sexta-feira, 6 de março de 2020


FACULDADE DE TEOLOGIA
TESTEMUNHAS HOJE


CURSO LIVRE
HOMILÉTICA







CONCEITO GERAL
Uma grande realidade no ministério cristão é que a pregação da palavra de Deus não é um privilégio somente concedido a pastores com formação acadêmica, mas, de leigos também. Seria fatal para expansão do Evangelho, que precisa atingir até os quatros cantos da terra, se a ajuda da pregação do leigo fosse negligenciada. Porém, sem desdourar o aspecto da pregação simples, sem preparo acadêmico, afirmamos que, quanto maior for o preparo do obreiro com ou sem curso teológico, melhor condições terá de ser usado pelo Espírito de Deus para entregar a mensagem do reino dos céus, que visa à transformação do coração do pecador, transformando-o em filho de Deus.
O pregador precisa saber de sua importância indiscutível na grande seara; corrigir detalhes da sua apresentação quando está diante do público; dar maior ênfase à oração, a igreja e a Palavra. O pregador também precisa saber que o aspecto intelectual é algo que não deve ser rejeitado, pois muita contribuição poderá ser fornecida pela história, ciência, filosofia, etc. Àquele que foi incumbida à responsabilidade de transmitir o recado divino, este terá que ter consciência da objetividade do sermão, e não se deixar levar por variações de tantas idéias tais, que não deixam o público seguir uma linha de pensamento.
O pregador tem que saber usar corretamente o texto de onde irá extrair a sua mensagem; ter a criatividade para dar um tema interessante ao assunto que irá expor; saber começar com uma boa introdução e terminar bem, com uma conclusão que venha a desafiar o público a tomar uma posição ao final da pregação.
O pregador deve aprender a fazer o esboço de sua mensagem dentro de uma lógica com relação ao tema e o texto, sabendo distinguir o que é um sermão temático, um sermão textual e um sermão expositivo. Aquele que tem a responsabilidade de pregar deve dar o devido valor ao tesouro que são as ilustrações, e o momento certo de usá-las no púlpito.

      A homilética, como arte de pregar, não deve ser algo a ser aprendido somente por pastores, existe uma grande necessidade do leigo ter conhecimento desta arte, já que é possível também àqueles que não tiveram a oportunidade de estudar numa instituição teológica. Todos aqueles que pregam a Palavra de Deus tem condições de melhorar ainda mais suas mensagens.

RELAÇÃO ENTRE HOMILÉTICA E A HERMENÊUTICA

      Enquanto a hermenêutica é a ciência e a arte de interpretar, a Homilética é a ciência e a técnica de comunicar ou expor a mensagem bíblica. A palavra Homilética vem do grego HOMILIA, que significa persuasão, falar, etc. Assim sendo, muitos definem a Homilética como “A Arte de Pregar”.
      As primeiras teorias acerca da Homilética surgiram entre 345 e 405 d.C. nos escritos de Crisóstomo, pregador da igreja primitiva e também por Agostinho.


OS PROBLEMAS DA HOMILÉTICA
Com certeza, a pregação hoje sofre nas várias igrejas um problema que é notado pelos cristãos:
a) Falta de preparo do pregador. (Pouca espiritualidade e falta de conhecimento da Palavra)
b) Falta de unidade no assunto. (Começar pregando uma coisa e terminar pregando outra)
c) Falta de vivência real do pregador na fé cristã em relação ao que ele prega.

d) Falta de aplicação prática às necessidades da Igreja. (Pregar assuntos que não tem nada a ver com os problemas pelos quais a igreja passa)
RELAÇÃO DIVINO-HUMANA NA HOMILÉTICA

      Deus é o autor e inspirador da mensagem; o pregador é o veículo usado para transmitir o recado divino, e o ouvinte é o alvo a ser alcançado. Sendo assim, podemos expressar este relacionamento na seguinte ordem:
O QUE O PREGADOR DEVE CONSIDERAR SOBRE A MENSAGEM
a) É o Espírito Santo que convence o pecador e não a lógica do pregador.

b) As ilustrações são importantes, mas nunca substituirão a Palavra de Deus.

c) A arte e a técnica não substituem a inspiração divina.
A HISTÓRIA DA PREGAÇÃO
      Após o exílio na Babilônia foi que a homilia primitiva começou a desenvolver-se, por ocasião de um novo aspecto na vida judaica: A pregação feita em público com a leitura das Escrituras e explanação da mesma, por volta de 445-425 a.C. (Ne 13:1-3).
      Os gregos entre 500-300 a.C. desenvolveram a retórica com os grandes filósofos: Platão, Sócrates e Aristóteles. Os romanos influenciados pelos gregos aperfeiçoaram a retórica em forma de oratória. Jesus foi o maior exemplo de pregação pública nos dias dos tempos romanos.
ASPECTOS DA PREGAÇÃO DE JESUS
a) Falou por parábolas (Mt 13:34)
b) Explicou as Escrituras (Lc 4:1 6-21)

c) Repreendeu o sistema pecaminoso da época (Jo 8:43-47)

d) Transformou a palavra em ação, com poder (Mc 2:9-12)

e) Profetizou sobre si mesmo (Jo 2:19)

f) Profetizou sobre os fins dos tempos (Mt 24:4-13)
DETALHES QUE DEVEM SER CORRIGIDOS QUANDO SE ESTÁ NO PÚLPITO
a) Não se deve gesticular demasiadamente o tempo todo;
b) Evitar coçar-se (Faça-o de modo discreto a não chamar a atenção);
c) Não ficar de boca aberta;

d) Os botões da roupa devem estar todos abotoados (a não ser o blazer com botões no meio, que pode ser usado aberto);
e) Não passar as mãos nos cabelos o tempo todo;
f) Não esfregar as mãos na roupa;
g) Evitar repetições o tempo todo de palavras tais como: “Né”, “Realmente”, “Hã”, “Aleluia”, etc;
h) Parar a mensagem para se dirigir a alguém no auditório fora do aspecto da mensagem;
i) Evitar as “gracinhas” no púlpito;
j) Não falar além do tempo normal (Geralmente 30 minutos, é um tempo ideal em uma reunião normal de 1 hora e meia de duração, para se poder ficar a vontade para usar o restante do tempo com relação ao apelo ou convite às pessoas para virem à frente, orar por elas e finalizar o culto, porém, pode haver exceções com relação ao tempo – não se pode ser taxativo quanto a este aspecto da homilética).
QUANTO AO PREGADOR
      É muito importante que o pregador conquiste o público com a sua mensagem, e as pessoas vibrem com a sua experiência e autoridade. Qual o motivo do fracasso de certos pregadores em nossas igrejas? Por que pregam mensagens tão cansativas e desinteressantes? Isto é algo simples de responder: Pregam ao pé da letra que não devemos nos preocupar com o quê havemos de pregar, pois o Espírito Santo será com a nossa boca, e ao chegarem ao púlpito entregam “qualquer coisa”. O pregador tem que ter em mente que o público que se prontifica em ir a igreja ouvir a mensagem de Deus, não merece ouvir coisa cansativa e desinteressante. O pregador é o veículo chave do anúncio da Palavra de Deus, portanto, para ser eficiente no ministério da Palavra, precisa estar envolvido com os seguintes fatores:
a) Consagrado à Oração
      O pregador precisa ter uma vida de oração para que possa transmitir o recado divino inspiradamente. O sucesso da pregação depende da intensidade da inspiração e das palavras do pregador. O fracasso de uma mensagem pode, entre muitos motivos, ser atribuído a falta de uma vida de oração por parte do pregador. Se tiver uma vida vazia de oração, sua mensagem também será vazia de vida. O requisito ORAÇÃO é o primeiro dos fatores importantes que o pregador vai precisar para o êxito da sua mensagem.
b) Consagrado à Igreja
      Jamais se deve dar oportunidade para usar da palavra àqueles Irmãos que quase nunca vão a Igreja. Se tais irmãos se acham no direito de não ir sempre à igreja, a igreja também tem o direito de não permiti-los ter o privilégio de pregar no templo de Deus. O altar é santo e é necessário que todos os que vão usar da Palavra estejam conscientes disto e tenham grande amor pela Igreja de Deus. Para a segurança emocional do pregador é necessário que ele esteja bem familiarizado com o tipo de ambiente que irá ouvi-lo.
Um pregador consagrado às atividades da igreja tem melhor condição emocional e psicológica para estar diante do público sem transparecer medo, nervosismo, insegurança, etc. Todo pregador consciente de sua função não ignora este importante fator.


c) Consagrado à Palavra
     
O pregador da Palavra de Deus tem por finalidade anunciar as verdades divinas, e somente o poderá fazê-lo se tiver conhecimento destas verdades. Quanto maior o conhecimento bíblico, mais autoridade terá ao falar das coisas dos céus. O conhecimento profundo da Palavra de Deus é uma segurança indispensável para se construir um excelente sermão. O pregador tem que ter em mente que o público precisa ficar encantado com o conteúdo da mensagem da Bíblia, e para isto, nada melhor do que exposições profundas das Escrituras. Temos que anunciar a Cristo como único salvador do mundo, temos por obrigação de conhecer sua vida, o que fez, o que ainda faz, o que ele quer, quais são suas promessas, e a sua relação com a vida e a morte. A Bíblia tem multas promessas para o homem, e, conhecer tais fatos é dever obrigatório de todo àquele que se dedica a falar do plano de Deus para a salvação do pecador.
QUANTO AO CONHECIMENTO INTELECTUAL DO PREGADOR
      “Quem lê mais tem sempre algo a falar a quem lê menos”, diz um ditado popular. Na igreja encontramos pessoas de diversos níveis de cultura. Algumas com uma grande capacidade intelectual, outras com um conhecimento médio e outras com um nível intelectual pequeno. Portanto, eis a razão pela qual todo pregador tem que estar à altura do nível intelectual daqueles que irão ouvi-lo. Todo pregador precisa que seu público lhe dê crédito como orador, e, quando o pregador demonstra ter uma excelente cultura, ele obtém o respeito de seus ouvintes, e suas mensagens sempre serão interessantes. Nunca é demais possuir conhecimento geral daquilo que vai pela ciência, história, filosofia, etc. Um sermão para ser rico em conteúdo depende da intelectualidade do pregador. Um pregador culto terá mais autoridade ao falar em público. Isto não deve ser privilégio somente de alguns pastores, mas, de qualquer pregador interessado em melhorar a qualidade de suas mensagens. Quanto maior o conhecimento do pregador, maior será a bagagem para o Espírito Santo usar. A segurança intelectual do pregador é evidenciada das seguintes fontes de conhecimento:

1. Conhecimento Bíblico

2. Conhecimento Histórico

3. Conhecimento Científico

4. Conhecimento Filosófico

5. Experiências Pessoais

Conhecimento Bíblico

      Já vimos anteriormente a importância do conhecimento bíblico quando estudamos a importância do pregador ser consagrado a Palavra.

Conhecimento Histórico

      É importante que o pregador saiba em que data foram escritos os livros bíblicos, e para quem eram destinados, situando-se também nos panoramas históricos, social, econômico e religioso da época dos seus autores. É muito importante que o pregador conheça o desenvolvimento da história através dos séculos e a sua relação com o cristianismo. Mil e uma ilustrações podem ser adquiridas com os fatos relacionados com a igreja e com os grandes cristãos da antigüidade. A história está cheia de curiosidades que poderão ser contadas pelo pregador. Com tais fatos, a mensagem cristã torna-se mais rica em conteúdo, despertando o interesse e a admiração do público. Um fato incontestável é que um público admirado com a pregação tende a ceder mais facilmente aos apelos do pregador.



Conhecimento Cientifico

      Conhecer algo da ciência, comparando sempre com as verdades bíblicas, é algo muito bom, pois muitas das vezes, as descobertas científicas vêm sustentar aquilo que a Bíblia vem afirmando há milênios. Expor algo da ciência também torna uma mensagem bem interessante e atrai muito, a atenção do público. Muitas pessoas têm chegado a conversão através das verdades da Bíblia confrontadas com a ciência. Um bom pregador não ignora este fato.

Conhecimento Filosófico

      O público vibra e considera interessante quando o pregador sustenta uma verdade bíblica com uma citação de algum importante Filósofo. Conhecer o pensamento dos muitos pensadores acerca da vida e da morte; do bem e do mal, é algo fascinante. Muitas das vezes os absurdos e as verdades da Filosofia ajudam a ilustrar de forma maravilhosa um sermão.



Experiências Pessoais

      A vida cristã é cheia de experiências maravilhosas com Deus. Tais experiências ocorrem tanto conosco, como também com algum outro irmão verdadeiramente servo de Deus. Assim, o testemunho destes fatos faz com que sempre se tenha algo de edificante para uma boa mensagem. O sentimento do público é ativado quando o pregador expõe suas vivências pessoais ou de outrem. É multo importante tocar o instinto emocional dos ouvintes. Quando isto ocorre, a mensagem será sempre lembrada. O pregador deve usar desta arma poderosa para as mensagens principalmente evangelísticas. Entretanto, se a mensagem é doutrinária, e o pregador tem algo de sua vida para ilustrar com relação à fé cristã, deverá fazê-lo com toda a autoridade. Este recurso produz um maior número de conversões ou de conserto de vida cristã ao final da mensagem.

OBS: Mesmo que o pregador tem todo o recurso técnico e intelectual, jamais poderá deixar de lado o fator mais importante de todos: A inspiração do Espírito Santo. Nunca se deve esquecer que, a obra é de Deus, a Palavra é a Palavra de Deus, o interesse em salvar o público é de Deus, portanto, seja qual for o recurso que o pregador irá usar, sua mensagem e seus argumentos são sempre para levar o ouvinte a crer na Palavra de Deus e em suas maravilhosas promessas.

OBJETIVIDADE DO SERMÃO
      Uma boa mensagem é objetiva desde o começo até o fim, ou seja, um bom sermão obedece a um tema desde a introdução até a conclusão. Podemos esboçar esta objetividade com a seguinte ilustração: Certa senhora possui um passarinho de estimação e um gato travesso está preste a pegá-lo. Seu filho vê a cena e lhe transmite o fato com as seguintes palavras: “Mamãe, um gato pulou em cima da janela e vai pegar o passarinho na gaiola!” Vejamos a eficiência da expressão do menino:

1. Atraiu a atenção da mãe para aquilo que estava falando.

2. Levou a mãe a tomar uma atitude (No caso, em defesa do pássaro).

3. Falou pouco, mas falou objetivamente.

      Ser objetivo, atrair a atenção dos ouvintes e levá-los a tomar uma posição com relação ao propósito da mensagem, é essencial a todo bom pregador. Um sermão objetivo, bem dividido e bem preparado, ajuda tanto ao pregador quanto ao público. As melhores mensagens nunca são esquecidas. Tem pessoas que lembram de mensagens que foram pregadas há vários anos atrás. Estas mensagens de alguma forma ou de outra, lhes atraíram a atenção.
      Todo pregador que se preza não sobe no púlpito sem um pedaço de papel com suas anotações para serem lembradas no momento certo. Neste papel deve constar toda a divisão do sermão, ao qual chamamos de esboço. Geralmente, um esboço de mensagem consta do seguinte:

TÍTULO
(Texto)
INTRODUÇÃO

PROPOSIÇÃO
Sentença Interrogativa
Sentença de Transição
I. PRIMEIRO SUBTÍTULO
1. Primeira subdivisão
2. Segunda subdivisão

Sentença de Transição
II. SEGUNDO SUBTÍTULO
1. Primeira subdivisão
2. Segunda subdivisão

Sentença de Transição
III. TERCEIRO SUBTÍTULO
1. Primeira subdivisão
2. Segunda subdivisão

Sentença de Transição
CONCLUSÃO
      OBS.: A quantidade de SUBTÍTULOS vai depender exclusivamente da mensagem do pregador, pois uma mensagem pode ter tanto um subtítulo, quanto vários (dois, três, quatro, etc).

TÍTULO
O pregador não deve se preocupar com o título no início do preparo de seu sermão, pois geralmente o título, assim como a introdução, é um dos últimos itens a ser preparado.
CARACTERÍSTICAS DO TÍTULO
1. O título deve ser interessante e atraente a fim de despertar a atenção dos ouvintes. Para ser interessante ele deve relacionar-se as situações específicas e às necessidades das pessoas que ouvem o sermão.

2. O título deve ter relação com o tema do sermão ou com o texto bíblico.

3. O título deve ser decente e digno. Devem ser evitados títulos rudes que ofendem e causam apatia.

4. O título deve ser preferencialmente breve.

5. O título pode ser uma citação breve de um texto bíblico.

      Uma vez com o texto na mão, é evidente que se terá de falar sobre um determinado assunto, e, se já sabemos sobre o quê vamos falar, então é necessário que se dê um título ao assunto proposto. O público precisa saber sobre o quê vai ouvir. O fato de se dar um título a mensagem, ajuda ao pregador a não se perder na pregação, pois, vira e volta, ele pode citar o título e voltar ao assunto que começou, mantendo assim também os ouvintes com o pensamento fixo em sobre o quê está voltada à mensagem. O título faz o público obedecer logo de início a linha de pensamento do pregador, e facilita a compreensão para se entender aonde o pregador quer chegar.
      O título pode ser extraído das próprias palavras do texto ou simplesmente ser inspirado nele. Exemplo: em João 11:15 há um título sugestivo nas próprias palavras do texto: “PARA QUE POSSAIS CRER”. A mensagem aqui poderia ser abordada com os seguintes tópicos:

TÍTULO: PARA QUE POSSAIS CRER (Jo 11:15)

I) Devido o testemunho de Jesus

II) Devido o testemunho do cumprimento das Escrituras

III) Devido o testemunho da igreja em todos os tempos

      Em Mt 28:7 encontramos a expressão “IDE, POIS DEPRESSA”, que sugere um ótimo tema. A mensagem aqui poderia apresentar o aspecto de que devemos anunciar o Evangelho porque o mundo, para ser salvo, depende de ouvir a verdade, e enquanto não ouve, vai sucumbindo em pecados, não estando preparado para o dia do juízo. Observamos então que o tema pode ser tirado das próprias palavras do texto, porém, podemos também criar um tema para o texto com as nossas próprias palavras e criatividade.
Exemplo: Na passagem de Mateus 27:20-26, lemos que o povo tinha que se decidir pela libertação de Jesus Cristo ou Barrabás, e acabou optando pela libertação do criminoso. Em vez de extrairmos o tema das palavras contidas no texto, poderíamos criar o seguinte título para um sermão bem interessante: “A ESCOLHA DAS TREVAS”. Traríamos ao público uma profunda mensagem sobre a escolha errada que muitos ainda estão fazendo.

TEXTO
      É normal vermos pregadores lerem um texto com uma infinidade de versículos (um texto deste tamanho), e pregar sobre tantos assuntos diferentes, que após variar tanto o rumo do assunto em que começou a mensagem, que nem ele e nem o público sabem, no final das contas, aonde se quis chegar com o texto e com a pregação. Uma pregação cheia de variações de assuntos não deixa o público captar uma linha de pensamento dentro da mensagem. O erro acima é o de querer um texto grande com suas variedades de assuntos. Outro tipo de erro comum é aquele cometido por certo pregador que leu os trinta e seis versículos do capítulo três do Evangelho de João, e em seguida disse: “Agora, meus irmãos, vamos falar sobre João 3:16". O quê ocasionou tal pregador? Simplesmente gastou ou perdeu tempo. Cansou o público e não aproveitou quase nada do que leu. O quê seria correto fazer? Ora, se o quê ele iria pregar estava contido em João 3:16, então deveria ter ignorado os outros trinta e cinco versículos. Naturalmente, existem mensagens que estão contidas em textos com vários versículos, tais como as parábolas ou outras passagens semelhantes. O pregador deve então ler somente o necessário aonde irá basear sua mensagem, obviamente, conhecendo o contexto da passagem (as partes antes e depois dos versículos que escolheu para pregar).
INTRODUÇÃO
      A introdução, também chamada de exórdio, deve também ser elaborada por último, como acontece com o título. Deve ficar claro que a introdução não é o mesmo que as preliminares que os pregadores costumam proclamar. As preliminares consistem de observações gerais que não se relacionam com o sermão. Geralmente é uma apresentação do pregador ou um testemunho para que este seja conhecido do povo.
      A introdução é o processo pelo qual o pregador procura conduzir a mente dos ouvintes para o tema de sua mensagem. Na introdução o pregador procura prender a atenção dos ouvintes acerca do tema que pretende proclamar.
1. CARACTERÍSTICAS DA INTRODUÇÃO
1. Deve despertar o interesse dos ouvintes.

2. Deve ser breve.

      Esta parte é bem simples, mas também exige arte e técnica por parte do pregador. A introdução se resume em falar em poucas palavras sobre o que irá tratar a mensagem. O pregador precisa logo de início ganhar a atenção do público, e para isso, nada melhor do que começar a mensagem com uma boa introdução. A introdução poderá ser feita de duas maneiras básicas:

a) Pode-se começar um sermão com uma ilustração extraída da história, da ciência, da experiência pessoal do pregador ou de qualquer outra fonte.

b) Pode-se começar um sermão com um resumo dos tópicos, quando não se tem uma ilustração apropriada como introdução.

      Um começo bem interessante na mensagem faz o pregador ser eficaz logo de início. Porém, o que chamamos, de interessante na introdução do sermão, é uma ilustração que tenha estreita relação com o tema. Quando se usa uma ilustração para começar uma mensagem, esta ilustração terá que enfatizar o tema sobre o qual irá girar a mensagem.

Exemplos de introdução com ilustrações:

1) Certo pregador começou assim sua mensagem: “O Imperador Teodósio, por ocasião de uma anistia política, determinou que muitos presos fossem libertados. Tendo assim, aberto os cárceres, disse: ‘E agora, provera Deus que eu pudesse abrir todos os túmulos e dar vida aos mortos’. Irmãos, aquilo que era impossível para o Imperador Teodósio não o é, para Jesus, que disse que a terra e o mar dariam seus mortos no último dia. Todos pelo Seu poder serão ressuscitados, uns para condenação eterna, e outros para a vida eterna. Este é nosso tema hoje: A ressurreição em Cristo Jesus.”

2) Um pregador fez esta introdução à sua mensagem: “Certo homem era encarregado de todas as noites acender determinado farol para que os navegantes que por ali passassem pudessem ver os grandes recifes, e assim se desviar deles. Uma bela noite encontrava-se embriagado e dormiu se esquecendo da importância que era manter aquele farol aceso durante as noites. O resultado trágico foi visto pela manhã: Os vários corpos que boiavam mortos devido ao choque entre o pequeno navio que por ali passava na noite anterior e os grandes recifes existentes ali. Este fato ocorrera devido a luz do farol não ter brilhado naquela noite. Um poeta cristão, sobrevivente daquele naufrágio, escreveu as linhas do conhecido hino: “Resplandeçam vossas luzes através do escuro mar” – Irmãos, somos encarregados de brilhar para o mundo, pois nas trevas do pecado muitas almas estão perecendo. Jesus disse: “Vós sois a luz do mundo”, e este é o nosso tema hoje.”
PROPOSIÇÃO OU TEMA
      Proposição é uma declaração positiva do assunto a ser proclamado. É a afirmação de uma verdade bíblica, eterna que tem aplicação universal.
     
      A proposição também é chamada de “tese”, “tema”, “idéia homilética”.

      Deve-se atentar para o fato de que assunto e tema não são a mesma coisa. O assunto é algo mais genérico, enquanto que o tema é mais específico. Um assunto, por exemplo, poderia ser a “Esperança”, e vários temas poderiam ser derivados deste assunto: “A Esperança do Crente”, “A Esperança do Mundo”, etc...
      Uma proposição, para ser completa deve possuir um “sujeito” e um “complemento”. Para descobrir o sujeito e o complemento da passagem bíblica, convém aplicar as interrogativas “quem”, “o que”, “por que”, “como”, “quando” e “onde”.
      O texto de Gálatas 3:13 nos servirá de exemplo: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”. Fazendo a pergunta “sobre o que fala este texto?”, descobriremos o sujeito da sentença, ou seja, “a maldição da Lei”. O complemento é tudo aquilo que a passagem relata acerca da maldição da Lei, isto é, que ela foi realizada quando Cristo a tomou sobre si, sendo pendurado no madeiro. Uma vez tendo descoberto o sujeito e o complemento, podemos formular a idéia exegética do texto: “Nossa redenção da maldição da Lei foi realizada por Cristo, o qual recebeu a maldição por nós”.
      A proposição deve preferencialmente estar na afirmativa. A frase “Devemos honrar a Cristo obedecendo aos Seus mandamentos” é melhor do que “Não devemos desonrar a Cristo desobedecendo aos seus mandamentos”.
      A proposição difere da idéia exegética. A idéia exegética é a afirmativa de uma única sentença; é a verdade principal da passagem, enquanto que a proposição é a verdade espiritual ou princípio eterno, transmitido por toda a passagem.
      Tomemos como exemplo a passagem de Marcos 16:1-4: “Ora, passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo. E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro muito cedo, ao levantar do sol. E diziam umas às outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro? Mas, levantando os olhos, notaram que a pedra, que era muito grande, já estava revolvida”. A idéia exegética desta passagem é: “...as mulheres, a caminho do túmulo para ungir a Jesus, preocupavam se com um problema grande demais para elas, porém já resolvido antes de elas terem de enfrentá-lo”. Esta idéia exegética nos leva à seguinte tese: “Deus é maior do que qualquer problema que tenhamos de enfrentar”.
      Note que a idéia exegética é uma verdade fundamental da sentença, mas a tese extraída da idéia exegética é uma verdade eterna e universal, aplicável a tudo e a todos.
A proposição deve ser formulada no tempo presente; não deve incluir referências geográficas ou históricas; não deve fazer uso de nomes próprios, exceto os nomes divinos. Uma tese com algumas dessas características ficariam muito embaraçosas: “Assim como o Senhor chamou a Abrão de Ur dos Caldeus para ir para uma terra que desconhecida, da mesma forma Ele chama alguns de nós para irmos pregar aos estrangeiros”.


SENTENÇA INTERROGATIVA E SENTENÇA DE TRANSIÇÃO
      A proposição deve ser ligada ao sermão através de uma pergunta, e esta por sua vez através de uma sentença de transição. Para ligar a proposição ao sermão, usa-se qualquer um dos cinco advérbios interrogativos: “por que”, “como”, “o que”, “quando” e “onde”. Vejamos alguns exemplos: Na proposição “A Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa” podemos incluir a seguinte interrogativa: “Quais são os motivos que nos levam a considerar que a Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa?” (ou Como se faz da Vida Cristã uma Vida Vitoriosa?). Este tema poderia nos levar a uma resposta baseada em Romanos: “Por que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” ou “Por que em todas essas coisas somos mais do que vencedores”.
     
      A sentença de transição faz a transição entre a interrogativa e o corpo do sermão. A transição para a interrogativa acima, por exemplo, poderia ser: “Vejamos cinco motivos pelos quais podemos afirmar que a Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa”. A palavra “motivo” é a palavra-chave da transição, pois toda transição deve possuir uma palavra-chave que caracterize os pontos principais do sermão. Vários são os motivos que classificam a vida cristã como sendo uma vida vitoriosa, e em cada divisão do sermão deve expressar claramente esses motivos. As sentenças de Transição que ligam as divisões do sermão devem repetir a palavra-chave. Por exemplo: “Vejamos qual é o primeiro motivo pelo qual devemos afirmar que a vida cristã é uma Vida Vitoriosa”. A estrutura homilética seria a seguinte:
PROPOSIÇÃO: A Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa

INTERROGATIVA: Quais são os motivos que nos levam a considerar que a Vida Cristã é uma Vida
Vitoriosa?

TRANSIÇÃO: O texto nos apresenta cinco motivos pelo qual devemos afirmar que a vida cristã é uma Vida Vitoriosa. Vejamos o primeiro motivo:

I. PRIMEIRA DIVISÃO: “Por que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus...”

TRANSIÇÃO: Vejamos o segundo motivo...

II. SEGUNDA DIVISÃO: “Por que em todas essas coisas somos mais do que vencedores”.



LISTA DE PALAVRAS CHAVES
      Alvos, argumentos, aspectos, atitudes, causas, efeitos, evidências, fatores, fatos, fontes, lições, manifestações, marcas, meios, métodos, motivos, necessidades, objetivos, ocasiões, passos, provas, verdades, virtudes, etc. (note que as palavras-chaves estão no plural).

TÓPICOS OU DIVISÕES PRINCIPAIS
As Divisões são: o corpo do sermão. São as verdades espirituais divididas em partes seqüenciais, distintas, mas interligadas à verdade principal que é a proposição.
CARACTERÍSTICAS DAS DIVISÕES PRINCIPAIS
1. Devem ter unidade de pensamento.
2. Elas ajudam o pregador a lembrar-se dos pontos principais do sermão.
3. Elas ajudam os ouvintes a recordarem-se dos aspectos principais do sermão.
4. Elas devem ser distintas umas das outras.
5. Elas devem originar-se da proposição e desenvolvê-la progressivamente até o clímax do sermão.
6. Elas devem ser uniformes e simétricas.
7. Cada divisão deve Ter apenas uma idéia ou ensino.
8. O número das divisões deve, sempre que puder, ser o menor possível.

Exemplo:
TÍTULO: O DISCIPULADO E SUAS NECESSIDADES (Cl 1:28)
      I) Necessidade do Amor (SUBTÍTULO)
     
II) Necessidade da alimentação (SUBTÍTULO)

      III) Necessidade de maturidade (SUBTÍTULO)

TÍTULO: VESTIDURAS DIFERENTES (Sf 1:8)
      I) Caracterizada por uma fé diferente (SUBTÍTULO)
     
II) Caracterizada por um viver diferente (SUBTÍTULO)
     
III) Caracterizada por uma esperança diferente (SUBTÍTULO)


QUANTO AS ILUSTRAÇÕES
      Já comentamos anteriormente que podemos extrair ilustrações da História, ciência, experiências pessoais, etc. Entretanto, o pregador não deve transformar-se num mero contador de estórias. As ilustrações não devem, de maneira nenhuma, por mais interessantes que sejam, substituir a Palavra de Deus. Não se deve, em hipótese nenhuma, ocupar o tempo todo da mensagem com ilustrações. Sabemos que são importantes e necessárias, mas o que o público precisa ouvir é a Palavra de Deus. Se o pregador vai dividir o seu sermão em três tópicos, e costuma usar uma média de meia hora para a sua pregação, possivelmente uma ilustração rápida para cada tópico será o suficiente. Isto não quer dizer que todo pregador seja obrigado a contar três ilustrações quando for pregar um sermão de três tópicos. Muitas das vezes o pregador poderá usar somente uma ou duas ilustrações. Existe também o aspecto de se começar a mensagem com uma ilustração, que deverá enfatizar bem o tema, e durante todo o sermão, em dado momento o pregador volta a mesma ilustração, contando-a por partes, dando a sua conclusão exatamente no momento do fechamento da mensagem. Este aspecto de se contar somente uma ilustração por partes, ao longo do sermão, exige uma maior arte e técnica por parte do pregador, mas com a prática, o pregador adquire a habilidade necessária para isso.
      Outro fator importante é não ficar “enchendo lingüiça” na ora de contar as ilustrações. As ilustrações, em geral, devem ser contadas em poucas palavras, rapidamente, porque causa um maior efeito assim.
CONCLUSÃO

      Começar e terminar bem um sermão é dever de todos aqueles que são chamados para anunciar as boas novas salvação. A conclusão é tecnicamente um apelo ao tema. O pregador começa um sermão com um tema, e tem que terminar em cima do mesmo assunto, ou tema. A conclusão é exatamente aonde o pregador quis chegar com o tema. O pregador tem que levar o público a tomar uma posição ao final da mensagem, e este apelo é feito dentro do assunto ou tema, o qual transcorreu a pregação. Um sermão bem estruturado tem começo, meio e fim, obedecendo a uma lógica durante todo o tempo.
      A conclusão é o clímax do sermão. Na conclusão o pregador deve chegar ao seu alvo que é atingir seus ouvintes e persuadi-los a praticarem e aplicarem em suas vidas a mensagem que ouviram. É a sessão do sermão onde tudo o que foi dito anteriormente é reafirmado com mais intensidade e vigor, a fim de produzir maior impacto nos ouvintes.
CARACTERÍSTICAS DA CONCLUSÃO
1. A conclusão não é apenas um anexo da mensagem, é parte dela.
2. Na conclusão não devem ser apresentadas novas idéias, mas apenas ser enfatizado as já expostas anteriormente.
3. A conclusão é a parte mais poderosa do sermão, porque une todas as verdades ensinadas em uma verdade única.
4. A conclusão deve ser breve.
5. A conclusão pode ser uma recapitulação das idéias expostas nas divisões principais.
6. A conclusão pode ser uma ilustração.
7. A conclusão poder ser a aplicação da mensagem aos aspectos práticos da vida.
8. A conclusão pode ser um apelo.
CLASSIFICAÇÃO DOS SERMÕES
Existem quatro tipos básicos de sermões que podem ser classificados em:
a) Sermão Temático
b) Sermão Textual
c) Sermão Expositivo
d) Sermão Biográfico
O sermão é diferente da homilia ou da preleção exegética.
A homilia é a exposição seqüencial da passagem, versículo por versículo, apresentando-se apenas a idéia exegética que cada versículo contém. É um comentário sobre uma passagem bíblica, curta ou longa, explicada e aplicada versículo por versículo, ou frase por frase. A homilia não possui estrutura homilética.

A preleção exegética é um comentário detalhado de um texto, com ou sem ordem lógica ou aplicação prática. A exegese interpreta o significado oculto da passagem, mas a exposição apresenta ao público esse significado.
SERMÃO TEMÁTICO
É aquele cujas divisões principais derivam do tema, e não diretamente do texto bíblico. Isso não quer dizer que o tema não seja bíblico, mas sim que o sermão gira em torno do tema e não de uma passagem específica. Porém para que o sermão temático seja bíblico, o tema deve ser extraído da Bíblia. Um tema, por exemplo, poderia ser a fé evangélica. O sermão, então não se basearia em apenas um texto bíblico, mas em diversos versículos da Bíblia, pois a palavra fé se prolifera por toda a Escritura. O sermão baseado neste tema poderia expor a fé dos patriarcas, a fé dos mártires, a fé dos apóstolos, e assim por diante.

TÍTULO: O JOVEM NOS DIAS DE HOJE (EcI 12:1)

I) É influenciado pela tecnologia moderna

II) É influenciado pelas filosofias modernas

III) É influenciado pela religiosidade moderna

TÍTULO: AS RESPONSABILIDADES DO CRISTÃO (II Tm 3:14)

I) A responsabilidade com a Palavra

II) A responsabilidade com a Igreja
III) A responsabilidade com o testemunho

TÍTULO: FAZER DISCÍPULOS (Mt 28:19)

I) Envolve desejo para buscar o perdido

II) Envolve preparo para buscar o perdido

III) Envolve tempo para buscar o perdido

Muitas mensagens criativas e empolgantes partem de um sermão temático, pois há uma infinidade de temas que poderão ser criados para a mensagem cristã. O sermão temático nos dá a possibilidade de termos sempre “algo novo” para pregar. Existe, no entanto, o perigo das “divagações”, pois o assunto a ser pregado, já que deriva do tema e não do texto bíblico, é possível que o pregador deixe de lado as citações da Bíblia. O pregador que se propõe a pregar um sermão temático, deve atentar para o detalhe mais importante que é citar a Palavra de Deus parar torna o assunto, um sermão bíblico.

O sermão temático também pode ter o seu tema extraído das palavras do próprio versículo bíblico, porém, a exposição do assunto não será uma análise da passagem bíblica, e sim, a discussão irá girar em torno do tema. Exemplo:

TÍTULO: A NOSSA CONSOLAÇÃO TRANSBORDA POR MEIO DE CRISTO (II Co 1:5)

I) Por isso a razão de nossa alegria

II) Por isso a razão de nossa esperança

III) Por isso a razão de nossa vitória

TÍTULO: O VOSSO TEMPO ESTÁ SEMPRE PRESENTE (Jo 7:6)

I) Com relação à igreja: tempo de semear

II) Com relação ao crente afastado: tempo de reconciliação

III) Com relação ao descrente: tempo de decisão

EXEMPLO DE UM ESBOÇO NEGATIVO

TÍTULO: JESUS VIRÁ DO MESMO MODO COMO SUBIU (At 1:11)

I) Jesus virá para condenar o mundo

II) O mundo será condenado no último dia

III) Muitos ficarão sem salvação

IV) A prostituta não foi condenada
CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESBOÇO NEGATIVO:

a) O tema está ótimo.

b) O primeiro tópico está correto, pois está bem relacionado com o tema.

c) O segundo tópico não foi bem estruturado, pois é quase idêntico ao primeiro, e o pregador irá repetir muita coisa já dita antes, no primeiro tópico.

d) Neste terceiro tópico o sermão começará a ficar cansativo, pois será a reprise daquilo que já foi dito nos outros dois anteriores.

c) A quarta e última divisão apresenta um tópico que é mais uma ilustração do que propriamente uma divisão.

Dentro do tema citado para este esboço negativo ou errado, poderíamos criar um excelente sermão com os seguintes tópicos corretamente construídos:

TÍTULO: JESUS VIRÁ DO MODO COMO SUBIU (At 1:11)

I) Virá para condenar o mundo

II) Virá para conceder galardões aos Seus servos

III) Virá para implantar o Seu Reino sobre as nações

O sermão temático é o mais simples e o mais apropriado para inserirmos nele nossa cultura geral sobre a História, Ciência, Filosofia e experiências vividas por nós mesmos ou por terceiros. Uma coisa muito significativa é citarmos sempre as fontes de onde extraímos tais experiências para não deixarmos dúvidas sobre a veracidade dos fatos narrados em nossas pregações. Exemplo:

TÍTULO: CORAGEM PARA TESTEMUNHAR (At 23:11)

I) A luta é santa

II) A luta é árdua

III) A luta compensa

Num esboço como este citado acima, existe a possibilidade de mil e uma ilustrações, principalmente quando entrarmos na discussão do segundo tópico e tentarmos comprovar o porquê da luta ser árdua, citando as experiências vividas no combate ao pecado e a incredulidade. Imaginemos quantas experiências acontecem nas lutas nos campos missionários, que são realmente árduas. Também, ao entrarmos na discussão do terceiro tópico, poderão ser contadas muitas experiências de vitórias sobre o mundo e o pecado, cujos testemunhos demonstram ao público o porquê a luta cristã compensa, valendo a pena ter assim, coragem para testemunhar. As grandes vantagens deste tipo de sermão estão na facilidade da construção do esboço e no aspecto interessante das ilustrações. Porém, cada ilustração deverá provir de fontes verídicas.


SUBDIVISÕES OU SUBTÓPICOS

Quando você constrói o esboço de um sermão temático, geralmente você divide o tema em tópicos, no entanto, estes tópicos poderão ter subtópicos ou subdivisões. Exemplo:

TÍTULO: O DOMÍNIO DO HOMEM (Gn 1:26)

I) COM RELAÇÃO AO MUNDO (SUBTÍTULO)

a) Ele conquista terras (SUBDIVISÃO)

b) Ele cria invenções (SUBDIVISÃO)

c) Ele cria sistemas (SUBDIVISÃO)

lI) COM RELAÇÃO AO PECADO (SUBTÍTULO)

a) Ele é advertido contra o pecado (SUBDIVISÃO)

b) Ele é subjugado pelo pecado (SUBDIVISÃO)

c) Ele é condenado pelo pecado (SUBDIVISÃO)

III) COM RELAÇÃO AO EVANGELHO (SUBTÍTULO)

a) Ele deve dominar o conhecimento da Palavra de Deus (SUBDIVISÃO)

b) Ele deve crer nas promessas da Palavra de Deus (SUBDIVISÃO)

c) Ele deve obedecer a Palavra de Deus (SUBDIVISÃO)

Podemos reparar então que os tópicos são as divisões com relação ao tema e os subtópicos são as divisões com relação aos tópicos. Dividimos então o tema em tópicos, e dividimos os tópicos em subtópicos.
As subdivisões não precisam ser necessariamente em número igual para todos os tópicos. É possível que um primeiro tópico tenha três subdivisões e os demais tenham apenas duas ou até mesmo, mais subdivisões e vice-versa.
Para o estudo bíblico, o sermão com tópicos e subtópicos se toma excelente para uma exposição completa do assunto. Durante um estudo bíblico, dentro do aspecto de um sermão com alguns tópicos e subtópicos, o uso de um quadro ou um retroprojetor, seria um fator de grande importância para que o público acompanhe as aplicações das divisões e subdivisões do sermão. Naturalmente é possível que os números de subdivisões não sejam os mesmos para cada tópico.

TÍTULO: ORAI SEM CESSAR (1 Ts 5:1 7)

I) O SIGNIFICADO DA ORAÇÃO:

a) É dependência do homem para com Deus

b) É sintonia entre o homem e Deus

c) É adoração do Homem a Deus

II) OS MOTIVOS DA ORAÇÃO:

a) A oração por si mesmo

b) A oração pelas necessidades espirituais da Igreja

c) A oração pelos enfermos

d) A oração pelos incrédulos

III) AS POSSIBILIDADES DAS ORAÇÕES:

a) É possível em qualquer lugar

b) É possível a qualquer hora

c) É possível a qualquer pessoa

TÍTULO: OURO REFINADO PELO FOGO (Ap 3:18)

I) EVIDENCIADO NAS PROMESSAS MATERIAIS

a) Promessa de cura (Jr 33:6; Jr 30:17; Is 53:4)

b) Promessa de sustento (Is 41:10; Is 41:13)

c) Promessa de prosperidade (Is 58:11; Js 1:8)

lI) EVIDENCIADO NAS PROMESSAS ESPIRITUAIS

a) Promessa de ajuda angelical (Hb 1:13,14; SI 34:7)

b) Promessa de libertação (Mc 16:17; Jo 8:32)

c) Promessa de sinais (JI 2:28)

d) Promessa de derramamento do Espírito (JI 2:29)

e) Promessa de paz (Is 32:18; Jo 14:27)

f) Promessa de salvação (Jo 3:16,17)













SERMÃO TEXTUAL

O sermão textual é aquele cujas divisões principais derivam de um texto bíblico, constituído de uma porção mais ou menos breve das Escrituras. O tema é extraído do próprio texto, e por isso o esboço das divisões deve manter-se estritamente dentro dos limites do texto. Exemplo:

TÍTULO: A CARNE E O ESPÍRITO (Rm 8:13)

I) UM ALERTA DIVINO: “...se viverdes segundo a carne...”

II) UMA CONSEQÜÊNCIA GLORIOSA: “Certamente morrereis...”

III) UM APELO DIVINO: “Se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo...”

IV) UM RESULTADO GLORIOSO: “...certamente vivereis.”

TÍTULO: A DETERMINAÇÃO DE ESDRAS (Ed 7:10)

I) ESTAVA DISPOSTO A CONHECER A PALAVRA DE DEUS: “Esdras tinha disposto no coração buscar a Lei do Senhor...”

II) ESTAVA DISPOSTO A OBEDECER A PALAVRA DE DEUS: “...e para a cumprir...”

III) ESTAVA DISPOSTO A ENSiNAR A PALAVRA DE DEUS: “...e para ensinar em Israel Seus estatutos e juízos.”

OBS: Repare que nos exemplos citados as divisões são uma análise das próprias palavras do texto.
Assim, de modo diferente do sermão temático, no sermão textual o pregador se prende o tempo todo ao texto. Em muitos casos, existem passagens na Bíblia em que o próprio texto nos fornece uma perfeita divisão, isto é, as divisões são as próprias palavras do texto. Exemplo:

TÍTULO: O QUE SÃO OS CRISTÃOS DIANTE DE DEUS? (1 Pe 2:9)

I) Raça eleita

II) Sacerdócio real

III) Nação santa

IV) Povo de propriedade exclusiva de Deus

CARACTERÍSTICAS DO SERMÃO TEXTUAL
1. Deve girar em torno de uma única idéia principal da passagem, e as divisões principais devem desenvolver essa idéia.

2. As divisões podem consistir em verdades sugeridas pelo texto.

3. As divisões devem, preferencialmente e quando possível, vir em seqüência lógica e cronológica.

4. As próprias palavras do texto podem formar as divisões principais do sermão, desde que elas se refiram à idéia principal.

VANTAGENS DO SERMÃO TEXTUAL

• É Profundamente bíblico.

• Exige um conhecimento maior das Escrituras.

• Por não ser extraído de um texto grande, podemos usar ilustrações.

• Podemos usar este tipo de sermão para o doutrinamento bíblico.








SERMÃO EXPOSITIVO

É aquele cujas divisões principais se derivam do texto, e consistem em idéias progressivas que giram em torno de uma idéia principal. O sermão expositivo, assim como o sermão temático e o textual, gira em torno de um tema, mas na mensagem expositiva o tema é extraído de vários versículos em vez de um único. Por isso mesmo os vários versículos de uma passagem que dão origem ao tema único do sermão devem ser uma unidade expositiva. O sermão expositivo se baseia em uma porção extensa das Escrituras.

Pode ser alguns versículos ou um capítulo inteiro, até mesmo um livro. Exemplo:

TÍTULO: A ORAÇÃO SACERDOTAL DE CRISTO (Jo 17:1-26)

I) OS MOTIVOS DA ORAÇÃO POR SI PRÓPRIO

a) O pedido de glorificação (Vs. 1, 5)

b) O reconhecimento de sua autoridade (V. 2)

c) A definição de vida eterna (V. 3)

d) A missão cumprida (V. 4)

II) OS MOTIVOS DA ORAÇÃO PELOS DISCÍPULOS

a) Os discípulos eram vidas que lhe pertenciam (V. 6)

b) Os discípulos eram conhecedores da Palavra (V. 8)

c) Os discípulos creram no Filho de Deus (V. 8)

d) A proteção amorosa divina (V. 11)

e) Os discípulos não eram do Mundo (V. 14)

f) O ódio do Mundo contra os discípulos (V. 14)

g) A santificação dos discípulos (Vs. 17-19)

h) Os futuros discípulos (V. 20)

i) A união dos discípulos com Deus (Vs. 21-23)

j) Um lugar garantido na glória (V. 24)

k) A continuação da obra (V. 26)

No sermão expositivo, apesar da apresentação de um texto longo, existe uma relação progressiva de idéias contidas na passagem bíblica.

TÍTULO: O SALMO DOS ATRIBUTOS DE DEUS (SI 139)

I) Sua onisciência (Vs. 1-4)

II) Sua onipresença (Vs. 7-9)

III) Sua onipotência (V. 10)

IV) Seu poder criador (Vs. 13, 14)

V) Seu controle sobre a vida (Vs. 15-17)

VI) Seu pensamento inatingível (Vs. 17, 18)

VII) A santidade de Seu nome (V. 20)

VIII) Sua condição para mudar o coração humano (Vs. 23, 24)

Os sermões expositivos, além de doutrinários, dão ótimas mensagens biográficas. Eis alguns temas para mensagens biográficas:

a) Moisés, o libertador.

b) Abraão, o missionário.

c) Jacó, o suplantador.

d) Davi, o homem segundo o coração de Deus.

e) Jesus, o filho de Deus.

f) Pedro, aquele que negou o filho de Deus.

g) Paulo, o perseguidor.

Os sermões expositivos também nos proporcionam ótimas mensagens proféticas. a) Isaías, o profeta messiânico.

b) Jeremias, o profeta chorão.

c) Daniel, o profeta apocalíptico.

d) Jonas, o profeta rebelde.

e) Ageu, o profeta da reconstrução.

Quando pregamos um sermão expositivo, praticamente não existe espaço para as muitas ilustrações que podemos usar, pois praticamente estamos pregando um sermão temático. Ambos os sermões, textual e expositivo, tem tanto o tema como as divisões, extraídos do texto bíblico, sendo possível então, no sermão textual o uso de ilustrações, já que ele é baseado numa pequena porção da Bíblia. No sermão expositivo, visto que é baseado numa porção mais ou menos, extensa da Bíblia, fica praticamente impossibilitado o uso de ilustrações (naturalmente há exceções), não havendo possibilidades para divagações, já que este tipo de mensagem é uma exposição completa do trecho bíblico.

O sermão expositivo é recomendado para o estudo bíblico e a Igreja depende deste tipo de sermão como alimento espiritual para conhecimento das Escrituras e fortalecimento na Palavra.


DIFERENÇA ENTRE SERMÃO EXPOSITIVO E TEXTUAL

No sermão textual as divisões principais oriundas do texto são usadas como uma linha de sugestão, isto é, indicam a tendência do pensamento a ser seguido no sermão, permitindo ao pregador extrair as subdivisões ou idéias de qualquer parte das Escrituras. Já no sermão expositivo o pregador é forçado a extrair todas as subdivisões e, é claro, a divisão principal, da própria passagem que pretende explicar ou expor.










SERMÃO BIOGRÁFICO

É um tipo específico de sermão que tem por objetivo expor a vida de algum personagem bíblico como modelo de fé e exemplo de comportamento.

CONSELHOS PRÁTICOS NO PREPARO DA MENSAGEM

1 - Leia muitas vezes o texto.

2 - Reproduza o texto com as suas próprias palavras.

3 - Observe os contextos imediato e remoto.

4 - Pesquise as circunstâncias histórico-culturais.

5 - Anote particularidades.

6 - Faça o esboço.

7 - Selecione ilustrações.

8 - Determine uma conclusão específica ao assunto proposto.

9 - O pregador deve variar o tom de sua voz ao pregar do púlpito o seu sermão. (Um sermão pregado num mesmo tom de voz (o tempo todo baixo ou o tempo todo alto), leva o ouvido do auditório a cansar-se. A oscilação da tonalidade da voz (Ora baixo, ora alto num mesmo sermão), leva o público a despertar-se de repente, e voltar a atenção de novo para as palavras do pregador).

CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES DO SERMÃO

1. DISCUSSÃO

A discussão é o desenvolvimento das idéias contidas nas divisões do sermão. A fonte principal para a discussão deve ser a Bíblia, mas não é errado o pregador recorrer a outras fontes, desde que sejam confiáveis. Essas fontes podem ser citações de revistas ou jornais, poesias, letras de hinos ou provérbios da sapiência popular. Fontes históricas também são de grande valia para a discussão, conforme a natureza do sermão.

2. ILUSTRAÇÃO

É o processo de explicar algo desconhecido pelo conhecido. É a exposição de um exemplo que torna claro os ensinamentos do sermão.

A ilustração pode ser uma parábola, uma alegoria, um testemunho ou uma história (ou uma estória). Deve ser enfatizado que a ilustração não é a parte mais importante do sermão, mas sim a explanação do texto. A parte mais importante é a interpretação do texto, pois o alvo do sermão é torná-lo conhecido do público, e a ilustração se presta a essa tarefa.

3. APLICAÇÃO

A aplicação é o processo mediante o qual o pregador aplica a verdade espiritual do sermão à vida dos seus ouvintes, a fim de persuadi-los a uma reação favorável à mensagem. Em outras palavras a aplicação é e persuasão das palavras do pregador; é a palavra dirigida ao coração. Na pregação o pregador fala a mente das pessoas, a fim de que meditem nas palavras que estão ouvindo, mas na aplicação o pregador fala ao coração, a fim de que pratiquem as palavras ouvidas. A aplicação é a meditação posta em prática.

4. APELO

O apelo é o processo de requerer do auditório uma resposta positiva acerca do que foi explanado. O apelo é uma invocação feita aos ouvintes para que recebam os ensinamentos expostos na pregação.
Deve ser enfatizado que a própria pregação já em si um apelo. O verdadeiro apelo é feito pelo Espírito Santo. Ele chama e invoca os homens para que ouçam a Sua Palavra, e quando estes se voltam para Ela, demonstram sua fé nas palavras que ouviram. As Escrituras afirmam que a fé vem pelo ouvir da Palavra de Deus, portanto a exposição da Palavra é o apelo que o Espírito Santo dirige aos homens para que ouçam, creiam e a recebam a Palavra em seu coração. Isto não impede, entretanto que se façam apelos à platéia de forma visual, por meio de um levantar de braço ou solicitando ao ouvinte que vá à frente da congregação. Deve-se, no entanto, entender que esses fatos não se constituem na concretização do apelo, e, portanto, deve, este tipo de apelo, ser usado com moderação.

IMPORTANTE: O sermão expositivo é considerado, pelos pregadores mais proeminentes, o melhor tipo de sermão. Ele possui uma série de vantagens sobre os outros tipos. Uma dessas vantagens é que, justamente por se basear em uma porção extensa das Escrituras, é possível obter diversas aplicações de um mesmo texto.

Vejamos como exemplo o texto de Mateus 14:14-21

EXEMPLO 1

Este exemplo enfoca “os atributos de Jesus”

TÍTULO: NOSSO SENHOR SINGULAR

I. A COMPAIXÃO DE JESUS

a) Demonstrada em seu interesse pela multidão (V. 14)

b) Demonstrada em seu serviço à multidão (V. 14)

II. A TERNURA DE JESUS

a) Demonstrada em sua resposta graciosa aos discípulos (Vs. 15, 16)

b) Demonstrada em seu trato paciente com os discípulos (Vs. 17, 18)

III. O PODER DE JESUS

a) Manifesto na alimentação da multidão (Vs. 19-21)

b) Exercido mediante o serviço dos discípulos (Vs. 14-21)


EXEMPLO 2

Este exemplo enfoca a mesma passagem tendo “Cristo como o Supridor de nossas necessidades”

TÍTULO: VEJA DEUS OPERAR

I. CRISTO SE INTERESSA POR NOSSAS NECESSIDADES

a) Tem compaixão de nós em nossas necessidades (Vs. 14-16)

b) Ele nos considera em nossas necessidades quando outros não se importam conosco (Vs. 15, 16)

II. CRISTO, AO SUPRIR NOSSAS NECESSIDADES, NÃO SE RESTRINGE PELAS CIRCUNSTÂNCIAS

a) Ele não se restringe por nossa falta de recursos (Vs. 17, 18)

b) Ele não se restringe por qualquer outra falta (V. 19)

III. CRISTO SUPRE NOSSAS NECESSIDADES

a) Supre nossas necessidades com abundância (V. 20)

b) Provê muito mais do que o suficiente (Vs. 20, 21)



EXEMPLO 3

Este exemplo enfoca a mesma passagem sob o ponto de vista de “nossos problemas”

TÍTULO: RESOLVENDO NOSSOS PROBLEMAS

I. ÀS VEZES NOS CONFRONTAM OS PROBLEMAS

a) Problemas de grandes proporções (Vs. 14, 15)

b) De natureza imediata (V. 15)

c) De solução humana impossível (V. 15)

II. CRISTO É ABUNDANTEMENTE CAPAZ DE SOLUCIONAR NOSSOS PROBLEMAS
a) Sob a condição de que lhe entreguemos nossos recursos limitados (Vs. 16-18)
b) Sob a condição de que lhe obedeçamos sem questionar (Vs. 19-22)



EXEMPLO 4

Este exemplo enfoca “a fé em relação com a necessidade humana”

TÍTULO: RELACIONANDO A FÉ COM A NECESSIDADE HUMANA

I. O DESAFIO DA FÉ
a) O motivo do desafio (Vs. 14, 15)
b) A substância do desafio (Vs. 14, 15)

II. A OBRA DA FÉ
a) O primeiro ato de fé (Vs. 17, 18)
b) O segundo ato de fé (Vs. 19)

III. A RECOMPENSA DA FÉ
a) A bem-aventurança da recompensa (V. 20)
b) A grandeza da recompensa (Vs. 20, 21)











CULTO E MÚSICA

AS BASES ESPIRITUAIS DO CULTO CRISTÃO

Psicólogos e sociólogos debatem a procura da razão porque o homem adora.
A antropologia e a arqueologia descobrem em todas as civilizações a presença da religião e do culto. Supõem ser isto resultado do medo, do instinto gregário, do desconhecimento do futuro etc. Numa coisa todos concordam: o homem é um ser adorador, tem espírito religioso, adora.
Mas, quando afirmamos isto, outra batalha se forma: qual a adoração verdadeira? Existe um lugar, uma fonte, um modo de adorar verdadeiros? Existe adoração falsa?
Era nestas interrogações que a alma da mulher samaritana se debatia. Ela estava presa ao pecado do adultério, presa à confusão religiosa.
Na sua época, a babel religiosa, existia.
Ela confessa: “Nossos pais adoravam neste monte (Samaria), vós (Judeus) dizeis que em Jerusalém é que se deve adorar”. Ela poderia dizer mais: “nós aceitamos somente o Pentateuco como livro sagrado e vós dizeis que os salmos e os profetas também o são”.
Afinal, o que se deve seguir?
Qual a verdadeira religião?
Não poucos de nós passamos pelas mesmas angústias daquela mulher. Mas, graças a Deus que
ela encontrou-se com o Senhor Jesus. E a conversa que teve com o nosso mestre vem respondendo, há
dois milênios, estas interrogações espirituais.
Em sua conversa com a mulher, Jesus apresentou: AS BASES ESPIRITUAIS DO CULTO
CRISTÃO.



NÃO TEM UM LUGAR ADORATIVO

Podemos afirmar que hoje, ligar a verdadeira adoração a algum lugar da terra é superstição. Jesus disse: “A hora vem quando nem neste monte, nem em Jerusalém, adorareis o Pai”. A verdadeira adoração é de um Deus Espírito, e nesta condição limitar a divindade é ir de encontro à Sua eterna e infinita natureza.
Deus não tem um túmulo sagrado, nem uma Aparecida do Norte, nem uma Roma, nem uma Fátima, nem uma Jerusalém. Ele não se prende à rua tal, número tal; não tem lugar, gruta, nem cidade. Nem seu poder, nem sua pessoa se limitam a um pedaço de pau, nem a um ídolo de ouro, prata ou barro. Não é propriedade particular da igreja tal e nem é monopólio de organização nenhuma. Deus é Espírito e Ele por
Jesus Cristo e pelo Santo Espírito, se coloca no interior do homem e aí é adorado, servido, e trabalha esteja este homem no ventre de um peixe, no fundo do mar, pisando no solo da lua, ou presente num templo.
A superstição busca lugar, ídolos, símbolos, amuletos, coisas ungidas, centros peregrinativos, gurus, missionários, bispos e reverendos. Mas o louvor cristão busca adorar em Espírito e em verdade.

NÃO É REFLEXO DO CERIMONIALISMO

Deus é Espírito e quer adoração em Espírito.
O louvor cristão é espiritual. O cerimonialismo visa à “sensação”. Procura “impressionar”. O homem adora a liturgia, o brilho, a festa e as emoções. O cerimonialismo se estabelece num culto rígido de gestos ensaiados ou num culto carismático de danças, palmas e sensações. Mas Jesus afirma que o louvor cristão não se prende a aparatos religiosos. Quando Ele esteve presente na festa da dedicação, no instante da cerimônia do derramamento de água pelos sacerdotes, Ele se pôs de pé em lugar de destaque e proclamou: “Quem tem sede, venha a mim e beba” (João 7:37). Só nEle encontramos a satisfação que o cerimonialismo jamais poderá oferecer.
O louvor verdadeiro não é produto fabricado por gestos sacerdotais ou pastorais, nem nas palavras mecanizadas de orações repetitivas; nem é resultado de frases e gestos exorcizantes ou expressões corporais. É a aproximação da alma na sua simplicidade e que, por meio de Jesus Cristo, pelo Espírito Santo, se chega a Deus e, bebendo da água da vida, encontra satisfação, jamais achada nos “gestos ensaiados ou espontâneos” dos homens.

NÃO VEM DE DEDUÇÕES LÓGICAS

Os samaritanos não aceitavam a plenitude bíblica. Só criam no Pentateuco. Eis aqui o erro deles. Tinham abandonado a Bíblia. A confusão entrara em suas mentes. Jesus mostrou que o louvor é revelado pelo Pai. A adoração verdadeira não é fruto da criatividade, não carece de sanções doutorais, nem precisa de endosso humano. Não tem que ser fruto de conclusão lógica.


TEM QUE SER CRISTOCÊNTRICO

A adoração é um ato divino humano. É o encontro do eterno com o passageiro. Do infinito com o finito. Do Espiritual com o carnal, de Deus com o homem.
No culto, no louvor, Deus e o homem se encontram. Por isso deve haver um mediador Deus-
Homem. Um homem verdadeiro e um Deus verdadeiro devem mediar o louvor. Este perfeito homem, perfeito Deus, é Jesus Cristo. A mulher sabia que, “quando viesse o Messias”, tudo seria solucionado.
Jesus se apresentou como sendo o que estava por vir. Ele mesmo disse: “Ninguém vem ao Pai senão, por mim” (Jo 14.6).
É impossível o louvor sem a mediação de Jesus Cristo. Tentar adorar a Deus sem estar em comunhão com Jesus é condenação assegurada.


TEM QUE SER UNIVERSAL
     
A Bíblia diz que os discípulos voltaram e se admiraram que Jesus estivesse conversando com uma mulher, e ainda “samaritana”.
Religiões racistas e preconceituosas não podem ter o louvor verdadeiro. Deus não tem etnias privilegiadas. Agora, sob a dispensação do Evangelho da graça, todos os povos, línguas, tribos e nações são admitidos ao culto verdadeiro.
Devemos fugir de religiões segregarias e acepcionistas; elas ignoram a graça de um Deus de amor, pois, em Cristo “não há homem, mulher, bárbaro, cita, sábio ou inculto”, somos em Cristo, todos admitidos ao seu culto.
Não cremos em religiões fascistas, bairristas, onde se defende a guetificação cultural, regional, ignorando o caráter universal do culto cristão. No louvor cristão, todos os povos da terra são, por meio de Jesus, recebidos pelo Pai, que não faz acepção de pessoas.


TEM QUE SER TRANSFORMADOR

A mulher, após o encontro com Jesus Cristo, teve sua vida mudada. Abandonou a prostituição e se tornou uma missionária. O vero louvor eleva o caráter de quem adora. Fala à mente, ao coração, à vontade e ao espírito.
Não existe no louvor cristão aquela história de que o “culto terminou”. Há um prosseguir adorativo na vida missionária, transformada e transformadora. O louvor cristão se faz presente dia-a-dia na obediência, em casa; no respeito, na igreja; na lealdade, no trabalho; na fidelidade, no amor; no cuidado, em tudo. O louvor é ato vitalício. Quando os homens vêm ao louvor — se realmente adoram — não voltam os mesmos! O louvor cristão fortalece o caráter, restabelece a fé, santifica o espírito.

OS ADORADORES SÃO PROCURADOS POR DEUS
     
Jesus disse à mulher samaritana que Deus busca seus adoradores! Vivemos sob a influência do
Marketing da propaganda. Sabemos que boa divulgação resulta em bom (número) auditório. Encher os templos constitui, hoje, prova de bons ministros. Apelações, shows, estrelas... e a igreja está uma bênção!

Cheia... cheia... Mas Jesus disse que é o Pai quem procura seus adoradores, são escolhas divinas: “Não fostes vós quem me escolhestes a mim, pelo contrário eu vos escolhi”. A verdadeira adoração é a prestada por aqueles que o Espírito Santo reúne na pureza da busca sincera, do louvor verdadeiro.







A BASE BÍBLICA DO CULTO CRISTÃO

A confissão de fé adotada pela igreja, afirma que o objetivo principal da vida humana é a glorificação de Deus e o alegrar-se n’Ele. Isto faz do Culto “o ato mais importante, mais relevante, mais glorioso na vida do homem” (Karl Barth). Contudo, quantos crentes sabem distinguir entre a verdadeira e a falsa adoração? Será que você tem cultuado de um modo que agrada a Deus? A base da sua adoração é o ensino bíblico ou a experiência humana?

O VOCABULÁRIO BÍBLICO

Para alcançarmos uma visão correta sobre o culto cristão, é mister examinarmos alguns termos usados pelos escritores bíblicos:

1. “Latreía”

Seu significado principal é “serviço” ou “culto”. Denota o serviço prestado a Deus, pelo povo inteiro e pelo indivíduo, tanto externamente no ritual, como internamente no coração. Em outras palavras é o serviço que se oferece à divindade através do Culto formal, ritualístico e através do oferecimento integral da vida
(Êx 3:12; 10:3; 7-8; Dt 6:13; Mt 4:10; Lc 1:74; 2:37; Rm 12:1).

2. “Leitourgía”

Composto de duas palavras gregas, “povo” (Iaós) e “trabalho” (érgon), significa “serviço do povo”. No Velho Testamento, aplicava-se ao serviço oferecido a Deus pelo Sacerdote, quando apresentava o holocausto sobre o altar de sacrifícios (Js 22:27; 1 Cr 23:24, 28). No Novo Testamento, aplica-se essencialmente ao serviço que Cristo oferece a Deus, pois ele é o nosso “Liturgos” (Hb 8:2, 6). Em suma, “Liturgia” é o serviço que o pastor e toda a igreja oferecem a Deus à semelhança do serviço realizado por Jesus (Rm
15:16; Fp 2:17; At 13:2).

3. “Proskunein”

Originalmente, significava “beijar”. No Velho Testamento significa “curvar-se”, tanto para homenagear homens importantes e autoridades (Gn 27:29, 1 Sm 25:23), como para “adorar” a Deus (Gn 24:52; 2 Cr 7:3; 29:29; SI 95:6). No Novo Testamento, denota exclusivamente a adoração que se dirige a Deus (At 10:25-26; Ap 19:10; 22:8-9). Em seu emprego absoluto, significa “participar do Culto Público”, “fazer orações”, “entoar hinos” e “adorar” (Jo 12:20; At 8:27; 24:11; Ap 4:8-11; 5:8-10; 19:1-7). Esta
adoração compreende o ato externo e a atitude interna correspondente.

4. Outros termos

Os vocábulos “Eusebia” (piedade) e “Thresfeia” (religião), aparecem no Novo Testamento para expressar a conduta do adorador (2 Tm 3:12; Jo 9:9-35; At 26:5; Tg 1:26). Quem adora mostra a sua devoção através de uma vida piedosa.
EMBASAMENTO TEOLÓGICO

A adoração cristã se fundamenta na Nova Aliança (Hb 8). Está franqueada ao crente a comunhão com Deus, pelo novo e vivo caminho aberto por Jesus Cristo (Hb 10:19-22). Portanto, ofereçamos sempre por Ele (Jesus Cristo) a Deus “sacrifício de louvor” (Hb 13:15a).
Em todo Novo Testamento temos informações importantes sobre o culto:

1. Mediador do Culto

O Culto Cristão é mediado por Jesus Cristo, o sumo sacerdote que se identifica com os adoradores
(Hb 2:12, 13; 16-18; Jo 17:24; Mt 18:20).

2. Sacerdote

Cristo fez de seus seguidores sacerdotes de Deus, isto é, pessoas cujo culto, Deus aceita (Ap 1:5,6; 5:8-10; 1 Pe 2:9).

3. Reverência

O Culto Cristão não deve ser profanado, mas oferecido com reverência e temor (Hb 10:28-31; 12:28-29).

4. Natureza do Culto
     
O Culto Cristão, não é meramente um evento sócio-cultural (Hb 4:16; 1 Jo 1:5-10).



OS PRÉ-REQUISITOS DO CULTO

“O cumprimento de um ritual não basta para que haja culto. É indispensável a aceitação, por Deus do culto oferecido. Deus estabelece condições para aceitar a adoração de homens. A ignorância dessas condições, ou sua violação, transforma o ritual em exercício unilateral enervante com sérias conseqüências para os participantes” (Boanerges Ribeiro).
Vejamos os pré-requisitos do culto sem os quais não alcançamos comunhão com Deus, ao contrário provocamos a Sua ira:

1. Fé (Hb 10:38; 11:6)

2. Envolvimento total da vida (Rm 12:1-2; Mc 12:30; Lc 10:27)

3. Deve ser dirigido a Deus (Mt 4:10; 6:6; Hb 13:15)

4. Modelado pelo ensino bíblico (Mt 15:9; Hb 4:12-13; Hb 12:28)

5. Mediado por Cristo (Hb 9:12, 24-28; 10:19)

A NECESSIDADE E ESSÊNCIA DO CULTO

O “tédio religioso” sempre foi um dos maiores inimigos do Cristão, no que se refere à sua vida espiritual. O tédio é um estado mental resultante do esforço para manter interesse por uma coisa pelo qual não temos o mínimo interesse. Por exemplo: participar de uma escola dominical, quando o nosso desejo era estar na praia. Este fato tem levado a igreja, em nossos dias, a oferecer certos atrativos ao povo, no que tange ao culto. “Em muitos lugares raramente é possível ir a uma reunião cuja única atração seja Deus. Só se pode concluir que os filhos de Deus estão entediados dEle, pois é preciso mimá-los com pirulitos e balinhas na forma de filmes religiosos, jogos e refrescos” (A. W. Tozer). Por esta razão, propomo-nos discutir a necessidade e a essência do culto.

A NECESSIDADE DO CULTO

O culto é necessário pelas seguintes razões:

1. Finalidade do Homem

No culto, o homem acha a razão da sua existência. Ele foi criado para a adoração. “O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. Fora da posição de adorador de Deus, o homem não encontra o sentido para vida (leia 1 Co 10:3 1; Rm 11:36).

2. Obediência
O culto foi instituído e ordenado por Jesus Cristo. Como diz Karl Barth: “Na adoração, não somos chamados a expressar nossas necessidades ou possibilidades, mas sim a obedecer”. Quando a igreja se reúne para louvar, orar, pregar a Palavra e celebrar os sacramentos, ela simplesmente obedece (Mc 16:15 -16; At 1:8; 1 Co 11:24, 25; At 20:7).

3. O Espírito Santo

O culto é suscitado e expresso pelo Espírito Santo. A salvação provoca adoração (At 10:46). O perdão restaura a capacidade de adorar, anteriormente perdida por causa do pecado. Veja alguns exemplos: (Lc 5:25; 13:13; 17:15; 18:43; 1 Co 12:3 e 2 Co 1:22).

4. Utilidade
O culto é útil. Ele tem utilidade didática, sociológica e psicológica. No ato do culto aprendemos a ser cristãos. Ele é a escola por excelência do cristão. No culto há também coesão, integração e comunhão pessoal (1 Co 10:17; At 2:42-47). Por fim, o culto traz paz, descanso e cura para a alma dos fiéis.



A ESSÊNCIA DO CULTO

Em meio às múltiplas maneiras de cultuar, há um elemento imprescindível à adoração: o AMOR. A essência da adoração é o amor. É totalmente impossível adorar a Deus sem amá-lo. E Deus nunca se satisfez com menos que “TUDO”. “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt 6:5; Mt 22:37). “Sem o incentivo do amor por Deus, o culto não passa de palha, pura casca, isento de qualquer valor. Pode até se tornar em culto a satanás” (Russel Shedd). Afirmamos, entretanto, que o culto verdadeiro requer amor de todo o coração, amor integral da mente e todo o nosso esforço.

1. Amor de Todo Coração

Para o Hebreu, o “Coração” é considerado a sede da mente e da vontade, bem como das emoções. O termo “Alma” refere-se à fonte da vida e vitalidade (Gn 2:7,19), ou mesmo o próprio “ser”. Estes dois termos indicam que o homem deve amar e adorar a Deus sem qualquer reserva em sua devoção. É no coração humano que Deus se revela (At 16:14; 2 Co 4:4,6). É, portanto com o coração que devemos expressar nosso amor por Ele.

2. Amor Integral da Mente
A adoração envolve também o exercício da mente. “Dianóia”, em grego, significa a capacidade de pensar e refletir religiosamente (1 Jo 5:20; Ef 4:18; Mt 24:15). Este entendimento é dádiva divina (Lc 24:25; Ef 1:17,18). Portanto, a adoração deve ocupar a mente, de maneira a envolver a meditação e consciência do homem. Em Romanos 12:2, Paulo estabelece que o culto cristão deve ser racional (“LOGIKEN
LATREÍA”). Amar a Deus com entendimento é um desafio para o crente (Mc 12:30).

3. Amor que Exige Todo Nosso Esforço
Na adoração cristã, Deus exige ser amado com toda a força do adorador (Mc 12:30; Lc 10:27 e Dt 6:5). O termo “Força” (Ischuos) se refere à força e poder de criaturas vivas (Hb 11:34); exige-se que o cristão gaste todas as suas energias físicas em atos de amor por Deus (Rm 12:1; 2 Co 2:15,16). O amor a Deus expressa-se no serviço prestado por meio do coração (1 Co 13:3). Portanto, amar a Deus com “Toda
a força” representa gastar a vida e energia unicamente com expressões de lealdade e afeição a Deus.



OS ELEMENTOS DO CULTO
Os elementos do culto são os meios usados pelo adorador para expressar o culto. São as “formas e funções por meio das quais a recepção e a ação litúrgica se efetivam e, mediante sua cooperação orgânica, suscitam e expressam o evento cultual” (O. Haendler).
Os principais elementos de culto são: a Bíblia, a oração, a música, os sacramentos e as ofertas.
O Catecismo de Heidelberg, redigido por Zacarias Ursino e Gaspar Oliviano, publicado em 1563 e usado pelas Igrejas Reformadas, diz que o cristão deve “freqüentar assiduamente à igreja, para ouvir e aprender a Palavra de Deus, participar dos sacramentos, invocar publicamente ao Senhor e contribuir para as necessidades”.
Reflitamos, portanto, sobre os elementos do culto e a sua utilização hoje.
A BÍBLIA SAGRADA

A Bíblia é a Palavra de Deus. Ela é o elemento mais importante do culto cristão, pois “todo ato cristão de adoração é sustido pela Palavra de Deus. Sem ela o culto esvaziar-se-ia de sua substância e perderia o traço que o separa de um culto não cristão” (J. V. Allmen). As verdades bíblicas devem modelar o ato de culto, bem como as idéias e o comportamento do adorador (1 Sm 15:22-23; Mt 15:9).
A Bíblia aparece no culto sob diversas formas. As principais são a leitura (individual, conjunta e alternada), a pregação, o canto (congregacional, coral, conjuntos e solos) e as saudações e bênçãos pastorais (1 Tm 4:13; 1 Ts 5:27; Ap 1:3; 1 Co 11:23-29; Lc 4:16-30; 2 Co 13:13).

A ORAÇÃO

Orar é cumprir uma ordem do Senhor (Lc 18:1 e 1 Ts 5:17). A oração é indispensável ao cristão, que deve praticá-la individualmente e coletivamente (Mt 6:5-8 e At 12:12). A oração é “o privilégio supremo dos cristãos, concedido por Deus ao elevá-los à categoria de filhos. A oração só é possível dentro da família de Deus: é o exercer os direitos de filhos no contexto dessa família (Rm 8:15 e Gl 4:6). Os filhos são herdeiros, participantes responsáveis, por conseguinte, de toda a economia da família. Na família do Pai os filhos têm o direito de tomar a palavra. A oração é, portanto, a autorização que Deus dá a que os filhos digam o que têm a dizer com referência aos assuntos que a eles dizem respeito” (citado por V. Allmen).
A Bíblia nos ensina que a oração faz parte do culto particular e público. As orações nas reuniões da igreja devem ser uma constante hoje, como foi no passado (At 1:14; 4:24; 12:5; 21:5; Lc 1:10; Mt 18:19). As mesmas devem ser dirigidas a Deus (Mt 4:10), por meio e em nome de Jesus Cristo (Ef 2:18; Hb 10:19), acompanhadas de humildade e ação de graças (Gn 18:27; Fp 4:6; Cl 4:2). Podem ser feitas em silêncio e audivelmente, nas posturas diversas (Mc 11:25; At 20:36; Mt 26:39).



A MÚSICA

A música também se destaca como um elemento indispensável ao culto. A igreja sempre usou hinos e cânticos na expressão do seu culto (Rm 15:9; 1 Co 14:15; Ef 5:19; Cl 3:16; Tg 5:13; Ap 5:9; 14:3; Mt 26:30).
O professor Bill Ichter, autoridade em música, descreve algumas características da música que deve ser usada na igreja:

1. Quanto à Expressão
Deve expressar uma verdade bíblica.

2. Quanto à Doutrina
Deve expressar doutrinas corretas.

3. Quanto à Devoção
Deve ser caracteristicamente devocional.

4. Quanto à Forma
Deve possuir boa forma literária.

5. Quanto ao Estilo
Deve ter um bom estilo musical.

6. Quanto à Ocasião
Deve ser apropriada à ocasião em que estiver sendo usada.

7. Quanto ao Uso
Deve ser adaptada ao uso da congregação.

8. Quanto ao Alcance
Deve ser apropriada e ao alcance da capacidade dos cantores.

O apóstolo Paulo nos revela que músicas nas igrejas devem ser: “salmos, hinos e cânticos espirituais”, entoados para o louvor a Deus e a edificação mútua dos irmãos (Cl 3:16).

OS SACRAMENTOS

“Os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da Graça, imediatamente instituídos por Deus, para representar Cristo e os seus benefícios e confirmar o nosso interesse nEle, bem como para fazer uma diferença visível entre os que pertencem à igreja e o resto do mundo, e solenemente obrigá-los ao serviço de Deus em Cristo, segundo a sua palavra” (C. Fé, cap. XXVII, 1). Esta definição nos mostra que o sacramento é “um sinal externo de uma graça interna”.
Há somente dois sacramentos instituídos por Jesus: o Batismo e a Santa Ceia (Mt 28:19 e 26:26-
30). Ambos devem ser celebrados publicamente administrados somente pelos pastores ordenados (Hb 5:4).

OFERTÓRIO

Atualmente, no Brasil, os evangélicos são questionados quanto à contribuição financeira para as igrejas. Há uma razão óbvia: a proliferação de igrejas que comercializam bênçãos.
Muitos perguntam: “É verdade que na sua igreja todos devem dar 10% do salário ao Pastor?”
Isso nos leva a explicar, que o ato de ofertar ou contribuir faz parte do culto. O ofertar sempre foi um elemento integrante da adoração a Deus e uma expressão de fidelidade (Dt 12:4-7; Ml 3:10; Mc 12:41-44; 2
Cr 8:12-18; Hb 13:16).
“Ninguém se iluda: o reino de Deus não se edifica com dinheiro, mas com pessoas. Após o novo nascimento, contudo, não devemos deixar de dar o dízimo. Não é a igreja que precisa de dinheiro, como às vezes dizemos. Nós é que precisamos trazer dinheiro à igreja: nosso progresso espiritual depende disso – 2 Co 9:5,10” (B. Ribeiro).
Em suma, ofertar é cultuar e cultuar é ofertar.

O LUGAR E O TEMPO DO CULTO

Alfred Thomas afirmou: “Bancos vazios no templo do senhor significam corações vazios, lares vazios da verdadeira religião, com a irreverência do domingo, e a conseqüente ruína espiritual”.
Isto é correto e reflete uma dura verdade: o não reconhecimento do senhorio de Jesus Cristo no tempo e no espaço. “Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último, o princípio e o fim” (Ap 22:13). “... tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl 1:16b). Jesus é o Senhor de tudo.
“Sem domingo, nenhuma adoração; sem adoração, nenhuma religião; sem religião, nenhuma moral; sem moral, então, o quê?” (Craword Johnson).
Vejamos o que nos ensina a Bíblia, sobre a santificação do espaço e do tempo.

O LUGAR DO CULTO

Os lugares de culto são lugares santos, separados para um fim específico, a saber, o de tornar-se palco da presença de Cristo, o lugar do encontro entre o Senhor e o Seu povo. Geralmente, por decisão da Igreja, um lugar é planejado, construído e separado para o serviço divino. O sucessor de Zuínglio, H. Bullinger comentando o assunto diz: “dedica-se a Deus e aos usos sagrados, ou em outras palavras, os separa do uso comum para destiná-los e votá-los, segundo a vontade de Deus, a um uso singular e sagrado”.
A Confissão Helvética Posterior, falando sobre os lugares de culto, diz: “Ora, como cremos que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas, também sabemos que os lugares dedicados a Deus e ao Seu serviço não são profanos, mas sagrados, por causa da Palavra de Deus e do uso de coisas santas a que são destinados; e os que freqüentam tais lugares devem comportar-se com todo decoro e reverência, lembrando que estão num lugar santo, na presença de Deus e dos seus santos anjos”.
Obviamente, é necessário evitar toda superstição. Não devemos transformar o lugar de culto num “espaço tabu” e, nem tampouco, achar que se possa fazer seja lá o que for no lugar de culto. A dedicação de espaço para o culto é inevitável enquanto nos acharmos neste mundo. Não somente temos testemunhos nesse sentido no Velho Testamento (Dt 12:5,11; 15:20; 1 Rs 5:5), mas também indícios de que a Igreja usou espaços separados, desde o momento em que se lhe tornou possível a construção de lugares de culto.
Teologicamente, é importante estabelecer alguns pressupostos:

1. O Novo Testamento
Sob a Nova Aliança, o Senhor não escolheu um lugar específico para a manifestação da sua presença (Jo 4:20-24).

2. O Templo no Novo Testamento
A partir do Pentecostes, a IGREJA, o “povo de Deus”, torna-se o templo (1 Co 3:16; Ef 2:20-22; 1 Pe 2:4-10). Não somente a Igreja na sua dimensão comunitária, mas cada membro individualmente é um templo, dedicado a proclamar, a refletir e a louvar o seu Senhor (1 Co 6:19s).

3. O lugar do Culto
O lugar do culto cristão é a Igreja reunida, em nome do Senhor Jesus (Mt 18.20). “A Teologia do Velho Testamento já mostra que o lugar por excelência da presença de Deus e, conseqüentemente, o lugar de culto, é o povo que invoca o seu nome. E com o seu povo que ele habita, onde quer que se encontre esse povo. E se é verdade que existem lugares sagrados, não é para insinuar que Deus se localize exclusivamente em tais lugares, mas, sim, mostrar que Deus intervém no mundo e reivindica para si a soberania sobre a terra toda. É também para demonstrar que Deus convoca o seu povo para encontrar-se com ele dentro dos limites deste mundo” (Von Allmen).



O CULTO E O TEMPO

“A adoração, quando expressa em ritual, exige tempo. Sob o antigo pacto Deus fez provisão para períodos de tempos diários, semanais, anuais e mesmo de gerações, para o cumprimento da obrigação de culto em Israel. O sacrifício diário (Nm 28:1-8), o descanso do sábado ou do sétimo dia, os primeiros dias do mês e as cinco festas anuais do período pré-exílico foram divinamente determinados” (Russel Shedd).
A guarda semanal do sábado é um exemplo fundamental do tempo separado para Deus (Êx 20:11; 31:13). Neste mandamento, Deus lembra o homem da sua responsabilidade em adorá-lo, observando tempos e lugares santos.
Sob o Novo Pacto, o cristão vê no tempo a concretização da sua salvação (Gl 4:4-5). Os tempos judaicos (festas, sábado, etc.) não passavam de sombras das coisas que haviam de vir. Jesus Cristo é a realidade (Cl 2:17). Jesus constitui-se o verdadeiro “sábado” (Mc 2:23-28 e Mt 11:28-30). Para a igreja primitiva, o descanso “consiste em consagrar a Deus, não um dia, mas, sim, todos os dias, e em abster-se, não do trabalho corporal, mas sim do pecado” (Von Allmen).
O fato de Cristo haver cumprido em si o sábado, levou a igreja a escolher um novo dia para o culto: o “dia do Senhor” ou “o primeiro dia da semana” (At 20:7; Mt 28:1; Mc 16:1; Lc 24:1; Jo 20:1; Ap 1:10). Sem dúvida este dia é o domingo.
Entretanto, qual o significado do domingo?

1. Um Memorial
É um memorial da ressurreição de Cristo.

2. Um Símbolo
É o símbolo de um novo começo.

3. Comunhão Cristã
É um dia litúrgico.
Socialmente, você pode descansar em qualquer outro dia da semana, dependendo sempre da sociedade em que você está inserido. Contudo, o domingo é o dia da comunhão cristã, da Nova Aliança.
O culto celebrado no domingo relembra o evento fundamental à existência da Igreja — a ressurreição de Cristo.
Em suma, a adoração pelo Espírito acaba com o conceito de tempos designados para o culto.
Contudo, a Igreja como povo deve manifestar-se por meio do ato de reunir-se. Não é possível Igreja sem culto. O dia específico é o domingo (1 Co 16:2), porque lembra à Igreja a vitória de Jesus sobre o pecado, o que lhe permite a existência.






O CULTO REFORMADO I – ALGUNS DOS SEUS PRINCÍPIOS

A preocupação dos Reformadores era de ter um “culto legítimo” — legítimo perante Deus. Esta deve ser a nossa preocupação também. Podemos aprender muito com os resultados dos trabalhos de homens como Lutero e Calvino. Dizendo isto, não podemos esquecer que a história não é normativa. A Escritura é a única regra de fé e de prática. Foi a Escritura que levou os Reformadores à reforma do culto. “Porventura a palavra de Deus se originou no meio de vós, ou veio ela exclusivamente para vós outros?” (1 Co 14:36). Esta palavra apostólica justifica um estudo do Culto Reformado com atenção especial à história deste culto.
O título deste estudo fala de princípios do Culto Reformado, porque não existe algo como “O culto reformado”. Não existe um só “culto reformado”. No século XVI havia uma grande variedade de modelos de culto nas Igrejas Reformadas na Europa. O próprio Calvino fez vários modelos para as congregações que ele serviu como pastor. Mas certamente podemos descobrir princípios comuns em todos estes modelos.
CULTO LEGÍTIMO CONFORME AS ESCRITURAS

Parece que o termo “culto legítimo” é de Calvino. Ele ensina no início da sua grande obra, As Institutas, que há uma estreita ligação entre o conhecimento de Deus e a adoração a Deus. O “culto legítimo” é apenas possível dentro dos moldes da Revelação de Deus. Oculto a Deus é determinado, caracterizado e colorido pela Revelação de Deus. Em outra parte das Institutas (IV.X.30), Calvino diz: “Eu aprovo exclusivamente essas ordenanças humanas que sejam não somente fundadas na autoridade de Deus, mas também tomadas da Escritura e, por isso, inteiramente divinas”. Temos que adorar a Deus da maneira que Ele nos ordenou. Este era um princípio imutável para Calvino. Ao mesmo tempo, este princípio levou Calvino a dizer que preceitos para o culto e formas de expressão podem ser variáveis quando não há ensino expresso sobre eles na Escritura. Resumindo, o culto será legítimo se estiver em conformidade com
as Escrituras. Este é o primeiro grande princípio do Culto Reformado.
Isto significou o rompimento com a liturgia romana. Os Reformadores chegaram à conclusão de que esta liturgia contém elementos pagãos e judaicos. O uso de imagens é um exemplo típico da necessidade do pagão de ter um deus visível que ele pode manipular. Tal uso ofende a suprema majestade do Deus Vivo.
Calvino sentenciou: A liturgia Romana imita o culto mosaico do Velho Testamento e nega a vinda de Cristo, que é o fim das cerimônias judaicas (Cf. Rm 10:4). Especialmente a Carta aos Hebreus mostra que o próprio Cristo reformou o culto, através de seu ato salvífico. Calvino sempre defendeu a unidade essencial entre a Antiga e a Nova Aliança. Mas ele sabia que com Cristo chegou a fase da Nova Aliança, com seu novo modo de cultuar a Deus. Adoramos a Deus em espírito e em verdade (Cf. Jo 4:23). O culto romano negava esta realidade. Por isso, o culto tinha que ser reformado por nossos irmãos do século XVI.


CULTO REFORMADO VOLTA AO CULTO ORIGINAL

O Culto Reformado, rompendo com a antiga liturgia romana, era por isso mesmo uma volta ao culto original da igreja dos apóstolos e dos chamados “Pais da Igreja” (líderes destacados da Igreja Antiga dos séculos II a IV). Neste segundo princípio do Culto Reformado descobrimos, por exemplo, no título que Calvino deu à liturgia de Genebra de 1542: Forma de culto “conforme o costume da Igreja Antiga”. Como era, para Calvino, o culto original da Igreja Apostólica? Ele estava consciente de que a Escritura não nos oferece um modelo detalhado para nossos cultos dominicais. Mesmo assim, para Calvino, o Novo
Testamento contém alguns elementos básicos que nunca podem faltar nos cultos.
Reconhecemos então em Atos 2:42, um verso que, para Calvino, era fundamental: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”. Nas suas Institutas (IV.XVll.44), Calvino escreve, baseando-se neste verso: “Assim, de modo geral, haver-se-ia de agir que nenhuma reunião da igreja se fizesse, sem a Palavra, as orações, a participação da Ceia e as esmolas”.
Como foi que Calvino aplicou os elementos principais da Escritura em seu modelo para um culto reformado? O primeiro modelo, que encontramos nos escritos de Calvino está nas Institutas, já na primeira edição de 1536 (IV.XVII.43). Encontramos as seguintes partes: orações públicas; o sermão; celebração da
Santa Ceia; exortação à fé sincera e à confissão dessa fé; ação de graças e louvores em cânticos; despedida em paz. A celebração da Santa Ceia inclui a leitura das palavras da instituição, proclamação das promessas do Senhor nestas palavras, vedação à comunhão daqueles que o Senhor barrou dela, oração, cantar salmos ou leitura bíblica, e por final a própria comunhão. Calvino sempre permaneceu fiel a este resumo de seu programa litúrgico que ele escreveu na idade de 26 anos.
Queremos ainda perguntar por que Calvino tinha tanta atenção para a Igreja Antiga e aos Pais da
Igreja?

1. Primeiro: porque ele queria cultuar a Deus na comunhão com todos os santos (Ef 3:18).

2. Segundo: porque o testemunho dos Pais da Igreja não apoiava o culto romano, como a Igreja Romana dizia.

3. Terceiro: a razão mais importante do interesse para a Igreja Antiga era porque ela preservou o culto bíblico.

Os Pais da Igreja em si não eram importantes para Calvino, e, sim, a fidelidade deles à doutrina do
Evangelho, também na área da liturgia. Por isso, a reforma do culto no século XVI significa a volta à origem mais antiga do culto, e não um rompimento revolucionário com o passado. O Culto Reformado deu uma volta por cima da “antiga” liturgia romana, de volta às fontes que eram os ensinos dos apóstolos de Cristo.
Como a Igreja Antiga estava perto da era dos apóstolos, Calvino usou os testemunhos dos Pais da
Igreja na sua reforma do culto. Ele restaurou a Santa Ceia como ato de comunhão entre Cristo e seus fiéis e como ação de graças. Contra a prática de missas privadas, enfatizava Calvino que a Santa Ceia devia ser celebrada na presença da congregação inteira, nos cultos dominicais, como na Igreja Antiga. Calvino colocou no início do primeiro culto dominical a confissão dos pecados seguida de palavras de absolvição, conforme a prática antiga. Outra prática da Igreja Antiga que Calvino restaurou era a de recitar ou cantar o
Credo Apostólico no culto como renovação do juramento de fidelidade ao Deus Triúno.

LIBERDADE CRISTÃ NA LITURGIA REFORMADA

Parecem dois princípios contraditórios: querer um culto somente baseado nas Escrituras e permitir liberdade na liturgia. Mas não há nenhuma contradição, se entendemos o que é liberdade cristã. Ela é a liberdade que Cristo nos dá em Sua Palavra. Por isso, esta liberdade tem seus limites na própria Palavra de Cristo, o único Legislador em questões litúrgicas. Liberdade cristã na liturgia não pode significar desordem, arbitrariedade ou mania de sempre renovar o culto. Por outro lado, Calvino não queria obrigar a consciência através de tradições humanas como a Igreja Romana fazia. Nem queria legalismo na liturgia. O que está escrito expressamente na Palavra nos obriga a observá-lo. Mas Calvino reconhecia que nosso Mestre não quis prescrever minuciosamente o que devemos seguir e que Ele não julgou “convir a todos os séculos uma forma única” (Institutas IV.X.3O). O próprio Calvino serviu várias igrejas reformadas com modelos de culto que eram diferentes em certos pontos.





O CULTO REFORMADO II – ALGUMAS CARACTERÍSTICAS

Vamos estudar algumas características do Culto Reformado. Certamente, o Culto Reformado não é totalmente distinto de cultos em outras tradições protestantes. Por exemplo, orar e cantar não são características só do Culto Reformado. Não há culto, em igreja nenhuma, que não tenha orações e cânticos.
Mas, sem dúvida, a estrutura de um encontro dentro da aliança, a centralidade da pregação e o cantar salmos se constituem elementos distintos do culto reformado.

Observação: neste estudo trataremos apenas do culto público.

ENCONTRO DE DEUS COM O POVO DA SUA ALIANÇA

Lemos em Levítico 23:3 esta palavra do Senhor: “Seis dias trabalhareis, mas o sétimo dia será o sábado do descanso solene, santa convocação; ... é sábado do Senhor...” Este verso nos ensina várias coisas sobre o culto:

— O culto é caracterizado como santa convocação;

— O culto é iniciativa do próprio Senhor;

— O culto é realizado num dia especial, o Dia de descanso.

Este ensino nos permite tirar algumas conclusões:

1. Encontro com Deus
Deus quer se encontrar com seu povo. A palavra “convocação” tem a ver com reunião, assembléia. Na linguagem evangélica de hoje temos termos como culto evangelístico, culto de oração e culto de doutrina, mas o culto é antes de qualquer coisa o encontro entre Deus e seu povo. É o único encontro que pode ser chamado de “santa convocação”.

2. Procedência do Culto
A palavra “convocação” também significa que Deus nos chama para o culto. O culto vem de Deus! O culto não é nossa iniciativa. Deus é, como sempre, o primeiro. O culto é encontro de Deus com seu povo e, por isso, nosso encontro com Ele.

3. Objetivos do Culto Reformado
O culto como encontro entre Deus e seu povo faz parte da Aliança de Deus. Nesta Aliança, Deus é o primeiro, visto que Ele estabeleceu sua aliança (pacto) com Abraão, e não Abraão com Deus. Deus criou um dia especial para o encontro com seu povo: o sábado, chamado em Êxodo 31:13-17 de um “sinal da Aliança”. E Deus colocou o culto no centro deste dia especial.
Por isso, o Culto Reformado tem a estrutura de um encontro em que os dois “partidos” ou “participantes” da Aliança agem e falam. Não queremos falar do culto como um diálogo, porque o diálogo supõe igualdade entre os participantes. Na Aliança de Deus não há igualdade. Deus é o Soberano, e nós somos seus súditos. Nós não somos “sócios” de Deus. Mas podemos dizer que o culto e a “conversa” de Deus com seu povo.
Isto significa que Deus fala primeiro! Nisto, o Culto Reformado é diferente do culto romano que coloca o homem no primeiro lugar, com sua ação na missa. Especialmente Calvino sempre enfatizou que o culto é primeiramente uma ação de Deus. E Ele que age e fala, garantindo, dando e efetuando sua salvação.
Mas é claro que Deus espera uma resposta de seu povo: No culto, o povo de Deus também age. Mas esta ação é sempre uma reação. A congregação reage à Palavra de Deus, dando sua resposta de fé, cantando, confessando e orando, e, antes de tudo, escutando, recebendo assim a salvação divina.
Tudo isso constitui a primeira característica do Culto Reformado: é um encontro de Deus com seu povo. É um encontro com dois grandes objetivos: o de Deus é salvar seu povo, e o objetivo do povo de Deus é glorificar a seu Deus.



CENTRALIDADE DA PREGAÇÃO

Se Deus é o primeiro no culto, sua Palavra deve ter o lugar central dentro do culto. Especialmente agora, na Nova Aliança, na qual não há mais lugar para as cerimônias do antigo culto de Israel. Deus usou aquelas cerimônias como figuras e sombras da realidade que é Cristo. Por isso a carta aos Hebreus 1:2 diz que “nos últimos dias Deus nos falou pelo Filho”. O Filho de Deus é chamado de o Verbo, a Palavra, o Porta-voz do Pai.
Deus se encontra com seu povo, no culto, principalmente através da sua Palavra. Os Reformadores baniram as imagens porque Deus vem até seu povo na sua Palavra. Só conhecemos Deus através da sua
Palavra. Ele se revela a nós em sua Palavra. Rm 10:17 nos ensina que é somente a Palavra que opera nossa fé.
No Culto Reformado, esta Palavra é lida e pregada. O próprio Deus nos deu a leitura da Palavra dando-nos as Escrituras. Em várias partes da Bíblia encontramos leituras da Palavra na reunião do povo de Deus. No culto da Aliança, encontramos a cerimônia do derramamento do sangue da Aliança, mas também a leitura do Livro da Aliança. O próprio Senhor Jesus fez a leitura bíblica num culto, segundo Lc 4:17-20.
Mas era a convicção de todos os Reformadores que as Escrituras foram dadas por Deus, não somente para serem lidas no culto, mas também para serem pregadas e explicadas. Para eles, a leitura e pregação da Palavra eram inseparáveis. Já os profetas do Velho Testamento pregavam a Palavra. O próprio Cristo deu aos apóstolos a tarefa de ensinar aos discípulos de todas as nações (Mt 28:20). Os apóstolos falaram do ministério da Palavra (At 6:4). A Palavra deve ser distribuída ou servida ao povo de
Deus. A Primeira Igreja permanecia na doutrina dos apóstolos (At 2:42). Esta doutrina era o ensino pela pregação da Palavra. “Prega a Palavra”, Paulo diz para o jovem pastor Timóteo (2 Tm 4:2). Pode ser claro que a própria Bíblia mostra que a leitura da Palavra exige a pregação dela.
No encontro com Deus, Ele fala primeiro.

CANTAR SALMOS
O sacrifício da Nova Aliança é o louvor diz Hb 13:15. Este louvor “é o fruto de lábios que confessam o seu nome”. É a Palavra que nos faz conhecer e confessar o Nome de Deus. O assunto da centralidade da pregação nos leva naturalmente ao louvor, que é fruto da Palavra pregada.
Como deve ser este louvor? Respondendo a esta pergunta, encontramos uma característica do
Culto Reformado: cantar salmos. Especialmente o reformador João Calvino é responsável por esta característica. Para ele, cantar salmos tem prioridade. Mas ele não sabia que Ef 5:19 e Cl 3:16 falam de “salmos... hinos e cânticos espirituais”? Claro que sabia. Por isso, Calvino não defendia o uso exclusivo dos salmos nos cultos, como alguns calvinistas pensam. Em sua primeira publicação litúrgica (1539), Calvino ofereceu ao povo de Deus não somente alguns salmos rimados, mas também alguns cânticos, baseados em trechos bíblicos. Na Igreja de Genebra se cantavam os Dez Mandamentos e o Credo Apostólico!
Calvino não era contra o uso de hinos, desde que fossem baseados em versos ou trechos da Bíblia.
Mas os salmos tinham prioridade e Calvino fez questão de oferecer à Igreja todos os 150 salmos rimados. Ele concordava com uma palavra de Agostinho: “Ninguém pode cantar de modo digno perante Deus se não cantar aquilo que recebeu de Deus”. Por isso, Calvino concluiu que não há cânticos melhores do que os Salmos de Davi porque eles foram inspirados pelo Espírito Santo.

A MÚSICA NA DISPENSAÇÃO DA LEI

O trono de Deus é estabelecido em louvores e por isso a música existe desde o princípio e permanecerá para sempre, pois o nosso Deus será eternamente louvado (Jó 38:4-7 e SI 115:18). A música é eterna.
A música é um instrumento de louvor a Deus, um meio de expressão e acima de tudo uma força dinamizadora de poder, energia e vitalidade, capaz de exercer grandes influências não só nos seres humanos como também nos animais e nas plantas. Schimichi Zuzuki, musicólogo contemporâneo japonês, ao escrever um método de aprendizagem musical para crianças disse: “Meu propósito principal, não é o ensino da música. O que aspiro é formar bons cidadãos. Se uma criança escuta boa música, desde que nasce e aprende a executar um instrumento, adquirirá sensibilidade, disciplina, retidão e nela se formará um lindo coração”.
O nosso propósito nesta lição é mostrar o que a Bíblia nos ensina sobre a música e as suas funções na religião do povo de Deus.

O SIGNIFICADO DA MÚSICA PARA OS JUDEUS

A Bíblia nos informa que a música sempre esteve presente na vida da nação judaica, como seu melhor meio de expressão. Daí a razão dos maiores eventos da história de Israel acharem-se registrados em cânticos (p. ex. Êx 15:1-21 e SI 126). “A história dos Judeus contém inúmeros acontecimentos em que a música desempenha relevante papel, desde as muralhas de Jericó que caíram ao toque das trombetas, até o cuidado dispensado à música do grande templo de Jerusalém. Esse povo, que mostrava inclinação para a escultura e pintura e a quem era proibido representar a Deus por imagens, concentrou toda a sua força criadora na poesia e na música que serviam por excelência à religião” (Kurt Pahlan).
Foi no reinado de Davi que a música teve o seu maior desenvolvimento e, elevada ao nível de ministério, tornou-se exclusiva da religião. Davi sendo rei, músico e poeta, criou técnicas para fabricação de instrumentos, desenvolveu a arte do canto, com formas ainda usadas nas igrejas e instituições musicais em todo mundo e estruturou o ministério da música a serviço da religião, até hoje não superado.

COMO O MINISTÉRIO DA MÚSICA FOI ESTRUTURADO NA DISPENSAÇÃO DA LEI

A música foi instituída no culto por Deus, no reinado de Davi (2 Cr 29:25). Sendo Davi músico e conhecedor do valor da música na vida de seu povo e da religião, passou a desenvolvê-la em termos de ministério, através do desempenho de quatro mil músicos com os seguintes critérios e funções:


1. Critérios:

1.1. Escolha (1 Cr 16:4,5)
Os quatros mil não foram alistados por vontade própria, mas por vontade de Deus.

1.2. Purificação
Escolhidos da tribo de Levi, por exigência do próprio Deus, eram purificados para exercerem as funções determinadas no seu ministério (Nm 8:6).

2. Funções:

2.1. Louvar (2 Cr 8:14 e 1 Cr 16:4,5)

2.2. Profetizar (1 Cr 25:1-3)

2.3. Ensinar (1 Cr 15:22 e 25:5-7)

2.4. Santificar (2 Cr 29:5)

Queremos destacar dentre as funções, o ensino da música e o desenvolvimento do canto. Davi juntamente com Quenanias e mais duzentos e oitenta e oito mestres criaram formas e desenvolveram técnicas de canto que até hoje são usadas em todo mundo. Vejamos alguns exemplos:
Ne 12:8 – Regência de canto coletivo congregacional;

Ne 12:42 – Regência dos cantores ou coral;

1 Cr 15:21 – Uso de instrumentos adaptados ao acompanhamento do canto.

Pela necessidade de tempo para a boa formação e bom desempenho do músico, o trabalho era permanente e de dedicação exclusiva. Davi, sendo músico, foi sensível a essa necessidade (1 Cr 9:33 e 6:31-32). A manutenção dos músicos era através dos dízimos e ofertas, porque o ministério fazia parte do sacerdócio, sob a responsabilidade do rei (Ne 12:46-47; 10:37,39; 13:10,12,14).

A MÚSICA NA DISPENSAÇÃO DA GRAÇA

Depois de um silêncio de quatrocentos anos entre os céus e a palestina, a música volta a aparecer como serva fiel da religião, fazendo-se cumprir as palavras cantadas pelo salmista: “E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos verão isso e temerão e confiarão no Senhor” (SI 40:3). O novo cântico da graça e do amor brotou nos corações dos escolhidos como prenunciadores das novas de Salvação: “Magnificat” (Lc 1:46-55), “Benedictus” (Lc 1:68-79), “Glória in ExceIsis Deo” (Lc 2:14) e “Nunc Dimitts” (Lc 2:29-33). E a partir de então, os corações dos crentes romperam em cânticos, pela experiência da graça de Cristo, como jamais cantaram e deixariam de cantar. Conforme o testemunho de Plínio (109 A.D.), o cristianismo passou a ser chamado “a religião do canto”.

A ATITUDE DE CRISTO EM RELAÇÃO À MÚSICA

A arte da música e do canto entre o povo de Israel, não se extinguiu com a dispensação do Velho
Testamento. E é evidente, que na época de Jesus, a música continuava com as mesmas funções estabelecidas por Deus, a serviço da religião.
Por muitas vezes, Jesus foi visto, participando dos cultos e das festas solenes no templo, sem jamais, em qualquer ocasião proferir palavras de censura ou reprovação aos cânticos entoados. Os discípulos e a multidão O aclamaram com cânticos por ocasião da sua entrada triunfal em Jerusalém (Lc 19:37).
Possivelmente, Jesus cantou muitas vezes em sua vida. No entanto, a Bíblia faz referência especial à ocasião da Ceia, quando ele incluiu a música, consagrando-a a serviço do culto cristão (Mt 26:30; Mc 14:26). A partir daquele momento, o ministério da música, na nova dispensação, era estabelecido como meio de expressão de fé e manifestação da graça divina através de Cristo.

COMO O MINISTÉRIO DA MÚSICA FOI ESTRUTURADO NA DISPENSAÇÃO DA GRAÇA

Cremos firmemente que o canto de glorificação a Deus cantado por Jesus, na Ceia, antes de ir para o Monte das Oliveiras, teve um sentido de resgate da música do Judaísmo para o cristianismo (Mc 14:26). A música expressão de fé, dom da graça divina e liberdade do evangelho, em Jesus, passa a pertencer ao
 “sacerdócio real” (1 Pd 2:9) ou ao reino e sacerdotes de Deus (Ap 1:6). Portanto, no Novo Testamento, a música se apresenta com uma estrutura nova e específica mas como um resultado ou aplicação do que ela foi no Velho Testamento.
O apóstolo Paulo, por formação acadêmica, também sabia música e como doutor da lei, era grande conhecedor do ministério criado por Davi. Portanto, com conhecimento e sabedoria, orientou as igrejas com os mesmos princípios estabelecidos no Velho Testamento.

1. Em Relação aos Critérios
Na dispensação da lei a música era ministrada pelos levitas, cujos critérios eram: escolhidos e purificados (1 Cr 16:4-5 e Nm 8:6).
Na dispensação da graça é sacerdócio dos crentes, cujos critérios são: eleição e santificação (Ef 1:4 e 1 Ts 4:7).

2. Em Relação às Funções
Na dispensação da Lei as funções da música, exercidas pelos levitas, eram: louvar, profetizar, ensinar e santificar.
Na dispensação da graça as funções da música exercidas pelos crentes, são:

2.1. Louvar – “louvando com salmos, hinos e cânticos espirituais” (Cl 3:16 e Ef 5:19).

2.2. Profetizar – “Habite ricamente em vós a palavra de Cristo” (Cl 3:16). Os levitas músicos transmitiam a palavra recebida de Deus (2 Cr 20:14). Os músicos crentes transmitem a palavra revelada como regra de fé e prática da vida.

2.3. Ensinar – “...instruindo-vos uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais” (CI 3:16).
O preparo e a eficiência foram as grandes características do ministério da velha dispensação. Nele havia mestres como Asafe, Jedutum e muitos outros que, além de Davi, compuseram cânticos que não só edificaram o povo de Israel no passado, mas que até hoje edificam o povo de Deus.

2.4. Santificar – “Edificando-vos com salmos, hinos e cânticos espirituais” (Cl 3:16). Na dispensação da lei, os músicos eram ordenados a se santificarem. Na dispensação da graça, os crentes são eleitos para receber a marca da santificação que se expressa pelo testemunho de vida e pelo louvor. Deve existir coerência entre o que se vive e se canta.

A MÚSICA NOS NOSSOS DIAS

TEOLOGIA E MÚSICA

Podemos dizer que existe uma única música certa para aquele específico lugar no culto. Não serve qualquer música em qualquer lugar. Tem que ser aquela. Pode ser até uma única estrofe. Naquele lugar tem a finalidade única de reforçar o que foi dito, tornar claro, subsidiar a Palavra. Disse Lutero: “em nome da Teologia, concedo à música o lugar maior no culto”. Ele não está dizendo que a música é mais importante que a Palavra, ou que a Teologia. A música tem que ser subsídio para a Palavra; se não for, ela estará fora do contexto. “Hoje o conjunto ‘Fulano de Tal’ vem aqui abrilhantar o nosso culto”. Por que? O culto não precisa ser abrilhantado. O culto não é uma festinha de aniversário. É fácil de perceber nos nossos dias uma confusão entre culto e festa. No Velho Testamento era mais fácil de se ver a distinção, porque existiam festas litúrgicas e momentos de adoração e sacrifício. Eram coisas diferentes. A festa era horizontal, era a hora de se alegrar no Senhor. Todo mundo se alegrava. Esta era a hora dos instrumentos, das danças, dos cânticos. Às vezes até no espaço do templo, inclusive, mas eram festas. Mas o culto sacrificial, o sacrifício, nem alegre era. Hoje temos misturado as coisas: Temos culto do pastor, culto do bebê, culto de formatura, culto das mães. Isso nos parece, criar algumas dificuldades para nós mesmos estabelecermos os limites. Até onde é “da mãe” e até onde “é de Deus”? Como vamos preparar o programa do culto e o sermão?

OS BABILÔNIOS DE HOJE

Ouvimos muitas vezes pastores dizerem: “a gente precisa manter os jovens na igreja, os cultos precisam ser atraentes. Eu odeio essa música, mas tenho que deixar...” e quando cantam, muitos falam: “ainda bem que eles estão aqui, não estão no mundo”. É porque eles “estão aqui” que precisam fazer melhor que lá fora. Já houve uma época na nossa história reformada em que a música que acontecia nas igrejas era a melhor que se produzia naquele lugar. No séc. XVII, no séc. XVIII e no início do séc. XIX, se alguém visitasse uma cidade européia e quisesse ver e ouvir o que de melhor aquela população produzia, iria para a igreja. Lá havia a melhor música e a melhor arquitetura. Os músicos da corte do palácio iam lá aprender com os músicos da igreja. Havia uma romaria enorme até a cidade de Leipzig para aprender com Bach. Bach passou 45 anos de sua vida trabalhando como músico de uma única igreja (a igreja de St. Thomaz, em Leipzig). Sua obra inteira foi S. D. G. (Soli Deo Glori). Ele assinava assim. Essa era a sua finalidade; por isso ele fazia o melhor que podia, exatamente porque era para a Glória de Deus. O músico do palácio podia fazer de qualquer jeito porque fazia para ganhar dinheiro, era só para honrar o rei. Mas na igreja era o melhor que se podia produzir porque era para Deus. Percebe-se que mudamos radicalmente: estávamos na dianteira absoluta, e hoje isto mudou muito. Hoje nós estamos desesperadamente correndo atrás da música secular, para imitá-la, para ver se conseguimos manter o jovem dentro da igreja. É por isso que o povo não se importa mais com o nosso cântico de Sião. Os babilônios queriam ouvir o cântico de Sião, eram tocados em outros instrumentos, eram outros cânticos que não era o deles. Os babilônios (as pessoas fora da igreja) de hoje “não estão nem aí” com a nossa música. Hoje há várias rádios “gospel” tocando música o dia inteiro e não tem diferença nenhuma das outras (no sentido do estilo musical).
MÚSICAS BOAS E RUINS

Mas a música continua tendo dois papéis no culto. O de impressão, de atmosfera, que ela já faz só com o instrumental. Mas o seu papel central no culto é o de expressão – é subsidiar o texto. E isso só acontece quando há um bom casamento entre os dois. Cada elemento diferente da música mexe com uma parte diferente do nosso organismo e isso faz com que sejamos integralmente atingidos, quer queiramos quer não, quer estejamos ouvindo ou não, quer sejamos perfeitamente hábeis, auditivamente, ou surdos completamente. A música consegue ser ouvida epidermicamente. A música influencia pessoas completamente surdas e altera o seu comportamento. Se delinear na mente de alguém a idéia de que estamos defendendo a música do hinário em detrimento dos novos cânticos (corinhos), ou defendendo coral em detrimento de conjunto, isso absolutamente não é verdade. Entendemos que existem hoje, muitas músicas novas boas e muitas ruins. A maior parte ruim por uma razão simples, porque elas ainda não foram filtradas pelo tempo; o tempo é um ótimo filtro. No séc. XVII também foi produzida muita coisa ruim, mas foi embora. Só ficaram as melhores. Existem muitas músicas novas boas sendo produzidas e, por outro lado, nos nossos hinários, existem muitas músicas que não são tão boas assim. Não é pelo fato de estarem no hinário que são boas. Como líderes, temos obrigação de analisar cuidadosamente os textos das músicas que estão nos hinários, dos hinos que vão ser cantados. Estamos, muitas vezes, cantando coisas impressas nos hinários em que nem sempre acreditamos.


MÚSICA CERTA NO LUGAR CERTO

A nossa visão do que seja a música incorporada no momento de culto é que haja, primeiro, um trabalho muito consciente do líder na escolha do que vai se cantar; depois, aonde vai se cantar.
Gostaríamos de esclarecer um ponto em que a gente faz certa confusão. Existem hinos que são herança dos séculos XVII e XVIII, alguns são de estilo coral; alguns desses corais eram compostos e tinham cerca de 42, 43 e até 50 estrofes. Essas estrofes eram cantadas de acordo com o período por que se passava naquele momento. Por exemplo, se era uma época de Natal, cantava-se o trecho do hino que falava sobre o Natal. Muitas vezes, muitos desses hinos, são hinos que contam todo o plano da salvação. Esses hinos não foram compostos para ser cantados inteiros. Se você pegar o saltério de Genebra, por exemplo, que era o hinário de Calvino, ou o cancioneiro de Witemberg, de Lutero, vai encontrar muitos desses hinos. No saltério de Genebra vai encontrar o Salmo 119, inteirinho. Ninguém o cantava inteiro, evidentemente.
Cantavam-se trechos dos hinos, os trechos que tinham mais a ver com aquele momento de culto. Perdemos um pouco disso a partir do momento em que se passou a ter uma nova visão do hino: o hino apenas como subsídio musical do culto; canta-se o hino sem se preocupar com a letra. Se o culto está muito longo e o hino tem quatro estrofes e o coro, cantamos a primeira, a segunda e a última. Nunca a terceira. Mas às vezes a última começa com um “então”. “Então”, por que? Porque é a continuação da terceira. A nossa proposta é que cantemos as estrofes que servirem para aquele momento de culto. Pode até ser somente a terceira, se for a estrofe que sirva para aquele momento. Evidentemente, há hinos que não têm como ser partidos. Eles têm começo, meio e fim. Mas há muitos que são absolutamente compartimentados, eles foram pensados assim, para serem usados compartimentados. Vocês devem estar percebendo que isso exige trabalho e uma leitura cuidadosa.
PARÊNTESE NO CULTO

Quando começarmos a excluir isso, as coisas ganharão uma nova dimensão. Por exemplo, quando o grupo de jovens deixar de ser parêntese de culto. Por que é parêntese? Começa o culto, faz-se a leitura, e então passa-se ao momento de louvor. Abre-se o parêntese: o grupo vai para frente, afina os instrumentos e dirige o louvor. Canta-se uma vez uma música com todos, depois só as mulheres, então só os homens, explica-se o que o Espírito Santo faz na vida do crente; depois mais um cântico, mais um, outro mais.
Quarenta minutos depois, todo mundo em pé, fecha-se o parêntese e o dirigente diz: “agora vamos continuar o nosso culto...”. Esse é um grande erro, e é recente em nossa história cúltica. Quando nós todos éramos crianças, não havia isso. Isso começou a acontecer no final do séc. XIX, quando algumas denominações enfatizaram tremendamente o acampamento de jovens. Nasceu daí uma música especial para esses tipos de reuniões; chamados corinhos; mas a força maior surgiu, na verdade, nos anos 80, quando os acampamentos reuniam uma quantia muito grande de jovens e para esses acampamentos compunham-se e cantavam-se determinado tipo de música que não tinha nada a ver com a música que se cantava regularmente nas igrejas. Esses jovens passavam lá, um final de semana e quando chegavam na igreja queriam, com a maior das boas intenções, trazer aquela atmosfera, aquilo que sentiram lá no acampamento e a música que aprenderam e cantaram lá. Nessa mesma época, as nossas igrejas não estavam aparelhadas para oferecer um tipo de música alternativa de boa qualidade para os jovens.

MÚSICA SACRA OU PROFANA?

A geração dos anos 10 e 20, ou parte dela foram convertidas ainda pelos primeiros missionários ou, quando não, pelos herdeiros dessa conversão. Essa geração, e a geração que veio imediatamente depois foi uma geração conversionista, ou seja, convertida, isto é, os nossos avós que freqüentavam a igreja evangélica, já tinham sido católicos antes de se converterem. Quando eles se converteram, cantaram um tipo de canção completamente diferente de tudo que eles tinham ouvido até então. Quando os nossos avós cantaram os hinos dos Salmos e Hinos (o primeiro hinário traduzido integralmente), eles se consideravam cantando música absolutamente sacra, porque aqueles sons nunca haviam sido ouvidos antes. Não interessa se era, até mesmo, uma música de bar americano. Aqui é um terreno complicado porque toca mesmo no que é música sacra e o que não é música sacra. Modernamente, definimos música sacra para um grupo; é impossível definição de música sacra genérica, por uma razão muito simples: o sacro, na verdade, aquilo que é verdadeiramente aceito por Deus, não tem nada a ver com a qualidade dos sons; tem a ver com o coração e lábios limpos, tem a ver com o cantante, e com Deus.

O estilo que está soando no espaço é mais ou menos convencional para um grupo de pessoas, isto é, se é sacro ou não para aquelas pessoas que estão ali. Cuíca é um instrumento sacro ou profano, na sua cabeça? Profano! Por que? Porque associamos com o carnaval. Agora, leva essa cuíca para o Tibet, converta os tibetanos e diz a eles que esse instrumento vai iniciar todos os Cultos ao Senhor. “Esse som vai ser o introdutório do culto”. Pronto, a partir de então, aquilo lá vai ser o som santo por excelência, sacro por excelência. A cuíca não é menos santa do que o violino. O violino é feito de madeira, tripa e metal. A cuíca é feita de madeira, pele e metal. “Igualzinho”. Materialmente, não há diferença. Portanto, temos que pensar o que vale para as músicas. Temos ouvido muito isto: algumas igrejas cantavam “passarinhos, belas flores”, (hoje já não canta mais), isso era música de bar americano. Era mesmo, só que ninguém sabia que era. Aquele som nunca havia sido ouvido aqui; aquele tipo de melodia foi identificado pelos nossos avós, bisavós, como música sacra. Por que? Porque ela era diferente da que eles cantavam nos bailinhos de final de semana, ou na igreja católica que eles freqüentavam. É exatamente isso que hoje é usado como critério para definir, para um grupo sócio-cultural, o que é música sacra: é diferente da música que aquele grupo conhece, fora do templo.

Esta é a primeira característica de música sacra, naquele momento histórico. A segunda é que ela é, basicamente, acompanhamento para a Palavra. Quando eles cantavam aquele tipo de música aquilo era, para eles, música sacra. Pode ser que para os nossos dias não seja mais. Quando o coro ou a congregação canta um hino, muitos se sentem elevados com essa música sacra. Certa vez uma família alemã que veio passar férias no Brasil e foi a uma igreja, e o coro levantou e começou a cantar um hino, eles ficaram assombrados, porque esse era o hino nacional alemão, que Hitler obrigava todo mundo a aprender. Mas isso não quer dizer que a melodia que está lá é ruim. Era Haydn, uma maravilha. Mas quando ficamos sabendo da sua raiz, então complica. Outro exemplo é o hino “Grande é Jeová”. Quer música mais sacra que esta? Mas isso é Tannhäuser, uma ópera de Wagner, e nessa ópera, o cavaleiro rapta a princesa da torre, com nem um pouco de boas intenções, bota-a debaixo do braço e vai embora. O mesmo acontece com o “Largo” de Handel que todo solista gosta de cantar. Quer coisa mais santa? Só que aqui é o rei Xerxes, embaixo da macieira, olhando a pessoa que iria conquistar e agradecendo a sombra da macieira.
Isto não é sacro (estamos falando da melodia e não da letra da música). Percebe-se, portanto, que essa é uma questão muito complicada e elas só são resolvidas exatamente assim: música sacra é aquela, para aquele grupo sócio-cultural, diferente da sua secular, ou seja, a música sacra é a diferente da que, naquele momento, é secular.




MÚSICA DE IMITAÇÃO

Será que a nossa música tem que ser uma imitação da música secular? Não! Será que, então, estamos defendendo aqui que devemos cantar somente os velhos hinos dos hinários? Também não. Será que estamos dizendo que os jovens não têm participação no culto? Também não. Gostaríamos muito de ver outra vez a música da igreja liderando o movimento cultural, que ela fosse melhor e nitidamente melhor.
Isso não é impossível. Temos visto isso acontecer em outros lugares, não no Brasil. Nós, infelizmente, no Brasil, tivemos uma censura, uma lacuna muito grande. Quando os jovens procuravam por uma coisa nova não tinham isso sendo fornecido. A geração dos anos 30 cantou os hinos do hinário sem problemas; a dos anos 40, também, mas já cantou um ou outro corinho; a dos anos 50 cantou mais corinhos; a dos anos 60, só cantava corinhos; a dos 70 não quer cantar nada que não sejam as músicas novas. Por que? Porque quando a geração dos anos 50 e 60 procurou alguma coisa, não encontrou; os músicos sacros; se haviam, estavam calados; não havia ninguém compondo hinos, que pudesse ao lado do hinário, parecer como uma alternativa boa. Porque é muito fácil a gente falar para o jovem: “isso é uma droga”. Difícil é falar: “isso é melhor que isso” e fazê-lo sentir que é melhor mesmo.

Temos visto muito nas nossas igrejas pessoas falando assim: “O rock não pode”. “Por que?” “Porque não”. “Mas por que não?”, “Porque é do diabo”. “Mas por que é do diabo?” “Porque é”. Isso é resposta? “Esse tipo de música não pode por causa disso, disso, e disso”; “porque tem uma outra muito melhor, ouça”. Onde está essa parte? Não é só criticar: “esse conjunto de jovens é uma droga”. É mesmo, muitas vezes, mas onde está um melhor? Falta mostrar como fazer melhor, como fazer diferente. Pegar essa criatividade que está ai e multiplicar isso. Se for verdade que nos últimos anos a produção de música nacional sacra não esteve muito boa, para oferecer uma alternativa satisfatória, quem sabe os próximos anos serão melhores. A geração passada quando quis cantar coisas novas não encontrou nada. Ou cantava as coisas velhas ou importava. E importou, num primeiro momento, dos Estados Unidos nem sempre as melhores coisas; num segundo momento imitou aquela música. Nas primeiras gravações de grupos alternativos jovens no Brasil, você tem música americana, autenticamente americana, traduzida para o português. Música jovem americana. Num segundo momento, música escrita no Brasil por eles mesmos, mas imitando o estilo que havia sido importado. Num terceiro momento, nacionalismo exacerbado; que condena tudo o que é importado e surgem os grupos superalternativos, proclamando que tudo que vinha de fora, em princípio, não prestava; a gente tinha que fazer uma coisa que fosse só nossa. É ai que se esbarrava num problema sério: de convencer o pessoal do Sul a cantar baião; isto é uma loucura, porque aquilo não era deles na verdade. Nós estamos tão fragmentados nessa questão cultural, que para o pessoal do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, o coral alemão era muito mais música deles do que baião.


BOA PERGUNTA: E AGORA, O QUE A GENTE FAZ DOMINGO QUE VEM?

A primeira coisa: já vai melhorar muito quando lermos os textos dos hinos (seja dos hinários ou corinhos) cuidadosamente, e isso não é fácil de fazer: ler o texto criticamente quer seja um dos novos ou do hinário. É muito difícil porque: primeiro, quando lemos um hino impresso, lemos com respeito, pois consideramos uma palavra “meio inspirada”; temos dificuldade em criticar, ainda que esteja péssimo em linguagem e Teologia; a segunda dificuldade que temos em relação aos hinos é que muitos deles nos acompanham há muito tempo, então, estamos muito ligados emocionalmente a eles. Temos uma ligação emocional que não nos permite ser racionais, muitas vezes, para fazer uma análise honesta daquele texto. Se conseguirmos fazer isto seriamente, sempre, tanto com os hinos do hinário como com os novos, num primeiro momento; e, num segundo momento, feito esta seleção, encontrarmos o lugar “certo” deles acontecerem; e ao invés de um pacote de 40 minutos de música, usaremos dentre aquelas 6, 7, ou 8 músicas selecionadas, aquela certa para o momento certo, então o nosso culto passa a ter coerência e as pessoas começam a ter a sensação de começo, meio e fim. E isso já melhora no domingo que vem!

 E depois, entendemos que a função dos líderes nas igrejas tem que ser despertar nas pessoas vocacionadas para a música o senso de responsabilidade de que estão fazendo uma coisa muito séria. Descobrir essas pessoas e levá-las para frente. Para frente não quer dizer para frente da igreja, para tocar. Quer dizer: “levá-las a aprender”. Ninguém tem mais desculpas de que não tem onde aprender. Há cursos ótimos, professores ótimos, em muitos lugares. É preciso resgatar a importância de se aprender música, que se perdeu na nossa cultura.


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