sexta-feira, 6 de março de 2020


FACULDADE DE TEOLOGIA
TESTEMUNHAS HOJE


CURSO LIVRE
 LIVROS HISTÓRICOS









CONCEITO GERAL
INTRODUÇÃO
O Pentateuco registra o nascimento do povo de Deus. Essa narrativa continua na segunda parte do Cânon, conhecida como "Livros Históricos". Esses livros são importantes em primeiro lugar por causa de seu conteúdo histórico. Eles cobrem um período de tempo de pelo menos oitocentos anos da conquista de Josué até o Império Persa onde viveu Ester.
Os Livros Históricos começam descrevendo a conquista da terra prometida (Josué). Então, essa parte da Bíblia continua com o relato do período antes de Israel ter reis, quando os juízes governavam o povo (Juízes, Rute). Eles também cobrem o período da monarquia. O reino unido de Saul, Davi e Salomão acabou sendo dividido em Israel, ao norte, e Judá, ao sul (1-2 Sm, 1-2 Rs). Crônicas, Esdras e Neemias contam a história de uma perspectiva teológica posterior e continuam a narração até o período de restauração pós­exílio. Ester ilustra o papel do povo de Deus sob o domínio persa.
Além de seu valor histórico, esses livros também são importantes por aquilo que ensinam teologicamente. Eles descrevem a história de Israel, mas são mais que uma simples história ou um mero registro de fatos históricos. Eles são a palavra de Deus nos dias de hoje para os cristãos. A igreja sempre afir­mou o valor desses livros "para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça" (2Tm 3.16). Lemos esses livros por motivos que vão além do seu valor histórico. Eles traçam a história do relacionamento de Deus com sua nação, revelando seu amor fiel e imutável por seu povo, mesmo quando eles quebraram a aliança. Esses são acontecimentos importantes dos quais devemos tirar lições e não apenas ouvir falar.
Conteúdo dos Livros Históricos. O livro de Josué foi escrito para mostrar o valor insuperável da obediência. Ele cria um retrato do sucesso de Israel na conquista da terra prometida, destacando a importância do comprometimento total com a palavra de Deus e dependência de seu poder. Apesar de haver alguns exemplos de desobediência, de um modo geral, o livro de Josué não contrasta a obediência com a desobediência como fazem os livros de Reis.
Juízes, por outro lado, relata o estado quase irremediável de Israel depois da conquista. A nação foi vítima de transigência religiosa. Israel parecia incapaz de manter períodos prolongados de obediência à vontade de Deus e parecia condenada ao fracasso. Períodos temporários de obediência traziam paz e sucesso, mas sempre de novo a nação caía em pecado. O livro de Juízes foi escrito para justificar a necessidade de um rei para Israel.
O livro de Rute está inserido depois do livro de Juízes, pois os acontecimentos nele relatados ocorreram durante o mesmo período. Esse pequeno livro ilustra o cuidado soberano de Deus por indivíduos fiéis que vi­viam em um tempo de apostasia religiosa. Deus usou a fidelidade de uma única família para realizar um milagre e dar a Israel seu maior rei, Davi.
Os livros de Samuel traçam a história do início da monarquia em Israel. Samuel foi um profeta e juiz que liderou Israel na transição do governo dos juízes para a monarquia. Os livros contam a história dos dois primeiros reis: Saul e Davi. O segundo livro de Samuel dedica-se especialmente a descrever os principais acontecimentos do reinado de Davi.
Os livros de Reis contam em detalhes a história da monarquia de Salomão até a queda de Jerusalém. Eles contrastam a obediência e a desobediência para ilustrar os resultados de ambas. A princípio, tudo corria bem para Salomão. Mas quando ele deixou de ser fiel a Iavé, o resultado foi um reino dividido, Israel ao norte e Judá ao sul. Segundo Bill Arnold (2001, p. 158), “Israel, ao norte, foi apóstata desde o início e foi tomada pelos assírios em 722 a.C. Judá variava entre reis maus e uns poucos bons, até que a maldade de um rei foi grande demais. Nabucodonosor com seu poderoso exército babilônio tomou Jerusalém em 587 a.C.”
Os demais Livros Históricos são do período pós-exílio. Os livros de Crônicas constituem o primeiro comentário das Escrituras. Esses livros relatam as histórias de Davi, Salomão e do reino de Judá, histórias já conhecidas dos livros de Samuel e Reis. Mas o cronista não estava simplesmente relembrando notícias antigas. Ele ressaltou a obra de Deus em meio ao seu povo por meio da linhagem de Davi. Ele desejava seguir uma linha reta de fé e salvação, sem os desvios dos fracassos do passado. Seus leitores no exílio sabiam muito bem a história do colapso moral e da derrota de sua nação. Sua geração precisava ser lembrada das vitórias da herança de Israel como meio de dar-Ihes esperança para o futuro.
Os livros de Esdras e Neemias, que provavelmente foram escritos como uma só obra, apresentam os acontecimentos da restauração, na metade do século 5º a.C. Sob o governo persa, os judeus que viviam na Babilônia receberam permissão para voltar para sua terra natal e reconstruí-Ia. A liderança capaz de Esdras e Neemias, juntamente a certos profetas que eram ativos naquela época, ajudou o povo de Israel a reconstruir o templo e os muros de Jeru­salém. Além de descrever essas estruturas físicas, esses livros também relatam a reconstrução das fundações sociais e religiosas do povo de Deus.
O pequeno e fascinante livro de Ester demonstra o cuidado soberano de Deus e a proteção dele sobre seu povo, mesmo quando eles estavam vivendo no exílio persa. O livro é um conto histórico sobre a rainha Ester e
seu primo Mordecai. Ao contrário de qualquer outro livro bíblico, Ester mostra que mesmo quando Deus está em silêncio, ele está trabalhando para cumprir suas promessas para o seu povo.
O papel da História na Bíblia. Vimos no Pentateuco que Israel era uma nação singular entre seus vizinhos no antigo Oriente Próximo pela ênfase que dava à História. Deus criou o tempo e o espaço e, conseqüentemente, é soberano sobre a História da humanidade. Não é de se surpreender, portanto, que uma grande partes dos escritos sagrados de Israel fossem narrativas históricas.
A maior parte das expressões religiosas do antigo Oriente Próximo era mitológica. Os povos antigos geralmente expressavam suas convicções teológicas e visão de mundo por meio de mitos complexos, nos quais os eventos ocorriam fora da história. A maioria dos livros de religiões do mundo são coleções de literatura de sabedoria e AFORISMOS religiosos. Mas Israel via sua própria História como palco para a revelação divina. A palavra de Deus para o mundo é, em grande parte, uma narrativa de seu relacionamento com uma nação e seu plano para estabelecer um relacionamento com toda a humanidade.
Heródoto, o pai da História? Pelo fato da História ser o principal meio da revelação de Deus, Israel foi a primeira nação a dar atenção para o registro da História. Segundo Bill Arnold (2001, p. 59), “HERÓDOTO, um historiador grego do século 5º a.C., recebeu o título de ‘Pai da História’ por seu registro histórico das guerras gregas e persas”. Mas cem anos antes de Heródoto, a Bíblia tinha uma História de Israel contendo muitas das características que consideramos História nos dias de hoje: relações de causa e efeito, narração contínua, desenvolvimento completo de caracterização e assim por diante.
O Cânon judaico e o Cânon cristão. A História é importante tanto para o Câ­non judaico quanto para o cristão. O Cânon cristão separa e agrupa todos os livros que são predominantemente de natureza histórica. Esses Livros Históricos narram a História de Israel de um ponto de vista religioso. O Cânon judaico chama Josué, Juízes, Samuel e Reis de "Profetas Anteriores". De que forma esta pode ser uma designação apropriada para esses livros? Qual é a relação entre esses livros e profecias?
A resposta para essas questões encontra-se em um entendimento correto tanto do significado de profecia quanto de História. A princípio, profecia não diz respeito apenas ao futuro, mas preocupa-se com a obediência dentro do tempo e do espaço, aqui e agora. A profecia olha para as alianças do passado e interpreta seu significado para o presente bem como para o futuro. Ela faz uso da História para amarrar o passado ao presente. Nossos Livros Históricos receberam uma designação apropriada no Cânon judaico como "Profetas Anteriores", pois eles narram a reação do povo à aliança ao longo
da História. Esses livros apresentam a História de Israel de um ponto de vista profético. A tradição judaica atribui a profetas a autoria de outros livros (Samuel como autor de Juízes e Jeremias como autor de 1Reis).
Apesar da falta de evidências para tais conclusões, não deixa de haver certa lógica, tendo em vista a devoção ao papel profético encontrada nesses livros. Eles são "Profetas Anteriores", pois relatam a história antiga da profecia e escrevem sobre a História nacional à luz dos interesses teológicos e proféticos. Josué, Juízes, Samuel e Reis são tão apropriados como "Profetas Anteriores" no Cânon judaico como o são com a designação de Livros Históricos no Cânon cristão.
História e teologia. A Bíblia é mais que um livro de História. Ela sem dúvida relata a História de uma perspectiva religiosa.
Não há tentativas de se fazer o que hoje poderíamos chamar de História moderna objetiva. Os escritores estão escrevendo o que os estudiosos chamam de Heilsgeschichte, ou História da salvação. Essa designação distingue a História bíblica da História geral, que normalmente lida com uma seqüência de acontecimentos humanos na esfera natural. Os acontecimentos da História da salvação são revelações divinas sobre­naturais no tempo e no espaço, registradas nas Escrituras para promover a fé.
O registro dessa História da salvação é importante para a fé bíblica. Os acontecimentos em si não podem ser recriados e estudados em primeira mão, apenas o registro desses acontecimentos. Assim, a fé deve estudar os acontecimentos por meio do registro escrito. A fé bíblica, portanto, pressupõe a historicidade dos acontecimentos que revelam a História da salvação. A Bíblia aceita como sendo verdadeiros os acontecimentos históricos nos quais se baseiam as revelações. Ela também afirma a veracidade da interpretação desses acontecimentos, que a Bíblia apresenta na forma escrita. A forma escrita em si torna-se, então, uma importante evidência histórica. (KLASSEN, 2001, p. 160).
Os autores bíblicos freqüentemente apelam para acontecimentos com a finalidade de validar suas afirmações teológicas e partem do pressuposto que os acontecimentos descritos são historicamente precisos. A veracidade factual daqueles acontecimentos históricos torna possível aceitar como verdadeiras as afirmações teológicas da Bíblia. A historicidade não prova que a teologia é verdadeira. Mas a confiabilidade histórica é necessária para que as afirmações teológicas sejam verdadeiras, pois elas são baseadas em acontecimentos da História.
Podemos afirmar, por exemplo, que cremos que o Senhor do Antigo Testamento é um Deus cheio de graça e amor e que manteve a aliança com
seu povo. Segundo Bill Arnold (2001, p. 159), “essa é uma afirmação teológica. Mas a menos que Iavé tenha de fato realizado e mantido uma aliança com o povo de Israel, a afirmação teológica não tem fundamento, independente de sua plausibilidade. Se a História não for verdadeira, é mera especulação humana”.
A fé que a Bíblia define e expressa é explicitamente uma fé histórica. Ela está enraizada e baseada na historicidade de certos acontecimentos passados. Historicidade é um ingrediente necessário para a fé bíblica, apesar de, por si só, não ser uma base correta para a fé. No Antigo Testamento, a fé é definida em termos de acontecimentos passados, assim como também o é no Novo Testamento, onde a fé é baseada na ressurreição (1Co 15.12-19).

Capítulo 1
O Livro de Josué
1.1. O seu lugar no Cânon
Esboço do Livro
I. Preparação para Entrar e a Entrada em Canaã (1.1—5.15)
A. Deus Designa Josué (1.1-9)
B. Preparação para a Travessia do Jordão (1.10—3.13)
C. A Travessia do Rio Jordão (3.14—4.25)
D. Circuncisão, Páscoa e Reunião em Gilgal (5.1-15)
II. A Conquista da Terra Prometida (6.1—13.7)
A. Conquistas em Canaã Central (6.1—8.35)

1. Vitória em Jericó (6.1-27)

2. Derrota em Ai pelo Pecado de Acã (7.1-26)

3. Vitória em Ai (8.1-29)

4. Adoração e Renovação do Concerto em Siquém (8.30-35)

B. Conquistas em Canaã Sul (9.1—10.43)

1. Tratado com os Gibeonitas (9.1-27)

2. Destruição da Coalizão Amorita (10.1-43)

C. Conquistas em Canaã Norte (11.1-15)
D. Conquistas Efetuadas (11.16—12.24)
E. Territórios por Conquistar (13.1-7)
III. Repartição da Terra (13.8—22.34)
A. Tribos a Leste do Jordão (13.8-33)
B. Tribos a Oeste do Jordão (14.1—19.51)
C. Territórios Especiais (20.1—21.45)

1. Seis Cidades de Refúgio (20.1-9)
2. Cidades dos Levitas (21.1-45)
D. Retorno das Tribos do Leste (22.1-34)
IV. Mensagens de Despedida de Josué (23.1— 24.28)
A. Aos Governantes de Israel (23.1-16)
B. A Todo Israel; Renovação do Concerto em Siquém (24.1-28)
Conclusão (24.29-33)
A. Morte e Sepultamento de Josué (24.29-31)
B. Sepultamento dos Ossos de José (24.32)
C. Morte e Sepultamento de Eleazar (24.33)
Com este livro começa a segunda divisão do Antigo Testamento. Segundo o arranjo do cânone judaico, Josué é o primeiro livro da divisão chamada de Os Livros Históricos. Os autores não teriam de ter ocupado o ofício de profeta, mas de ter tido o dom profético. Um levita ou um sacerdote, por exemplo, podia ocupar seu ofício não profético mas também ter o dom de profecia (2Cr 20.14). Samuel era juiz, mas ocupava o ofício adicional de profeta e oficiava cerimônias sacrificiais, uma função sacerdotal. A classificação, então, focaliza
o dom profético do autor e a maneira de abordar o assunto.
Segundo o cânone cristão, com base na Septuaginta, Josué é o primeiro dos doze livros históricos. Esta maneira de classificar os livros parece olhar-lhes sob o prisma do tipo literário observado neles, o de narrativa histórica. Alguns estudiosos modernos preferem juntar Josué com o Pentateuco e assim falar do Hexateuco. Ainda outros desses dizem que os livros de Deuteronômio, Josué, Juízes, Samuel e Reis formam uma unidade que designam como “A Obra Histórica Deuteronomista”. Por isto, os livros de Gênesis, Êxodo, Levítico e Números devem ser também considerados como uma unidade, designada de “Tetrateuco”. Embora haja algum valor em estudar tais teorias, parece-nos melhor manter a unidade do Pentateuco, agrupando Josué com os livros que o seguem.
Na continuação do Pentateuco encontram-se os livros históricos. No Cânon da Bíblia hebraica, os seis livros de Josué: Juízes, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis e 2 Reis formam um conjunto que é denominado genericamente de Profetas Anteriores. Esse título vem de uma antiga tradição, segundo a qual esses livros foram compostos por alguns dos profetas de Israel. Quanto ao qualificativo “anteriores”, parecem dever-se ao lugar que lhes foi reservado no cânon hebraico, para diferenciá-los dos “Profetas posteriores”: Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze Profetas Menores.
1.2. O nome do Livro
O livro é universalmente designado pelo nome do seu herói maior, que domina o cenário do começo ao fim do conteúdo. O nome no original significa “Salvação de Iavé” ou “Iavé é Salvador”. Equivale ao nome “Jesus”, proveniente do grego (através do latim) que dependia do aramaico, que por sua vez dependia do hebraico. Tanto na Bíblia Hebraica como na Septuaginta
o nome do livro é o mesmo, Josué.
Apropriadamente, o livro recebe o nome do seu personagem principal, que se destaca como o líder escolhido por Deus, do começo ao fim do livro. Os antecedentes pessoais de Josué muito contribuíram para que se tornasse o líder da conquista. Josué viveu próximo ao fim da opressão de Israel pelo Egito, e testemunhou as dez pragas que Deus enviou a esse país como castigo, a primeira Páscoa, a travessia milagrosa do mar Vermelho e os sinais (e juízos) sobrenaturais durante as peregrinações de Israel no deserto. Serviu a Moisés como comandante militar na batalha contra os amalequitas, pouco depois da saída do Egito (Êx 17.8-16). Somente ele acompanhou Moisés na subida ao monte Sinai, quando Deus deu a Israel os dez mandamentos (Êx 24.12-18). Como auxiliar de Moisés, Josué demonstrava intensa devoção e amor a Deus, e muitas vezes permaneceu na presença do Senhor por um longo período (Êx 33.11). Era um homem que se deleitava na santa presença de Deus. Por certo, aprendeu muito com Moisés, seu conselheiro e guia de confiança, a respeito dos caminhos de Deus e das dificuldades na condução do povo. Em Cades-Barnéia, Josué serviu a Moisés como um dos doze espias que observaram a terra de Canaã. Ele, juntamente com Calebe, rejeitou energicamente o relatório da maioria, que retratava a incredulidade do povo (Nm 14). Muitos anos antes de substituir Moisés como líder de Israel, Josué demonstrou ser um homem de fé, visão, coragem, lealdade, obediência inconteste, oração e dedicação a Deus e à sua palavra. Quando foi escolhido para substituir Moisés, já era um homem “em que há o Espírito” (Nm 27.18; Dt 34.9).
1.3. Data e autoria
A data bíblica aproximada da invasão de Canaã por Israel é 1405 a.C. o livro abrange os 25-30 anos consecutivos da história de Israel, e conta como Deus “deu... a Israel toda a terra que jurara dar a seus pais” (21.43).
A tradução judaica, no Talmude, atribui a Josué a autoria literária do livro. Duas vezes o livro menciona o ato de escrever em conexão com Josué (18.9; 24.26). As evidências internas do livro indicam enfaticamente que o seu autor foi testemunha ocular da conquista (confronte “nos” em 5.6; note-se que Raabe ainda vivia quando o autor escreveu, 6.25). As partes do livro
acrescentadas depois da morte de Josué -por exemplo, 15.13-17 (confronte Jz 1.9-13); 24.29-33 -foram talvez escritas por um dos “anciãos que ainda viveram muito depois de Josué” (24.31). Josué morreu cerca de 1375 a.C., aos 110 anos de idade (24.29).
Devemos ainda considerar o texto em (24.26) diz, “Josué escreveu estas palavras no livro da lei de Deus”, o que na superfície poderia ser tomado como indicação do autor do livro todo. Torna-se claro, contudo, que a referência aponta para a aliança registrada em 24.2-25. Como é claro no caso do Pentateuco é também evidente que alguém registrava os acontecimentos principais da história de Israel enquanto aconteciam.
As evidências dentro do próprio texto apontam para uma testemunha ocular de certa parte dos eventos registrados no livro:

(a) O    uso da primeira pessoa no texto hebraico em 5.1: “... até que passássemos...” e 5.6: “... prometera a seus pais nos daria...”, embora no primeiro caso alguns manuscritos leiam “passassem”.

(b) O pronome “vosso” em 15.4 sugere escrito autobiográfico, pois o autor se apresenta como encarregado se dirigindo aos homens de Judá na segunda pessoa do plural.

(c) Referências à “grande Sidom” em 11.8 e 19.28 e aos fenícios pela designação “os sidônios” em 13.4-6 sugerem uma data anterior ao século XII a.C. quando Tiro tomou o lugar de Sidom como a cidade principal dos fenícios. Josué teria liderado na conquista em torno de 1280 ou 1240 a.C., um século antes da ascendência de Tiro.

(d) O fato de os Filisteus não serem mencionados no livro como uma grande ameaça aos hebreus indica uma data anterior a 1200 a.C., quando deu a chegada maciça ao litoral ocidental de Canaã dos filisteus. Segundo 11.21 são os anaquins, não os filisteus, que habitavam as cidades que posteriormente foram tomadas pelos filisteus. Os filisteus, indicados no livro de Juízes entre os maiores inimigos de Israel depois de Josué também não constam da lista dos principais habitantes da terra em 12.8, o qual reflete os tempos da conquista.

Existem, por outro lado, referências textuais que sugerem uma data posterior ao período de Josué.
1.4. O relato da sua morte em 24.29,30

(a) Eventos que aconteceram posteriormente à morte de Josué, como a conquista de Hebrom por Calebe: Josué ordenou que o lugar fosse dado a Calebe, segundo 15.13,14, mas segundo Juízes 1.10 e 20 a tribo de Judá conquistou Hebrom dos cananeus e assim a família de Calebe tomou posse do lugar, no período após Josué. Parece que a linguagem de Josué 15.13,14 reflita um autor que olha para trás para registrar quando foi cumprida a ordem de Josué. A migração da tribo de Dã para Lesem bem ao norte de Canaã é mencionada em 19.47, mas o acontecimento deu-se no período de juízes e é registrado em Juízes 17 e 18.

(b) A    expressão “até o dia de hoje” usada repetidamente no livro claramente indica um autor de uma época bem diferente do período do homem Josué. A frase é encontrada em 4.9; 6.25; 7.26; 8.28; 9.27; 10.27; 13.13; 14.14; 15.63 e 16.10.

(c) A     menção em 10.13 da antiga fonte, “O Livro dos Justos” (ou literalmente “de Jasar”), parece apontar para trás da perspectiva de um autor, ou editor, que teria vivido bem depois de Josué. O Livro dos Justos existia no período do Rei Davi (2Samuel 1.18), e parece uma composição feita pela ordem do rei quando Israel tornou-se um povo com governo central. Se fosse assim, teria sido citado pelo autor de Josué como indicação de fonte autorizada à qual o autor apelou. Se o Livro dos Justos não estivesse escrito no período de Davi, ainda estava em desenvolvimento, capaz de sofrer um acréscimo na época do rei.

(d) Uma fonte usada pelo autor final do livro de Josué é mencionada em

24.26. É o relato da renovação da aliança com a terceira geração após a saída do Egito, relato escrito por Josué mesmo e citado em 24.2-25.
As evidências internas do texto inspirado apontam para a seguinte conclusão. Teria havido um autor das fontes básicas do livro, autor (ou autores) que era testemunha ocular dos eventos que descreveu. Este autor poderia ter sido o próprio Josué ou um sacerdote ou outro designado por Josué. O impulso atrás do esforço deveria ser atribuído à liderança de Josué, embora remonte ao exemplo e à ordem de Moisés. Também teria havido um outro autor, ou editor, de uma época posterior a Josué, no período do reino de Davi ou depois, que teria completado e atualizado o livro, levando-o à sua forma atual.
1.5. A pessoa do autor – Josué
Os antecedentes pessoais de Josué muito contribuíram para que se tornasse
o líder da conquista. Josué viveu próximo ao fim da opressão de Israel pelo Egito, e testemunhou as dez pragas que Deus enviou a esse país como castigo, a primeira Páscoa, a travessia milagrosa do mar Vermelho e os sinais (e juízos) sobrenaturais durante as peregrinações de Israel no deserto. Serviu a Moisés como comandante militar na batalha contra os amalequitas, pouco depois da saída do Egito (Êx 17.8-16). Somente ele acompanhou Moisés na subida ao monte Sinai, quando Deus deu a Israel os dez mandamentos (Êx 24.12-18). Como auxiliar de Moisés, Josué demonstrava intensa devoção e amor a Deus, e muitas vezes permaneceu na presença do Senhor por um longo período (Êx 33.11). Era um homem que se deleitava na santa presença de Deus. Por certo, aprendeu muito com Moisés, seu conselheiro e guia de confiança, a respeito dos caminhos de Deus e das dificuldades na condução do povo. Em Cades-Barnéia, Josué serviu a Moisés como um dos doze espias que observaram a terra de Canaã. Ele, juntamente com Calebe, rejeitou energicamente o relatório da maioria, que retratava a incredulidade do povo (Nm 14). Muitos anos antes de substituir Moisés como líder de Israel, Josué demonstrou ser um homem de fé, visão, coragem, lealdade, obediência inconteste, oração e dedicação a Deus e à sua palavra. Quando foi escolhido para substituir Moisés, já era um homem “em que há o Espírito” (Nm 27.18; Dt 34.9).
1.6. O seu tema
Não pode restar dúvida de que o tema do livro é “A conquista e a Divisão da Terra Prometida”. Ver 1.2; 12.7-24; e 13.7 como versículos chaves neste sentido. As ênfases no texto do livro que são percebidas por uma leitura do livro todo também levam à esta conclusão.
O livro foi escrito como um registro da fidelidade de Deus, no cumprimento de suas promessas pactuais a Israel, concernentes à terra de Canaã (23.14; confronte Gn 12.6-7). As vitórias da conquista aparecem como os atos libertadores da parte de Deus pró Israel sobre uma decadente cultura Cananéia (Dt 9.4). A violência neste livro deve ser enquadrada nesta perspectiva. A arqueologia confirma que o povo cananeu era caracterizado por extrema depravação e crueldade quando Israel ocupou a terra.
1.7. A sua natureza
Uma vez levando em conta o destaque que a aliança tem no Pentateuco, e sabendo a respeito dos itens envolvidos numa cerimônia de instituição e renovação, torna-se evidente que o livro de Josué consta de um livro de
renovação da aliança. Êxodo registra a instituição da aliança com a primeira geração saída do Egito (cap.19-24). Deuteronômio registra a reiteração dos eventos e termos das alianças registrada em Êxodo, mas dentro de um contexto de levar ao registro da renovação daquela aliança com a segunda geração de Israel. Josué, por sua vez, registra os eventos que levaram à renovação da antiga aliança com a terceira geração (24).
1.8. Cristo no livro de Josué
Cristo é revelado no Livro de Josué de três maneiras; por revelação direta, por modelos e por aspectos iluminantes de sua natureza. Em 5.13-15, o Deus Triúno apareceu a Josué como o “príncipe do exercito do SENHOR” . Através de sua aparição, Josué teve certeza de que o próprio Deus era o responsável. Era tarefa de Josué, bem como nossa, seguir os planos do príncipe, além de conhecer o príncipe.
Um modelo é um símbolo, uma lição objetiva. Pode-se encontrar tipos em uma pessoa, em um ritual religioso e mesmo em um acontecimento histórico. O próprio Josué era um modelo de Cristo. Se nome, que significa “Jeová é Salvação”, é um equivalente hebraico do grego “Jesus”. Josué guiou os israelitas até a possessão de sua herança prometida, bem como cristo nos leva à possessão da vida eterna. O cordão de fio de escarlata na janela de Raabe (2.18,21) ilustra a obra de redenção de Cristo na cruz. O pano cor de sangue pendurado na janela salvou Raabe e sua família da morte. Assim, Cristo também derramou seu sangue e foi pendurado na cruz para nos salvar da morte.
Um dos aspectos da natureza de Cristo revelada em Josué é o da promessa cumprida. No final de sua vida, Josué testemunhou: “nem uma só promessa caiu de todas as boas palavras que falou de vós o SENHOR, vosso Deus” (23.14). Deus, em sua graça e fidelidade, sustentou e preservou seu povo tirando-os do deserto e levando-o à Terra Prometida. Ele fará o mesmo por nós através de Cristo, que é a Promessa.
1.9. O Espírito Santo citado
Uma tendência constante da obra do Espírito Santo flui através do Livro de Josué. Inicialmente, sua presença surge em 1.5, quando Deus conhecendo a esmagadora tarefa de comandar a nação de Israel, forneceu a Josué a promessa de seu Espírito sempre presente.
O trabalho do Espírito Santo era o mesmo antes de agora: ele atrai as pessoas a um relacionamento de salvação com Cristo e realiza os propósitos do Pai. Seu objetivo em Josué, bem como no Antigo Testamento, era a
salvação de Israel, pois, foi através dessa nação que Deus escolheu salvar o mundo (Is 63.7-9)
Várias características sobre a maneira como o Espírito opera podem ser vistas em Josué. A obra do Espírito Santo é contínua: “Não te deixarei nem te desampararei” (1.5). O Espírito Santo está comprometido a realizar a tarefa, independentemente de quanto tempo demore. Sua presença contínua é necessária para o sucesso do plano de Deus na vida dos homens. A obra do Espírito Santo é mútua: “Tão somente sê forte e mui corajoso para teres cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem­sucedido por onde quer que andares” (1.7). Foi dito: “Sem ele, não podemos; sem nos ele não quer”. A cooperação com o Espírito Santo é essencial à vitória. Ele nos habilita a cumprir nosso chamado e a completar a tarefa ao nosso alcance. A obra do Espírito Santo é sobrenatural. A queda de Jericó foi obtida mediante a destruição milagrosa de seus muros (6.20). A vitória foi alcançada em Gibeom, quando o Espírito deteve o sol (10.12,13). Nenhuma obra de Deus seja a libertação da servidão ou possessão da bênção, é realizada sem ajuda do Espírito.
1.10. O livro está dividido em três seções
1.10.1. Seção I (1.1; 5.15)
Descreve a designação de Josué por Deus, como sucessor de Moisés, e os preparativos de Israel para entrar em Canaã (1.1; 3.13), sua travessia do Jordão (3.14; 4.24), e suas primeiras atividades na terra consoante o concerto (cap. 5). Deus prometeu para Josué: “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado” (1.3).
1.10.2. Seção II (6.1; 13.7)
Descreve como Israel avançou obedientemente contra cidades-estados bem armadas e com muros fortificados. Deus deu ao seu povo vitórias decisivas no centro de Canaã (6; 8), no sul (9; 10) e no norte (11; 12), e assim Israel obteve o controle das terras montanhosas (de norte ao sul) e do Neguebe. A maneira altamente singular da conquista de Jericó demonstrou claramente a Israel quem era o Príncipe da sua salvação (cap. 6). A derrota de Israel em Ai revela a imparcialidade do livro e a obediência devotada que Deus requeria da parte de Israel (cap. 7).
1.10.3. Seção III – (13.8; 22.34)
Descreve a repartição da terra, por Josué, entre as doze tribos; a herança de Calebe; as seis cidades de refúgio; e as quarenta e oito cidades levíticas
dentre as tribos. O livro termina com duas mensagens de despedida por Josué (23.1; 24.28) e um tributo post-mortem a Josué e Eleazar (24.29-33).
1.11. Sete características principais sobressaem neste livro

(a) É o primeiro dos livros históricos do Antigo Testamento a descrever a história de Israel como nação na Palestina.

(b) Oferece muitos aspectos da admirável vida de Josué como o escolhido de Deus para completar a missão de Moisés: estabelecer Israel como o povo do concerto na terra prometida.

(c) O livro registra vários milagres divinos em favor de Israel, sendo que os dois mais notáveis são a queda de Jericó (cap. 6) e o prolongamento das horas da luz do dia, na batalha em Gibeom (cap. 10).

(d) É o principal dos livros do Antigo Testamento a descrever o conceito da “guerra santa” como missão específica e limitada, prescrita por Deus e inclusa no contexto mais amplo da história da salvação.

(e) O livro ressalta três grandes verdades no tocante ao relacionamento entre Deus e o seu povo do pacto:
             Sua fidelidade.
             Sua santidade.
             A sua salvação.
              
(f)   O livro ressalta a importância de manter viva a memória dos atos redentores de Deus em favor do seu povo, e de perpetuar esse legado de geração em geração.

(g) O relato prolongado que o livro registra da transgressão de Acã e do seu subseqüente castigo (cap. 7), juntamente com outras admoestações, advertências e castigos, enfatiza a importância do temor do Senhor no coração do seu povo.

1.12.    A renovação da aliança e suas implicações para a atualidade (Josué 24)
A missão de Josué já estava quase cumprida, o povo assentado, as cidades e territórios distribuídos. Josué estava diante do ideal de sua vida: cumprir a tarefa de conduzir o povo a terra prometida e liderou a conquista. Mas em seu coração havia um desejo bem especial que o levou a uma expressiva
atitude de liderança e fé. Ao convocar o povo para um encontro em Siquém e desafiá-lo para um compromisso mais profundo com o Senhor. Josué nos deixa um legado histórico-espiritual incontestável. Uma vez que uma nova etapa seria experimentada pelo povo de Israel a checagem espiritual fez-se necessária. Sem contar o fato de que uma geração nova cresceu sob a liderança de Josué e precisava, ela mesma, de estreitar os seus laços com o Senhor. Note-se que a renovação da aliança com o Senhor foi uma atitude espontânea do povo e por esta razão ela fez diferença. Ao convidá-lo para meditar sobre este momento histórico na vida do povo de Israel desejo que nos seja permitido compreender as implicações desta renovação da aliança com a vida no limiar do século XXI. A minha intenção e levá-lo a uma atitude diante de Deus que o habilite a viver neste tempo fiel ao Deus Eterno. Que implicações têm a renovação da aliança com a nossa vida hoje? Em primeiro lugar a renovação da aliança entre o povo de Israel e Deus implica que Deus é fiel em cumprir as suas promessas (v. 1-11).
Os israelitas por diversas vezes precisavam ser lembrados desta importante característica de Deus: Um Deus fiel que sempre honra com as suas promessas. Nesta retrospectiva da história de Israel Josué os faz lembrar de como a fidelidade divina foi um fator decisivo na vida de seus antepassados. Os triunfos nas batalhas não foram resultados da capacidade militar ou do esforço de Israel. A terra em que agora habitavam não era produto de seu trabalho.
Esta história da fidelidade divina deve servir para a sustentação para a nossa fé, tanto hoje quanto amanhã. Nesta perspectiva não importam as circunstâncias que nos cercam, devemos confiar em Deus. Ele é capaz de cumprir todas as suas promessas no presente e no futuro com a mesma precisão que agiu no passado. Você conhece as promessas de Deus? Você crê na fidelidade divina? Em segundo lugar a renovação da aliança entre o povo de Israel e Deus implica que As vitórias alcançadas na vida não são meros resultados do esforço humano (v.12).
A intenção de Josué era evitar uma atitude de jactância ou exaltação nacional. Na retrospectiva ele confirma o conceito: Deus é o agente através do qual o povo conseguiu suas vitórias. O mesmo princípio nos leva a considerar também que as derrotas, muitas vezes, são motivadas pela desobediência à sua vontade soberana.
O tempo em que vivemos é marcado por uma atitude de autopromoção. As pessoas são conduzidas a pensar e agir como se fosse o centro do universo. Freqüentemente nossa comunicação utiliza os seguintes termos: “eu fiz”, “eu sou”, “eu posso”, “meu dinheiro”, “meu trabalho”, “minha conquista pessoal”, “fruto do meu esforço”, etc. Lembre-se deste princípio: Deus continua interessado em ser o agente através do qual você alcançará êxito em todas as a áreas de sua vida.
Em terceiro lugar a renovação da aliança entre o povo de Israel e Deus implica que Deus nos sustenta e nos farta de bens deste mundo (v.13).
A história do povo de Israel revela a providência e a graça divina dispensada sobre aqueles que o temem. Deus havia provido os israelitas de terra, cidades e produtividade no terreno em que estavam cultivando. Deus opera sinais diante dos nossos olhos (v.17) para serem reconhecidos e lembrados. Racionalizar e esquecer os grandes sinais do Senhor, sempre tem sido a causa do abandono de Deus e da murmuração.
Aprendemos assim o princípio da providência divina e devemos entender que os bens que possuímos e o sustento que entra diariamente em nosso lar é um testemunho constante da generosidade divina para conosco. Recebemos tanto do Senhor que não temos razão de fazermos qualquer murmuração contra ele. Sejamos agradecidos por sua providência. Em quarto lugar a renovação da aliança entre o povo de Israel e Deus implica que 1.12.4. Deus espera que o sirvamos com sinceridade (v.14-15).
Ao renovar a aliança com Deus aquela geração israelita (terceira) assume solenemente algumas responsabilidades como:

(a) Temer ao Senhor = honrando e respeitando Sua vontade em tudo.

(b) Servir    ao Senhor = dando-lhe honestamente, com toda fidelidade, aquilo que Ele quer.

(c) Escolher ao Senhor = dando-lhe o primeiro lugar na vida. A fidelidade requerida pelo Senhor é absoluta.

Os israelitas precisaram lançar fora os deuses estranhos para servir ao Senhor com sinceridade. O que você precisa abandonar para servi-lo verdadeiramente? A indecisão na vida espiritual é um erro fatal para os cristãos de hoje. Cada dia de nossa vida precisa ser marcado pela decisão sábia de servir a Deus. Em quinto lugar a renovação da aliança entre o povo de Israel e Deus implica que Deus exige exclusividade relacional conosco (v.23).
A geração de israelitas que havia participado da conquista da terra prometida
(v.16) aceita uma aliança com o Senhor, semelhante aquela que seus pais se comprometeram a cumprir no Sinai (Êx.24.7-18; 34.27-28). Aqui neste contexto de pacto destaca-se a exigência divina de exclusividade no relacionamento com seus filhos-adoradores. Além de uma atitude exterior (abandonar os ídolos), deveria haver também uma disposição interior. Inclinar o coração para Deus é servir com integridade, sinceridade, verdade, com
inteireza do ser.
Qual é o nível do seu relacionamento com Deus? Você anda meio dividido? Sente que não está agradando ao Senhor? Pois bem meu conselho é que você jogue fora os “deuses estranhos” e incline o seu coração para o Senhor e assim apresente sua vida consagrada como uma oferta de amor. Lembre­se Deus exige exclusividade. Ele não quer corações divididos. Ele não quer culto parcial nem tampouco vidas incoerentes.
Ainda que o povo de Israel achasse impossível abandonar a Deus, por causa de tudo que Ele fez a favor desta nação, a história de Israel, logo no livro de Juízes, indica que um reconhecimento das fraquezas, e humildade teriam sido mais recomendáveis. A falta de perseverança no caminho do Senhor, em grande parte deve-se ao fato de que os pais deixaram de praticar e ensinar a seus filhos dentro de seus lares. Isto Josué prometeu fazer (v.15), sabendo que o culto verdadeiro começa em casa.
Gostaria de sugerir que reconheçamos as nossas falhas e fraquezas e assim nos posicionemos humildemente diante deste Deus, que cumpre as suas promessas, e na dependência dEle procuremos viver uma vida dedicada sabendo que:

(a) Ele é fiel em cumprir as Suas promessas.

(b) As vitórias alcançadas na vida não são meros resultados do esforço humano.

(c) Ele nos sustenta e nos farta de bens deste mundo.

(d) Ele espera que O sirvamos com sinceridade.

(e) Ele exige exclusividade relacional conosco.

Capítulo 2
O Livro de Juízes
2.1. O seu nome
Esboço do Livro
I. A Desobediência e a Apostasia de Israel (1.1—3.6)
A. Israel Deixa de Expurgar a Terra (1.1—2.5)
B. O Desvio Calamitoso de Israel (2.6—3.6)
II. A Opressão Estrangeira de Israel e os Juízes Libertadores (3.7—16.31)
A. Opressão Mesopotâmica -Livramento por Otniel (3.7-11)
B. Opressão Moabita -Livramento por Eúde (3.12-30)
C. Opressão Filistéia -Livramento por Sangar (3.31)
D. Opressão Cananéia -Livramento por Débora e Baraque (4.1—5.31)
E. Opressão Midianita -Livramento por Gideão (6.1—8.35)
F. Tempos Conturbados sob Abimeleque, Tola e Jair (9.1—10.5)
G. Opressão Amonita -Livramento por Jefté (10.6—12.7)
H. Juízes Secundários -Ibsã, Elom e Abdom (12.8-15)
I. Opressão Filistéia -Vida de Sansão (13.1—16.31)

1. Nascimento e Chamada de Sansão (13.1-25)

2. Casamento de Sansão com uma Incrédula (14.1-20)

3. Proezas de Sansão (15.1-20)

4. Queda e Restauração de Sansão (16.1-31)

III. Decadência Espiritual, Moral e Social de Israel (17.1—21.25)
A. Idolatria (17.1—18.31)

1. Exemplo de Idolatria Individual (17.1-13)

2. Exemplo de Idolatria Tribal (18.1-31)

B. Devassidão (19.1-30)

1. Um Exemplo de Devassidão Pessoal (19.1-9)

2. Um Exemplo de Devassidão Tribal (19.10-30)

C. Lutas tribais (20.1—21.25)
O nome é extraído dos juízes, cujos feitios são registrados pelo livro. O livro é fragmentado e não cronológico na sua disposição. Os eventos registrados são mais locais e tribais do que nacionais. Todavia, são de grande valor para mostrar a condição e caráter do povo.
A palavra hebraica traduzida por “Juízes” significa “os que julgam ou governam” (líderes), “libertadores”, ou “salvadores”. O livro recebeu o nome de Juízes por causa do caráter do trabalho dos seus heróis, pessoas levantadas por Deus para salvar as tribos de Israel dos seus (2.16). Essas pessoas, além da sua função em alguns casos de julgar o povo (4.4-5), executavam o julgamento de Deus sobre os opressores de Israel (11.27). De modo geral os juízes eram líderes e libertadores (3.9-10). W.S. LaSor diz da palavra: “É relacionada às palavras fenícia e ugarítica que ajudam a esclarecer o seu sentido”. Os romanos referiam-se aos governantes de Cártago como sufes ou sufetes... Lívio comparava-os ao cônsul romano... A história ugarítica de Anate contém o seguinte dístico: ‘nosso rei é Alian Baal’. ‘Nosso juiz, não há outro acima dele’ (51, nº. 43 sg).
Os juízes (treze deles são mencionados neste livro) vieram de várias tribos e funcionavam como chefes militares e magistrados civis. Muitos se limitavam à sua própria tribo quanto à esfera de influência, ao passo que alguns serviam a toda a nação de Israel.
Os juízes surgiam quando as ocasiões requeriam e foram homens das tribos sobre os quais Deus colocou o fardo de um Israel apóstata e oprimido. Exerciam funções judiciais e orientavam os exércitos de Israel contra o inimigo. Portanto, eles ditavam as normas à nação e sustentavam a causa de Jeová. O nome, libertador ou Salvador, usado na maioria dos manuscritos antigos, descreveu seu caráter e funções mais detalhadamente. Mas, devido ao fato de indivíduos e clãs terem diferenças de opinião naqueles tempos turbulentos, diferenças essas que poderiam trazer conseqüências desastrosas, eles aprenderam a entregar tais diferenças àqueles líderes vitoriosos, fato esse que, mais tarde, fez com que fossem chamados juízes.
2.2. Os problemas da época
Problemas graves afrontaram Israel naquela época. Foram problemas políticos, surgindo da condição de isolamento das tribos; seu governo tribal, ao qual faltava a unidade nacional; a força e a opressão dos cananitas. Foram problemas sociais, aparecendo por causa da adoção dos hábitos de vida cananita e o casamento misto com o novo povo. Foram problemas religiosos, surgidos da satisfação dos desejos que era oferecida pelo culto a Baal, enquanto a religião de Israel exigia pureza. Foram cercados por nações
hostis que desejavam tomar para si os distritos da Palestina. Todas essas condições ameaçaram até mesmo a vida da nação.
2.3. O seu lugar no Cânon
No cânon judaico, Juízes é o segundo livro dos Primeiros Profetas. Em nosso cânon, é o segundo dos livros históricos. Continua a história registrada em Josué e prepara o leitor para entender as narrativas dos livros de Samuel.
Historicamente, o livro de Juízes fornece o relato principal da história de Israel na terra prometida, da morte de Josué aos tempos de Samuel. Teologicamente, revela o declínio espiritual e moral das tribos, após se estabelecerem na terra prometida. Esse registro deixa claros os infortúnios que sempre ocorriam a Israel quando ele se esquecia do seu concerto com o Senhor e escolhia a senda da idolatria e da devassidão.
2.4. O seu tema
É a história dos juízes (2.12-19; 3.7-11).O livro de Juízes relata o governo de treze juízes sobre Israel desde a morte de Josué até os dias de Eli e Samuel. Os israelitas constantemente desobedeciam a Deus e caiam nas mãos de países opressores. Estes juízes foram constituídos por Deus para livrá-los da opressão. Aproveito a sugestão de Giuseppe Grocetti e destaco como tema a seqüência: “pecado, punição, súplica e o envio de um salvador”. O livro traz pelo menos duas lições: Pecado leva castigo, mas arrependimento leva libertação e paz; aquele que é dedicado a Javé pode ser usado por ele.
2.5. O seu caráter
O livro narra a época mais escura de toda a história de Israel. A vida moral era de nível baixíssimo e a vida religiosa estava em condição sincrética. Javé era considerado o Deus do povo, mas muitas vezes Ele foi cultuado como um dos baalins. Outras vezes o povo simplesmente cultuava os baalins. Astarote (1Rs 11.5) era a deusa associada a Baal (2.11,13). Os baalins foram realmente expressões de Baal em vários lugares. Esse Baal era o deus da fertilidade (Os 2.5-13; 4.10-14; Am 4.4-8; 1Rs 17.1; 18.1,41-45), sendo senhor das tempestades as quais traziam as chuvas a terra, concorrendo para a colheita e fecundidade do gado e do rebanho. O nome “Baal” significa “o senhor”, “o marido”, ou “o possuidor”, e esse fato fazia com que os israelitas perdessem facilmente a distinção entre Javé, seu senhor, e o Baal (senhor) daquele lugar. Segundo as descobertas de Ugarite do século 14 a.C. Baal equivale ao deus mesopotâmico de tempestade, Hadade. Provavelmente fosse filho de um dos deuses irmãos de El, o Deus altíssimo.
Os historiadores sagrados que compuseram os livros de Josué a 2Reis delineavam a filosofia da história deuteronômica, assim chamada por que sua expressão mais clara se acha em Deuteronômio. O seu princípio básico é o da divina retribuição: que Deus em Sua providência galardoa a nação em correspondência direta com a fidelidade de seu povo. Obediência à vontade de Deus produz prosperidade e bênção, enquanto que a desobediência leva
o povo à adversidade e castigo (Jz 2.6-23). Quando as tribos mantinham sua fidelidade a Javé e ao pacto do Sinai, elas estavam unidas e fortes. Mas quando desciam ao baalismo, sua unidade se perdia , tornando-se divididas e fracas. Essa filosofia se expressa da seguinte maneira em Juízes: o povo pecava e se afastava do seu Deus, e, como resultado, caía nas mãos dos seus opressores; pelo arrependimento e clamor a Deus, vinha a libertação, por meio dos homens chamados “Juízes”. Deus sempre ouvia as súplicas do povo e os livrava.
2.6. A sua autoria e data
A autoria de Juízes é incerta. O próprio livro indica os seguintes limites cronológicos de sua composição:

(a) Foi escrito depois da remoção da arca, de Siló, nos tempos de Eli e de Samuel (Jz 18.31; 20.27; 1Sm 4.3-11).

(b) As   referências freqüentes do livro ao período dos juízes, com a declaração: “Naqueles dias, não havia rei em Israel” (Jz 17.6; 18.1; 19.1; 21.25), sugere que o livro foi escrito no tempo da monarquia.

(c) Jerusalém ainda estava em poder dos jebuseus (Jz 1.21; 2Sm 5.7). Esses três indícios indicam que o livro foi concluído nalgum tempo depois do início do reinado do rei Saul (c. 1050 a.C.), mas antes do rei Davi capturar Jerusalém (c. 1000 a.C.).

O Talmude judaico associa a origem deste livro a Samuel, o que é bem possível. Uma coisa é certa: o livro descreve e avalia o período dos juízes do ponto de vista do concerto (Jz 2.1-5). Moisés tinha profetizado que a opressão viria da parte das nações estrangeiras sobre os israelitas como maldição da parte de Deus, se eles abandonassem o concerto (Dt 28.25, 33, 48). O livro de Juízes ressalta a realidade histórica dessa profecia. Semelhante a Josué há elementos anteriores e posteriores do livro.
2.6.1. Anteriores

(a) O cântico de Débora (cap. 5).
(b) Os Jebuseus em Jerusalém (1.21, cf. 2Sm 5.6-9).
(c) Sidom ainda é a cidade principal da Fenícia.    Tiro tornou-se cidade principal no século doze a.C.
(d) Os cananeus estavam ainda em Gezer (1.29).
2.6.2. Posteriores

(a) Siló tinha sido destruída (18.31) cerca de 1100 a.C.; 1Sm 4.12; 7.2; Jr 7.14; 1Rs 14.4).

(b) Implicação de uma data durante o período da monarquia (17.6; 18.1; 21.25).

(c) Implicação de uma data depois do início das invasões assírias (18.30; 2Rs 15.17-22).

2.6.3.   Segundo alguns a sua composição teria seguido o seguinte desenvolvimento

(a) Tradições orais, do século décimo segundo ao século décimo antes de Cristo.

(b) Tradições escritas, do século décimo segundo ao nono século antes de Cristo.

(c) Forma final, cerca do sexto século antes de Cristo.

2.7. O Espírito Santo citado
A atividade do Espírito Santo do Senhor no Livro de Juízes é claramente retratada na liderança carismática daquele período. Os seguintes atos heróicos de Otniel, Gideão, Jefté e Sansão são atribuídos ao Espírito do Senhor:
O Espírito do Senhor veio sobre Otniel (3.10) e o capacitou a libertar os israelitas das mãos de Cusã-Risataim, rei da Síria. Através da presença pessoal do Espírito do Senhor, Gideão (6.34) libertou o povo de Deus das mãos dos midianitas. Literalmente, o Espírito do Senhor se revestiu de Gideão. O Espírito do Senhor capacitou este líder escolhido por Deus e agiu através dele para implementar o ato salvífico do Senhor em benefício do seu povo. O Espírito do Senhor equipou Jefté (11.29) com habilidades de liderança no seu empreendimento militar contra os amonitas. A vitória de Jefté sobre os amonitas foi o ato de libertação do Senhor em benefício de Israel. O Espírito do Senhor capacitou Sansão e executar atos extraordinários. Ele começou a impelir Sansão para sua carreira (13.25). O
Espírito veio poderosamente sobre ele em várias ocasiões. Sansão despedaçou um leão apenas com as mãos (14.6). Certa vez matou trinta filisteus (14.19) e, em outra ocasião, livrou-se das cordas que amarravam as suas mãos e matou mil filisteus com uma queixada de jumento (15.14,15).
O mesmo Espírito Santo que deu condições a esses libertadores para que fizesse façanhas e cumprissem os planos e propósitos do Senhor continuam operantes ainda hoje.
2.8. O livro de Juízes pode ser dividido em três seções básicas
2.8.1. Seção I (1.1; 3.6)
Mostra como Israel deixou a conquista inacabada e também a decadência da nação depois da morte de Josué.
2.8.2. Seção II (3.7; 16.31)
Abarca a parte principal do livro. Registra seis exemplos de reincidência de Israel em revezes diversos no período dos juízes, abrangendo tempos de apostasia, de opressão por estrangeiros, de servidão, de clamor a Deus sob aflição e de livramento divino do povo, mediante líderes ungidos pelo Espírito Santo. Entre os treze juízes (todos incluídos nesta seção do livro), os mais conhecidos são Débora e Baraque (agindo em conjunto), Gideão, Jefté e Sansão (Hb 11.32).
2.8.3. Seção III (17.1; 21.25)
Esta seção encerra o livro com fatos da vida real dos tempos dos juízes, que revelam a profundidade da corrupção moral e social decorrente da apostasia espiritual de Israel. Uma lição patente no livro para todos nós: os seres humanos nunca aprendem bem as lições que a história ensina.
2.9. Seis características especiais relevam o livro de Juízes

(A) Registra eventos da história turbulenta de Israel, da conquista da Palestina ao início da monarquia.
(B) Ressalta três verdades simples, porém profundas:
(a) Um povo que pertence a Deus deve ter a Deus como seu Rei e Senhor.
(b) O pecado é sempre destruidor para o povo de Deus.
(c) Sempre       que o povo de Deus se humilha, ora, e deixa seus caminhos ímpios, Deus ouve do céu e sara a sua terra (2Cr 7.14).
(C)       Salienta que quando Israel perdia de vista a sua identidade como o povo do concerto, tendo Deus como seu rei, a nação afundava em ciclos repetidos de caos espiritual, moral e social, e então “cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos” (21.25; confronte 17.6).
(D)       Revela vários casos que ocorrem repetidamente na história do povo de Deus, dos dois concertos:
(a) A não ser que o povo de Deus ame e dedique-se a Deus de todo coração e mantenha uma constante vigilância espiritual, esse povo endurecerá o coração, deixará de buscar a Deus, se desviará e acabará na apostasia.
(b) Deus é longânimo, e sempre que os seus clamam arrependidos, Ele é misericordioso para restaurá-los, por meio de homens que Ele levanta, com dons e revestimento do Espírito Santo, para livrá-los do juízo opressivo do pecado.
(c) Constantemente, os próprios líderes ungidos, que Deus usa para livrar o seu povo, entram pelo caminho da corrupção, por falta de humildade, de caráter ou de retidão.
(E) Cada um dos seis ciclos principais do livro abrange apostasia, opressão, aflição e libertação, e começam, todos, da mesma forma: “Então, fizeram os filhos de Israel o que parecia mal aos olhos do Senhor” (2.11; 3.7).
(F) O livro revela que Deus usava nações mais pecaminosas do que o seu próprio povo para fustigá-lo pelos seus pecados e para levá-los ao arrependimento e reavivamento. Somente essa intervenção divina impediu que o paganismo ao redor de Israel o absorvesse.
2.10. O estabelecimento do povo em Canaã (Juízes 1.1; 2.5)
O estabelecimento dos israelitas na Terra Prometida fornece-nos alguns detalhes da manifestação divina na vida do seu povo. No texto encontramos várias lições práticas importantes para nosso crescimento na vida cristã. Destaco as seguintes:

(a) O estabelecimento dos israelitas em Canaã ensina que devemos
consultar ao Senhor antes da realização de qualquer empreendimento humano (v.1,2). Foi feita uma consulta ao Senhor para ver que tribo ou tribos liderariam o ataque contra os cananeus. Judá foi a escolhida. O Senhor nunca nos deixa sem uma orientação. Só devemos realizar qualquer ação depois que o Senhor disser “sim”.
(b) O estabelecimento dos israelitas em Canaã ensina que devemos unir nossas forças na realização do trabalho de Deus (v.3-7). A tribo de Judá contou com o apoio da tribo de Simeão para atacar e expulsar os cananeus e perizeus. O Senhor os entregou na mão do seu povo. A igreja de Jesus Cristo precisa estar unida para cumprir sua missão. Na igreja primitiva havia íntima comunhão. “Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum” (At.2.44).

(c) O estabelecimento dos israelitas em Canaã ensina que se Deus é por nós, ninguém pode nos vencer (v.4,17-19). O Senhor entregou nas mãos de Judá e Simeão todos os seus inimigos. Através das vitórias constantes, todos sabiam que o Senhor estava com eles. O apóstolo Paulo afirma que somos mais que vencedores, por aquele que nos amou. Nada pode nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8.37-39).

Neste trecho vimos que você deve consultar o Senhor antes da realização de qualquer empreendimento. Por outro lado é necessário que você esteja aberto (a) para a necessidade de cooperação, pois neste mundo dificilmente fazemos as coisas sozinhos. Diante dos desafios da vida, tenha fé que, se Deus está do seu lado, ninguém poderá vencê-lo. Seja zeloso nas coisas espirituais, pois somente assim você cumprirá toda justiça de Deus. Não se esqueça que Deus é justo e visita com castigo à infidelidade daqueles a quem ele ama. Seja sincero em seu estado de arrependimento quando peca contra Deus. A confissão de culpa superficial não produz efeito duradouro em sua vida.
2.11. Lições extraídas do período dos juízes (Juízes 2.6; 21.25)
Vejamos algumas lições práticas que o período dos juízes de Israel apresenta para nós. Deixe estes princípios espirituais se tornarem uma realidade em sua vida!

(a) O período dos juízes ensina que as promessas de Deus precisam ser possuídas pelo seu povo (2.6). As tribos de Israel precisaram lutar para possuírem a terra prometida. Nós queremos as promessas de Deus, mas não lutamos pelo seu cumprimento em nossas vidas. Todas as conquistas espirituais envolvem esforço, luta e confiança
total em Deus (Josué 1.9).
(b) O período dos juízes ensina que o povo de Deus precisa de líderes comprometidos com o Senhor (2.7). Enquanto Josué e os anciãos ligados a Ele eram vivos, o povo de Israel serviu ao Senhor. Um líder comprometido com o Senhor pode conduzir toda uma nação a um genuíno despertamento espiritual (1Rs 18.20-40).

(c) O período dos juízes ensina que a falta de liderança espiritual firme conduz o povo a um completo esquecimento de Deus (2.10). Com a morte de Josué e dos anciãos ligados a ele, levantou-se outra geração que não conhecia o Senhor. O profeta Ezequiel ensina que as ovelhas se espalharam, por não haver pastor; e se tornaram pasto de todas as feras do campo, porquanto se espalharam (Ez 34.5).

(d) O período dos juízes ensina que a ira do Senhor se acende contra os cristãos infiéis (2.14-15). A mão do Senhor passou a ser contra os israelitas para o mal. Eles começaram a viver uma grande aflição na terra prometida.

(e) O período dos juízes ensina que Deus atende o clamor sincero dos seus filhos (2.16-18). A Bíblia informa que o Senhor se compadecia dos israelitas em razão do seu gemido por causa dos que os oprimiam e afligiam. Em resposta, suscitava Juízes que livravam o povo da mão dos que os despojavam. Em qualquer circunstância da vida, devemos lembrar que “a benignidade do Senhor jamais se acaba, as suas misericórdias não têm fim” (Lm 3.22).

Nesta secção vimos que as promessas de Deus são conquistadas por você através do combate da fé. Deus chama você para um comprometimento total com ele, através da fé em Jesus Cristo. A falta de uma liderança espiritual firme nas igrejas hoje em dia é a causa do afastamento contínuo de cristãos em relação a Deus. Mas a ira do Senhor está acesa contra aqueles que vivem de maneira infiel. Se este é o seu caso, clame ao Senhor com sinceridade, e ele atenderá a sua oração. Seja sóbrio e vigilante em todos os seus procedimentos, porque Deus prova sua lealdade a ele constantemente.
Capítulo 3
O Livro de Rute
3.1. Autoria do Livro
Esboço do Livro
I. As Adversidades de Noemi (1.1-5)
II. Noemi e Rute (1.6-22)
A. Noemi Resolve Sair de Moabe (1.6-13)
B. O Amor Inabalável de Rute (1.14-18)
C. Noemi e Rute Vão a Belém (1.19-22)
III. Rute Conhece Boaz na Seara (2.1-23)
A. A Providência Divina na Decisão de Rute (2.1-3)
B. A Provisão Divina na Decisão de Rute (2.4-16)
C. Rute Informa a Noemi (2.17-23)

IV. Rute e Boaz na Eira (3.1-18)

A. Rute Recebe Instruções de Noemi sobre Boaz (3.1-5)

B. Rute Pede a Boaz para Ser Seu Remidor (3.6-9)

C. Rute Recebe Resposta Favorável de Boaz (3.10-18)

V. Boaz Casa com Rute (4.1-13)

A. Boaz e o Contrato de Parente-Remidor (4.1-12)
B. Casamento e Nascimento de um Filho (4.13)
VI. O Contentamento de Noemi (4.14-17)
VII. A Genealogia de Perez a Davi (4.18-22)
Historicamente, o livro de Rute descreve eventos na vida de uma família israelita durante o tempo dos Juízes (1.1; (1375 -1050 a.C.). Geograficamente, o contexto é a terra de Moabe, a leste do mar Morto. O restante do livro transcorre em Belém de Judá e sua vizinhança. Liturgicamente, o livro é um dos cinco rolos da terceira divisão da Bíblia Hebraica, conhecida como Os Hagiógrafos (lit. “Escritos Sagrados”). Cada um desses rolos era lido publicamente numa das festas judaicas anuais. Visto
que a comovente história de Rute ocorreu na estação da colheita, era costume ler este livro na Festa da Colheita (Pentecostes). Considerando que a lista dos descendentes de Rute não vai além do rei Davi (4.21,22), o livro foi provavelmente escrito durante o reinado de Davi).
Os estudiosos discordam quanto à data do livro, porém o seu cenário histórico é evidente. Os episódios relatados no livro de Rute se passam durante o período de Juízes, sendo parte daqueles eventos que ocorrem entre a morte de Josué e a ascensão da influência de Samuel (provavelmente 1150 e 1100 a.C.). A tradição rabínica assegura que Samuel escreveu o livro na segunda metade do séc. XI a.C.. Apesar do pensamento crítico mais recente sugerir uma data pós-exílica bem mais tardia (cerca de 500 a.C.), há evidências na linguagem da obra bem como referencias a costumes peculiares próprios do séc. XII a.C. que recomendam a aceitação da data mais antiga. É razoável supor que Samuel, testemunhou o declínio do reinado de Saul e foi divinamente instruído para ungir Davi como escolhido de Deus para o trono, tivesse redigido o livro. Uma história tão comovente como essa certamente já teria sido passada adiante oralmente entre o povo de Israel, e a genealogia que a conclui indicaria uma conexão com os patriarcas, oferecendo assim uma resposta a todos aqueles que, em Israel, indagassem pelo passado familiar do seu rei.
3.2. Cristo no livro de Rute
Boaz representa uma das mais dramáticas figuras do Antigo Testamento que antecipa a obra redentora de Jesus. A função de “parente remidor” cumprida de forma tão elegante nas ações que promoveram a restauração pessoal de Rute, dá testemunho eloqüente a respeito disso. As ações de Boaz efetuam a participação de Rute nas bênçãos de Israel e a incluem na linhagem familiar do Messias (Ef 2.19). Eis aqui uma magnífica silhueta do Mestre, antecipando em muitos séculos a sua graça redentora. Como nosso “parente chegado”, ele se torna carne -vindo como um ser humano (Jo 1.14; Fp 2.5-8).
3.3. Autoridade canônica e propósito de Rute
A autoridade canônica de Rute nunca foi contestada. Deu-se confirmação suficiente dela quando Deus inspirou que se alistasse na genealogia de Jesus, em Mateus 1.5. O livro de Rute foi sempre reconhecido pelos judeus como parte do cânon hebraico. Não é de surpreender, pois, que foram encontrados fragmentos do livro entre outros livros canônicos nos Rolos do Mar Morto, descobertos a partir de 1947. Além disso, o livro harmoniza-se plenamente com os propósitos de Deus, referentes ao Reino, e com os requisitos da Lei de Moisés. Embora fosse proibido aos israelitas o casamento com cananeus e moabitas idólatras, isto não se aplicava aos
estrangeiros que, como no caso de Rute, aceitassem a adoração de Deus. No livro de Rute, a lei sobre resgatadores e casamento com cunhado é observada em todos os seus pormenores. Dt 7.1-4; 23.3, 4; 25.5-10.
O livro de Rute foi escrito a fim de mostrar como, através do amor altruísta e do devido cumprimento da lei de Deus, uma jovem mulher moabita, virtuosa e consagrada, veio a ser a bisavó do rei Davi de Israel. O livro também foi escrito para perpetuar uma história admirável dos tempos dos juízes a respeito de uma família piedosa cuja fidelidade na adversidade contrasta fortemente com o generalizado declínio espiritual e moral em Israel.
3.4. Conteúdo histórico Rute
A decisão de Rute de ficar com Noemi (1.1-22). A história começa durante uma época de fome em Israel. Elimeleque, um homem de Belém, atravessa o Jordão em companhia de sua esposa, Noemi, e de seus dois filhos, Malom e Quiliom, para passarem algum tempo na terra de Moabe. Ali, os filhos se casam com mulheres moabitas, Orfa e Rute. Sobrevém desgraça a essa família; primeiro morre o pai e depois morrem os dois filhos. As três mulheres ficam viúvas e sem filhos, não havendo descendente para Elimeleque. Noemi ouve que Deus voltou novamente a sua atenção para Israel, dando pão a Seu povo, e decide retornar à sua terra natal, Judá. As noras se põem a caminho com ela. Mas Noemi roga-lhes que voltem a Moabe, pedindo a benevolência de Deus para prover marido a cada uma dentre os homens do povo delas. Por fim, Orfa volta “ao seu povo e aos seus deuses”, mas Rute, sincera e firme na sua conversão à adoração de Deus, fica com Noemi. Ela expressa belamente a sua decisão nas seguintes palavras: “Aonde quer que fores, irei eu, e onde quer que pernoitares, pernoitarei eu. Teu povo será o meu povo, e teu Deus, o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e ali serei enterrada. Assim me faça Deus e assim lhe acrescente mais, se outra coisa senão a morte fizer separação entre mim e ti.” (1.15-17) Entretanto, Noemi, viúva e sem filhos, cujo nome significa “Minha Agradabilidade”, sugere que a chamem pelo nome de Mara, que significa “Amarga”.
3.5. História do amor e sofrimento
Esta história do amor que redime inicia quando Elimeleque parte de Judá e passa a residir com sua família em Moabe por causa de uma fome (1.1,2). O sofrimento continuou a flagelar Elimeleque, pois ele e seus dois filhos morreram em Moabe (1.3-5), o que resultou em três viúvas.
3.6. Quatro episódios principais vêm a seguir.

(a) Noemi (viúva de Elimeleque) e sua devotada nora moabita, Rute,
voltaram a Belém de Judá (1.6-22).
(b) Na providência divina, Rute veio a conhecer Boaz, um parente rico de Elimeleque (cap. 2).

(c) Seguindo as instruções de Noemi, Rute deu a entender a Boaz o seu interesse na possibilidade de um casamento segundo a lei do parente­remidor (cap. 3).

(d) Boaz, como parente-remidor, comprou as propriedades de Noemi e casou-se com Rute, e tiveram um filho chamado Obede -avô de Davi (cap. 4). Embora o livro comece com tremendos reveses, termina com um final sobremodo feliz -para Noemi, para Rute, para Boaz e para Israel.

3.7. Cinco características principais assinalam o livro de Rute

(a) É um dos dois livros da Bíblia que leva o nome de uma mulher (sendo o outro o de Ester).

(b) Este livro, escrito, tendo ao fundo o horizonte ominoso -agourento, nefasto, funesto, detestável, execrável -da infidelidade e apostasia de Israel durante o período dos juízes, descreve as alegrias e pesares de uma família piedosa de Belém durante aqueles tempos caóticos.

(c) Ilustra o fato de que o plano divino da redenção incluía os gentios que, durante os tempos do Antigo Testamento, foram enxertados no povo de Israel mediante o arrependimento e a fé no Senhor.

(d) A redenção é um tema central, do começo ao fim do livro, sendo o papel de Boaz, como parente-remidor, uma das ilustrações ou tipos mais claros do ministério mediador de Jesus Cristo.

(e) O versículo mais conhecido deste livro consiste nas palavras que Rute dirigiu a Noemi, quando ainda estava em Moabe: “Aonde quer que tu fores irei eu e, onde quer que pousares a noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (1.16). Traça um retrato realista da vida, com seus contratempos, mas também mostra como a fé e fidelidade de pessoas piedosas ensejam a Deus a oportunidade de converter a tragédia em triunfo e a derrota em bênção.

3.8. Paralelismo do Livro de Rute com o Novo Testamento
3.8.1. Este livro declara quatro verdades do Novo Testamento

(a) Transtornos humanos dão oportunidade a Deus para realizar seus grandes propósitos redentores (Fp 1.12).

(b) A    inclusão de Rute no plano da redenção demonstra que a participação no reino de Deus independe de descendência física, mas pela conformação da nossa vida à vontade de Deus, mediante a “obediência da fé” (Rm 16.26; Rm 1.5,16).

(c) Rute como partícipe da linhagem de Davi e de Jesus (Mt 1.5) significa que pessoas de todas as nações farão parte do reino do grande “Filho de Davi” (Ap 5.9; 7.9).

(d) Boaz,    como o parente-remidor, é uma prefiguração do grande Redentor, Jesus Cristo (Mt 20.28; ver Rt 4.10).

Este livro, junto com o de Juízes, trata da vida de Israel desde a morte de Josué até o governo de Eli. O nome é extraído de Rute, a personagem principal. Outras personagens importantes são Noemi e Boaz.
3.9. Tipologia do Livro
Rute é um tipo da noiva gentia de Cristo e a sua experiência é similar à de qualquer cristão devoto. Boaz, o rico habitante de Belém, aceitando aquela mulher estranha, é uma ilustração da obra redentora de Cristo.
3.10. Lições aprendidas com a história de Rute
A história de Rute apresenta um aspecto diferente da vida durante o período dos Juízes. O livro relata as tristezas e alegrias de uma piedosa família de Belém. Rute, a moabita, que passou a adorar o Deus de Israel, exibiu uma fé e uma lealdade rara naquele tempo em Israel. Depois da tristeza de perder seu primeiro marido, Rute retornou a Belém com sua sogra e realizou um casamento feliz com Boaz. Desse modo ela veio a ser uma antepassada do rei Davi. Seu nome figura na genealogia de Jesus Cristo. Eis alguns princípios práticos que podem servir de estímulo para o seu crescimento espiritual:
3.10.1. A história de Rute ensina que nem sempre as coisas acontecem como planejamos (1.1-5)
O texto mostra que não havia em Elimeleque e sua família a intenção de uma migração permanente no país de Moabe. Eles foram peregrinar para manter a vida e acabaram se deparando com a morte. O amanhã não nos pertence; portanto, não devemos inquietar-nos por causa dele. Basta a cada dia o seu mal (Mt 6.34).
3.10.2. A história de Rute ensina que as pessoas reagem de maneira diferente diante da mesma situação (1.8-14)
Enquanto Orfa deu a Noemi o beijo de despedida, Rute se apegou a ela. A mesma causa que induziu Orfa a ir embora fez Rute permanecer: o fato de que Noemi não tinha filhos, nem esposo. Nós respondemos às circunstâncias de maneira pessoal e exclusiva. Tudo depende das motivações que trazemos dentro de nós no momento decisivo. A personalidade exerce um papel preponderante.
3.10.3. A história de Rute ensina o preço alto que precisamos pagar por causa da fidelidade a Deus e ao próximo (1.15-17)
Rute declara sua devoção imorredoura a Noemi. Recusa-se a deixá-la naquele momento, ou em qualquer outra ocasião. A fidelidade, tanto a Deus como ao próximo, envolve sacrifícios. Aqueles que não querem passar por sofrimentos e privações dificilmente conseguirão demonstrar fidelidade em seu viver.
3.10.4. A história de Rute ensina que Deus recompensa o esforço que fazemos para demonstrar fidelidade a ele e ao próximo (4.9-12)
Rute voltou com Noemi para Belém de Judá e fez um feliz casamento com Boaz. Desse modo veio a ser uma antepassada de Davi. Seu nome também figura na genealogia de Jesus Cristo. Ela tornou-se numa pessoa importante aos olhos dos homens e de Deus.
A história de Rute ensina que as coisas nem sempre acontecem na sua vida como você planeja. Às vezes você chega a uma situação tal que a melhor alternativa é voltar às origens para recomeçar. Reconheça que as pessoas não são iguais; por isso reagem de maneira diferente diante de uma mesma situação. Saiba que o preço que você paga pela fidelidade a Deus e ao próximo envolve renúncia, sacrifícios e até mesmo sofrimento. Nos momentos de provações, lembre-se que Deus recompensa todo o esforço de ser fiel a ele e ao próximo.
Capítulo 4
1 e 2 Samuel
4.1. O Livro de 1Samuel
Esboço do Livro
I. Samuel: Líder Profético de Israel (1.1—8.22)
A. Nascimento de um Líder Profético (1.1—2.11)

1. A Tristeza e a Oração de Ana (1.1-18)

2. O Filho Profético de Ana (1.19-28)

3. O Cântico Profético de Ana (2.1-11)

B. Degeneração da Liderança Existente (2.12-36)
C. Transição de Eli para Samuel (3.1—6.21)

1. A Chamada Profética de Samuel (3.1-21)

2. O Julgamento da Casa e do Ministério de Eli (4.1-22)

3. Captura e Retorno da Arca (5.1—6.21)

D. Avivamento sob a Liderança de Samuel (7.1-17)
E. Israel Exige um Rei (8.1-22)

1. Israel Rejeita os Filhos de Samuel Como Líderes (8.1-5)

2. Israel Rejeita Deus Como Seu Rei (8.6-22)

II. Saul: O Primeiro Rei de Israel (9.1—15.35)
A. Transição de Samuel para Saul (9.1—12.25)

1. Saul é Escolhido (9.1-27)

2. Samuel Unge Saul (10.1-27)

3. Saul Vence os Amonitas (11.1-11)

4. Samuel Renova o Reino em Gilgal (11.12-15)

5. Discurso de Despedida de Samuel (12.1-25)

B. Começo do Reinado de Saul (13.1—15.35)

1. Guerras e Insensatez de Saul (13.1—14.52)

2. Rebeldia de Saul e Sua Rejeição (15.1-35)

III. Davi: Sua Unção e Aguardamento (16.1—31.13)
A. Samuel Unge Davi (16.1-13)
B. Deus Retira Seu Espírito de Saul (16.14—23)
C. Davi Luta contra Golias (17.1-58)
D. Davi na Corte de Saul (18.1—19.17)

1. Davi e Jônatas (18.1-4)

2. Davi Serve a Saul (18.5-16)

3. Davi Casa-se com Mical (18.17-28)

4. Saul Teme a Davi e Intenta Matá-lo (18.29—19.17)

E. Davi no Exílio (19.18—31.13)

1. Davi Foge para Samuel (19.18-24)

2. Davi Protegido por Jônatas (20.1-42)

3. Davi Auxiliado por Aimeleque, o Sacerdote (21.1-9)

4. Davi Refugia-se em Gate, na Filístia (21.10-15)

5. Um Grupo de Fugitivos e Descontentes Une-se a Davi (22.1—26.25)

6. Davi Refugia-se em Gate, na Filístia (27.1—30.31)

7. A Morte de Saul (31.1-13)

4.1.1. Problema da autoria e Data
O autor de 1Sm não é nomeado neste livro, mas é provável que Samuel tenha escrito pelo menos parte do livro, ou fornecido a informação para outro historiador, o que engloba sua vida e ministério até sua morte. A autoria do restante de 1Sm não pode ser determinada com certeza, mas alguns supõem que seja do sacerdote Abiatar.
O problema da autoria admite Primeiro e Segundo Samuel como uma só unidade literária. Tendo em vista que parte do primeiro livro e a totalidade do segundo foram escritas depois da morte de Samuel, este teria apenas contribuído com parte da redação (confronte 10.25). O trabalho final é obra de um historiador inspirado que empregou arquivos literários da época, inclusive as crônicas de Samuel (2Sm 1.18; 1Cr 27.24; 29.29), provavelmente pouco depois de 930 a.C., posto que Primeiro Samuel pressupõe a divisão do reino (27.6) e Segundo Samuel termina com os últimos dias de Davi.
O nome provém da história da vida de Samuel registrada na primeira parte deste livro. Significa “nome de Deus”. Foram, anteriormente, no Antigo Testamento hebraico, um só livro e eram chamados de “O Primeiro Livro dos Reis”; os dois livros de Reis eram um e chamados de “Segundo Reis”. Samuel e Reis formam uma história contínua e nos dão um relato do nascimento, glória, e queda da monarquia judaica.
Levam o nome do profeta Samuel, tido em alta estima como um proeminente líder espiritual de Israel; aquele a quem Deus usou para pôr em ordem a monarquia teocrática.
Primeiro Samuel abrange quase um século da história de Israel -do nascimento de Samuel à morte de Saul (c. 1105-1010 a.C.) -e forma o principal elo histórico entre o período dos juízes e o primeiro rei de Israel.
Enquanto o livro de Segundo Samuel ocupa-se exclusivamente do rei Davi, Primeiro Samuel ocupa-se de três transições importantes na liderança nacional: de Eli para Samuel; de Samuel para Saul; e de Saul para Davi.
Por causa da referência à cidade de Ziclague, que “pertence aos reis de Judá, até o dia de hoje” (27.6), e por outras referencias a Judá e a Israel, sabemos que 1Sm foi escrito depois da divisão da nação em 931 a.C.. Além disso, como não há menção à queda de Samaria em 722 a.C., deve ser datado antes deste evento. O livro de 1Sm cobre um período de cerca de 140 anos, começando com o nascimento de Samuel em redor de 1150 a.C. e terminando com a morte de Saul em redor de 1010 a.C..
4.1.2. Conteúdo
Israel havia sido governado por juizes que Deus levantou em momentos cruciais da história da nação; no entanto, a nação havia se degenerado moralmente e politicamente. Havia estado sob a investida violenta e desalmada dos filisteus. O templo de Siló fora profanado e o sacerdócio se mostra corrupto e imoral. Em meio a essa confusão política e religiosa surge Samuel, o milagroso filho de Ana. De uma forma notável, a renovação e a alegria que esse nascimento trouxe à sua mãe prefiguram o mesmo para a nação.
Os próprios filhos de Samuel não eram um reflexo do seu caráter piedoso. O povo não tinha confiança nos seus filhos; mas a medida em que Samuel envelhecia, pressionavam-no para que lhes desse um rei. Com relutância, ele acaba cedendo. Saul, homem vistoso e carismático, é escolhido para tornar­se o primeiro rei. O seu ego era tão grande quanto a sua estatura. Pela sua impaciência, exerceu funções sacerdotais, em vez de esperar por Samuel. Depois de desprezar os mandamentos de Deus, foi rejeitado por ele. Depois
dessa rejeição, Saul tornou-se uma figura trágica, consumida por ciúme e medo, perdendo gradualmente a sua sanidade. Gastou os seus últimos anos numa incansável perseguição a Davi através das regiões montanhosas e desérticas do seu reino, num desesperado esforço para eliminá-lo. Davi, no entanto, encontrou um aliado em Jônatas, filho de Saul. Ele advertiu Davi sobre os planos do seu pai para matá-lo. Finalmente, depois que Saul e Jônatas são mortos em batalha, o cenário está pronto para que Davi se torne
o segundo rei de Israel.
4.1.3. Cristo no Livro de 1Samuel
As semelhanças entre Jesus e o pequeno Samuel são surpreendentes. Ambos são filhos da promessa. Ambos foram dedicados a Deus antes do nascimento. Ambos forma pontes de transição de um estágio da história da nação para outro. Samuel acumulou os ofícios de profeta e sacerdote; Cristo é profeta, sacerdote e rei. O fim trágico de Saul ilustra o destino final dos reinos terrenos. A única esperança é um Reino de Deus na terra, cujo soberano seja o próprio Deus. Em Davi começa a linhagem terrena do Rei de Deus. Em Cristo, Deus vem como Rei e virá novamente como Rei dos reis.
Davi, o pequeno e humilde pastor, prefigura a Cristo, o bom pastor. Jesus torna-se o Rei-pastor definitivo.
4.1.4. O Espírito Santo citado
1 Samuel contém notáveis exemplos da vinda do Espírito Santo sobre os profetas, bem como sobre Saul e seus servos. Em 10.6, o Espírito Santo vem sobre Saul, que profetiza e “se transforma em outro homem”, isto é, é equipado pelo Espírito para cumprir o chamado de Deus.
Depois de ser ungido por Samuel, “desde aquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apoderou de Davi” (16.13). O fenômeno do Espírito inspirando a adoração ocorre no cap. 10 e em 19.20. Esse fenômeno não é como o frenesi impregnado de emotividade dos pagãos, mas verdadeira adoração e louvor a Deus pela inspiração do Espírito, em semelhança ao ocorrido no dia de Pentecostes (At 2). Mesmo nos múltiplos usos do Éfode, Urim e Tumim, esperamos ansiosamente pelo momento em que o “Espírito da Verdade” nos irá guiar em “toda a verdade”, nos falará sobre “o que há de vir” e “há de receber do que é meu (de Jesus)” e vo-lo “há de anunciar” (Jo 16.13,14)
4.1.5. Resumo de 1Samuel
Este livro começa com a história de Eli, o velho sacerdote, juiz e líder do povo. Registra o nascimento e a infância de Samuel, que mais tarde tornou­se sacerdote e profeta do povo. Esta história é muito parecida em beleza com
a história de Rute. Descreve as nobres qualidades religiosas da mãe de Samuel que o conduziu à grandeza, e mostra a elevada posição que as mulheres judias piedosas tinham no soerguimento do povo hebreu. Seria difícil encontrar outra mãe mais amorosa ou devota, ou outro filho mais promissor e fiel. O livro fala da elevação de Saul ao trono e da sua queda final. Juntamente com isso, fala do crescente poder de Davi, que sucedeu Saul no trono.
Primeiro Samuel descreve o momento decisivo da história de Israel, em que as rédeas do governo passaram do juiz para o rei. O livro relata a tensão entre a expectativa do povo quanto a um rei (um soberano absoluto “como o têm todas as nações”, 1Sm 8.5) e, os padrões teocráticos de Deus, pelos quais Ele era o Rei do seu povo. O livro mostra claramente que a desobediência de Saul a Deus e sua violação dos princípios teocráticos do seu cargo levaram Deus a rejeitá-lo e a substituí-lo como rei.
4.1.6. Os três grandes líderes nacionais: Samuel, Saul e Davi

(A) Samuel foi o último dos juízes, e o primeiro a exercer o ofício profético (embora não fosse o primeiro profeta, confronte Dt 34.10; Jz 4.4). Como homem de grande espiritualidade e dotado do dom profético, Samuel.

(a) Sabiamente conduziu Israel a um avivamento no culto a Deus (cap. 7).

(b) Lançou o alicerce que situou os profetas na sua devida posição em Israel (1Sm 19.20; At 3.24; 13.20; Hb 11.32).

(c) Claramente estabeleceu a monarquia israelita como reino teocrático (1Sm 15.1,12,28; 16.1). A importância de Samuel como líder espiritual do povo de Deus num período de grandes mudanças na história de Israel ultrapassa as de todos os demais, exceto Moisés no seu papel no êxodo.

(B) Saul tornou-se o primeiro rei de Israel, pelo fato de o povo querer um rei humano “como o têm todas as nações” (1Sm 8.5,20). Não demorou muito para ele revelar que não tinha aptidão espiritual para exercer aquele cargo teocrático; daí, Deus, posteriormente, rejeitá-lo (1Sm 13; 15).

(C) Davi, o segundo homem, escolhido por Deus como seu representante como rei, foi ungido por Samuel (1Sm cap. 16). Davi não quis ocupar

o trono pela força ou pela subversão, e deixou o caso nas mãos de Deus. Os capítulos 19-30 descrevem prioritariamente as fugas de
Davi, por causa de Saul enciumado e atormentado, e a paciência de Davi, que esperou até Deus agir no seu devido tempo. O livro termina com o relato da morte trágica de Saul (1Sm cap. 31).
4.1.7. Seis características principais assinalam o livro de Primeiro Samuel

(a) Expõe claramente os padrões santos de Deus para a monarquia de Israel. Os reis de Israel deviam ser submissos a Deus, como o verdadeiro Rei de Israel, e obedientes à sua lei. Deviam atentar para a mensagem e a correção divina através dos profetas.

(b) Expõe os primórdios do grandioso ministério profético em Israel, como sendo a dimensão espiritual do sacerdócio. O livro contém as primeiras referências do Antigo Testamento a uma “congregação de profetas” (1Sm 10.5; 19.18-24).

(c) Ressalta a importância e o poder da oração (1Sm 1.10-28; 2.1-10; 7.5-10; 8.5,6; 9.15; 12.19-23), da palavra de Deus (1Sm 1.23; 9.27; 15.1,10,23) e da profecia pelo Espírito do Senhor (1Sm 2.27-36; 3.20; 10.6,10; 19.20-24; 28.6).

(d) Contém      farta informação biográfica descritiva da vida de três destacados líderes de Israel -Samuel (1Sm 1-7), Saul (1Sm 8-31) e Davi (1Sm 16-31).

(e) Contêm      muitas das célebres histórias bíblicas, tais como Deus falando com o menino Samuel (cap. 3), Davi e Golias (cap. 17), Davi e Jônatas (1Sm 18-20), Saul enciumado e amedrontado por causa de Davi (1Sm 18-30), e Saul e a pitonisa de En-dor (cap. 28).

(f)   Neste livro, temos a origem literária d’algumas palavras citadas com freqüência: “Icabô” -que significa “nenhuma glória”, pois “foi-se a glória” (1Sm 4.21); “Ebenézer” -que significa “pedra de ajuda”, pois “Até aqui nos ajudou o SENHOR” (1Sm 7.12). Além disso, este livro é

o primeiro do Antigo Testamento que emprega a frase “SENHOR dos Exércitos” (1Sm 1.3).
4.1.8. O livro de Primeiro Samuel e seu cumprimento no Novo Testamento
Primeiro Samuel encerra duas prefigurações proféticas do ministério de Jesus como profeta, sacerdote e rei.

(a) Samuel, nos seus dias, era o principal representante profético e sacerdotal de Deus em Israel, prefigurava o ministério de Jesus como supremo expoente profético e sacerdotal de Deus para Israel.
(b) Davi, nascido em Belém, um pastor e rei, ungido por Deus, que levou a cabo os propósitos de Deus para sua própria geração (At 13.36), veio a ser a prefiguração e precursor principal do rei messiânico de Israel. O Novo Testamento refere-se a Jesus Cristo como “Filho de Davi”, a “descendência de Davi segundo a carne” (Rm 1.3) e “a Raiz e a Geração de Davi” (Ap 22.16).
4.2. O Livro de 2Samuel
Esboço do Livro
I. O Grande Sucesso de Davi Como Rei (1.1—10.19)
A. O Sucesso Político de Davi (1.1—5.25)

1. Davi Pranteia a Morte de Saul e Jônatas (1.1-27)

2. Davi, Rei de Judá (2.1—4.12)

3. Davi, Rei de Todo o Israel (5.1-5)

4. Davi Conquista Jerusalém e a Torna Sede do Seu Governo (5.6-10)

5. Davi Alarga o Reino (5.11-25)

B. O Sucesso Espiritual de Davi (6.1—7.29)

1. Davi Faz de Jerusalém Seu Centro Religioso (6.1-23)

2. Davi Deseja Edificar uma Casa para Deus (7.1-3)

3. O Concerto de Deus com Davi (7.4-17)

4. Davi Ora a Deus com Gratidão (7.18-29)

C. O Sucesso Militar de Davi (8.1—10.19)
1. As Vitórias de Davi sobre a Filístia, Moabe, Zobá, Síria e Edom (8.1-12)

2. O Governo Justo de Davi em Jerusalém (8.13—9.13)

3. A Vitória de Davi sobre Amom (10.1-19)

II. O Vergonhoso Pecado de Davi Como Rei (11.1—12.14)
A. O Adultério de Davi com Bate-Seba (11.1-5)
B. O Homicídio Disfarçado de Urias por Davi (11.6-27)
C. O Profeta Natã Declara o Pecado e o Castigo de Davi (12.1-14)

III. As Conseqüências Contínuas do Pecado de Davi (12.15—20.26)

A. Julgamento sobre a Casa de Davi: Imoralidade e Morte (12.15—15.6)

1. Morte do Filho do Adultério (12.15-25)
2. A Lealdade de Joabe (12.26-31)
3. Amnom Violenta Sua Meio-Irmã Tamar (13.1-20)
4. Absalão Mata Amnom por Vingança (13.21-36)
5. Fuga, Regresso e Falsidade de Absalão (13.37—15.6)
B. Julgamento contra o Reino de Davi: Revolta e Homicídio (15.7—20.26)

1. A Revolta de Absalão (15.7-12)

2. Davi Foge de Jerusalém, Desprestigiado (15.13—16.14)

3. Absalão Governa em Jerusalém (16.15—17.29)

4. Derrota e Morte de Absalão (18.1-32)

5. A Lamentação de Davi e a Censura de Joabe (18.33—19.8)

6. A Reintegração de Davi Como Rei (19.9-43)

7. Insurreição e Morte de Seba (20.1-26)

IV. Os Últimos Anos do Reinado de Davi (21.1—24.25)
A. A Fome de Três Anos (21.1-14)
B. Guerra com os Filisteus (21.15-22)
C. Salmo de Louvor de Davi (22.1-51)
D. Últimas Palavras de Davi (23.1-7)
E. Os Valentes de Davi (23.8-39)
F. A Contagem do Povo e a Praga da Parte de Deus (24.1-17)
G. A Intercessão de Davi e a Misericórdia de Deus (24.18-25)
4.2.1. Autoria e Data
Os dois livros hoje conhecidos como 1 e 2 Samuel eram originalmente um só livro denominado “O Livro de Samuel”. Não se sabe com exatidão quem realmente escreveu o livro. Sem dúvida, Samuel registrou boa parte da história de Israel neste período. No entanto, outros materiais haviam sido colecionados e puderam ser usado como fontes pelo autor real. Três dessas fontes são mencionadas em 1Crônicas 29.29, a saber: as “crônicas de Samuel, o vidente”, as “crônicas do profeta Natã” e as “crônicas de Gade, o vidente”. Tanto Gade como Abiatar tinham acesso aos eventos da corte do reino de Davi, de forma que ambos são candidatos à autoria desses dois livros.
Os dois livros devem receber uma data posterior à divisão do reino em duas partes, divisão que aconteceu logo depois do governo de Salomão, 931 a.C., por causa do comentário encontrado em 1Sm 27.6 “pelo que Ziclague pertence aos reis de Judá, até ao dia de hoje”. Embora, com freqüência, fosse traçada uma diferenciação entre Israel e Judá, e embora Davi tenha reinado em Judá por sete anos e meio antes da unificação do reino, não havia reis em Judá antes desta data.
4.2.2. Conteúdo
O livro de 2 Samuel trata da ascendência de Davi ao trono e dos quarenta anos do seu reinado. O livro está enfocado na sua pessoa. E começa com a morte de Saul e Jônatas na batalha do monte Gilboa. Davi é, então, ungido rei sobre Judá, sua própria tribo. Há um jogo de poder pela casa de Saul entre Isbosete, filho de Saul e Abner comandante-chefe dos exércitos de Saul. Embora a rebelião tenha sido sufocada, esse relato sumário descreve os sete anos e meio anteriores à unificação do reino por Davi. “E houve uma longa guerra entre a casa de Saul e a casa de Davi; porém Davi se ia fortalecendo, mas os da casa de Saul se iam enfraquecendo” (3.1) Davi unifica tanto a vida religiosa quanto política da nação ao trazer a arca do Testemunho da casa de Abinadabe, onde havia estado deste que fora recuperada dos filisteus (6.1-7.1).
4.2.3. O tema do livro
O tema do Rei vindouro, o Messias, é introduzido quando Deus estabelece uma aliança perpétua com Davi e seu reino. “Teu trono será firme para sempre” (7.16) Davi derrota com sucesso os inimigos de Israel, e inicia-se um período de estabilidade e prosperidade. Tristemente, porém, a sua vulnerabilidade e fraqueza o leva ao pecado com Bate-Seba e ao assassinato de Urias, esposo dela.
Apesar do arrependimento de Davi depois de confrontado com o profeta Natã, as conseqüências da sua ação são declaradas com todas as letras: “Agora, pois, não se apartará a espada jamais de tua casa” (12.10).
Absalão, filho de Davi, depois de uma longa separação de seu pai, instiga uma rebelião contra o rei, e Davi foge de Jerusalém. A rebelião termina quando Absalão, pendurado numa árvore pelos cabelos, é morto por Joabe. Há uma desavença entre Israel e Judá a respeito da volta do rei a Jerusalém. Um rebelde chamado Seba instiga Israel a abandonar Davi e a voltar para casa. Embora Davi tome uma série de decisões desafortunadas e pouco sábias, a rebelião é sufocada, e Davi é mais uma vez estabelecido em Jerusalém. O livro termina com dois belos poemas, uma lista dos valentes de Davi e com o pecado de Davi em fazer o censo dos homens de guerra de Israel. Davi se arrepende, compra a eira de Araúna e apresenta oferendas ao Senhor no altar que constrói.
4.2.4. Cristo no livro de 2Samuel
Davi e seu reino esperavam a vinda do Messias. O cap. 7, em especial, antecipa o futuro Rei. Deus interrompe os planos de Davi de construir uma casa para a arca e explica que enquanto Davi não pode construir uma casa
para Deus, Deus está construindo uma casa para Davi, ou seja, uma linhagem que dure para sempre. Pela sua vitória sobre todos os inimigos de Israel, pela sua humildade e compromisso com o Senhor, pelo seu zelo a favor da casa de Deus e pela associação dos ofícios de profeta, sacerdote e rei na sua pessoa, Davi é um precursor da Raiz de Jessé, Jesus Cristo.
4.2.5. O Espírito Santo citado
Jesus explicou a obra do Espírito em Jo 16.8: “E, quando ele vier convencerá
o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo”. Nós vemos claramente a ação do Espírito Santo através desses dois modos em 2Samuel. Ele atuava com mais freqüência através do sacerdócio. Sua atuação como conselheiro pode ser apreciada nas muitas ocasiões em que Davi “consultou o Senhor” através do sacerdote e do Éfode.
A obra de convencer e de condenar do Espírito é claramente percebida quando o profeta Natã enfrenta Davi por causa do seu pecado com Bate-Seba e Urias. O pecado de Davi é desnudado, a justiça é feita, e o julgamento é anunciado. Isso, no quadro microcósmico de 2Sm, ilustra o amplo ministério do Espírito Santo no mundo através da igreja investida do poder do Espírito.
4.2.6. O segundo livro de Samuel e Davi
O segundo livro de Samuel começa com a morte de Saul e a unção de Davi em Hebrom, como rei de Judá por sete anos e meio (2Sm 1-4). O restante do livro ocupa-se dos trinta e três anos seguintes de Davi como rei de todo o Israel em Jerusalém (2Sm 5 -24). O ponto crítico do livro e da vida de Davi é seu adultério com Bate-Seba e a morte de Urias (2Sm cap. 11). Antes desse capítulo sombrio, Davi representava muitos dos ideais de um rei teocrático.
4.2.7. Com o favor, sabedoria e unção divina, Davi:

(a) Capturou Jerusalém dos jebuseus e fez dela sua capital (2Sm 5).

(b) Trouxe a arca do concerto de volta a Jerusalém, em meio a grande regozijo e esplendor (cap. 6).

(c) Subjugou os inimigos de Israel, começando com os filisteus (2Sm 8­10). “E Davi se ia cada vez mais aumentando e crescendo, porque o SENHOR, Deus dos Exércitos, era com ele” (2Sm 5.10). Sua firme liderança atraía “valentes” e inspirava total lealdade.

Davi entendia que Deus o estabelecera rei sobre Israel e reconhecia abertamente o domínio de Deus sobre ele mesmo e sobre a nação. Deus
prometeu profeticamente que um descendente de Davi se assentaria sobre o seu trono, e que cumpriria perfeitamente o papel de rei teocrático (2Sm 7.12­17; cf. Is 9.6,7; 11.1-5; Jr 23.5,6; 33.14-16). Entretanto, depois dos trágicos pecados de adultério e de homicídio, cometidos por Davi, o fracasso moral e a rebelião acossaram a sua família (2Sm 12-17) e a nação inteira (2Sm 18­20). A grande bênção nacional transformou-se em grande juízo nacional. Davi se arrependeu com sinceridade e experimentou a misericórdia do perdão divino (2Sm 12.13; confronte Sl 51), mas as conseqüências da sua transgressão continuaram até o fim da sua vida e até mesmo depois (confronte 2Sm 12.7-12). Mesmo assim, Deus não rejeitou Davi como rei, como rejeitou Saul (1Sm 15.23). Realmente, o amor que Davi tinha a Deus (ver os seus salmos) e sua aversão à idolatria fizeram dele o exemplo pelo qual todos os reis subseqüentes de Israel foram medidos (confronte 2Rs 18.3; 22.2). 2 Samuel termina, quando Davi compra a eira de Araúna, que veio a ser o local do futuro templo (24.18-25).
4.2.8. Cinco fatos principais assinalam Segundo Samuel

(a) Descreve os eventos principais do reinado de Davi, de quarenta anos, inclusive sua tomada de Jerusalém da mão dos jebuseus, convertendo-a no centro político e religioso de Israel. O período da sua vida situa-se exatamente entre Abraão e Jesus Cristo.

(b) O ponto crítico do livro (cap. 11) relata os pecados trágicos de Davi, envolvendo Bate-Seba e seu marido Urias. Apesar de esses pecados de Davi terem sido cometidos em oculto, foram declarados abertamente por Deus, nas diferentes faces da vida de Davi ­pessoal, familiar e nacional.

(c) Embora as Escrituras declarem com destaque que Davi era um homem segundo o coração de Deus, o favor divino deu lugar ao castigo e as bênçãos de Deus à maldição depois de ele pecar, conforme Moisés advertira a Israel (Dt 28).

(d) Os capítulos 12-21 descrevem o efeito em cadeia, da transgressão de Davi sobre sua família e sua nação. Isso revela que o bem-estar de um povo está fortemente vinculado à condição espiritual e moral do seu líder.

(e) Ressalta a lição moral perpétua de que o sucesso e a prosperidade amiúde levam ao enfraquecimento moral que, por sua vez, leva ao fracasso moral.

4.2.9. 2Samuel e o Novo Testamento
O reinado de Davi nos capítulos 1-10 é uma prefiguração do reino messiânico de Cristo. O estabelecimento de Jerusalém como a cidade santa, o recebimento do gracioso concerto davídico da parte de Deus e a promessa profética de um reino eterno, apontavam para o perfeito “Filho de Davi”, Jesus Cristo, e seu reino presente e futuro conforme revela o Novo Testamento (Mt 21.9; 22.45; Lc 1.32,33).
Um modelo a ser seguido (Samuel 7.1-17). Samuel foi o último e o maior dos juízes de Israel. Os textos bíblicos não o mostram como um comandante à frente de um exército, liderando homens em batalhas memoráveis. Samuel era um juiz diferente, embora Deus o usasse para libertar o povo também. Seu principal ofício era exercer a liderança civil e religiosa de Israel. Ele era sacerdote e profeta. Conduzia o povo de Deus, e transmitia ao povo as palavras do Senhor. A estatura moral e espiritual de Samuel dá-lhe credenciais de um dos maiores vultos da história israelita e do Antigo Testamento. O que podemos aprender com Samuel se de fato desejamos realizar um bom ministério?
Precisamos dar prioridade a proclamação da vontade do Senhor (v.3). A proclamação da palavra de Deus, advertindo o povo dos seus erros, e mostrando como pode voltar a Deus é responsabilidade séria do servo, seja ministro formalmente ordenado ou não. E como Deus precisa hoje de homens e mulheres que estejam prontos a falar a palavra divina, sem subterfúgios, ao povo.
Precisamos dar prioridade ao ministério da intercessão (vv.5,8,9). Samuel não negligenciava o ministério da intercessão. Embora fosse um homem muito ocupado, ele tinha tempo para a oração. Por que será que crescemos pouco, ganhamos poucas almas, somos fracos e necessitados? Porque oramos muito pouco. Este pensamento não é original mas é significativo: “muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder; nenhuma oração, nenhum poder”.
Precisamos exercitar a disciplina da gratidão a Deus (v.12). As bênçãos do Senhor sobre nossa vida, e sobre o serviço que prestamos são tantas que não podemos contar. Isto, entretanto, não deve nos impedir de agradecer e de fazê-lo com um coração humilde. Como agir convenientemente diante do Senhor sem mostrar-lhe nossa gratidão?
Precisamos desenvolver o princípio da dedicação (vv.15-17). O ministério de Samuel era exercido com dedicação total. Parece que ele não tinha férias, nem licença, e não reivindicava aposentadoria (conquanto que sejam necessárias). Ele ministrou andando por todo o Israel, e quando estava em
sua cidade servia também. Nós fomos chamados das trevas para a luz de Cristo para dedicação exclusiva. Onde quer que estejamos, o que quer que façamos, somos servos de Cristo, ministros de Jesus.
Precisamos manter viva a chama da devoção a Deus (v.17). Samuel dava testemunho de sua fé em Deus em Ramá onde vivia. A edificação de um altar ali era um sinal de sua permanente e contínua devoção ao Senhor. Um dos grandes riscos dos ministérios é que podemos ser consumidos pelos afazeres ministeriais e perdermos o senso e a prática devocional. A lição deixada por Samuel é de que não podemos deixar que se apague esta chama da devoção particular e pessoal.
A grandeza de Samuel deveu-se em grande parte à direção que seus pais deram à sua formação. Ele nasceu em atenção divina ao pedido de Ana, sua mãe. Quando chegou à idade em que não dependia tanto da mãe, Samuel foi levado à Siló, onde vivia o Sacerdote Eli, e estava a arca do Senhor. Ana entregou o seu filho, conforme prometera, adorando a Deus, e dizendo: “Por todos os dias que viver está entregue” (1Sm 1.28).
Embora criado por Eli, não se pode subestimar a influência exercida pela mãe na vida de Samuel. Principalmente quando nos lembramos a que ponto de maldade chegaram os filhos do sacerdote. O salmos que Ana entoou (1Sm 2) indica a profundidade da vida espiritual que ela cultivou e transmitiu a seu filho Samuel. O mundo de hoje, mais do que nunca, busca lideranças altamente qualificadas. O surgimento de lideranças assim depende muito dos pais crentes.
Capítulo 5
O Livro de 1 e 2 Reis
5.1. O Livro de 1Reis
Esboço do Livro
I. O Reinado de Salomão (1.1—11.43)
A. Salomão Sucede a Davi como Rei (1.1—2.11)
B. Salomão Consolida Seu Cargo como Rei (2.12-46)
C. A Sabedoria e Administração de Salomão (3.1—4.34)
D. O Sucesso e Fama de Salomão (5.1—10.29)

1. Preparativos para a Construção do Templo (5.1-18)

2. Construção do Templo (6.1-38)

3. Construção do Palácio de Salomão (7.1-12)

4. Mobiliário do Templo (7.13-51)

5. Dedicação do Templo (8.1-66)

6. Confirmação do Concerto Davídico (9.1-9)

7. Realizações e Fama de Salomão (9.10—10.29)

E. Declínio e Morte de Salomão (11.1-43)

1. A Manifesta Poligamia e Idolatria de Salomão (11.1-8)

2. O Castigo da Divisão do Reino Predito por Deus (11.9-13)

3. Deus Suscita Adversários contra Salomão (11.14-28)

4. A Profecia de Aías (11.29-40)

5. A Morte de Salomão (11.41-43)

II. A Divisão do Reino: Israel e Judá (12.1—22.53)
A. A Consumação do Juízo da Divisão (12.1-24)
B. Reinado de Jeroboão (Israel) (12.25—14.20)
C. Reinado de Roboão (Judá) (14.21-31)
D. Reinado de Abias (Judá) (15.1-8)
E. Reinado de Asa (Judá) (15.9-24)
F. Reinado de Nadabe (Israel) (15.25-31)
G. Reinado de Baasa (Israel) (15.32—16.7)
H. Reinado de Elá (Israel) (16.8-14)
I. Reinado de Zinri (Israel) (16.15-20)
J. Reinado de Onri (Israel) (16.21-28)
K. Reinado de Acabe (Israel) (16.29—22.40)

1. Início do Reinado de Acabe (16.29-34)

2. Acabe e o Profeta Elias (17.1—19.21)

3. Batalhas de Acabe contra a Síria (20.1-43)

4. Acabe e a Vinha de Nabote (21.1-29)

5. Batalha Fatal de Acabe com a Síria (22.1-40)

L. Reinado de Josafá (Judá) (22.41-50)
M. Reinado de Acazias (Israel) (22.51-53)
5.1.1. Estrutura do livro e seu lugar no Cânon
Os fatos de Primeiro e Segundo Reis vêm logo a seguir aos de 1 e 2 Samuel. Esses quatro livros em conjunto abrangem, de forma seletiva, toda a história dos reis de Israel e de Judá (c. 1050–586 a.C.).
1 e 2 Reis abrangem, cronologicamente, quatro séculos dessa história, do rei Salomão (970 a.C.) ao exílio babilônico (586 a.C.). Primeiro Reis, isoladamente, abarca cerca de 120 anos -o reinado de Salomão, de quarenta anos de duração (970–930 a.C.) e aproximadamente os primeiros oitenta anos seguintes à divisão do reino (cerca de 930–852 a.C.). Primeiro e Segundo Reis formavam, originalmente, um só livro no Antigo Testamento hebraico.
Semelhantemente ao caso dos livros de Samuel, os livros dos Reis eram originalmente um só no cânon judaico. Na Septuaginta eles foram agrupados com os livros de Samuel e assim chamados o terceiro e o quarto livro do Reino. Encontram-se entre os profetas anteriores no cânon judaico, enquanto fazem parte dos livros históricos do cânon protestante.
5.1.2. O seu caráter
O seu conteúdo continua a história dos livros de Samuel, assim relatando a retirada divina do reino por etapas sucessivas. 1Rs 11.11; 9.4-7; 14.14-16 (cf. 1Sm 8.5,22; 2Sm 7.12,16). Mostra-se neles uma interpretação profética da história do povo a qual é seletivamente escrita, a dizer, o autor escreveu na perspectiva profética, relatando somente certos episódios da história, os quais foram considerados decisivos. O autor escreveu especificamente do ponto de vista do Deuteronômio, 28.15,36,43-52; 29.9,24-28 em comparação com 2Rs 17.7-20.
O estilo do autor mostra-se pela moldura que caracteriza todos os relatos sobre os diversos reis. Ela consiste de fórmulas introdutórias e finais, que
apresentam pouca variação (1Rs 16.23-28; 2Rs 16.1-3,19-20). Então, menciona-se cada rei, dando a sua idade, extensão do reinado, a mãe e outros fatos considerados importantes. Depois vem uma avaliação (deuteronômica) do reinado, por exemplo: Jeroboão (1Rs 11.26); Onri (1Rs 16.25-26); Acabe (1Rs 16.30-33); Roboão (1Rs 14.25-31); Joás (2Rs 12.2-3); Acaz (2Rs 16.1-4). Nenhum dos reis de Israel é recomendado, enquanto somente três daqueles de Judá são: Asa (1Rs 15.9-11); Ezequias (2Rs 18.1­4); e Josias (2Rs 22.1-2).
5.1.3. Autoria e fontes literárias
Como 1 e 2 Rs eram, originalmente, um livro, esta obra deve ter sido compilada algum tempo depois da tomada de Judá pelos babilônios em 586 a.C.. O livro dá a impressão de ser obra de um só autor e de que este autor tenha testemunhado a queda de Jerusalém. Embora a autoria não possa ser determinada com segurança, muitas sugestões foram feitas. Alguns têm indicado Esdras como compilador, enquanto outros apontam para Isaías como editor. Muitos eruditos dizem que o autor de 1 e 2 Rs era um profeta desconhecido ou um judeu cativo da Babilônia ao redor de 550 a.C.. Pelo fato de Josefo atribuir Reis aos “profetas”, muitos abandonaram a pesquisa por um autor especifico. No entanto, a tese mais provável é a de que o profeta Jeremias seja o autor. A antiga tradição judaica do Talmude declara que Jeremias tenha escrito o livro. Esse famoso profeta pregou em Jerusalém antes e depois da sua queda, e 2Rs 24; 25 aparece em Jr 39; 42; 52. Jeremias talvez tenha escrito todo o texto, menos o conteúdo do último apêndice (2Rs 25.27-30), que foi provavelmente, acrescentado por um dos seus discípulos. Está claro, também, que o autor utilizou várias fontes literárias, citando-as nominalmente:

(a) “O livro da história de Salomão” (11.41).

(b) “O livro das crônicas dos reis de Israel” (14.19).

(c) “O livro das crônicas dos reis de Judá” (14.29).

Essas fontes literárias eram provavelmente registros escritos e conservados pelos profetas, e não anais oficiais da corte. É provável, ainda, que o autor tenha consultado outras fontes documentárias proféticas tais como as mencionadas em 1Crônicas 29.29.
5.1.4. Data
Apesar de que a data exata para a composição de 1 e 2 Rs seja incerta, acredita-se que a sua forma final estava pronta em algum momento da última parte do séc. VI a.C.
O último acontecimento mencionado em 2Rs é a libertação do Rei Joaquim, de Judá, que estava preso na Babilônia. Considerando que Joaquim foi feito prisioneiro em 597 a.C., os livros de Reis devem ter sido escritos depois de 560 a.C. para que esta informação pudesse ser incluída. O autor de Reis teria mencionado, provavelmente, um acontecimento tão importante como a queda da Babilônia para a Pérsia em 538 a.C., caso houvesse tido conhecimento desse evento. Como não há menção dessa importante notícia em Reis, conclui-se, então, que Reis tenha sido escrito, provavelmente antes de 538 a.C., embora os eventos registrados em 1Rs tenha ocorrido uns trezentos anos mais cedo,
5.1.5. Contexto Histórico
Os acontecimentos descritos em 1Reis abrangem um período de cerca de 120 anos. Recorda as turbulentas experiências do povo de Deus desde a morte de Davi, em cerca de 971 a.C., até ao reinado de Josafá (o quarto rei do Reino de Judá) e o reinado de Acazias (o nono rei do Reino de Israel), em cerca de 853 a.C.. Esse foi um período difícil da história do povo de Deus, foram grandes mudanças e sublevações. Havia luta interna e pressão externa. O resultado foi um momento tenebroso, em que um reino estável, dirigido por um líder forte, dividiu-se em dois.
5.1.6. Objetivo
Primeiro e Segundo Reis foram escritos para prover ao povo hebraico no exílio babilônico uma versão bíblica da sua história, e assim compreenderem por que a nação dividiu-se em 930 a.C., por que o Reino do Norte, Israel, caiu em 722 a.C., e por que o reino davídico e Jerusalém caíram em 586 a.C. Os livros de Reis salientam que a divisão e o colapso de Israel e de Judá foram uma conseqüência direta e inevitável da idolatria e da impiedade dos reis e da nação como um todo. Tendo em vista esse fato, os livros abordam o sucesso ou fracasso de cada rei, de conformidade com sua fidelidade ou infidelidade a Deus e ao concerto. Esta perspectiva bíblica tinha por objetivo fazer com que os cativos repudiassem para sempre a idolatria, buscassem a Deus e cumprissem seus mandamentos nas gerações futuras.
Os livros de 1 e 2 Rs eram, originalmente, um só livro, que continuava a narrativa de 1 e 2 Samuel. Os compositores do AT grego (Septuaginta ou LXX) dividiram a obra em “3 e 4 Reinos” 1 e 2 Sm eram 1 e 2 Reinos). O Título “Reis” se deriva da tradução latina de Jerônimo (Vulgata) e é apropriado por causa da ênfase desses livros nos reis que governaram durante este período.
Esses livros começam a registrar os eventos históricos do povo de Deus no lugar em que 1 e 2 Samuel interrompem. No entanto, o livro de Reis é mais
do que uma simples compilação de acontecimentos políticos importantes ou socialmente significativos em Israel e Judá. Na realidade, não contém uma narrativa histórica tão detalhada como se poderia esperar (400 anos em 47 capítulos). Ao contrário, 1 e 2 Reis são uma narrativa histórica seletiva, com um propósito teológico. O autor, portanto, seleciona e enfatiza o povo e os eventos que são significativos no plano moral e religioso. Em 1 e 2 Reis, Deus é apresentado como Senhor da história.
5.1.7. O Espírito Santo citado
1Rs 18.12 contém a única referência direta ao Espírito Santo, onde é chamado de “Espírito do Senhor”. As palavras de Obadias lá indicam que o Espírito Santo algumas vezes transportou Elias de um lugar para outro (ver também 2Rs 2.16) Percebe-se uma relação com At 8.39-40, em que se descreve Felipe como tendo uma experiência similar. (1Sm 10.6,10 e 19.20,23). Aqui “a mão do SENHOR” se refere ao Espírito Santo que dotou Elias com poderes sobrenaturais para realizar uma façanha surpreendente. Além dessas passagens, 1Rs 22.24 pode ser outra referência ao Espírito Santo. Esse versículo se refere a um “espírito do SENHOR” e pode indicar que os profetas compreendiam que o seu dom de profecia vinha do Espírito de Deus (ver 1Sm 10.6,10; 19.20,23). Se esta interpretação é aceita, então estaria em paralelo com 1Co 12.7-11, que confirma que a habilidade pra profetizar é realmente uma manifestação do Espírito Santo.
5.1.8. Divisão de 1 Reis
Primeiro Reis divide-se em duas partes principais. A primeira descreve o reinado do rei Salomão (caps. 1-11). Os primeiros capítulos descrevem as circunstâncias que o conduziram ao reinado (caps. 1-2) e sua oração por sabedoria para governar a nação (cap. 3). Os sete caps. seguintes descrevem a ascensão de Salomão no âmbito mundial, e o apogeu de Israel em prosperidade, paz, poder e glória -tudo durante os primeiros vinte anos do reinado de Salomão. Durante esse período, Salomão edificou e dedicou o templo de Jerusalém (caps. 6; 8). O cap. 11 descreve o segundo período de vinte anos do reinado de Salomão -anos de sensualismo, de declarada poligamia, de idolatria e de desintegração dos alicerces da nação. Por ocasião da morte de Salomão, o caminho estava preparado para a divisão e declínio do reino.
A segunda parte descreve a divisão do reino, na época do filho de Salomão, Roboão, e os oitenta anos seguintes, de declínio político e espiritual dos dois reinos com sua sucessão à parte, de reis (12-22). Os personagens principais desta metade do livro são: os reis Roboão do Reino do Sul, e Jeroboão do Reino do Norte; o rei Acabe e sua perversa esposa Jezabel (Norte), e o profeta Elias (Norte).
5.1.9. Quatro características principais distinguem Primeiro Reis

(a) Apresenta os profetas como os representantes e porta-vozes de Deus diante dos reis de Israel e Judá -por exemplo, Aías (11.29-40; 14.5­18), Semaías (12.22-24), Micaías (22.8-28), e principalmente Elias (17-19).

(b) Salienta a profecia e o seu cumprimento na história dos reis. Registra numerosas vezes o cumprimento de profecias proferidas (por exemplo, 2Sm 7.13 e 1Rs 8.20; 11.29-39 e 12.15; cap. 13 e 2Rs 23.16-18).

(c) Reúne   muitas histórias bíblicas bem conhecidas -por exemplo, a sabedoria de Salomão (3-4), a dedicação do templo (cap. 8), a visita da rainha de Sabá a Jerusalém (cap. 10) e o ministério de Elias, especialmente seu confronto com os falsos profetas de Baal, no monte Carmelo (cap. 18).

(d) Inclui     uma elevada soma de dados cronológicos sobre os reis de Israel e de Judá, cuja sincronização, às vezes, é muito difícil. A resolução satisfatória da maior parte desses problemas depende de reconhecermos os casos de prováveis reinados coincidentes em parte com outros, de co-regências de filhos com seus pais, e de modos diferentes de calcular as datas iniciais do reinado de cada rei.

5.1.10. O Livro de Primeiro Reis e o Novo Testamento
No Novo Testamento, Jesus declarou à sua geração que a grandeza da sua vida e do seu reino ultrapassam a sabedoria, autoridade, glória e esplendor de Salomão e do seu reinado: “Eis que está aqui quem é mais do que Salomão” (Mt 12.42). Além disso, a glória de Deus que encheu o templo de Salomão, quando foi dedicado, veio habitar entre a raça humana, na pessoa de Jesus, o Filho Unigênito do Pai (Jo 1.14).
5.2. O Livro de 2Reis
Esboço do Livro
I. O Reino Dividido: Israel e Judá (1.1 — 17.41)
A. Continuação do Reinado de Acazias (Israel) (1.1-18; cf. 1 Rs 22.51-53)
B. Reinado de Jorão (Israel) (2.1—8.15)

1. Transição Profética de Elias para Eliseu (2.1-25)
2. Uma Análise de Jorão (3.1-3)
3. Jorão Derrota Moabe (3.4-27)
4. O Ministério Milagroso de Eliseu (4.1—8.15)
C. Reinado de Jorão (Judá) (8.16-24)
D. Reinado de Acazias (Judá) (8.25-29)
E. Reinado de Jeú (Israel) (9.1—10.36)

1. Jeú Ungido por Eliseu (9.1-10)

2. Jeú e Seu Expurgo Sangrento de Israel (9.11—10.36)

F. Reinado de Atalia (Judá) (11.1-16)
G. Reinado de Joás (Judá) (11.17—12.21)
H. Reinado de Joacaz (Israel) (13.1-9)
I. Reinado de Jeoás (Israel) (13.10-25)
J. Reinado de Amazias (Judá) (14.1-22)
K. Reinado de Jeroboão II (Israel) (14.23-29)
L. Reinado de Azarias (Judá) (15.1-7)
M. Reinado de Zacarias (Israel) (15.8-12)
N. Reinado de Salum (Israel) (15.13-15)
O. Reinado de Menaém (Israel) (15.16-22)
P. Reinado de Pecaías (Israel) (15.23-26)
Q. Reinado de Peca (Israel) (15.27-31)
R. Reinado de Jotão (Judá) (15.32-38)
S. Reinado de Acaz (Judá) (16.1-20)
T. Reinado de Oséias (Israel) (17.1-41)

1. Análise e Prisão de Oséias (17.1-4)

2. Colapso Final de Israel (17.5-23)

3. Cativeiro de Israel e Repovoamento da Terra (17.24-41)

II. O Reino Único: Judá Depois do Colapso de Israel (18.1—25.21)
A. Reinado de Ezequias (18.1—20.21)

1. Avivamento e Reforma (18.1-8)

2. Sumário da Queda de Israel e Libertação de Judá por Deus, de Duas Invasões Assírias (18.9—19.37)

3. Enfermidade e Cura de Ezequias (20.1-11)

4. A Insensatez e Morte de Ezequias (20.12-21)

B. Reinado de Manassés (21.1-18)
C. Reinado de Amom (21.19-26)
D. Reinado de Josias (22.1—23.30)

1. Avivamento e Reforma (22.1—23.25)

2. Adiada a Ira de Deus sobre Judá, Mas Não Evitada, e a Morte de Josias (23.26-30)

E. Reinado de Joacaz (23.31-33)
F. Reinado de Jeoaquim (23.34—24.7)
G. Reinado de Joaquim (24.8-16)
H. Reinado de Zedequias (24.17—25.21)

1. Queda de Jerusalém (25.1-7)

2. Destruição do Templo e dos Muros da Cidade (25.8-10, 13-17)

3. Deportação Final do Povo para Babilônia (25.11-21)

III. Epílogo (25.22-30)
5.2.1. Estrutura do livro
Os livros de Primeiro e Segundo Reis são, no original, um tratado indiviso, portanto, as informações contidas na introdução a Primeiro Reis são importantes aqui. Segundo Reis retoma a história do declínio de Israel e Judá, a partir de cerca de 852 a.C. Narra as duas grandes calamidades nacionais que conduziram à queda dos reinos de Israel e de Judá: A primeira, a destruição da capital de Israel, Samaria, e a deportação de Israel à Assíria em 722 a.C. e a segunda, a destruição de Jerusalém e a deportação de Judá para Babilônia em 586 a.C. Segundo Reis abarca os últimos 130 anos da história de Judá, que teve 345 anos de duração. A grande instabilidade política de Israel (isto é, as dez tribos do Norte) é notória nas suas constantes mudanças de reis (dezenove) e de dinastia (nove) em 210 anos, em comparação com os vinte reis e uma dinastia (com breve interrupção) de Judá, em 345 anos. Muitos dos profetas literários do Antigo Testamento ministraram durante o período decorrido em Segundo Reis. Eles relembravam, advertiam e exortavam os reis concernentes às suas responsabilidades diante de Deus como seus representantes teocráticos. Amós e Oséias profetizaram em Israel, ao passo que Joel, Isaías, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias e Jeremias profetizavam em Judá. Nos livros desses profetas, temos importantes revelações históricas e teológicas que não se acham em 2Rs, no tocante ao declínio moral das duas nações.
5.2.2. Autor
Embora a autoria não possa ser determinada com segurança, muitas sugestões foram feitas. Alguns têm indicado Esdras como compilador, enquanto outros apontam para Isaías como editor. Muitos eruditos dizem que
o autor de 1 e 2 Rs era um profeta desconhecido ou um judeu cativo da Babilônia ao redor de 550 a.C.. Pelo fato de Josefo atribuir Reis aos “profetas”, muitos abandonaram a pesquisa por um autor especifico. No entanto, a tese mais provável é a de que o profeta Jeremias seja o autor. A antiga tradução judaica do Talmude declara que Jeremias tenha escrito Reis. Esse famoso profeta pregou em Jerusalém antes e depois da sua queda, e 2Rs 24; 25 aparece em Jr 39; 42; 52. Jeremias talvez tenha escrito todo o texto, menos o conteúdo do último apêndice (2Rs 25.27-30), que foi provavelmente, acrescentado por um dos seus discípulos.
5.2.3. A Data
Apesar de que a data exata para a composição de 1 e 2 Rs seja incerta, acredita-se que a sua forma final estava pronta em algum momento da última parte do séc. VI a.C.
O último acontecimento mencionado em 2Rs é a libertação do Rei Joaquim, de Judá, que estava preso na Babilônia. Considerando que Joaquim foi feito prisioneiro em 597 a.C., os livros de Reis devem ter sido escritos depois de 560 a.C. para que esta informação pudesse ser incluída. O autor de Reis teria mencionado, provavelmente, um acontecimento tão importante como a queda da Babilônia para a Pérsia em 538 a.C., caso houvesse tido conhecimento desse evento. Como não há menção dessa importante notícia em Reis, conclui-se, então, que Reis tenha sido escrito, provavelmente antes de 538 a.C., embora os eventos registrados em 1Rs tenha ocorrido uns trezentos anos mais cedo.
5.2.4. Contexto Histórico
Os acontecimentos descritos em 2Rs abrangem um período de cerca de 300 anos. Recorda as turbulentas experiências do povo de Deus desde o reinado de Acazias (o nono rei de Israel) ao redor de 853 a.C.., Incluindo a queda de Israel para a Assíria em 722 a.C., passando pela deportação de Judá para a Babilônia em 586 a.C. e terminando com a libertação do rei Joaquim em 560 a.C.. Esse foi um período difícil da história do povo de Deus, foram grandes mudanças e sublevações. Havia luta interna e pressão externa. O resultado foi um momento tenebroso na história do povo de Deus: colapso e conseqüente cativeiro de ambas as nações.
5.2.5. Conteúdo Histórico
O Título “Reis” se deriva da tradução latina de Jerônimo (Vulgata) e é apropriado por causa da ênfase desses livros nos reis que governaram durante este período. Os livros de 1 e 2 Reis começam a registrar os eventos históricos do povo de Deus no lugar em que 1 e 2 Samuel interrompem. No
entanto, 2Rs é mais do que uma simples compilação de acontecimentos políticos importantes ou socialmente significativos em Israel e Judá. Na realidade, não contém uma narrativa histórica tão detalhada como se poderia esperar (300 anos em 25 capítulos). Ao contrário, 2Rs é uma narrativa histórica seletiva, com um propósito teológico. O autor, portanto, seleciona e enfatiza o povo e os eventos que são significativos no plano moral e religioso. Em 2Rs, Deus é apresentado como Senhor da história. 2Rs retoma a história trágica do “reino divido” quando Acazias está no trono de Israel e Josafá governando sobre Judá. Assim como 1Rs, é difícil seguir o fluxo da narrativa. O Autor ora está falando do Reino do Norte, Israel, ora do Reino do Sul, Judá, traçando simultaneamente suas histórias. Israel teve 19 governantes, todos ruins. Judá foi governado por 20 regentes, dos quais apenas oito foram bons. 2Rs recorda a história dos últimos 10 reis e dos últimos 16 governantes de Judá. Alguns desses 26 governantes são mencionados em apenas poucos versículos, enquanto que capítulos inteiros são dedicados a outros. A atenção maior é dirigida àqueles que ou serviram de modelo de integridade ou que ilustram por que essas nações finalmente entraram em colapso.
5.2.6. Cristo em 2Reis
O fracasso dos profetas, sacerdotes, e reis do povo de Deus aponta para a necessidade do advento de Cristo. Cristo é a combinação ideal desses três ofícios. Como profeta, a palavra de Cristo ultrapassa largamente à dos ofícios. Como profeta, a palavra de Cristo ultrapassa largamente à do grande profeta Elias (Mt 17.1-5), Muitos dos milagres de Jesus são reminiscências das maravilhas que Deus fez através de Elias e Eliseu em Reis. Além disso, Cristo é um sacerdote superior a qualquer daqueles registrados em Reis (Hb 7.22-27). 1Rs ilustra vivamente a necessidade de Cristo como o nosso Rei em exercício de suas funções. Quando perguntado se era rei dos judeus, Jesus afirmou que era (Mt 27.11). No entanto, Jesus é um Rei maior do que o maior dos seus reis (Mt 12.42). O reinado de cada um desses 26 governantes já terminou, mas Cristo reinará sobre o trono de Davi pra sempre (1Cr 17.14; Is 9.6), pois ele é “REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap 19.16).
5.2.7. O Espírito Santo citado
1Rs 18.12 contém a única referência direta ao Espírito Santo, onde é chamado de “Espírito do Senhor”. As vezes transportava Elias de um lugar para outro. Percebe-se uma relação com At 8.39-40, em que se descreve Felipe como tendo uma experiência similar. Há uma referência indireta ao Espírito Santo na frase “Espírito de Elias” em 2.9,15. Aqui Eliseu tenta receber o mesmo poder de Elias para levar adiante o ministério profético do seu antecessor. O espírito enérgico ou o poder que capacitava Elias a profetizar era o Espírito de Deus. 2Rs 2.9,16 fornecem um paralelo interessante entre o Antigo Testamento e At 1.4-9 e 2.1-4. Elias foi elevado
ao céu, Eliseu procurou a promessa de que receberia poder para levar adiante o ministério do seu mestre, e a promessa foi cumprida. Da mesma maneira, Jesus ascendeu, os discípulos aguardaram o cumprimento da promessa, e o Espírito Santo desceu para capacitá-los a levar adiante a obra que seu mestre começou.
Uma alusão final ao Espírito Santo aparece em 2Rs 3.15. Aqui a “mão do Senhor” veio sobre Eliseu, capacitando-o a profetizar ao rei Josafá. A formula “a mão do SENHOR” se refere à inspiração divina dos profetas.
5.2.8. A história de Segundo Reis
A história de Segundo Reis abrange duas épocas principais: A história dos dois reinos antes da queda de Israel (as dez tribos) em 722 a.C. (1-17), e a história de Judá depois da derrocada de Israel até à queda da própria nação de Judá em 586 a.C. (18-25). Por um lado, Israel teve uma sucessão ininterrupta de reis que faziam “o que era mau aos olhos do SENHOR” (por exemplo, 3.2). Em 2Rs, é patente que em meio à terrível apostasia de Israel, Deus levantava profetas poderosos tais como Elias e Eliseu para conclamar a nação e seus respectivos dirigentes a voltar a Deus e ao seu concerto (1­9).Por outro lado, em Judá, às vezes, havia alívio quando entre seus reis ímpios, surgiam alguns piedosos, como Ezequias (18-21) e Josias (22-23), que se esforçavam para levar a nação de volta a Deus. Todavia, esses reis não conseguiram levar o povo a abandonar de modo permanente a prática prevalecente da idolatria, da imoralidade e da violência. Depois da morte de Josias (cap. 23), o deslize de Judá em direção à destruição foi rápido e culminou no saque de Jerusalém por Nabucodonosor em 586 a.C. (cap. 25).
5.2.9. Cinco fatos principais caracterizam Segundo Reis

(a) Destaca (assim como também Primeiro Reis) a importância dos profetas e da sua mensagem revelada como o meio principal de Deus transmitir sua mensagem aos reis e ao povo de Israel e Judá ­por exemplo, Elias e Eliseu (1-13), Jonas (14.25), Isaías (19.1-7, 20­34) e Hulda (22.14-20).

(b) Destaca o ministério milagroso de Eliseu no decurso de boa parte da primeira metade do livro (2-13).

(c) Apenas dois reis em todo Israel e Judá tiveram plena aprovação como fiéis a Deus e ao povo: Ezequias (18.1; 20.21) e Josias (22.1; 23.29).

(d) Revela que líderes ímpios acabam levando seu povo à ruína e ilustra o princípio perpétuo de que “a justiça exalta as nações, mas o
pecado é o opróbrio dos povos” (Pv 14.34).
(e) Contém muitas narrativas bíblicas bem conhecidas, como a ascensão de Elias ao céu num redemoinho (cap. 2), a ressurreição do filho da sunamita por Eliseu (cap. 4), a cura de Naamã (cap. 5), o ferro do machado que flutuou na água (cap. 6), a morte violenta de Jezabel conforme Elias profetizara (cap. 9), os grandes avivamentos no reinado de Ezequias (cap. 18) e Josias (cap. 22), e a grave enfermidade de Ezequias e sua cura (cap. 20).

5.2.10. Paralelo entre o livro de Segundo Reis e o Novo Testamento
Segundo Reis deixa claro que o pecado e infidelidade dos reis de Judá (isto é, os descendentes de Davi) resultaram na destruição de Jerusalém e do reino davídico. Não obstante, o Novo Testamento deixa também claro que Deus, na sua fidelidade, cumpriu sua promessa segundo o concerto, feita a Davi, através de Jesus Cristo, “o Filho de Davi” (Mt 1.1; 9.27-31; 21.9), cujo reinado e reino não terão fim (Lc 1.32,33; confronte Is 9.7).
Capítulo 6
1 e 2 Crônicas
6.1. O Livro de 1Crônicas
Esboço do Livro
I. Genealogias: Adão à Restauração Pós-Exílica (1.1—9.44)
A. Adão a Abraão (1.1-27)
B. Abraão a Jacó (1.28-54)
C. Jacó a Davi (2.1-55)
D. Davi ao Exílio Babilônico (3.1-24)
E. Genealogias das Doze Tribos (4.1—8.40)
F. Genealogias do Remanescente (9.1-34)

1. As Tribos que Retornaram (9.1-9)

2. Os Sacerdotes que Retornaram (9.10-13)

3. Os Levitas que Retornaram (9.14-34)

G. Genealogia de Saul (9.35-44)
II. Davi: A Importância Perene do Seu Reinado (10.1—29.30)
A. A Morte de Saul e de Seus Filhos (10.1-14)
B. A Tomada de Jerusalém e os Valentes de Davi (11.1—12.40)
C. O Retorno da Arca, a Restauração do Culto e o Estabelecimento do Reino (13.1—16.43)
D. O Concerto de Deus com Davi (17.1-27)
E. Vitórias Militares de Davi (18.1—20.8)
F. O Censo Pecaminoso de Davi (21.1-30)
G. Preparativos Completos de Davi para a Edificação do Templo (22.1-19)
H. Davi Organiza os Levitas para o Ministério do Templo (23.1—26.32)
I. A Organização Administrativa de Davi (27.1-34)
J. Preparativos Finais de Davi para a Sucessão e o Templo (28.1—29.20)
K. A Coroação de Salomão e a Morte de Davi (29.21-30)
A história registrada em 1 e 2 Crônicas é pré-exílica; a origem e a perspectiva do livro, no entanto, são pós-exílicas, escritas na segunda metade do século V a.C., algum tempo depois de Esdras, quando um segundo grande grupo de
exilados judeus, provenientes de Babilônia e da Pérsia, regressaram à Palestina (457 a.C.). As invasões de Israel e a destruição de Jerusalém pelo rei Nabucodonosor (606-586 a.C.), além dos 70 anos subseqüentes do cativeiro babilônico, aniquilaram muitas das esperanças e ideais dos judeus como o povo do concerto. Por isso, os exilados que voltaram para reedificar Jerusalém e o templo precisavam de um alicerce espiritual, isto é, um meio de identificação com sua história redentora anterior e uma compreensão da sua fé presente e esperança futura como o povo do concerto. 1 e 2 Crônicas foram escritos para suprir essa necessidade e avivar a esperança desses exilados que agora retornavam.
6.1.1. Autoria
1 e 2 Crônicas eram originalmente um só livro. Como a identidade do autor dessa obra não é explicitada em 1 nem em 2Crônicas, muitos optaram por se referir a esse autor desconhecido simplesmente como “o cronista”. No entanto, Esdras é o candidato mais provável para a autoria de Crônicas. A antiga tradução judaica do Talmude afirma que Esdras escreveu o livro. Além disso, os versículos finais de 2Crônicas (2Cr 36.22,23) repetem-se como os versículos iniciais de Esdras (ver Ed 1.1-3). Isso não apenas reforça o argumento que aponta Esdras como autor de 1Crônicas, mas pode ser também uma indicação de que Crônicas e Esdras tenham sido em algum momento uma única obra. Soma-se a isso o fato de que 1 e 2 Crônicas tenham estilo, vocabulário e conteúdo similares. Esdras era tanto escriba como profeta e desempenhou um papel significativo na comunidade de exilados que retornou à cidade de Jerusalém. Apesar de não podermos afirmar com certeza absoluta, é razoável assumir que “o cronista” tenha sido Esdras.
Os livros das Crônicas, Esdras e Neemias foram escritos para os judeus que retornaram do exílio para a Palestina. Posto que 1 e 2 Crônicas foram escritos do ponto de vista sacerdotal, e que os versículos finais de 2Crônicas (36.22,23) são idênticos a Esdras 1.1-3, a tradução talmúdica de que Esdras foi “o cronista” fica assim reforçada.
O autor consultou numerosos registros escritos ao escrever Crônicas (1Cr 29.29; 2Cr 9.29; 12.15; 20.34; 32.32). Como líder espiritual, Esdras teve acesso a todos os documentos existentes na escritura de Crônicas. Esta é uma antiga tradição que pode indicar com exatidão os meios que o Espírito Santo utilizou para guiar e inspirar o autor humano na composição desses dois livros. Os livros das Crônicas ressaltam três coisas:

(a) A importância da preservação das tradições raciais e espirituais pelos judeus.
(b) A importância   da lei, do templo e do sacerdócio no seu contínuo relacionamento com Deus, muito mais importante do que sua lealdade a um rei terreno.
(c) A     esperança máxima de Israel na promessa divina de um descendente messiânico de Davi assentar-se no trono para sempre (1Cr 17.14).
6.1.2. Contexto Histórico
Primeiro Crônicas é um paralelo aos livros de Samuel, enquanto Segundo Crônicas é paralelo aos livros dos Reis. O ponto de vista é dos sacerdotes e levitas da época após a volta dos judeus exilados da Babilônia para a sua terra. Contém esses livros muitas descrições destes grupos e dos seus papéis entre o povo, especialmente nos tempos de Davi, Salomão e o período posterior ao cativeiro (1Cr 9.1-2; 23.1-6; 24.1; 25.1). Outra evidência a respeito do ponto de vista se mostra no fato de que os primeiros nove capítulos relatam quase nada senão listas genealógicas, terminando com os habitantes de Jerusalém após o cativeiro. Tal fato casa bem com o relato em Esdras 2.59,62 sobre a importância dada naquela época a provas de linhagem, que eram realmente de Israel.
É a opinião de alguns estudiosos que o propósito dos livros era suplementar os livros de Samuel e Reis a respeito dos reis de Judá e das genealogias dos personagens mais destacados na história de Israel (1.1; 2.1; 3.1). Outros estudiosos dizem que o interesse primordial da obra esta na “legitimação de funções cultuais, especialmente a dos levitas”. Foi Davi quem instituiu os levitas como cantores do templo (1Cr 6.16,31, 33,44,48; 16.1ss). Esse propósito, então, teria tido seu fundamento histórico na procura geral de legitimação pelos líderes da comunidade pós-exílica.
O livro de 1Crônicas cobre o período que vai de Adão até a morte de Davi, ao redor de 971 a.C.. É um período de tempo extraordinário, pois abrange o mesmo período coberto pelos primeiros 10 livros do Antigo Testamento, de Gênesis até 2 Samuel. Se as genealogias de 1Crônicas 1-9 fossem ignoradas, 1 e 2 Crônicas cobririam aproximadamente o mesmo período de tempo de 1 e 2 Reis. No entanto, o cenário específico de 1 e 2 Crônicas é o período de tempo que vem depois do exílio. Durante essa época, o mundo antigo estava sob o controle do poderoso Império Persa. Tudo o que restou dos gloriosos reinados de Davi e Salomão foi a pequena província de Judá. Os persas substituíram o rei por um governador provincial. Apesar de que o povo de Deus tenha recebido licença pra voltar para Jerusalém e reconstruir
o templo, a sua situação era muito diferente da dos anos dourados de Davi e Salomão.
6.1.3. Data
Embora seja difícil estabelecer a data exata para 1 e 2 Crônicas, é provável que a sua forma final tenha surgido lá pelo final do séc. V a.C.. O último evento registrado nos versículos finais de 2Crônicas é o decreto de Ciro, rei da Pérsia, que dá licença à volta dos judeus para Judá. É datado como 538
a.C. e dá a impressão de que Crônicas tenha sido composto pouco tempo depois. No entanto, a última pessoa mencionada em 1 e 2 Crônicas é realmente Anani, da oitava geração do rei Jeoaquim (ver 1Cr 3.24). Jeoaquim foi deportado pra a Babilônia em 597 a.C.. Dependendo de como essas gerações são medidas (cerca de 25 anos), o nascimento de Anani pode ter acontecido entre 425 e 400 a.C.. Portanto, a data para 1 e 2 Crônicas pode ser situada entre 425 e 400 a.C..
6.1.4. Conteúdo
No texto original hebraico, 1 e 2 Crônicas formavam um só livro chamado de “Acontecimentos dos Dias”. Foi dividido e recebeu um novo nome pelos tradutores do Antigo Testamento em grego (septuaginta ou LXX): “Coisas que Acontecem”. O nome atual, Crônicas, foi dado por Jerônimo. Não é uma continuação da história do povo de Deus, mas uma duplicação e um suplemento de 1 e 2 Sm e 1 e 2 Rs. Se 1 e 2 Crônicas são considerados uma única obra, podem ser divididos em quatro seções principais: 1Crônicas é composto por genealogias (caps. 1-9) e descreve em linhas gerais o reinado de Davi (caps. 10-29). 2Crônicasrelata o reinado de Salomão (caps. 1-9) e descreve os reinados dos vinte governantes de Judá (caps.10-36).
O livro de 1Crônicas tem duas divisões principais. A primeira seção é constituída por 9 capítulos de genealogias. As genealogias começam com Adão e continuam, atravessando todo o período do exílio, até àqueles que retornaram para Jerusalém. Com freqüência não se dá muita importância a esta seção. Contudo, assim como nos Evangelhos de Mateus e Lucas, as genealogias forma a base das narrativas que se seguem. 1Crônicas está carregado de genealogias para sublinhar a necessidade de pureza racial e religiosa. As genealogias são compiladas seletivamente para realçar a linhagem de Davi e da tribo de Levi.
A segunda parte de 1Crônicas (caps. 10-29) registra os eventos e realizações do rei Davi. O cap. 10 serve como prólogo para resumir o reinado e a morte do rei Saul. Nos caps. 11 e 12, Davi se torna rei e conquista Jerusalém. O restante das narrativas sobre Davi está enfocada sobre três aspectos significativos do seu reinado, ou seja, o transporte da arca do Testemunho pra Jerusalém (caps. 13-17), suas proezas militares (caps. 18-20) e os preparativos para a construção do tempo (caps. 21-27). Os dois últimos capítulos de 1Crônicas recorda os últimos dias de Davi.
6.1.5. O Espírito Santo citado
Há duas referências claras ao Espírito Santo em 1Crônicas. A primeira está em 12.18, em que o “Espírito” entrou em Amasai e o capacitou a fazer uma declaração inspirada. E a segunda em 28.12, a qual explica que por meio do ministério do Espírito (ânimo) os planos do templo foram revelados a Davi.
Visão panorâmica da história
6.1.6. Crônicas gira em torno de dois temas principais
Embora a origem e a perspectiva de 1 e 2 Crônicas sejam pós-exílicas, apresentam uma visão panorâmica da história do Antigo Testamento desde Adão até o decreto de Ciro (c. 538 a.C.), quando, então, os judeus receberam permissão de regressar do exílio em Babilônia e na Pérsia. 1Crônicas gira em torno de dois temas principais.
O primeiro tema. Os caps. 1-9 narram a incomparável história redentora de Israel, de Adão a Abraão, Davi e o exílio em Babilônia. A tribo de Judá ocupa o primeiro lugar entre os doze filhos de Jacó, porque dela provieram Davi, o templo e o Messias. As genealogias revelam como Deus escolheu e preservou um remanescente para si mesmo desde os primórdios da história da humanidade até o período pós-exílico. A perspectiva sacerdotal deste livro é evidente através da atenção especial dedicada às famílias dos sacerdotes e levitas.
O segundo tema. Os caps. 10-29 tratam do reinado de Davi. Os valentes de Davi (11-12) e seus grandes feitos (14; 18-20) são ressaltados. De igual modo os levitas, sacerdotes e músicos da sua corte (23-26). O autor enfatizou aquilo que Davi fez ao reintegrar a arca do concerto e estabelecer Jerusalém como a sede do culto a Deus em Israel (13-16; 22; 28; 29). Diferente de Segundo Samuel, Primeiro Crônicas não enuncia os repugnantes pecados de Davi e suas subseqüentes e trágicas conseqüências. Ao invés disso, o livro retrata aquilo que não aparece em Segundo Samuel: as diligentes e detalhadas providências de Davi para edificar o templo e estabelecer a adoração ao Senhor Deus. Essas omissões e adições da parte do Espírito Santo tinham o propósito de satisfazer as necessidades do povo de Deus do pós-exílio.
6.1.7. Cinco características principais destacam Primeiro Crônicas

(a) Cobre, aproximadamente, o mesmo período histórico de Primeiro e Segundo Samuel.

(b) Suas genealogias (1-9) são as mais longas e mais completas da Bíblia. Sabendo-se que os livros de 1 e 2 Crônicas constituem a última
parte do Antigo Testamento hebraico, segundo a ordem de seus livros, essas genealogias foram ali convenientemente colocadas para proporcionarem inspiração e conteúdo às genealogias do Messias no início do Novo Testamento.
(c) Descreve vividamente a renovação e restauração sem precedentes de todas as formas de culto ao Senhor quando Davi levou a arca do concerto a Jerusalém (15;16).

(d) Destaca o concerto de Deus com Davi (cap. 17), enfocando principalmente a esperança de Israel no Messias prometido.

(e) Sua       história seletiva reflete a perspectiva sacerdotal do autor inspirado, no tocante ao restabelecimento do templo, da lei e do sacerdócio entre os que voltaram do exílio, em Jerusalém.

6.1.8. O livro de 1Crônicas face ao Novo Testamento
O registro genealógico a partir de Adão até o exílio em Babilônia, inclusive dos reis davídicos e os seus descendentes (caps. 3; 4), supre os dados necessários às genealogias no Novo Testamento de Jesus o Messias em Mateus (1.1-17), e de Jesus o Filho de Deus em Lucas (3.23-38). O cenário de Davi em 1 Crônicas, assentado no trono do Senhor e reinando (17.14), prefigura a vinda do “Filho de Davi”, messiânico, Jesus Cristo.
6.1.9. Fidedignidade Histórica de Crônicas
Certos críticos inescrupulosos consideram Crônicas uma história forjada ou distorcida e daí menos fidedigna do que o registro de Samuel e Reis. Na realidade, Crônicas é uma história altamente seletiva, mas não é verdade que seja invencionice. Ela ressalta, sim, os aspectos relevantes da história judaica. Não é verdade que ela encobre as falhas da nação (por exemplo, 1Cr 21). A inexistência da matéria histórica contida em Samuel e Reis, pressupõe que seus leitores conheciam esses livros. Muitas das declarações históricas que se acham somente em Primeiro Crônicas foram comprovadas pelas descobertas arqueológicas; nenhuma foi tida como farsa.
6.2. O livro de 2Crônicas
Esboço do livro
I. Salomão: Contribuições Relevantes do Seu Reino (1.1—9.31)
A. A Instituição da Liderança de Salomão (1.1-17)
B. A Construção do Templo (2.1—5.1)
C. A Dedicação do Templo (5.2—7.22)

1. A Instalação da Arca (5.2-14)

2. Discurso Consagratório de Salomão (6.1-11)

3. Oração Consagratória de Salomão e a Glória de Deus (6.12—7.3)

4. Sacrifícios e Festas Consagratórias (7.4-11)

5. A Promessa e a Advertência de Deus (7.12-22)

D. A Fama de Salomão (8.1—9.28)

1. Realizações, Colônias e Política de Salomão (8.1-18)

2. Elogios da Rainha de Sabá (9.1-12)

3. Riquezas de Salomão (9.13-28)

E. Morte de Salomão (9.29-31)
II. Os Reis de Judá, de Roboão até o Exílio (10.1—36.23)
A. A Divisão e o Reinado de Roboão (10.1—12.16)
B. Reinado de Abias e Asa (13.1—16.14)
C. Reinado de Josafá (17.1—20.37)
D. Reinados de Jorão, Acazias e Atalia (21.1—23.15)
E. Reinado de Joás (23.16—24.27)
F. Reinados de Amazias, Uzias e Jotão (25.1—27.9)
G. Reinado de Acaz (28.1-27)
H. Reinado e Reformas de Ezequias (29.1— 32.33)
I. Reinados de Manassés e de Amom (33.1-25)
J. Reinado e Reformas de Josias (34.1—35.27)
K. Sucessores de Josias; o Exílio (36.1-21)
L. O Decreto de Ciro (36.22,23)
6.2.1. O livro
Visto que 1 e 2 Crônicas eram originalmente um único livro no Antigo Testamento hebraico, o contexto histórico pode ser visto em detalhes na introdução a 1Crônicas. Nessa etapa abrange o mesmo período de história que 1 e 2Rs -a saber: o reinado de Salomão (971-931 a.C.) e o reino dividido (930-586 a.C.). Diferentemente dos livros de Reis, que seguem a história das duas partes do reino dividido, 2Crônicasfocaliza exclusivamente o destino de Judá. O escritor considera Judá, o Reino do Sul, como o fluxo principal da “história da redenção” de Israel, posto que:

(a) O templo de Jerusalém permaneceu como o centro da verdadeira adoração a Deus.
(b) Seus reis eram descendentes de Davi.
(c) Judá,    a tribo predominante entre os judeus que voltaram e reconstruíram Jerusalém e o templo.
(d) 2Crônicas foi escrito da perspectiva sacerdotal da segunda metade do século V a.C., quando, então, o templo, o sacerdócio e o concerto davídico voltaram a ter importância capital.
6.2.2. Contexto Histórico
O livro de 2Crônicas cobre o período que vai do começo do reinado de Salomão, em 971 a.C., até ao final do exílio ao redor de 538 a.C.. No entanto,
o cenário específico de 1 e 2 Crônicas é o período de tempo que vem depois do exílio. Durante essa época, o mundo antigo estava sob o controle do poderoso Império Persa. Tudo o que restou dos gloriosos reinados de Davi e Salomão foi a pequena província de Judá. Os persas substituíram o rei por um governador provincial. Apesar de que o povo de Deus tenha recebido licença pra voltar para Jerusalém e reconstruir o templo, a sua situação era muito diferente dos anos dourados de Davi e Salomão.
6.2.3. Conteúdo
No texto original hebraico, 1 e 2 Crônicas formavam um só livro chamado de “Acontecimentos dos Dias”. Foi dividido e recebeu um novo nome pelos tradutores do Antigo Testamento em grego (septuaginta ou LXX): “Coisas que Acontecem”. O nome atual, Crônicas, foi dado por Jerônimo. Não é uma continuação da história do povo de Deus, mas uma duplicação e um suplemento de 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis.
O livro de 2 Crônicas tem duas divisões principais. A primeira seção é constituída pelos primeiros 9 capítulos (caps. 1-9) descreve em linhas gerais
o governo do rei Salomão. A narrativa dá bastante importância à construção do templo (caps. 2-7) bem como à riqueza e à sabedoria desse extraordinário rei (caps. 8-9). A narrativa, no entanto, termina abruptamente e não faz menção das fraquezas de Salomão, conforme registradas em 1 Reis 11.
A segunda seção do Livro é formada pelos caps. 10 a 36. Depois da divisão do reino, se concentram quase que exclusivamente no Reino do Sul, Judá, e discorre sobre a história do Reino do Norte, Israel, só ocasionalmente. 2 Crônicas traça a história dos reinados dos 20 governantes de Judá até ao cativeiro babilônico do Reino do Sul em 586 a.C.. O livro conclui com o decreto de Ciro libertando e permitindo a volta do povo p ara Judá (36.22,23).
6.2.4. O Espírito Santo citado
Há três referências claras ao Espírito Santo em 2 Crônicas. É identificado como o “Espírito de Deus” (15.1; 24.20) e como o “Espírito do SENHOR” (20.14). Nessas referências, o Espírito Santo inspirou ativamente Azarias (15.1), Jaaziel (20.14) e Zacarias (24.20) para que falassem da parte de Deus. Além dessas referências, muitos vêem a presença do Espírito Santo na dedicação do templo (5.13,14).
6.2.5. 2Crônicas divide-se em duas seções principais
A primeira seção compreende os caps. 1-9 e tratam do reinado de Salomão, a época áurea de paz, poder, prosperidade e prestígio de Israel. Mesmo assim, consoante o propósito global de Crônicas, cerca de dois terços desses nove capítulos focalizam a edificação e construção do templo como o centro da verdadeira adoração a Deus pelos israelitas (2-7).
A segunda seção compreende os caps. 10-36 que constituem um relato altamente seletivo dos reis de Judá depois da morte de Salomão e da divisão do reino. Em meio ao declínio espiritual e apostasia de Judá, 2Crônicas ressalta certos reis dignos de menção: Asa (14; 15), Jeosafá (17; 19; 20), Joás (cap. 24), Ezequias (29-32) e Josias (34; 35). Cada um deles promoveu e liderou avivamentos espirituais na nação. Cerca de 70% do conteúdo dos caps. 10-36 focalizam esses reis como responsáveis por avivamento e reforma, ao passo que apenas 30% focalizam os maus reis, culpados da corrupção e colapso do reino. O livro termina quando Ciro, rei da Pérsia, permitiu aos exilados judeus voltarem para reedificarem o templo de Jerusalém (36.22-32).
6.2.6. Quatro características principais assinalam 2Crônicas

(a) Seu       escopo histórico corresponde praticamente ao do período de Primeiro e Segundo Reis.

(b) Seu enfoque no templo de Jerusalém é o motivo mais provável para Crônicas ter sido colocado na divisão não-profética do Antigo Testamento hebraico, separando-o, assim, de Samuel e Reis, que estão colocados na divisão profética.

(c) Trata de cinco avivamentos nacionais, inclusive o relato mais extenso no Antigo Testamento de um avivamento espiritual no reinado de Ezequias (29-32) e o maravilhoso avivamento sob Josias quando, então, foi achado “o livro da Lei” e lido publicamente, o que resultou numa renovação do concerto e na celebração da Páscoa (34; 35).

(d) A exortação principal do livro é: “Buscai ao Senhor”. O livro ressalta

repetidas vezes a importância de se buscar ao Senhor com diligência, de todo o coração (por exemplo 1.6-13; 6.14; 7.14; 12.14; 15.1,2,12­15; 16.9,12; 17.4; 19.3; 20.3,4,20; 31.21; 32.20,22; 34.26-28).
6.2.7. Paralelo entre 2Crônicas e o Novo Testamento
O reino davídico fora destruído, mas a sua linhagem permaneceu, tendo seu cumprimento em Jesus Cristo (ver as genealogias em Mt 1.1-17 e Lc 3.23­38). Além disso, o templo de Jerusalém tem significado proféticos relacionados com Jesus, que declarou: “Pois eu vos digo que está aqui quem é maior do que o templo” (Mt 12.6). Jesus também fez uma comparação entre seu corpo e o templo: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2.19). Finalmente, na nova Jerusalém, Deus e o Cordeiro substituem o templo: “E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor, Deus Todo­poderoso, e o Cordeiro” (Ap 21.22).
Capítulo 7
Os Livros de Esdras -Neemias ­Ester
7.1. O LIVRO DE ESDRAS
Esboço do Livro
I. O Regresso a Jerusalém dos Primeiros Repatriados (1.1—6.22)
A. O Decreto e o Provimento de Ciro (1.1-11)
B. Lista dos Repatriados Que Voltaram (2.1-70)
C. Começo da Restauração do Templo (3.1-13)

1. Restabelecimento dos Sacrifícios (3.1-6)

2. Início da Reconstrução do Templo (3.7-13)

D. Suspensão das Obras do Templo pela Oposição (4.1-24)
E. Recomeço da Construção do Templo e Sua Conclusão (5.1—6.18)

1. O Estímulo dos Profetas (5.1,2)

2. Protesto do Governador Tatenai (5.3-17)

3. Dario Confirma a Construção do Templo (6.1-12)

4. Conclusão e Dedicação do Templo (6.13-18)

F. Celebração da Páscoa (6.19-22)
II.   O Regresso a Jerusalém da Segunda Leva de Repatriados sob Esdras (7.1—10.44)
A. A Missão de Esdras Autorizada por Artaxerxes (7.1-28)
B. A Viagem de Esdras e dos Seus Companheiros (8.1-36)
C. As Reformas de Esdras em Jerusalém (9.1—10.44)

1. Condenação de Casamento com Pagãos (9.1-4)

2. Confissão de Esdras e Sua Oração Intercessória pelo Povo (9.5-15)

3. Arrependimento Público e Reforma (10.1-44)

O livro de Esdras faz parte da história seqüencial dos judeus, escrita depois de seu exílio, que consiste de 1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias. No Antigo Testamento hebraico, Esdras e Neemias formavam originalmente um só livro e, de igual modo, 1 e 2 Crônicas. O livro foi escrito em hebraico, a não ser Ed 4.8-6.18 e 7.12-28, trechos que foram escritos em aramaico, a língua oficial dos exilados em Babilônia.
7.1.1. Autor e Data
O livro de Esdras, cujo nome provavelmente signifique “O Senhor tem ajudado”, deriva o seu título do personagem principal dos caps. 7-10. Não é possível saber com absoluta certeza se foi o próprio Esdras quem compilou o livro ou se foi um editor desconhecido. A opinião conservadora e geralmente aceita é de que Esdras tenha compilado ou escrito este livro juntamente com 1 e 2 Crônicas e Neemias. A Bíblia hebraica reconhecia Esdras e Neemias como um só livro.
O próprio Esdras era um sacerdote, um “escriba das palavras, dos mandamentos do SENHOR” (7.11). Liderou o segundo dos três grupos que retornaram da Babilônia pra Jerusalém. Como homem devoto, estabeleceu firmemente a Lei (o Pentateuco) como a base da fé (7.10).
Os eventos de Esdras cobrem um período um pouco maior do que 80 anos e caem em dois segmentos distintos. O primeiro (caps.1-6) cobre um período de cerca de 23 anos e tem como tema o primeiro grupo que retorna do exílio sob Zorobabel e a reconstrução do templo. Depois de mais de 60 anos de cativeiro babilônico, Deus desperta o coração do regente da Babilônia, o rei Ciro da Pérsia, para publicar um édito que dizia que todo judeu que assim desejasse poderia retornar pra Jerusalém a fim de reconstruir o templo e a cidade. Um grupo de fiéis responde e partiu em 538 a.C. sob a liderança de Zorobabel. A construção do templo é iniciada, mas a oposição dos habitantes não judeus desencoraja o povo, e a obra é interrompida. Deus, então, levanta os ministérios proféticos de Ageu e Zacarias, que chamam o povo para completar a obra. Embora bem menos esplêndido que o templo anterior, o de Salomão, o novo templo é completado e dedicado em 515 a.C..
Aproximadamente 60 anos depois (458 a.C.), outro grupo de exilados volta para Jerusalém liderados por Esdras (caps. 7-10). São enviados pelo rei persa Artaxerxes, com somas adicionais de dinheiro e valores para
intensificar o culto no templo. Esdras também é comissionado para apontar líderes em Jerusalém para supervisionar o povo.
Já em Jerusalém, Esdras assumiu o ministério de reformador espiritual, o que deve ter durado cerca de um ano. Depois disso, viveu, provavelmente, como um influente cidadão até à época de Neemias. Sacerdote dedicado, Esdras encontra um Israel que tinha adotado muitas das práticas dos habitantes pagãos; ele chama Israel ao arrependimento e a uma renovada submissão à Lei, ao ponto do divórcio de suas esposas pagãs.
7.1.2. Conteúdo
Duas grandes mensagens emergem de Esdras: a fidelidade de Deus e a infidelidade do homem. Deus havia prometido através de Jeremias (25.12) que o cativeiro babilônico teria duração limitada. No momento apropriado, cumpriu fielmente a sua promessa e induziu o espírito do rei Ciro da Pérsia a publicar um édito para o retorno dos exilados (1.1-4). Fielmente, concedeu liderança (Zorobabel e Esdras), e os exilados são enviados com despojos, incluindo itens que haviam sido saqueados do templo de Salomão (1.5-10). Quando o povo desanimou por causa da zombaria dos inimigos, Deus fielmente levantou Ageu e Zacarias para encorajar o povo a completar a obra. O estímulo dos profetas trouxe resultados (5.1,2). Finalmente, quando o povo se desviou das verdades da sua apalavra, Deus fielmente enviou um sacerdote dedicado que habilidosamente instruiu o povo na verdade, chamando-o à confissão de pecado e ao arrependimento dos seus caminhos perversos (caps. 9-10).
A fidelidade de Deus é contrastada com a infidelidade do povo. Apesar do seu retorno e das promessas divinas, o povo se deixou influenciar pelos seus inimigos e desistiu temporariamente (4.24). Posteriormente, depois de completada a obra, de forma que pudesse adorar a Deus em seu próprio templo (6.16.18), o povo se tornou desobediente aos mandamentos de Deus; desenvolve-se uma geração inteira cujas “iniqüidades se multiplicaram sobre as vossas cabeças” (9.6). Contudo, como foi dito acima, a fidelidade de Deus triunfa em cada situação.
7.1.3. O Espírito Santo citado
A obra do Espírito Santo em Esdras pode ser vista claramente na ação providencial de Deus em cumprir as suas promessas. Isto é indicado pela frase “a mão do Senhor”, que aparece seis vezes. Foi pelo Espírito que “despertou o Senhor o espírito de Ciro” (1.1) e “tinha mudado o coração do rei da Assíria” (6.22). Teria sido também pelo Espírito Santo que “Ageu, profeta e Zacarias... profetizaram aos judeus” (5.1). A obra do Espírito Santo é vista na vida pessoal de Esdras, tanto no sentido de obrar nele (“Esdras tinha
preparado o seu coração para buscar a Lei do Senhor”, 7.10), como no sentido de atuar em seu favor (“o rei lhe deu tudo quanto lhe pedira” 7.6).
7.1.4. O livro de Esdras relata
Como Deus cumpriu sua promessa profética através de Jeremias (Jr 29.10­14), no sentido de restaurar o povo judeu depois de setenta anos de exílio, ao trazê-lo de volta à sua própria terra (Ed 1.1) e o colapso de Judá como nação e sua deportação para Babilônia que ocorrera em três levas separadas:

(a) Na primeira (605 a.C.), a nobreza jovem de Judá, inclusive Daniel, foi levada ao exílio.

(b) Na segunda (597 a.C.), foram mais 11.000 exilados, inclusive Ezequiel.

(c) E na terceira leva (586 a.C.), o restante de Judá, menos Jeremias e os mais pobres da terra foram levados.

Semelhantemente, a restauração do remanescente exílico, em cumprimento à profecia de Jeremias que ocorreu em três levas:

(a) Na primeira (538 a.C.), 50.000 exilados voltaram, liderados por Zorobabel e Jesua.

(b) Na segunda (457 a.C.), mais de 17.000 voltaram conduzidos por Esdras.

(c) E na terceira (444 a.C.), Neemias e seus homens levaram de volta o restante do povo. Cerca de dois anos depois da derrota do império babilônico pelo império persa (539 a.C.), começou o retorno dos judeus à sua pátria.

A primeira e a segunda levas de repatriados abrangendo três reis persas (Ciro, Dario e Artaxerxes) e cinco líderes espirituais de destaque:

(a) Zorobabel, que conduziu os primeiros exilados.
(b) Jesua, um sumo sacerdote piedoso que auxiliou a Zorobabel.
(c) Ageu.
(d) Zacarias, dois profetas de Deus que encorajavam o povo a concluir a reconstrução do templo.
(e) E Esdras,    que conduziu o segundo grupo de exilados de volta a Jerusalém, e a quem Deus usou para restaurar o povo, espiritual e moralmente. Se Esdras escreveu esse livro, como é geralmente aceito, ele compôs a sua obra sob a inspiração do Espírito Santo mediante consulta aos arquivos oficiais (por exemplo, 1.2-4; 4.11-22; 5.7-17; 6.1-12), genealogias (por exemplo, 2.1-70), e memórias pessoais (por exemplo, 7.27-9.15).
7.1.5. Os dez capítulos de Esdras dividem-se naturalmente em duas seções principais:
7.1.5.1. A primeira seção começa onde Segundo Crônicas termina

(a) Com o cativeiro judeu e o decreto de Ciro, rei da Pérsia (538 a.C.), que permitiu a volta dos judeus à sua pátria (1.1-11).

(b) O cap. 2 alista aqueles que constituíram o primeiro grupo. É digno de nota que apenas uns 50.000 exilados judeus dentre um milhão ou mais, vieram no primeiro grupo (1.5; 2.64,65).

(c) No cap.       3, Zorobabel (um descendente de Davi) e Jesua (o sumo sacerdote) mobilizaram o povo para começar a reconstrução do templo destruído.

(d) Astutos       inimigos de Judá manipularam meios políticos e interromperam a obra por algum tempo (cap. 4).

(e) Mas depois a obra recomeçou e o templo foi concluído em 516 a.C. (caps. 5; 6).

(f)   Houve um intervalo de quase sessenta anos entre os caps. 6 e 7. Nesse período Ester tornou-se rainha da Pérsia, consorte do rei Assuero (isto é, Xerxes I). Ester tornou-se rainha por volta de 478 a.C.

7.1.5.2. A segunda seção

(a) Os caps. 7 e 8 registram eventos de uns vinte anos mais tarde, quando, então, um grupo menor de exilados voltou da Pérsia a Jerusalém sob a liderança de Esdras. Enquanto os primeiros exilados que voltaram realizaram a tarefa de edificar a Casa de Deus, Esdras empreendeu a obra de restaurar a Lei de Deus no coração do povo (confronte Ne 8.1-8).

(b) Esdras deparou-se com uma apostasia generalizada, espiritual e moral entre os homens de Judá, evidenciada nos seus casamentos
mistos com mulheres pagãs. Com profunda tristeza Esdras confessou a Deus o pecado do povo, e intercedeu por ele (cap. 9).
(c) O livro termina com Esdras à frente de um imenso culto público levando o povo ao arrependimento diante de Deus e de todos, e ao rompimento dos casamentos ilícitos com mulheres pagãs, incrédulas (cap. 10).

7.1.5.3. Quatro características principais assinalam o livro de Esdras

(a) Esdras e Neemias são o único registro histórico da Bíblia sobre a restauração pós-exílica dos judeus que retornaram à Palestina.

(b) Uma característica notável deste livro é que entre suas duas divisões principais (1-6 e 7-10) há um intervalo histórico de aproximadamente sessenta anos. O livro todo abrange uns oitenta anos.

(c) Esdras demonstra claramente como Deus vela sobre a sua palavra para cumpri-la (confronte Jr 1.12; 29.10); Deus controlou os corações dos reis persas como o leito de um rio comanda a direção das suas águas, para reconduzir o seu povo à sua pátria (1.1; 7.11-28; confronte Pv 21.1).

(d) O modo de Esdras tratar as mulheres pagãs com as quais os judeus (inclusive sacerdotes) casaram, transgredindo os mandamentos de Deus, ilustra amplamente o fato de que Deus requer que o seu povo viva separado do mundo pagão, e às vezes Ele emprega medidas radicais para tratar da perigosa transigência com o mal no meio do seu povo.

7.1.6. O Livro de Esdras à Luz do Novo Testamento
À volta do remanescente judaico à sua pátria e a reedificação do templo revelam que Deus sempre anela restaurar os desobedientes. Seus métodos incluem não somente o castigo pela apostasia, como também a restauração e esperança para o remanescente crente, através do qual Deus dirige o caudal da redenção no seu curso final. Vemos esse princípio no Novo Testamento, onde um remanescente crente dentre os judeus aceitou Jesus como o seu Messias, enquanto o fluxo principal da redenção passou dos judeus incrédulos para os gentios na igreja primitiva.
7.2. O Livro de Neemias
Esboço do Livro
I. Reconstrução dos Muros de Jerusalém, Dirigida por Neemias (1.1—7.73)
A. Intercessão de Neemias por Jerusalém (1.1—2.8)

1. A Causa da Sua Intercessão (1.1-4)

2. O Conteúdo da Sua Intercessão Diante de Deus (1.5-11)

3. O Resultado da Sua Intercessão Diante do Rei Artaxerxes (2.1-8)

B. A Viagem de Neemias a Jerusalém Como Governador (2.9-20)
C. Neemias Dirige a Reconstrução dos Muros (3.1—7.4)

1. Os Construtores (3.1-32)

2. A Oposição (4.1—6.14)

             Escárnio (4.1-6)
             Conspiração (4.7-23)
             Extorsão (5.1-19)
             Conivência (6.1-4)
             Difamação (6.5-9)
             Traição (6.10-14)

3. A Conclusão da Obra (6.15—7.4)
D. O Registro do Remanescente (7.5-73)
II. Avivamento em Jerusalém Liderado por Esdras (8.1—10.39)
A. Leitura Pública da Palavra de Deus e Celebração da Festa dos Tabernáculos (8.1-18)
B. Jejum e Reconhecimento dos Pecados Cometidos e Sua Confissão Pública (9.1-37)
C. Um Concerto de Obediência (9.38—10.39)
III. Neemias Promove a Reforma da Nação (11.1—13.31)
A. Distribuição Habitacional do Remanescente (11.1—12.26)
B. Dedicação dos Muros (12.27-47)
C. Reformas no Segundo Mandato de Neemias (13.1-31)
7.2.1. Considerações introdutórias
O livro de Neemias encerra a história do Antigo Testamento, ocasião em que os expatriados judeus foram autorizados a retornarem a seu país, estando cativos na Babilônia. Juntamente com o livro de Esdras (com o qual forma um
só livro no Antigo Testamento hebraico; Neemias relata os três retornos dos exilados a Jerusalém. Esdras trata de fatos dos dois primeiros retornos 538 a.C.; 457 a.C.), e Neemias, de fatos ligados ao terceiro (444 a.C.). Enquanto
o enfoque de Esdras recai na reconstrução do templo, o de Neemias recai na reconstrução dos muros de Jerusalém. Os dois livros frisam a importância da renovação espiritual e da consagração a Deus e à sua Palavra.
Neemias, um contemporâneo de Esdras, servia na corte de Artaxerxes I (rei da Pérsia), como copeiro, quando soube que os exilados que já se encontravam em Judá, estavam sob opróbrio e os muros de Jerusalém continuavam em ruínas. Depois de orar em favor da triste condição de Jerusalém, Neemias recebeu uma munificente autorização do rei Artaxerxes para viajar a Jerusalém como governador, e reedificar os muros da cidade. Como líder dinâmico ele motivou seus compatriotas a reedificar todo o muro em apenas cinqüenta e dois dias, apesar da ferrenha oposição. Serviu como governador por doze anos. Depois de um breve retorno à Pérsia, exerceu um segundo mandato de governador de Judá (confronte 2.1; 13.6,7). Esdras, o sacerdote, auxiliou Neemias na promoção do avivamento e renovação espiritual do remanescente que voltara. É possível que Neemias tenha ajudado Esdras a escrever esse livro. A historicidade do livro de Neemias é confirmada por documentos antigos descobertos em 1903, chamados Papiros de Elefantina, que mencionavam Sambalate (2.19), Joanã (12.23), e a substituição de Neemias como governador em cerca de 410 a.C.
7.2.2. Autoria e Data
O título atual do livro é derivado do seu personagem principal, cujo nome aparece em 1.1. A nossa primeira imagem de Neemias é quando ele aparece em seu papel de copeiro na corte de Artaxerxes. Um copeiro tinha uma posição de grande confiança como conselheiro do rei e a responsabilidade de proteger o rei de envenenamento. Enquanto Neemias, sem dúvida, desfrutava o luxo do palácio, o seu coração estava em Jerusalém, uma pequena cidade nas longínquas fronteiras do império.
A oração, o jejum, as qualidades de liderança, a poderosa eloqüência, as habilidades organizacionais criativas, a confiança nos planos de Deus e a rápida e decisiva resposta aos problemas qualificavam Neemias como um grande líder e como um grande homem de Deus. Mais importante ainda: ele deixa transparecer um espírito de sacrifício, cujo único interesse é resumido na sua repetida oração: “Lembra-te de mim pra bem, ó meu Deus!”.
Nas escrituras, o livro de Neemias formava uma unidade com Esdras. Muitos estudiosos consideram Esdras como o autor/compilador de Esdras -Neemias bem como de 1 e 2 Crônicas. Ainda que não tenhamos muita certeza, parece que Neemias contribuiu com parte do material contido no livro que leva o seu
nome (caps.1-7; 11-13).
Jerônimo, que traduziu a Bíblia ao latim, honrou Neemias ao dar o seu nome ao livro em que aparece como personagem principal. Neemias significa “Jeová consola”. A história começa no livro de Esdras e se completa em Neemias. Neemias, que serviu duas vezes como governador da Judéia, deixa a Pérsia para realizar a sua primeira missão no vigésimo ano de Artaxerxes I da Pérsia, que reinou de 465 até 424 a.C. (2.1). Retorna à Pérsia no trigésimo segundo ano de reinado de Artaxerxes (13.6) e volta novamente para Jerusalém “ao cabo de alguns dias”.
Pelo conteúdo do livro, sabe-se que a obra somente pode ter sido escrita algum tempo depois da volta de Neemias da Pérsia para Jerusalém. Talvez a sua redação final tenha sido completada antes da morte de Artaxerxes I em 424 a.C.; ao contrário, a morte de um monarca tão benigno provavelmente teria sido mencionada em Neemias.
O período histórico coberto pelos livros de Esdras e Neemias é de cerca de 110 anos. O período de reconstrução do templo sob Zorobabel, inspirado pela pregação de Zacarias e Ageu, foi de 21 anos. 60 anos mais tarde, Esdras causou um despertar do fervor religioso e promoveu um ensino adequado sobre o culto no templo. 13 anos depois, Neemias veio pra construir os muros. Talvez Malaquias tenha profetizado durante aquela época. Se foi assim, Neemias e Malaquias trabalharam juntos para erradicar
             o mal que significava o culto a muitos deuses e atacaram o pecado da associação com o povo que havia sido forçada a recolonizar aquelas regiões pelos assírios cerca de 200 anos antes. Tiveram tanto sucesso, que durante
             o período intertestamental o povo de Deus não voltou à idolatria. Dessa maneira, quando veio o Messias, pessoas como Isabel e Zacarias, Maria e José, Simeão, Ana, os pastores e outros eram pessoas piedosas com que Deus iria se comunicar.

7.2.3. Conteúdo
Neemias expressa o lado prático, a vivência diária da nossa fé em Deus. Esdras havia conduzido o povo a uma renovação espiritual, enquanto Neemias era o Tiago do AT, desafiando o povo a mostrar a sua fé por meio das obras. A primeira seção do livro (caps. 1-7) fala sobre a construção do muro. Era necessário para que Judá e Benjamim continuassem a existir como nação. Durante o período da construção dos muros, os crentes comprometidos, guiados por esse líder dinâmico, venceram a preguiça (4.6), zombaria (2.19), conspiração e ameaças de agressão física (4.17).
A segunda seção do Livro (caps. 8-10) é dirigida ao povo que vivia dentro dos muros. A aliança foi renovada. Os inimigos que moravam na cidade foram
expostos e tratados com muita dureza. Para guiar esse povo, Deus escolheu um homem de coração reto e com uma visão clara dos temas em questão, colocou-o no lugar certo no momento certo, equipou-o com o seu Espírito e o enviou pra fazer proezas.
Na última seção (caps.11-13), o povo é restaurado à obediência da Palavra de Deus, enquanto Neemias, o leigo, trabalha junto com Esdras, o profeta. Como governador durante esse período, Neemias usou a influência do seu cargo para apoiar a Esdras e exercer uma liderança espiritual. Aqui se revela um homem que planeja sabiamente suas ações (“considerei comigo mesmo no meu coração”) e um homem cheio de ousadia (“contendi com os nobres”).
7.2.4. A divisão do livro de Neemias
Os caps. 1-7 narram o desempenho de Neemias como governador e como responsável pela reedificação dos muros de Jerusalém. A segunda metade do livro descreve a restauração espiritual que teve lugar entre os habitantes de Jerusalém, liderada por Esdras, o sacerdote (8 -10). Certos problemas nacionais abordados por Neemias (11-13). De muita importância para a renovação espiritual do povo, foram a leitura pública da Lei de Deus, o arrependimento do pecado e uma nova resolução do remanescente no sentido de ter em memória o seu concerto com Deus e de cumpri-lo. O último capítulo trata de reformas que Neemias iniciou durante seu segundo período de governo (cap. 13).
7.2.5. O Espírito Santo citado
Desde a criação, o Espírito Santo tem sido o braço executivo de Deus na terra. Eliú falou a verdade quando disse a Jó: “O Espírito de Deus na terra me fez” (Jó 33.4). Aqui aparece um padrão constante: é o Espírito de Deus que age para fazer de nós o que Deus quer que sejamos. Ne 2.18 diz: “Então, lhes declarei como a mão do meu Deus me fora favorável.” A mão de Deus, seu modo de agir sobre a terra, é o Espírito Santo. Neemias, cujo nome significa “Jeová conforta”, foi claramente um instrumento do Espírito Santo. Sob o poder do Espírito Santo, certamente se tornou modelo da forma de atuar do Espírito Santo e foi uma dos primeiros cumprimentos dessa memorável profecia.
7.2.6. Cinco características principais destacam-se no livro de Neemias

(a) Registra os últimos eventos da história judaica do Antigo Testamento, antes do período intertestamentário.

(b) Fornece o contexto histórico de Malaquias, o último livro do Antigo Testamento, posto que Neemias e Malaquias foram
contemporâneos.
(c) Neemias é um excelente modelo bíblico de um líder crente no governo: um homem de sabedoria, convicção, coragem, integridade a toda prova, fé firme, compaixão pelos oprimidos, e possuidor de ricos dons de liderança e organização. Durante todos os seus anos como governador Neemias foi um homem justo, humilde, isento de cobiça, abnegado e que não se corrompeu pela sua posição ou poder.
(d) Neemias é um dos exemplos mais notáveis do Antigo Testamento de um líder que ora. Em onze vezes, o registro descreve Neemias dirigindo-se a Deus em oração ou intercessão (por exemplo, Ne 1.4­11; 2.4; 4.4, 9; 5.19; 6.9, 14; 13.14, 22, 29, 31). Foi um homem que executou tarefas que pareciam impossíveis, por causa da sua total dependência de Deus.

(e) O livro ilustra de modo claro o fato de que a oração, o sacrifício, o trabalho árduo e a tenacidade operam em conjunto na realização de uma visão dada por Deus.

7.3. O Livro deEster
Esboço do Livro
I. A Providência de Deus no Provimento de uma Rainha (1.1—2.18)
A. A Deposição de Vasti Como Rainha (1.1-22)

1. O Banquete de Assuero (1.1-9)

2. A Recusa de Vasti (1.10-12)

3. A Destituição de Vasti Como Rainha (1.13-22)

B. Ester é Escolhida Como Rainha da Pérsia (2.1-18)

1. A Busca da Parte de Assuero (2.1-4)

2. Ester é Preferida (2.5-11)

3. A Escolha de Ester Como a Nova Rainha (2.12-18)

II. A Providência de Deus no Meio de uma Trama (2.19—4.17)
A. Mardoqueu Salva a Vida do Rei (2.19-23)
B. A Soberba de Hamã e Sua Trama Traiçoeira (3.1-15)
C. Mardoqueu Convence Ester a Interceder Junto ao Rei (4.1-17)
III. A Providência de Deus no Livramento do Seu Povo (5.1—9.32)
A. O Primeiro Banquete de Ester: Um Pedido Inicial (5.1-8)
B. A Evolução da Trama de Hamã (5.9-14)
C. A Providência da Insônia do Rei (6.1-14)
D. O Segundo Banquete de Ester: Denunciada a Trama de Hamã (7.1­10)
E. O Decreto do Rei e a Vitória dos Judeus (8.1—9.16)
F. A Instituição da Festa de Purim (9.17-32)
IV. A Providência de Deus na Elevação de Mardoqueu (10.1-3)
7.3.1. Considerações introdutórias
Depois da derrota do império babilônico e sua conquista pelos persas em 539 a.C., a sede do governo dos exilados judeus passou à Pérsia. A capital, Susã, é o palco da história de Ester, durante o reinado do rei Assuero (seu nome hebraico) -também chamado Xerxes I (seu nome grego) ou Khshayarshan (seu nome persa) -que reinou em 486 -465 a.C. O livro de Ester abarca os anos 483 -473 a.C. do reinado de Assuero (1.3; 3.7), sabendo-se que a maioria dos eventos ocorreu em 473 a.C. Ester tornou-se rainha da Pérsia em 478 a.C. (2.16). Cronologicamente, o episódio de Ester na Pérsia ocorre entre os caps. 6 e 7 do livro de Esdras, isto é, entre o primeiro retorno dos exilados judeus de Babilônia e da Pérsia, para Jerusalém em 538 a.C., chefiados por Zorobabel (Esdras 1– 6), e o segundo retorno chefiado por Esdras em 457 a.C. (Ed 7-10). Embora o livro de Ester venha depois de Neemias em nosso Antigo Testamento, seus eventos realmente ocorreram trinta anos antes da volta de Neemias a Jerusalém (444 a.C.) para reconstruir seus muros. Enquanto os livros pós-exílicos de Esdras e Neemias tratam de fatos do remanescente judaico que retornara a Jerusalém, Ester registra um acontecimento de vital importância ocorrido entre os judeus que se encontravam na Pérsia.
7.3.2. A importância da rainha Ester
A importância da rainha Ester vê-se, não somente no fato de ela salvar o seu povo da destruição, mas também por conseguir para esse povo, segurança e respeito num país estrangeiro (Et 8.17; 10.3). Esse ato providencial tornou possível o cargo de Neemias na corte do rei, por décadas seguidas, e sua escolha para reconstruir os muros de Jerusalém. Se Ester e os judeus (inclusive Neemias) tivessem perecido na Pérsia, o remanescente em crise em Jerusalém talvez nunca tivesse reconstruído a sua cidade. O resultado da história judaica pós-exílica certamente teria sido outra muito diferente.
7.3.3. Autor e Data
O nome do autor é desconhecido, mas o livro foi escrito por um judeu que conhecia os costumes e a linguagem dos persas. Talvez Mardoqueu ou Esdras tenha sido o autor. Embora não se conheça o autor do livro de Ester, as evidências internas do livro revelam que ele conhecia pessoalmente os costumes persas, o palácio de Susã e pormenores da pessoa do rei Assuero. Isso indica que o autor provavelmente morava na Pérsia durante o período descrito no livro. Além disso, o apreço do autor pelos judeus, bem como seus conhecimentos dos costumes judaicos sugerem que ele era judeu.
O livro de Ester é uma narração bem elaborada, que relata como o povo de Deus foi preservado da ruína durante o séc. V a.C. O livro toma seu nome de uma mulher judia, bela e órfã, que se tornou rainha do rei persa Assuero. Acredita-se que este rei tenha sido Xerxes I, que sucedeu Dario I, em 485 aC, e governou 127 províncias, desde a Índia até a Etiópia, durante vinte anos. Viveu em Susã, a capital persa. Naquela época, certo número de judeus ainda se encontrava na Babilônia sob o governo persa, embora tivesse liberdade para retornar a Jerusalém (Et 1-2) há mia de cinqüenta anos. A história se desenrola num período de quatro anos, iniciando no terceiro ano do reinado de Xerxesi.
7.3.4. Conteúdo histórico do livro
Ester é um estudo da sobrevivência do povo de Deus em meio à hostilidade. Hamã, o homem mais importante depois do rei, deseja a aniquilação dos judeus. Ele manipula o rei para que execute os judeus. Ester é introduzida em cena e Deus faz uso dela para salvar seu povo. Hamã é enforcado; e Mardoqueu, líder dos judeus no Império Persa, se torna primeiro ministro. A festa de Purim é instituída para marcar a libertação dos judeus.
Um aspecto peculiar no Livro de Ester é que o nome de Deus não é mencionado. No entanto, vestígios de Deus e seus caminhos transparecem em todo o livro, especialmente na vida de Ester e Mardoqueu. Da perspectiva humana, Ester e Mardoqueu foram as duas pessoas do povo menos indicadas pra desempenhar funções importantes na formação da nação. Ele era um judeu benjamita exilado; ela era prima órfã de Mardoqueu, adotada por este (2.7). A maturidade espiritual de Ester se percebe na virtude dela saber esperar pelo momento que Deus julgou adequado, para, então, pedir ao rei a salvação do povo e denunciar Hamã (5.6-8; 7.3-6). Mardoqueu também revela maturidade para aguardar que Deus lhe indicasse a ocasião correta e lhe orientasse. Em conseqüência, ele soube o tempo certo de Ester desvendar sua identidade judaica (2.10). Esta espera divinamente orientada provou se crucial (6.1-14; 7.9,10) e comprova a base espiritual do livro.
Finalmente, tanto Ester quanto Mardoqueu temiam a Deus, não a homens. Independentemente das conseqüências, Mardoqueu recusou-se a prestar honras a Hamã. Ester arriscou sua vida por amor do seu povo quando foi ao rei sem ter sido convidada. A missão de Ester e Mardoqueu sempre foi salvar a vida que o inimigo planejava destruir (2.21-23; 4.1-17; 7.1-6; 8.3-6) Como resultado, conduziram a nação à liberdade, foram honrados pelo rei e receberam autoridade, privilégios e responsabilidades.
7.3.5. O Espírito Santo citado
Embora não se mencione diretamente o Espírito Santo, sua ação produziu em Ester e Mardoqueu profunda humildade, conduzindo-os ao amor mútuo e à lealdade (Rm 5.5) O Espírito Santo também dirigiu e fortaleceu Ester para jejuar pelo seu povo e pedir que este fizesse o mesmo. (Rm 8.26,27).
7.3.6. O duplo propósito do livro de Ester
O livro de Ester foi escrito para demonstrar a proteção e livramento de extermínio iminente do povo judeu, mediante a intervenção de Deus através da rainha Ester. Embora o nome de Deus não seja mencionado especificamente, a evidência é patente da sua providência no decurso de todo o livro. Também, para prover um registro e contexto histórico da festa judaica de Purim (Et 3.6,7; 9.26-28) e, assim, manter viva para gerações futuras, a lembrança desse grande livramento do povo judeu na Pérsia (confronte a festa da Páscoa e o grande livramento dos israelitas da escravidão no Egito).
7.3.7. Os personagens principais no livro de Ester
O rei persa, Assuero; seu primeiro ministro, Hamã. Hamã é o vilão da história; Vasti, a rainha que antecedeu Ester; Ester, a formosa moça judia que tornou­se rainha. Ester, naturalmente, é a heroína da história; Mardoqueu, o íntegro primo de Ester que a adotou como filha e cuidou dela na mocidade. É o herói que, como alvo principal do desprezo de Hamã, é vindicado e exaltado no fim. É a figura principal nos eventos do livro, pois ele influenciou a rainha Ester e lhe deu conselhos retos.
7.3.7. A providência de Deus está presente em todas as partes do livro
É vista, primeiramente, na escolha de uma virgem judia chamada Hadassa (hebraico) ou Ester (persa e grego), para ser rainha da Pérsia, numa hora crítica da história dos judeus (1-2; 4.4). A providência de Deus é novamente evidente quando Mardoqueu, primo de Ester, que a criara como filha (2.7), foi informado de uma trama para assassinar o rei, denunciou-a, salvou a vida do rei, e seu ato foi registrado nas crônicas do rei. Isso, o rei descobriu
providencialmente no momento certo, durante uma noite de insônia (6.1-14).
7.3.8. O desfecho da história
O ódio que Hamã alimentava por Mardoqueu estendeu-se a todos os judeus. Urdiu um horrendo complô e, usando de fraudulência, persuadiu Assuero a promulgar um decreto para exterminar todos os judeus no dia 13 do mês adar (Et 3.13). Mardoqueu persuadiu Ester a interceder junto ao rei a favor dos judeus. Depois de um jejum levado a efeito por todos os judeus de Susã, de três dias de duração, Ester arriscou a sua vida ao aproximar-se do trono real sem ter sido convocada (cap. 4); Obteve o favor do rei (5.1-4) e denunciou o funesto complô de Hamã. A seguir, o rei mandou enforcar Hamã na forca que este preparara para Mardoqueu (7.1-10). Um segundo decreto do rei possibilitou aos judeus triunfarem sobre os seus inimigos (8.1-9.16). Essa ocasião motivou uma grande celebração e deu origem à festa anual de Purim (9.17-32). O livro termina com um relato da fama de Mardoqueu (10.1­3).
7.3.9. Cinco características assinalam o livro de Ester

(a) É um dos dois livros na Bíblia que levam o nome de uma mulher, sendo Rute o outro.

(b) O livro começa e termina com uma festa, e menciona um total de dez festas ou banquetes no decurso das quais se desenrola boa parte do drama do livro.

(c) O livro de Ester é o último dos cinco rolos da terceira parte da Bíblia hebraica, chamados Hagiographa (“Escritos Sagrados”). Cada um desses rolos é lido publicamente em uma das grandes festas judaicas. Este aqui é lido na festa de Purim, em 14-15 de adar, que comemora

o grande livramento do povo judeu na Pérsia, durante o reinado de Ester.

(d) Embora o livro mencione um jejum de três dias de duração, não há qualquer referência explícita a Deus, à adoração, ou à oração (aspecto este que tem levado alguns críticos a, insensatamente questionarem o valor espiritual do livro).

(e) Embora o nome de Deus não apareça através do livro de Ester, sua providência é patente em toda parte do mesmo (por exemplo, Et 2.7,17,22; 4.14; 4.16-5.2; 6.1,3-10; 9.1). Nenhum outro livro da Bíblia ilustra tão poderosamente a providência de Deus ao preservar o povo judeu a despeito do ódio demoníaco dos seus inimigos.

7.3.10. O Livro de Ester e o Novo Testamento
Não há referência ou alusão a este livro no Novo Testamento. Todavia, o ódio de Hamã aos judeus e seu complô visando o extermínio de todos os judeus do império persa (Et 3; 7.4) é uma prefiguração no Antigo Testamento, do Anticristo do Novo Testamento, que procurará destruir todos os judeus e também os cristãos no final da história.


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