª Pedro 2:24).
Como Cristo sofreu o castigo do homem pelo pecado. Foi, portanto, uma
morte substitutiva. Deus agora revoga o castigo no caso dos que crêem em Cristo
(Atos 13:38-39; Romanos 8:1, 33-34; 2ª Coríntios 5:21).
Restauração ao Favor.
Um criminoso que foi perdoado pode ser restaurado a seus direitos civis,
se o castigo revogado envolver a perda deles, mas não está reconciliado à
sociedade. Não está restaurado ao favor de muitos que o hão de considerar ainda
criminoso. A justificação, no entanto, assegura a restauração ao favor e à
comunhão de Deus.
A Imputação da
Justiça.
Imputar é creditar alguma coisa a alguém. É atribuir ou conferir a alguém
o direito que não tinha.
A justiça de Cristo nos é imputada (2ª Coríntios 5:21; 1ª Coríntios
1:30). Estudaremos neste curso como isso se deu no caso dos salvos na época do
Antigo Testamento e no Novo Testamento.
Já vimos que a origem do pecado acha-se num ato voluntário do homem. Adão
não foi obrigado a pecar, e nem Eva. A queda do homem, não consiste tanto num
ato, como num estado, daí a pergunta: “Onde estás?”. O princípio
envolvido é que Adão fez de si mesmo o centro de sua vida em lugar de ter feito
Deus o centro de sua existência. E fazer de si mesmo o centro é escolher a
própria vontade em lugar da vontade de Deus. Pelo livre arbítrio Adão podia
opinar, decidir e escolher entre fazer sua vontade ou a de Deus, e foi por esse
livre arbítrio que ele escolheu pecar.
Por que Deus permitiu que Satanás tentasse a Eva e Eva tentasse a Adão?
Esta resposta considera uma pergunta anterior: Quem tentou a Satanás? Ele caiu sem nenhuma tentação de fora,
pelo que se tornou mesmo Satanás, o vocábulo hebraico denota um “adversário”
contrário a Deus. Por não ter sido tentado e ter assim mesmo se transformado
num adversário perdeu toda a esperança de salvação. Nenhuma atenuante há para
sua queda. E se Satanás caiu sem tentação, poderia também assim ter caído o
homem, porque também foi criado um ser livre, com livre arbítrio, da forma como
era o Diabo antes da queda. Agora, se o homem houvesse pecado e caído sem
tentação de fora, da mesma forma como o diabo, nenhuma esperança lhe restaria.
A condição do homem seria desesperadora. Portanto deve perceber a diferença
significativa entre a queda de Satanás e a queda do homem, Satanás caiu sem ser
tentado. O homem caiu devido à tentação.
Uma segunda observação interessante sobre a queda é a seguinte: A justiça
que o homem tinha quando fora criado era uma justiça emprestada. Não era
propriamente do homem, porque ele ainda não tinha feito a escolha entre o bem e
o mal. Porém era necessário que a escolha fosse feita, e a vontade permissiva
de Deus permite que o homem seja colocado nessa posição de escolher. A
tentação, caso fosse vencida, daria ao homem a oportunidade de confirmar seu
estado original, o estado em que tinha sido criado, Adão e Eva poderiam fazer
da justiça original, emprestada, uma justiça adquirida. Vemos então que o plano
de Deus para o primeiro casal era sábio, pois lhes deu a oportunidade de se
tornar verdadeiramente santos e justos. Não se poderia imaginar uma
oportunidade melhor para a raça humana se firmar na justiça do que a
oportunidade dada por Deus no Jardim, pois ali as circunstâncias eram
favoráveis para escolher em melhores condições entre o bem e o mal. Não é assim
hoje, os que escolhem decidir ao lado do bem, escolher uma posição ao lado de
Deus, lutam geralmente contra grandes dificuldades. Mas, graças a Deus há ainda
oportunidade para o homem escolher o bem e rejeitar o mal.
Consideremos agora a solução para o pecado.
A Justificação do
Pecador.
O nascimento de Jesus foi o acontecimento mais surpreendente que já
aconteceu sobre a terra. Nada igual a isto ocorreu no passado. E nada igual
poderá suceder jamais. Ele nasceu de uma mulher, conforme e profecia, cresceu
num humilde lar de um camponês, viajou como pregador itinerante, morreu em
agonia e vergonha, se levantou da tumba e ascendeu aos céus. Os doze apóstolos
foram escolhidos como testemunhas oculares destes acontecimentos. Depois Cristo
escolheu um outro homem por meio do qual o Espírito Santo revelaria o
verdadeiro significado daqueles acontecimentos narrados nos evangelhos. É nos
escritos de Paulo que o Evangelho dado aos hebreus em forma de símbolo, sombras
e promessas fica plenamente revelado.
O tema do Evangelho de Paulo é Cristo, e este crucificado para justificação
dos pecadores (1 Coríntios 2:2; Gálatas 1:4) É certo que os demais apóstolos
também deram testemunho da salvação dos pecadores por meio de Jesus; porém Paulo
nos mostra como é que o Evangelho é uma revelação da justiça de Deus (Romanos
1:16 e 17). Como pode um Deus justo justificar a pecadores? Como pode a
extensão da misericórdia para transgressores da Lei ser consistente com as
exigências da Justiça divina? Estas e outras são as perguntas interessantes que
devem ser respondidas, se é que o homem rebelde há de reconciliar-se com o
caráter de Deus.
A palavra chave nos escritos de Paulo é justificação. Tanto no
Antigo Testamento como no Novo, as palavras justificar e justificação têm um
significado legal e judicial bem definido; são palavras que estão intimamente
relacionadas com a idéia de juízo ou teste (Deuteronômio 25:1; 1 Coríntios 4:3;
Mateus 12:37). A palavra justificação pode ser definida como ser alguém
declarado justo por um tribunal. Quando se diz que Deus justifica a um homem,
quer-se dizer que seu caso foi levado a juízo diante de Seu Divino Tribunal e
que, depois de examinar o caso, declarou-se o acusado tão livre de qualquer
falta ou culpa como se fosse todo ele justo e agradável a vista de Deus. Em
português convencional, a palavra aceitação se ajusta bem ao significado
de justificação dado na Bíblia.
Na epístola de Paulo aos Romanos o apóstolo propõe responder ao
grito universal do coração humano: “Como, pois, seria justo o homem perante
Deus?” Jó 25:4. O que significa essa pergunta é: Que posso fazer para levar
Deus a aceitar-me? Então a resposta de Paulo é enfática: Absolutamente nada!
Antes de apresentar, na epístola aos Romanos o modo mediante o qual Deus
alcança o homem, o apóstolo expõe a inutilidade do modo mediante o qual
o homem tenta alcançar a Deus. Não há nem um justo, ninguém que entenda,
ninguém que busque a Deus, ninguém que faça o bem (Leia: Romanos 3:10-12).
Paulo diz simplesmente que ninguém pode chegar a ser justo à vista de Deus
mediante sua forma de agir. Aqui ele usa o tempo futuro do verbo. Ele quer
dizer que nenhum mortal virá a ser considerado justo alguma vez com base em sua
própria vida – “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”
Romanos 3:23. Ou, ainda como diz Salomão: “Não há homem justo sobre a terra,
que faça o bem e que nunca peque”. Eclesiastes 7:20. Não há nenhuma forma de o
homem se auto-justificar diante de Deus, a inutilidade de qualquer método humano
de Salvação fica completamente descartado, pois a Salvação, a Libertação e a
Preservação (grego = soter) só seria possível por uma intervenção divina nos
assuntos humanos.
Tendo abatido o orgulho humano, e havendo exposto a inutilidade de todos
os meios humanos, o apóstolo nos mostra que a justificação do homem procede
completamente de Deus.
A Atividade Salvadora
de Deus.
O Novo Testamento apresenta dois aspectos da atividade salvadora de Deus,
e para estudar em detalhes estes dois aspectos vamos facilitar numerando cada
um deles.
Número 1 – Obra de Deus por nós em Cristo
Número 2 – Obra de Deus em nós pelo Espírito Santo.
Perceba com atenção a diferença entre as palavras e seu profundo
significado, vamos agora definir os conceitos. Lembre mais uma vez que Teologia
é conceitual, define conceitos, explicando-os e os tornando claros.
Número 1 – A Obra de Deus por nós em Cristo, é o Evangelho. É a
declaração do que Deus tem feito em Seu Filho pela família humana. Como Paulo
declara: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo...” 2a
Coríntios 5:19. Deus nos considera para Seu favor na pessoa de Seu amado Filho.
Pois, em Cristo nosso livramento está assegurado e os nossos pecados estão
perdoados (Efésios 1:6 e 7).
A Obra de Deus por nós em Cristo, esta declaração destaca a
ênfase da frase EM CRISTO, por essa razão pode ser chamada também da Obra de
Cristo em nosso favor. “Cristo morreu pelos nossos pecados
segundo as Escrituras” 1a Coríntios 15:3 Ele “foi entregue por
causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da
nossa justificação” Romanos 4:25. A repetição (duas vezes) da frase “por causa”
é muito significativa para a deixar de lado, há uma CAUSA para todo o que
Cristo fez!
É muito importante notar que o Evangelho é o registro do que Deus fez FORA
de nós. Não é o registro do que Deus tem feito em nós; nem do que
Deus fará em
nós. Esses são aspectos posteriores. Ao contrário, o
Evangelho é o registro do que Deus já fez fora de nós. O que Ele fez No Senhor
Jesus Cristo. E o significativo deste primeiro aspecto (número 1) é que Deus o
fez enquanto nos éramos seus inimigos, enquanto éramos pecadores, quando nos
desviávamos dele mais e mais, então Deus fez alguma coisa por nós em Cristo. Leia:
Romanos 5:6-10 Procure entender com clareza o pensamento de Paulo neste trecho.
Em Romanos 5, Paulo apresenta o contraste entre Adão e Cristo. Através da
desobediência de Adão toda a raça humana se tornou pecaminosa à vista de Deus,
pois o pecado de Adão não foi apenas um pecado individual, foi o pecado de uma
raça, sendo ele o cabeça da família humana. Era a universalidade do pecado,
pois ele contaminou a raça com o vírus chamado “morte”. Quando o diabo
conquistou Adão, conquistou toda a família humana. Então era necessário um
plano para resgatar o homem do império da morte. Deus redimiu a raça humana
dando-nos um outro Senhor, e não mais o Diabo, dando-nos um outro pai e não
mais o Diabo (João 8:44), um novo pai para permanecer como cabeça da raça
humana (Isaías 9:6). Foi em Cristo que Deus remiu a família humana. Ele
comprou-nos com o precioso sangue de Cristo. Deus colocou nossos pecados sobre
a cruz. Em Cristo Ele
nos deu uma perfeita justiça (Romanos 5:18-19). Assim, o evangelho é o registro
do que Deus fez, não em nós, mas fora de nós, em seu Filho Jesus
Cristo, enquanto éramos inimigos. A verdadeira experiência cristã encontra sua
alegria neste aspecto, a plenitude do evangelho se manifesta neste aspecto.
Isto significa que há alegria e contentamento pela Obra de Deus por nós
em Cristo, que é uma obra infinita, é uma obra completa. Nossa aceitação diante
de Deus é baseada sobre este aspecto.
Procure entender o Evangelho: Nossa correta posição com Deus, e
agora voltamos a usar este conceito de posição, ou estado da alma.
Repetindo, nossa correta posição com Deus foi alienada por Satanás, ficamos
separados, em posição de iniqüidade, mortos em pecados (Efésios 2:1). Sofríamos
as conseqüências da universalidade do pecado. Então Deus fez por nós em
Cristo, o que nós não poderíamos fazer por nos mesmos. Portanto, é a
experiência de Cristo que tem mérito diante de Deus, e não a nossa. Isaías
53:11 explica claramente este conceito: “... O meu servo, o justo, com o seu
conhecimento, ele justificará a muitos”. No hebraico original a frase “seu
conhecimento” é “bedaeto” que significa mais apropriadamente “por seu conhecer”
(compare com Isaías 50:4 e 5). Dando assim a entender que uma tradução mais
correta seria “experiência”. Isto equivale a dizer: “por suas feridas, por seu
sofrimento, por seu viver santo, por sua morte expiatória e sua triunfante
ressurreição, o meu servo, o Justo, justificará a muitos”. Em outras palavras,
pela experiência de Cristo Jesus é que nos somos justificados e não por nossa
experiência. A verdadeira experiência cristã deve encontrar sua alegria em
alguma coisa externa a si – a experiência de Jesus.
Faça um resumo com suas palavras de Romanos 3:24-26. Depois, continue
lendo esta aula: Se o (a) aluno (a) já fez o resumo de Romanos 3:24-26, está
preparado para estudar em detalhes os três aspectos da justificação, e
deve entender que destes três aspectos os dois primeiros correspondem com a
primeira fase da Atividade Salvadora de Deus, A Obra de Deus por
nós em Cristo.
Lembrando e ampliando
os conceitos já estudados.
Número 1 – A Obra de Deus por nós em Cristo.
·
Justificados pela graça somente – A Fonte da
justificação
·
Justificados por Cristo somente – O Modo da
justificação.
Número 2 – A Obra de Deus em nós pelo Espírito Santo.
·
Justificados somente pela fé – a Condição
para receber a justificação.
Nós desejamos sua atenção e este fator significativo: lembramos a você
que os conceitos em teologia são importantes, pois determinam uma
correta compreensão dos assuntos estudados, sendo assim, preste atenção aos
dois conceitos vertidos acima, notando a diferença entre POR nós e EM nós. De onde o
trabalho de Deus por nós foi uma obra externa (justificação),
fora de nós. Enquanto que o trabalho de Deus em nós é uma obra interna
(regeneração). Ampliemos agora os detalhes desta compreensão.
Salvos pela graça
somente.
A primeira parte do texto em estudo é “Sendo justificados
gratuitamente por sua graça (a do Pai)”. Romanos 3:24. Graça
significa misericórdia e favor mostrado para com alguém que está perdido e nada
merece.
A fim de preservar a natureza gratuita da justificação, Paulo disse que
os pecados são justificados “gratuitamente” pela graça de Deus. A
palavra “gratuitamente” significa “sem motivo” (como em João 15:25). Por
essa razão podemos afirmar que nenhum grau de crença, de obediência, de
experiência, de arrependimento ou de edificação do caráter pode levar Deus a
considerara-nos alguma vez justo ante seus olhos. Alguém já disse acertadamente
que justificação pela graça significa a divina aceitação de pessoas que são em
si mesmas inaceitáveis.
É importante notar também que Paulo não só está falando acerca de
tornar-se justificado no início da vida cristã. Ele usa o tempo presente
contínuo do verbo grego – “sendo justificados”. Isto inclui o estado de
permanecer justificados, tanto como o ato de chegar a ser justificados.
Nota 1: queremos que preste atenção novamente à palavra “estado”, pois
como aprendemos anteriormente, o pecado é um estado, assim, em
contrapartida o permanecer justificados, segundo o texto de Paulo é
também um “estado”.
Nota 2: Para guardar na memória – O ato da justificação é o ato de um
momento enquanto que o permanecer justificados é uma ação linear, contínua.
Porém, este permanecer não significa em nenhum momento um ato nosso, pelo
contrário, sendo justificados, indica uma justificação que vem de fora, ou
seja, nunca poderemos ultrapassar a justificação pela graça. Não podemos
permanecer no favor de Deus a não ser por pura misericórdia. Se em algum
momento pudéssemos apresentar-nos como aceitáveis diante de Deus baseados em
nossa fé, nossa obediência ou qualquer excelência moral, já não seria mais
justificação por graça. Se a justificação conforme as palavras de Paulo é dada
“gratuitamente” seria uma ofensa a Deus querer “pagar” alguma coisa por ela. A Bíblia de Estudo Almeida, no Dicionário
que acompanha essa edição, na página 61 explica assim o conceito de Graça:
“bondade excepcional de Deus para com os seres humanos (como pecadores), para
tornar possível o seu perdão e salvação (João 1:14; Efésios 2:4-5). Essa misericórdia
imerecida está sempre disponível para aqueles pecadores que crêem no evangelho
e obedecem ao Senhor (Atos 11:23; 20:32; 2Coríntios 9:14) Os cristãos
primitivos usavam essa palavra quando se reuniam e se saudavam (Romanos 1:7;
1Coríntios 1:3; Gálatas 1:3)”. Em resumo a justificação pela graça somente
corresponde a compreender onde está a fonte da justificação – Na graça
divina outorgada por Deus o Pai.
Justificados por
Cristo somente.
Devemos também compreender a maneira pela qual a graça opera para fazer o
pecador aceitável à vista de Deus. Está escrito que o modo de nossa
justificação é: “mediante a redenção que há em Cristo Jesus ”
(segunda parte do texto em estudo) Romanos 3:24. Mas também está escrito que
somos justificados “... pelo seu sangue”. Romanos 5:9.
Os atos e a morte do Senhor Jesus constituem a única base de nossa
aceitação para com Deus. Ele se constitui no substituto e garantia para
pobres e perdidos pecadores. Em favor deles Jesus deu à lei uma obediência
perfeita que se mede com seus mais altos reclamos. Em seu favor, pelas agonias
da sua morte, pagou à lei a dívida pelas transgressões.
A Obediência ativa (vida de Cristo) e passiva (Morte de Cristo) foi de
todo suficiente para assegurar a justificação de todo pecador. Disse o apóstolo
Paulo: “um morreu por todos, logo todos morreram” 2ª Coríntios 5:14. O
que isto significa dentro do conceito de justificação? No que se refere à
justiça, esta pode olhar a Cristo e considerar a todo homem como morto.
Se o salário do pecado é a morte, isto é, a dívida do pecador para como a
lei é a morte, então deve em algum momento pagar a dívida. Se aceitar a morte
de Cristo, então ele morreu com Cristo, pagou a dívida e está justificado, não
deve mais nada.
Imaginemos a cena do Juízo Final. A lei se apresenta para cobrar seu
salário, aponta para este pecador e diz: Ele é um pecador, deve morrer, pagar a
sua dívida. Nesse momento se apresenta Jesus, o Advogado e pergunta para a Lei:
Morrer? Por que morrer? Ele já morreu, porque “um morreu por todos, logo todos
morreram” 2ª Coríntios 5:14. E isto é assim porque Cristo é o substituto
de todo homem que aceita sua morte. Isto era tão claro na mente de Paulo que
ele diz: “Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de
viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo não sou eu quem vive,
mas Cristo vive em mim...”. Gálatas 2:19-20. Paulo considerava-se morto para a
lei, sendo assim, a lei não poderia cobrar o débito, pois ele foi pago com o
precioso sangue de Jesus.
Em vista disso, em sua epístola aos Romanos o apóstolo Paulo faz esta
surpreendente declaração: “O qual foi entregue por causa das nossas
transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação”. Romanos 4:25.
A justificação não é algo que temos que assegurar. Ela já está segura. A
ressurreição de Cristo é a prova de que Deus aceitou a humanidade na pessoa de
Seu Filho.
Alguém talvez pergunte: “Quer dizer que Deus já efetuou minha
justificação através da morte de seu Filho?” Ao que podemos responder. Isto é
precisamente o Evangelho. São as Boas Novas do que Deus fez. O sepulcro
vazio é a prova de que Deus já perdoou nossos pecados e nos tem recebido de
volta a seu favor real. Vejamos isto na Escritura: “... sua graça que Ele
nos concedeu gratuitamente no amado” Efésios 1:6.
Voltemos ao ponto central da soteriologia: Quando Adão desobedeceu, a
condenação e o pecado passaram a toda a raça humana. E isto aconteceu assim
porque ele era nosso pai, o cabeça da raça humana. Quando ele caiu, todos
caíram. A condenação veio sobre nós, não por causa do que fizemos, mas por
causa do que Adão fez. “pela desobediência de um só homem muitos se tornaram
pecadores” Romanos 5:19. De modo que nós nos tornamos pecadores não por
algo que aconteceu em nós, e sim por algo que aconteceu completamente
fora de nós. Deus salvou a raça humana dando-nos outro pai: Jesus
Cristo (Isaías 9:6). Da mesma maneira que todos foram condenados pelo que Adão
fez, foram todos justificados pelo que Cristo fez. “Por um só ato de justiça
veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida” Romanos
5:18 “Porque pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores,
assim também por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”
Romanos 5:19.
De modo que é para
sempre certo que a única base da aceitação para com Deus é o que Cristo já fez
por nós. Cristo, e unicamente Cristo foi encontrado agradável à
vista de Deus. Existe somente uma razão para nossa aceitação para com Deus – O
fato de que Cristo foi aceito. Sua obediência de dois mil anos atrás é a única
base de nossa aceitação para com Deus no dia de hoje.
Pela Fé somente – A
condição para receber a justificação.
No que tange a Deus, Ele restituiu o mundo pecador ao seu favor tão
certamente como recebeu a seu filho no Céu. Na cruz se efetuou a justificação objetiva
de todo pecador. Ali Deus redimiu a raça. Hebreus 9:12.
À luz do Evangelho o homem não pode formular
a pergunta: Me aceitará Deus? Pois, Deus já respondeu a esta pergunta
mediante a ressurreição de Cristo dentre os mortos. Se o pecador
ainda insiste em perguntar: O que devo fazer para me salvar? Deus diz ao
pecador: olha para a cruz vazia e olha para o Céu onde está a segurança de tua
justificação. O homem foi aceito nas Alturas do Céu, pois já “nos tem
abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo”
Efésios 1:3.
O homem pecador já foi aceito em Cristo. Porém , Deus confronta agora o homem com
uma pergunta: “Aceitarás essa tua aceitação?”, então, a fé é o “sim” a essa
pergunta de Deus. A fé é aceitar o fato de termos já sido aceitos. Nossa parte
é nos tornar conscientes de algo que já está em existência. Por
meio da fé, a bênção da justificação é recebida e desfrutada. Este é o aspecto subjetivo
da justificação.
Na cruz se efetuou o aspecto objetivo da justificação.
A aceitação da bênção da justificação já realizada é o aspecto
subjetivo.
Por meio do Evangelho o Espírito Santo ilumina a alma do pecador,
mostra-lhe a cruz e o aproxima de Cristo, por isso Ele guia, conduz e consola.
À medida que o pecador contempla o Único que o amou e deu-se a si mesmo por
ele, o Espírito Santo persuade de pecado de justiça e do juízo,
fazendo entender que o Evangelho é verdadeiro. Numa palavra, o Espírito
lhe dá fé. De modo que Paulo declara: “Porque pela graça sois salvos
mediante a fé, isto não vem de vós, é dom de Deus”. Efésios 2:8 “Porque
nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém
da fé”. Gálatas 5:5. Neste verso é condensado o tema da soteriologia
no seu aspecto subjetivo - Mediante três palavras: Espírito, justiça e fé.
“Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de
muitos, aparecerá a segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para a
salvação”. Hebreus 9:28. (Edição Revista e Revisada Fiel ao Texto Original –
SBTB, 1995)
A mensagem do Evangelho gira em torno de dois grandes eventos: A primeira
e segunda vinda de Cristo. Devemos agora compreender a relação que existe entre
esses dois eventos e a salvação, que já sabemos em grego é soter = salvação,
libertação e preservação. Portanto, este significado pleno, de
salvação, assim como também de libertação e preservação deve estar sumariamente
contido nestes dois eventos.
O texto citado inicialmente, cuja leitura é Hebreus 9:28, resume o que
estamos analisando. A primeira vinda de Cristo foi uma oferta, pois, o texto
esclarece nestas palavras: “oferecendo-se”, ou seja, o sacrifício e morte,
resultado dessa vinda, foi um ato voluntário de Jesus, jamais devemos pensar
que foi um ato obrigatório, pensar que Jesus teve que passar por isso por que
era sua obrigação é errado. Jesus ofereceu sua vida em sacrifício “para tirar
os pecados de muitos” (segunda parte do texto), o autor desta epístola
não disse que o sacrifício foi universal, pois se assim fosse, ele teria escrito
“tirar os pecados de todos”, pelo contrário, ele escreveu a palavra “muitos”
e não “todos” para tirar da mente de seus leitores a idéia de universalismo da
salvação. A seguir Hebreus 9:28 expõe a razão para ser a salvação objeto de
“muitos” e não de “todos”. Jesus virá a segunda vez, agora sem pecado, isto é,
sem um corpo sujeito à morte, como causa do pecado. Jesus virá para aqueles que
o “esperam”. O texto grego é mais enfático, pois, a palavra aqui é
apekdékhomai e significa mais apropriadamente “aguardar com expectativa”
“anelar” - Compare com Romanos 8:19, 23, 25; Filipenses 3:20, onde também
aparece a mesma palavra. A condição
especificada aqui é “esperar” “anelar” a segunda vinda de Jesus para
salvação. Assim termina o texto em estudo. O Ato da Salvação como explicada neste
texto tem, portanto, duas fases essenciais (primeira e segunda vinda de Jesus).
Por que a segunda vinda completa a salvação?
Assim como há dois eventos distintos, a primeira e segunda vinda de
Cristo, há dois reinos distintos, trazidos à luz pelo Evangelho: O Reino da
Graça e o Reino da Glória. Quando Jesus iniciou Seu ministério começou a pregar
“... e o Reino de Deus está próximo...”. Marcos 1:15, não se estava referindo
ao futuro e imortal Reino da Glória. Ele se referia ao Reino da Graça que
haveria de estabelecer por seu amargo sofrimento e morte uma vez que este Reino
existia por propósito desde a eternidade, e por virtude de uma promessa desde a
queda do homem (Romanos 16:25 comparado com Gênesis 3:15).
O Reino da Graça
Disse o escritor da epístola aos Hebreus: “Acheguemo-nos, portanto,
confiantemente junto ao trono da graça a fim de recebermos
misericórdia e acharmos graça...” Hebreus 4:16. O trono da graça
descrito aqui representa o Reino da Graça, uma vez que a existência de um trono
implica na existência de um Reino. A Bíblia explica que quando Cristo subiu ao
Céu assentou-se no trono (Hebreus 1:3; Atos 2:33; Lucas 22:69). Ele não se
assentou no trono da glória; assentou-se no trono da graça, em seu trono
sacerdotal de ofício de intercessão e advogado. O profeta disse: “... Ele...
assentar-se-á no seu trono e dominará e será sacerdote no seu
trono...” Zacarias 6:13.
Os salvos pertencem a este Reino da Graça, o apóstolo Paulo explica isto
em uma passagem surpreendente: “Dando graças ao Pai, que vós fez idôneos à
parte que vos cabe da herança dos santos na luz. Ele (o Pai) nos libertou do
império das trevas e nos transportou para o Reino do Filho do seu amor”
Colossenses 1:12-13. Recomendamos a leitura atenta deste texto, meditando nas
palavras de Paulo e extraindo o pensamento central. Os salvos, chamados aqui de
“santos na luz” são aqueles a quem o Pai libertou do império das
trevas (lembremos que “libertação” é também um dos significados de
“soter”). Agora note a expressão enfática: “e nos transportou para o
Reino do Filho de seu amor” A expressão grega aqui indica um tempo passado, um
ato já realizado (metéstesen = já transferido). Quem espera por um Reino
futuro, está certo, espera pelo Reino da Glória, mas deve desfrutar agora dos
privilégios como súbdito do Reino da Graça. Então. Quando será inaugurado o
reino da Glória?
O Reino da Glória
No segundo grande evento da história da salvação, na segunda vinda de
Jesus será inaugurado o Reino da Glória. Ele deixou isso esclarecido quando
disse aos seus discípulos: “Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e
todos os anjos com ele, então se assentará no trono de Sua
Glória, e todas as nações serão reunidas em sua presença”. Mateus 25:31-32. A pequena palavra grega
“tóte” faz muita diferença, pois significa “então”, pois só então,
e não antes, Ele se assentará no trono de Sua Glória. Quando? Quando vier com
os anjos.
O Reino da Glória existe em virtude da promessa e não será estabelecido
antes da segunda vinda de Cristo.
Na época da primeira vinda de Jesus, o povo judeu esperava um Messias que
haveria de se assentar no trono de Davi. Quando ouviram João Batista proclamar,
“O reino dos céus está próximo”, acalentaram esperanças e visões da glória de
um reino literal. Nem mesmo João Batista e os discípulos de Jesus tinham de
início uma idéia correta do propósito da primeira vinda de Cristo, nem idéia da
natureza do reino que Ele estava para estabelecer. No início eles não podiam
distinguir claramente entre o Reino da Graça e o Reino da Glória.
A mesma confusão existe ainda na mente de muitos que professam a fé
cristã. Quando pessoas dizem que a vinda de Cristo é uma vinda ao coração de
seu povo estão confundindo tragicamente os Reinos. Quando alguns dos crentes
estão tentando buscar aqui e agora um cumprimento espiritual de certos
atributos próprios do Reino da Glória estão sem uma informação correta sobre os
dois grandes eventos da salvação. É equivocado tentar trazer certos elementos
do Reino da Glória para dentro do Reino da Graça, trazer o “ainda não” para
dentro do “agora”. Veja 1a de João 3:2.
Um reino se estabelece costumeiramente por guerra e conquista. O Reino da
Graça não é uma exceção. Ficou já estabelecido pelo conflito e conquista do
reino da morte e do diabo por parte de Cristo. “E despojando os principados e
as potestades, publicamente as expôs ao desprezo, triunfando
deles na cruz” Colossenses 2:15. “Visto, pois, que os filhos têm participação
comum de carne e sangue, destes também ele igualmente participou para que por
sua morte destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o
diabo”. Hebreus 2:14. Por essa razão o Evangelho deve proclamar
o estabelecimento do Reino da Graça, para podermos dessa maneira sermos
justificados pela divina graça de Deus, “sendo justificados gratuitamente...”
Romanos 3:24 – A Bíblia de Estudo Almeida,
no Dicionário que acompanha esta Versão, encontramos a seguinte definição de
Justificação: “Doutrina detalhadamente explicada por Paulo nas suas Epístolas
aos Romanos e aos Gálatas. Ali, ensina que a justiça de Deus se revela no
Evangelho, porque coloca o pecador em correto relacionamento com Deus. Este
atua assim não porque o pecador mereça esse novo relacionamento, mas por causa
de Cristo, que, com a sua morte sacrifical, expio os pecados, dessa maneira, os
pecadores que crêem no Evangelho são perdoados e restaurados à comunhão com
Deus por meio de Cristo, unidos a ele, participam de sua justiça e são aceitos
por Deus”. Pág. 66.
Quem hão de ser os que entrarão agora no Reino da Graça? São aqueles que
necessitam da graça divina, porquanto graça significa favor ou misericórdia
para com aqueles que são pecadores e indignos. Como Jesus mostrou na parábola
da grande ceia onde os convidados são tirados das ruas e becos da cidade, os pobres
os aleijados, os cegos e os coxos (Lucas 14:21). E por estes convidados ao
Reino que Cristo intercede (Isaías 53:1 comparada com Isaías 63:5). Por eles o
Senhor já fez expiação e já satisfez a justiça em seu favor. Entre Deus e estes
estranhos convidados só fica a misericórdia, a infinita misericórdia. Por que
isso é assim? Porque a graça significa ser aceito apesar de ser inaceitável. E
ser completamente compreendido e completamente perdoado. Os que procuram se
fazer dignos assim mesmos, por seus próprios méritos, por sua experiência, por
sua aptidão ou edificação cristã estão cavando profundas valas diante das
portas do Reino que nunca poderão atravessar. Só pela graça, não por méritos.
Se não fossem os pecadores os convidados ao Reino ele não seria o Reino
da Graça, por isso os que estão justificados são aqueles que estão dentro do
Reino, tirados das trevas e restaurados como filhos de Deus.
Podemos lembrar o homem que foi socorrido pelo bom samaritano. Cristo, o
bom samaritano, aplica vinho e azeite nas feridas do pecador e o conduz até a
estalagem para o tratamento final. Encomenda o homem aos cuidados da pessoa
responsável pela estalagem com a promessa de pagar tais serviços em seu
retorno. O paciente começa a se recuperar. Todavia, nenhuma coisa poderia fazer
mais dano do que esse doente imaginar que poderia se recuperar sozinho. Ele
precisou de todos os cuidados. Assim é a graça de Deus. No estaleiro da graça
ficam internados aqueles que são objetos de cuidado e solicitude especial de
Deus, é aqui que eles encontram conforto e consolação.
Todo aquele que entrou no Reino da Graça pelas portas da justificação e
se manteve nele será herdeiro e cidadão do Reino da Glória. Assim como uma
grande mudança, o novo nascimento, tomou lugar em nossa vida, quando entramos
no Reino da Graça, também haverá de ocorrer uma grande mudança antes de
entrarmos no Reino da Glória. Esta mudança final ocorrerá na ocasião da
ressurreição se estivermos mortos, ou na glorificação, se estivermos vivos,
quando Jesus voltar.
Iniciamos esta aula considerando os dois grandes eventos do Evangelho que
se resume agora em duas grandes verdades. A verdade da justificação pela fé (O
Reino da Graça) e a verdade da vida eterna de fato (O Reino da Glória). Somente
compreendendo em toda a sua plenitude a primeira verdade é que terá significado
e esperança a doutrina da segunda vinda de Cristo.
Portanto, concluímos que o Evangelho nesses dois aspectos, eventos e
verdades e a maior obra de Deus. Nunca houve nem haverá maior ou mais poderosa
obra de Deus do que no Evangelho, pois, resume-se no que Deus já efetuou em Cristo Jesus e o que
fará por ocasião da segunda vinda. Nenhuma experiência humana pode igualar esta
obra já consumada e realizada. Isto é soteriologia. Salvação plena em todos os
aspectos.
03 - OS SETE ASPECTOS
DA SALVAÇÃO
Neste estudo você compreendera de uma forma mais plena os vários aspectos
que nos demonstram a atual posição em que o crente se encontra e sobre quais os
processos que decorreram desde nosso primeiro contato com Cristo até este
momento em que somos considerados filhos de Deus.
O estudo de hamartologia (de hamartia = pecado) nos mostrou que o homem
(tratamento genérico, isto é, tanto homem como mulher) sem Deus ocupa uma posição
negativa por causa da alma contaminada, até o momento em que faz um
concerto definitivo e obtêm uma vida digna diante de Deus mediante a
justificação. O homem sem Deus é um devedor, um inimigo, um escravo, um
corrupto, um morto e um estrangeiro diante do Criador. O homem sem Deus,
enquanto não obtêm os benefícios do “único ato de justiça” Romanos 5:18, carece
de perdão, justificação, reconciliação, redenção, santificação,
novidade de vida e finalmente o homem sem Deus, como um desconhecido,
necessita de adoção. Estes são os sete aspectos (algumas
vezes chamados de “doutrinas”) da salvação (Grego = soter).
Estes sete aspectos estabelecem de forma clara e categórica o lado
Divino no plano do resgate do homem perdido em função do pecado (grego =
hamartia). O lado humano, e alias o único, é a aceitação desse plano de
resgate. Portanto, deixamos esclarecido que estes sete aspectos da salvação são
as Obras de Deus na vida daquele que aceita esse plano de
resgate.
Poderíamos considerar estes sete aspectos da salvação como estágios de
crescimento cristão? Não. Não são passos num processo evolutivo de salvação,
nem degraus numa escada de redenção. Quando o pecador reconhece sua posição
alienada de Deus e aceita o plano de resgate e ele aceita tudo o que já foi
feito por ele, o Espírito Santo atribui todos os benefícios ou aspectos da
salvação simultaneamente. Por exemplo: Quando aceita, essa é a parte do homem,
Deus o perdoa em Cristo, o justifica de toda falta, é reconciliado com Deus,
remido, considerado santo, santificado, obtêm uma nova vida (novo nascimento) e
finalmente ele como nascido de novo, nasce na Família de Deus, sendo adotado
como filho verdadeiro.
O apóstolo Paulo explica em suas cartas estes sete aspectos da salvação,
pois a notícia dos quatro evangelhos é que Jesus morreu numa cruz, e falam de
forma biográfica dessa morte, e as Cartas explicam a razão de Sua morte.
Primeiro Aspecto da
Salvação - Perdão.
Já falamos que o homem sem Deus é considerado um devedor diante de Seu
Criador (leia com atenção – Lucas 7:41-47), e como tal, para cancelar a dívida
necessita do perdão de Deus, ele tem que ser perdoado. Isto é fácil de
compreender, pois o preço do pecado já foi pago por Cristo Jesus. O perdão
encontra seu verdadeiro lugar na graça de Deus (Veja Efésios 1:7, onde se estabelece
um elo de ligação perfeita entre remissão de pecados [perdão] e a Graça de
Deus).
A base do perdão de Deus para com o pecador se fundamenta no sacrifício
de Jesus (Mateus 26:28 – onde o sangue de Jesus é o elemento fundamental na
remissão dos pecados). Este perdão de Deus é válido desde o momento em que o
homem aceita (crendo com fé) em tudo o que Deus fez em Seu Filho Cristo
Jesus (Atos 10:43).
Leituras Bíblicas sobre o perdão – Lucas 24:46 e 47; João 1:29; Romanos
3:25; João 3:16-18 e verso 36.
A bíblia explica e explicava isso em símbolos no Antigo Testamento, que a
dívida pelo pecado deveria ser paga antes do perdão, e Cristo foi nosso
substituto respondendo pelo débito, agora como novas criaturas somos livres do
débito e não mais devedores pelo pecado (considere Atos 2:38 e analise a
importância do batismo como expressão e demonstração de aceitação
por parte do homem do plano de resgate).
E os pecados do cristão? Da mesma forma como o perdão é oferecido ao
pecador, da mesma forma ele é também oferecido ao cristão. A Palavra de Deus
nos ensina a estar em constante vigilância, vigiando e orando, da mesma forma
nos ensina de inúmeras maneiras que devemos andar no Espírito, mas às vezes não
vigiamos o suficiente e em lugar de andar no Espírito nos desviamos pelos
atalhos do “antigo homem”, então devemos buscar o perdão de Deus, será que
deveríamos nos batizar de novo? Não. É óbvio que não! Desde que não perdemos
nossa conversão, e nem deixamos de aceitar o que Cristo já fez. Um filho quando
comete uma pequena “arte” não deixa de ser filho. É em Cristo que devemos
buscar forças para evitar o mal, e mesmo que não consigamos, nosso possível
erro não quebra nossa relação com Deus, não entanto, é certo que se o pecado é
separação de Deus, um filho pode se separar do Pai, por um momento ou por toda
a eternidade. A escolha é sempre do homem.
Segundo Aspecto da
Salvação - Justificação
Já estudamos em detalhes o significado de justificação. Perceba agora que
em relação com o Perdão (primeiro aspecto) é notória a compreensão dos
atributos de Deus. Como Pai Bondoso, Compassivo e Cheio de Misericórdia – Deus
perdoa. Mas, no Seu atributo de Juiz, Deus justifica. O perdão elimina os erros
cometidos, a justificação nos livra da condenação da lei.
Deus é Juiz, e como tal Sua tarefa é condenar o pecador, porém, num ato
legal agora Ele declara que a justiça foi satisfeita em relação ao réu e ele
será justificado, está livre da condenação.
Leitura Bíblica: Êxodo 23:7; Salmo 51:4 Provérbios 17:15; Romanos 3:4;
Gálatas 5:4 e Gálatas 2:16.
Portanto, a justificação é o oposto de condenação, pois, a condenação
pronuncia que o réu é culpado e a justificação o declara sem culpa.
Não podemos confundir. A justificação vem do que Cristo já fez por
nós, mas a transformação vem do que Cristo faz em nós. A
justificação é um ato, enquanto que a transformação é um processo.
Ao aceitar pela fé a justificação o homem a alcança. A fé, no entanto,
não constitui mérito de justificação, a base, lembre-se, é o sacrifício de
Cristo. O exercício da fé no coração do homem favorece a graça da justificação
(Atos 13:39; Romanos 4:3, 5, 11, 16; Romanos 10:4 e 10). Uma vez justificado o
homem deve caminhar com Deus.
Terceiro Aspecto da
Salvação – Reconciliação.
Uma leitura atenta de Colossenses 1:21 demonstra que éramos estranhos e
inimigos, por causa de nossas obras más, isto é, nos éramos, como todo pecador,
porém, agora (note-se o “agora” do escritor da Epístola) Deus
nos reconciliou. A reconciliação como um ato de Deus. É Deus quem reconcilia, portanto,
não use mais a expressão: “Me reconciliei com Deus”. Não foi você que se
reconciliou, FOI DEUS.
O homem sem salvação vive em oposição ao governo de Deus, portanto num estado
irreconciliável, este estado ou posição não permite que o homem
mantenha uma comunhão, e nem comunicação ou mesmo um contato amigável com Deus,
daí entendemos da necessidade de reconciliação. Se a salvação oferecesse apenas
perdão e justificação, mas mantivesse o homem longe de Deus, não seria
completa.
Vem de Deus a iniciativa de reconciliar o homem, remover a inimizade e
separação (ler atentamente: 2a Coríntios 5:18-21) e promover a paz
(Colossenses 1:20-22). A barreira imposta pelo pecado foi removida com a morte
do Cordeiro e o homem passa então a viver em submissão a Deus, tendo paz,
comunhão e acesso ao Pai (Efésios 2:17, 18; João 14:6).
Quarto Aspecto da
Salvação – Redenção.
A escravidão é fato consumado na vida de quem não conhece e não aceita o
que foi realizado em seu favor por Deus. O homem sem Deus está preso, algemado
com correntes ao próprio inferno. O pagamento de um preço pode colocar em liberdade
o homem deste jugo. A palavra redimir vem do grego “agorazo” (Apocalipse 5:9 em
comparação com Romanos 3:24 e 1a Pedro 1:18), que aqui significa
adquirir no fórum. Também tem sua origem em “axagorazo” (como em Gálatas 3:13),
onde significa adquirir fora do fórum. E ainda uma terceira palavra grega
“lutroo” (como em Lucas 24:21) que tem o sentido de libertar por um preço.
Lembre que “Liberdade” é um dos significados de “soter”.
A verdade é ensinada por Jesus nestas palavras: “Em verdade, em verdade
vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado”
(João 8:34).
O homem é escravo do pecado, e como escravos estão em servidão a outro
senhor (João 8:44), portanto, necessita de redenção, não pode alcançar
libertação por esforço próprio; a redenção vem de Deus (Romanos 7:14).
Voluntariamente e com precioso sangue, Cristo deu Sua vida por preço de
liberdade perfeita (Mateus 20:28; Marcos 10:45; 1a Timóteo 2:6; Colossenses
1:14; Tito 2:14). Por essa razão Cristo é tudo em todo.
Nota: os aspectos de santificação, novo nascimento e adoção, serão tratados
na próxima aula.
Estudamos na aula passada quatro aspectos da Salvação, estudemos
agora a continuação desses aspectos:
Quinto Aspecto da
Salvação – Santificação.
O que seria santificação? – “Falo como homem, pela fraqueza da vossa
carne; pois que, assim como apresentastes os vossos membros para servirem à
imundícia e à maldade para a maldade, assim apresentai agora os vossos membros
para servirem à justiça para a santificação”. – Romanos 6:19.
A idéia básica de santificação na Bíblia é “separação” – A Bíblia de Estudo Almeida define assim no
Dicionário: “Separar uma pessoa, um objeto ou mesmo uma instituição para servir
a Deus com dedicação e amor. Deus mesmo santifica o seu povo (João 17:17 e 19;
1a Tessalonicenses 5:23; 2a Tessalonicenses 2:13; 1a
Pedro 1:2) Aqueles que foram santificados são seus santos”. Pág. 82.
O significado essencial da palavra hebraica “qodesh” é em grego hagiazo
que significa “separar”. A palavra hebraica deriva da raiz “qad” que se traduz
por “cortar”, assim sendo, o que é santo deve estar separado dos outros, está
numa classe, categoria e posição especial, e está designado para um propósito
especial (1a Pedro 1:15-16). A santidade é o mais importante
atributo de Deus dado ao homem.
“Hagiasmos” (santidade e santificação) ocorre dez vezes nos escritos do
Novo Testamento – Romanos 6:22; 1a Coríntios 1:30.
“Hagiosune” (santidade) ocorre por três vezes (Romanos 1:4; 2a
Coríntios 7:1), e temos ainda “hagiates” e “hagiago”.
Temos algumas leituras sobre santificação: (João 17:17; Atos 20:32; Atos
26:18; 1a Tessalonicenses 5:23, etc). E alguns textos sobre
santidade (Romanos 6:19 e 22; Efésios 1:4; 1a Coríntios 3:17, etc).
Destacamos, porém, que a santificação, por sua vez tem dois aspectos:
Consagração: Na sua aceitação a santidade de Cristo é imputada ao crente
(imputar: termo técnico que significa atribuir a alguém uma característica que
não tinha antes). Uma leitura necessária é 1a Coríntios 1:30 onde
encontramos a palavra santificação associada a outras que já estudamos. Em
Cristo nos somos santificados mediante Sua oferta pelo pecado. Leitura bíblica:
Hebreus 10:10.
Pureza Interior: O crente deve ser santo em
seus pensamentos, ações e atitudes perante Deus e deve estar sempre junto da
verdade (João 17:17). O apóstolo Paulo diz que a Cristo será apresentada uma
Igreja sem mancha nem rugas, isto é, um Corpo santificado (Efésios 5:25-27).
Podemos saber em que momento começa a santificação? Sim! No momento exato
em o pecador aceita o que Deus fez em seu favor, do momento da aceitação pela
fé, ele agora já está pisando solo santificado, e deve se manter em santidade
enquanto está junto de Cristo, a fonte da santificação. Agora, ao começar nesse
ponto, o crente está pronto para crescer em graça e sabedoria (2a
Pedro 3:18; 1a Tessalonicenses 3:12-13).
Nesta posição de santidade imputada (atribuída e não conseguida por
mérito próprio) somos descritos como templo e santuário de Deus e Jesus (1a
Coríntios 3:16-17).
É bom poder ser um vaso de honra ante os olhos de Deus e ser santo
perante o Todo-Poderoso, pronto para ser útil no empenho da causa justa da
Obra; é bom ser amigo, livre e separado para falar da salvação aos perdidos que
ainda não encontraram esses atributos de Deus para sua vida.
Sexto Aspecto da
Salvação – O Novo Nascimento Bíblico.
Tudo quanto a graça tem feito a nosso favor pela obra de Cristo foi com o
fim de nos reconciliar com Deus, mediante nossa libertação do domínio do
pecado, gerando em nós uma vida nova e santificada pelo poder do Espírito Santo
em íntima ligação com Ele, tornando-nos herdeiros da vida eterna que fruiremos
em Sua presença.
Diz a Palavra de Deus: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com
Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada
pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da
glória de Deus”. Romanos 5:1-2. Quando cremos em Deus e aceitamos o Senhor
Jesus Cristo como nosso Salvador pessoal, pela ação do Espírito Santo, nos
somos regenerados mediante o novo nascimento espiritual. Tornando-nos “filhos
de Deus” e membros do Corpo de Cristo que é a Sua Igreja invisível (João 14:17
e 26; 1a Coríntios 12:27; Efésios 6:10-12; Romanos 8:9-11).
Disse Jesus: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de
novo, não pode ver o reino de Deus... Aquele que não nascer da água e do
espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e
que é nascido do Espírito é espírito”. João 3:3, 5-6. As palavras do Senhor
Jesus não deixam qualquer dúvida sobre a necessidade absoluta do novo
nascimento. Jesus realça a necessidade de nascermos não só da água, como também
do Espírito. Se o batismo da água é um símbolo exterior, que às vezes pode
ficar despercebido ou esquecido no tempo, o batismo do Espírito deve ser sempre
presente e manifesto, pois é o poder interior da vida nova do cristão. Nos
somos nascidos naturalmente da vontade da carne, somente nos nascemos do
Espírito, quando aceitamos pela fé ao Senhor Jesus Cristo como nosso Salvador
pessoal e nos dispomos a continuar nessa aceitação. Lucas 6:46.
A operação do Espírito Santo, através da Palavra de Deus, produz em nós
um novo ser moral ou espiritual, de que resulta a manifestação dum caráter
inteiramente novo. O apóstolo João afirma: “Mas, a todos quanto o receberam,
deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber; aos que crêem no seu
nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade
do homem, mas de Deus”. João 1:12-13.
O apóstolo Pedro diz: “bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva
esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo, dentre os mortos... sendo de novo
gerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus,
viva, e que permanece para sempre”. (1a Pedro 1:3 e 23).
Escreve também o apóstolo Tiago: “segundo a sua vontade, ele (Deus) nos
gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias de suas
criaturas”. (Tiago 1:18).
Paulo ainda esclarece: “Tendo sido sepultados juntamente com ele (cristo)
no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de
Deus que o ressuscitou dentre os mortos”. (Colossenses 2:12). “E assim, se
alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que
se fizeram novas”. (2a Coríntios 5:17).
Uma leitura atenta dos escritos apostólicos demonstra que o novo
nascimento é uma obra de Deus, de Sua Vontade.
Antes que qualquer pessoa possa compreender as verdades divinas reveladas
pelo espírito santo, através da Palavra de Deus, precisa “nascer de novo”. Não
existe no homem natural, caído como está sob o domínio do pecado, qualquer
capacidade para compreender e apreciar os pensamentos de Deus. – “Ora, o homem
natural não aceita as coisas do espírito de Deus, porque lhes são loucuras; e
não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente”. (1a
Coríntios 2:14).
A nossa inclusão na morte e ressurreição de Cristo é um
fato fundamental do plano de salvação, mas é de suma importância permitir que
isso seja real, pela aceitação verdadeira e fiel desse plano de redenção
divina.
Atenção: Crer que as figuras de linguagem “morrer ou ser
crucificado ou sepultado com Cristo” afirmem a extinção imediata e total da
natureza humana, incluindo toda e qualquer inclinação para o mal, é crer em
discordância com o contexto geral da Bíblia. O estudo criterioso dessa
expressão, dentro do contexto próximo em que está inserida e considerando o
ensino geral da Bíblia, indica que ela apenas lhe atribui um sentido legal
perante a justiça de Deus.
Já estudamos anteriormente que nascidos como descendência de Adão, da
vontade da carne, herdamos a natureza de Adão, os seus defeitos, a sua
condenação, e fomos considerados por natureza filhos da ira (Efésios 2:3),
geração perversa (Atos 2:40), escravos do pecado (Romanos 6:6) e condenados à
morte eterna (Gênesis 2;17; romanos 3;23; 6;23).
Também estudamos que a justificação nos declara justos, assim, do
ponto de vista legal a morte do “velho homem” aconteceu na Cruz, junto
com Cristo. Porém, existe grande diferença entre ser declarado justo e ser
de fato justo. Ser declarado justo é um ato da Graça Divina e absolutamente
imerecido, este único ato se chama “justificação pela fé” “ou morte com
Cristo”. Ser justo, entretanto, é no sentido de conformar de fato nossa
vontade com a vontade de Deus. Isto é obra de toda uma vida, e se chama “andar
com Deus” ou “andar no Espírito”, de onde a palavra andar indica uma
progressão ou desenvolvimento.
O Tema da Salvação na Bíblia domina claramente cada fase e aspecto de sua
narrativa. Já comprovamos nas aulas anteriores que o Esquema, Projeto ou Plano
de salvação está contido plenamente na obra, isto é na ação salvadora de Deus.
Antes de considerar o aspecto de adoção, como o sétimo e último aspecto,
lembraremos alguns conceitos aprendidos que nos farão entender a relação da
adoção com a Redenção.
Já sabemos que a Obra de Deus se manifesta em duas grandes fases: A Obra
de Deus por nós em Cristo e a Obra de Deus em nós
pelo Espírito Santo. Vemos aqui claramente como a Justificação do pecador se
opera pela ação da Trindade. Deus o Pai, manifesta e atribui Sua
Graça, bendita e gratuita Graça. Jesus, o Filho, efetuou a salvação,
sendo o Salvador, pagando o resgate e nos dando SOTER (salvação, libertação e
preservação). O Espírito Santo opera em nós a regeneração, como
obra posterior à justificação, transformando, modificando nosso caráter à
semelhança do caráter de Jesus. Quando estudemos a Obra salvadora de Deus em
nós veremos mais detalhes desta ação divina pelo Espírito Santo. Partimos do
pressuposto de que todos nos acreditamos na Trindade como Deus agindo em
benefício do homem pecador, note-se que se deixamos de lado, quer seja o
Pai, ou o Filho, ou o Espírito Santo, não acreditando que Seja Deus, a ação
salvadora estaria incompleta e o homem estaria conseqüentemente perdido. Razão
pela qual reafirmamos nossa fé na Trindade, pois a ação salvadora de Deus
Trino está justamente em que cada Pessoa desenvolve uma parte ou aspecto
dessa ação salvadora. Não podemos desacreditar de Deus o Pai, pois, segundo as
Escrituras, o Plano Redentor é revelado como tendo sido originalmente planejado
na mente do Senhor, pois a Bíblia revela como Deus manteve sempre o controle
das atividades humanas de maneira a nos levar a aceitar o que Ele já fez.
Rejeitar o Filho, como Deus agindo em benefício da humanidade, efetuando o
plano, realizado em sua vida, morte e ressurreição, isso seria fatal. O
cumprimento do plano idealizado desde a fundação do mundo é perfeito. Jesus,
como executor do Plano de salvação, não poderia ser apenas humano, igual a nós,
pois o projeto estaria assim incompleto, imperfeito, e não cumpriria as
exigências requeridas, que é Deus efetuando a Reconciliação do homem pecador. O
Espírito Santo. Como deixar de fora o Espírito que sendo Deus cumpre seu papel
de efetuar a regeneração e atribuir ao homem os benefícios da salvação, dando
ao homem que aceitou a obra realizada pelo Pai e pelo Filho a continuação
desse plano, dando-lhe um novo nascimento, um novo coração, guiando, ensinando
todas as coisas e formando o novo homem em Cristo, é o Espírito que realiza a
Obra em nós. A
grandiosidade da Obra Salvadora é justamente a revelação de que A Trindade,
em suas três pessoas, está envolvida, participante e atuante em favor do homem
perdido. Bendito Plano de salvação! Que seria da humanidade sem esse Projeto de
Vida?
Sexto Aspecto da
Salvação – Adoção.
Já estudamos que os aspectos da salvação são sete, a saber: perdão,
justificação, reconciliação, redenção, santificação, novidade de vida e adoção,
já estudamos seis, estudemos agora o sétimo: a adoção.
Hamartia, ou seja, o pecado, nos afastou de Deus, estávamos longe
(Efésios 2:13), separados de Deus (Efésios 2:12), escravos do
pecado (João 8:34). Todavia, “hamartia” tirou também a paternidade original.
Vejamos:
Uma Questão de
Paternidade:
Leia: João 8:32 até 44.
Nesta narrativa de João encontramos mais uma outra séria discussão entre
os judeus e Jesus, a questão aqui era a questão da liberdade. Jesus fez uma
declaração assustadora aos ouvidos dos judeus: “e conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará” João 8:32. A resposta imediata dos judeus foi apelar
para a paternidade patriarcal, pois acreditavam que sendo filhos, ou
descendência de Abraão, não eram escravos de ninguém. Jesus respondeu provando
que o pecado é que gera a escravidão (João 8:34), e não a origem
judaica, Jesus provou que sendo eles pecadores eram escravos. Os judeus não
entendendo, pois não compreendiam que hamartia é um estado da alma, insistem:
“Nosso pai é Abraão” (João 8:39). Finalmente elevam essa paternidade afirmando:
“Nós não somos bastardos; temos um Pai, que é Deus” (João 8:41).
A mais surpreendente verdade revelada na Bíblia e que Jesus confirma, é
que a humanidade, por causa de hamartia (pecado), perdeu a paternidade de
Deus. Leia com atenção João 8:44. Adão era filho de Deus (Lucas 3:38). Todo
pecado escraviza (João 8:34), aqui não se trata dos pecados individuais, não
está falando de atos pecaminosos, mas de hamartia, como um estado da alma, do
pecado (singular), Sendo assim, Adão perde sua liberdade, pois é vendido para o
pecado (Romanos 7:14). Quem é vendido, não é livre, quem tem um preço e fica no
leilão da praça para ser comprado é um escravo. Por isso Jesus falou para os
judeus que o escravo não ficava sempre em casa, a qualquer hora pode ser
vendido (João 8:35). Quem não é livre serve ao pecado como escravo (Romanos
6:6). Foi neste contexto que Jesus falou sobre a paternidade do homem em pecado. O homem em
pecado é filho do Diabo.
Uma leitura atenta de 1a João 3:10 revela na sua maior
profundidade a posição do homem sem Deus. Ele está em
outra família, ele não está na Família de Deus (Gálatas 6:10;
Efésios 2:19; Efésios 3:15). Então surge a pergunta: Como ser filho de Deus
verdadeiro?
Adão foi criado a imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:26). Se Adão se
mantivesse na posição original, posição na qual foi criado, então seus filhos
herdariam essa imagem e semelhança de Deus, Adão pecou, e a sua descendência
perdeu esses atributos que são próprios dos filhos de Deus. E agora o livro de
Gênesis nos mostra o princípio fundamental da herança da humanidade.
“Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança,
conforme a sua imagem, e lhe chamou Sete” Gênesis 5:3.
Sete era na verdade o terceiro filho de Adão, Abel foi morto, Caim
banido da presença de Deus, a raça continuaria pela descendência de Sete, assim
diz a Bíblia, ao dar a genealogia de Adão. Por essa razão as Escrituras
estabelecem o princípio fundamental da herança quando esclarece que Sete
tinha a semelhança e imagem de Adão e não mais de Deus. Um Adão escravo gerou
um filho escravo, um Adão que não transmite mais uma geração eleita e santa,
mas uma geração separada de Deus.
Duas famílias, dois pais. João 1:12-13 – mostra um claro e evidente
contraste entre os nascidos de Deus e os nascidos da descendência de Adão.
Mostra como nascem todos os homens (genérico), todos nascemos do sangue (sangue
de Adão), pela vontade da carne, vontade do homem. Mas, Jesus diz a Nicodemos:
É necessário nascer de novo, em outra família, porque o que é nascido da carne
é carne (João 3:6), em outras palavras quem é nascido da carne, pela vontade da
carne e do homem, nasce em
pecado. Jesus explicou a Nicodemos que quem não nasce de novo
NÃO pode ver o reino de Deus. Aqui não é uma questão de opção. Se
nos queremos entrar no Reino, agora no seu aspecto da Graça, e mais tarde, na
Segunda Vinda, no Reino da Glória, não temos escolha, temos que nascer de novo.
Isso significa que nosso nascimento natural deve-se completar com um nascimento
na Família de Deus. Foi então que Deus idealizou o Projeto Adoção. Esse Projeto
Adoção não é novo. Paulo explicou que já os israelitas o conheciam (Romanos
9:4), o que significa que é tão antigo como a própria nação de Israel.
Este projeto de adoção tem dois aspectos legais: Adoção de Direito e
Adoção de Fato. Vamos explicar isto melhor, quem já estudou direito jurídico
sabe como é: Quando um pai de família está ainda vivo e ele assina o testamento
em vida, seus filhos passam a ser herdeiros, são, porém, herdeiros de
direito, somente quando o pai morre, os filhos passam a ser herdeiros de
fato e só então eles podem fazer uso da herança deixada pelo pai.
Gálatas 4:4-6 - Nos explica que a ação salvadora do Pai foi enviar seu
Filho, para resgatar os que estavam sob a lei (no seu aspecto legal de
condenação), com a finalidade de que recebêssemos a adoção de filhos. O
mais importante está no verso 6, onde se explica que pela razão de já sermos
filhos, ou seja, pela redenção em Cristo, pela salvação em seu aspecto de
libertação, Deus envia a nossos corações o Espírito de Seu Filho, e assim como
Ele, Jesus, podia chamar a Deus de Pai, nos também agora podemos clamar “Aba,
Pai”. (Aba = aramaico que significa uma expressão de amor do filho para com seu
pai, como querido pai em português).
Romanos 8:15 – Paulo ensina que não recebemos o espírito de
escravidão, isso quando aceitamos a salvação, mas recebemos outro Espírito, o
de Cristo, o Espírito de Adoção, e repete aqui, pelo qual clamamos Aba, Pai.
Romanos 8:16 – O Próprio Espírito Santo, EM nós, testifica,
ou seja, faz declaração com nosso espírito que somos filhos de
Deus. A adoção foi realizada, podemos ter certeza disso. Pois, o verbo usado
expressa a idéia de ser filhos agora, no presente e não como um ato futuro.
Romanos 8:17 – Ora, se nos já somos filhos, então já somos também
herdeiros, herdeiros de Deus. De novo o verbo em tempo presente.
O que estão aguardando agora os filhos de Deus, herdeiros de Deus? Romanos 8:23 – Tendo as primícias (primeiros
frutos) do Espírito, estamos aguardando a redenção do nosso corpo, que será a
adoção, não mais de direito, porém agora de fato. Quando?
No Reino da Glória.
E a imagem e semelhança de Deus? Uma leitura de Romanos 8:29; 1a
Coríntios 15:49 e 2a Coríntios 3:18 respondem esta pergunta.
Definição do conceito: Profecia Messiânica. É geralmente
reconhecido que o Antigo Testamento registra as profecias da vinda de um grande
Messias. Isto significa literalmente um “ungido” (da palavra hebraica:
Mashiach). Os “ungidos” no período do Antigo Testamento eram, no caso, reis e
sacerdotes. Tais profecias deram ao povo judeu a esperança da libertação
através desse Messias. Esta esperança é comumente mencionada como a “Esperança
Messiânica”.
O CONCEITO JUDEU DA PROFECIA MESSIÂNICA NO ANTIGO TESTAMENTO ERA NACIONALISTA.
Este ponto de vista é estabelecido no Novo Testamento pela revelação do
conceito judeu da natureza do Reino de Deus. Os judeus sabiam que as Escrituras
profetizavam a vinda do Messias e do seu Reino (como exemplo: podemos citar - 2
Samuel 7:11-16; Isaías 9:6, 7; Jeremias 23:5, 6 Daniel 2:44). Tanto João
Batista como Jesus anunciaram que o Reino estava próximo. Como os judeus
entenderam estas palavras de João Batista e de Jesus? Os pontos a seguir
revelam o conceito nacionalista dos judeus com relação ao Reino e,
conseqüentemente, seu conceito materialista, ou seja, uma interpretação
equivocada das profecias desse Reino.
1. Os judeus combativos.
“Naqueles dias apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia, e
dizia: Arrependei-vos porque está próximo o Reino dos céus”. Mateus 3:1-2.
“Desde os dias de João Batista até agora o Reino dos céus é tomado por
esforço, e os que se esforçam se apoderam dele”. Mateus 11:12.
O povo cria que João Batista era profeta e, assim sendo, desde o dia em que
ele anunciou que o Reino estava próximo, o povo se predispôs a pegar em armas e
derrubar o governo romano. Sua concepção puramente materialista e física do
Reino transformou o zelo pelo país, e transformaram a idéia de Deus em
violência, julgando que pela força pudessem derrotar os exércitos romanos e
estabelecer o Reino profetizado. Isto não lhes seria possível, mas, devido ao
conceito nacionalista sobre a natureza do Reino eles julgavam isso praticável.
Atenção: A idéia errada dos judeus quanto à natureza espiritual do Reino, sem ser
como um Reino da Graça, fez com que tanto a sua existência como nação com a
queda de Jerusalém no ano 70 d.C., como seu precioso lugar, como nação, no
Reino espiritual de Cristo se perdesse.
2. O povo Judeu como um todo. João 6:1-15, em especial os versos 14 e 15.
Depois que o povo presenciou a distribuição de alimento, feita por Jesus,
em quantidade suficiente para satisfazer mais de 5.000 pessoas, utilizando
apenas dois peixes e cinco pães, todos ficaram mais do que dispostos a
recebê-lo como profeta e rei; mas seu conceito da natureza do rei e de seu
Reino demonstra ser apenas nacionalista. Como é natural, ao pensarem no que
tais poderes poderiam significar quando aplicados à estratégia militar, eles
tentaram arrebatar Jesus “para o proclamarem rei”. Jesus, no entanto, rejeitou
por completo seus intentos, pois o Reino que viera estabelecer era de natureza,
na sua primeira fase, espiritual.
Qualquer ponto de vista que afirme que Jesus veio para estabelecer o
reino profetizado no Antigo Testamento, na sua fase de Glória, mas não pode
faze-lo porque os judeus o rejeitaram, deve ser julgado incorreto com base na
clara afirmação desta passagem. Na verdade, aconteceu justamente o contrário:
Jesus os rejeitou.
3. Os judeus dirigentes. João 11:47-50
O ponto de vista nacionalista dos líderes judeus quanto ao Reino de Deus,
a reivindicação do próprio Jesus de ser o rei profetizado, e os poderes
milagrosos, levaram-nos a pensar que Ele cobiçava o trono de César. Sabiam que
se Roma viesse a pensar da mesma forma e observasse o grande número de
seguidores de Jesus (“se o deixarmos assim todos crerão nele”), a nação seria
sumariamente destruída pelo poder militar romano. Resolveram então matá-lo.
João 11:53.
4. Pedro e os Apóstolos. Mateus 16:13-20, e a seguir versos 21 a 23.
Quando Jesus perguntou a Pedro quem Ele era, ele respondeu prontamente:
“Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo”. Todavia, depois de extrair tal
confirmação, Jesus advertiu os discípulos “que a ninguém dissessem ser Ele o
Cristo”. Logo após, começou a anunciar sua morte pela crucificação. Mais uma
vez Pedro responde com lealdade: “Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo
algum te acontecerá”. Jesus de novo respondeu com palavras que talvez
confundissem a Pedro: “Arreda! Satanás... Não cogitas das cousas de Deus, e,
sim, das dos homens”.
Nenhuma passagem revela mais claramente o que os discípulos na verdade
pensavam sobre o Messias, sua obra e seu reino. Jesus chamou Pedro de Satanás,
isto é, de adversário, dizendo que ele estava pensando nas cousas dos homens e
não nas de Deus. Pedro ficou, provavelmente, surpreso. Mas a verdade era de
fato essa. O conceito que Pedro fazia sobre o Messias, revoltava-se com a idéia
da crucificação. Sem a cruz, porém, não poderia haver redenção. Pedro, de fato
opôs-se ao propósito redentor de Deus. Ele evidentemente não tinha até então
conseguido compreender o assunto. Esse o motivo pelo qual Jesus os advertiu a
não contarem a ninguém ser Ele o Cristo. A opinião deles confundiria ainda mais
a questão.
5. Os filhos de Zebedeu e sua mãe. Mateus 20:20-22 e Marcos 10:35-45
“Então, se chegou a ele a mulher de Zebedeu, com seus dois filhos e,
adorando-o, pediu-lhe um favor. Perguntou-lhe ele: Que queres? Ela respondeu,
que no teu Reino, estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita, e o
outro à tua esquerda. Mas Jesus respondeu: Não sabeis o que pedis”. Mateus
20:20-22.
Quando a mulher de Zebedeu pediu que Jesus fizesse seus filhos
sentarem-se à sua direita e à sua esquerda no reino, revelou seu conceito
nacionalista, materialista e interesseiro sobre o Reino. Jesus então respondeu
acertadamente: “Não sabeis o que pedis”.
6. O Conceito dos discípulos depois da crucificação.
Lucas 24:13-21. A
cruz dissipou dos discípulos a possibilidade real e imediata de uma esperança
messiânica. Como o seu conceito não se baseava na remissão dos pecados e no
estabelecimento espiritual do reino da Graça, ficaram desesperados por perderem
sua esperança com a morte de Jesus. Veja em especial Lucas 24 o
verso 21.
Atos 1:6. Até o dia da ascensão de Jesus, os discípulos mantiveram o seu
nacionalismo judeu como genuína interpretação da profecia do Antigo Testamento:
“Será este o tempo em que restaures o reino de Israel?”. Eles estavam ali,
olhando para Jesus ressuscitado, vencedor da morte, seria esse o momento? Seria
agora? Qual não foi a surpresa ao ver alguns minutos após Jesus subir aos céus.
Vemos nas Escrituras que só após o Pentecostes, com o poder do alto, que os
discípulos puderam compreender a verdadeira natureza espiritual da primeira
fase do Reino, sua natureza fundamentada na Graça.
O espírito nacionalista judaico fez com que muitos o rejeitassem, essa é
a razão das multidões gritando “crucifica-o”, porque os judeus interpretaram
mal a obra, ensinamentos e a morte de Jesus. Foi esse espírito nacionalista,
local e material que provocou a rejeição de Jesus pelo povo, não conseguiram
acreditar que aquele mesmo homem que entrou triunfante em Jerusalém, investido
com caráter de rei como “filho de Davi”, estivesse agora diante de seus olhos
coroado de espinhos, humilhado e açoitado pelos romanos, de vestes
ensangüentadas e rosto abatido, a esperança então se desfez. O triunfo nacional
sobre os romanos sob a liderança de um rei, morreu, e pediram a morte de Jesus.
Não confiavam mais nele. Eis ai o perigo de uma interpretação errada das
Escrituras.
Interpretação correta das profecias Messiânicas.
Lucas 24:44-47 – Foi necessário um ato divino, Jesus “lhes abriu o
entendimento para compreenderem as Escrituras”. Foi necessário que os
discípulos a caminho de Emaús, compreendessem que o Cristo haveria de
padecer... Padecer até a morte, mas vencer a morte e ressuscitar dentre os
mortos, e tudo isso para que? Para que se pregasse o arrependimento para
remissão de pecados, a todas as nações...
Estas palavras de Jesus quebraram todo o orgulho nacionalista, agora a
salvação não era mais uma questão nacional, era uma salvação e remissão de
pecados, efetuados pela morte e ressurreição do Messias, e esta boa nova deveria
ser para “todas as nações” – Oh! Que divina explicação. Era dessa maneira que
agora deveriam entender as profecias, pois Jesus lhes disse: “Importava que se
cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos
Profetas e nos Salmos”. Veja também Lucas 24:25-27, onde Jesus insiste que o
seu sofrimento cumpriu todas as profecias das Escrituras.
Algumas “teologias” modernas interpretam a morte de Jesus como um
fracasso em estabelecer o reino, pelo fato dos judeus o terem rejeitado. Mas
este estudo comprova que na verdade a morte e a ressurreição de Jesus foi o
triunfo glorioso do eterno propósito de Deus para a salvação da humanidade
perdida, assim era predito pelos profetas. Esse foi o meio de estabelecer Seu
Reino da Graça e introduzir nele todos os que são salvos pelo seu sangue
(Apocalipse 1:5, 6).
Estudamos que a salvação para todas as nações, mediante Cristo, foi
predita por todos os profetas do Antigo Testamento. Essa linguagem profética,
porém, raramente foi apresentada de forma literal. Tal linguagem foi geralmente
apresentada em termos idealistas. Isto é, a salvação para todos aqueles que
aceitassem a redenção foi profetizada com uma terminologia descritiva, física,
material e nacionalista, que para o judeu era gloriosamente ideal. O que se
pretendia, entretanto, não era, de forma alguma, uma interpretação literal.
Já estudamos que pela salvação (soter), o Messias esperado não apenas
proporcionaria a salvação, ou somente a libertação, mas no seu
significado pleno a palavra soter também é “preservação” e para que esse
aspecto tivesse pleno cumprimento Deus desenvolveu o maior Projeto que a
história já conhece, jamais haverá um Projeto tão glorioso. Esse Plano é
conhecido em teologia como Projeto de Paz. Deus traçou um programa para que o
salvo pudesse preservar a salvação.
Uma das graves conseqüências do pecado foi a perda de paz por parte do
homem, o pecado tirou sua paz e colocou em troca o medo no coração do homem. O princípio
fundamental do medo pode ser encontrado no mesmo lugar em que o homem
perde sua posição original. Quando Deus pergunta ao homem: Onde
estás? A pergunta, como já sabemos foi para que o homem criasse consciência de
que tinha mudado de lugar, de posição ou estado, a resposta do homem reflete o
grave dano do pecado: “tive medo...” Gênesis 3:9-10. Medo é
exatamente o contrário de paz, quem vive em temor não tem paz no coração, por
essa razão a Salvação (soter) em seus três aspectos significativos deveria
também trazer paz ao coração humano, arrancar de seu íntimo o mais terrível e
pernicioso mal: o Medo.
Procuramos mostrar, a seguir, que o propósito de Cristo é claramente
estabelecido em vários textos bíblicos como sendo redentor (Mateus 1:21; 20:28,
1a Timóteo 1:15, etc.). Porém, a obra salvadora de Cristo inclui um
aspecto que tinha sido conhecido na época do Antigo Testamento como Projeto
de Paz. Quando Israel ou mesmo mais tarde Judá passava por períodos de
guerras, conflitos, violência e agressões, Deus colocava na boca de seus
profetas palavras de paz numa linguagem ideal.
Vamos ler atentamente a profecia messiânica que encontramos em Isaías
9:6-7, de onde destacamos as seguintes frases: “Príncipe da Paz” “para
que se aumente o seu governo e venha paz sem fim...”.
Uma outra profecia reconhecidamente messiânica está em Miquéias 5:2, 5,
de onde tiramos a frase “Este será a nossa paz”.
Ambas as profecias falam dos atributos reais do Messias. Não há qualquer
dúvida que estas palavras se aplicam a Jesus. Os anjos cantaram a Sua missão de
“paz” no Seu nascimento (Lucas 2:14). Paulo escreveu que “Ele é a nossa paz”,
que “evangelizou paz” e fez a paz entre Deus e o homem (Efésios 2:14-17).
O Projeto de Paz.
Quando os homens são justificados, eles obtêm “paz com Deus, por
meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5:1). Cristo traz “a paz
pelo sangue da sua cruz” quando efetua a reconciliação entre pecadores e Deus
(Colossenses 1:20-22). Esta salvação do pecado, dada por Cristo, cumpre o
propósito por Ele estabelecido.
Analisemos agora com cuidado o lugar da paz: “Seja a paz de
Cristo o árbitro em vossos corações, à qual, também, fostes chamados em um só
corpo: e sede agradecidos” (Colossenses 3:15). Explicando o significado
desse Corpo na mesma epístola Paulo diz: “Ele é a cabeça do corpo, da
igreja...”. Colossenses 1:18. Note cuidadosamente que é para “a paz de Cristo”
que somos chamados em um só corpo (a igreja). Desde que idealmente a Igreja é
composta de todos aqueles que foram salvos e têm, portanto, paz com Deus, a paz
da profecia. É o lugar para preservar a salvação.
Cabe, no entanto, destacar que a Igreja, não pode ter a mesma paz do
mundo, nem a que o mundo oferece, pois a paz de Cristo é diferente: “Deixo-vos
a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo” João 14:27. A paz
de Deus excede todo o conhecimento (Filipenses 4:7), pois o mundo não conhece e
nem conhecerá essa qualidade de paz enquanto não tiver aceitado o glorioso
Projeto de Deus.
Dentre o fruto do Espírito, o que segue ao amor é justamente esta
qualidade que deveria idealmente ser encontrada na Igreja, ou seja, amor em
primeiro lugar, em ordem prioritária, paz em segundo lugar. Paz no Corpo de
Cristo. Jamais brigas e politicagem por cargos administrativos, brigas entre
irmãos, jamais (Hebreus 12:14).
O Projeto de Deus poderia muito bem se chamar Projeto Ekklesia, pois ele
foi idealizado pelo Criador desde o mesmo momento em que o homem pecou, desde o
momento em que Deus
viu no coração do homem a terrível marca do medo. Medo é pecado, como é pecado
apelar para o medo e trazer assim pessoas para a igreja. As pessoas que estão
na igreja porque estão com medo do inferno, não tem a paz de Deus. O verdadeiro
motivo para estar no Corpo é porque encontraram a paz e não o medo. Você já
percebeu que muitas pessoas tomam suas decisões por causa do medo: medo de
ficar só, medo de ficar pobre, medo de perder o trabalho, em fim, é o medo que
tomou o controle e não é mais a paz e liberdade que temos em Cristo.
O Projeto Ekklesia estava no coração do Pai, e Cristo disse: Edificarei a
minha Igreja, dando assim cumprimento a profecia. Uma simples comparação entre
dois textos, explicam porque o Projeto Ekklesia era desde o começo um Plano de
Deus.
Não vamos nos aprofundar demais nesta aula sobre a Igreja, pois há uma
disciplina completa “Eclesiologia” que tratará do tema em todos os seus
aspectos.
04 - UM ESTUDO DE
HEBREUS 6:4-6
Apostasia
Recuperável?
O Texto a seguir foi extraído de: Hebreus
– Introdução e Comentário, de
Donald Guthrie, Editora Mundo Cristão, 1983, páginas 132 até 137.
Que há uma conexão específica entre a declaração que acaba de ser feita e
a discussão acerca da apostasia fica claro por causa da conjunção: pois
(grego = gar). Há pelo menos uma possibilidade teórica de que a maturidade
espiritual possa revelar-se inatingível. É importante para uma compreensão
verdadeira deste versículo reconhecer este contexto. É igualmente importante
notar que a declaração depende do cumprimento de uma condição, conforme
demonstra a cláusula com “se” no v. 6.
As várias maneiras que este autor (de Hebreus) adota no uso da palavra
impossível (adunaton) são instrutivas. Aqui, emprega-se para a impossibilidade
do arrependimento em certas circunstâncias; em 6:18, acerca da impossibilidade
de Deus revelar-Se falso; em 10:4, acerca da incapacidade do sangue dos animais
de remover o pecado; e em 11:6, acerca da impossibilidade de agradar a Deus sem
fé. Em cada caso, não há provisões para um meio-termo. Todas estas declarações
são absolutas. A presente declaração, no entanto, é a que causa mais dificuldade
e pode ser corretamente compreendida somente quando todas as facetas do caso
forem examinadas na sua totalidade. Há quatro verbos para descrever os sujeitos
da impossibilidade: (i) iluminados (phõtisthentas), (ii) provaram
(geusamenous), (iii) se tornaram participantes (metiochous
genêthentas), (iv) provaram a boa palavra (kalon geusamenous).
Aparentemente, os três últimos verbos visam tornar claro o sentido em que o
primeiro é usado. A idéia da iluminação é característica do Novo Testamento em
relação à mensagem de Deus ao homem (cf. também 10:32 nas outras passagens
sobre a apostasia). Isto é especialmente verdadeiro no que diz respeito ao
Evangelho segundo João em
que Jesus declara ser a luz do mundo (8:12; cf. 1:9). Outro
paralelo é 2 Coríntios 4:4, que diz; “o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho
da glória de Cristo”. Sempre que a luz tem brilhado nas mentes individuais, tem
vindo alguma compreensão da glória de Cristo. (Bruce, em Commentary on the Epistle to the Hebrews,
New London Comentary, London, 1965, página 120) acha tentadora a opinião de que
a iluminação se refira ao batismo e ao provar a eucaristia, mas aceita,
especialmente neste último caso, uma referência mais ampla também. (Hugles em A
Commentary on the
Epistle to the Hebrews, Grand Rapids, 1977, página 208) cita exemplos
de escritores patrísticos que adotaram este tipo de interpretação. Ele mesmo,
porém, prefere um sentido metafórico, i.é, o sentido de experimentar a bênção.
Aqueles que são referidos aqui, portanto, devem ter alguma revelação inicial de
Jesus Cristo. Este conceito é reforçado pelas outras três declarações que são
feitas.
A idéia de provar o dom celestial subentende mais do que um
mero conhecimento da verdade. Subentende a experiência dela. Este é um uso
lingüístico do Antigo Testamento (cf. Sl 34.8). No Novo Testamento, 1 Pedro 2:3
contém a mesma idéia. Há um desenvolvimento entre saber acerca do alimento, até
mesmo gostar da aparência dele, e realmente prova-lo. Ninguém pode apenas
fingir provar um alimento. Naturalmente, nem sempre o provar é agradável, e no
caso hipotético que o escritor esta supondo, claramente não o era. O dom
celestial não foi apreciado.
Mas o que significa esta expressão? Em nenhuma outra parte do Novo
Testamento “o dom celestial” (Tes doreas tes apouraniou) é mencionado, embora a
idéia de um dom de Deus ocorra várias vezes, principalmente em relação ao
Espírito Santo (cf. At. 10.45; 11.17). Noutros casos, é ligado com a graça de
Deus (Rm 5.15; Ef 3.7; 4.7), onde abrange a totalidade da dádiva da salvação.
Na presente declaração, o conteúdo do dom não é definido, mas a sua origem não
fica em dúvida. Embora
tenha sido sustentado que “celestial” descreve, não a origem, mas, sim, a
esfera em que o dom exercido, ainda demonstraria que o dom não é de feitio
humano. Deve ser notado que a palavra usada aqui para “dom” é usada
exclusivamente para dons espirituais no Novo Testamento.
A terceira declaração está estreitamente vinculada com a anterior, porque
o tipo de pessoa que o escritor está imaginando consiste daqueles que se
tornaram participantes do Espírito Santo, o que se harmoniza com o dom do
Espírito. Mesmo assim, é provável que isto seja visto como um aspecto
distintivo na sua experiência. Já encontramos a palavra para “participantes”
(metochoi) em 1.9; 3.1, 14, e a encontramos outra vez em 12.8. A única outra
ocorrência da palavra no Novo Testamento é em Lucas 5.7, onde significa:
“companheiros”. Visto que em 3.1 o escritor está se dirigindo àqueles que
participam da vocação celeste, o mesmo sentido deve ser pretendido aqui. A
idéia de participar do Espírito Santo é notável. Isto imediatamente distingue a
pessoa daquela que não tem mais do que um conhecimento superficial do cristianismo.
A quarta declaração: e provaram a boa palavra de Deus,
introduz ainda outro aspecto da experiência cristã. A repetição da metáfora do
“provar” demonstra a importância que o escritor ligava a ela. Mas desta vez é
uma questão de provar a “bondade” (kalon), palavra esta que incorpora em si
alguma noção de beleza. Inclui a atratividade bem como a bondade moral. É
contrastada com o mal em 5.14. Descreve uma boa consciência em 13.18. É algo
altamente desejável. Isto se encaixa bem com a metáfora. É agradável ao
paladar. Além disso, não é por acidente que o que é provado não é a própria
palavra de Deus, mas, sim, a sua bondade. A distinção é importante. É possível
abordar a palavra de Deus de modo sincero, mas sem efeito. No presente caso, os
que provaram a bondade estavam bem imersos na experiência cristã. A frase
descritiva “palavra de Deus” (Theou rhema) ocorre outra vez em 11.3 e nalguns
outros lugares no Novo Testamento, mas não é tão freqüente quanto a expressão
mais geral, porém paralela (logos tou Theou), que ocorre nesta Epístola em 4.12
e 13.7. A presente frase chama a atenção mais a uma comunicação específica de
Deus do que a uma mensagem geral de Deus. De fato, pode, mais provavelmente,
referir-se à experiência de Deus que a pessoa conhece na conversão, quando a
maravilhosa condescendência de Deus para com os pecadores raia sobre a alma em
toda a sua beleza resplandecente.
Mas o provar também chega “a bondade dos poderes do mundo vindouro” que
parece uma idéia estranha. Se a era do porvir ainda é futura, conforme sugerem
as palavras (mellontos aionos), não pode ser que o escritor quer referir-se a
uma esperança remota. Visto que emprega “estes últimos dias” (1.1) para denotar
os dias da inauguração do Messias, é bem possível que aqui esteja pensando no
antegozo presente de uma experiência que não chegará ao seu clímax até à
segunda vinda. De qualquer maneira, está mais interessado nos poderes da era
vindoura, o que sugere a operação das mesmas influências poderosas que terão
pleno domínio naquela era futura.
Finalmente, a parte condicional da frase aparece: “se então
cometerem a apostasia” (no grego, o condicional é expresso por um
particípio: parapesontas – ARA: e caíram). A declaração que segue é aplicável
somente quando a experiência da iluminação e da participação é ligada com uma
apostasia completa (conforme é indicado pelo tempo do aoristo). A idéia da
apostasia é expressa por um verbo que ocorre exclusivamente aqui no Novo
Testamento. O significado da sua raiz é “cair para o lado”, i.é, o desvio de um
padrão ou caminho aceito. A declaração subseqüente neste caso torna clara a
natureza irrecuperável da apostasia. É dito que de novo estão crucificando para
si mesmo o Filho de Deus, e o verbo composto empregado (anastaurountas)
demonstra que o escritor está pensando em uma repetição da crucificação. Não
poderia ter expressado a seriedade da apostasia em termos mais enfáticos ou
mais trágicos. Enquanto pensa naquilo que os inimigos de Jesus fizeram a Ele,
até mesmo vê aqueles que se desviam dEle como igualmente responsáveis. Talvez
esteja pensando que tais apóstatas seriam mais culpáveis do que àqueles que
originalmente clamaram “crucifica-o”, que nunca conheceram coisa alguma acerca
da maravilhosa graça de Deus através de Cristo. Qualquer pessoa que voltasse do
cristianismo para o judaísmo se identificaria não somente com a descrença
judaica, como também com aquela maldade que levou a crucificação de Jesus. As
palavras para si mesmos ou “por conta própria” tornam claro que devem assumir a
plena responsabilidade pela crucificação. Além disto, o escritor explica que o
efeito desta ação é este: expondo-o (a Cristo) à ignomínia (paradeigmatizontas,
outra palavra achada somente aqui no Novo Testamento). Não poderia haver
maneira mais vívida de identificar a posição dos apóstatas com aqueles cujo
ódio a Cristo os levou a exibi-Lo como objeto de desprezo numa odiada execução
romana. A condenação destas pessoas é tão forte que nada senão a atuação mais
grave da parte deles poderia explica-la. Subentende uma atitude de hostilidade
incessante.
Esta passagem tem causado extensos debates, e tem resultado em muitos
mal-entendidos. O problema principal é se o autor está dando a entender que um
cristão pode cair tão longe da graça até o ponto de ser culpado do pior delito
possível contra o Filho de Deus. Se a resposta for “sim” como explicamos
aquelas outras passagens que sugerem a segurança eterna dos crentes? As
seguintes considerações podem ajudar a compreender a mente do escritor a esta
altura:
1. Calvino, convicto de que Deus vigiava Seus eleitos, somente podia supor
que o ato de “provar” mencionado aqui era meramente uma expressão parcial e que
as respectivas pessoas não corresponderam a ela (Calvino, Comm., pág. 76). A
dificuldade com semelhante hipótese é que não está à altura das palavras da
Epístola, que não dão impressão de iluminação incompleta. Calvino fala de
alguns vislumbres de luz. Faz uma distinção entre a graça recebida pelos
réprobos e a que é recebida pelos eleitos. (Calvino, Institutas, III, ii, 11).
2. Do outro lado, pode ser alegado que, tendo em vista as declarações desta
Epístola, permanece a possibilidade para qualquer crente apostatar da mesma
maneira descrita aqui? Isto tornaria menos certa qualquer garantia da fé. Até
mesmo tem sido sugerido que a severidade da advertência aqui talvez forma
ligação com o pecado imperdoável contra o Espírito Santo. Alguns têm ficado
profundamente perturbados, perguntando-se se já teriam cometido semelhante
pecado. Mas ninguém com um estado de mente tão endurecido até o ponto de expor
o Filho de Deus à ignomínia se preocuparia em qualquer momento com uma questão
desta natureza. A própria preocupação é evidência de que o espírito Santo ainda
está ativo.
3. Deve ser levado em conta que nenhuma indicação é dada nesta passagem de
que qualquer dos leitores tinha cometido o tipo de apostasia mencionada. Parece
que o escritor está refletindo sobre um caso hipotético, muito embora, na
natureza do argumento inteiro, deve ser suposto que era uma possibilidade real.
A intenção, claramente, não é fazer uma dissertação sobre a natureza da graça,
mas, sim, dar uma advertência nos termos mais enfáticos possíveis. A passagem
inteira é vista do lado das responsabilidades do homem e deve, portanto, ser
considerada limitada. Outras palavras, o lado divino deve ser contrastado com
esta passagem para ser obtido um equilíbrio verdadeiro.
4. A passagem, além disto, declara a impossibilidade em termos de restaurar
os transgressores a uma nova condição de arrependimento (vv. 4-6). Surge a
pergunta acerca do escopo do arrependimento aqui. Refere-se ao ato inicial de
um homem quando vem a Deus, no sentido em que parece ser usado no v.1? Se for
assim, é claramente impossível uma segunda realização de semelhante ato
inicial, embora seja certamente possível lembrar-se dele. Visto que o
arrependimento é um ato que envolve a auto-humilhação do pecador diante de um
Deus santo, fica evidente porque um homem com uma atitude de desprezo para com
Cristo, não têm possibilidade de arrependimento. O processo do endurecimento
fornece uma casca impenetrável que remove toda a sensibilidade para com o
pleitear do Espírito. Chega-se a um ponto de nenhum retorno, quando, então, a
restauração é impossível. Embora o escritor esteja expondo um caso extremo, tem
confiança nos seus leitores (v. 9). A pesar disto, acha necessário voltar a
advertir severamente no cap. 10.
O texto a seguir foi Extraído da Enciclopédia
O Novo Testamento Explicado, de R. N. Champlin, Editora Candeia, 1998, vol.
5, págs. 537-540.
«...É impossível... » O que é impossível? A restauração dos apóstatas. O
que é possível para o crente? A apostasia. Essas são as idéias do autor
sagrado. E essa é a única interpretação honesta. É inútil, por exemplo, vermos
qualquer exceção a isso, observando-se que, no sexto versículo, onde aparece o
verbo principal («...e caíram... »), a idéia está condicionada à ação maligna
de haverem «crucificado ao Filho de Deus». Esta ação está apresentada no
particípio presente, que pode ser traduzido como «enquanto crucificam ao Filho
de Deus», o que poderia indicar que, se abandonarem tal atitude, sua renovação
é possível. Seria uma observação vâ dizer que «É impossível renovar os
apóstatas enquanto persistirem em crucificar novamente a Cristo, com sua
rebeldia». Isso é tão obvio que nem mereceria atenção. Mas o que precisa ser
mencionado é que é «impossível» renovar os apóstatas, e que os verdadeiros
crentes podem apostatar. E é exatamente esse o aspecto que dá a esta passagem
sua urgência particular. Portanto, a tradução correta seria: «...É impossível
restaurar ao arrependimento aqueles que antes foram iluminados... se cometerem
apostasia, posto que assim crucificam ao Filho de Deus, para seu próprio
detrimento, expondo-o à ignomínia... ». Esse é o sentido claramente tencionado pelo
autor sagrado. Ele meramente expressava uma comum interpretação rabínica, com
base em Num. 15:28 e ss., onde se vê que havia perdão para os pecados de
ignorância, através de sacrifícios cruentos, mas não havia perdão para pecados
«voluntários» ou de «presunção», mediante aqueles sacrifícios. Naqueles casos o
indivíduo era «cortado» de Israel, sem qualquer remédio. Que nosso autor tem em
mente essa tradição é evidente com base em Heb. 10:26, onde ele menciona
especificamente a «fatalidade» do «pecado voluntário». Para tal pecado não
havia sacrifício – ficava fora do alcance expiatório dos sacrifícios. O que
resta é apenas uma espera temível pelo juízo e pela indignação divina. Se os
interpretes ansiassem por interpretar o autor sagrado com base no que ele provavelmente
cria, devido suas conexões com a tradição judaica, e não com base no que «ele
teria dito, para concordar com nossa teologia», não haveria dificuldade e nem
confusão em torno deste texto. Naturalmente, o problema seguinte é: O autor
sagrado estava com a razão? Em resposta a isso observamos que ha alguns
conceitos do A.T. (como o presente) que o N.T. ultrapassou. A idéia inteira do
julgamento é exemplo disso. O conceito judaico era tremendamente duro e
inflexível, sem admitir qualquer modificação ou exceção. E há passagens do N.T.
que refletem isso. Mas há outras passagens, como as de I Ped. 3:18-20; 4:6;
Fil. 2:9-11 e o primeiro capitulo da epistola aos Efésios, que vão além dessa
posição, mostrando que o Verbo eterno tem um alcance remidor que lança raios de
esperança que iluminam o inflexível conceito de julgamento. É claro que isso
não inclui a restauração de todos a uma posição igual à dos eleitos, mas indica
que o julgamento envolveria mais do que mera retribuição – também tem aspectos
disciplinadores e restauradores, até onde isso agradar a Deus, a fim de que
tudo redunde na glória de Cristo. O trecho de Efe. 1.10, que alude ao «mistério
da vontade de Deus», alude a esse tipo de interpretação. Mas esse é um conceito
extremamente sublime do N.T., que ultrapassa à visão do A.T. Assim, no presente
contexto, embora o autor sagrado demonstre uma visão puramente judaica, sobre a
total impossibilidade de recuperação dos apóstatas, contudo, há outras
passagens do N.T., como aquelas que falam sobre a segurança final e necessária
daqueles que confiam em Cristo (segundo se vê no décimo capítulo do evangelho
de João e no oitavo capitulo da epístola aos Romanos), que lançam um raio de
esperança sobre o caso ate mesmo dos apóstatas.
O Progresso da
Doutrina
1. Por que nos surpreenderíamos que um escritor do N.T. soubesse mais
acerca de alguma questão ou doutrina espiritual do que outro? Por que teríamos
de pensar que todos eles se achavam no mesmo nível de conhecimento? Admitimos
livremente, que o N.T. transcende ao A.T. quanto ao conhecimento e à profundeza
espirituais. Porventura Paulo não conhecia mais que os demais apóstolos, a
respeito da graça e do destino humano, em Cristo?
2. Se esse é o caso, então é possível que o autor da epístola aos
Hebreus, na idéia que formava sobre a apostasia, como algo não somente possível
a um verdadeiro crente, mas também absolutamente fatal e sem remédio, não
tivesse tão completa visão do poder e da misericórdia de Cristo, como se
depreende de outros trechos do N.T.
3. É insensatez distorcer o texto presente, fazendo-o ensinar algo que
ele não ensina, a fim de «reconciliá-lo» com outros trechos bíblicos. Isso
faz-nos pensar no trecho de Num. 15:28 e ss., o qual, até onde posso ver, tem
seus conceitos ultrapassados nas páginas do N.T.
4. O poder de Cristo aparece como algo grandioso, na epístola aos
Hebreus. Na realidade, porém, ainda é maior do que ali se retrata. Outras
passagens do N.T. existem que nos fornecem visões que ultrapassam, em muito, ao
entendimento refletido por essa epístola, quanto a certas particularidades. O
autor sagrado, apegando-se a idéias judaicas, cria que um verdadeiro crente
pode apostatar. Aferrado a essa mentalidade, ele via fatalidade absoluta na
apostasia. Outras passagens do N.T. concordam com ele – a apostasia é possível
(ver I Cor. 9:27, corretamente compreendida; e ver também Col. 1:23). Essa
tradição e tão sólida no N.T. que sua veracidade precisa ser admitida. Porém, o
novo pacto também frisa a idéia da eventual «segurança» para aqueles que
conhecem a Jesus Cristo como seu Salvador. De alguma maneira, Cristo nunca
permitira que se percam. Isso envolve uma eventual restauração, ou nesta esfera
terrena ou em algum campo espiritual, onde o Verbo eterno os buscara. Mas,
embora essa seja a verdade, não devemos permitir que tal fato suavize a
advertência contra a apostasia. Pois esta é possível; e ela leva a alma à
agonia e ao desastre, mesmo que a graça de Deus venha eventualmente a
aliviá-la.
As Muitas
Interpretações Sobre Essa Passagem
Qual é a interpretação da presente passagem? Antes de apresentarmos a
exposição geral sobre a dificílima passagem dos versículos quarto a sexto deste
capitulo, consideremos os diversos tipos de interpretação que se tem vinculado
à mesma:
5. Ainda dentro do campo calvinista, temos a interpretação hipotética.
Segundo essa interpretação, as advertências constantes na epístola aos Hebreus,
incluindo a presente, visam «crentes verdadeiros», mas meramente advertiriam
contra a apostasia, usando essas advertências para «assustar» aos crentes.
Porém, ao analisarmos de perto a questão, ainda segundo essa interpretação, nenhuma
apostasia seria de fato possível. E as próprias advertências serviriam de
instrumentos para impossibilitar a apostasia. Portanto, a apostasia seria
apenas algo «hipotético». Essa interpretação, naturalmente, é totalmente
ridícula. Faz com que o autor sagrado pareça um escritor desonesto. Este faria
advertências, mas estas seriam apenas pílulas de açúcar, fantasmas terríveis,
mas, sem qualquer substância real, embora tenham o poder de aterrorizar as
pessoas. Com razão, pois, até mesmo a maioria dos próprios calvinistas repele
essa noção.
6. Ainda dentro do campo calvinista: Há aqueles
que dizem que esses avisos se destinam aqueles que tem muitas vantagens, como a
criação em um lar crente, o terem sido batizados na idade infantil, o terem
freqüentado escolas cristas, mas que, chegados a idade adulta, tomam suas
próprias decisões, revoltando-se contra seus pais e seus mestres, abandonando a
fé crista. Naturalmente, esses nunca foram verdadeiros crentes. Mas, apenas
gozaram de vantagens próprias dos crentes. Essa interpretação equivale as de
numero três e quatro, embora com a leve distorção que estaríamos tratando com
membros jovens das igrejas, que finalmente se revoltam, ao chegar o tempo de
assumirem responsabilidade diante de Deus. Pouquíssimos intérpretes levam a
sério essa interpretação. Nada há no contexto que sugira tal refinamento.
9. Alguns supõem que a possibilidade de queda é uma realidade, mas que o
juízo prometido para os que caem não e o juízo eterno, e, sim, alguma severa
disciplina da parte de Deus. Isso significaria que aqueles que caem não deixam
de ser crentes, em qualquer sentido absoluto. Mas isso obviamente não está em
foco no presente texto. A passagem de Hebreus. 10:27 mostra-nos que os
apóstatas (e os referidos como tais realmente tinham apostatado) só podem
esperar o temível fogo da indignação divina como sua sorte. Certamente está em
foco o julgamento eterno. «Horrível cousa é cair nas mãos do Deus vivo»
(Hebreus. 10:31).
a. A que admite a interpretação arminiana: é possível a queda, e todos os
crentes enfrentam esse perigo.
b. A que admite a interpretação calvinista: a segurança do crente e uma
realidade, e haverá de caracterizar finalmente a todos os remidos.
c. Portanto, a queda é algo relativo a experiência da alma, antes de
serem traçadas as linhas eternas, quando do juízo, por ocasião da «parousia» ou
segundo advento de Cristo.
Notemos que tais linhas serão traçadas quando da segunda vinda de Cristo,
e não por ocasião da morte física (o que e comentado em I Pedro. 4:6), Portanto,
até aquela oportunidade, sem importar se alguém se acha no campo físico ou
espiritual, a restauração da alma é possível.
d. A segurança é absoluta porque, finalmente, deverá caracterizar a
pessoa que se entregou confiantemente aos cuidados de Cristo.
e. O ofício remidor pertence ao Verbo eterno, e não meramente a ele ao
encarnar-se nesta esfera terrena; portanto, ultrapassa as barreiras do tempo e
do espaço. Os trechos de I Pedro. 3:18-20; 4:6 e o primeiro capítulo da
epistola aos Efésios ensinam tal necessidade, e não meramente a deixam
implícita. O que foi dito aqui concorda com as linhas mestras de interpretação
encontradas nos pais gregos e alexandrinos da igreja, como Justino Mártir,
Pantaeno, Clemente de Alexandria e Orígenes, embora não tivessem expressado a
questão exatamente com esses termos. Apesar de não termos resposta
absolutamente certa para uma passagem como a presente, essa linha de pensamento
parece ser a abordagem mais frutífera de todas. O próprio autor sagrado,
entretanto, quis ensinar o que é expresso na segunda dessas dez posições. E
ainda há outras interpretações que mesclam ou modificam aquelas que são aqui
apresentadas.
Cotton (in loc.), reconhecendo o fato evidente que o autor sagrado não
aceitava a renovação após a apostasia como algo possível, diz o seguinte: «Tal
é o claro sentido do escritor sagrado. Que se pode dizer sobre ela? Atitude vai
a questão da apostasia sob perseguição, a igreja cristã não tem seguido o autor
sagrado, mas antes, tem feito provisão para os caídos que depois se
arrependeram, o que deu origem a instituição da penitência. Na prática, a
igreja deixou de lado esta passagem. Podemos transformá-la em um vespeiro de
argumento teológico – para a nossa vergonha». (Em seguida Cotton
mostra a futilidade dos argumentos comumente aplicados ao texto, ao dizer): «Se
um homem realmente cai, e porque nunca participou deveras dos benefícios
mencionados nos versículos quarto e quinto. Se ele realmente participou desses
benefícios, então é que realmente nunca caiu, sem importar quais sejam as
aparências externas. Se, após uma queda aparente, ele volta em penitência e
manifesta os sinais de uma vida cristã fiel, realmente nunca caiu. Todo esse
argumento é um circulo vicioso e fútil».
Mas, finalmente, Cotton lança luz sobre a passagem, embora admitindo a
sua severidade: «Nada existente nesta passagem deve levar-nos a duvidar da
total misericórdia de Deus; pois, do contrario, esta passagem destruiria o
evangelho. É verdade que abusamos de Jesus quando pecamos. Mas o Senhor Jesus
pode tolerar o ridículo. Ele orou por aqueles que zombavam de seus sofrimentos,
na cena da cruz: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem"
(Luc. 23:34). Pedro, um dos discípulos favoritos, que certamente estava
qualificado, se alguém já o esteve, para os benefícios alistados pelo autor
sagrado nos versículos quarto e quinto, também submeteu seu Senhor ao opróbrio.
Contudo, depois disso foi recebido por Jesus, foi perdoado e se tornou pregador
do dia de Pentecostes, um dos lideres da igreja. Deus nunca fará ouvidos surdos
para o clamor sincero da fé, por mais que tenhamos pecado. Jesus ensinou a seus
discípulos que perdoassem ate "setenta vezes sete" (ver Mateus.
18:22)... Não admira que os apóstolos tivessem clamado: "Aumenta a nossa
fé" (ver Lucas. 17:5). Mas Jesus falava em favor de Deus, e Deus cumpre as
suas promessas. Por conseguinte, quando qualquer pecador hesitante, sem
importar quão profundamente tenha caído, e impedido de penitenciar-se, por esta
passagem, ou por qualquer outra declaração da Bíblia, e que não estaremos
"manuseando corretamente a palavra da verdade" (ver II Timóteo.
2:15). Esse autor, pois, diz indiretamente aquilo que digo diretamente neste
comentário. Ele lança a luz de outras passagens neotestamentárias sobre a
questão, e vê nisso uma constante e grandiosa esperança. Qual e a significação
histórica desse tema da impossibilidade de arrependimento para os apóstatas?
Esse tema é um dos assuntos distintivos deste tratado, e que só ocupa o segundo
lugar antes do ensinamento sobre o sumo sacerdócio de Jesus Cristo. (Ver também
Hebreus. 2:2, 3; 10:26 e ss.; 12:25 e ss., quanto a instâncias em que tal
ensino é encontrado). A epístola aos Hebreus, acima de qualquer outro livro do
N.T. enfatiza o sacerdócio de Cristo (que é seu tema principal); e, além de
outras coisas, ressalta a fatalidade da apostasia. Tertuliano, o montanista, e
outras seitas rigorosas da igreja cristã, têm usado esta passagem como «texto
de prova» para seu costume de se recusarem a aceitar de volta na igreja os que
se haviam «desviado», embora esse lapso tenha ocorrido debaixo de perseguição.
(Quanto ao uso desta passagem pelas controvérsias montanista e novaciana, ver
Tertuliano, de Pudc., cap. XX). Porém, a correnteza principal da igreja se
recusou a permitir esse costume, recebendo de volta aqueles que se tinham
desviado; mas não os rebatizavam, supostamente encontrando nesta passagem uma
base para isso. (Ver Atanasio, Ep. ad Serap., §13, vol.). É possível que o
autor sagrado concordasse com a idéia que o «desejo de ser reintegrado», após o
lapso, é prova de que não houve verdadeira apostasia. Porém, não podemos ter
certeza a esse respeito.
Qual é a base desse
ensinamento?
Tal alicerce se acha na interpretação única, justificada em Num. 15: 28 e
ss. Mas o autor sagrado, em sua forte fase sobre o aspecto de «finalidade» da
revelação divina, em Cristo, bem raciocina que se uma revelação é final, mas
chega a ser rejeitada, nada mais existe para onde possa ir um homem. Terá
rejeitado a única esperança, não havendo razão para supormos que retornará a
uma esperança que ele mesmo rejeitou. Ele não atribui essa impossibilidade ao
lado divino; ou pelo menos, isso não se evidencia no texto sagrado. Antes,
parece que a impossibilidade reside na própria pessoa. Aquilo que um nem se
recusa continuamente a fazer, não querendo obedecer à vontade de Deus,
finalmente se torna para ele uma «impossibilidade moral», não porque Deus assim
o decrete, mas porque já perverteu seu próprio senso moral até chegar a total
insensibilidade. Qual é a relação que tem esse pecado de apostasia com o pecado
imperdoável, referido em Mateus. 12:31, 32? (Ver as notas expositivas nessa
referência, a respeito do «pecado imperdoável»). Se tomarmos a posição de que
este pecado é uma forma agravada de rebelião contra Deus e seu Cristo, uma
espécie de produto final da revolta humana contra o Senhor, e que chegou ao
extremo da apostasia, então certamente esses dois ensinamentos paralelos.
Porém, se assumirmos o ponto de vista «dispensacional», que diz que o pecado
imperdoável só podia ser cometido nos dias de Jesus na carne, exigindo a sua
presença, quando os homens atribuíam suas obras miraculosas ao poder de
Satanás, então não haverá qualquer paralelismo, exceto em atitude, entre esta
passagem e o «pecado imperdoável», que aparece nos evangelhos sinópticos. Este
comentário toma a posição que o pecado imperdoável» só podia ser cometido por
pessoas da época de Jesus, que viram pessoalmente o seu ministério e o
rejeitaram, atribuindo tudo a Satanás. Outrossim, é duvidoso que os piores
inimigos de Jesus tivessem sido suficientemente iluminados quanto à «origem»
das obras de Jesus, de modo a entenderem, pelo menos intuitivamente, que ele
realmente provinha de Deus. Assim sendo, é até mesmo possível que ninguém tenha
jamais, cometido o pecado imperdoável. Consideremos o caso de Saulo de Tarso.
Quem, dentre todos os inimigos de Jesus, foi tão amargo quanto ele, tão
inclinado às blasfêmias? Contudo, é obvio que ele nunca se tornou culpado desse
pecado. Julgo que ninguém jamais o cometeu, embora fosse possível.
Provavelmente, pois, não há qualquer conexão entre esta passagem do sexto
capitulo da epistola aos Hebreus e o «pecado imperdoável» que aparece nos
evangelhos sinópticos. «A conexão entre esta passagem e a anterior, portanto, é
que se alguém ficar satisfeito com sua presente e elementar possessão da
verdade cristã, e que a entende de modo inadequado; a força da tentação é tão
forte que essa familiaridade rudimentar não impedira que alguém caia; e aquilo
que assegura a posição religiosa de alguém consiste em ver o pleno sentido do
que Jesus é e faz. Esse é o sentido que o autor sagrado anelava por transmitir,
e não como coisa extra, e, sim, como algo essencial. Essa situação é tão séria,
deixa ele entendido, que somente aqueles que percebem plenamente o que Jesus
significa, no campo do perdão e da comunhão serão capazes de manter-se firmes.
E uma vez que alguém se torne relapso, argumenta ele, uma vez que abandonamos a
fé, isso é fatal. As pessoas que deliberadamente abandonam sua confissão de fé
cristã não podem mais ser recuperadas. Tal ponto de vista sobre a apostasia,
como ofensa hedionda, já que destrói toda a esperança de recuperação, e
característica deste tratado (aos Hebreus). Mas essa posição não se confina a
este autor sagrado. A idéia que certas pessoas não podiam arrepender-se de seus
pecados era admitida já pelos rabinos judeus. Por muitas e muitas vezes
encontramos a declaração: "Para aquele que peca, e leva outros a pecarem,
nenhum arrependimento é permitido ou é possível" (Aboth, v. 26; Sanhedrin,
107b). "Aquele que se entregou totalmente ao pecado é incapaz de
arrepender-se, não havendo perdão para o tal, para sempre" (Midrash Tehillim
sobre o Salmo 1 ad ! fin.). (Moffatt, in loc., o qual compreendeu bem a
mensagem do presente texto). Essa atitude vai além do que diz Filo, o qual
admite o perigo de quem não é aprovado em qualquer empreendimento moral, mas
que nunca condena a quem tiver assim falhado à impossibilidade de recuperação.
(Ver , de agricultura, 2S, comentando sobre Gen. 9:20). As pessoas aqui
advertidas são crentes: Isso é patenteado pelo próprio fato que as coisas aqui
alistadas são características dos crentes (iluminação, prova, etc.), como
coisas paralelas aos «princípios elementares» do cristianismo, referidas nos
versículos primeiro e segundo. Aqueles que são aqui aludidos já tinham ouvido e
já participavam dessas bênçãos. Portanto, eram crentes. Não há qualquer indício
que fossem «pseudocrentes», que tivessem sido iluminados, mas que tivessem
ficado sem a regeneração. Isso é estranho ao contexto e a mentalidade do autor
sagrado, sendo idéia diretamente contrária a própria tese deste tratado, que
visa advertir a crentes que se desviavam e que corriam o perigo de apostatar.
Qual é a natureza da apostasia em foco? Apesar de que a apostasia aqui
aludida certamente e «doutrinária» e «espiritual», visto que envolvia a negação
de Cristo e de sua missão, é óbvio que isso é visto como algo «provocado» pelo
desvio e pelo retrocesso moral. Toda a epístola aos Hebreus, até este ponto,
serve de prova a esse respeito. O autor sagrado já mostrara que seus leitores
tinham de progredir na inquirição espiritual, pois, do contrário, estagnariam,
desviar-se-iam, e, em seguida, apostatariam. Portanto, o aspecto «moral» está
incluído. Não se tratava de mera negação «doutrinária» de Cristo. Eram ateus na
vida diária, antes de sê-lo nas doutrinas; sua vida era rebelde, antes de se
rebelarem em suas idéias; eram «incrédulos na prática», antes de o serem
teoricamente. «...foram iluminados... » Essas palavras poderiam indicar uma das
seguintes coisas: 1. Ou que foram batizados, visto que o termo «iluminação» era
freqüentemente empregado com o sentido de ser batizado. 2. Ou talvez se refiram
à iluminação do Espírito. 3. Mas também podem estar incluídas ambas as idéias:
a iluminação do Espírito por ocasião do batismo. O uso da palavra «iluminação»,
em alusão ao batismo, era bastante comum na época de Tertuliano, talvez como
termo tomado por empréstimo das religiões misteriosas, que assim denominavam
seus ritos de abluções e lavagens. 4. Sem importar se temos aqui ou não uma
alusão ao batismo, o autor sagrado indica definitivamente uma autêntica
iluminação do Espírito sobre o crente, o qual vem assim a reconhecer a Cristo
como seu Salvador, que é a Luz do mundo. (Ver o trecho de Efe. 1:18 e as notas
expositivas ali existentes, sobre a «iluminação dada pelo Espírito»). Os
intérpretes que fazem essa iluminação não equivaler e ficar aquém da
«regeneração», fazem o texto ser uma zombaria, como se o mesmo não estivesse
falando para crentes e nem se referisse a eles, mas como se tivesse aplicação a
«leitores fantasmas», que não são identificados no tratado e nem tem qualquer conexão
com os crentes que talvez lessem este livro. Não há justificativa, no próprio
texto, que nos permita entender senão que o autor considerava seus leitores
como crentes autênticos. Eram pessoas que tinham saído das trevas do paganismo
para a luz divina, mas que começavam a interessar-se novamente pela sua vida
anterior. Ou então eram crentes judeus que tinham chegado a perceber a real luz
de Deus, em Cristo, prefigurado no A.T., mas que começavam a inclinar-se por
retornar a religião judaica inferior, e, portanto, «sem luz». «Os quais de uma
vez para sempre tinham deixado as trevas de sua vida anterior, tendo sido
iluminados pelo ensinamento do evangelho» (Erasmo, in loc.).
A iluminação e o batismo: O primeiro desses vocábulos é usado para
indicar o «batismo», nos escritos de Justino Mártir (Apol. I.62); Tertuliano
(de Pudic., cap. XX); e Crisóstomo, em sua homilia, que se dirigia aos
candidatos ao batismo: "Aqueles que estão prestes a serem
iluminados". A versão siríaca
peshito, de séculos posteriores, traduz esta passagem como segue: «Os quais de
uma vez por todas desceram ao batismo». Apesar de que o próprio N.T. nunca
chama o batismo de «iluminação», as religiões misteriosas, anteriores ao
cristianismo, já tinham tal expressão, que usavam acerca de seus vários tipos
de «batismos». Portanto, é possível, embora não seja provável, que se pretenda
fazer aqui tal equiparação. E que dizer sobre o testemunho do trecho de Heb.
10:32? Notemos que, nesse referido versículo, é usado o mesmo termo grego para
indicar os cristãos hebreus: «...Lembrai-vos, porém, dos dias anteriores em que
depois de iluminados, sustentastes grande luta e sofrimentos...». É realmente
duvidoso que possamos aplicar a palavra «iluminado» a um incrédulo, a uma alma
«não-regenerada», de acordo com o que se lê no N.T. Excetuando a necessidade
que alguns tem de erigir um sistema teológico no qual não haja problemas – em
que tudo fique em estado de harmonia e reconciliação – nunca teria sido
ensinado que termos como os que se acham nos versículos quarto e quinto deste
capitulo poderiam ser aplicados a incrédulos. Os mesmos termos, achados em
qualquer outra conexão (além daquela que admite a possibilidade da apostasia),
teriam sido reputados por todos nós como aplicáveis exclusiva e obviamente a
crentes. «...uma vez foram iluminados...», isto é, houve um momento especifico
quando foram iluminados, e nesse estado viveram por algum tempo. Algumas
traduções dizem aqui «de uma vez por todas», salientando a realidade (e suposta
«finalidade») da experiência. Esse sentido é possível, segundo se deduz do fato
que vários autores usam o termo grego «apaks» desse modo. (Ver Hipocr. Eph.
27,41; Aeliano, V. H. 2,30; Salmos de Salomão 12:6; Filo, Ebr. 198; Josefo,
Guerras dos Judeus, 2.158; Antiq. 4:140). O trecho de Heb. 10:2 também parece
exigir esse significado.
«...provaram o dom celestial... » Alguns intérpretes chegam aqui ao
extremo absurdo de estabelecer distinção entre «provar» e «beber», como se
«provar» fosse uma experiência superficial do Espírito, ao passo que «beber»
indicasse uma experiência mais plena e real. Porém, o termo «provar», nos
escritos rabínicos, significa «participação», «experiência em», não havendo
qualquer modificação da idéia. Notemos, em Heb. 2:9, como se diz que Cristo
«provou a morte por todo homem». Porventura ele apenas entrou «parcialmente» no
estado de morte? Sofreu apenas parcialmente pelos homens? A palavra «provar»
indica simplesmente uma verdadeira participação em algo, o que e poeticamente
expresso. Conforme diz Moffatt (in loc.), essa palavra indica uma «metáfora
grega helenista contemporânea para indicar experiência». (Ver Philo, quanto ao
mesmo emprego, em de Abrah ,
19; de Somniis, i.26; e também Josefo, Ant. iv.6,9).
«...dom celestial...» Há um grande numero de estranhas interpretações
sobre essa expressão, a saber: 1. Alguns pensam na Ceia do Senhor, talvez por
sugestão da palavra «provar», tal corno «iluminação» poderia sugerir o batismo.
2. Outros imaginam a eucaristia vista sacramentalmente, como agente que transmite
aos homens o corpo e o sangue de Cristo. 3. A regeneração em geral. 4. A persuasão por aceitar as
condições da vida eterna. 5. A
graça abundante do cristianismo. 6.
A fé. 7. O evangelho. 8. O dom celeste que produz a
iluminação, ou seja, o Espírito Santo. 9. O próprio Cristo (supostamente um
paralelo de II Cor. 9:15). 10.
A vida eterna, vista como algo dado através de Cristo
(ver Rom. 6:23). 11. O infinito amor de Deus. Não há como identificar o que o
autor queria dizer com plena certeza; mas algo como a vida eterna, através de
Cristo, mediante o Espírito adapta-se ao contexto.
«...participantes do Espírito Santo... » (Ver sobre o «dom do Espírito» e
o «batismo do Espírito Santo», nas notas expositivas sobre Atos 2:4; ver a nota
de sumário sobre o «Espírito», em Rom. 5:1). A questão de terem eles
«participado» do Espírito significa que, tendo-se convertido, chegaram a ser
habitados pelo Espírito, indicando que foram «dotados» por ele. Notemos que, no
segundo versículo deste capítulo encontramos a «imposição de mãos», mediante o
que o Espírito era dado, e através da qual ação os homens são espiritualmente
«dotados». Tais coisas faziam parte do cristianismo «elementar». Portanto, não
há razão alguma para supormos que esteja em foco qualquer coisa menor que a
presença habitadora e os dons espirituais. No Espírito lhes foram dados todos
os recursos necessários para a vida santa e para o sucesso final na inquirição
espiritual. Porém, a rejeição voluntária de Cristo pode reverter todas essas
bençãos, já que o Espírito Santo é o alter ego de Cristo, permanecendo somente
com aqueles que lhe são fieis. Não há aqui qualquer indício direto de algum
«pecado contra o Espírito Santo» (o «pecado imperdoável» que figura nos
evangelhos sinópticos – ver Mateus. 12:31,32). Mas o autor sagrado acreditava
definitivamente que «pecar» é desviar-se, o que leva à apostasia, exclui o
Espírito.
O Espírito Santo é o agente da totalidade da salvação; ele inspira fé,
leva a conversão e produz a santificação; por igual modo transforma-nos segundo
a imagem moral e metafísica de Cristo. Rejeitar a Cristo, pois, equivale a
perder o ministério do Espírito Santo em todos esses aspectos. O Espírito de
Deus é o agente de todos os benefícios enumerados nos versículos quarto e
quinto deste capítulo.
Em defesa da posição calvinista, vários escritores se têm esforçado por
mostrar que alguns incrédulos, que apenas imitam crentes reais em sua profissão
religiosa, de algum modo «participam» do Espírito Santo, ilustrando com casos
como o de Judas Iscariotes, com a semente que cai sobre o solo rochoso, etc.
Uma vez mais, porém, isso faz com que o texto tenha sido escrito para uma
audiência fantasma, e não para uma audiência real e conhecida (o que é um
absurdo), não reconhecendo o paralelismo entre os versículos quatro e cinco,
por um lado, e primeiro e segundo, por outro, que descrevem como os leitores
tinham participado dos princípios «elementares» do cristianismo. Para esses é
que foi escrito este tratado, pois eram judeus cristãos. Acerca deles é que o autor
sagrado se preocupava e a quem advertia, não visando algum grupo invisível e
desconhecido de pessoas, que por acaso lesse este livro.
Mais duas explicações
para Hebreus 6:4-6
Na forma de Adendo – Ou seja, vertem o parecer dos autores das obras
citadas.
“Aviso contra a apostasia. O pecado voluntário que ameaçava os hebreus consistia em abandonar o Cristianismo e voltar ao judaísmo. Não há nenhum sacrifício em favor dos que apostatam da fé em Cristo — pela alma do homem só existe um único sacrifício, o de Cristo. Ora, se o sacrifício de Cristo é definitivo, também é o último. Rejeitá-lo voluntariamente implica ‘uma certa expectação horrível de juízo e ardor de fogo’. O autor não limita a eficácia da obra de Cristo em favor do penitente. Sob a Antiga Aliança, quem desprezasse a Lei de Moisés era punido com a morte. O mesmo princípio está em vigência, e com maior rigor ainda para quem apostatar da fé, pois constitui afronta a Cristo, à eficácia do seu sangue e um insulto ao Espírito Santo, através de quem a graça de Deus se manifesta sobre os tais pesa o juízo de Deus, do qual ninguém pode escapar”.
(Comentário Bíblico — Hebreus, CPAD, pág. 156).
“Continuar a pecar deliberadamente depois de termos recebido o conhecimento da verdade é: (1) tornar-se culpado de pisar Jesus Cristo, tratá-lo com desprezo e menosprezar sua vida e morte; (2) ter o sangue de Cristo como indigno da nossa lealdade; e (3) insultar o Espírito Santo e rebelar-se contra Ele, o qual comunica a graça de Deus ao nosso coração. ‘O justo viverá da fé’ (Hb 10. 38). Este princípio fundamental, afirmado quatro vezes nas Escrituras (Hc 2.4; Rm 1.7; Gl 3.11; Hb 10.38), governa o nosso relacionamento com Deus e a nossa participação na salvação provida por Jesus Cristo. (1) Esta verdade fundamental afirma que os justos obterão a vida eterna por se aproximarem fielmente de Deus com um coração sincero e crente (ver 10.22). (2) Quanto àquele que abandona a Cristo e deliberadamente continua pecando, Deus “não tem prazer nele” e incorrerá na condenação eterna (vv.38,39)” (Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, pág. 1915).
Mais explicações para
Hebreus 6:4-6
Na forma de Adendo – Ou seja, vertem o parecer dos autores das obras
citadas.
(Hb NTLH 6:4-6)
4 Como é que as pessoas que
abandonaram a fé podem se arrepender de novo? Elas já estavam na luz de Deus.
Já haviam experimentado o dom do céu e recebido a sua parte do Espírito Santo.
5 Já haviam conhecido por experiência
que a palavra de Deus é boa e tinham experimentado os poderes do mundo que há
de vir. 6 Mas depois abandonaram a fé. É
impossível levar essas pessoas a se arrependerem de novo, pois estão
crucificando outra vez o Filho de Deus e zombando publicamente dele.
a) Um apelo urgente para o prosseguimento até à maturidade espiritual (Hb
5.11-6.12)
As verdades concernentes ao sacerdócio de Cristo, segundo a ordem de
Melquisedeque, requerem exposição muito detalhada (11). Tais verdades são
alimento sólido (12-14), que só pode ser compreendido ou digerido pelos que já
estão espiritualmente maduros. O assunto inteiro, portanto, era difícil de ser
esclarecido para aqueles leitores particulares visto que, embora já fossem
Cristãos há bastante tempo, se tinham tornado relaxados e atrasados em sua
resposta à palavra dada por Deus. Note-se os termos tardios em ouvir (#Hb 5.11)
e indolentes (#Hb 6.12); Os oráculos de Deus (#Hb 5.12) provavelmente são
palavras que, neste contexto, significam o Evangelho, cujos rudimentos são
indicados em #Hb 6.1-2. Essa mensagem e as Escrituras do Antigo Testamento são
assim reputados ambos como declarações proferidas por Deus. Cfr. #Rm 3.1-2;
#1Pe 1.23-25. Nos vers. 13 e 14, note-se o detalhado contraste entre os dois
tipos ("adultos" e "bebês"), suas respectivas condições
("faculdades exercitadas" e "inexperiente"), e suas respectivas
dietas ("alimento sólido" e "leite").
>Hb-6.1
Os crentes que se encontram nessa condição atrasada e indolente têm a
urgente necessidade de despertarem-se a fim de avançarem ativamente em direção
à maturidade, em lugar de tentarem repetir o processo de colocar novamente os
fundamentos, isto é, os princípios elementares da doutrina de Cristo (1).
Note-se a natureza básica das ações e doutrinas mencionadas nos vers. 2 e 3.
Elas representam os passos que se espera que o novo convertido dê, bem como as
verdades essenciais que lhe compete crer. A única salvaguarda contra o
escorregar para trás e cair é o prosseguir para a frente. Isso requer ação
deliberada e decisiva. Não obstante, paradoxalmente, deixemo-nos levar (1) está
igualmente num verbo em voz passiva (cfr. #At 27.15-17; #2Pe 1.21). "O
pensamento não envolve primariamente algum esforço pessoal, e, sim, rendição
pessoal a uma ativa influência. O poder está operando; temos apenas de nos
rendermos ao mesmo" (B. F Westcott, Hebrews, pág. 145). Cfr. #Ef 3.20; #Fp 2.13. Desse
modo, o escritor exorta seus leitores a responderem a essa influência externa,
e, no vers. 3, falando a seu próprio respeito, e não sobre outros, expressa a
decisão de assim agir.
>Hb-6.3
Há uma qualificação necessária e muito solene. Os homens só podem agir
assim se Deus permitir (3). Algumas ações, pela própria constituição divina das
coisas, são moralmente "impossíveis" (4). Se os homens participam da
Igreja visível, compartilhando de todas as bênçãos do Evangelho, se (à semelhança
daqueles, por ocasião do livramento às margens do Mar Vermelho, que mais tarde
pereceram mediante a incredulidade, no deserto) têm realmente estado na
companhia de pessoas que têm experimentado as poderosas operações do Espírito
de Deus, e assim têm por si mesmos "provado" (5) de Seu caráter, e
depois deliberadamente se afastam e rejeitam a Cristo, é impossível dar início
novamente ao processo no caso dos tais, renovando-os para o arrependimento. Tal
como no caso daqueles que falharam decisivamente, ou deliberadamente
recusaram-se a responder positivamente à graça divina, nada mais resta para
estes senão o julgamento. Cfr. #1Co 10.1-5 e, especialmente, #Lc 20.13-16. As
Escrituras ensinam consistentemente que as mesmas ações da graça divina, que põem
ao alcance dos homens a salvação e a vida, igualmente estabelecem a condenação
final daqueles que, após terem compartilhado dessa revelação, rejeitam-na
deliberadamente. Cfr. #2Co 2.15-16. Igualmente, é impossível, nos estágios
iniciais, distinguir a diferença entre o trigo e o joio, ou entre a semente que
se ressecará ou será sufocada e aquela que produzirá fruto para a vida eterna.
Cfr. #1Co 10.12; #2Tm 2.18-19. O julgamento é determinado não pelo início, mas
antes, pelo fim, isto é, pelo fruto (8). Eis porque o escritor sagrado tanto se
preocupava que aqueles que tinham começado a experimentar a graça de Cristo,
comprovassem a autenticidade de sua experiência prosseguindo até seu verdadeiro
final. Cfr. #2Pe 1.5-11.
>Hb-6.4
Aqueles que uma vez foram iluminados (4). As palavras, uma vez sugerem
certo aspecto absoluto e final, que indica algo feito de uma vez por todas, de
tal modo que isso se torna necessariamente incapaz de repetição. Isso faz
contraste com as palavras outra vez (6). Compare-se seu uso em #Hb 9.26,28; #Hb
10.2; #Hb 12.26-27. Aqueles que assim foram uma vez iluminados, nunca mais
serão iguais àqueles que nunca receberam a luz. Caíram (6) significa não
pecados grosseiros, mas antes, nada menos que apostasia deliberada, uma
completa rejeição e execração à fé de Cristo. No que lhes diz respeito (isto é,
para si mesmos), tais pessoas expulsam Cristo de suas próprias vidas, ou
rejeitam Sua reivindicação de ser o Filho de Deus, por ação similar à daqueles
que procuraram livrar-se dEle ao crucificá-Lo. Desse modo, expõem Cristo
publicamente à vergonha. Ver também o Apêndice III, "As Passagens
Admoestadoras".
>Hb-6.8
Após exibir tão solene quadro de condenação inevitável (8), o escritor Se
apressa, movido por verdadeira afeição (somente nesta altura da epístola ele
chama de amados os seus leitores), a assegurar a seus leitores que estava
convencido que eles não se encontravam nesse estado desesperador (9). Por
conseguinte, alguns comentadores consideram o tipo descrito nos vers. 4-8 como
hipotético e não como real. Pelos vers. 10-12 aprendemos o que indica
verdadeira vida espiritual e o que é necessário para o pleno progresso
espiritual, a saber, a diligência, ou zelo todo-absorvente, no trabalho... do
amor (10), isto é, o ministrar aos irmãos crentes por amor ao nome do Pai, a
"plena certeza da esperança" (11), na expectativa do cumprimento das
promessas de Deus, bem como o persistente e paciente esperar da fé (12), até o
dia em que nossa possessão seja realizada.
>Hb-6.13
b) Bases de confiança inspiradoras de constância (Hb 6.13-20)
As promessas de salvação feitas por Deus são ainda mais firmes por terem
sido confirmadas por um juramento proferido pelo próprio Deus. Isso era verdade
desde o princípio. Quando as promessas foram feitas a Abraão, Deus ao mesmo
tempo jurou que as cumpriria (13-14). A confiança de Abraão na palavra de Deus
capacitou o patriarca a suportar tudo pacientemente, até que a promessa se
cumpriu. Pode-se aprender o significado da prestação de juramento pela prática
de jurar que é comum entre os homens (16). O propósito do juramento é pôr fim a
toda dúvida ou apreensão acerca de uma promessa e fazer calar todos quantos
tentarem contradizer sua certeza. Sua veracidade e cumprimento certo, portanto,
foram confirmados pelo mais solene dos compromissos. Isso comumente envolvia
juramento pelo Todo-Poderoso. Quando os homens assim comprometem sua palavra um
para o outro, virtualmente chamam a Deus para que sirva de mediador entre eles,
como testemunha das promessas feitas (cfr. #Jz 11.10; #Rm 1.9) e para observar
seu cumprimento (cfr. #Rt 1.17). Na qualidade de Alguém que é superior Ele é
capaz de vingar-se se qualquer das partes contratadas deixar de cumprir sua
palavra. Essa certeza da divina vingança torna o juramento de Deus como algo
final como confirmação de promessas. A fim de tornar os homens duplamente
certos acerca de Sua promessa, Deus condescendeu em usar esse método de
prestação de juramento (17-18). Portanto, Ele se fez (visto não haver ninguém
superior para quem fosse possível apelar) uma espécie de terceiro interessado
ou mediador entre Si mesmo e os homens. Portanto, possuímos uma dupla base de
confiança, em Deus, Aquele que promete e nos dá garantia em Sua palavra, e em
Deus, Aquele que garante e nos confirma Sua promessa por meio de juramento.
Conclui-se que não há possibilidade do indivíduo vir a ser enganado a respeito
da promessa ou ficar desapontado a seu respeito.
>Hb-6.19
Temos por âncora (19) provê uma ilustração peculiarmente apropriada.
Tratava-se de um símbolo reconhecido de esperança. Sugere a confiança de
voltar-se para e apegar-se à confiança que se firmará e jamais falhará porque
entra nas profundezas invisíveis, o santo dos santos. Além disso, essa corrente
de pensamento traz de volta às mentes dos leitores a pessoa de Jesus e seu
ofício sumo-sacerdotal segundo a ordem de Melquisedeque (20), o grande tema
acerca do qual o escritor já havia indicado grande desejo de expô-lo (#Hb
5.10-11). Jesus nos oferece nova esperança, visto haver entrado no santuário mais
interno, não apenas a nosso favor (por nós), mas igualmente entrou como
"precursor", abrindo o caminho para que O possamos seguir, para que
desse modo chegássemos até à própria presença de Deus. Cfr. #Hb 7.19 e #Hb
10.19. Semelhantemente, como uma âncora, Ele nos oferece uma certa e absoluta
confiança, visto que Ele habita no mais íntimo santuário da presença de Deus,
ou seja, ali permanece entronizado, em contraste com os sumos sacerdotes
segundo a ordem levítica, que eram instalados no ofício para posteriormente
serem removidos por motivo de falecimento. Por isso é que Ele se tornou sumo
sacerdote para sempre (20). É justamente essa qualidade eterna que distingue a
ordem sacerdotal de Melquisedeque da ordem levítica de Aarão.
MAIS PASSAGENS ADMOESTADORAS
Ver #Hb 2.1-4; #Hb 3.7-4.1; #Hb 6.4-8; #Hb 10.26-31,38-39; #Hb 12.25-29.
Na qualidade de judeus, aqueles cristãos hebreus estavam acostumados à idéia de
uma sucessão de profetas e de uma continua repetição de sacrifícios pelo
pecado. Precisavam tornar-se cônscios do caráter final e definitivo da
revelação de Deus e da reconciliação a Deus outorgada aos homens através de
Cristo. Visto que o Filho encarnado é a última palavra aos homens, e porque aos
homens é oferecida em Cristo uma maravilhosa salvação, mediante a graça,
aqueles que não Lhe dão ouvidos não podem esperar escapar do vindouro
julgamento de Deus. Nenhuma palavra adicional de intervenção salvadora pode ser
esperada da parte de Deus. Além disso, visto que o sacrifício de Cristo de Si
mesmo foi uma realização decisiva e definitiva, não há mais oferta pelo pecado
(#Hb 10.18) quer feita por Cristo, no céu, quer feita pelos homens, sobre a
terra. Nem também pode haver repetição do sacrifício único de Cristo (#Hb
9.25-28), nem Deus jamais introduzirá outro sacrifício qualquer (#Hb 10.26).
Esse sacrifício único pelo pecado, levado a efeito de uma vez para sempre, é
todo-suficiente para sempre, para todo o povo de Deus (#Hb 10.10-14).
O desfrutamento dos benefícios do sacrifício de Cristo pelos homens é,
semelhantemente, "de uma vez para sempre" (#Hb 6.4); é decisivo,
final e eterno. Por conseguinte (seguindo certa interpretação sobre essa
passagem) qualquer indivíduo que tenha sido conscientemente confrontado com
essa oferta da graça, e compartilhou pessoalmente das provas de sua origem,
para em seguida rejeitar deliberadamente o Evangelho de Jesus como o Cristo
(naturalmente sem ter verdadeiramente crido e sido regenerado) não pode ser
semelhantemente levado, segunda vez, à oportunidade de arrependimento e fé. Ou,
alternativamente (seguindo outra interpretação), aqueles que têm experimentado
todas as bênçãos características da graça salvadora de Deus, por meio do
sacrifício expiador de Cristo e da operação do Espírito em seus corações, e
então se afastam de tudo, tentando viver como se tais coisas não fossem reais
nem jamais tivesse acontecido, não podem ser levados de volta, segunda vez, à
reação cristã inicial e decisiva de arrependimento e fé. O significado de #Hb
6.6 pode ser que a mera sugestão que Cristo virtualmente necessita ser
novamente crucificado, para trazer de volta tal apóstata ou desviado até o
lugar do arrependimento decisivo e da revivificação do Espírito, é sujeitar a
Cristo e à eficácia de Seu sacrifício único a uma ignomínia pública. O processo
inteiro é inconcebível. Tal renovação de iluminação e arrependimento, portanto,
é absolutamente impossível, tal como quando muitos israelitas se afastaram de
Deus, devido à incredulidade, foi impossível levá-los desde o deserto até
segunda experiência da páscoa e da travessia do mar Vermelho, a fim de
despertar ou renovar sua fé. Para tais apóstatas ou incrédulos não havia, e
continua não havendo, outra expectação além da do julgamento.
A espécie de fracasso que está aqui em jogo (para seguir determinada
interpretação) é nada menos que um abandono consciente, deliberado e
persistente do caminho cristão da salvação, um abandono que envolve nada menos
que a apostasia do Deus vivo, rejeição da Palavra e testemunho confirmado de
Deus-Pai Filho e Espírito Santo tratando o Filho de Deus como os judeus O
trataram em Jerusalém, como Alguém que deveria ser renegado e crucificado,
assim como que sujeitando-o publicamente à maldição do céu, negando a
significação de aliança entre Deus e Seu sangue derramado, e insultando ao
Espírito que, graciosamente, pleiteia junto aos homens para que reconheçam a
Jesus como Senhor. Tais ações certamente são aquelas que nosso Senhor chamou de
blasfêmia contra o Espírito Santo, que é um pecado eterno e jamais tem perdão
(#Mc 3.28-29). Não obstante, era justamente a um pecado desse caráter que
aqueles cristãos hebreus estavam expostos, já que estavam sendo tentados a
retornar para onde estavam anteriormente, no Judaísmo (embora fazer isso fosse
realmente impossível), quando teriam de repudiar publicamente a Jesus como
Messias e Filho de Deus.
Entretanto, é possível (seguindo-se uma interpretação alternativa) que o
escritor sagrado estivesse preocupado em deixar claro, a seus leitores
inquestionavelmente crentes, que sua presente tendência de se tornarem
preguiçosos, acomodando-se a meio caminho da imaginada possessão do que sua fé
em Cristo já lhes tinha proporcionado, era uma ilusão fatal. O motivo é que,
para aqueles que assim deram início ao caminho do discipulado cristão, as
únicas possíveis alternativas são: prosseguir até à plena possessão da herança
da fé, ou recuar desse movimento para a frente de Deus em suas vidas e assim
cair sob Seu inevitável julgamento, à semelhança dos israelitas, que se
tornaram objetos da indignação de Deus e foram prostrados no deserto, visto que
não se tinham preparado, mediante a fé em Deus, para prosseguir até à Terra
Prometida. Nesse caso, a espécie de fracasso aqui em foco, é o fracasso
daqueles que, tendo sido levados pela graça a uma relação de aliança com Deus,
falham completamente em considerar com a devida seriedade seus admiráveis
privilégios e grandíssimas obrigações. Se aqueles que já tinham sido redimidos
do Egito, que deixaram de obedecer à palavra de Deus sob o primeiro pacto sinaítico,
foram removidos em julgamento de entre a companhia do povo de Deus, não é justo
que aqueles que deixam de responder favoravelmente às exigências do novo pacto
em Cristo, devem com justiça esperar um tratamento ainda mais severo e
drástico? Pois enquanto que, na vida cristã, a disciplina de Deus, ainda que
dolorosa, é proveitosa e deve ser acatada como prova que Ele nos trata como a
filhos Seus, tendo em vista o nosso progresso na santidade, pode alguma coisa
qualquer ser mais terrível, na vida de quem, mediante a graça de Deus já é
filho de Deus, do que, em relação à sua conduta terrena subseqüente, Deus tenha
de tratar com ele mediante um julgamento incandescente e até mesmo fatal?
As questões teológicas aqui envolvidas são se aqueles que assim estão na
possibilidade de apostatar ou cair sob o julgamento de Deus foram alguma vez
regenerados, ou Se qualquer homem, uma vez salvo, pode vir finalmente a
perder-se. Em resposta a ambas as perguntas alguns dizem enfaticamente:
"Não". Fazem comparação com os tipos mencionados em #Mt 7.22-23; #Mt
12.22-32. Argúem que a própria apostasia de tais indivíduos é prova que nunca
foram regenerados. Mas outros afirmam que aqueles que são descritos em #Hb
6.4-5 certamente devem ser regenerados; pois nenhuma descrição mais inequívoca
sobre alguém regenerado poderia ser apresentada. Alguns, então, argúem que o
julgamento conseqüente contra sua completa degeneração e esterilidade
espiritual não envolve necessariamente a perda da eterna salvação. Estão, por
exemplo, tão somente "perto da maldição" (#Hb 6.8). Cfr. #1Co 3.15;
#1Co 5.5. Outros, ainda, supõem que essa sugestão que um indivíduo regenerado
assim pode tornar-se apóstata e vir a finalmente perder-se, é realmente apenas
hipotética e teórica. Até mesmo segundo o ponto de vista humano, isso é muito
menos provável que o suicídio físico, e por isso deve ser considerado apenas
como uma possibilidade remota; pois que, em realidade, olhando-se a questão do
ponto de vista divino, mediante a graça tal possibilidade nunca pode tornar-se
realidade. Ver #Jo 10.28.
Todavia, os crentes cristãos e todos que compartilham do conhecimento da
verdade, fariam bem em tratar com a devida seriedade essas solenes
advertências. Não nos esqueçamos do que escreveu João Bunyan: "Então vi
que há um caminho para o inferno, partindo dos próprios portões do céu, bem
como partindo da Cidade da Destruição". Relembremo-nos igualmente, que o
apóstolo Paulo temia que, de alguma maneira, após haver ele pregado a outros, e
sido usado para conduzir outros a Cristo, ele mesmo viesse a ser
"desqualificado" (#1Co 9.27; o grego é, literalmente,
"desaprovado", mas esta versão traduz admiravelmente bem o termo). Cfr. #2Pe 2.20-21.
A. M. STIBBS Rev. A. M. Stibbs,
MA, DD Rev. E. F. Kevan, MTh
Concordância:
Hb-6.4
É. #10.26-29; 12.15-17; Mt 5.13; 12.31,32,45; Lc
11.24-26; Jo 15.6; 2Tm 2.25; 4.14; 2Pe 2.20-22; 1Jo 5.16 uma vez foram.
#10.32; Nm 24.3,15,16 e provaram. #Mt 7.21,22; Lc 10.19,20; Jo 3.27;
4.10; 6.32; At 8.20; 10.45; 11.17; Rm 1.11; 1Co 13.1,2; Ef 2.8; 3.7; 4.7; 1Tm
4.14; Tg 1.17,18 participantes. #2.4; At 15.8; Gl 3.2,5
Hb-6.5
provaram. #Mt 13.20,21; Mc 4.16,17; 6.20; Lc 8.13; 1Pe 2.3;
2Pe 2.20 os poderes. #2.5
Hb-6.6
renová-los. #4; Sl 51.10; Is 1.28; 2Tm 2.25 estão crucificando. #10.29; Zc
12.10-14; Mt 23.31,32; Lc 11.48 e expondo-o. #12.2; Mt 27.38-44; Mc
15.29-32; Lc 23.35-39
Fontes:
O
Novo Comentário da Bíblia Editado pelo Prof. F. Davidson,
MA, DD
Colaboradores Rev. A. M. Stibbs, MA, DD Rev. E. F. Kevan, MTh
Editado em português pelo Rev. Dr. Russell
P. Shedd, MA, BD, PhD
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