FACULDADE DE TEOLOGIA
TESTEMUNHAS HOJE
CURSO LIVRE
LIVROS HISTÓRICOS
CONCEITO GERAL
INTRODUÇÃO
O Pentateuco registra o
nascimento do povo de Deus. Essa narrativa continua na segunda parte do Cânon,
conhecida como "Livros Históricos". Esses livros são importantes em
primeiro lugar por causa de seu conteúdo histórico. Eles cobrem um período de
tempo de pelo menos oitocentos anos da conquista de Josué até o Império Persa
onde viveu Ester.
Os Livros Históricos começam
descrevendo a conquista da terra prometida (Josué). Então, essa parte da Bíblia
continua com o relato do período antes de Israel ter reis, quando os juízes
governavam o povo (Juízes, Rute). Eles também cobrem o período da monarquia. O
reino unido de Saul, Davi e Salomão acabou sendo dividido em Israel, ao norte,
e Judá, ao sul (1-2 Sm, 1-2 Rs). Crônicas, Esdras e Neemias contam a história
de uma perspectiva teológica posterior e continuam a narração até o período de
restauração pósexílio. Ester ilustra o papel do povo de Deus sob o domínio persa.
Além de seu valor histórico,
esses livros também são importantes por aquilo que ensinam teologicamente. Eles
descrevem a história de Israel, mas são mais que uma simples história ou um
mero registro de fatos históricos. Eles são a palavra de Deus nos dias de hoje
para os cristãos. A igreja sempre afirmou o valor desses livros "para o
ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça"
(2Tm 3.16). Lemos esses livros por motivos que vão além do seu valor histórico.
Eles traçam a história do relacionamento de Deus com sua nação, revelando seu
amor fiel e imutável por seu povo, mesmo quando eles quebraram a aliança. Esses
são acontecimentos importantes dos quais devemos tirar lições e não apenas
ouvir falar.
Conteúdo dos Livros Históricos.
O
livro de Josué foi escrito para mostrar o valor insuperável da obediência. Ele
cria um retrato do sucesso de Israel na conquista da terra prometida,
destacando a importância do comprometimento total com a palavra de Deus e
dependência de seu poder. Apesar de haver alguns exemplos de desobediência, de
um modo geral, o livro de Josué não contrasta a obediência com a desobediência
como fazem os livros de Reis.
Juízes, por outro lado,
relata o estado quase irremediável de Israel depois da conquista. A nação foi
vítima de transigência religiosa. Israel parecia incapaz de manter períodos
prolongados de obediência à vontade de Deus e parecia condenada ao fracasso.
Períodos temporários de obediência traziam paz e sucesso, mas sempre de novo a
nação caía em pecado. O
livro de Juízes foi escrito para justificar a necessidade de um rei para
Israel.
O livro de Rute está
inserido depois do livro de Juízes, pois os acontecimentos nele relatados
ocorreram durante o mesmo período. Esse pequeno livro ilustra o cuidado
soberano de Deus por indivíduos fiéis que viviam em um tempo de apostasia
religiosa. Deus usou a fidelidade de uma única família para realizar um milagre
e dar a Israel seu maior rei, Davi.
Os livros de Samuel traçam a
história do início da monarquia em Israel. Samuel foi um profeta e juiz que liderou
Israel na transição do governo dos juízes para a monarquia. Os livros contam a
história dos dois primeiros reis: Saul e Davi. O segundo livro de Samuel
dedica-se especialmente a descrever os principais acontecimentos do reinado de
Davi.
Os livros de Reis contam em
detalhes a história da monarquia de Salomão até a queda de Jerusalém. Eles
contrastam a obediência e a desobediência para ilustrar os resultados de ambas.
A princípio, tudo corria bem para Salomão. Mas quando ele deixou de ser fiel a
Iavé, o resultado foi um reino dividido, Israel ao norte e Judá ao sul. Segundo
Bill Arnold (2001, p. 158), “Israel, ao norte, foi apóstata desde o início e
foi tomada pelos assírios em 722
a .C. Judá variava entre reis maus e uns poucos bons, até
que a maldade de um rei foi grande demais. Nabucodonosor com seu poderoso
exército babilônio tomou Jerusalém em 587 a .C.”
Os demais Livros Históricos
são do período pós-exílio. Os livros de Crônicas constituem o primeiro comentário
das Escrituras. Esses livros relatam as histórias de Davi, Salomão e do reino
de Judá, histórias já conhecidas dos livros de Samuel e Reis. Mas o cronista
não estava simplesmente relembrando notícias antigas. Ele ressaltou a obra de
Deus em meio ao seu povo por meio da linhagem de Davi. Ele desejava seguir uma
linha reta de fé e salvação, sem os desvios dos fracassos do passado. Seus
leitores no exílio sabiam muito bem a história do colapso moral e da derrota de
sua nação. Sua geração precisava ser lembrada das vitórias da herança de Israel
como meio de dar-Ihes esperança para o futuro.
Os livros de Esdras e
Neemias, que provavelmente foram escritos como uma só obra, apresentam os
acontecimentos da restauração, na metade do século 5º a.C. Sob o governo persa,
os judeus que viviam na Babilônia receberam permissão para voltar para sua
terra natal e reconstruí-Ia. A liderança capaz de Esdras e Neemias, juntamente
a certos profetas que eram ativos naquela época, ajudou o povo de Israel a
reconstruir o templo e os muros de Jerusalém. Além de descrever essas
estruturas físicas, esses livros também relatam a reconstrução das fundações
sociais e religiosas do povo de Deus.
O pequeno e fascinante livro
de Ester demonstra o cuidado soberano de Deus e a proteção dele sobre seu povo,
mesmo quando eles estavam vivendo no exílio persa. O livro é um conto histórico
sobre a rainha Ester e
seu primo Mordecai. Ao
contrário de qualquer outro livro bíblico, Ester mostra que mesmo quando Deus
está em silêncio, ele está trabalhando para cumprir suas promessas para o seu
povo.
O papel da História na
Bíblia. Vimos no Pentateuco que Israel era uma nação singular
entre seus vizinhos no antigo Oriente Próximo pela ênfase que dava à História.
Deus criou o tempo e o espaço e, conseqüentemente, é soberano sobre a História
da humanidade. Não é de se surpreender, portanto, que uma grande partes dos
escritos sagrados de Israel fossem narrativas históricas.
A maior parte das expressões
religiosas do antigo Oriente Próximo era mitológica. Os povos antigos
geralmente expressavam suas convicções teológicas e visão de mundo por meio de
mitos complexos, nos quais os eventos ocorriam fora da história. A maioria dos
livros de religiões do mundo são coleções de literatura de sabedoria e AFORISMOS
religiosos. Mas Israel via sua própria História como palco para a revelação
divina. A palavra de Deus para o mundo é, em grande parte, uma narrativa de seu
relacionamento com uma nação e seu plano para estabelecer um relacionamento com
toda a humanidade.
Heródoto, o pai da História?
Pelo
fato da História ser o principal meio da revelação de Deus, Israel foi a
primeira nação a dar atenção para o registro da História. Segundo Bill Arnold
(2001, p. 59), “HERÓDOTO, um historiador grego do século 5º a.C., recebeu o
título de ‘Pai da História’ por seu registro histórico das guerras gregas e
persas”. Mas cem anos antes de Heródoto, a Bíblia tinha uma História de Israel
contendo muitas das características que consideramos História nos dias de hoje:
relações de causa e efeito, narração contínua, desenvolvimento completo de
caracterização e assim por diante.
O Cânon judaico e o Cânon
cristão. A História é importante tanto para o Cânon judaico
quanto para o cristão. O Cânon cristão separa e agrupa todos os livros que são
predominantemente de natureza histórica. Esses Livros Históricos narram a
História de Israel de um ponto de vista religioso. O Cânon judaico chama Josué,
Juízes, Samuel e Reis de "Profetas Anteriores". De que forma esta
pode ser uma designação apropriada para esses livros? Qual é a relação entre
esses livros e profecias?
A resposta para essas
questões encontra-se em um entendimento correto tanto do significado de
profecia quanto de História. A princípio, profecia não diz respeito apenas ao
futuro, mas preocupa-se com a obediência dentro do tempo e do espaço, aqui e
agora. A profecia olha para as alianças do passado e interpreta seu significado
para o presente bem como para o futuro. Ela faz uso da História para amarrar o
passado ao presente. Nossos Livros Históricos receberam uma designação
apropriada no Cânon judaico como "Profetas Anteriores", pois eles
narram a reação do povo à aliança ao longo
da História. Esses livros
apresentam a História de Israel de um ponto de vista profético. A tradição
judaica atribui a profetas a autoria de outros livros (Samuel como autor de
Juízes e Jeremias como autor de 1Reis).
Apesar da falta de
evidências para tais conclusões, não deixa de haver certa lógica, tendo em
vista a devoção ao papel profético encontrada nesses livros. Eles são
"Profetas Anteriores", pois relatam a história antiga da profecia e
escrevem sobre a História nacional à luz dos interesses teológicos e
proféticos. Josué, Juízes, Samuel e Reis são tão apropriados como "Profetas
Anteriores" no Cânon judaico como o são com a designação de Livros
Históricos no Cânon cristão.
História e teologia. A
Bíblia é mais que um livro de História. Ela sem dúvida relata a História de uma
perspectiva religiosa.
Não há tentativas de se
fazer o que hoje poderíamos chamar de História moderna objetiva. Os escritores
estão escrevendo o que os estudiosos chamam de Heilsgeschichte, ou
História da salvação. Essa designação distingue a História bíblica da História
geral, que normalmente lida com uma seqüência de acontecimentos humanos na
esfera natural. Os acontecimentos da História da salvação são revelações
divinas sobrenaturais no tempo e no espaço, registradas nas Escrituras para
promover a fé.
O registro dessa História da
salvação é importante para a fé bíblica. Os acontecimentos em si não podem ser
recriados e estudados em primeira mão, apenas o registro desses acontecimentos.
Assim, a fé deve estudar os acontecimentos por meio do registro escrito. A fé
bíblica, portanto, pressupõe a historicidade dos acontecimentos que revelam a
História da salvação. A Bíblia aceita como sendo verdadeiros os acontecimentos
históricos nos quais se baseiam as revelações. Ela também afirma a veracidade
da interpretação desses acontecimentos, que a Bíblia apresenta na forma escrita.
A forma escrita em si torna-se, então, uma importante evidência histórica.
(KLASSEN, 2001, p. 160).
Os autores bíblicos
freqüentemente apelam para acontecimentos com a finalidade de validar suas
afirmações teológicas e partem do pressuposto que os acontecimentos descritos
são historicamente precisos. A veracidade factual daqueles acontecimentos
históricos torna possível aceitar como verdadeiras as afirmações teológicas da
Bíblia. A historicidade não prova que a teologia é verdadeira. Mas a
confiabilidade histórica é necessária para que as afirmações teológicas sejam
verdadeiras, pois elas são baseadas em acontecimentos da História.
Podemos afirmar, por
exemplo, que cremos que o Senhor do Antigo Testamento é um Deus cheio de graça
e amor e que manteve a aliança com
seu povo. Segundo Bill
Arnold (2001, p. 159), “essa é uma afirmação teológica. Mas a menos que Iavé
tenha de fato realizado e mantido uma aliança com o povo de Israel, a afirmação
teológica não tem fundamento, independente de sua plausibilidade. Se a História
não for verdadeira, é mera especulação humana”.
A fé que a Bíblia define e
expressa é explicitamente uma fé histórica. Ela está enraizada e baseada na
historicidade de certos acontecimentos passados. Historicidade é um ingrediente
necessário para a fé bíblica, apesar de, por si só, não ser uma base correta
para a fé. No Antigo Testamento, a fé é definida em termos de acontecimentos
passados, assim como também o é no Novo Testamento, onde a fé é baseada na
ressurreição (1Co 15.12-19).
Capítulo 1
O Livro de Josué
1.1. O seu lugar no Cânon
Esboço do Livro
I. Preparação para Entrar e
a Entrada em Canaã (1.1—5.15)
A. Deus Designa Josué
(1.1-9)
B. Preparação para a
Travessia do Jordão (1.10—3.13)
C. A Travessia do Rio Jordão
(3.14—4.25)
D. Circuncisão, Páscoa e
Reunião em Gilgal (5.1-15)
II. A Conquista da Terra
Prometida (6.1—13.7)
A. Conquistas em Canaã Central
(6.1—8.35)
1. Vitória em Jericó
(6.1-27)
2. Derrota em Ai pelo Pecado
de Acã (7.1-26)
3. Vitória em Ai (8.1-29)
4. Adoração e Renovação do
Concerto em Siquém (8.30-35)
B. Conquistas em Canaã Sul (9.1—10.43)
1. Tratado com os Gibeonitas
(9.1-27)
2. Destruição da Coalizão
Amorita (10.1-43)
C. Conquistas em Canaã Norte (11.1-15)
D. Conquistas Efetuadas
(11.16—12.24)
E. Territórios por
Conquistar (13.1-7)
III. Repartição da Terra
(13.8—22.34)
A. Tribos a Leste do Jordão
(13.8-33)
B. Tribos a Oeste do Jordão
(14.1—19.51)
C. Territórios Especiais
(20.1—21.45)
1. Seis Cidades de Refúgio
(20.1-9)
2. Cidades dos Levitas
(21.1-45)
D. Retorno das Tribos do
Leste (22.1-34)
IV. Mensagens de Despedida
de Josué (23.1— 24.28)
A. Aos Governantes de Israel
(23.1-16)
B. A Todo Israel; Renovação
do Concerto em Siquém (24.1-28)
Conclusão (24.29-33)
A. Morte e Sepultamento de
Josué (24.29-31)
B. Sepultamento dos Ossos de
José (24.32)
C. Morte e Sepultamento de
Eleazar (24.33)
Com este livro começa a
segunda divisão do Antigo Testamento. Segundo o arranjo do cânone judaico,
Josué é o primeiro livro da divisão chamada de Os Livros Históricos. Os autores
não teriam de ter ocupado o ofício de profeta, mas de ter tido o dom profético.
Um levita ou um sacerdote, por exemplo, podia ocupar seu ofício não profético
mas também ter o dom de profecia (2Cr 20.14). Samuel era juiz, mas ocupava o
ofício adicional de profeta e oficiava cerimônias sacrificiais, uma função
sacerdotal. A classificação, então, focaliza
o dom profético do autor e a
maneira de abordar o assunto.
Segundo o cânone cristão,
com base na Septuaginta, Josué é o primeiro dos doze livros históricos. Esta
maneira de classificar os livros parece olhar-lhes sob o prisma do tipo
literário observado neles, o de narrativa histórica. Alguns estudiosos modernos
preferem juntar Josué com o Pentateuco e assim falar do Hexateuco. Ainda outros
desses dizem que os livros de Deuteronômio, Josué, Juízes, Samuel e Reis formam
uma unidade que designam como “A Obra Histórica Deuteronomista”. Por isto, os
livros de Gênesis, Êxodo, Levítico e Números devem ser também considerados como
uma unidade, designada de “Tetrateuco”. Embora haja algum valor em estudar tais
teorias, parece-nos melhor manter a unidade do Pentateuco, agrupando Josué com
os livros que o seguem.
Na continuação do Pentateuco
encontram-se os livros históricos. No Cânon da Bíblia hebraica, os seis livros
de Josué: Juízes, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis e 2 Reis formam um conjunto que é
denominado genericamente de Profetas Anteriores. Esse título vem de uma antiga
tradição, segundo a qual esses livros foram compostos por alguns dos profetas
de Israel. Quanto ao qualificativo “anteriores”, parecem dever-se ao lugar que
lhes foi reservado no cânon hebraico, para diferenciá-los dos “Profetas
posteriores”: Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze Profetas Menores.
1.2. O nome do Livro
O livro é universalmente
designado pelo nome do seu herói maior, que domina o cenário do começo ao fim
do conteúdo. O nome no original significa “Salvação de Iavé” ou “Iavé é
Salvador”. Equivale ao nome “Jesus”, proveniente do grego (através do latim) que
dependia do aramaico, que por sua vez dependia do hebraico. Tanto na Bíblia
Hebraica como na Septuaginta
o nome do livro é o mesmo,
Josué.
Apropriadamente, o livro
recebe o nome do seu personagem principal, que se destaca como o líder
escolhido por Deus, do começo ao fim do livro. Os antecedentes pessoais de
Josué muito contribuíram para que se tornasse o líder da conquista. Josué viveu
próximo ao fim da opressão de Israel pelo Egito, e testemunhou as dez pragas
que Deus enviou a esse país como castigo, a primeira Páscoa, a travessia
milagrosa do mar Vermelho e os sinais (e juízos) sobrenaturais durante as
peregrinações de Israel no deserto. Serviu a Moisés como comandante militar na
batalha contra os amalequitas, pouco depois da saída do Egito (Êx 17.8-16).
Somente ele acompanhou Moisés na subida ao monte Sinai, quando Deus deu a
Israel os dez mandamentos (Êx 24.12-18). Como auxiliar de Moisés, Josué
demonstrava intensa devoção e amor a Deus, e muitas vezes permaneceu na
presença do Senhor por um longo período (Êx 33.11). Era um homem que se
deleitava na santa presença de Deus. Por certo, aprendeu muito com Moisés, seu
conselheiro e guia de confiança, a respeito dos caminhos de Deus e das
dificuldades na condução do povo. Em Cades-Barnéia, Josué serviu a Moisés como
um dos doze espias que observaram a terra de Canaã. Ele, juntamente com Calebe,
rejeitou energicamente o relatório da maioria, que retratava a incredulidade do
povo (Nm 14). Muitos anos antes de substituir Moisés como líder de Israel,
Josué demonstrou ser um homem de fé, visão, coragem, lealdade, obediência
inconteste, oração e dedicação a Deus e à sua palavra. Quando foi escolhido
para substituir Moisés, já era um homem “em que há o Espírito” (Nm 27.18; Dt
34.9).
1.3. Data e autoria
A data bíblica aproximada da
invasão de Canaã por Israel é 1405
a .C. o livro abrange os 25-30 anos consecutivos da
história de Israel, e conta como Deus “deu... a Israel toda a terra que jurara
dar a seus pais” (21.43).
A tradução judaica, no
Talmude, atribui a Josué a autoria literária do livro. Duas vezes o livro
menciona o ato de escrever em conexão com Josué (18.9; 24.26). As evidências
internas do livro indicam enfaticamente que o seu autor foi testemunha ocular
da conquista (confronte “nos” em 5.6; note-se que Raabe ainda vivia quando o
autor escreveu, 6.25). As partes do livro
acrescentadas depois da
morte de Josué -por exemplo, 15.13-17 (confronte Jz 1.9-13); 24.29-33 -foram
talvez escritas por um dos “anciãos que ainda viveram muito depois de Josué”
(24.31). Josué morreu cerca de 1375
a .C., aos 110 anos de idade (24.29).
Devemos ainda considerar o
texto em (24.26) diz, “Josué escreveu estas palavras no livro da lei de Deus”,
o que na superfície poderia ser tomado como indicação do autor do livro todo.
Torna-se claro, contudo, que a referência aponta para a aliança registrada em
24.2-25. Como é claro no caso do Pentateuco é também evidente que alguém
registrava os acontecimentos principais da história de Israel enquanto
aconteciam.
As evidências dentro do próprio
texto apontam para uma testemunha ocular de certa parte dos eventos registrados
no livro:
(a) O uso da primeira pessoa no texto hebraico em
5.1: “... até que passássemos...” e 5.6: “... prometera a seus pais nos
daria...”, embora no primeiro caso alguns manuscritos leiam “passassem”.
(b) O pronome “vosso” em 15.4 sugere escrito autobiográfico,
pois o autor se apresenta como encarregado se dirigindo aos homens de Judá na
segunda pessoa do plural.
(c) Referências à “grande
Sidom” em 11.8 e 19.28 e aos fenícios pela designação “os sidônios” em 13.4-6
sugerem uma data anterior ao século XII a.C. quando Tiro tomou o lugar de Sidom
como a cidade principal dos fenícios. Josué teria liderado na conquista em
torno de 1280 ou 1240 a .C.,
um século antes da ascendência de Tiro.
(d) O fato de os Filisteus
não serem mencionados no livro como uma grande ameaça aos hebreus indica uma
data anterior a 1200 a .C.,
quando deu a chegada maciça ao litoral ocidental de Canaã dos filisteus.
Segundo 11.21 são os anaquins, não os filisteus, que habitavam as cidades que
posteriormente foram tomadas pelos filisteus. Os filisteus, indicados no livro
de Juízes entre os maiores inimigos de Israel depois de Josué também não
constam da lista dos principais habitantes da terra em 12.8, o qual reflete os
tempos da conquista.
Existem, por outro lado,
referências textuais que sugerem uma data posterior ao período de Josué.
1.4. O relato da sua morte
em 24.29,30
(a) Eventos que aconteceram
posteriormente à morte de Josué, como a conquista de Hebrom por Calebe: Josué
ordenou que o lugar fosse dado a Calebe, segundo 15.13,14, mas segundo Juízes
1.10 e 20 a
tribo de Judá conquistou Hebrom dos cananeus e assim a família de Calebe tomou
posse do lugar, no período após Josué. Parece que a linguagem de Josué 15.13,14
reflita um autor que olha para trás para registrar quando foi cumprida a ordem
de Josué. A migração da tribo de Dã para Lesem bem ao norte de Canaã é
mencionada em 19.47, mas o acontecimento deu-se no período de juízes e é registrado
em Juízes 17 e 18.
(b) A expressão “até o dia de hoje” usada
repetidamente no livro claramente indica um autor de uma época bem diferente do
período do homem Josué. A frase é encontrada em 4.9; 6.25; 7.26; 8.28; 9.27;
10.27; 13.13; 14.14; 15.63 e 16.10.
(c) A menção em 10.13 da antiga fonte, “O Livro
dos Justos” (ou literalmente “de Jasar”), parece apontar para trás da
perspectiva de um autor, ou editor, que teria vivido bem depois de Josué. O
Livro dos Justos existia no período do Rei Davi (2Samuel 1.18), e parece uma
composição feita pela ordem do rei quando Israel tornou-se um povo com governo
central. Se fosse assim, teria sido citado pelo autor de Josué como indicação
de fonte autorizada à qual o autor apelou. Se o Livro dos Justos não estivesse
escrito no período de Davi, ainda estava em desenvolvimento, capaz de sofrer um
acréscimo na época do rei.
(d) Uma fonte usada pelo
autor final do livro de Josué é mencionada em
24.26. É o relato da
renovação da aliança com a terceira geração após a saída do Egito, relato
escrito por Josué mesmo e citado em 24.2-25.
As evidências internas do
texto inspirado apontam para a seguinte conclusão. Teria havido um autor das
fontes básicas do livro, autor (ou autores) que era testemunha ocular dos eventos
que descreveu. Este autor poderia ter sido o próprio Josué ou um sacerdote ou
outro designado por Josué. O impulso atrás do esforço deveria ser atribuído à
liderança de Josué, embora remonte ao exemplo e à ordem de Moisés. Também teria
havido um outro autor, ou editor, de uma época posterior a Josué, no período do
reino de Davi ou depois, que teria completado e atualizado o livro, levando-o à
sua forma atual.
1.5. A pessoa do autor –
Josué
Os antecedentes pessoais de
Josué muito contribuíram para que se tornasse
o líder da conquista. Josué
viveu próximo ao fim da opressão de Israel pelo Egito, e testemunhou as dez
pragas que Deus enviou a esse país como castigo, a primeira Páscoa, a travessia
milagrosa do mar Vermelho e os sinais (e juízos) sobrenaturais durante as
peregrinações de Israel no deserto. Serviu a Moisés como comandante militar na
batalha contra os amalequitas, pouco depois da saída do Egito (Êx 17.8-16).
Somente ele acompanhou Moisés na subida ao monte Sinai, quando Deus deu a
Israel os dez mandamentos (Êx 24.12-18). Como auxiliar de Moisés, Josué
demonstrava intensa devoção e amor a Deus, e muitas vezes permaneceu na
presença do Senhor por um longo período (Êx 33.11). Era um homem que se
deleitava na santa presença de Deus. Por certo, aprendeu muito com Moisés, seu
conselheiro e guia de confiança, a respeito dos caminhos de Deus e das
dificuldades na condução do povo. Em Cades-Barnéia, Josué serviu a Moisés como
um dos doze espias que observaram a terra de Canaã. Ele, juntamente com Calebe,
rejeitou energicamente o relatório da maioria, que retratava a incredulidade do
povo (Nm 14). Muitos anos antes de substituir Moisés como líder de Israel,
Josué demonstrou ser um homem de fé, visão, coragem, lealdade, obediência
inconteste, oração e dedicação a Deus e à sua palavra. Quando foi escolhido
para substituir Moisés, já era um homem “em que há o Espírito” (Nm 27.18; Dt
34.9).
1.6. O seu tema
Não pode restar dúvida de
que o tema do livro é “A conquista e a Divisão da Terra Prometida”. Ver 1.2; 12.7-24;
e 13.7 como versículos chaves neste sentido. As ênfases no texto do livro que
são percebidas por uma leitura do livro todo também levam à esta conclusão.
O livro foi escrito como um
registro da fidelidade de Deus, no cumprimento de suas promessas pactuais a
Israel, concernentes à terra de Canaã (23.14; confronte Gn 12.6-7). As vitórias
da conquista aparecem como os atos libertadores da parte de Deus pró Israel
sobre uma decadente cultura Cananéia (Dt 9.4). A violência neste livro deve ser
enquadrada nesta perspectiva. A arqueologia confirma que o povo cananeu era
caracterizado por extrema depravação e crueldade quando Israel ocupou a terra.
1.7. A sua natureza
Uma vez levando em conta o
destaque que a aliança tem no Pentateuco, e sabendo a respeito dos itens
envolvidos numa cerimônia de instituição e renovação, torna-se evidente que o
livro de Josué consta de um livro de
renovação da aliança. Êxodo
registra a instituição da aliança com a primeira geração saída do Egito
(cap.19-24). Deuteronômio registra a reiteração dos eventos e termos das
alianças registrada em Êxodo, mas dentro de um contexto de levar ao registro da
renovação daquela aliança com a segunda geração de Israel. Josué, por sua vez,
registra os eventos que levaram à renovação da antiga aliança com a terceira
geração (24).
1.8. Cristo no livro de
Josué
Cristo é revelado no Livro
de Josué de três maneiras; por revelação direta, por modelos e por aspectos
iluminantes de sua natureza. Em 5.13-15, o Deus Triúno apareceu a Josué como o
“príncipe do exercito do SENHOR” . Através de sua aparição, Josué teve certeza
de que o próprio Deus era o responsável. Era tarefa de Josué, bem como nossa,
seguir os planos do príncipe, além de conhecer o príncipe.
Um modelo é um símbolo, uma
lição objetiva. Pode-se encontrar tipos em uma pessoa, em um ritual religioso e
mesmo em um acontecimento histórico. O próprio Josué era um modelo de Cristo.
Se nome, que significa “Jeová é Salvação”, é um equivalente hebraico do grego
“Jesus”. Josué guiou os israelitas até a possessão de sua herança prometida,
bem como cristo nos leva à possessão da vida eterna. O cordão de fio de
escarlata na janela de Raabe (2.18,21) ilustra a obra de redenção de Cristo na
cruz. O pano cor de sangue pendurado na janela salvou Raabe e sua família da
morte. Assim, Cristo também derramou seu sangue e foi pendurado na cruz para
nos salvar da morte.
Um dos aspectos da natureza
de Cristo revelada em Josué é o da promessa cumprida. No final de sua vida,
Josué testemunhou: “nem uma só promessa caiu de todas as boas palavras que
falou de vós o SENHOR, vosso Deus” (23.14). Deus, em sua graça e fidelidade,
sustentou e preservou seu povo tirando-os do deserto e levando-o à Terra
Prometida. Ele fará o mesmo por nós através de Cristo, que é a Promessa.
1.9. O Espírito Santo citado
Uma tendência constante da
obra do Espírito Santo flui através do Livro de Josué. Inicialmente, sua
presença surge em 1.5, quando Deus conhecendo a esmagadora tarefa de comandar a
nação de Israel, forneceu a Josué a promessa de seu Espírito sempre presente.
O trabalho do Espírito Santo
era o mesmo antes de agora: ele atrai as pessoas a um relacionamento de
salvação com Cristo e realiza os propósitos do Pai. Seu objetivo em Josué, bem
como no Antigo Testamento, era a
salvação de Israel, pois,
foi através dessa nação que Deus escolheu salvar o mundo (Is 63.7-9)
Várias características sobre
a maneira como o Espírito opera podem ser vistas em Josué. A obra do Espírito
Santo é contínua: “Não te deixarei nem te desampararei” (1.5). O Espírito Santo
está comprometido a realizar a tarefa, independentemente de quanto tempo
demore. Sua presença contínua é necessária para o sucesso do plano de Deus na
vida dos homens. A obra do Espírito Santo é mútua: “Tão somente sê forte e mui
corajoso para teres cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te
ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que
sejas bemsucedido por onde quer que andares” (1.7). Foi dito: “Sem ele, não
podemos; sem nos ele não quer”. A cooperação com o Espírito Santo é essencial à
vitória. Ele nos habilita a cumprir nosso chamado e a completar a tarefa ao
nosso alcance. A obra do Espírito Santo é sobrenatural. A queda de Jericó foi
obtida mediante a destruição milagrosa de seus muros (6.20). A vitória foi
alcançada em Gibeom, quando o Espírito deteve o sol (10.12,13). Nenhuma obra de
Deus seja a libertação da servidão ou possessão da bênção, é realizada sem
ajuda do Espírito.
1.10. O livro está dividido
em três seções
1.10.1. Seção I (1.1; 5.15)
Descreve a designação de
Josué por Deus, como sucessor de Moisés, e os preparativos de Israel para
entrar em Canaã (1.1; 3.13), sua travessia do Jordão (3.14; 4.24), e suas
primeiras atividades na terra consoante o concerto (cap. 5). Deus prometeu para
Josué: “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado” (1.3).
1.10.2. Seção II (6.1; 13.7)
Descreve como Israel avançou
obedientemente contra cidades-estados bem armadas e com muros fortificados.
Deus deu ao seu povo vitórias decisivas no centro de Canaã (6; 8), no sul (9;
10) e no norte (11; 12), e assim Israel obteve o controle das terras
montanhosas (de norte ao sul) e do Neguebe. A maneira altamente singular da
conquista de Jericó demonstrou claramente a Israel quem era o Príncipe da sua
salvação (cap. 6). A derrota de Israel em Ai revela a imparcialidade do livro e
a obediência devotada que Deus requeria da parte de Israel (cap. 7).
1.10.3. Seção III – (13.8;
22.34)
Descreve a repartição da
terra, por Josué, entre as doze tribos; a herança de Calebe; as seis cidades de
refúgio; e as quarenta e oito cidades levíticas
dentre as tribos. O livro
termina com duas mensagens de despedida por Josué (23.1; 24.28) e um tributo
post-mortem a Josué e Eleazar (24.29-33).
1.11. Sete características
principais sobressaem neste livro
(a) É o primeiro dos livros históricos do Antigo Testamento a descrever
a história de Israel como nação na Palestina.
(b) Oferece muitos aspectos da admirável vida de Josué como o escolhido
de Deus para completar a missão de Moisés: estabelecer Israel como o povo do
concerto na terra prometida.
(c) O livro registra vários milagres divinos em favor de Israel, sendo
que os dois mais notáveis são a queda de Jericó (cap. 6) e o prolongamento das
horas da luz do dia, na batalha em Gibeom (cap. 10).
(d) É o principal dos livros do Antigo Testamento a descrever o conceito
da “guerra santa” como missão específica e limitada, prescrita por Deus e
inclusa no contexto mais amplo da história da salvação.
(e) O livro ressalta três grandes verdades no tocante ao relacionamento
entre Deus e o seu povo do pacto:
•
Sua fidelidade.
•
Sua santidade.
•
A sua salvação.
•
(f) O livro ressalta a importância de manter viva a memória dos atos
redentores de Deus em favor do seu povo, e de perpetuar esse legado de geração
em geração.
(g) O relato prolongado que o livro registra da transgressão de Acã e do
seu subseqüente castigo (cap. 7), juntamente com outras admoestações,
advertências e castigos, enfatiza a importância do temor do Senhor no coração
do seu povo.
1.12. A renovação da aliança e suas implicações
para a atualidade (Josué 24)
A missão de Josué já estava
quase cumprida, o povo assentado, as cidades e territórios distribuídos. Josué
estava diante do ideal de sua vida: cumprir a tarefa de conduzir o povo a terra
prometida e liderou a conquista. Mas em seu coração havia um desejo bem
especial que o levou a uma expressiva
atitude de liderança e fé.
Ao convocar o povo para um encontro em Siquém e desafiá-lo para um compromisso
mais profundo com o Senhor. Josué nos deixa um legado histórico-espiritual
incontestável. Uma vez que uma nova etapa seria experimentada pelo povo de
Israel a checagem espiritual fez-se necessária. Sem contar o fato de que uma
geração nova cresceu sob a liderança de Josué e precisava, ela mesma, de
estreitar os seus laços com o Senhor. Note-se que a renovação da aliança com o
Senhor foi uma atitude espontânea do povo e por esta razão ela fez diferença.
Ao convidá-lo para meditar sobre este momento histórico na vida do povo de
Israel desejo que nos seja permitido compreender as implicações desta renovação
da aliança com a vida no limiar do século XXI. A minha intenção e levá-lo a uma
atitude diante de Deus que o habilite a viver neste tempo fiel ao Deus Eterno.
Que implicações têm a renovação da aliança com a nossa vida hoje? Em primeiro
lugar a renovação da aliança entre o povo de Israel e Deus implica que Deus é
fiel em cumprir as suas promessas (v. 1-11).
Os israelitas por diversas
vezes precisavam ser lembrados desta importante característica de Deus: Um Deus
fiel que sempre honra com as suas promessas. Nesta retrospectiva da história de
Israel Josué os faz lembrar de como a fidelidade divina foi um fator decisivo
na vida de seus antepassados. Os triunfos nas batalhas não foram resultados da
capacidade militar ou do esforço de Israel. A terra em que agora habitavam não
era produto de seu trabalho.
Esta história da fidelidade
divina deve servir para a sustentação para a nossa fé, tanto hoje quanto
amanhã. Nesta perspectiva não importam as circunstâncias que nos cercam,
devemos confiar em Deus. Ele
é capaz de cumprir todas as suas promessas no presente e no futuro com a mesma
precisão que agiu no passado. Você conhece as promessas de Deus? Você crê na
fidelidade divina? Em segundo lugar a renovação da aliança entre o povo de
Israel e Deus implica que As vitórias alcançadas na vida não são meros
resultados do esforço humano (v.12).
A intenção de Josué era
evitar uma atitude de jactância ou exaltação nacional. Na retrospectiva ele
confirma o conceito: Deus é o agente através do qual o povo conseguiu suas
vitórias. O mesmo princípio nos leva a considerar também que as derrotas,
muitas vezes, são motivadas pela desobediência à sua vontade soberana.
O tempo em que vivemos é
marcado por uma atitude de autopromoção. As pessoas são conduzidas a pensar e
agir como se fosse o centro do universo. Freqüentemente nossa comunicação
utiliza os seguintes termos: “eu fiz”, “eu sou”, “eu posso”, “meu dinheiro”,
“meu trabalho”, “minha conquista pessoal”, “fruto do meu esforço”, etc.
Lembre-se deste princípio: Deus continua interessado em ser o agente através do
qual você alcançará êxito em todas as a áreas de sua vida.
Em terceiro lugar a
renovação da aliança entre o povo de Israel e Deus implica que Deus nos
sustenta e nos farta de bens deste mundo (v.13).
A história do povo de Israel
revela a providência e a graça divina dispensada sobre aqueles que o temem.
Deus havia provido os israelitas de terra, cidades e produtividade no terreno
em que estavam cultivando. Deus opera sinais diante dos nossos olhos (v.17)
para serem reconhecidos e lembrados. Racionalizar e esquecer os grandes sinais
do Senhor, sempre tem sido a causa do abandono de Deus e da murmuração.
Aprendemos assim o princípio
da providência divina e devemos entender que os bens que possuímos e o sustento
que entra diariamente em nosso lar é um testemunho constante da generosidade
divina para conosco. Recebemos tanto do Senhor que não temos razão de fazermos
qualquer murmuração contra ele. Sejamos agradecidos por sua providência. Em
quarto lugar a renovação da aliança entre o povo de Israel e Deus implica que
1.12.4. Deus espera que o sirvamos com sinceridade (v.14-15).
Ao renovar a aliança com
Deus aquela geração israelita (terceira) assume solenemente algumas
responsabilidades como:
(a) Temer ao Senhor =
honrando e respeitando Sua vontade em tudo.
(b) Servir ao Senhor = dando-lhe honestamente, com toda
fidelidade, aquilo que Ele quer.
(c) Escolher ao Senhor =
dando-lhe o primeiro lugar na vida. A fidelidade requerida pelo Senhor é
absoluta.
Os israelitas precisaram
lançar fora os deuses estranhos para servir ao Senhor com sinceridade. O que
você precisa abandonar para servi-lo verdadeiramente? A indecisão na vida
espiritual é um erro fatal para os cristãos de hoje. Cada dia de nossa vida
precisa ser marcado pela decisão sábia de servir a Deus. Em quinto lugar a
renovação da aliança entre o povo de Israel e Deus implica que Deus exige
exclusividade relacional conosco (v.23).
A geração de israelitas que
havia participado da conquista da terra prometida
(v.16) aceita uma aliança
com o Senhor, semelhante aquela que seus pais se comprometeram a cumprir no
Sinai (Êx.24.7-18; 34.27-28). Aqui neste contexto de pacto destaca-se a
exigência divina de exclusividade no relacionamento com seus filhos-adoradores.
Além de uma atitude exterior (abandonar os ídolos), deveria haver também uma
disposição interior. Inclinar o coração para Deus é servir com integridade,
sinceridade, verdade, com
inteireza do ser.
Qual é o nível do seu
relacionamento com Deus? Você anda meio dividido? Sente que não está agradando
ao Senhor? Pois bem meu conselho é que você jogue fora os “deuses estranhos” e
incline o seu coração para o Senhor e assim apresente sua vida consagrada como
uma oferta de amor. Lembrese Deus exige exclusividade. Ele não quer corações
divididos. Ele não quer culto parcial nem tampouco vidas incoerentes.
Ainda que o povo de Israel
achasse impossível abandonar a Deus, por causa de tudo que Ele fez a favor
desta nação, a história de Israel, logo no livro de Juízes, indica que um
reconhecimento das fraquezas, e humildade teriam sido mais recomendáveis. A
falta de perseverança no caminho do Senhor, em grande parte deve-se ao fato de
que os pais deixaram de praticar e ensinar a seus filhos dentro de seus lares.
Isto Josué prometeu fazer (v.15), sabendo que o culto verdadeiro começa em
casa.
Gostaria de sugerir que
reconheçamos as nossas falhas e fraquezas e assim nos posicionemos humildemente
diante deste Deus, que cumpre as suas promessas, e na dependência dEle
procuremos viver uma vida dedicada sabendo que:
(a) Ele é fiel em cumprir as
Suas promessas.
(b) As vitórias alcançadas
na vida não são meros resultados do esforço humano.
(c) Ele nos sustenta e nos
farta de bens deste mundo.
(d) Ele espera que O
sirvamos com sinceridade.
(e) Ele exige exclusividade
relacional conosco.
Capítulo 2
O Livro de Juízes
2.1. O seu nome
Esboço do Livro
I. A Desobediência e a
Apostasia de Israel (1.1—3.6)
A. Israel Deixa de Expurgar
a Terra (1.1—2.5)
B. O Desvio Calamitoso de
Israel (2.6—3.6)
II. A Opressão Estrangeira
de Israel e os Juízes Libertadores (3.7—16.31)
A. Opressão Mesopotâmica
-Livramento por Otniel (3.7-11)
B. Opressão Moabita
-Livramento por Eúde (3.12-30)
C. Opressão Filistéia
-Livramento por Sangar (3.31)
D. Opressão Cananéia
-Livramento por Débora e Baraque (4.1—5.31)
E. Opressão Midianita
-Livramento por Gideão (6.1—8.35)
F. Tempos Conturbados sob
Abimeleque, Tola e Jair (9.1—10.5)
G. Opressão Amonita
-Livramento por Jefté (10.6—12.7)
H. Juízes Secundários -Ibsã,
Elom e Abdom (12.8-15)
I. Opressão Filistéia -Vida
de Sansão (13.1—16.31)
1. Nascimento e Chamada de
Sansão (13.1-25)
2. Casamento de Sansão com
uma Incrédula (14.1-20)
3. Proezas de Sansão
(15.1-20)
4. Queda e Restauração de
Sansão (16.1-31)
III. Decadência Espiritual,
Moral e Social de Israel (17.1—21.25)
A. Idolatria (17.1—18.31)
1. Exemplo de Idolatria
Individual (17.1-13)
2. Exemplo de Idolatria
Tribal (18.1-31)
B. Devassidão (19.1-30)
1. Um Exemplo de Devassidão
Pessoal (19.1-9)
2. Um Exemplo de Devassidão
Tribal (19.10-30)
C. Lutas tribais
(20.1—21.25)
O nome é extraído dos
juízes, cujos feitios são registrados pelo livro. O livro é fragmentado e não
cronológico na sua disposição. Os eventos registrados são mais locais e tribais
do que nacionais. Todavia, são de grande valor para mostrar a condição e
caráter do povo.
A palavra hebraica traduzida
por “Juízes” significa “os que julgam ou governam” (líderes), “libertadores”,
ou “salvadores”. O livro recebeu o nome de Juízes por causa do caráter do
trabalho dos seus heróis, pessoas levantadas por Deus para salvar as tribos de
Israel dos seus (2.16). Essas pessoas, além da sua função em alguns casos de
julgar o povo (4.4-5), executavam o julgamento de Deus sobre os opressores de
Israel (11.27). De modo geral os juízes eram líderes e libertadores (3.9-10).
W.S. LaSor diz da palavra: “É relacionada às palavras fenícia e ugarítica que
ajudam a esclarecer o seu sentido”. Os romanos referiam-se aos governantes de
Cártago como sufes ou sufetes... Lívio comparava-os ao cônsul romano... A
história ugarítica de Anate contém o seguinte dístico: ‘nosso rei é Alian Baal’.
‘Nosso juiz, não há outro acima dele’ (51, nº. 43 sg).
Os juízes (treze deles são
mencionados neste livro) vieram de várias tribos e funcionavam como chefes
militares e magistrados civis. Muitos se limitavam à sua própria tribo quanto à
esfera de influência, ao passo que alguns serviam a toda a nação de Israel.
Os juízes surgiam quando as
ocasiões requeriam e foram homens das tribos sobre os quais Deus colocou o
fardo de um Israel apóstata e oprimido. Exerciam funções judiciais e orientavam
os exércitos de Israel contra o inimigo. Portanto, eles ditavam as normas à
nação e sustentavam a causa de Jeová. O nome, libertador ou Salvador, usado na
maioria dos manuscritos antigos, descreveu seu caráter e funções mais
detalhadamente. Mas, devido ao fato de indivíduos e clãs terem diferenças de
opinião naqueles tempos turbulentos, diferenças essas que poderiam trazer
conseqüências desastrosas, eles aprenderam a entregar tais diferenças àqueles
líderes vitoriosos, fato esse que, mais tarde, fez com que fossem chamados
juízes.
2.2. Os problemas da época
Problemas graves afrontaram
Israel naquela época. Foram problemas políticos, surgindo da condição de
isolamento das tribos; seu governo tribal, ao qual faltava a unidade nacional;
a força e a opressão dos cananitas. Foram problemas sociais, aparecendo por
causa da adoção dos hábitos de vida cananita e o casamento misto com o novo
povo. Foram problemas religiosos, surgidos da satisfação dos desejos que era
oferecida pelo culto a Baal, enquanto a religião de Israel exigia pureza. Foram
cercados por nações
hostis que desejavam tomar
para si os distritos da Palestina. Todas essas condições ameaçaram até mesmo a
vida da nação.
2.3. O seu lugar no Cânon
No cânon judaico, Juízes é o
segundo livro dos Primeiros Profetas. Em nosso cânon, é o segundo dos livros
históricos. Continua a história registrada em Josué e prepara o leitor para
entender as narrativas dos livros de Samuel.
Historicamente, o livro de
Juízes fornece o relato principal da história de Israel na terra prometida, da
morte de Josué aos tempos de Samuel. Teologicamente, revela o declínio
espiritual e moral das tribos, após se estabelecerem na terra prometida. Esse
registro deixa claros os infortúnios que sempre ocorriam a Israel quando ele se
esquecia do seu concerto com o Senhor e escolhia a senda da idolatria e da
devassidão.
2.4. O seu tema
É a história dos juízes
(2.12-19; 3.7-11).O livro de Juízes relata o governo de treze juízes sobre
Israel desde a morte de Josué até os dias de Eli e Samuel. Os israelitas
constantemente desobedeciam a Deus e caiam nas mãos de países opressores. Estes
juízes foram constituídos por Deus para livrá-los da opressão. Aproveito a
sugestão de Giuseppe Grocetti e destaco como tema a seqüência: “pecado,
punição, súplica e o envio de um salvador”. O livro traz pelo menos duas
lições: Pecado leva castigo, mas arrependimento leva libertação e paz; aquele
que é dedicado a Javé pode ser usado por ele.
2.5. O seu caráter
O livro narra a época mais
escura de toda a história de Israel. A vida moral era de nível baixíssimo e a
vida religiosa estava em condição sincrética. Javé era considerado o Deus do
povo, mas muitas vezes Ele foi cultuado como um dos baalins. Outras vezes o
povo simplesmente cultuava os baalins. Astarote (1Rs 11.5) era a deusa
associada a Baal (2.11,13). Os baalins foram realmente expressões de Baal em
vários lugares. Esse Baal era o deus da fertilidade (Os 2.5-13; 4.10-14; Am
4.4-8; 1Rs 17.1; 18.1,41-45), sendo senhor das tempestades as quais traziam as
chuvas a terra, concorrendo para a colheita e fecundidade do gado e do rebanho.
O nome “Baal” significa “o senhor”, “o marido”, ou “o possuidor”, e esse fato
fazia com que os israelitas perdessem facilmente a distinção entre Javé, seu
senhor, e o Baal (senhor) daquele lugar. Segundo as descobertas de Ugarite do
século 14 a .C.
Baal equivale ao deus mesopotâmico de tempestade, Hadade. Provavelmente fosse
filho de um dos deuses irmãos de El, o Deus altíssimo.
Os historiadores sagrados
que compuseram os livros de Josué a 2Reis delineavam a filosofia da história
deuteronômica, assim chamada por que sua expressão mais clara se acha em Deuteronômio. O
seu princípio básico é o da divina retribuição: que Deus em Sua providência
galardoa a nação em correspondência direta com a fidelidade de seu povo.
Obediência à vontade de Deus produz prosperidade e bênção, enquanto que a
desobediência leva
o povo à adversidade e
castigo (Jz 2.6-23). Quando as tribos mantinham sua fidelidade a Javé e ao
pacto do Sinai, elas estavam unidas e fortes. Mas quando desciam ao baalismo,
sua unidade se perdia , tornando-se divididas e fracas. Essa filosofia se
expressa da seguinte maneira em Juízes: o povo pecava e se afastava do seu
Deus, e, como resultado, caía nas mãos dos seus opressores; pelo arrependimento
e clamor a Deus, vinha a libertação, por meio dos homens chamados “Juízes”.
Deus sempre ouvia as súplicas do povo e os livrava.
2.6. A sua autoria e data
A autoria de Juízes é
incerta. O próprio livro indica os seguintes limites cronológicos de sua
composição:
(a) Foi escrito depois da
remoção da arca, de Siló, nos tempos de Eli e de Samuel (Jz 18.31; 20.27; 1Sm
4.3-11).
(b) As referências freqüentes do livro ao período dos
juízes, com a declaração: “Naqueles dias, não havia rei em Israel” (Jz 17.6;
18.1; 19.1; 21.25), sugere que o livro foi escrito no tempo da monarquia.
(c) Jerusalém ainda estava
em poder dos jebuseus (Jz 1.21; 2Sm 5.7). Esses três indícios indicam que o
livro foi concluído nalgum tempo depois do início do reinado do rei Saul (c. 1050 a .C.), mas antes do rei
Davi capturar Jerusalém (c. 1000
a .C.).
O Talmude judaico associa a
origem deste livro a Samuel, o que é bem possível. Uma coisa é certa: o livro
descreve e avalia o período dos juízes do ponto de vista do concerto (Jz
2.1-5). Moisés tinha profetizado que a opressão viria da parte das nações
estrangeiras sobre os israelitas como maldição da parte de Deus, se eles
abandonassem o concerto (Dt 28.25, 33, 48). O livro de Juízes ressalta a
realidade histórica dessa profecia. Semelhante a Josué há elementos anteriores
e posteriores do livro.
2.6.1. Anteriores
(a) O cântico de Débora
(cap. 5).
(b) Os Jebuseus em Jerusalém
(1.21, cf. 2Sm 5.6-9).
(c) Sidom ainda é a cidade
principal da Fenícia. Tiro tornou-se
cidade principal no século doze a.C.
(d) Os cananeus estavam
ainda em Gezer (1.29).
2.6.2. Posteriores
(a) Siló tinha sido
destruída (18.31) cerca de 1100
a .C.; 1Sm 4.12; 7.2; Jr 7.14; 1Rs 14.4).
(b) Implicação de uma data
durante o período da monarquia (17.6; 18.1; 21.25).
(c) Implicação de uma data
depois do início das invasões assírias (18.30; 2Rs 15.17-22).
2.6.3. Segundo alguns a sua composição teria seguido
o seguinte desenvolvimento
(a) Tradições orais, do
século décimo segundo ao século décimo antes de Cristo.
(b) Tradições escritas, do
século décimo segundo ao nono século antes de Cristo.
(c) Forma final, cerca do
sexto século antes de Cristo.
2.7. O Espírito Santo citado
A atividade do Espírito
Santo do Senhor no Livro de Juízes é claramente retratada na liderança
carismática daquele período. Os seguintes atos heróicos de Otniel, Gideão,
Jefté e Sansão são atribuídos ao Espírito do Senhor:
O Espírito do Senhor veio
sobre Otniel (3.10) e o capacitou a libertar os israelitas das mãos de Cusã-Risataim,
rei da Síria. Através da presença pessoal do Espírito do Senhor, Gideão (6.34)
libertou o povo de Deus das mãos dos midianitas. Literalmente, o Espírito do
Senhor se revestiu de Gideão. O Espírito do Senhor capacitou este líder
escolhido por Deus e agiu através dele para implementar o ato salvífico do
Senhor em benefício do seu povo. O Espírito do Senhor equipou Jefté (11.29) com
habilidades de liderança no seu empreendimento militar contra os amonitas. A
vitória de Jefté sobre os amonitas foi o ato de libertação do Senhor em
benefício de Israel. O Espírito do Senhor capacitou Sansão e executar atos
extraordinários. Ele começou a impelir Sansão para sua carreira (13.25). O
Espírito veio poderosamente
sobre ele em várias ocasiões. Sansão despedaçou um leão apenas com as mãos
(14.6). Certa vez matou trinta filisteus (14.19) e, em outra ocasião, livrou-se
das cordas que amarravam as suas mãos e matou mil filisteus com uma queixada de
jumento (15.14,15).
O mesmo Espírito Santo que
deu condições a esses libertadores para que fizesse façanhas e cumprissem os
planos e propósitos do Senhor continuam operantes ainda hoje.
2.8. O livro de Juízes pode
ser dividido em três seções básicas
2.8.1. Seção I (1.1; 3.6)
Mostra como Israel deixou a
conquista inacabada e também a decadência da nação depois da morte de Josué.
2.8.2. Seção II (3.7; 16.31)
Abarca a parte principal do
livro. Registra seis exemplos de reincidência de Israel em revezes diversos no
período dos juízes, abrangendo tempos de apostasia, de opressão por
estrangeiros, de servidão, de clamor a Deus sob aflição e de livramento divino
do povo, mediante líderes ungidos pelo Espírito Santo. Entre os treze juízes
(todos incluídos nesta seção do livro), os mais conhecidos são Débora e Baraque
(agindo em conjunto), Gideão, Jefté e Sansão (Hb 11.32).
2.8.3. Seção III (17.1;
21.25)
Esta seção encerra o livro
com fatos da vida real dos tempos dos juízes, que revelam a profundidade da
corrupção moral e social decorrente da apostasia espiritual de Israel. Uma
lição patente no livro para todos nós: os seres humanos nunca aprendem bem as
lições que a história ensina.
2.9. Seis características
especiais relevam o livro de Juízes
(A) Registra eventos da
história turbulenta de Israel, da conquista da Palestina ao início da
monarquia.
(B) Ressalta três verdades
simples, porém profundas:
(a) Um povo que pertence a
Deus deve ter a Deus como seu Rei e Senhor.
(b) O pecado é sempre
destruidor para o povo de Deus.
(c) Sempre que o povo de Deus se humilha, ora, e
deixa seus caminhos ímpios, Deus ouve do céu e sara a sua terra (2Cr 7.14).
(C) Salienta que quando Israel perdia de vista a sua identidade
como o povo do concerto, tendo Deus como seu rei, a nação afundava em ciclos
repetidos de caos espiritual, moral e social, e então “cada um fazia o que
parecia reto aos seus olhos” (21.25; confronte 17.6).
(D) Revela vários casos que ocorrem repetidamente na história do
povo de Deus, dos dois concertos:
(a) A não ser que o povo de
Deus ame e dedique-se a Deus de todo coração e mantenha uma constante
vigilância espiritual, esse povo endurecerá o coração, deixará de buscar a
Deus, se desviará e acabará na apostasia.
(b) Deus é longânimo, e
sempre que os seus clamam arrependidos, Ele é misericordioso para restaurá-los,
por meio de homens que Ele levanta, com dons e revestimento do Espírito Santo,
para livrá-los do juízo opressivo do pecado.
(c) Constantemente, os próprios líderes ungidos, que Deus usa para
livrar o seu povo, entram pelo caminho da corrupção, por falta de humildade, de
caráter ou de retidão.
(E) Cada um dos seis ciclos principais do livro abrange apostasia,
opressão, aflição e libertação, e começam, todos, da mesma forma: “Então,
fizeram os filhos de Israel o que parecia mal aos olhos do Senhor” (2.11; 3.7).
(F) O livro revela que Deus usava nações mais pecaminosas do que o seu
próprio povo para fustigá-lo pelos seus pecados e para levá-los ao
arrependimento e reavivamento. Somente essa intervenção divina impediu que o
paganismo ao redor de Israel o absorvesse.
2.10. O estabelecimento do
povo em Canaã (Juízes 1.1; 2.5)
O estabelecimento dos
israelitas na Terra Prometida fornece-nos alguns detalhes da manifestação
divina na vida do seu povo. No texto encontramos várias lições práticas
importantes para nosso crescimento na vida cristã. Destaco as seguintes:
(a) O estabelecimento dos israelitas em Canaã ensina que devemos
consultar ao Senhor antes da
realização de qualquer empreendimento humano (v.1,2). Foi feita uma consulta ao
Senhor para ver que tribo ou tribos liderariam o ataque contra os cananeus.
Judá foi a escolhida. O Senhor nunca nos deixa sem uma orientação. Só devemos
realizar qualquer ação depois que o Senhor disser “sim”.
(b) O estabelecimento dos israelitas em Canaã ensina que devemos unir
nossas forças na realização do trabalho de Deus (v.3-7). A tribo de Judá contou
com o apoio da tribo de Simeão para atacar e expulsar os cananeus e perizeus. O
Senhor os entregou na mão do seu povo. A igreja de Jesus Cristo precisa estar
unida para cumprir sua missão. Na igreja primitiva havia íntima comunhão.
“Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum” (At.2.44).
(c) O estabelecimento dos israelitas em Canaã ensina que se Deus é por
nós, ninguém pode nos vencer (v.4,17-19). O Senhor entregou nas mãos de Judá e
Simeão todos os seus inimigos. Através das vitórias constantes, todos sabiam
que o Senhor estava com eles. O apóstolo Paulo
afirma que somos mais que vencedores, por aquele que nos amou. Nada pode nos
separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus , nosso Senhor (Rm 8.37-39).
Neste trecho vimos que você
deve consultar o Senhor antes da realização de qualquer empreendimento. Por
outro lado é necessário que você esteja aberto (a) para a necessidade de
cooperação, pois neste mundo dificilmente fazemos as coisas sozinhos. Diante
dos desafios da vida, tenha fé que, se Deus está do seu lado, ninguém poderá
vencê-lo. Seja zeloso nas coisas espirituais, pois somente assim você cumprirá
toda justiça de Deus. Não se esqueça que Deus é justo e visita com castigo à
infidelidade daqueles a quem ele ama. Seja sincero em seu estado de
arrependimento quando peca contra Deus. A confissão de culpa superficial não
produz efeito duradouro em sua vida.
2.11. Lições extraídas do
período dos juízes (Juízes 2.6; 21.25)
Vejamos algumas lições
práticas que o período dos juízes de Israel apresenta para nós. Deixe estes
princípios espirituais se tornarem uma realidade em sua vida!
(a) O período dos juízes
ensina que as promessas de Deus precisam ser possuídas pelo seu povo (2.6). As
tribos de Israel precisaram lutar para possuírem a terra prometida. Nós
queremos as promessas de Deus, mas não lutamos pelo seu cumprimento em nossas
vidas. Todas as conquistas espirituais envolvem esforço, luta e confiança
total em Deus (Josué 1.9).
(b) O período dos juízes
ensina que o povo de Deus precisa de líderes comprometidos com o Senhor (2.7).
Enquanto Josué e os anciãos ligados a Ele eram vivos, o povo de Israel serviu
ao Senhor. Um líder comprometido com o Senhor pode conduzir toda uma nação a um
genuíno despertamento espiritual (1Rs 18.20-40).
(c) O período dos juízes
ensina que a falta de liderança espiritual firme conduz o povo a um completo
esquecimento de Deus (2.10). Com a morte de Josué e dos anciãos ligados a ele,
levantou-se outra geração que não conhecia o Senhor. O profeta Ezequiel ensina
que as ovelhas se espalharam, por não haver pastor; e se tornaram pasto de
todas as feras do campo, porquanto se espalharam (Ez 34.5).
(d) O período dos juízes
ensina que a ira do Senhor se acende contra os cristãos infiéis (2.14-15). A
mão do Senhor passou a ser contra os israelitas para o mal. Eles começaram a
viver uma grande aflição na terra prometida.
(e) O período dos juízes
ensina que Deus atende o clamor sincero dos seus filhos (2.16-18). A Bíblia
informa que o Senhor se compadecia dos israelitas em razão do seu gemido por
causa dos que os oprimiam e afligiam. Em resposta, suscitava Juízes que
livravam o povo da mão dos que os despojavam. Em qualquer circunstância da
vida, devemos lembrar que “a benignidade do Senhor jamais se acaba, as suas
misericórdias não têm fim” (Lm 3.22).
Nesta secção vimos que as
promessas de Deus são conquistadas por você através do combate da fé. Deus
chama você para um comprometimento total com ele, através da fé em Jesus Cristo. A
falta de uma liderança espiritual firme nas igrejas hoje em dia é a causa do
afastamento contínuo de cristãos em relação a Deus. Mas a ira do Senhor está
acesa contra aqueles que vivem de maneira infiel. Se este é o seu caso, clame
ao Senhor com sinceridade, e ele atenderá a sua oração. Seja sóbrio e vigilante
em todos os seus procedimentos, porque Deus prova sua lealdade a ele
constantemente.
Capítulo 3
O Livro de Rute
3.1. Autoria do Livro
Esboço do Livro
I. As Adversidades de Noemi
(1.1-5)
II. Noemi e Rute (1.6-22)
A. Noemi Resolve Sair de
Moabe (1.6-13)
B. O Amor Inabalável de Rute
(1.14-18)
C. Noemi e Rute Vão a Belém
(1.19-22)
III. Rute Conhece Boaz na
Seara (2.1-23)
A. A Providência Divina na
Decisão de Rute (2.1-3)
B. A Provisão Divina na
Decisão de Rute (2.4-16)
C. Rute Informa a Noemi
(2.17-23)
IV. Rute e Boaz na Eira
(3.1-18)
A. Rute Recebe Instruções de
Noemi sobre Boaz (3.1-5)
B. Rute Pede a Boaz para Ser
Seu Remidor (3.6-9)
C. Rute Recebe Resposta
Favorável de Boaz (3.10-18)
V. Boaz Casa com Rute
(4.1-13)
A. Boaz e o Contrato de
Parente-Remidor (4.1-12)
B. Casamento e Nascimento de
um Filho (4.13)
VI. O Contentamento de Noemi
(4.14-17)
VII. A Genealogia de Perez a
Davi (4.18-22)
Historicamente, o livro de
Rute descreve eventos na vida de uma família israelita durante o tempo dos
Juízes (1.1; (1375 -1050 a .C.).
Geograficamente, o contexto é a terra de Moabe, a leste do mar Morto. O
restante do livro transcorre em Belém de Judá e sua vizinhança. Liturgicamente,
o livro é um dos cinco rolos da terceira divisão da Bíblia Hebraica, conhecida
como Os Hagiógrafos (lit. “Escritos Sagrados”). Cada um desses rolos era lido
publicamente numa das festas judaicas anuais. Visto
que a comovente história de
Rute ocorreu na estação da colheita, era costume ler este livro na Festa da
Colheita (Pentecostes). Considerando que a lista dos descendentes de Rute não
vai além do rei Davi (4.21,22), o livro foi provavelmente escrito durante o
reinado de Davi).
Os estudiosos discordam
quanto à data do livro, porém o seu cenário histórico é evidente. Os episódios
relatados no livro de Rute se passam durante o período de Juízes, sendo parte
daqueles eventos que ocorrem entre a morte de Josué e a ascensão da influência
de Samuel (provavelmente 1150 e 1100
a .C.). A tradição rabínica assegura que Samuel escreveu
o livro na segunda metade do séc. XI a.C.. Apesar do pensamento crítico mais
recente sugerir uma data pós-exílica bem mais tardia (cerca de 500 a .C.), há evidências na
linguagem da obra bem como referencias a costumes peculiares próprios do séc.
XII a.C. que recomendam a aceitação da data mais antiga. É razoável supor que
Samuel, testemunhou o declínio do reinado de Saul e foi divinamente instruído
para ungir Davi como escolhido de Deus para o trono, tivesse redigido o livro.
Uma história tão comovente como essa certamente já teria sido passada adiante
oralmente entre o povo de Israel, e a genealogia que a conclui indicaria uma
conexão com os patriarcas, oferecendo assim uma resposta a todos aqueles que,
em Israel, indagassem pelo passado familiar do seu rei.
3.2. Cristo no livro de Rute
Boaz representa uma das mais
dramáticas figuras do Antigo Testamento que antecipa a obra redentora de Jesus.
A função de “parente remidor” cumprida de forma tão elegante nas ações que
promoveram a restauração pessoal de Rute, dá testemunho eloqüente a respeito
disso. As ações de Boaz efetuam a participação de Rute nas bênçãos de Israel e
a incluem na linhagem familiar do Messias (Ef 2.19). Eis aqui uma magnífica
silhueta do Mestre, antecipando em muitos séculos a sua graça redentora. Como
nosso “parente chegado”, ele se torna carne -vindo como um ser humano (Jo 1.14;
Fp 2.5-8).
3.3. Autoridade canônica e
propósito de Rute
A autoridade canônica de
Rute nunca foi contestada. Deu-se confirmação suficiente dela quando Deus
inspirou que se alistasse na genealogia de Jesus, em Mateus 1.5. O livro de
Rute foi sempre reconhecido pelos judeus como parte do cânon hebraico. Não é de
surpreender, pois, que foram encontrados fragmentos do livro entre outros
livros canônicos nos Rolos do Mar Morto, descobertos a partir de 1947. Além
disso, o livro harmoniza-se plenamente com os propósitos de Deus, referentes ao
Reino, e com os requisitos da Lei de Moisés. Embora fosse proibido aos
israelitas o casamento com cananeus e moabitas idólatras, isto não se aplicava
aos
estrangeiros que, como no
caso de Rute, aceitassem a adoração de Deus. No livro de Rute, a lei sobre
resgatadores e casamento com cunhado é observada em todos os seus pormenores.
Dt 7.1-4; 23.3, 4; 25.5-10.
O livro de Rute foi escrito
a fim de mostrar como, através do amor altruísta e do devido cumprimento da lei
de Deus, uma jovem mulher moabita, virtuosa e consagrada, veio a ser a bisavó
do rei Davi de Israel. O livro também foi escrito para perpetuar uma história
admirável dos tempos dos juízes a respeito de uma família piedosa cuja
fidelidade na adversidade contrasta fortemente com o generalizado declínio espiritual
e moral em Israel.
3.4. Conteúdo histórico Rute
A decisão de Rute de ficar
com Noemi (1.1-22). A história começa durante uma época de fome em Israel. Elimeleque ,
um homem de Belém, atravessa o Jordão em companhia de sua esposa, Noemi, e de
seus dois filhos, Malom e Quiliom, para passarem algum tempo na terra de Moabe.
Ali, os filhos se casam com mulheres moabitas, Orfa e Rute. Sobrevém desgraça a
essa família; primeiro morre o pai e depois morrem os dois filhos. As três
mulheres ficam viúvas e sem filhos, não havendo descendente para Elimeleque.
Noemi ouve que Deus voltou novamente a sua atenção para Israel, dando pão a Seu
povo, e decide retornar à sua terra natal, Judá. As noras se põem a caminho com
ela. Mas Noemi roga-lhes que voltem a Moabe, pedindo a benevolência de Deus
para prover marido a cada uma dentre os homens do povo delas. Por fim, Orfa
volta “ao seu povo e aos seus deuses”, mas Rute, sincera e firme na sua
conversão à adoração de Deus, fica com Noemi. Ela expressa belamente a sua decisão
nas seguintes palavras: “Aonde quer que fores, irei eu, e onde quer que
pernoitares, pernoitarei eu. Teu povo será o meu povo, e teu Deus, o meu Deus.
Onde quer que morreres, morrerei eu e ali serei enterrada. Assim me faça Deus e
assim lhe acrescente mais, se outra coisa senão a morte fizer separação entre
mim e ti.” (1.15-17) Entretanto, Noemi, viúva e sem filhos, cujo nome significa
“Minha Agradabilidade”, sugere que a chamem pelo nome de Mara, que significa
“Amarga”.
3.5. História do amor e sofrimento
Esta história do amor que
redime inicia quando Elimeleque parte de Judá e passa a residir com sua família
em Moabe por causa de uma fome (1.1,2). O sofrimento continuou a flagelar
Elimeleque, pois ele e seus dois filhos morreram em Moabe (1.3-5), o que
resultou em três viúvas.
3.6. Quatro episódios
principais vêm a seguir.
(a) Noemi (viúva de
Elimeleque) e sua devotada nora moabita, Rute,
voltaram a Belém de Judá
(1.6-22).
(b) Na providência divina,
Rute veio a conhecer Boaz, um parente rico de Elimeleque (cap. 2).
(c) Seguindo as instruções
de Noemi, Rute deu a entender a Boaz o seu interesse na possibilidade de um
casamento segundo a lei do parenteremidor (cap. 3).
(d) Boaz, como
parente-remidor, comprou as propriedades de Noemi e casou-se com Rute, e
tiveram um filho chamado Obede -avô de Davi (cap. 4). Embora o livro comece com
tremendos reveses, termina com um final sobremodo feliz -para Noemi, para Rute,
para Boaz e para Israel.
3.7. Cinco características
principais assinalam o livro de Rute
(a) É um dos dois livros da
Bíblia que leva o nome de uma mulher (sendo o outro o de Ester).
(b) Este livro, escrito,
tendo ao fundo o horizonte ominoso -agourento, nefasto, funesto, detestável,
execrável -da infidelidade e apostasia de Israel durante o período dos juízes,
descreve as alegrias e pesares de uma família piedosa de Belém durante aqueles
tempos caóticos.
(c) Ilustra o fato de que o
plano divino da redenção incluía os gentios que, durante os tempos do Antigo
Testamento, foram enxertados no povo de Israel mediante o arrependimento e a fé
no Senhor.
(d) A redenção é um tema
central, do começo ao fim do livro, sendo o papel de Boaz, como
parente-remidor, uma das ilustrações ou tipos mais claros do ministério
mediador de Jesus Cristo.
(e) O versículo mais
conhecido deste livro consiste nas palavras que Rute dirigiu a Noemi, quando
ainda estava em Moabe: “Aonde quer que tu fores irei eu e, onde quer que
pousares a noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu
Deus” (1.16). Traça um retrato realista da vida, com seus contratempos, mas
também mostra como a fé e fidelidade de pessoas piedosas ensejam a Deus a
oportunidade de converter a tragédia em triunfo e a derrota em bênção.
3.8. Paralelismo do Livro de
Rute com o Novo Testamento
3.8.1. Este livro declara
quatro verdades do Novo Testamento
(a) Transtornos humanos dão
oportunidade a Deus para realizar seus grandes propósitos redentores (Fp 1.12).
(b) A inclusão de Rute no plano da redenção
demonstra que a participação no reino de Deus independe de descendência física,
mas pela conformação da nossa vida à vontade de Deus, mediante a “obediência da
fé” (Rm 16.26; Rm 1.5,16).
(c) Rute como partícipe da
linhagem de Davi e de Jesus (Mt 1.5) significa que pessoas de todas as nações
farão parte do reino do grande “Filho de Davi” (Ap 5.9; 7.9).
(d) Boaz, como o parente-remidor, é uma prefiguração do
grande Redentor, Jesus Cristo (Mt 20.28; ver Rt 4.10).
Este livro, junto com o de
Juízes, trata da vida de Israel desde a morte de Josué até o governo de Eli. O
nome é extraído de Rute, a personagem principal. Outras personagens importantes
são Noemi e Boaz.
3.9. Tipologia do Livro
Rute é um tipo da noiva
gentia de Cristo e a sua experiência é similar à de qualquer cristão devoto.
Boaz, o rico habitante de Belém, aceitando aquela mulher estranha, é uma
ilustração da obra redentora de Cristo.
3.10. Lições aprendidas com
a história de Rute
A história de Rute apresenta
um aspecto diferente da vida durante o período dos Juízes. O livro relata as
tristezas e alegrias de uma piedosa família de Belém. Rute, a moabita, que
passou a adorar o Deus de Israel, exibiu uma fé e uma lealdade rara naquele
tempo em Israel. Depois
da tristeza de perder seu primeiro marido, Rute retornou a Belém com sua sogra
e realizou um casamento feliz com Boaz. Desse modo ela veio a ser uma
antepassada do rei Davi. Seu nome figura na genealogia de Jesus Cristo. Eis
alguns princípios práticos que podem servir de estímulo para o seu crescimento espiritual:
3.10.1. A história de Rute
ensina que nem sempre as coisas acontecem como planejamos (1.1-5)
O texto mostra que não havia
em Elimeleque e sua família a intenção de uma migração permanente no país de
Moabe. Eles foram peregrinar para manter a vida e acabaram se deparando com a
morte. O amanhã não nos pertence; portanto, não devemos inquietar-nos por causa
dele. Basta a cada dia o seu mal (Mt 6.34).
3.10.2. A história de Rute ensina que as pessoas reagem
de maneira diferente diante da mesma situação (1.8-14)
Enquanto Orfa deu a Noemi o
beijo de despedida, Rute se apegou a ela. A mesma causa que induziu Orfa a ir
embora fez Rute permanecer: o fato de que Noemi não tinha filhos, nem esposo.
Nós respondemos às circunstâncias de maneira pessoal e exclusiva. Tudo depende
das motivações que trazemos dentro de nós no momento decisivo. A personalidade
exerce um papel preponderante.
3.10.3. A história de Rute ensina o preço alto que
precisamos pagar por causa da fidelidade a Deus e ao próximo (1.15-17)
Rute declara sua devoção
imorredoura a Noemi. Recusa-se a deixá-la naquele momento, ou em qualquer outra
ocasião. A fidelidade, tanto a Deus como ao próximo, envolve sacrifícios.
Aqueles que não querem passar por sofrimentos e privações dificilmente conseguirão
demonstrar fidelidade em seu viver.
3.10.4. A história de Rute ensina que Deus recompensa o
esforço que fazemos para demonstrar fidelidade a ele e ao próximo (4.9-12)
Rute voltou com Noemi para
Belém de Judá e fez um feliz casamento com Boaz. Desse modo veio a ser uma
antepassada de Davi. Seu nome também figura na genealogia de Jesus Cristo. Ela
tornou-se numa pessoa importante aos olhos dos homens e de Deus.
A história de Rute ensina
que as coisas nem sempre acontecem na sua vida como você planeja. Às vezes você
chega a uma situação tal que a melhor alternativa é voltar às origens para
recomeçar. Reconheça que as pessoas não são iguais; por isso reagem de maneira
diferente diante de uma mesma situação. Saiba que o preço que você paga pela
fidelidade a Deus e ao próximo envolve renúncia, sacrifícios e até mesmo
sofrimento. Nos momentos de provações, lembre-se que Deus recompensa todo o
esforço de ser fiel a ele e ao próximo.
Capítulo 4
1 e 2 Samuel
4.1. O Livro de 1Samuel
Esboço do Livro
I. Samuel: Líder Profético
de Israel (1.1—8.22)
A. Nascimento de um Líder
Profético (1.1—2.11)
2. O Filho Profético de Ana
(1.19-28)
3. O Cântico Profético de
Ana (2.1-11)
B. Degeneração da Liderança
Existente (2.12-36)
C. Transição de Eli para
Samuel (3.1—6.21)
2. O Julgamento da Casa e do
Ministério de Eli (4.1-22)
3. Captura e Retorno da Arca
(5.1—6.21)
D. Avivamento sob a
Liderança de Samuel (7.1-17)
E. Israel Exige um Rei
(8.1-22)
1. Israel Rejeita os Filhos
de Samuel Como Líderes (8.1-5)
2. Israel Rejeita Deus Como
Seu Rei (8.6-22)
II. Saul: O Primeiro Rei de
Israel (9.1—15.35)
A. Transição de Samuel para
Saul (9.1—12.25)
1. Saul é Escolhido (9.1-27)
2. Samuel Unge Saul
(10.1-27)
3. Saul Vence os Amonitas
(11.1-11)
4. Samuel Renova o Reino em
Gilgal (11.12-15)
5. Discurso de Despedida de
Samuel (12.1-25)
B. Começo do Reinado de Saul
(13.1—15.35)
1. Guerras e Insensatez de
Saul (13.1—14.52)
2. Rebeldia de Saul e Sua
Rejeição (15.1-35)
III. Davi: Sua Unção e
Aguardamento (16.1—31.13)
A. Samuel Unge Davi
(16.1-13)
B. Deus Retira Seu Espírito
de Saul (16.14—23)
C. Davi Luta contra Golias
(17.1-58)
D. Davi na Corte de Saul
(18.1—19.17)
1. Davi e Jônatas (18.1-4)
2. Davi Serve a Saul
(18.5-16)
3. Davi Casa-se com Mical
(18.17-28)
4. Saul Teme a Davi e
Intenta Matá-lo (18.29—19.17)
E. Davi no Exílio
(19.18—31.13)
1. Davi Foge para Samuel
(19.18-24)
2. Davi Protegido por Jônatas
(20.1-42)
3. Davi Auxiliado por
Aimeleque, o Sacerdote (21.1-9)
4. Davi Refugia-se em Gate,
na Filístia (21.10-15)
5. Um Grupo de Fugitivos e
Descontentes Une-se a Davi (22.1—26.25)
6. Davi Refugia-se em Gate,
na Filístia (27.1—30.31)
4.1.1. Problema da autoria e
Data
O autor de 1Sm não é nomeado
neste livro, mas é provável que Samuel tenha escrito pelo menos parte do livro,
ou fornecido a informação para outro historiador, o que engloba sua vida e
ministério até sua morte. A autoria do restante de 1Sm não pode ser determinada
com certeza, mas alguns supõem que seja do sacerdote Abiatar.
O problema da autoria admite
Primeiro e Segundo Samuel como uma só unidade literária. Tendo em vista que
parte do primeiro livro e a totalidade do segundo foram escritas depois da
morte de Samuel, este teria apenas contribuído com parte da redação (confronte
10.25). O trabalho final é obra de um historiador inspirado que empregou
arquivos literários da época, inclusive as crônicas de Samuel (2Sm 1.18; 1Cr
27.24; 29.29), provavelmente pouco depois de 930 a .C., posto que Primeiro
Samuel pressupõe a divisão do reino (27.6) e Segundo Samuel termina com os
últimos dias de Davi.
O nome provém da história da
vida de Samuel registrada na primeira parte deste livro. Significa “nome de
Deus”. Foram, anteriormente, no Antigo Testamento hebraico, um só livro e eram
chamados de “O Primeiro Livro dos Reis”; os dois livros de Reis eram um e
chamados de “Segundo Reis”. Samuel e Reis formam uma história contínua e nos
dão um relato do nascimento, glória, e queda da monarquia judaica.
Levam o nome do profeta
Samuel, tido em alta estima como um proeminente líder espiritual de Israel;
aquele a quem Deus usou para pôr em ordem a monarquia teocrática.
Primeiro Samuel abrange
quase um século da história de Israel -do nascimento de Samuel à morte de Saul
(c. 1105-1010 a .C.)
-e forma o principal elo histórico entre o período dos juízes e o primeiro rei
de Israel.
Enquanto o livro de Segundo
Samuel ocupa-se exclusivamente do rei Davi, Primeiro Samuel ocupa-se de três
transições importantes na liderança nacional: de Eli para Samuel; de Samuel
para Saul; e de Saul para Davi.
Por causa da referência à
cidade de Ziclague, que “pertence aos reis de Judá, até o dia de hoje” (27.6),
e por outras referencias a Judá e a Israel, sabemos que 1Sm foi escrito depois
da divisão da nação em 931 a .C..
Além disso, como não há menção à queda de Samaria em 722 a .C., deve ser datado
antes deste evento. O livro de 1Sm cobre um período de cerca de 140 anos,
começando com o nascimento de Samuel em redor de 1150 a .C. e terminando com a
morte de Saul em redor de 1010
a .C..
4.1.2. Conteúdo
Israel havia sido governado
por juizes que Deus levantou em momentos cruciais da história da nação; no
entanto, a nação havia se degenerado moralmente e politicamente. Havia estado
sob a investida violenta e desalmada dos filisteus. O templo de Siló fora
profanado e o sacerdócio se mostra corrupto e imoral. Em meio a essa confusão
política e religiosa surge Samuel, o milagroso filho de Ana. De uma forma
notável, a renovação e a alegria que esse nascimento trouxe à sua mãe
prefiguram o mesmo para a nação.
Os próprios filhos de Samuel
não eram um reflexo do seu caráter piedoso. O povo não tinha confiança nos seus
filhos; mas a medida em que
Samuel envelhecia, pressionavam-no para que lhes desse um
rei. Com relutância, ele acaba cedendo. Saul, homem vistoso e carismático, é
escolhido para tornarse o primeiro rei. O seu ego era tão grande quanto a sua
estatura. Pela sua impaciência, exerceu funções sacerdotais, em vez de esperar
por Samuel. Depois de desprezar os mandamentos de Deus, foi rejeitado por ele.
Depois
dessa rejeição, Saul
tornou-se uma figura trágica, consumida por ciúme e medo, perdendo gradualmente
a sua sanidade. Gastou os seus últimos anos numa incansável perseguição a Davi
através das regiões montanhosas e desérticas do seu reino, num desesperado
esforço para eliminá-lo. Davi, no entanto, encontrou um aliado em Jônatas,
filho de Saul. Ele advertiu Davi sobre os planos do seu pai para matá-lo.
Finalmente, depois que Saul e Jônatas são mortos em batalha, o cenário está
pronto para que Davi se torne
o segundo rei de Israel.
4.1.3. Cristo no Livro de
1Samuel
As semelhanças entre Jesus e
o pequeno Samuel são surpreendentes. Ambos são filhos da promessa. Ambos foram
dedicados a Deus antes do nascimento. Ambos forma pontes de transição de um
estágio da história da nação para outro. Samuel acumulou os ofícios de profeta
e sacerdote; Cristo é profeta, sacerdote e rei. O fim trágico de Saul ilustra o
destino final dos reinos terrenos. A única esperança é um Reino de Deus na
terra, cujo soberano seja o próprio Deus. Em Davi começa a linhagem terrena do
Rei de Deus. Em Cristo, Deus vem como Rei e virá novamente como Rei dos reis.
Davi, o pequeno e humilde
pastor, prefigura a Cristo, o bom pastor. Jesus torna-se o Rei-pastor
definitivo.
4.1.4. O Espírito Santo
citado
1 Samuel contém notáveis
exemplos da vinda do Espírito Santo sobre os profetas, bem como sobre Saul e
seus servos. Em 10.6, o Espírito Santo vem sobre Saul, que profetiza e “se
transforma em outro homem”, isto é, é equipado pelo Espírito para cumprir o
chamado de Deus.
Depois de ser ungido por
Samuel, “desde aquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apoderou de Davi”
(16.13). O fenômeno do Espírito inspirando a adoração ocorre no cap. 10 e em
19.20. Esse fenômeno não é como o frenesi impregnado de emotividade dos pagãos,
mas verdadeira adoração e louvor a Deus pela inspiração do Espírito, em
semelhança ao ocorrido no dia de Pentecostes (At 2). Mesmo nos múltiplos usos
do Éfode, Urim e Tumim, esperamos ansiosamente pelo momento em que o “Espírito
da Verdade” nos irá guiar em “toda a verdade”, nos falará sobre “o que há de
vir” e “há de receber do que é meu (de Jesus)” e vo-lo “há de anunciar” (Jo
16.13,14)
4.1.5. Resumo de 1Samuel
Este livro começa com a
história de Eli, o velho sacerdote, juiz e líder do povo. Registra o nascimento
e a infância de Samuel, que mais tarde tornouse sacerdote e profeta do povo.
Esta história é muito parecida em beleza com
a história de Rute. Descreve
as nobres qualidades religiosas da mãe de Samuel que o conduziu à grandeza, e
mostra a elevada posição que as mulheres judias piedosas tinham no soerguimento
do povo hebreu. Seria difícil encontrar outra mãe mais amorosa ou devota, ou
outro filho mais promissor e fiel. O livro fala da elevação de Saul ao trono e
da sua queda final. Juntamente com isso, fala do crescente poder de Davi, que
sucedeu Saul no trono.
Primeiro Samuel descreve o
momento decisivo da história de Israel, em que as rédeas do governo passaram do
juiz para o rei. O livro relata a tensão entre a expectativa do povo quanto a
um rei (um soberano absoluto “como o têm todas as nações”, 1Sm 8.5) e, os
padrões teocráticos de Deus, pelos quais Ele era o Rei do seu povo. O livro
mostra claramente que a desobediência de Saul a Deus e sua violação dos
princípios teocráticos do seu cargo levaram Deus a rejeitá-lo e a substituí-lo
como rei.
4.1.6. Os três grandes
líderes nacionais: Samuel, Saul e Davi
(A) Samuel foi o último dos juízes, e o primeiro a exercer o
ofício profético (embora não fosse o primeiro profeta, confronte Dt 34.10; Jz
4.4). Como homem de grande espiritualidade e dotado do dom profético, Samuel.
(a) Sabiamente conduziu Israel a um avivamento no culto a Deus (cap. 7).
(b) Lançou o alicerce que situou os profetas na sua devida posição em
Israel (1Sm 19.20; At 3.24; 13.20; Hb 11.32).
(c) Claramente estabeleceu a monarquia israelita como reino teocrático
(1Sm 15.1,12,28; 16.1). A importância de Samuel como líder espiritual do povo
de Deus num período de grandes mudanças na história de Israel ultrapassa as de
todos os demais, exceto Moisés no seu papel no êxodo.
(B) Saul tornou-se o
primeiro rei de Israel, pelo fato de o povo querer um rei humano “como o têm
todas as nações” (1Sm 8.5,20). Não demorou muito para ele revelar que não tinha
aptidão espiritual para exercer aquele cargo teocrático; daí, Deus,
posteriormente, rejeitá-lo (1Sm 13; 15).
(C) Davi, o segundo
homem, escolhido por Deus como seu representante como rei, foi ungido por
Samuel (1Sm cap. 16). Davi não quis ocupar
o trono pela força ou pela
subversão, e deixou o caso nas mãos de Deus. Os capítulos 19-30 descrevem
prioritariamente as fugas de
Davi, por causa de Saul
enciumado e atormentado, e a paciência de Davi, que esperou até Deus agir no
seu devido tempo. O livro termina com o relato da morte trágica de Saul (1Sm
cap. 31).
4.1.7. Seis características
principais assinalam o livro de Primeiro Samuel
(a) Expõe claramente os
padrões santos de Deus para a monarquia de Israel. Os reis de Israel deviam ser
submissos a Deus, como o verdadeiro Rei de Israel, e obedientes à sua lei.
Deviam atentar para a mensagem e a correção divina através dos profetas.
(b) Expõe os primórdios do
grandioso ministério profético em Israel, como sendo a dimensão espiritual do
sacerdócio. O livro contém as primeiras referências do Antigo Testamento a uma
“congregação de profetas” (1Sm 10.5; 19.18-24).
(c) Ressalta a importância e
o poder da oração (1Sm 1.10-28; 2.1-10; 7.5-10; 8.5,6; 9.15; 12.19-23), da
palavra de Deus (1Sm 1.23; 9.27; 15.1,10,23) e da profecia pelo Espírito do
Senhor (1Sm 2.27-36; 3.20; 10.6,10; 19.20-24; 28.6).
(d) Contém farta informação biográfica descritiva da
vida de três destacados líderes de Israel -Samuel (1Sm 1-7), Saul (1Sm 8-31) e
Davi (1Sm 16-31).
(e) Contêm muitas das célebres histórias bíblicas,
tais como Deus falando com o menino Samuel (cap. 3), Davi e Golias (cap. 17),
Davi e Jônatas (1Sm 18-20), Saul enciumado e amedrontado por causa de Davi (1Sm
18-30), e Saul e a pitonisa de En-dor (cap. 28).
(f) Neste livro, temos a origem literária d’algumas palavras citadas
com freqüência: “Icabô” -que significa “nenhuma glória”, pois “foi-se a glória”
(1Sm 4.21); “Ebenézer” -que significa “pedra de ajuda”, pois “Até aqui nos
ajudou o SENHOR” (1Sm 7.12). Além disso, este livro é
o primeiro do Antigo
Testamento que emprega a frase “SENHOR dos Exércitos” (1Sm 1.3).
4.1.8. O livro de Primeiro
Samuel e seu cumprimento no Novo Testamento
Primeiro Samuel encerra duas
prefigurações proféticas do ministério de Jesus como profeta, sacerdote e rei.
(a) Samuel, nos seus dias, era o principal representante profético e
sacerdotal de Deus em Israel, prefigurava o ministério de Jesus como supremo
expoente profético e sacerdotal de Deus para Israel.
(b) Davi, nascido em Belém, um pastor e rei, ungido por Deus, que levou
a cabo os propósitos de Deus para sua própria geração (At 13.36), veio a ser a
prefiguração e precursor principal do rei messiânico de Israel. O Novo
Testamento refere-se a Jesus Cristo como “Filho de Davi”, a “descendência de
Davi segundo a carne” (Rm 1.3) e “a Raiz e a Geração de Davi” (Ap 22.16).
4.2. O Livro de 2Samuel
Esboço do Livro
I. O Grande Sucesso de Davi
Como Rei (1.1—10.19)
A. O Sucesso Político de
Davi (1.1—5.25)
1. Davi Pranteia a Morte de
Saul e Jônatas (1.1-27)
2. Davi, Rei de Judá
(2.1—4.12)
3. Davi, Rei de Todo o Israel
(5.1-5)
4. Davi Conquista Jerusalém
e a Torna Sede do Seu Governo (5.6-10)
5. Davi Alarga o Reino
(5.11-25)
B. O Sucesso Espiritual de
Davi (6.1—7.29)
1. Davi Faz de Jerusalém Seu
Centro Religioso (6.1-23)
2. Davi Deseja Edificar uma
Casa para Deus (7.1-3)
3. O Concerto de Deus com
Davi (7.4-17)
4. Davi Ora a Deus com
Gratidão (7.18-29)
C. O Sucesso Militar de Davi
(8.1—10.19)
1. As Vitórias de Davi sobre
a Filístia, Moabe, Zobá, Síria e Edom (8.1-12)
2. O Governo Justo de Davi
em Jerusalém (8.13—9.13)
II. O Vergonhoso Pecado de
Davi Como Rei (11.1—12.14)
A. O Adultério de Davi com
Bate-Seba (11.1-5)
B. O Homicídio Disfarçado de
Urias por Davi (11.6-27)
C. O Profeta Natã Declara o
Pecado e o Castigo de Davi (12.1-14)
III. As Conseqüências
Contínuas do Pecado de Davi (12.15—20.26)
A. Julgamento sobre a Casa
de Davi: Imoralidade e Morte (12.15—15.6)
1. Morte do Filho do
Adultério (12.15-25)
3. Amnom Violenta Sua
Meio-Irmã Tamar (13.1-20)
4. Absalão Mata Amnom por
Vingança (13.21-36)
5. Fuga, Regresso e
Falsidade de Absalão (13.37—15.6)
B. Julgamento contra o Reino
de Davi: Revolta e Homicídio (15.7—20.26)
2. Davi Foge de Jerusalém,
Desprestigiado (15.13—16.14)
3. Absalão Governa em
Jerusalém (16.15—17.29)
4. Derrota e Morte de
Absalão (18.1-32)
7. Insurreição e Morte de
Seba (20.1-26)
IV. Os Últimos Anos do
Reinado de Davi (21.1—24.25)
A. A Fome de Três Anos
(21.1-14)
B. Guerra com os Filisteus
(21.15-22)
C. Salmo de Louvor de Davi
(22.1-51)
D. Últimas Palavras de Davi
(23.1-7)
E. Os Valentes de Davi
(23.8-39)
F. A Contagem do Povo e a
Praga da Parte de Deus (24.1-17)
G. A Intercessão de Davi e a
Misericórdia de Deus (24.18-25)
4.2.1. Autoria e Data
Os dois livros hoje
conhecidos como 1 e 2 Samuel eram originalmente um só livro denominado “O Livro
de Samuel”. Não se sabe com exatidão quem realmente escreveu o livro. Sem
dúvida, Samuel registrou boa parte da história de Israel neste período. No
entanto, outros materiais haviam sido colecionados e puderam ser usado como
fontes pelo autor real. Três dessas fontes são mencionadas em 1Crônicas 29.29,
a saber: as “crônicas de Samuel, o vidente”, as “crônicas do profeta Natã” e as
“crônicas de Gade, o vidente”. Tanto Gade como Abiatar tinham acesso aos
eventos da corte do reino de Davi, de forma que ambos são candidatos à autoria
desses dois livros.
Os dois livros devem receber
uma data posterior à divisão do reino em duas partes, divisão que aconteceu
logo depois do governo de Salomão, 931 a .C., por causa do comentário encontrado em
1Sm 27.6 “pelo que Ziclague pertence aos reis de Judá, até ao dia de hoje”.
Embora, com freqüência, fosse traçada uma diferenciação entre Israel e Judá, e
embora Davi tenha reinado em Judá por sete anos e meio antes da unificação do
reino, não havia reis em Judá antes desta data.
4.2.2. Conteúdo
O livro de 2 Samuel trata da
ascendência de Davi ao trono e dos quarenta anos do seu reinado. O livro está
enfocado na sua pessoa. E começa com a morte de Saul e Jônatas na batalha do
monte Gilboa. Davi é, então, ungido rei sobre Judá, sua própria tribo. Há um
jogo de poder pela casa de Saul entre Isbosete, filho de Saul e Abner
comandante-chefe dos exércitos de Saul. Embora a rebelião tenha sido sufocada,
esse relato sumário descreve os sete anos e meio anteriores à unificação do
reino por Davi. “E houve uma longa guerra entre a casa de Saul e a casa de
Davi; porém Davi se ia fortalecendo, mas os da casa de Saul se iam
enfraquecendo” (3.1) Davi unifica tanto a vida religiosa quanto política da
nação ao trazer a arca do Testemunho da casa de Abinadabe, onde havia estado
deste que fora recuperada dos filisteus (6.1-7.1).
4.2.3. O tema do livro
O tema do Rei vindouro, o
Messias, é introduzido quando Deus estabelece uma aliança perpétua com Davi e
seu reino. “Teu trono será firme para sempre” (7.16) Davi derrota com sucesso
os inimigos de Israel, e inicia-se um período de estabilidade e prosperidade.
Tristemente, porém, a sua vulnerabilidade e fraqueza o leva ao pecado com
Bate-Seba e ao assassinato de Urias, esposo dela.
Apesar do arrependimento de
Davi depois de confrontado com o profeta Natã, as conseqüências da sua ação são
declaradas com todas as letras: “Agora, pois, não se apartará a espada jamais
de tua casa” (12.10).
Absalão, filho de Davi,
depois de uma longa separação de seu pai, instiga uma rebelião contra o rei, e
Davi foge de Jerusalém. A rebelião termina quando Absalão, pendurado numa
árvore pelos cabelos, é morto por Joabe. Há uma desavença entre Israel e Judá a
respeito da volta do rei a Jerusalém. Um rebelde chamado Seba instiga Israel a
abandonar Davi e a voltar para casa. Embora Davi tome uma série de decisões
desafortunadas e pouco sábias, a rebelião é sufocada, e Davi é mais uma vez
estabelecido em
Jerusalém. O livro termina com dois belos poemas, uma lista
dos valentes de Davi e com o pecado de Davi em fazer o censo dos homens de
guerra de Israel. Davi se arrepende, compra a eira de Araúna e apresenta
oferendas ao Senhor no altar que constrói.
4.2.4. Cristo no livro de
2Samuel
Davi e seu reino esperavam a
vinda do Messias. O cap. 7, em especial, antecipa o futuro Rei. Deus interrompe
os planos de Davi de construir uma casa para a arca e explica que enquanto Davi
não pode construir uma casa
para Deus, Deus está
construindo uma casa para Davi, ou seja, uma linhagem que dure para sempre.
Pela sua vitória sobre todos os inimigos de Israel, pela sua humildade e
compromisso com o Senhor, pelo seu zelo a favor da casa de Deus e pela
associação dos ofícios de profeta, sacerdote e rei na sua pessoa, Davi é um
precursor da Raiz de Jessé, Jesus Cristo.
4.2.5. O Espírito Santo
citado
Jesus explicou a obra do
Espírito em Jo 16.8: “E, quando ele vier convencerá
o mundo do pecado, e da
justiça, e do juízo”. Nós vemos claramente a ação do Espírito Santo através
desses dois modos em 2Samuel. Ele atuava com mais freqüência através do
sacerdócio. Sua atuação como conselheiro pode ser apreciada nas muitas ocasiões
em que Davi
“consultou o Senhor” através do sacerdote e do Éfode.
A obra de convencer e de
condenar do Espírito é claramente percebida quando o profeta Natã enfrenta Davi
por causa do seu pecado com Bate-Seba e Urias. O pecado de Davi é desnudado, a
justiça é feita, e o julgamento é anunciado. Isso, no quadro microcósmico de
2Sm, ilustra o amplo ministério do Espírito Santo no mundo através da igreja
investida do poder do Espírito.
4.2.6. O segundo livro de
Samuel e Davi
O segundo livro de Samuel
começa com a morte de Saul e a unção de Davi em Hebrom, como rei de Judá por
sete anos e meio (2Sm 1-4). O restante do livro ocupa-se dos trinta e três anos
seguintes de Davi como rei de todo o Israel em Jerusalém (2Sm 5 -24). O ponto
crítico do livro e da vida de Davi é seu adultério com Bate-Seba e a morte de
Urias (2Sm cap. 11). Antes desse capítulo sombrio, Davi representava muitos dos
ideais de um rei teocrático.
4.2.7. Com o favor,
sabedoria e unção divina, Davi:
(a) Capturou Jerusalém dos
jebuseus e fez dela sua capital (2Sm 5).
(b) Trouxe a arca do
concerto de volta a Jerusalém, em meio a grande regozijo e esplendor (cap. 6).
(c) Subjugou os inimigos de
Israel, começando com os filisteus (2Sm 810). “E Davi se ia cada vez mais
aumentando e crescendo, porque o SENHOR, Deus dos Exércitos, era com ele” (2Sm
5.10). Sua firme liderança atraía “valentes” e inspirava total lealdade.
Davi entendia que Deus o
estabelecera rei sobre Israel e reconhecia abertamente o domínio de Deus sobre
ele mesmo e sobre a nação. Deus
prometeu profeticamente que
um descendente de Davi se assentaria sobre o seu trono, e que cumpriria perfeitamente
o papel de rei teocrático (2Sm 7.1217; cf. Is 9.6,7; 11.1-5; Jr 23.5,6;
33.14-16). Entretanto, depois dos trágicos pecados de adultério e de homicídio,
cometidos por Davi, o fracasso moral e a rebelião acossaram a sua família (2Sm
12-17) e a nação inteira (2Sm 1820). A grande bênção nacional transformou-se
em grande juízo nacional. Davi se arrependeu com sinceridade e experimentou a
misericórdia do perdão divino (2Sm 12.13; confronte Sl 51), mas as
conseqüências da sua transgressão continuaram até o fim da sua vida e até mesmo
depois (confronte 2Sm 12.7-12). Mesmo assim, Deus não rejeitou Davi como rei,
como rejeitou Saul (1Sm 15.23). Realmente, o amor que Davi tinha a Deus (ver os
seus salmos) e sua aversão à idolatria fizeram dele o exemplo pelo qual todos
os reis subseqüentes de Israel foram medidos (confronte 2Rs 18.3; 22.2). 2
Samuel termina, quando Davi compra a eira de Araúna, que veio a ser o local do
futuro templo (24.18-25).
4.2.8. Cinco fatos
principais assinalam Segundo Samuel
(a) Descreve os eventos principais do reinado de Davi, de quarenta anos,
inclusive sua tomada de Jerusalém da mão dos jebuseus, convertendo-a no centro
político e religioso de Israel. O período da sua vida situa-se exatamente entre
Abraão e Jesus Cristo.
(b) O ponto crítico do livro (cap. 11) relata os pecados trágicos de
Davi, envolvendo Bate-Seba e seu marido Urias. Apesar de esses pecados de Davi
terem sido cometidos em oculto, foram declarados abertamente por Deus, nas
diferentes faces da vida de Davi pessoal, familiar e nacional.
(c) Embora as Escrituras declarem com destaque que Davi era um homem
segundo o coração de Deus, o favor divino deu lugar ao castigo e as bênçãos de
Deus à maldição depois de ele pecar, conforme Moisés advertira a Israel (Dt 28).
(d) Os capítulos 12-21 descrevem o efeito em cadeia, da transgressão de
Davi sobre sua família e sua nação. Isso revela que o bem-estar de um povo está
fortemente vinculado à condição espiritual e moral do seu líder.
(e) Ressalta a lição moral perpétua de que o sucesso e a prosperidade
amiúde levam ao enfraquecimento moral que, por sua vez, leva ao fracasso moral.
4.2.9. 2Samuel e o Novo
Testamento
O reinado de Davi nos
capítulos 1-10 é uma prefiguração do reino messiânico de Cristo. O estabelecimento
de Jerusalém como a cidade santa, o recebimento do gracioso concerto davídico
da parte de Deus e a promessa profética de um reino eterno, apontavam para o
perfeito “Filho de Davi”, Jesus Cristo, e seu reino presente e futuro conforme
revela o Novo Testamento (Mt 21.9; 22.45; Lc 1.32,33).
Um modelo a ser seguido (Samuel
7.1-17). Samuel foi o último e o maior dos juízes de Israel. Os textos bíblicos
não o mostram como um comandante à frente de um exército, liderando homens em
batalhas memoráveis. Samuel era um juiz diferente, embora Deus o usasse para
libertar o povo também. Seu principal ofício era exercer a liderança civil e
religiosa de Israel. Ele era sacerdote e profeta. Conduzia o povo de Deus, e
transmitia ao povo as palavras do Senhor. A estatura moral e espiritual de
Samuel dá-lhe credenciais de um dos maiores vultos da história israelita e do
Antigo Testamento. O que podemos aprender com Samuel se de fato desejamos
realizar um bom ministério?
Precisamos dar prioridade a
proclamação da vontade do Senhor (v.3). A proclamação da
palavra de Deus, advertindo o povo dos seus erros, e mostrando como pode voltar
a Deus é responsabilidade séria do servo, seja ministro formalmente ordenado ou
não. E como Deus precisa hoje de homens e mulheres que estejam prontos a falar
a palavra divina, sem subterfúgios, ao povo.
Precisamos dar prioridade ao
ministério da intercessão (vv.5,8,9). Samuel não negligenciava o
ministério da intercessão. Embora fosse um homem muito ocupado, ele tinha tempo
para a oração. Por que será que crescemos pouco, ganhamos poucas almas, somos
fracos e necessitados? Porque oramos muito pouco. Este pensamento não é
original mas é significativo: “muita oração, muito poder; pouca oração, pouco
poder; nenhuma oração, nenhum poder”.
Precisamos exercitar a
disciplina da gratidão a Deus (v.12). As bênçãos do Senhor
sobre nossa vida, e sobre o serviço que prestamos são tantas que não podemos
contar. Isto, entretanto, não deve nos impedir de agradecer e de fazê-lo com um
coração humilde. Como agir convenientemente diante do Senhor sem mostrar-lhe
nossa gratidão?
Precisamos desenvolver o
princípio da dedicação (vv.15-17). O ministério de Samuel era
exercido com dedicação total. Parece que ele não tinha férias, nem licença, e
não reivindicava aposentadoria (conquanto que sejam necessárias). Ele ministrou
andando por todo o Israel, e quando estava em
sua cidade servia também.
Nós fomos chamados das trevas para a luz de Cristo para dedicação exclusiva.
Onde quer que estejamos, o que quer que façamos, somos servos de Cristo,
ministros de Jesus.
Precisamos manter viva a
chama da devoção a Deus (v.17). Samuel dava testemunho de sua fé
em Deus em Ramá onde vivia. A edificação de um altar ali era um sinal de sua
permanente e contínua devoção ao Senhor. Um dos grandes riscos dos ministérios
é que podemos ser consumidos pelos afazeres ministeriais e perdermos o senso e
a prática devocional. A lição deixada por Samuel é de que não podemos deixar
que se apague esta chama da devoção particular e pessoal.
A grandeza de Samuel
deveu-se em grande parte à direção que seus pais deram à sua formação. Ele
nasceu em atenção divina ao pedido de Ana, sua mãe. Quando chegou à idade em
que não dependia tanto da mãe, Samuel foi levado à Siló, onde vivia o Sacerdote
Eli, e estava a arca do Senhor. Ana entregou o seu filho, conforme prometera,
adorando a Deus, e dizendo: “Por todos os dias que viver está entregue” (1Sm
1.28).
Embora criado por Eli, não
se pode subestimar a influência exercida pela mãe na vida de Samuel. Principalmente
quando nos lembramos a que ponto de maldade chegaram os filhos do sacerdote. O
salmos que Ana entoou (1Sm 2) indica a profundidade da vida espiritual que ela
cultivou e transmitiu a seu filho Samuel. O mundo de hoje, mais do que nunca,
busca lideranças altamente qualificadas. O surgimento de lideranças assim
depende muito dos pais crentes.
Capítulo 5
O Livro de 1 e 2 Reis
5.1. O Livro de 1Reis
Esboço do Livro
I. O Reinado de Salomão
(1.1—11.43)
A. Salomão Sucede a Davi
como Rei (1.1—2.11)
B. Salomão Consolida Seu
Cargo como Rei (2.12-46)
C. A Sabedoria e
Administração de Salomão (3.1—4.34)
D. O Sucesso e Fama de
Salomão (5.1—10.29)
1. Preparativos para a
Construção do Templo (5.1-18)
2. Construção do Templo
(6.1-38)
3. Construção do Palácio de
Salomão (7.1-12)
4. Mobiliário do Templo
(7.13-51)
5. Dedicação do Templo
(8.1-66)
6. Confirmação do Concerto
Davídico (9.1-9)
7. Realizações e Fama de
Salomão (9.10—10.29)
E. Declínio e Morte de
Salomão (11.1-43)
2. O Castigo da Divisão do
Reino Predito por Deus (11.9-13)
3. Deus Suscita Adversários
contra Salomão (11.14-28)
II. A Divisão do Reino: Israel
e Judá (12.1—22.53)
A. A Consumação do Juízo da
Divisão (12.1-24)
B. Reinado de Jeroboão
(Israel) (12.25—14.20)
C. Reinado de Roboão (Judá)
(14.21-31)
D. Reinado de Abias (Judá)
(15.1-8)
E. Reinado de Asa (Judá)
(15.9-24)
F. Reinado de Nadabe (Israel)
(15.25-31)
G. Reinado de Baasa (Israel)
(15.32—16.7)
H. Reinado de Elá (Israel)
(16.8-14)
I. Reinado de Zinri (Israel)
(16.15-20)
J. Reinado de Onri (Israel)
(16.21-28)
K. Reinado de Acabe (Israel)
(16.29—22.40)
1. Início do Reinado de
Acabe (16.29-34)
2. Acabe e o Profeta Elias
(17.1—19.21)
3. Batalhas de Acabe contra
a Síria (20.1-43)
4. Acabe e a Vinha de Nabote
(21.1-29)
5. Batalha Fatal de Acabe
com a Síria (22.1-40)
L. Reinado de Josafá (Judá)
(22.41-50)
M. Reinado de Acazias (Israel)
(22.51-53)
5.1.1. Estrutura do livro e
seu lugar no Cânon
Os fatos de Primeiro e
Segundo Reis vêm logo a seguir aos de 1 e 2 Samuel. Esses quatro livros em
conjunto abrangem, de forma seletiva, toda a história dos reis de Israel e de
Judá (c. 1050–586 a.C.).
1 e 2 Reis abrangem,
cronologicamente, quatro séculos dessa história, do rei Salomão (970 a .C.) ao exílio
babilônico (586 a .C.).
Primeiro Reis, isoladamente, abarca cerca de 120 anos -o reinado de Salomão, de
quarenta anos de duração (970–930 a.C.) e aproximadamente os primeiros oitenta
anos seguintes à divisão do reino (cerca de 930–852 a.C.). Primeiro e Segundo
Reis formavam, originalmente, um só livro no Antigo Testamento hebraico.
Semelhantemente ao caso dos
livros de Samuel, os livros dos Reis eram originalmente um só no cânon judaico.
Na Septuaginta eles foram agrupados com os livros de Samuel e assim chamados o
terceiro e o quarto livro do Reino. Encontram-se entre os profetas anteriores
no cânon judaico, enquanto fazem parte dos livros históricos do cânon
protestante.
5.1.2. O seu caráter
O seu conteúdo continua a
história dos livros de Samuel, assim relatando a retirada divina do reino por
etapas sucessivas. 1Rs 11.11; 9.4-7; 14.14-16 (cf. 1Sm 8.5,22; 2Sm 7.12,16).
Mostra-se neles uma interpretação profética da história do povo a qual é
seletivamente escrita, a dizer, o autor escreveu na perspectiva profética,
relatando somente certos episódios da história, os quais foram considerados
decisivos. O autor escreveu especificamente do ponto de vista do Deuteronômio,
28.15,36,43-52; 29.9,24-28 em comparação com 2Rs 17.7-20.
O estilo do autor mostra-se
pela moldura que caracteriza todos os relatos sobre os diversos reis. Ela
consiste de fórmulas introdutórias e finais, que
apresentam pouca variação
(1Rs 16.23-28; 2Rs 16.1-3,19-20). Então, menciona-se cada rei, dando a sua
idade, extensão do reinado, a mãe e outros fatos considerados importantes.
Depois vem uma avaliação (deuteronômica) do reinado, por exemplo: Jeroboão (1Rs
11.26); Onri (1Rs 16.25-26); Acabe (1Rs 16.30-33); Roboão (1Rs 14.25-31); Joás
(2Rs 12.2-3); Acaz (2Rs 16.1-4). Nenhum dos reis de Israel é recomendado,
enquanto somente três daqueles de Judá são: Asa (1Rs 15.9-11); Ezequias (2Rs
18.14); e Josias (2Rs 22.1-2).
5.1.3. Autoria e fontes
literárias
Como 1 e 2 Rs eram,
originalmente, um livro, esta obra deve ter sido compilada algum tempo depois
da tomada de Judá pelos babilônios em 586 a .C.. O livro dá a impressão de ser obra de
um só autor e de que este autor tenha testemunhado a queda de Jerusalém. Embora
a autoria não possa ser determinada com segurança, muitas sugestões foram
feitas. Alguns têm indicado Esdras como compilador, enquanto outros apontam
para Isaías como editor. Muitos eruditos dizem que o autor de 1 e 2 Rs era um
profeta desconhecido ou um judeu cativo da Babilônia ao redor de 550 a .C.. Pelo fato de Josefo
atribuir Reis aos “profetas”, muitos abandonaram a pesquisa por um autor
especifico. No entanto, a tese mais provável é a de que o profeta Jeremias seja
o autor. A antiga tradição judaica do Talmude declara que Jeremias tenha
escrito o livro. Esse famoso profeta pregou em Jerusalém antes e depois da sua
queda, e 2Rs 24; 25 aparece em Jr 39; 42; 52. Jeremias talvez tenha escrito
todo o texto, menos o conteúdo do último apêndice (2Rs 25.27-30), que foi
provavelmente, acrescentado por um dos seus discípulos. Está claro, também, que
o autor utilizou várias fontes literárias, citando-as nominalmente:
(a) “O livro da história de
Salomão” (11.41).
(b) “O livro das crônicas
dos reis de Israel” (14.19).
(c) “O livro das crônicas
dos reis de Judá” (14.29).
Essas fontes literárias eram
provavelmente registros escritos e conservados pelos profetas, e não anais
oficiais da corte. É provável, ainda, que o autor tenha consultado outras
fontes documentárias proféticas tais como as mencionadas em 1Crônicas 29.29.
5.1.4. Data
Apesar de que a data exata
para a composição de 1 e 2 Rs seja incerta, acredita-se que a sua forma final
estava pronta em algum momento da última parte do séc. VI a.C.
O último acontecimento
mencionado em 2Rs é a libertação do Rei Joaquim, de Judá, que estava preso na
Babilônia. Considerando que Joaquim foi feito prisioneiro em 597 a .C., os livros de Reis
devem ter sido escritos depois de 560
a .C. para que esta informação pudesse ser incluída. O
autor de Reis teria mencionado, provavelmente, um acontecimento tão importante
como a queda da Babilônia para a Pérsia em 538 a .C., caso houvesse tido
conhecimento desse evento. Como não há menção dessa importante notícia em Reis,
conclui-se, então, que Reis tenha sido escrito, provavelmente antes de 538 a .C., embora os eventos
registrados em 1Rs tenha ocorrido uns trezentos anos mais cedo,
5.1.5. Contexto Histórico
Os acontecimentos descritos
em 1Reis abrangem um período de cerca de 120 anos. Recorda as turbulentas
experiências do povo de Deus desde a morte de Davi, em cerca de 971 a .C., até ao reinado de
Josafá (o quarto rei do Reino de Judá) e o reinado de Acazias (o nono rei do
Reino de Israel), em cerca de 853
a .C.. Esse foi um período difícil da história do povo de
Deus, foram grandes mudanças e sublevações. Havia luta interna e pressão
externa. O resultado foi um momento tenebroso, em que um reino estável,
dirigido por um líder forte, dividiu-se em dois.
5.1.6. Objetivo
Primeiro e Segundo Reis
foram escritos para prover ao povo hebraico no exílio babilônico uma versão
bíblica da sua história, e assim compreenderem por que a nação dividiu-se em 930 a .C., por que o Reino do
Norte, Israel, caiu em 722 a .C.,
e por que o reino davídico e Jerusalém caíram em 586 a .C. Os livros de Reis
salientam que a divisão e o colapso de Israel e de Judá foram uma conseqüência
direta e inevitável da idolatria e da impiedade dos reis e da nação como um
todo. Tendo em vista esse fato, os livros abordam o sucesso ou fracasso de cada
rei, de conformidade com sua fidelidade ou infidelidade a Deus e ao concerto.
Esta perspectiva bíblica tinha por objetivo fazer com que os cativos
repudiassem para sempre a idolatria, buscassem a Deus e cumprissem seus
mandamentos nas gerações futuras.
Os livros de 1 e 2 Rs eram,
originalmente, um só livro, que continuava a narrativa de 1 e 2 Samuel. Os
compositores do AT grego (Septuaginta ou LXX) dividiram a obra em “3 e 4
Reinos” 1 e 2 Sm eram 1 e 2 Reinos). O Título “Reis” se deriva da tradução
latina de Jerônimo (Vulgata) e é apropriado por causa da ênfase desses livros
nos reis que governaram durante este período.
Esses livros começam a
registrar os eventos históricos do povo de Deus no lugar em que 1 e 2 Samuel
interrompem. No entanto, o livro de Reis é mais
do que uma simples
compilação de acontecimentos políticos importantes ou socialmente
significativos em Israel e Judá. Na realidade, não contém uma narrativa
histórica tão detalhada como se poderia esperar (400 anos em 47 capítulos). Ao
contrário, 1 e 2 Reis são uma narrativa histórica seletiva, com um propósito
teológico. O autor, portanto, seleciona e enfatiza o povo e os eventos que são
significativos no plano moral e religioso. Em 1 e 2 Reis, Deus é apresentado
como Senhor da história.
5.1.7. O Espírito Santo
citado
1Rs 18.12 contém a única
referência direta ao Espírito Santo, onde é chamado de “Espírito do Senhor”. As
palavras de Obadias lá indicam que o Espírito Santo algumas vezes transportou
Elias de um lugar para outro (ver também 2Rs 2.16) Percebe-se uma relação com
At 8.39-40, em que se descreve Felipe como tendo uma experiência similar. (1Sm
10.6,10 e 19.20,23). Aqui “a mão do SENHOR” se refere ao Espírito Santo que
dotou Elias com poderes sobrenaturais para realizar uma façanha surpreendente.
Além dessas passagens, 1Rs 22.24 pode ser outra referência ao Espírito Santo.
Esse versículo se refere a um “espírito do SENHOR” e pode indicar que os
profetas compreendiam que o seu dom de profecia vinha do Espírito de Deus (ver
1Sm 10.6,10; 19.20,23). Se esta interpretação é aceita, então estaria em
paralelo com 1Co 12.7-11, que confirma que a habilidade pra profetizar é
realmente uma manifestação do Espírito Santo.
5.1.8. Divisão de 1 Reis
Primeiro Reis divide-se em
duas partes principais. A primeira descreve o reinado do rei Salomão (caps.
1-11). Os primeiros capítulos descrevem as circunstâncias que o conduziram ao
reinado (caps. 1-2) e sua oração por sabedoria para governar a nação (cap. 3).
Os sete caps. seguintes descrevem a ascensão de Salomão no âmbito mundial, e o
apogeu de Israel em prosperidade, paz, poder e glória -tudo durante os
primeiros vinte anos do reinado de Salomão. Durante esse período, Salomão
edificou e dedicou o templo de Jerusalém (caps. 6; 8). O cap. 11 descreve o
segundo período de vinte anos do reinado de Salomão -anos de sensualismo, de
declarada poligamia, de idolatria e de desintegração dos alicerces da nação.
Por ocasião da morte de Salomão, o caminho estava preparado para a divisão e
declínio do reino.
A segunda parte descreve a
divisão do reino, na época do filho de Salomão, Roboão, e os oitenta anos
seguintes, de declínio político e espiritual dos dois reinos com sua sucessão à
parte, de reis (12-22). Os personagens principais desta metade do livro são: os
reis Roboão do Reino do Sul, e Jeroboão do Reino do Norte; o rei Acabe e sua
perversa esposa Jezabel (Norte), e o profeta Elias (Norte).
5.1.9. Quatro
características principais distinguem Primeiro Reis
(a) Apresenta os profetas
como os representantes e porta-vozes de Deus diante dos reis de Israel e Judá
-por exemplo, Aías (11.29-40; 14.518), Semaías (12.22-24), Micaías (22.8-28),
e principalmente Elias (17-19).
(b) Salienta a profecia e o
seu cumprimento na história dos reis. Registra numerosas vezes o cumprimento de
profecias proferidas (por exemplo, 2Sm 7.13 e 1Rs 8.20; 11.29-39 e 12.15; cap.
13 e 2Rs 23.16-18).
(c) Reúne muitas histórias bíblicas bem conhecidas -por
exemplo, a sabedoria de Salomão (3-4), a dedicação do templo (cap. 8), a visita
da rainha de Sabá a Jerusalém (cap. 10) e o ministério de Elias, especialmente
seu confronto com os falsos profetas de Baal, no monte Carmelo (cap. 18).
(d) Inclui uma elevada soma de dados cronológicos sobre
os reis de Israel e de Judá, cuja sincronização, às vezes, é muito difícil. A
resolução satisfatória da maior parte desses problemas depende de reconhecermos
os casos de prováveis reinados coincidentes em parte com outros, de
co-regências de filhos com seus pais, e de modos diferentes de calcular as
datas iniciais do reinado de cada rei.
5.1.10. O Livro de Primeiro
Reis e o Novo Testamento
No Novo Testamento, Jesus
declarou à sua geração que a grandeza da sua vida e do seu reino ultrapassam a sabedoria,
autoridade, glória e esplendor de Salomão e do seu reinado: “Eis que está aqui
quem é mais do que Salomão” (Mt 12.42). Além disso, a glória de Deus que encheu
o templo de Salomão, quando foi dedicado, veio habitar entre a raça humana, na
pessoa de Jesus, o Filho Unigênito do Pai (Jo 1.14).
5.2. O Livro de 2Reis
Esboço do Livro
I. O Reino Dividido: Israel
e Judá (1.1 — 17.41)
A. Continuação do Reinado de
Acazias (Israel) (1.1-18; cf. 1 Rs 22.51-53)
B. Reinado de Jorão (Israel)
(2.1—8.15)
1. Transição Profética de
Elias para Eliseu (2.1-25)
2. Uma Análise de Jorão
(3.1-3)
3. Jorão Derrota Moabe
(3.4-27)
4. O Ministério Milagroso de
Eliseu (4.1—8.15)
C. Reinado de Jorão (Judá)
(8.16-24)
D. Reinado de Acazias (Judá)
(8.25-29)
E. Reinado de Jeú (Israel)
(9.1—10.36)
1. Jeú Ungido por Eliseu
(9.1-10)
2. Jeú e Seu Expurgo
Sangrento de Israel (9.11—10.36)
F. Reinado de Atalia (Judá)
(11.1-16)
G. Reinado de Joás (Judá)
(11.17—12.21)
H. Reinado de Joacaz
(Israel) (13.1-9)
I. Reinado de Jeoás (Israel)
(13.10-25)
J. Reinado de Amazias (Judá)
(14.1-22)
K. Reinado de Jeroboão II
(Israel) (14.23-29)
L. Reinado de Azarias (Judá)
(15.1-7)
M. Reinado de Zacarias
(Israel) (15.8-12)
N. Reinado de Salum (Israel)
(15.13-15)
O. Reinado de Menaém
(Israel) (15.16-22)
P. Reinado de Pecaías
(Israel) (15.23-26)
Q. Reinado de Peca (Israel)
(15.27-31)
R. Reinado de Jotão (Judá)
(15.32-38)
S. Reinado de Acaz (Judá)
(16.1-20)
T. Reinado de Oséias
(Israel) (17.1-41)
1. Análise e Prisão de
Oséias (17.1-4)
2. Colapso Final de Israel
(17.5-23)
3. Cativeiro de Israel e
Repovoamento da Terra (17.24-41)
II. O Reino Único: Judá
Depois do Colapso de Israel (18.1—25.21)
A. Reinado de Ezequias
(18.1—20.21)
1. Avivamento e Reforma
(18.1-8)
2. Sumário da Queda de
Israel e Libertação de Judá por Deus, de Duas Invasões Assírias (18.9—19.37)
3. Enfermidade e Cura de
Ezequias (20.1-11)
B. Reinado de Manassés
(21.1-18)
C. Reinado de Amom
(21.19-26)
D. Reinado de Josias
(22.1—23.30)
1. Avivamento e Reforma
(22.1—23.25)
2. Adiada a Ira de Deus
sobre Judá, Mas Não Evitada, e a Morte de Josias (23.26-30)
E. Reinado de Joacaz
(23.31-33)
F. Reinado de Jeoaquim
(23.34—24.7)
G. Reinado de Joaquim
(24.8-16)
H. Reinado de Zedequias
(24.17—25.21)
1. Queda de Jerusalém
(25.1-7)
2. Destruição do Templo e
dos Muros da Cidade (25.8-10, 13-17)
3. Deportação Final do Povo
para Babilônia (25.11-21)
III. Epílogo (25.22-30)
5.2.1. Estrutura do livro
Os livros de Primeiro e
Segundo Reis são, no original, um tratado indiviso, portanto, as informações
contidas na introdução a Primeiro Reis são importantes aqui. Segundo Reis
retoma a história do declínio de Israel e Judá, a partir de cerca de 852 a .C. Narra as duas
grandes calamidades nacionais que conduziram à queda dos reinos de Israel e de
Judá: A primeira, a destruição da capital de Israel, Samaria, e a deportação de
Israel à Assíria em 722 a .C.
e a segunda, a destruição de Jerusalém e a deportação de Judá para Babilônia em
586 a .C.
Segundo Reis abarca os últimos 130 anos da história de Judá, que teve 345 anos
de duração. A grande instabilidade política de Israel (isto é, as dez tribos do
Norte) é notória nas suas constantes mudanças de reis (dezenove) e de dinastia
(nove) em 210 anos, em comparação com os vinte reis e uma dinastia (com breve
interrupção) de Judá, em 345 anos. Muitos dos profetas literários do Antigo
Testamento ministraram durante o período decorrido em Segundo Reis. Eles
relembravam, advertiam e exortavam os reis concernentes às suas
responsabilidades diante de Deus como seus representantes teocráticos. Amós e
Oséias profetizaram em Israel, ao passo que Joel, Isaías, Miquéias, Naum,
Habacuque, Sofonias e Jeremias profetizavam em Judá. Nos livros desses
profetas, temos importantes revelações históricas e teológicas que não se acham
em 2Rs, no tocante ao declínio moral das duas nações.
5.2.2. Autor
Embora a autoria não possa
ser determinada com segurança, muitas sugestões foram feitas. Alguns têm
indicado Esdras como compilador, enquanto outros apontam para Isaías como
editor. Muitos eruditos dizem que
o autor de 1 e 2 Rs era um
profeta desconhecido ou um judeu cativo da Babilônia ao redor de 550 a .C.. Pelo fato de Josefo
atribuir Reis aos “profetas”, muitos abandonaram a pesquisa por um autor
especifico. No entanto, a tese mais provável é a de que o profeta Jeremias seja
o autor. A antiga tradução judaica do Talmude declara que Jeremias tenha
escrito Reis. Esse famoso profeta pregou em Jerusalém antes e depois da sua
queda, e 2Rs 24; 25 aparece em Jr 39; 42; 52. Jeremias talvez tenha escrito
todo o texto, menos o conteúdo do último apêndice (2Rs 25.27-30), que foi
provavelmente, acrescentado por um dos seus discípulos.
5.2.3. A Data
Apesar de que a data exata
para a composição de 1 e 2 Rs seja incerta, acredita-se que a sua forma final
estava pronta em algum momento da última parte do séc. VI a.C.
O último acontecimento
mencionado em 2Rs é a libertação do Rei Joaquim, de Judá, que estava preso na
Babilônia. Considerando que Joaquim foi feito prisioneiro em 597 a .C., os livros de Reis
devem ter sido escritos depois de 560
a .C. para que esta informação pudesse ser incluída. O
autor de Reis teria mencionado, provavelmente, um acontecimento tão importante
como a queda da Babilônia para a Pérsia em 538 a .C., caso houvesse tido
conhecimento desse evento. Como não há menção dessa importante notícia em Reis,
conclui-se, então, que Reis tenha sido escrito, provavelmente antes de 538 a .C., embora os eventos
registrados em 1Rs tenha ocorrido uns trezentos anos mais cedo.
5.2.4. Contexto Histórico
Os acontecimentos descritos
em 2Rs abrangem um período de cerca de 300 anos. Recorda as turbulentas
experiências do povo de Deus desde o reinado de Acazias (o nono rei de Israel)
ao redor de 853 a .C..,
Incluindo a queda de Israel para a Assíria em 722 a .C., passando pela
deportação de Judá para a Babilônia em 586 a .C. e terminando com a libertação do rei
Joaquim em 560 a .C..
Esse foi um período difícil da história do povo de Deus, foram grandes mudanças
e sublevações. Havia luta interna e pressão externa. O resultado foi um momento
tenebroso na história do povo de Deus: colapso e conseqüente cativeiro de ambas
as nações.
5.2.5. Conteúdo Histórico
O Título “Reis” se deriva da
tradução latina de Jerônimo (Vulgata) e é apropriado por causa da ênfase desses
livros nos reis que governaram durante este período. Os livros de 1 e 2 Reis
começam a registrar os eventos históricos do povo de Deus no lugar em que 1 e 2
Samuel interrompem. No
entanto, 2Rs é mais do que
uma simples compilação de acontecimentos políticos importantes ou socialmente
significativos em Israel e Judá. Na realidade, não contém uma narrativa
histórica tão detalhada como se poderia esperar (300 anos em 25 capítulos). Ao
contrário, 2Rs é uma narrativa histórica seletiva, com um propósito teológico.
O autor, portanto, seleciona e enfatiza o povo e os eventos que são
significativos no plano moral e religioso. Em 2Rs, Deus é apresentado como
Senhor da história. 2Rs retoma a história trágica do “reino divido” quando
Acazias está no trono de Israel e Josafá governando sobre Judá. Assim como 1Rs,
é difícil seguir o fluxo da narrativa. O Autor ora está falando do Reino do
Norte, Israel, ora do Reino do Sul, Judá, traçando simultaneamente suas
histórias. Israel teve 19 governantes, todos ruins. Judá foi governado por 20
regentes, dos quais apenas oito foram bons. 2Rs recorda a história dos últimos
10 reis e dos últimos 16 governantes de Judá. Alguns desses 26 governantes são
mencionados em apenas poucos versículos, enquanto que capítulos inteiros são
dedicados a outros. A atenção maior é dirigida àqueles que ou serviram de
modelo de integridade ou que ilustram por que essas nações finalmente entraram
em colapso.
5.2.6. Cristo em 2Reis
O fracasso dos profetas,
sacerdotes, e reis do povo de Deus aponta para a necessidade do advento de
Cristo. Cristo é a combinação ideal desses três ofícios. Como profeta, a
palavra de Cristo ultrapassa largamente à dos ofícios. Como profeta, a palavra
de Cristo ultrapassa largamente à do grande profeta Elias (Mt 17.1-5), Muitos
dos milagres de Jesus são reminiscências das maravilhas que Deus fez através de
Elias e Eliseu em Reis.
Além disso, Cristo é um sacerdote superior a qualquer daqueles
registrados em Reis (Hb 7.22-27). 1Rs ilustra vivamente a necessidade de Cristo
como o nosso Rei em exercício de suas funções. Quando perguntado se era rei dos
judeus, Jesus afirmou que era (Mt 27.11). No entanto, Jesus é um Rei maior do
que o maior dos seus reis (Mt 12.42). O reinado de cada um desses 26
governantes já terminou, mas Cristo reinará sobre o trono de Davi pra sempre
(1Cr 17.14; Is 9.6), pois ele é “REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap
19.16).
5.2.7. O Espírito Santo
citado
1Rs 18.12 contém a única
referência direta ao Espírito Santo, onde é chamado de “Espírito do Senhor”. As
vezes transportava Elias de um lugar para outro. Percebe-se uma relação com At
8.39-40, em que se descreve Felipe como tendo uma experiência similar. Há uma referência
indireta ao Espírito Santo na frase “Espírito de Elias” em 2.9,15. Aqui Eliseu
tenta receber o mesmo poder de Elias para levar adiante o ministério profético
do seu antecessor. O espírito enérgico ou o poder que capacitava Elias a
profetizar era o Espírito de Deus. 2Rs 2.9,16 fornecem um paralelo interessante
entre o Antigo Testamento e At 1.4-9 e 2.1-4. Elias foi elevado
ao céu, Eliseu procurou a
promessa de que receberia poder para levar adiante o ministério do seu mestre,
e a promessa foi cumprida. Da mesma maneira, Jesus ascendeu, os discípulos
aguardaram o cumprimento da promessa, e o Espírito Santo desceu para
capacitá-los a levar adiante a obra que seu mestre começou.
Uma alusão final ao Espírito
Santo aparece em 2Rs 3.15. Aqui a “mão do Senhor” veio sobre Eliseu,
capacitando-o a profetizar ao rei Josafá. A formula “a mão do SENHOR” se refere
à inspiração divina dos profetas.
5.2.8. A história de Segundo
Reis
A história de Segundo Reis
abrange duas épocas principais: A história dos dois reinos antes da queda de
Israel (as dez tribos) em 722
a .C. (1-17), e a história de Judá depois da derrocada de
Israel até à queda da própria nação de Judá em 586 a .C. (18-25). Por um
lado, Israel teve uma sucessão ininterrupta de reis que faziam “o que era mau
aos olhos do SENHOR” (por exemplo, 3.2). Em 2Rs, é patente que em meio à
terrível apostasia de Israel, Deus levantava profetas poderosos tais como Elias
e Eliseu para conclamar a nação e seus respectivos dirigentes a voltar a Deus e
ao seu concerto (19).Por outro lado, em Judá, às vezes, havia alívio quando
entre seus reis ímpios, surgiam alguns piedosos, como Ezequias (18-21) e Josias
(22-23), que se esforçavam para levar a nação de volta a Deus. Todavia, esses
reis não conseguiram levar o povo a abandonar de modo permanente a prática
prevalecente da idolatria, da imoralidade e da violência. Depois da morte de
Josias (cap. 23), o deslize de Judá em direção à destruição foi rápido e
culminou no saque de Jerusalém por Nabucodonosor em 586 a .C. (cap. 25).
5.2.9. Cinco fatos
principais caracterizam Segundo Reis
(a) Destaca (assim como também Primeiro Reis) a importância dos profetas
e da sua mensagem revelada como o meio principal de Deus transmitir sua
mensagem aos reis e ao povo de Israel e Judá por exemplo, Elias e Eliseu
(1-13), Jonas (14.25), Isaías (19.1-7, 2034) e Hulda (22.14-20).
(b) Destaca o ministério milagroso de Eliseu no decurso de boa parte da
primeira metade do livro (2-13).
(c) Apenas dois reis em
todo Israel e Judá tiveram plena aprovação como fiéis a Deus
e ao povo: Ezequias (18.1; 20.21) e Josias (22.1; 23.29).
(d) Revela que líderes
ímpios acabam levando seu povo à ruína e ilustra o princípio perpétuo de que “a
justiça exalta as nações, mas o
pecado é o opróbrio dos
povos” (Pv 14.34).
(e) Contém muitas narrativas bíblicas bem conhecidas, como a ascensão de
Elias ao céu num redemoinho (cap. 2), a ressurreição do filho da sunamita por
Eliseu (cap. 4), a cura de Naamã (cap. 5), o ferro do machado que flutuou na
água (cap. 6), a morte violenta de Jezabel conforme Elias profetizara (cap. 9),
os grandes avivamentos no reinado de Ezequias (cap. 18) e Josias (cap. 22), e a
grave enfermidade de Ezequias e sua cura (cap. 20).
5.2.10. Paralelo entre o
livro de Segundo Reis e o Novo Testamento
Segundo Reis deixa claro que
o pecado e infidelidade dos reis de Judá (isto é, os descendentes de Davi)
resultaram na destruição de Jerusalém e do reino davídico. Não obstante, o Novo
Testamento deixa também claro que Deus, na sua fidelidade, cumpriu sua promessa
segundo o concerto, feita a Davi, através de Jesus Cristo, “o Filho de Davi”
(Mt 1.1; 9.27-31; 21.9), cujo reinado e reino não terão fim (Lc 1.32,33;
confronte Is 9.7).
Capítulo 6
1 e 2 Crônicas
6.1. O Livro de 1Crônicas
Esboço do Livro
I. Genealogias: Adão à
Restauração Pós-Exílica (1.1—9.44)
A. Adão a Abraão (1.1-27)
B. Abraão a Jacó (1.28-54)
C. Jacó a Davi (2.1-55)
D. Davi ao Exílio Babilônico
(3.1-24)
E. Genealogias das Doze
Tribos (4.1—8.40)
F. Genealogias do Remanescente
(9.1-34)
1. As Tribos que Retornaram
(9.1-9)
2. Os Sacerdotes que
Retornaram (9.10-13)
3. Os Levitas que Retornaram
(9.14-34)
G. Genealogia de Saul
(9.35-44)
II. Davi: A Importância
Perene do Seu Reinado (10.1—29.30)
A. A Morte de Saul e de Seus
Filhos (10.1-14)
B. A Tomada de Jerusalém e
os Valentes de Davi (11.1—12.40)
C. O Retorno da Arca, a
Restauração do Culto e o Estabelecimento do Reino (13.1—16.43)
D. O Concerto de Deus com
Davi (17.1-27)
E. Vitórias Militares de
Davi (18.1—20.8)
F. O Censo Pecaminoso de
Davi (21.1-30)
G. Preparativos Completos de
Davi para a Edificação do Templo (22.1-19)
H. Davi Organiza os Levitas
para o Ministério do Templo (23.1—26.32)
I. A Organização
Administrativa de Davi (27.1-34)
J. Preparativos Finais de
Davi para a Sucessão e o Templo (28.1—29.20)
K. A Coroação de Salomão e a
Morte de Davi (29.21-30)
A história registrada em 1 e
2 Crônicas é pré-exílica; a origem e a perspectiva do livro, no entanto, são
pós-exílicas, escritas na segunda metade do século V a.C., algum tempo depois
de Esdras, quando um segundo grande grupo de
exilados judeus,
provenientes de Babilônia e da Pérsia, regressaram à Palestina (457 a .C.). As invasões de
Israel e a destruição de Jerusalém pelo rei Nabucodonosor (606-586 a .C.), além dos 70 anos
subseqüentes do cativeiro babilônico, aniquilaram muitas das esperanças e
ideais dos judeus como o povo do concerto. Por isso, os exilados que voltaram
para reedificar Jerusalém e o templo precisavam de um alicerce espiritual, isto
é, um meio de identificação com sua história redentora anterior e uma
compreensão da sua fé presente e esperança futura como o povo do concerto. 1 e
2 Crônicas foram escritos para suprir essa necessidade e avivar a esperança
desses exilados que agora retornavam.
6.1.1. Autoria
1 e 2 Crônicas eram
originalmente um só livro. Como a identidade do autor dessa obra não é
explicitada em 1 nem em 2Crônicas, muitos optaram por se referir a esse autor
desconhecido simplesmente como “o cronista”. No entanto, Esdras é o candidato
mais provável para a autoria de Crônicas. A antiga tradução judaica do Talmude
afirma que Esdras escreveu o livro. Além disso, os versículos finais de
2Crônicas (2Cr 36.22,23) repetem-se como os versículos iniciais de Esdras (ver
Ed 1.1-3). Isso não apenas reforça o argumento que aponta Esdras como autor de
1Crônicas, mas pode ser também uma indicação de que Crônicas e Esdras tenham
sido em algum momento uma única obra. Soma-se a isso o fato de que 1 e 2
Crônicas tenham estilo, vocabulário e conteúdo similares. Esdras era tanto
escriba como profeta e desempenhou um papel significativo na comunidade de
exilados que retornou à cidade de Jerusalém. Apesar de não podermos afirmar com
certeza absoluta, é razoável assumir que “o cronista” tenha sido Esdras.
Os livros das Crônicas,
Esdras e Neemias foram escritos para os judeus que retornaram do exílio para a
Palestina. Posto que 1 e 2 Crônicas foram escritos do ponto de vista
sacerdotal, e que os versículos finais de 2Crônicas (36.22,23) são idênticos a
Esdras 1.1-3, a
tradução talmúdica de que Esdras foi “o cronista” fica assim reforçada.
O autor consultou numerosos
registros escritos ao escrever Crônicas (1Cr 29.29; 2Cr 9.29; 12.15; 20.34;
32.32). Como líder espiritual, Esdras teve acesso a todos os documentos
existentes na escritura de Crônicas. Esta é uma antiga tradição que pode
indicar com exatidão os meios que o Espírito Santo utilizou para guiar e
inspirar o autor humano na composição desses dois livros. Os livros das
Crônicas ressaltam três coisas:
(a) A importância da
preservação das tradições raciais e espirituais pelos judeus.
(b) A importância da lei, do templo e do sacerdócio no seu
contínuo relacionamento com Deus, muito mais importante do que sua lealdade a
um rei terreno.
(c) A esperança máxima de Israel na promessa
divina de um descendente messiânico de Davi assentar-se no trono para sempre
(1Cr 17.14).
6.1.2. Contexto Histórico
Primeiro Crônicas é um
paralelo aos livros de Samuel, enquanto Segundo Crônicas é paralelo aos livros
dos Reis. O ponto de vista é dos sacerdotes e levitas da época após a volta dos
judeus exilados da Babilônia para a sua terra. Contém esses livros muitas
descrições destes grupos e dos seus papéis entre o povo, especialmente nos
tempos de Davi, Salomão e o período posterior ao cativeiro (1Cr 9.1-2; 23.1-6;
24.1; 25.1). Outra evidência a respeito do ponto de vista se mostra no fato de
que os primeiros nove capítulos relatam quase nada senão listas genealógicas,
terminando com os habitantes de Jerusalém após o cativeiro. Tal fato casa bem
com o relato em Esdras 2.59,62 sobre a importância dada naquela época a provas
de linhagem, que eram realmente de Israel.
É a opinião de alguns
estudiosos que o propósito dos livros era suplementar os livros de Samuel e Reis
a respeito dos reis de Judá e das genealogias dos personagens mais destacados
na história de Israel (1.1; 2.1; 3.1). Outros estudiosos dizem que o interesse
primordial da obra esta na “legitimação de funções cultuais, especialmente a
dos levitas”. Foi Davi quem instituiu os levitas como cantores do templo (1Cr
6.16,31, 33,44,48; 16.1ss). Esse propósito, então, teria tido seu fundamento
histórico na procura geral de legitimação pelos líderes da comunidade
pós-exílica.
O livro de 1Crônicas cobre o
período que vai de Adão até a morte de Davi, ao redor de 971 a .C.. É um período de
tempo extraordinário, pois abrange o mesmo período coberto pelos primeiros 10
livros do Antigo Testamento, de Gênesis até 2 Samuel. Se as genealogias de
1Crônicas 1-9 fossem ignoradas, 1 e 2 Crônicas cobririam aproximadamente o
mesmo período de tempo de 1 e 2 Reis. No entanto, o cenário específico de 1 e 2
Crônicas é o período de tempo que vem depois do exílio. Durante essa época, o
mundo antigo estava sob o controle do poderoso Império Persa. Tudo o que restou
dos gloriosos reinados de Davi e Salomão foi a pequena província de Judá. Os
persas substituíram o rei por um governador provincial. Apesar de que o povo de
Deus tenha recebido licença pra voltar para Jerusalém e reconstruir
o templo, a sua situação era
muito diferente da dos anos dourados de Davi e Salomão.
6.1.3. Data
Embora seja difícil
estabelecer a data exata para 1 e 2 Crônicas, é provável que a sua forma final
tenha surgido lá pelo final do séc. V a.C.. O último evento registrado nos
versículos finais de 2Crônicas é o decreto de Ciro, rei da Pérsia, que dá
licença à volta dos judeus para Judá. É datado como 538
a.C. e dá a impressão de que
Crônicas tenha sido composto pouco tempo depois. No entanto, a última pessoa
mencionada em 1 e 2 Crônicas é realmente Anani, da oitava geração do rei
Jeoaquim (ver 1Cr 3.24). Jeoaquim foi deportado pra a Babilônia em 597 a .C.. Dependendo de como
essas gerações são medidas (cerca de 25 anos), o nascimento de Anani pode ter
acontecido entre 425 e 400 a .C..
Portanto, a data para 1 e 2 Crônicas pode ser situada entre 425 e 400 a .C..
6.1.4. Conteúdo
No texto original hebraico,
1 e 2 Crônicas formavam um só livro chamado de “Acontecimentos dos Dias”. Foi
dividido e recebeu um novo nome pelos tradutores do Antigo Testamento em grego
(septuaginta ou LXX): “Coisas que Acontecem”. O nome atual, Crônicas, foi dado
por Jerônimo. Não é uma continuação da história do povo de Deus, mas uma
duplicação e um suplemento de 1 e 2 Sm e 1 e 2 Rs. Se 1 e 2 Crônicas são
considerados uma única obra, podem ser divididos em quatro seções principais:
1Crônicas é composto por genealogias (caps. 1-9) e descreve em linhas gerais o
reinado de Davi (caps. 10-29). 2Crônicasrelata o reinado de Salomão (caps. 1-9)
e descreve os reinados dos vinte governantes de Judá (caps.10-36).
O livro de 1Crônicas tem
duas divisões principais. A primeira seção é constituída por 9 capítulos de
genealogias. As genealogias começam com Adão e continuam, atravessando todo o
período do exílio, até àqueles que retornaram para Jerusalém. Com freqüência
não se dá muita importância a esta seção. Contudo, assim como nos Evangelhos de
Mateus e Lucas, as genealogias forma a base das narrativas que se seguem.
1Crônicas está carregado de genealogias para sublinhar a necessidade de pureza
racial e religiosa. As genealogias são compiladas seletivamente para realçar a
linhagem de Davi e da tribo de Levi.
A segunda parte de 1Crônicas
(caps. 10-29) registra os eventos e realizações do rei Davi. O cap. 10 serve
como prólogo para resumir o reinado e a morte do rei Saul. Nos caps. 11 e 12,
Davi se torna rei e conquista Jerusalém. O restante das narrativas sobre Davi
está enfocada sobre três aspectos significativos do seu reinado, ou seja, o
transporte da arca do Testemunho pra Jerusalém (caps. 13-17), suas proezas
militares (caps. 18-20) e os preparativos para a construção do tempo (caps.
21-27). Os dois últimos capítulos de 1Crônicas recorda os últimos dias de Davi.
6.1.5. O Espírito Santo
citado
Há duas referências claras
ao Espírito Santo em 1Crônicas. A primeira está em 12.18, em que o “Espírito”
entrou em Amasai e o capacitou a fazer uma declaração inspirada. E a segunda em
28.12, a qual explica que por meio do ministério do Espírito (ânimo) os planos do
templo foram revelados a Davi.
Visão panorâmica da história
6.1.6. Crônicas gira em
torno de dois temas principais
Embora a origem e a
perspectiva de 1 e 2 Crônicas sejam pós-exílicas, apresentam uma visão
panorâmica da história do Antigo Testamento desde Adão até o decreto de Ciro
(c. 538 a .C.),
quando, então, os judeus receberam permissão de regressar do exílio em
Babilônia e na Pérsia. 1Crônicas gira em torno de dois temas principais.
O primeiro tema. Os
caps. 1-9 narram a incomparável história redentora de Israel, de Adão a Abraão,
Davi e o exílio em
Babilônia. A tribo de Judá ocupa o primeiro lugar entre os
doze filhos de Jacó, porque dela provieram Davi, o templo e o Messias. As
genealogias revelam como Deus escolheu e preservou um remanescente para si
mesmo desde os primórdios da história da humanidade até o período pós-exílico.
A perspectiva sacerdotal deste livro é evidente através da atenção especial
dedicada às famílias dos sacerdotes e levitas.
O segundo tema. Os
caps. 10-29 tratam do reinado de Davi. Os valentes de Davi (11-12) e seus
grandes feitos (14; 18-20) são ressaltados. De igual modo os levitas,
sacerdotes e músicos da sua corte (23-26). O autor enfatizou aquilo que Davi
fez ao reintegrar a arca do concerto e estabelecer Jerusalém como a sede do
culto a Deus em Israel (13-16; 22; 28; 29). Diferente de Segundo Samuel,
Primeiro Crônicas não enuncia os repugnantes pecados de Davi e suas
subseqüentes e trágicas conseqüências. Ao invés disso, o livro retrata aquilo
que não aparece em
Segundo Samuel : as diligentes e detalhadas providências de
Davi para edificar o templo e estabelecer a adoração ao Senhor Deus. Essas
omissões e adições da parte do Espírito Santo tinham o propósito de satisfazer
as necessidades do povo de Deus do pós-exílio.
6.1.7. Cinco características
principais destacam Primeiro Crônicas
(a) Cobre, aproximadamente,
o mesmo período histórico de Primeiro e Segundo Samuel.
(b) Suas genealogias (1-9) são as mais longas e mais completas da
Bíblia. Sabendo-se que os livros de 1 e 2 Crônicas constituem a última
parte do Antigo Testamento
hebraico, segundo a ordem de seus livros, essas genealogias foram ali
convenientemente colocadas para proporcionarem inspiração e conteúdo às
genealogias do Messias no início do Novo Testamento.
(c) Descreve vividamente a
renovação e restauração sem precedentes de todas as formas de culto ao Senhor
quando Davi levou a arca do concerto a Jerusalém (15;16).
(d) Destaca o concerto de Deus com Davi (cap. 17), enfocando
principalmente a esperança de Israel no Messias prometido.
(e) Sua história seletiva reflete a perspectiva
sacerdotal do autor inspirado, no tocante ao restabelecimento do templo, da lei
e do sacerdócio entre os que voltaram do exílio, em Jerusalém.
6.1.8. O livro de 1Crônicas
face ao Novo Testamento
O registro genealógico a
partir de Adão até o exílio em Babilônia, inclusive dos reis davídicos e os
seus descendentes (caps. 3; 4), supre os dados necessários às genealogias no
Novo Testamento de Jesus o Messias em Mateus (1.1-17), e de Jesus o Filho de
Deus em Lucas (3.23-38). O cenário de Davi em 1 Crônicas, assentado no trono do
Senhor e reinando (17.14), prefigura a vinda do “Filho de Davi”, messiânico,
Jesus Cristo.
6.1.9. Fidedignidade
Histórica de Crônicas
Certos críticos
inescrupulosos consideram Crônicas uma história forjada ou distorcida e daí
menos fidedigna do que o registro de Samuel e Reis. Na realidade, Crônicas é
uma história altamente seletiva, mas não é verdade que seja invencionice. Ela
ressalta, sim, os aspectos relevantes da história judaica. Não é verdade que
ela encobre as falhas da nação (por exemplo, 1Cr 21). A inexistência da matéria
histórica contida em Samuel e Reis, pressupõe que seus leitores conheciam esses
livros. Muitas das declarações históricas que se acham somente em Primeiro Crônicas
foram comprovadas pelas descobertas arqueológicas; nenhuma foi tida como farsa.
6.2. O livro de 2Crônicas
Esboço do livro
I. Salomão: Contribuições
Relevantes do Seu Reino (1.1—9.31)
A. A Instituição da Liderança
de Salomão (1.1-17)
B. A Construção do Templo
(2.1—5.1)
C. A Dedicação do Templo
(5.2—7.22)
2. Discurso Consagratório de
Salomão (6.1-11)
3. Oração Consagratória de
Salomão e a Glória de Deus (6.12—7.3)
4. Sacrifícios e Festas
Consagratórias (7.4-11)
D. A Fama de Salomão
(8.1—9.28)
1. Realizações, Colônias e
Política de Salomão (8.1-18)
2. Elogios da Rainha de Sabá
(9.1-12)
3. Riquezas de Salomão
(9.13-28)
E. Morte de Salomão
(9.29-31)
II. Os Reis de Judá, de
Roboão até o Exílio (10.1—36.23)
A. A Divisão e o Reinado de
Roboão (10.1—12.16)
B. Reinado de Abias e Asa
(13.1—16.14)
C. Reinado de Josafá
(17.1—20.37)
D. Reinados de Jorão,
Acazias e Atalia (21.1—23.15)
E. Reinado de Joás
(23.16—24.27)
F. Reinados de Amazias,
Uzias e Jotão (25.1—27.9)
G. Reinado de Acaz (28.1-27)
H. Reinado e Reformas de
Ezequias (29.1— 32.33)
I. Reinados de Manassés e de
Amom (33.1-25)
J. Reinado e Reformas de
Josias (34.1—35.27)
K. Sucessores de Josias; o
Exílio (36.1-21)
L. O Decreto de Ciro
(36.22,23)
6.2.1. O livro
Visto que 1 e 2 Crônicas
eram originalmente um único livro no Antigo Testamento hebraico, o contexto
histórico pode ser visto em detalhes na introdução a 1Crônicas. Nessa etapa
abrange o mesmo período de história que 1 e 2Rs -a saber: o reinado de Salomão
(971-931 a .C.)
e o reino dividido (930-586 a .C.).
Diferentemente dos livros de Reis, que seguem a história das duas partes do
reino dividido, 2Crônicasfocaliza exclusivamente o destino de Judá. O escritor
considera Judá, o Reino do Sul, como o fluxo principal da “história da
redenção” de Israel, posto que:
(a) O templo de Jerusalém
permaneceu como o centro da verdadeira adoração a Deus.
(b) Seus reis eram
descendentes de Davi.
(c) Judá, a tribo predominante entre os judeus que
voltaram e reconstruíram Jerusalém e o templo.
(d) 2Crônicas foi escrito da
perspectiva sacerdotal da segunda metade do século V a.C., quando, então, o
templo, o sacerdócio e o concerto davídico voltaram a ter importância capital.
6.2.2. Contexto Histórico
O livro de 2Crônicas cobre o
período que vai do começo do reinado de Salomão, em 971 a .C., até ao final do
exílio ao redor de 538 a .C..
No entanto,
o cenário específico de 1 e
2 Crônicas é o período de tempo que vem depois do exílio. Durante essa época, o
mundo antigo estava sob o controle do poderoso Império Persa. Tudo o que restou
dos gloriosos reinados de Davi e Salomão foi a pequena província de Judá. Os
persas substituíram o rei por um governador provincial. Apesar de que o povo de
Deus tenha recebido licença pra voltar para Jerusalém e reconstruir o templo, a
sua situação era muito diferente dos anos dourados de Davi e Salomão.
6.2.3. Conteúdo
No texto original hebraico,
1 e 2 Crônicas formavam um só livro chamado de “Acontecimentos dos Dias”. Foi
dividido e recebeu um novo nome pelos tradutores do Antigo Testamento em grego
(septuaginta ou LXX): “Coisas que Acontecem”. O nome atual, Crônicas, foi dado
por Jerônimo. Não é uma continuação da história do povo de Deus, mas uma
duplicação e um suplemento de 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis.
O livro de 2 Crônicas tem
duas divisões principais. A primeira seção é constituída pelos primeiros 9
capítulos (caps. 1-9) descreve em linhas gerais
o governo do rei Salomão. A
narrativa dá bastante importância à construção do templo (caps. 2-7) bem como à
riqueza e à sabedoria desse extraordinário rei (caps. 8-9). A narrativa, no
entanto, termina abruptamente e não faz menção das fraquezas de Salomão,
conforme registradas em 1 Reis 11.
A segunda seção do Livro é
formada pelos caps. 10 a
36. Depois da divisão do reino, se concentram quase que exclusivamente no Reino
do Sul, Judá, e discorre sobre a história do Reino do Norte, Israel, só ocasionalmente.
2 Crônicas traça a história dos reinados dos 20 governantes de Judá até ao
cativeiro babilônico do Reino do Sul em 586 a .C.. O livro conclui com o decreto de Ciro
libertando e permitindo a volta do povo p ara Judá (36.22,23).
6.2.4. O Espírito Santo
citado
Há três referências claras
ao Espírito Santo em 2 Crônicas. É identificado como o “Espírito de Deus”
(15.1; 24.20) e como o “Espírito do SENHOR” (20.14). Nessas referências, o
Espírito Santo inspirou ativamente Azarias (15.1), Jaaziel (20.14) e Zacarias
(24.20) para que falassem da parte de Deus. Além dessas referências, muitos
vêem a presença do Espírito Santo na dedicação do templo (5.13,14).
6.2.5. 2Crônicas divide-se
em duas seções principais
A primeira seção compreende
os caps. 1-9 e tratam do reinado de Salomão, a época áurea de paz, poder,
prosperidade e prestígio de Israel. Mesmo assim, consoante o propósito global
de Crônicas, cerca de dois terços desses nove capítulos focalizam a edificação
e construção do templo como o centro da verdadeira adoração a Deus pelos
israelitas (2-7).
A segunda seção compreende
os caps. 10-36 que constituem um relato altamente seletivo dos reis de Judá
depois da morte de Salomão e da divisão do reino. Em meio ao declínio
espiritual e apostasia de Judá, 2Crônicas ressalta certos reis dignos de
menção: Asa (14; 15), Jeosafá (17; 19; 20), Joás (cap. 24), Ezequias (29-32) e
Josias (34; 35). Cada um deles promoveu e liderou avivamentos espirituais na
nação. Cerca de 70% do conteúdo dos caps. 10-36 focalizam esses reis como
responsáveis por avivamento e reforma, ao passo que apenas 30% focalizam os
maus reis, culpados da corrupção e colapso do reino. O livro termina quando
Ciro, rei da Pérsia, permitiu aos exilados judeus voltarem para reedificarem o
templo de Jerusalém (36.22-32).
6.2.6. Quatro
características principais assinalam 2Crônicas
(a) Seu escopo histórico corresponde praticamente
ao do período de Primeiro e Segundo Reis.
(b) Seu enfoque no templo de Jerusalém é o motivo mais provável para Crônicas
ter sido colocado na divisão não-profética do Antigo Testamento hebraico,
separando-o, assim, de Samuel e Reis, que estão colocados na divisão profética.
(c) Trata de cinco
avivamentos nacionais, inclusive o relato mais extenso no Antigo Testamento de
um avivamento espiritual no reinado de Ezequias (29-32) e o maravilhoso
avivamento sob Josias quando, então, foi achado “o livro da Lei” e lido
publicamente, o que resultou numa renovação do concerto e na celebração da
Páscoa (34; 35).
(d) A exortação principal do
livro é: “Buscai ao Senhor”. O livro ressalta
repetidas vezes a
importância de se buscar ao Senhor com diligência, de todo o coração (por
exemplo 1.6-13; 6.14; 7.14; 12.14; 15.1,2,1215; 16.9,12; 17.4; 19.3;
20.3,4,20; 31.21; 32.20,22; 34.26-28).
6.2.7. Paralelo entre
2Crônicas e o Novo Testamento
O reino davídico fora
destruído, mas a sua linhagem permaneceu, tendo seu cumprimento em Jesus Cristo (ver as
genealogias em Mt 1.1-17 e Lc 3.2338). Além disso, o templo de Jerusalém tem
significado proféticos relacionados com Jesus, que declarou: “Pois eu vos digo
que está aqui quem é maior do que o templo” (Mt 12.6). Jesus também fez uma
comparação entre seu corpo e o templo: “Derribai este templo, e em três dias o
levantarei” (Jo 2.19). Finalmente, na nova Jerusalém, Deus e o Cordeiro
substituem o templo: “E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor,
Deus Todopoderoso, e o Cordeiro” (Ap 21.22).
Capítulo 7
Os Livros de Esdras -Neemias
Ester
7.1. O LIVRO DE ESDRAS
Esboço do Livro
I. O Regresso a Jerusalém
dos Primeiros Repatriados (1.1—6.22)
A. O Decreto e o Provimento
de Ciro (1.1-11)
B. Lista dos Repatriados Que
Voltaram (2.1-70)
C. Começo da Restauração do
Templo (3.1-13)
1. Restabelecimento dos
Sacrifícios (3.1-6)
2. Início da Reconstrução do
Templo (3.7-13)
D. Suspensão das Obras do
Templo pela Oposição (4.1-24)
E. Recomeço da Construção do
Templo e Sua Conclusão (5.1—6.18)
1. O Estímulo dos Profetas
(5.1,2)
2. Protesto do Governador
Tatenai (5.3-17)
3. Dario Confirma a
Construção do Templo (6.1-12)
4. Conclusão e Dedicação do
Templo (6.13-18)
F. Celebração da Páscoa
(6.19-22)
II. O Regresso a Jerusalém da Segunda Leva de Repatriados sob Esdras
(7.1—10.44)
A. A Missão de Esdras
Autorizada por Artaxerxes (7.1-28)
B. A Viagem de Esdras e dos
Seus Companheiros (8.1-36)
C. As Reformas de Esdras em
Jerusalém (9.1—10.44)
1. Condenação de Casamento
com Pagãos (9.1-4)
2. Confissão de Esdras e Sua
Oração Intercessória pelo Povo (9.5-15)
3. Arrependimento Público e
Reforma (10.1-44)
O livro de Esdras faz parte
da história seqüencial dos judeus, escrita depois de seu exílio, que consiste
de 1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias. No Antigo Testamento hebraico, Esdras e
Neemias formavam originalmente um só livro e, de igual modo, 1 e 2 Crônicas. O
livro foi escrito em hebraico, a não ser Ed 4.8-6.18 e 7.12-28, trechos que
foram escritos em aramaico, a língua oficial dos exilados em Babilônia.
7.1.1. Autor e Data
O livro de Esdras, cujo nome
provavelmente signifique “O Senhor tem ajudado”, deriva o seu título do
personagem principal dos caps. 7-10. Não é possível saber com absoluta certeza
se foi o próprio Esdras quem compilou o livro ou se foi um editor desconhecido.
A opinião conservadora e geralmente aceita é de que Esdras tenha compilado ou
escrito este livro juntamente com 1 e 2 Crônicas e Neemias. A Bíblia hebraica
reconhecia Esdras e Neemias como um só livro.
O próprio Esdras era um
sacerdote, um “escriba das palavras, dos mandamentos do SENHOR” (7.11). Liderou
o segundo dos três grupos que retornaram da Babilônia pra Jerusalém. Como homem
devoto, estabeleceu firmemente a Lei (o Pentateuco) como a base da fé (7.10).
Os eventos de Esdras cobrem
um período um pouco maior do que 80 anos e caem em dois segmentos distintos. O
primeiro (caps.1-6) cobre um período de cerca de 23 anos e tem como tema o
primeiro grupo que retorna do exílio sob Zorobabel e a reconstrução do templo.
Depois de mais de 60 anos de cativeiro babilônico, Deus desperta o coração do
regente da Babilônia, o rei Ciro da Pérsia, para publicar um édito que dizia
que todo judeu que assim desejasse poderia retornar pra Jerusalém a fim de
reconstruir o templo e a cidade. Um grupo de fiéis responde e partiu em 538 a .C. sob a liderança de
Zorobabel. A construção do templo é iniciada, mas a oposição dos habitantes não
judeus desencoraja o povo, e a obra é interrompida. Deus, então, levanta os
ministérios proféticos de Ageu e Zacarias, que chamam o povo para completar a
obra. Embora bem menos esplêndido que o templo anterior, o de Salomão, o novo
templo é completado e dedicado em 515
a .C..
Aproximadamente 60 anos
depois (458 a .C.),
outro grupo de exilados volta para Jerusalém liderados por Esdras (caps. 7-10).
São enviados pelo rei persa Artaxerxes, com somas adicionais de dinheiro e
valores para
intensificar o culto no
templo. Esdras também é comissionado para apontar líderes em Jerusalém para
supervisionar o povo.
Já em Jerusalém, Esdras
assumiu o ministério de reformador espiritual, o que deve ter durado cerca de
um ano. Depois disso, viveu, provavelmente, como um influente cidadão até à
época de Neemias. Sacerdote dedicado, Esdras encontra um Israel que tinha
adotado muitas das práticas dos habitantes pagãos; ele chama Israel ao
arrependimento e a uma renovada submissão à Lei, ao ponto do divórcio de suas
esposas pagãs.
7.1.2. Conteúdo
Duas grandes mensagens
emergem de Esdras: a fidelidade de Deus e a infidelidade do homem. Deus havia
prometido através de Jeremias (25.12) que o cativeiro babilônico teria duração
limitada. No momento apropriado, cumpriu fielmente a sua promessa e induziu o
espírito do rei Ciro da Pérsia a publicar um édito para o retorno dos exilados
(1.1-4). Fielmente, concedeu liderança (Zorobabel e Esdras), e os exilados são
enviados com despojos, incluindo itens que haviam sido saqueados do templo de
Salomão (1.5-10). Quando o povo desanimou por causa da zombaria dos inimigos,
Deus fielmente levantou Ageu e Zacarias para encorajar o povo a completar a
obra. O estímulo dos profetas trouxe resultados (5.1,2). Finalmente, quando o
povo se desviou das verdades da sua apalavra, Deus fielmente enviou um
sacerdote dedicado que habilidosamente instruiu o povo na verdade, chamando-o à
confissão de pecado e ao arrependimento dos seus caminhos perversos (caps.
9-10).
A fidelidade de Deus é
contrastada com a infidelidade do povo. Apesar do seu retorno e das promessas
divinas, o povo se deixou influenciar pelos seus inimigos e desistiu
temporariamente (4.24). Posteriormente, depois de completada a obra, de forma
que pudesse adorar a Deus em seu próprio templo (6.16.18), o povo se tornou
desobediente aos mandamentos de Deus; desenvolve-se uma geração inteira cujas
“iniqüidades se multiplicaram sobre as vossas cabeças” (9.6). Contudo, como foi
dito acima, a fidelidade de Deus triunfa em cada situação.
7.1.3. O Espírito Santo
citado
A obra do Espírito Santo em
Esdras pode ser vista claramente na ação providencial de Deus em cumprir as
suas promessas. Isto é indicado pela frase “a mão do Senhor”, que aparece seis
vezes. Foi pelo Espírito que “despertou o Senhor o espírito de Ciro” (1.1) e
“tinha mudado o coração do rei da Assíria” (6.22). Teria sido também pelo
Espírito Santo que “Ageu, profeta e Zacarias... profetizaram aos judeus” (5.1).
A obra do Espírito Santo é vista na vida pessoal de Esdras, tanto no sentido de
obrar nele (“Esdras tinha
preparado o seu coração para
buscar a Lei do Senhor”, 7.10), como no sentido de atuar em seu favor (“o rei
lhe deu tudo quanto lhe pedira” 7.6).
7.1.4. O livro de Esdras
relata
Como Deus cumpriu sua
promessa profética através de Jeremias (Jr 29.1014), no sentido de restaurar o
povo judeu depois de setenta anos de exílio, ao trazê-lo de volta à sua própria
terra (Ed 1.1) e o colapso de Judá como nação e sua deportação para Babilônia
que ocorrera em três levas separadas:
(a) Na primeira (605 a .C.), a nobreza jovem de
Judá, inclusive Daniel, foi levada ao exílio.
(b) Na segunda (597 a .C.), foram mais 11.000 exilados,
inclusive Ezequiel.
(c) E na terceira leva (586 a .C.), o restante de
Judá, menos Jeremias e os mais pobres da terra foram levados.
Semelhantemente, a
restauração do remanescente exílico, em cumprimento à profecia de Jeremias que
ocorreu em três levas:
(a) Na primeira (538 a .C.), 50.000 exilados voltaram, liderados
por Zorobabel e Jesua.
(b) Na segunda (457 a .C.), mais de 17.000 voltaram conduzidos
por Esdras.
(c) E na terceira (444 a .C.), Neemias e seus
homens levaram de volta o restante do povo. Cerca de dois anos depois da
derrota do império babilônico pelo império persa (539 a .C.), começou o retorno
dos judeus à sua pátria.
A primeira e a segunda levas
de repatriados abrangendo três reis persas (Ciro, Dario e Artaxerxes) e cinco
líderes espirituais de destaque:
(a) Zorobabel, que conduziu
os primeiros exilados.
(b) Jesua, um sumo sacerdote
piedoso que auxiliou a Zorobabel.
(c) Ageu.
(d) Zacarias, dois profetas
de Deus que encorajavam o povo a concluir a reconstrução do templo.
(e) E Esdras, que conduziu o segundo grupo de exilados de
volta a Jerusalém, e a quem Deus usou para restaurar o povo, espiritual e
moralmente. Se Esdras escreveu esse livro, como é geralmente aceito, ele compôs
a sua obra sob a inspiração do Espírito Santo mediante consulta aos arquivos
oficiais (por exemplo, 1.2-4; 4.11-22; 5.7-17; 6.1-12), genealogias (por
exemplo, 2.1-70), e memórias pessoais (por exemplo, 7.27-9.15).
7.1.5. Os dez capítulos de
Esdras dividem-se naturalmente em duas seções principais:
7.1.5.1. A primeira seção
começa onde Segundo Crônicas termina
(a) Com o cativeiro judeu e
o decreto de Ciro, rei da Pérsia (538
a .C.), que permitiu a volta dos judeus à sua pátria
(1.1-11).
(b) O cap. 2 alista aqueles
que constituíram o primeiro grupo. É digno de nota que apenas uns 50.000
exilados judeus dentre um milhão ou mais, vieram no primeiro grupo (1.5;
2.64,65).
(c) No cap. 3, Zorobabel (um descendente de Davi) e
Jesua (o sumo sacerdote) mobilizaram o povo para começar a reconstrução do
templo destruído.
(d) Astutos inimigos de Judá manipularam meios
políticos e interromperam a obra por algum tempo (cap. 4).
(e) Mas depois a obra
recomeçou e o templo foi concluído em 516 a .C. (caps. 5; 6).
(f) Houve um intervalo de quase sessenta anos entre os caps. 6 e 7.
Nesse período Ester tornou-se rainha da Pérsia, consorte do rei Assuero (isto
é, Xerxes I). Ester tornou-se rainha por volta de 478 a .C.
7.1.5.2. A segunda seção
(a) Os caps. 7 e 8 registram eventos de uns vinte anos
mais tarde, quando, então, um grupo menor de exilados voltou da Pérsia a
Jerusalém sob a liderança de Esdras. Enquanto os primeiros exilados que
voltaram realizaram a tarefa de edificar a Casa de Deus, Esdras empreendeu a
obra de restaurar a Lei de Deus no coração do povo (confronte Ne 8.1-8).
(b) Esdras deparou-se com
uma apostasia generalizada, espiritual e moral entre os homens de Judá,
evidenciada nos seus casamentos
mistos com mulheres pagãs.
Com profunda tristeza Esdras confessou a Deus o pecado do povo, e intercedeu
por ele (cap. 9).
(c) O livro termina com Esdras à frente de um imenso culto público
levando o povo ao arrependimento diante de Deus e de todos, e ao rompimento dos
casamentos ilícitos com mulheres pagãs, incrédulas (cap. 10).
7.1.5.3. Quatro
características principais assinalam o livro de Esdras
(a) Esdras e Neemias são o
único registro histórico da Bíblia sobre a restauração pós-exílica dos judeus
que retornaram à Palestina.
(b) Uma característica
notável deste livro é que entre suas duas divisões principais (1-6 e 7-10) há
um intervalo histórico de aproximadamente sessenta anos. O livro todo abrange
uns oitenta anos.
(c) Esdras demonstra
claramente como Deus vela sobre a sua palavra para cumpri-la (confronte Jr
1.12; 29.10); Deus controlou os corações dos reis persas como o leito de um rio
comanda a direção das suas águas, para reconduzir o seu povo à sua pátria (1.1;
7.11-28; confronte Pv 21.1).
(d) O modo de Esdras tratar
as mulheres pagãs com as quais os judeus (inclusive sacerdotes) casaram,
transgredindo os mandamentos de Deus, ilustra amplamente o fato de que Deus
requer que o seu povo viva separado do mundo pagão, e às vezes Ele emprega
medidas radicais para tratar da perigosa transigência com o mal no meio do seu
povo.
7.1.6. O Livro de Esdras à
Luz do Novo Testamento
À volta do remanescente
judaico à sua pátria e a reedificação do templo revelam que Deus sempre anela
restaurar os desobedientes. Seus métodos incluem não somente o castigo pela
apostasia, como também a restauração e esperança para o remanescente crente,
através do qual Deus dirige o caudal da redenção no seu curso final. Vemos esse
princípio no Novo Testamento, onde um remanescente crente dentre os judeus
aceitou Jesus como o seu Messias, enquanto o fluxo principal da redenção passou
dos judeus incrédulos para os gentios na igreja primitiva.
7.2. O Livro de Neemias
Esboço do Livro
I. Reconstrução dos Muros de
Jerusalém, Dirigida por Neemias (1.1—7.73)
A. Intercessão de Neemias
por Jerusalém (1.1—2.8)
2. O Conteúdo da Sua
Intercessão Diante de Deus (1.5-11)
3. O Resultado da Sua
Intercessão Diante do Rei Artaxerxes (2.1-8)
B. A Viagem de Neemias a
Jerusalém Como Governador (2.9-20)
C. Neemias Dirige a
Reconstrução dos Muros (3.1—7.4)
1. Os Construtores (3.1-32)
•
Escárnio (4.1-6)
•
Conspiração (4.7-23)
•
Extorsão (5.1-19)
•
Conivência (6.1-4)
•
Difamação (6.5-9)
•
Traição (6.10-14)
D. O Registro do
Remanescente (7.5-73)
II. Avivamento em Jerusalém Liderado
por Esdras (8.1—10.39)
A. Leitura Pública da
Palavra de Deus e Celebração da Festa dos Tabernáculos (8.1-18)
B. Jejum e Reconhecimento
dos Pecados Cometidos e Sua Confissão Pública (9.1-37)
C. Um Concerto de Obediência
(9.38—10.39)
III. Neemias Promove a
Reforma da Nação (11.1—13.31)
A. Distribuição Habitacional
do Remanescente (11.1—12.26)
B. Dedicação dos Muros
(12.27-47)
C. Reformas no Segundo
Mandato de Neemias (13.1-31)
7.2.1. Considerações
introdutórias
O livro de Neemias encerra a
história do Antigo Testamento, ocasião em que os expatriados judeus foram
autorizados a retornarem a seu país, estando cativos na Babilônia. Juntamente
com o livro de Esdras (com o qual forma um
só livro no Antigo
Testamento hebraico; Neemias relata os três retornos dos exilados a Jerusalém.
Esdras trata de fatos dos dois primeiros retornos 538 a .C.; 457 a .C.), e Neemias, de
fatos ligados ao terceiro (444
a .C.). Enquanto
o enfoque de Esdras recai na
reconstrução do templo, o de Neemias recai na reconstrução dos muros de
Jerusalém. Os dois livros frisam a importância da renovação espiritual e da
consagração a Deus e à sua Palavra.
Neemias, um contemporâneo de
Esdras, servia na corte de Artaxerxes I (rei da Pérsia), como copeiro, quando
soube que os exilados que já se encontravam em Judá, estavam sob opróbrio e os
muros de Jerusalém continuavam em ruínas. Depois de orar em favor da triste
condição de Jerusalém, Neemias recebeu uma munificente autorização do rei
Artaxerxes para viajar a Jerusalém como governador, e reedificar os muros da
cidade. Como líder dinâmico ele motivou seus compatriotas a reedificar todo o
muro em apenas cinqüenta e dois dias, apesar da ferrenha oposição. Serviu como
governador por doze anos. Depois de um breve retorno à Pérsia, exerceu um segundo
mandato de governador de Judá (confronte 2.1; 13.6,7). Esdras, o sacerdote,
auxiliou Neemias na promoção do avivamento e renovação espiritual do
remanescente que voltara. É possível que Neemias tenha ajudado Esdras a
escrever esse livro. A historicidade do livro de Neemias é confirmada por
documentos antigos descobertos em 1903, chamados Papiros de Elefantina, que
mencionavam Sambalate (2.19), Joanã (12.23), e a substituição de Neemias como
governador em cerca de 410 a .C.
7.2.2. Autoria e Data
O título atual do livro é
derivado do seu personagem principal, cujo nome aparece em 1.1. A nossa
primeira imagem de Neemias é quando ele aparece em seu papel de copeiro na
corte de Artaxerxes. Um copeiro tinha uma posição de grande confiança como
conselheiro do rei e a responsabilidade de proteger o rei de envenenamento.
Enquanto Neemias, sem dúvida, desfrutava o luxo do palácio, o seu coração
estava em Jerusalém, uma pequena cidade nas longínquas fronteiras do império.
A oração, o jejum, as
qualidades de liderança, a poderosa eloqüência, as habilidades organizacionais
criativas, a confiança nos planos de Deus e a rápida e decisiva resposta aos
problemas qualificavam Neemias como um grande líder e como um grande homem de
Deus. Mais importante ainda: ele deixa transparecer um espírito de sacrifício,
cujo único interesse é resumido na sua repetida oração: “Lembra-te de mim pra
bem, ó meu Deus!”.
Nas escrituras, o livro de
Neemias formava uma unidade com Esdras. Muitos estudiosos consideram Esdras
como o autor/compilador de Esdras -Neemias bem como de 1 e 2 Crônicas. Ainda
que não tenhamos muita certeza, parece que Neemias contribuiu com parte do
material contido no livro que leva o seu
nome (caps.1-7; 11-13).
Jerônimo, que traduziu a
Bíblia ao latim, honrou Neemias ao dar o seu nome ao livro em que aparece como
personagem principal. Neemias significa “Jeová consola”. A história começa no
livro de Esdras e se completa em Neemias. Neemias , que serviu duas vezes como
governador da Judéia, deixa a Pérsia para realizar a sua primeira missão no
vigésimo ano de Artaxerxes I da Pérsia, que reinou de 465 até 424 a .C. (2.1). Retorna à
Pérsia no trigésimo segundo ano de reinado de Artaxerxes (13.6) e volta
novamente para Jerusalém “ao cabo de alguns dias”.
Pelo conteúdo do livro,
sabe-se que a obra somente pode ter sido escrita algum tempo depois da volta de
Neemias da Pérsia para Jerusalém. Talvez a sua redação final tenha sido
completada antes da morte de Artaxerxes I em 424 a .C.; ao contrário, a
morte de um monarca tão benigno provavelmente teria sido mencionada em Neemias.
O período histórico coberto
pelos livros de Esdras e Neemias é de cerca de 110 anos. O período de
reconstrução do templo sob Zorobabel, inspirado pela pregação de Zacarias e
Ageu, foi de 21 anos. 60 anos mais tarde, Esdras causou um despertar do fervor
religioso e promoveu um ensino adequado sobre o culto no templo. 13 anos
depois, Neemias veio pra construir os muros. Talvez Malaquias tenha profetizado
durante aquela época. Se foi assim, Neemias e Malaquias trabalharam juntos para
erradicar
•
o mal que significava o culto a muitos deuses
e atacaram o pecado da associação com o povo que havia sido forçada a
recolonizar aquelas regiões pelos assírios cerca de 200 anos antes. Tiveram
tanto sucesso, que durante
•
o período intertestamental o povo de Deus não
voltou à idolatria. Dessa maneira, quando veio o Messias, pessoas como Isabel e
Zacarias, Maria e José, Simeão, Ana, os pastores e outros eram pessoas piedosas
com que Deus iria se comunicar.
7.2.3. Conteúdo
Neemias expressa o lado
prático, a vivência diária da nossa fé em Deus. Esdras havia
conduzido o povo a uma renovação espiritual, enquanto Neemias era o Tiago do
AT, desafiando o povo a mostrar a sua fé por meio das obras. A primeira seção
do livro (caps. 1-7) fala sobre a construção do muro. Era necessário para que
Judá e Benjamim continuassem a existir como nação. Durante o período da
construção dos muros, os crentes comprometidos, guiados por esse líder
dinâmico, venceram a preguiça (4.6), zombaria (2.19), conspiração e ameaças de
agressão física (4.17).
A segunda seção do Livro
(caps. 8-10) é dirigida ao povo que vivia dentro dos muros. A aliança foi
renovada. Os inimigos que moravam na cidade foram
expostos e tratados com
muita dureza. Para guiar esse povo, Deus escolheu um homem de coração reto e
com uma visão clara dos temas em questão, colocou-o no lugar certo no momento
certo, equipou-o com o seu Espírito e o enviou pra fazer proezas.
Na última seção
(caps.11-13), o povo é restaurado à obediência da Palavra de Deus, enquanto
Neemias, o leigo, trabalha junto com Esdras, o profeta. Como governador durante
esse período, Neemias usou a influência do seu cargo para apoiar a Esdras e
exercer uma liderança espiritual. Aqui se revela um homem que planeja
sabiamente suas ações (“considerei comigo mesmo no meu coração”) e um homem
cheio de ousadia (“contendi com os nobres”).
7.2.4. A divisão do livro de
Neemias
Os caps. 1-7 narram o
desempenho de Neemias como governador e como responsável pela reedificação dos
muros de Jerusalém. A segunda metade do livro descreve a restauração espiritual
que teve lugar entre os habitantes de Jerusalém, liderada por Esdras, o
sacerdote (8 -10). Certos problemas nacionais abordados por Neemias (11-13). De
muita importância para a renovação espiritual do povo, foram a leitura pública
da Lei de Deus, o arrependimento do pecado e uma nova resolução do remanescente
no sentido de ter em memória o seu concerto com Deus e de cumpri-lo. O último
capítulo trata de reformas que Neemias iniciou durante seu segundo período de
governo (cap. 13).
7.2.5. O Espírito Santo
citado
Desde a criação, o Espírito
Santo tem sido o braço executivo de Deus na terra. Eliú falou a verdade quando
disse a Jó: “O Espírito de Deus na terra me fez” (Jó 33.4). Aqui aparece um
padrão constante: é o Espírito de Deus que age para fazer de nós o que Deus
quer que sejamos. Ne 2.18 diz: “Então, lhes declarei como a mão do meu Deus me
fora favorável.” A mão de Deus, seu modo de agir sobre a terra, é o Espírito Santo.
Neemias, cujo nome significa “Jeová conforta”, foi claramente um instrumento do
Espírito Santo. Sob o poder do Espírito Santo, certamente se tornou modelo da
forma de atuar do Espírito Santo e foi uma dos primeiros cumprimentos dessa
memorável profecia.
7.2.6. Cinco características
principais destacam-se no livro de Neemias
(a) Registra os últimos eventos da história judaica do Antigo
Testamento, antes do período intertestamentário.
(b) Fornece o contexto
histórico de Malaquias, o último livro do Antigo Testamento, posto que Neemias
e Malaquias foram
contemporâneos.
(c) Neemias é um excelente modelo bíblico de um líder crente no governo:
um homem de sabedoria, convicção, coragem, integridade a toda prova, fé firme,
compaixão pelos oprimidos, e possuidor de ricos dons de liderança e
organização. Durante todos os seus anos como governador Neemias foi um homem
justo, humilde, isento de cobiça, abnegado e que não se corrompeu pela sua
posição ou poder.
(d) Neemias é um dos exemplos mais notáveis do Antigo Testamento de um
líder que ora. Em onze vezes, o registro descreve Neemias dirigindo-se a Deus
em oração ou intercessão (por exemplo, Ne 1.411; 2.4; 4.4, 9; 5.19; 6.9, 14;
13.14, 22, 29, 31). Foi um homem que executou tarefas que pareciam impossíveis,
por causa da sua total dependência de Deus.
(e) O livro ilustra de modo claro o fato de que a oração, o sacrifício,
o trabalho árduo e a tenacidade operam em conjunto na realização de uma visão
dada por Deus.
7.3. O Livro deEster
Esboço do Livro
I. A Providência de Deus no
Provimento de uma Rainha (1.1—2.18)
A. A Deposição de Vasti Como
Rainha (1.1-22)
1. O Banquete de Assuero
(1.1-9)
B. Ester é Escolhida Como
Rainha da Pérsia (2.1-18)
2. Ester é Preferida
(2.5-11)
II. A Providência de Deus no
Meio de uma Trama (2.19—4.17)
A. Mardoqueu Salva a Vida do
Rei (2.19-23)
B. A Soberba de Hamã e Sua
Trama Traiçoeira (3.1-15)
C. Mardoqueu Convence Ester
a Interceder Junto ao Rei (4.1-17)
III. A Providência de Deus
no Livramento do Seu Povo (5.1—9.32)
A. O Primeiro Banquete de
Ester: Um Pedido Inicial (5.1-8)
B. A Evolução da Trama de
Hamã (5.9-14)
C. A Providência da Insônia
do Rei (6.1-14)
D. O Segundo Banquete de
Ester: Denunciada a Trama de Hamã (7.110)
E. O Decreto do Rei e a
Vitória dos Judeus (8.1—9.16)
F. A Instituição da Festa de
Purim (9.17-32)
IV. A Providência de Deus na
Elevação de Mardoqueu (10.1-3)
7.3.1. Considerações
introdutórias
Depois da derrota do império
babilônico e sua conquista pelos persas em 539 a .C., a sede do governo
dos exilados judeus passou à Pérsia. A capital, Susã, é o palco da história de
Ester, durante o reinado do rei Assuero (seu nome hebraico) -também chamado
Xerxes I (seu nome grego) ou Khshayarshan (seu nome persa) -que reinou em 486 -465 a .C. O livro de Ester
abarca os anos 483 -473 a .C.
do reinado de Assuero (1.3; 3.7), sabendo-se que a maioria dos eventos ocorreu
em 473 a .C.
Ester tornou-se rainha da Pérsia em 478 a .C. (2.16). Cronologicamente, o episódio
de Ester na Pérsia ocorre entre os caps. 6 e 7 do livro de Esdras, isto é,
entre o primeiro retorno dos exilados judeus de Babilônia e da Pérsia, para
Jerusalém em 538 a .C.,
chefiados por Zorobabel (Esdras 1– 6), e o segundo retorno chefiado por Esdras
em 457 a .C.
(Ed 7-10). Embora o livro de Ester venha depois de Neemias em nosso Antigo Testamento ,
seus eventos realmente ocorreram trinta anos antes da volta de Neemias a
Jerusalém (444 a .C.)
para reconstruir seus muros. Enquanto os livros pós-exílicos de Esdras e
Neemias tratam de fatos do remanescente judaico que retornara a Jerusalém,
Ester registra um acontecimento de vital importância ocorrido entre os judeus
que se encontravam na Pérsia.
7.3.2. A importância da
rainha Ester
A importância da rainha
Ester vê-se, não somente no fato de ela salvar o seu povo da destruição, mas
também por conseguir para esse povo, segurança e respeito num país estrangeiro
(Et 8.17; 10.3). Esse ato providencial tornou possível o cargo de Neemias na
corte do rei, por décadas seguidas, e sua escolha para reconstruir os muros de
Jerusalém. Se Ester e os judeus (inclusive Neemias) tivessem perecido na
Pérsia, o remanescente em crise em Jerusalém talvez nunca tivesse reconstruído
a sua cidade. O resultado da história judaica pós-exílica certamente teria sido
outra muito diferente.
7.3.3. Autor e Data
O nome do autor é
desconhecido, mas o livro foi escrito por um judeu que conhecia os costumes e a
linguagem dos persas. Talvez Mardoqueu ou Esdras tenha sido o autor. Embora não
se conheça o autor do livro de Ester, as evidências internas do livro revelam
que ele conhecia pessoalmente os costumes persas, o palácio de Susã e
pormenores da pessoa do rei Assuero. Isso indica que o autor provavelmente
morava na Pérsia durante o período descrito no livro. Além disso, o apreço do
autor pelos judeus, bem como seus conhecimentos dos costumes judaicos sugerem
que ele era judeu.
O livro de Ester é uma
narração bem elaborada, que relata como o povo de Deus foi preservado da ruína
durante o séc. V a.C. O livro toma seu nome de uma mulher judia, bela e órfã,
que se tornou rainha do rei persa Assuero. Acredita-se que este rei tenha sido
Xerxes I, que sucedeu Dario I, em 485 aC , e governou 127 províncias, desde a
Índia até a Etiópia, durante vinte anos. Viveu em Susã, a capital persa.
Naquela época, certo número de judeus ainda se encontrava na Babilônia sob o
governo persa, embora tivesse liberdade para retornar a Jerusalém (Et 1-2) há
mia de cinqüenta anos. A história se desenrola num período de quatro anos,
iniciando no terceiro ano do reinado de Xerxesi.
7.3.4. Conteúdo histórico do
livro
Ester é um estudo da
sobrevivência do povo de Deus em meio à hostilidade. Hamã, o homem mais
importante depois do rei, deseja a aniquilação dos judeus. Ele manipula o rei
para que execute os judeus. Ester é introduzida em cena e Deus faz uso dela
para salvar seu povo. Hamã é enforcado; e Mardoqueu, líder dos judeus no
Império Persa, se torna primeiro ministro. A festa de Purim é instituída para
marcar a libertação dos judeus.
Um aspecto peculiar no Livro
de Ester é que o nome de Deus não é mencionado. No entanto, vestígios de Deus e
seus caminhos transparecem em todo o livro, especialmente na vida de Ester e
Mardoqueu. Da perspectiva humana, Ester e Mardoqueu foram as duas pessoas do
povo menos indicadas pra desempenhar funções importantes na formação da nação.
Ele era um judeu benjamita exilado; ela era prima órfã de Mardoqueu, adotada
por este (2.7). A maturidade espiritual de Ester se percebe na virtude dela
saber esperar pelo momento que Deus julgou adequado, para, então, pedir ao rei
a salvação do povo e denunciar Hamã (5.6-8; 7.3-6). Mardoqueu também revela
maturidade para aguardar que Deus lhe indicasse a ocasião correta e lhe
orientasse. Em conseqüência, ele soube o tempo certo de Ester desvendar sua
identidade judaica (2.10). Esta espera divinamente orientada provou se crucial
(6.1-14; 7.9,10) e comprova a base espiritual do livro.
Finalmente, tanto Ester
quanto Mardoqueu temiam a Deus, não a homens. Independentemente das
conseqüências, Mardoqueu recusou-se a prestar honras a Hamã. Ester arriscou sua
vida por amor do seu povo quando foi ao rei sem ter sido convidada. A missão de
Ester e Mardoqueu sempre foi salvar a vida que o inimigo planejava destruir
(2.21-23; 4.1-17; 7.1-6; 8.3-6) Como resultado, conduziram a nação à liberdade,
foram honrados pelo rei e receberam autoridade, privilégios e
responsabilidades.
7.3.5. O Espírito Santo
citado
Embora não se mencione
diretamente o Espírito Santo, sua ação produziu em Ester e Mardoqueu profunda
humildade, conduzindo-os ao amor mútuo e à lealdade (Rm 5.5) O Espírito Santo
também dirigiu e fortaleceu Ester para jejuar pelo seu povo e pedir que este
fizesse o mesmo. (Rm 8.26,27).
7.3.6. O duplo propósito do
livro de Ester
O livro de Ester foi escrito
para demonstrar a proteção e livramento de extermínio iminente do povo judeu,
mediante a intervenção de Deus através da rainha Ester. Embora o nome de Deus
não seja mencionado especificamente, a evidência é patente da sua providência
no decurso de todo o livro. Também, para prover um registro e contexto
histórico da festa judaica de Purim (Et 3.6,7; 9.26-28) e, assim, manter viva
para gerações futuras, a lembrança desse grande livramento do povo judeu na
Pérsia (confronte a festa da Páscoa e o grande livramento dos israelitas da
escravidão no Egito).
7.3.7. Os personagens
principais no livro de Ester
O rei persa, Assuero; seu
primeiro ministro, Hamã. Hamã é o vilão da história; Vasti, a rainha que
antecedeu Ester; Ester, a formosa moça judia que tornouse rainha. Ester,
naturalmente, é a heroína da história; Mardoqueu, o íntegro primo de Ester que
a adotou como filha e cuidou dela na mocidade. É o herói que, como alvo
principal do desprezo de Hamã, é vindicado e exaltado no fim. É a figura
principal nos eventos do livro, pois ele influenciou a rainha Ester e lhe deu
conselhos retos.
7.3.7. A providência de Deus
está presente em todas as partes do livro
É vista, primeiramente, na
escolha de uma virgem judia chamada Hadassa (hebraico) ou Ester (persa e
grego), para ser rainha da Pérsia, numa hora crítica da história dos judeus
(1-2; 4.4). A providência de Deus é novamente evidente quando Mardoqueu, primo
de Ester, que a criara como filha (2.7), foi informado de uma trama para
assassinar o rei, denunciou-a, salvou a vida do rei, e seu ato foi registrado
nas crônicas do rei. Isso, o rei descobriu
providencialmente no momento
certo, durante uma noite de insônia (6.1-14).
7.3.8. O desfecho da
história
O ódio que Hamã alimentava
por Mardoqueu estendeu-se a todos os judeus. Urdiu um horrendo complô e, usando
de fraudulência, persuadiu Assuero a promulgar um decreto para exterminar todos
os judeus no dia 13 do mês adar (Et 3.13). Mardoqueu persuadiu Ester a
interceder junto ao rei a favor dos judeus. Depois de um jejum levado a efeito
por todos os judeus de Susã, de três dias de duração, Ester arriscou a sua vida
ao aproximar-se do trono real sem ter sido convocada (cap. 4); Obteve o favor
do rei (5.1-4) e denunciou o funesto complô de Hamã. A seguir, o rei mandou
enforcar Hamã na forca que este preparara para Mardoqueu (7.1-10). Um segundo
decreto do rei possibilitou aos judeus triunfarem sobre os seus inimigos
(8.1-9.16). Essa ocasião motivou uma grande celebração e deu origem à festa
anual de Purim (9.17-32). O livro termina com um relato da fama de Mardoqueu
(10.13).
7.3.9. Cinco características
assinalam o livro de Ester
(a) É um dos dois livros na
Bíblia que levam o nome de uma mulher, sendo Rute o outro.
(b) O livro começa e termina
com uma festa, e menciona um total de dez festas ou banquetes no decurso das
quais se desenrola boa parte do drama do livro.
(c) O livro de Ester é o
último dos cinco rolos da terceira parte da Bíblia hebraica, chamados
Hagiographa (“Escritos Sagrados”). Cada um desses rolos é lido publicamente em
uma das grandes festas judaicas. Este aqui é lido na festa de Purim, em 14-15
de adar, que comemora
o grande livramento do povo
judeu na Pérsia, durante o reinado de Ester.
(d) Embora o livro mencione
um jejum de três dias de duração, não há qualquer referência explícita a Deus,
à adoração, ou à oração (aspecto este que tem levado alguns críticos a,
insensatamente questionarem o valor espiritual do livro).
(e) Embora o nome de Deus
não apareça através do livro de Ester, sua providência é patente em toda parte
do mesmo (por exemplo, Et 2.7,17,22; 4.14; 4.16-5.2; 6.1,3-10; 9.1). Nenhum
outro livro da Bíblia ilustra tão poderosamente a providência de Deus ao
preservar o povo judeu a despeito do ódio demoníaco dos seus inimigos.
7.3.10. O Livro de Ester e o
Novo Testamento
Não há referência ou alusão
a este livro no Novo Testamento. Todavia, o ódio de Hamã aos judeus e seu
complô visando o extermínio de todos os judeus do império persa (Et 3; 7.4) é
uma prefiguração no Antigo Testamento, do Anticristo do Novo Testamento, que
procurará destruir todos os judeus e também os cristãos no final da história.
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