FACULDADE
DE TEOLOGIA TESTEMUNHAS HOJE
CURSO
LIVRE
HOMILETICA
A PREGAÇÃO
E O
PREGADOR
A PREGAÇÃO E O PREGADOR
1. A PREGAÇÃO E O PREGADOR
1.1 O fato e o ato
"Conjuro-te, pois,
diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua
vinda e no seu reino; prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta,
repreende, exorta, com toda a longanimidade e ensino. Porque virá tempo em que
não suportarão a sã doutrina; mas tendo coceira nos ouvidos, cercar-se-ão de
mestres, segundo as suas próprias cobiças; e se recusarão a dar ouvidos à
verdade, voltando às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições,
faze a obra de um evangelista, cumpre bem o teu ministério" (2 Timóteo
4.1-5).
Após haver exortado o jovem
pastor Timóteo a ser firme e perseverante na chamada que havia recebido; e
após, igualmente, haver alertado sobre a corrupção que reinaria nos dias
finais; encorajado, ainda, a manter a doutrina, Paulo estimula seu jovem pupilo
a ser incansável na proclamação do evangelho. Isso o apóstolo o fará dentro de
um plano bem simples: fala acerca da pregação (vv.1 e 2) e acerca do pregador
(v.5). Entre esses dois fatos, utiliza ele o elo de uma nova descrição dos
erros teológicos, doutrinários e ideológicos , trazidos pelos profetas de um
falso evangelho (vv.3 e 4). Diz o apóstolo: "Conjuro-te, pois, diante de
Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e
no seu reino" (v.1).
Não é um novo apelo. O
apóstolo já o havia feito com outras palavras em ocasiões variadas desta mesma
carta. Paulo chama a Deus Pai, e a Jesus Cristo como testemunhas . É Jesus, o
juiz de vivos e de mortos; é Jesus, o conquistador que retorna; é Jesus, o Rei.
E mencionando essas verdades, fala o apóstolo de Sua epifania, de Seu juízo, da
plenitude de Seu reino. É Jesus nosso alvo de vida, para Quem Paulo encoraja
Timóteo a olhar, como também para o mundo do seu tempo, e para ele, Paulo,
pastor mais experimentado, sofrido, calejado nas lides ministeriais. (vv.6-8).
2. A PREGAÇÃO (2 Timóteo
4.2-4)
2.1. O Querigma (cerne da mensagem cristã. 2.transmissão dessa mensagem
a quem não é cristão, visando convertê-lo.): "Prega a Palavra" (v. 2
a)
O ministro do evangelho não
tem o direito de escolher o que pregar. A ordem é dada em voz de comando,
porque o pregador há de ser como o porta-voz do seu rei. Esse é o padrão: o
mesmo para o mensageiro deste fim de século. É o da pregação que nasce da
consciência de ser um arauto do Rei dos reis, do que anuncia, faz conhecido em
voz, razão porque a pregação cristã é igualmente chamada
"proclamação" ou "anúncio".
Prega-se a Jesus Cristo.
Paulo o diz: "nós pregamos a Cristo crucificado"; anuncia-se o
evangelho; proclama-se o reino. Devemos pregar a "Cristo
crucificado"; anuncia-se o evangelho; proclama-se o reino. Devemos pregar a
fé, a esperança e o amor; devemos pregar o Calvário e o túmulo vazio; devemos
anunciar a reconciliação e a inauguração do reino do Senhor.
O pregador do evangelho não
pode esquecer três relevantes e imprescindíveis realidades: Jesus Cristo é o
Senhor do universo, do cosmos; é o Senhor da igreja, Seu corpo; e é seu Senhor,
de sua vida, de sua esperança. Jesus Cristo é o começo da proclamação, e o
cumprimento desse abençoado anúncio e promessa de salvação para todo o que crê.
Há, porém, espaço para essa
pregação hoje? Radicais dizem que os pregadores devem jogar fora as suas
Bíblias. Igrejas existem que, ao invés de estudar as Escrituras, preferem
analisar nas suas "Escolas Bíblicas" documentos de conteúdo político
e teses outras! E já que o mundo de nossos dias tem se tornado tão exigente,
não seria melhor usar de formas outras para apresentar a mensagem? Que tal o
teatro? O balé? As artes plásticas? Por que não o debate em torno de filmes, a
leitura de uma peça? . E são mil e uma as propostas para uma "apresentação
contemporânea do evangelho", mas, nada, nada mesmo substitui a pregação.
Como bem colocou Emil Brunner: "Onde há verdadeira pregação; onde, em
obediência a fé, é proclamada a palavra, ali, apesar de todas as aparências
contra, é produzido o acontecimento mais importante que pode ter lugar na
terra".
A pregação, em si, é o
elemento central do culto. É um ato de adoração; é oferta feita a Deus pelo
pregador. Lutero chegou ao ponto de dizer ser o próprio cerne do culto cristão,
e que não haveria culto se não houvesse sermão. É essa palavra dinâmica (Hb.4.12),
a palavra de Deus, a palavra do evangelho, que sempre é criativamente aplicada
em diferentes níveis. Essa é a pregação da esperança que a pregação de Jesus
Cristo anunciou e vem anunciando até a parousia (A palavra grega Parousia era usada com o sentindo de
presença ou vinda. Seu uso técnico indicava a presença ou chegada de um rei ou
governante. No Novo Testamento ela é usada designar a presença (vinda) de
Cristo novamente a Terra, primeiramente para os fieis e depois para os infiéis.
O assunto da Segunda Vinda de Cristo na Bíblia é um tema bem explorado pelo
Espírito Santo. Só no Novo Testamento existe mais de trezentas passagens sobre
a temática. O apostolo Paulo em suas epistolas menciona sobre a Parousia cerce
de cinquenta vezes. Há capítulos inteiros nos evangelhos e epístolas inteira
sobre a Segunda Vinda. Portanto a Parousia de Jesus Cristo é citada nas
Escrituras Sagrada oito vezes mais que a primeira vinda. Este dado ressalta a
importância deste evento para o Senhor e também para o seu povo. Esta deve a
esperança dos cristãos. A Segunda Vinda de Cristo é dividida em duas fases
distintas. Primeiramente Ele virá para a Igreja cujo evento está registrado em
1 Ts.4. 13-18. Após o Salvador retornará no final da Grande Tribulação para
socorrer Israel (Zc.14. 3-5). Quando o Messias retornar para a Igreja
acontecerá o arrebatamento “ressurreição dos santos e o rapto dos vivos que são
fieis a Palavra de Deus”) do Senhor. O evangelho não só é sobre Jesus, mas É
Ele mesmo. Os primeiros pregadores declaravam:
- Que a época do cumprimento
das promessas, a plenitude dos tempos, havia chegado;
- Que através da
ressurreição, Jesus foi exaltado à destra de Deus;
- Que a presença do Espirito
Santo na igreja é a evidência do poder e da glória de Cristo;
- Que a era messiânica terá
sua consumação na parousia.
Realmente a mensagem sobre o
que o Senhor disse e fez pela salvação da pessoa humana é a única sobre o único
caminho de salvação que é Jesus Cristo:
"Em nenhum outro há
salvação, pois também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os
homens, pelo qual devamos ser salvos" (Atos 4:12). Para essa mensagem, a
Bíblia usa denominações variadas:
- "o evangelho do reino
de Deus" ("Depois disto andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia
em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus" - Lucas
8:1);
- "a palavra de
reconciliação" ("Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo,
não imputando aos homens os seus pecados, e nos confiou a palavra da
reconciliação" - 2 Coríntios 5:19);
- "o evangelho de
Cristo" ("Deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de
Cristo. Então, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que
estais firmes em um mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo
pela fé do evangelho" – Filipenses 1:27).
Sim, o pregador do evangelho
está na linha de sucessão dos profetas que anunciam esta extraordinária palavra
que nunca volta vazia, razão porque não pode mutilá-la ou modificá-la. Seu
dever de obediência é comunicar a Palavra de Deus que lhe foi confiada.
Há quem deseje um evangelho
sem cruz, sem maiores compromissos, o evangelho da facilidade e sem conflitos.
É o evangelho do Cristo
desfigurado. Diferente daquele que o pregador cristão é convocado a anunciar, o
do Cristo crucificado. O evangelho do Cristo desfigurado é o do
"espetaculoso" (mistura do "espetáculo” com
"horroroso"), evangelho tão do gosto dos evangelistas e missionários
de porta de esquina, o do povo que pede sinais, o da-concupiscência-dos olhos.
O evangelho do sucesso, o da soberba da vida, da vitória sem cruz, da coroa sem
sofrimento, dos valores materiais, dos atalhos. O pregador evangélico, no
entanto, é o que anuncia a palavra da cruz sem a qual não pode existir
proclamação de boas novas,
"porque nós não somos
falsificadores da palavra de Deus, como tantos outros; mas é com sinceridade, é
da parte de Deus e na presença do próprio Deus que, em Cristo, falamos".
(2 Coríntios 2:17)
2.2. A Didaquê (Didaqué
(Διδαχń, "ensino", "doutrina", "instrução" em
grego clássico), Instrução dos Doze Apóstolos (do grego Didache kyriou dia ton
dodeka apostolon ethesin) ou Doutrina dos Doze Apóstolos é um escrito do século
I que trata do catecismo cristão. É constituído de dezesseis capítulos, e
apesar de ser uma obra pequena, é de grande valor histórico e teológico. O
título lembra a referência de «E perseveravam na doutrina dos apóstolos ...»
(Atos 2:42).).
2.2.1. "insta a tempo e
fora de tempo" (v. 2 b)
A pregação da mensagem de
Jesus Cristo não depende de circunstâncias. Haja ou não perseguição; percam-se
ou não vantagens pessoais, nada deve influenciar nosso ministério. Paulo o
pontua: "Vós vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, acolhendo a
palavra com a alegria do Espírito Santo, apesar das numerosas tribulações"
(1 Tessalonicenses 1:6).
A expressão básica da carta
a Timóteo apresenta um bem feito jogo de palavras: "fica de prontidão em
tempo oportuno (eukairos) e, em sendo o caso, também em tempo inoportuno
(akairos)". Seja ou não em situações favoráveis. Kairos ensinam os
léxicos, é o tempo oportunidade, o tempo de Deus. Atender a essa hora significativa
é abraçar a salvação; rejeitá-la é ruina. O pregador não pode perder a visão da
urgência. John Stott enfatizou muito bem ao pronunciar "O sermão deve dar
descanso após incomodar".
2.2.2. "admoesta"
Há um crescendo nas
palavras: insta, admoesta, repreende, exorta. Até podemos falar em níveis de
pregação. O apóstolo fala em admoestação, uma abordagem intelectual usando-se a
argumentação. Jesus Cristo ordenou que ensinássemos os crentes "a guardar
todas as coisas" que Ele havia mandado.
A proclamação admoestadora é
a confrontação da pessoa com a realidade dinâmica da palavra anunciada; é a
pregação da esperança. Deve levar a confissão do pecado ou a sua convicção
porque proclamar o evangelho, instar em tempo oportuno, é confrontar. Hoje
quando o antinatural é vendido como natural, e o pecado parece ter
desaparecido, a Igreja de Jesus Cristo deve conduzir à salvação dos perdidos e
a santificação dos salvos. É a didaquê.
2.2.3. "repreende"
A repreensão tem pontuação
moral. Jesus Cristo deixou-nos o mandamento sobre promover a reconciliação de
vidas, o perdão no aconselhamento com vistas ao arrependimento. Dr. Wayne
Oates, professor de Psicologia Pastoral do The Southern Baptist Theological
Seminary (em Louisville, EUA) ensina que “como homem de Deus, como
representante divino, o pastor se torna uma consciência visível. E essa é a
razão porque pode admoestar repreender e exortar com sabedoria e compaixão. A
repreensão movida pelo amor de Cristo Jesus e pelo calor do Espírito dá ao
pregador autoridade da qual o seu rebanho precisa”.
2.2.4. "exorta"
É encorajamento, é conforto.
O ministério da paráclese (Do grego pará, «ao lado» +klásis, «fratura»Corpo
epistolar (1Ts 2,1–5,11): recordação da primeira evangelização (2,1-20); o
envio e o retorno de Timóteo (3,1-13); paráclese ou exortação (4,1-12); a ...)
tinha lugar destacado na Igreja apostólica. Era uma missão especial dos
profetas. É encorajamento à vida justa, perfeita, à ética. As cartas paulinas
trazem com muita frequência passagens de exortação.
2.2.5. O Modo De Fazer (v.
2c)
"Com longanimidade e
ensino", diz Paulo. Com paciência, com perseverança, sem cansaço, sem
irritação, apesar das tentações do aborrecimento e da impaciência com certas
ovelhas de cabeça dura e miolo mole. O pregador há de ter boa doutrina, que é a
base do ensino cristão.
3. O TEMPO E OS MITOS (2
Timóteo 4.3-4)
3.1. O tempo (v. 3)
Sem dúvida, estamos vivendo
esses dias. É um momento em que a ortodoxia será posta de lado por não ser
suportada. São os "tempos penosos" do capitulo 3, verso 1. O momento
quando teorias maléficas são propagadas por movimentos ideológicos, filosóficos,
religiosos e místicos. E, porque há quem se deixe levar (cf. "não
suportarão a sã doutrina", "grande desejo de ouvir coisas
agradáveis", "desviarão os ouvidos da verdade",
"voltar-se-ão às FÁBULAS", vv.3,4), há, igualmente, necessidade da
admoestação, repreensão e exortação referidas no versiculo 2. É nossa
oportunidade missionária e pastoral, é o kairós, o momento marcado por Deus, o
chamado da hora. Afinal, a mensagem do evangelho é eugênica, hígida, sadia.
"Para os devassos, os
sodomitas, os roubadores de homens, os mentirosos, os perjuros, e para tudo que
for contrário à sã doutrina." (1 Timóteo.1:10) e assim o pregador é
exortado a reter "...firme a palavra fiel, que é conforme a doutrina, para
que seja poderoso, tanto para exortar na sã doutrina como para convencer os contradiz
entes" (Tito 1:9), ou seja, o pregador não há de dar ao povo o que o povo
aprecia (que não caia nessa tentação!), mas o de que o povo precisa. Paulo
lembra que têm "grande desejo de ouvir coisas agradáveis" (no original,
têm "coceira nos ouvidos", prurido, comichão), fome de novidades (2
Timóteo 4:3),.
A palavra mágica de nossa
época parece ser liberdade. Realmente, qualquer causa tem algo que com ela se
relaciona. Fala-se em "Frente Nacional de Libertação", em "livre
empresa", "imprensa livre", "liberação feminina",
"amor livre", "liberdade sexual", "liberação
gay". E essa palavra é muito
apreciada. A Bíblia se pronuncia sobre o assunto: "Se, pois, o Filho vos
libertar, verdadeiramente sereis livres" (João 8:36). Jesus Cristo pôs a
marca da liberdade no seu ministério: "O espírito do Senhor está sobre
mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para
proclamar libertação aos cativos, e restauração de vista aos cegos, para por em
liberdade os oprimidos, e para proclamar o ano aceitável do Senhor" (Lucas
4:18).
Sim! A mensagem cristã é um
brado de "Independência ou Morte!": "Porque a lei do Espírito da
vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte" (Romanos
8:2). Liberdade de uma situação para outra. Liberdade da derrota moral, do
desespero da morte, das tentativas de auto salvação, do julgamento final para
crescer à estatura do ser humano perfeito, para servir ao Senhor , e viver a
vida do Espírito.
O ser humano, nosso alvo de
pregação, tem seus problemas peculiares: a secularização, a ideologia da
tecnocracia, a busca desenfreada de lucro, o ateísmo, o hedonismo, a
sacralização dos fenômenos naturais, a deificação da sua própria obra, a
ansiedade, o sentimento de culpa, a revolução interior no lugar do equilíbrio,
da qual o gadareno é seu retrato.
São tempos difíceis: há um
rápido aumento da parceria homossexual, dos casamentos abertos, e (pasme-se!) a
criação de Igrejas gays como a Metropolitan Community Church, cisma da Igreja
Metodista Unida dos EUA e espalhada pelos Estados Unidos e Canadá. Karl Barth
alerta com muita propriedade ao pregador de nossos dias que tenha numa das mãos
o jornal diário para ler o mundo e suas circunstâncias, e na outra a palavra de
Deus para falar profeticamente a esse mundo (cético), irreligioso, ao tempo que
sofrido e amargurado (e em desespero). De Erasmo:
"O ministro se acha no
ápice de sua dignidade quando do púlpito alimenta o rebanho do Senhor com sã
doutrina".
3.2. Os mitos ( v. 4 )
Paulo diz que "não só
desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fabulas" (Tito 1:14).
A propósito, Paulo encoraja outro jovem pastor a repreender com severidade
objetivando a saúde da fé, "não dando ouvidos a fábulas judaicas, nem a
mandamentos de homens que se desviam da verdade" (2 Timóteo 4:4). Afinal,
a função do quérigma inclui uma luta contra os mitos, as "fábulas"
das traduções bíblicas. Isso é o que diz Harvey Cox. Comblin, referindo-se aos
mitos do homem contemporâneo, menciona o que chama "mitos do passado",
os "sonhos da noite" de acordo com Ernest Bloch, e os "mitos do
futuro", a projeção da vida presente no futuro. Aliás, segundo alguns, o
ser humano de nosso tempo teria feito uma grande descoberta: que é possível viver
sem Deus, dando como consequência que a pessoa humana não tem necessidade de
Deus para viver e trabalhar. Aí pessoas com tal ideia na cabeça “... se
desviaram, e se entregaram a discursos vãos", e "...já... se
desviaram, indo após Satanás" (1 Timóteo 5:15). Por razões deste tipo, necessário
é que o pregador viva "não dando ouvidos a fabulas judaicas, nem a
mandamentos de homens que se desviam da verdade" (Tito 1:14) .
VERDADE
VIVA
Senhor faça-nos compreender
que uma verdade é muito mais viva quando ela se move, quando ela evolui e traz
novos frutos em cada estação. Quando muda diante de nossos olhos com a hora do
dia, com a idade do homem, com o passo dos séculos, mas permanece, em
substância, para todos: séculos e homens, sempre iluminadora, sempre
vivificadora, alimentando-nos a cada dia e levando-nos à nossa perfeição!
Senhor dá-nos a inteligência!
4. PREGAÇÃO E O PREGADOR
4.1. O fato e o ato
"Conjuro-te, pois,
diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua
vinda e no seu reino; prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta,
repreende, exorta, com toda a longanimidade e ensino. Porque virá tempo em que
não suportarão a sã doutrina; mas tendo coceira nos ouvidos, cercar-se-ão de
mestres, segundo as suas próprias cobiças; e se recusarão a dar ouvidos à
verdade, voltando às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições,
faze a obra de um evangelista, cumpre bem o teu ministério" (2Tm.4.1-5). A
primeira parte deste estudo teve como tema central A PREGAÇÃO como missão
cristã, como proclamação e ensino autorizado das doutrinas, princípios e leis
espirituais deixados por Jesus Cristo. Nesta segunda parte, será analisada a
figura do Proclamador, do mensageiro da mensagem do evangelho.
5. O PREGADOR (v. 5a)
5.1. "Tu, porém, sê
sóbrio em tudo" (v. 5a)
O preparo da mensagem começa
com o preparo do mensageiro, lembrando que sua força vital é a mencionada em
Mateus 10.20:
"...não sois vós que
falais, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós".
Não é fácil ser pastor.
Humanamente falando, é uma tarefa complexa pelo fato que lida com missões tão
amplas e, por vezes, tão divergentes. É preciso dependência de Deus, e de Sua
graça e de Sua energia espiritual.
Para ser ministro da palavra
é preciso salvação pessoal, chamada divina porque se for de homens, o pastor
não resiste fidelidade à palavra de Deus, convicção de que fora de Jesus Cristo
não há salvação, convicção da existência do diabo (o candidato a pastor no
concílio de exame disse não crer no diabo). Suspensão do concílio, e um pastor
idoso disse aos colegas, "não se preocupem; basta um mês no pastorado e
ele vai se convencer” e dedicação ao Espírito Santo. Bushell afirmou com muita propriedade:
"A pregação não é outra coisa senão a explosão de uma vida que
primeiramente se abasteceu de poder nas regiões onde o próprio Deus está entre
os alicerces da alma"
A primazia é que o pregador
ame o Senhor, por isso Paulo pode dizer, "O Senhor esteve ao meu lado e me
fortaleceu, para que por mim fosse cumprida a pregação..." ( 2 Timóteo
4:17).
É isso que lhe dará
integridade, da parte de Deus o shalom, palavra que quer dizer, inteireza,
plenitude, totalidade, paz, saúde, salvação. Do pregador é esperado que seja um
"homem de Deus" e um "embaixador de Cristo". Há um poder,
um peso simbólico no pastor/pregador, como disse Dr. Oates, que tem sido hoje
altamente contestado, até porque há os defraudadores de evangelho. Espera-se,
ainda, que seja a encarnação da mensagem em conduta e estilo de vida. Que não
haja contradição entre fatos e palavras, a "Síndrome de Apocalipse":
aparência de cordeiro e voz de dragão.
O pregador há de ser sóbrio,
sensível, vigilante, com mente sadia, autocontrolado, palavras, alíás, que se
referem ao relacionamento das crenças e da estabilidade emocional do candidato
ao ministério. Calvino deixou claro que "o ministro não pode ser escravo
do seu estômago e da sua carteira".
5.2. "Sofre as aflições"
(v. 5b)
E nem se pode fugir porque
aquele que é chamado ao sofrimento pelo amor de Jesus Cristo padecerá
perseguições. E também, "Eu de muita boa vontade gastarei, e me deixarei
gastar pelas vossas almas".
Nossa geração está
preocupada em evitar a dor. Há todo um imenso capítulo sobre o uso de
analgésicos e anestésicos. Para alívio da dor, desde a popular aspirina até a
codeína, para a insensibilidade total ou parcial do corpo o éter, o clorofórmio,
a benzocaína. Já o cristão entende haver um momento para o sofrimento: "se
filho (é o salvo) também herdeiro, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo;
se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos
glorificados" (Romanos 8:17).
Existe base bíblica para uma
teologia do sofrimento. Romanos 5.3 menciona uma glória nas tribulações, e essa
glória decorre do fato de as aflições são vistas como a experiência do dia a
dia do cristão. É um sinal de que Deus considerava os que as suportavam como
dignos do Seu reino.
Não há glória sem
sofrimento, isso, porém, não quer dizer qualquer dor, mas, sim, o sofrimento
com Cristo, não é uma enxaqueca, uma mialgia ou mesmo um maligno câncer. Não é
morbidez ou masoquismo do cristão. Assim, devemos sofrer com Cristo. Como foi,
então, o Seu sofrimento? Que ou quem O fez sofrer? Foram pessoas , suas
necessidades, tragédias, dores, resistência, má vontade e abandono. Jesus
Cristo sofria com as pessoas. Chorou quando elas choraram. Sofreu por elas. Do
mesmo modo, o pregador da Palavra há de sofrer com e pela igreja que lhe foi
confiada, e pelo seu apostolado no mundo: "Agora me regozijai no meio dos
meus sofrimentos por vós, e cumpro na minha carne o que resta das aflições de
Cristo por amor do seu corpo, que é a igreja" (Colossenses 1:24).
O ministro da palavra deve
sofrer as aflições por causa da verdade, visto que a pregação do evangelho
sempre demanda exaustão e perseguição, e envolve a participação nos sofrimentos
do Salvador, como tão bem coloca o apóstolo: "Agora me regozijo no meio
dos meus sofrimentos por vós, e cumpro na minha carne o que resta das aflições
de Cristo, por amor de seu corpo, que é a igreja; da qual eu fui constituído
ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, a
fim de cumprir a palavra de Deus"(Colossenses 1:24-25).
O pregador da palavra divina
convive com qualidades variadas de problemas: solidão, tensões familiares,
dificuldades da obra, onde o pior é que, em muitos casos, o conflito se
desenvolve dentro do seio do povo de Deus (decepções, deslealdade, críticas
ferinas, incompreensão, indiferença) George Whitefield ("Pregava para as
multidões ao ar livre, porque as igrejas na Inglaterra do século18 não o
recebiam" A partir de 1737, com apenas 23 anos, George Whitefield
(1714-1770) assustou a Inglaterra com uma série de sermões que transformaram a
sociedade britânica. Atacado pelo clero, pela imprensa e até por uma multidão
de insatisfeitos, Whitefield se tomou o pregador mais popular naquela época.
Entretanto, antes disso, ele passou por situações muito semelhantes as que
experimentam alguns missionários pioneiros que se entregaram a pregação do
evangelho em cumprimento ao imperativo do Senhor Jesus George Whitefield,
respondeu ao IDE do Senhor. Repetidas vezes, ele teve de pregar fora dos
portões do templo pelo simples fato de sua pregação apaixonada ser muito
distante da usual formalidade dos pastores daquele tempo. Ele chegou a ser
agredido em algumas ocasiões. Na cidade de Basingstoke, por exemplo, foi
espancado a pauladas. Em Moorfield, destruíram a mesa que lhe servia de
púlpito. Em Exeter, durante uma pregação para dez mil pessoas, Whitefield foi
apedrejado. Nada, porém, podia conter aquela mensagem. A influência de
Whitefield cresceu de tal forma que ele era capaz de manter atentas 20 mil
pessoas, encantadas com seus sermões, por mais de duas horas. Durante 34 anos,
a voz de George Whitefield ressoou na Inglaterra e América do Norte. Whitefield
era um calvinista firme, de origem metodista. Era um evangelista agressivo que
cruzou o Oceano Atlântico 13 vezes a fim de proclamar a salvação também na
América. Ele se tornou o pregador favorito dos mineiros de carvão e dos
valentões de Londres porque ia até eles) até exclamou: "Não estou cansado
da obra de Deus, mas, sim, na obra de Deus". É verdade, o cansaço pode
trazer experiências divergentes: o estresse espiritual (algo seríssimo!) ou
maior maturidade.
Que não se caia no pecado da
reclamação contra o povo do Senhor, na "Síndrome de Moisés", o qual
exclamava, "Concebi eu porventura todo este povo? dei-o à luz, para que me
dissesses: Leva-o ao teu colo..." (Números 11:12); nem no pecado da
"síndrome de Elias" que à ameaça do perigo fugia e não confiava. Paulo,
ao contrário dos seus colegas de vocação, escreve um verdadeiro "Hino ao
Apostolado" onde se humilha e posiciona diante do Deus Soberano que chama,
habilita e protege.
O ministro da palavra há de
ser veludo por fora e aço por dentro em todas as circunstâncias, cordato e
afetuoso não se deixando oxidar nem quebrar. Ou como afirma o apóstolo,
"ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser brando para com
todos aptos para ensinar, paciente; corrigindo com mansidão os que resistem na
esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento para conhecerem plenamente
a verdade"(2 Timóteo 2:23-26).
5.3. "Faz a obra de um
evangelista" (V. 5c)
A palavra
"evangelista" só três vezes aparece no Novo Testamento. Qual a obra
do evangelista? Quem eram eles? Não precisamos nos cansar para verificar que a
resposta imediata é que os apóstolos são evangelistas e tinham como
qualificação especial estar com o Mestre e pregar. Após a ressureição, a
principal preocupação deles tornou-se a pregação, e de tal modo que outros
homens foram selecionados para cuidarem de outros assuntos relevantes, porém
mais terra-a-terra.
Extraordinários homens esses
evangelistas! Paulo aponta Jesus Cristo como tema único do seu ministério apostólico/evangelístico,
a pregação da esperança, da alegria, da perseverança, o entusiasmo que era
passado aos ouvintes. O evangelista é, deste modo, um portador de boas
notícias, não um agoureiro ou profeta da desgraça, mas um otimista, um
apocalíptico no real sentido da palavra. A única munição que o evangelista leva
consigo é a autoridade de Cristo, que através do Seu Espirito concede esse dom
especial da sua graça.
O Novo Testamento oferece
modelos da pregação evangelística: é o testemunho, quando o crente em Jesus
Cristo não só conta a história, mas a sua parte naquela história; a
proclamação, que é como já visto fazer o papel de porta-voz, quando sempre se
aguarda uma resposta; o ensino, pois que na prática não se deve dissociar a
evangelização do ensino: o evangelista deve saber ensinar, e o mestre,
evangelizar. Jerônimo até disse que "ninguém, deve se arrogar o título de
pastor se não puder ensinar os que apascentam".
Evangelização sem o
"ensinar a guardar" resulta em crentes superficiais e nanicos. Ensino
sem a pregação do arrependimento é ancilose. Não era o que acontecia na igreja
dos primeiros dias conforme o declaram Atos 5.42 e 20.20. Perfeito exemplo de
integração de ensino e pregação evangelística se encontra em Atos 8.26-38,
terminamos o texto por dizer que Filipe o evangelizou e ouviu a pergunta que
todo evangelista pede em oração para ouvir com maior frequência, "que
impede que eu seja batizado?" (v. 36b). Outro modelo é o convite no teor
do Salmo 34.8, "provai, e vede que o Senhor é bom"; a vida, posto que
tenham um ministério espetacular como o ensino de Paulo em 2Coríntios 3.18.
Sim, mesmo a nossa luz é de menor grandeza refletindo a grandeza de primeira da
luz do Senhor. É o desafio de viver como cristão de que fala o apóstolo em
Romanos 12.1,2.
5.4. "Cumpre bem o teu
ministério" (v.5b )
O que há de ser feito com
sinceridade e dependência do Espírito Santo com a dignidade da chamada que
recebeu. Dennis Kinlaw (Dennis Franklin Kinlaw (26 de junho de 1922 - 10 de
abril de 2017), nasceu em Lumberton , Carolina do Norte. Foi presidente do
Asbury College entre 1968-1981 e 1986-1991 e chanceler da escola em 1992.
Antes, ele foi professor de Línguas e Literatura do Antigo Testamento no Asbury
Theological Seminary (1963-1968) e professor visitante no Seoul Theological
College , Seul , Coréia do Sul em 1959. Ele possuía um BA no Asbury College
(1943), um M.Div no Asbury Theological Seminary ( 1946), e MA e Ph.D. da
Universidade Brandeis .Ele foi o fundador da Francis Asbury Society e autor de
vários livros. A Biblioteca Kinlaw no campus do Asbury College é nomeada em
homenagem tanto ao falecido Dennis Kinlaw quanto à sua falecida esposa, Elsie.),
salienta que o aspecto mais importante na pregação não é o preparo da mensagem,
mas o do mensageiro. Isso significa que nossa prioridade máxima é ter momentos
de comunhão com o Senhor Jesus Cristo, pois chamou Jesus aos apóstolos
"para que estivessem com ele". E aos chamados levitas não foi
designado, entre outros encargos "estar diante do Senhor servindo-o”?
Os ministros da Nova
Aliança, como os profetas do Antigo Testamento, agem cheios do Espírito do
Senhor, e Lucas insiste nisso: com respeito aos Doze, a Pedro, aos Sete, a
Estevão, a Filipe, a Saulo, a Barnabé e Paulo. A comunhão de Jesus Cristo e Seu
Espírito capacitará o ministro da palavra a ver as pessoas e os fatos como
Cristo os vê. Sim, as previsões divinas são inesgotáveis, "Quem permanece
em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazeis".
Isso explica João 14.23-26; 15.26,27; 16.7-13. O ministro da palavra vive
rodeado de perigos e tentações, razão porque necessita ser energizado pelo
poder do Alto. Afinal, não é um mero profissional, nem um mero conselheiro, não
é um mero orador. É, sim, um ministro da Nova Aliança, da Palavra e das
ordenanças.
A palavra
"ministro" tem uma origem interessante. Era o perfeito contrário de
"magistrado" e de "mestre" para os antigos romanos.
Magister era o encarregado de administrar a justiça porque havia nele algo mais
que os outros, os quais não tinham esse magis, essa competência além. Por sua
vez, minister era o que tinha um minus, algo menos que os outros porque a
serviço dos outros, das autoridades e dos senhores. É mesmo. O pastor é um
paradoxo: é mestre, porém ministro; possui um magis, o ser pastor-mestre, e um
minus, seu ministério, ou como coloca Paulo "sou o menor..."
Precisamos de lábios ungidos
pela brasa do altar, tanto quanto nossos ouvidos, mãos, pés e olhos. Nossa vida
interior vai se refletir no púlpito. É nesse ponto que vale a pena citar Lutero
o qual dizia que três coisas fazem o pastor: a oração, a meditação e a
tentação, visto que as três lhe abrem a consciência para compreender as
grandes, magníficas, abençoadas verdades espirituais.
Para bem cumprir seu
apostolado, o ministro evangélico precisa estudar. Ele que já conhece o poder
transformador de Deus, precisa estudar para bem manejar a Escritura. Jesus
Cristo o ressaltou, "Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de
Deus" (Mateus 22:29).
O pregador é intérprete da
Bíblia, razão porque há de ser homem de estudo, de oração e profundamente
inserido no tempo. Há de ter preparo teológico através das ciências bíblicas e
teológicas, versado na Teologia Bíblica, na Teologia Sistemática, na
Hermenêutica; homem de conhecimentos gerais, leitor de publicações
especializadas, dos jornais diários, das revistas de comentário, da história.
Há de ter preparo, e permanecer se preparando: é um homem sempre em formação,
estudante perene da Bíblia, pesquisador de bons e variados comentários,
estudante da teologia e profundo na doutrina.
O pregador da Palavra de
Deus há de se alimentar constantemente da meditação das Escrituras, como na
ordem a Ezequiel: "Filho do homem... come este rolo, e vai fala à casa de
Israel" (Ezequiel 3:1) ou na experiência de Jeremias: "Acharam-se as
tuas palavras eram para mim o gozo e alegria do meu coração" (Jeremias
15:16) .É uma contradição (seria melhor dizer aberração?) a pregação
não-teológica. Seria o mesmo que falar em mecanismo não mecânico, ou medicina
não médica, motivo pelo qual não é possível desvincular o preparo teológico de
um ministério bem cumprido.
O apóstolo Paulo faz a
Timóteo alguns apelos de cunho pessoal. Diz por exemplo: "...(que) pelejes
a boa peleja, conservando a fé, e uma boa consciência.". (1 Tm 1:28-19), "Exercita-te
a ti mesmo na piedade" (1 Tm 4:7). "Aplica-te à leitura, à exortação,
e ao ensino.." (1 Tm 4:13) ."Conjuro-te... que sem prevenção guardes
estas coisas, nada fazendo com parcialidade" (1 Tm 5:21). "Segue a justiça,
a piedade, a fé, o amor , a constância, a mansidão".(1 Tm 6:11). "...
guarda o depósito que te foi confiado, evitando as conversas vãs e profanas e
as oposições da falsamente chamada ciência”. (1 Tm 6:20) "Conserva o
modelo das sãs palavras..." (2 Tm 1:13). "Procura apresentar-te diante
de Deus aprovado, como obreiro de que não tem de que se envergonhar, que maneja
bem a palavra da verdade" (2 Tm 2:15), e outros tantos, e tantos outros de
atualíssima aplicação na vida do obreiro do século atual.
De onde vem a força do
pastor? Com atribuições tão variadas, e por vinte e quatro horas à disposição
do seu rebanho, as suas forças espirituais, emocionais e físicas provém de,
pelo menos, duas fontes:
Deus ("Posso todas as
coisas naquele que me fortalece"- Fp.4:13) Aquele que chamou também o sustenta.
Na experiência de chamada de algumas das personagens bíblicas, há um senso de
inadequação, de estar aquém da vocação. Não foi assim com Amós? Com Jeremias?
Com Ezequiel? Mas pelo poder do Senhor, a voz interior continua a falar: o
desejo forte, continuado de fazer do ministério a ocupação suprema da vida:
"Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, porque me é imposta
essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!" ( 1Coríntios.9:16).
Outra fonte é a sua igreja,
por causa de duas importantes razões: o conceito do Sacerdócio dos Crentes
porque, precisando o pastor das orações do seu rebanho, espera que ele tome
parte ativa na intercessão pelo seu ministério. Como o apóstolo aos gentios
rogou: "Irmãos, orai por nós"
( 1Tessalonicenses 5:25).
O outro conceito é o de
Igreja Ministrante, a dimensão pastoral da igreja como um todo. O ministro dá e
recebe forças: pastoreia e é pastoreado. Bendito feedback.!... Se para o
ministro jovem a palavra encorajadora é "ninguém despreze a tua mocidade...",
para o pastor já experimentado nas lides do apostolado persiste a alegria de
dizer com Paulo, "combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé”
(2Coríntios 4:7).
6. O VERBO E O PÚLPITO
o pregador e o seu auditório
numa abordagem psicanalítica
6.1. A Natureza da
Psicanálise e a Natureza da Pregação
Para se entender a
Psicanálise, é preciso, antes de tudo, torná-la distinta de duas disciplinas
com as quais frequentemente é confundida.
6.1.1. A Natureza da
Psicanálise
Quando se emprega o termo
Psicanálise, a referência é "à descrição teórica da mente humana e ao
sistema de psicoterapia a ela associado desenvolvido por Sigmund Freud em
Viena", ensina KLINE (A psicoterapeuta austríaca Melanie née Reizes,
posteriormente conhecida como Melanie Klein, nasceu na cidade de Viena, no dia
30 de março de 1882. Era filha do médico Moritz Reizes, judeu de origem polonesa, provindo de Lemberg,
situada na Galícia. Em 1946, Melanie Klein publicou um de seus textos mais
importantes: “Notas sobre os Mecanismos Esquizóides”. No início da década
seguinte o grupo kleiniano lançou o livro “Desenvolvimentos em Psicanálise”. Em
1957, Melanie Klein publicou “Inveja e Gratidão”, seu último livro com grandes
novidades teóricas. O texto “Narrativa da Análise de uma Criança, no qual
Melanie Klein trabalhou até poucos dias antes de sua morte, em 22 de setembro
de 1960, seria editado logo em seguida. Ao longo de sua obra, Melanie Klein
formulou uma teoria que possibilitou a compreensão da vida mental primitiva e
abriu novos horizontes dentro do campo da psicanálise. Para Julia Kristeva, que
dedicou à psicanalista o segundo volume da coleção “O Gênio Feminino”, a
clínica da infância, da psicose e do autismo, em que predominam nomes como
Bion, Winnicott e Frances Tustin, seria inconcebível sem a inovação kleiniana.
Melanie Klein seria em seu entender a refundadora mais ousada da psicanálise
moderna. Segundo Luís Cláudio Figueiredo e Elisa Maria de Ulhôa Cintra, “se
perguntássemos aos estudiosos da área qual teria sido, depois de Freud
(1856-1939) e ultrapassando-o, o autor que mais contribuiu para que se
compreenda o funcionamento psíquico inconsciente, não haveria dúvida: Melanie
Klein, seguida de seus discípulos Wilfred Bion (1897-1979) e Donald Winnicott
(1896-1971). A estranheza das formações do inconsciente e das primeiras
experiências desafia todas as medidas de bom senso. Melanie Klein ensinou a por
de lado a razão e o senso de medida para compreender o caráter autônomo e
demoníaco das fantasias inconscientes e angústias.”). A Psiquiatria, por outro lado, é um ramo da
Medicina dedicado ao tratamento das doenças mentais. Observe-se que a
Psicanálise busca o alívio destes distúrbios procurando revelar os fatores que
os determinam, podendo ser, até, técnica da própria Psiquiatria, ao passo que,
onde a Psicanálise não encontrar reconhecimento, a Psiquiatria pode não
incluí-la. O terceiro termo é Psicologia, que é aplicado à ciência do
comportamento. Existe, aliás, uma Psicologia Clínica que é essencial e
basicamente psiquiátrica. KLINE. Utiliza-se a mesma designação para descrever
sistemas semelhantes derivados da interpretação freudiana, como os de Adler,
Jung, Fereczi, Reich, Klein, e outros tantos. Visto isso, verifica-se que a
Psicanálise nasceu com um propósito de base terapêutica, e tem sido
considerada, ao longo desses cem anos, como "o mais moderno e eficiente -
embora longo e dispendioso - método de tratamento dos desequilíbrios
mentais". Gastão Pereira da SILVA a denomina de "terapêutica da
sinceridade". O objetivo é "abrir o Inconsciente" do analisando,
já que o Inconsciente é a razão da Psicanálise.
O psicanalista utiliza
basicamente o que é externado pela palavra, seja a narrativa de memórias, o
sonho, as parapraxias (atos falhos ou lapsus linguae), os chistes (gracejos) e,
mesmo, o silêncio como resistência e modo de comunicação.
6.1.2. A Natureza da
Pregação
MORAES, num artigo de título
altamente sugestivo, aponta para a "Cumplicidade na Pregação", quando
esclarece que "tanto mais o pregador conhece e vive o conteúdo do seu
sermão, tanto mais identificação há entre ele e a mensagem, tanto mais é possível
ter ouvintes interessados e atentos”. Esse interesse e atenção do ouvinte vêm
andar paralelamente ao conceito freudiano de Transferência, ponto capital em
Psicanálise. No tratamento psicanalítico, a Transferência é uma ocorrência
importantíssima, visto que todo o curso da análise dela depende.
Poderemos conceituá-la como
a passagem dos afetos do paciente para a pessoa do terapeuta ou analista. A
Transferência não é uma conquista amorosa, embora haja um processo de
"sedução" (no bom sentido, naturalmente), Não há, contudo, propósitos
sexuais, mas de simpatia, ou "cumplicidade" para usar a expressão de
MORAES.
O que sucede no consultório
e divã do psicanalista vai suceder no santuário e púlpito quando este exerce um
papel de "sedução" e se estabelece uma Transferência nos mesmos ou
quase nos mesmos moldes da que acontece em psicoterapia. O livro de Ezequiel
registra um como processo de Transferência dos filhos de Israel para com o
excelente pregador que era esse profeta: "Quanto a ti, ó filho do homem,
os filhos do teu povo... vêm a ti, como o povo costuma vir, e se asentam diante
de ti como meu povo... Deveras, tu és para eles como quem canta canções de
amor, que tem voz suave, e que tange bem...”.
Na realidade, MORAES
apresenta características da cumplicidade na Pregação que podem ser as da
Psicanálise, quando ele ensina que: A cumplicidade é um recurso necessário ao
momento atual, sendo que o mesmo pode ser dito da Psicanálise. A cumplicidade
na pregação começa a acontecer antes mesmo da entrega da mensagem. Na prática
psicanalítica, a Transferência leva o paciente a antegozar o momento da sessão
de análise. A cumplicidade na pregação exige do pregador um conhecimento do
povo, seus problemas e anseios, o mesmo podendo ser afirmado do psicanalista
que deve ser uma pessoa atualizada com o mundo e razoavelmente entendida em
todas as áreas para poder conduzir a conversa com o seu paciente.
A cumplicidade deve estar
presente na introdução do sermão. E assim ocorre quando do início da sessão de
terapia. A cumplicidade na pregação requer que a mensagem seja pregada com
equilíbrio, do mesmo modo como o terapeuta conduzirá a sessão.
A cumplicidade na pregação é
uma realidade quando o povo tem a oportunidade de participar. Não havendo
Resistência (outro termo freudiano), o paciente participa bem, saindo
plenamente aliviado da sessão de terapia, como abençoado do Culto pela
pregação.
O Dr. Wayne OATES, autor e
co-autor de mais de cinquenta livros na área de Cuidado Pastoral, menciona em
seu aclamado The Christian Pastor a questão do Ensino Pastoral, o Ministério da
Pregação e o Cuidado Pastoral. Elaborando este tema, diz o mencionado professor
do Seminário Batista de Louisville, que o relacionamento pregação-pastoral
propõe um paradoxo na abordagem que o pastor usa para ir ao encontro da vida do
seu povo em termos de alvos, ideais, objetivos e propósitos para viver no Reino
de Deus. Aborda, ainda, que o bom pregador depende, tanto quanto o bom pastor,
de algumas leis da personalidade, para a sua eficiência. Menciona, também, o
estabelecimento de um Rapport (Rapport é um conceito do ramo da psicologia que
significa uma técnica usada para criar uma ligação de sintonia e empatia com
outra pessoa), termo usado em certas áreas como Transferência o é na
Psicanálise; no entanto, acrescenta OATES, vai levar tempo e um relaxamento
paciente de suspeitas e defesas de todo tipo.
É natureza da Pregação,
portanto, suprir as necessidades espirituais do povo de Deus através de uma
pessoa idônea que comunique oralmente a mensagem divina extraída da Bíblia
Sagrada com o poder e unção do Espírito Santo. Depreende-se que, por ser um
recurso divinamente inspirado, a pregação assume as alturas de uma relação de
ajuda.
7. O VOCABULÁRIO DA
PSICANÁLISE
Sem dúvida, expressões como
consciente, inconsciente, ego, superego, mecanismo de defesa, repressão,
regressão, projeção, ato falho, libido, fase oral, fase anal, fase
fálico-genital, complexo de Édipo são largamente utilizadas pelo povo, apesar
de o serem sem qualquer conceituação psicanalítica. São, no entanto, termos da
Psicanálise freudiana. Torna-se imperativo entendê-las para uma abordagem
psicanalítica da Pregação cristã.
7.1. Inconsciente e Cia.
Temos a chamada Teoria
Topográfica, a qual trata como diz o nome, da topografia do aparelho psíquico,
que se divide em Inconsciente, Pré-consciente e Consciente. Filósofos,
psicólogos e, naturalmente, psicanalistas admitem a existência de um
Inconsciente. Thomas LIPPS afirmou que "o inconsciente deve ser
considerado a base universal da vida psíquica". Outrossim, MALEBRANCHE2
deduzia ser o Inconsciente originário de numerosas representações da
impossibilidade da simultaneidade da apercepção. E para Edward VON HARTMANN3,
os fenômenos inconscientes não estão submissos a uma regra da experiência, pois
é sempre o "eterno inconsciente", de existência isolada, com
propriedades transcendentes, e não passíveis de comprovação experimental.
Para o Inconsciente vão, por
assim dizer, as ideias censuradas ou recalcadas. Gastão Pereira da SILVA usa a
figura metafórica de um "presídio" ou "enxovia" na qual se
acumulam as "más tendências psíquicas". Esse recalque que vai para o
Inconsciente pode ser um desejo, um sentimento ou ódio, de qualquer maneira,
algo inacessível à pessoa. A principal linguagem do Inconsciente é a dos
sonhos, dos atos falhos e a dos chistes, já o destacamos. "Abrir o
Inconsciente", repetimos, é o propósito da Psicanálise.
O Pré-consciente, por sua
vez, arquiva as ideias selecionadas que estão ao alcance do Consciente, que é
usado no dia-a-dia, pois qualquer sensação que possa ser descrita é consciente.
2 Nicolas Malebranche (1638
–1715) , filósofo francês. Sua principal obra é De la Recherche de la Vérité
(Da Procura da Verdade), onde trata da natureza do espírito humano e do que o
homem deve fazer para evitar o erro nas ciências.
3 Karl Roben Eduard von
Hartmann, (1842-1906), filósofo alemão, chamado "o filósofo do
inconsciente" que em sua metafísica procura conciliar duas correntes
contrárias de pensamento, o racionalismo e o irracionalismo, por meio do papel
central que atribui ao inconsciente.
7.2. Ego, Superego e Id
A denominada Teoria
Estrutural destaca os três mecanismos da Personalidade: o Id, o Superego e o
Ego. O Id repousa inteiramente no
Inconsciente, sendo que sua energia está quase totalmente à disposição dos
instintos básicos que são o Eros (instinto de vida, do bem, tudo o que é
positivo, bom, justo, animado e animador) e o Tanatos instinto de morte, do
mal, de negativo, injusto, e rebaixador).
O Superego é um sistema de monitoramento e fonte de determinações
morais e comportamentais, ou, como coloca HURDING, "uma voz 'interior
paterna ou materna”.
O Ego, por seu lado, tem por objetivo maior a "autopreservação
do organismo", e como função principal a coordenação de funções e impulsos
internos, bem como fazer com que os mesmos se expressem no mundo exterior sem
conflitos.
7.3. Pulsão
É um conceito-limite entre o
psíquico e o somático. Há quem use a palavra Instinto em lugar de Pulsão,
embora Freud tenha usado Instinto para caracterizar um comportamento animal
preformador (significa formar antes ou antecipadamente. É importante que você
pré-forme essa argumentação), hereditário e característico de uma espécie. A
Pulsão é um processo dinâmico que consiste em um impulso cuja fonte reside numa
excitação corporal localizada. A fonte da pulsão, assim como sua meta, está no
lado somático.
O desenvolvimento
progressivo da teoria das pulsões deve ser dividido em três etapas:
- Primeira etapa:
caracteriza-se por um antagonismo entre a pulsão sexual e a pulsão de auto-conservação.
- Segunda etapa. Nesta dá-se
o surgimento do Narcisismo.
- Terceira etapa, que se
constitui pela oposição entre a pulsão de vida (Eros)( Eros
e Thanatos: “Instintos” de vida e morte de Freud. A Teoria das pulsões de Freud
evoluiu ao longo de sua vida e obra. Ele inicialmente descrevia uma classe de
unidades conhecidas como os “instintos de vida” e acreditava que essas unidades
eram responsáveis por grande parte do comportamento) e a pulsão de morte
(Tanatos)( Na mitologia grega, Tânato (do grego θάνατος , transl.
Thánatos, "morte"), também referido como Thanatos, é a personificação
da morte, enquanto Hades reinava sobre os mortos no mundo inferior. ).
A Pulsão é distanciada do
Instinto por ter uma característica própria: o ser sempre parcial. Não pode ser
totalizada, nem domesticada, e não precisa de coisa alguma para se manifestar.
7.4. Transferência
Referindo-se a este tema,
Karen HORNEY(Psicanalista alemã, nascida em 1885 e falecida em 1952, que estuda
Medicina e se especializa em Psicanálise, desenvolvendo a sua atividade como
psicanalista, de 1919 a 1932, na Clínica Psicanalítica de Berlim. Em 1934
fixa-se em Nova Iorque, publicando, em 1937, o livro The Neurotic Personality
of our Time onde chama a atenção para a importância que os fatores culturais
têm nas perturbações neuróticas. Na sua opinião, Freud tinha esquecido esta
importante variável. Além disso, defende que, para se compreender as neuroses,
mais do que a exploração exaustiva do passado do paciente, seria importante
analisar as vivências do presente, na sua opinião, principais responsáveis
pelas perturbações.) afirma ser, na sua
opinião, "a mais importante descoberta de Freud", pelo fato de que é
possível a utilização terapêutica das reações emocionais do paciente em relação
ao analista e à situação analítica. Este assunto já foi objeto de tratamento
mais acima.
7.5. Resistência
Em termos clínicos,
Resistência é tudo o que interrompe o trabalho psicanalítico. Freud ensina que
"a resistência acompanha o trabalho psicanalítico em todos os seus
passos" FREITAS destaca de modo simples que a verdadeira Resistência é o
medo ou vergonha de pedir ajuda e reconhecer as próprias limitações, bem como
admitir os próprios problemas e a dificuldade de pedir ajuda.
7.6. Ansiedade
A ansiedade é produzida pela
competição existente em nossa sociedade, a qual se transfere para dentro de si.
Sempre foi assim, e isso se torna agravado pela perda do Outro, pela perda de
si mesmo e pela incapacidade frente ao novo. Essa ansiedade é chamada por
HORNEY de "neurótica”. Impulsos hostis é a principal fonte de onde nasce a
ansiedade neurótica
8. O VOCABULÁRIO DA PREGAÇÃO
Há, igualmente, um vocabulário
utilizado pelo pregador e que tem como fonte a Teologia cristã e a Doutrina
bíblica. São ricas e plenas de significado as palavras que o constituem e que
são empregadas na comunicação do evangelho. Os conceitos mais destacados são
Graça, Fé, Salvação, Justifica0ção, Santificação, Glorificação.
4 A médica psicanalista
Karen Horney (1885-1952) enfatizou a preeminência de influências sociais e
culturais sobre o desenvolvimento psicossexual, focalizou sua atenção sobre as
psicologias divergentes de homens e mulheres e explorou as vicissitudes dos
relacionamentos maritais.
8.1. Graça
Efésios 2.8, declara que
"Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de
Deus". Graça é o amor de Deus que por força do pecado é imerecido pelo ser
humano. É a mais expressiva das palavras do vocabulário da pregação.
8.2. Fé
A fé é instrumental, básica
e essencial, pois sem ela "é impossível agradar a Deus", como ensina
Hebreus 6.11. A fé nos conduz à justificação, outro excelente vocábulo da fé
cristã.
8.3. Salvação
A obra de restauração do ser
humano pela graça divina mediante a fé pessoal é chamada de salvação, e
compreende três fases: a justificação, a santificação e a glorificação. A
primeira ocorre num momento crítico do kairos, ponto de retorno de caminhada, e
se estende na busca da semelhança a Jesus Cristo naquilo que é denominado
santificação. A glorificação, ápice da obra salvadora, ocorre tão somente na
Glória Eterna.
8.4. Paz
O resultado de toda a obra
de salvação é trazer qualidade de vida ao convertido. Paz é a consequência da
justificação.
9. NEUROSE E SEXUALIDADE NA
IGREJA
Alguém jocosamente definiu o
Neurótico como uma pessoa que constrói castelos no ar, o Psicótico como quem
mora nele, e o Psicanalista como sendo aquele que cobra o aluguel. O fato é que
a igreja é formada por uma quantidade de pessoas que podem ser classificadas
como neuróticas, visto que "neurose é uma reação que afeta os aspectos de
uma pessoa". Difere do Psicótico porque a psicose implica na fragmentação
de toda a personalidade.
O fato é a que Neurose
resulta de um mecanismo de defesa: os impulsos do Id não conseguem ser
devidamente sublimados e isso faz com que as repressões do Superego ganhem
maior expressão, surgindo deslocamentos doentios através dos Mecanismos de
Defesa como a Compensação, Projeção, Racionalização, Conversão.
Os Neuróticos são pessoas
que vivem com esses chamados Sintomas Neuróticos no seu dia a dia, sem qualquer
alteração nas atividades normais. ELLIS esclarece o assunto com palavras
simples: "Basicamente, é o indivíduo que age, com frequência, de maneira
ilógica, irracional, imprópria e infantil". Certa gravidade surgirá quando
o estado emocional se tornar por demais intensos e os sintomas se evidenciarem
com muita clareza. Esses sintomas são principalmente a angústia, a ansiedade e
as fobias. Mas há sempre a possibilidade de recuperação.
Mas não é fácil reconhecer
um Neurótico que não deve ser confundido com o Infeliz. O Neurótico é quem por
defeitos herdados ou adquiridos em idade precoce, não sabe pensar com clareza,
agir como pessoa adulta e fazer as coisas de modo eficiente. Muitos neuróticos têm
grande talento, inteligência elevada e boa aparência, no entanto, a sua
condição psíquica atrapalha a capacidade potencial e as realizações efetivas.
Estes sofredores estão
também na igreja portando dúvidas, indecisão, conflito, temor, ansiedade, sentimentos
de inadequação, de culpa e autocensura, supersensibilidade e excesso de
desconfiança, hostilidade, ressentimento, ineficiência, autoengano, ausência de
realismo, rigidez, timidez, afastamento, comportamento antissocial, insensatez,
esquisitice, infelicidade, depressão, incapacidade de amar, egocentrismo,
tensão, incapacidade de repousar, tendências obsessivas, inércia, falta de
orientação, trabalho compulsivo, excesso de ambição, irresponsabilidade, fuga e
autopunição, desejosos de uma libertação, de uma catarse, de uma ministração
que lhes virá não somente de uma entrevista individual, de um trabalho de
Psicoterapia de Grupo ou, ainda, do púlpito que transformará todo o Culto num
grande espaço de Cuidado Pastoral, numa imensa relação de ajuda.
O que faz a Neurose é a
Repressão, a luta travada no interior do indivíduo, numa repetição da
exclamação de Paulo, o apóstolo, que diz: "não faço o bem que quero, mas o
mal que não quero, esse faço". Essa tremenda Repressão ocorre geralmente
em pessoas escravizadas a formas rígidas de educação e de moral, submissas que
são a um implacável Superego e que veem, quantas vezes, pecado e delito em atos
que seriam considerados puros e normais por outras pessoas. Com a passagem do
tempo, os afetos da psiquê fazem surgir enfermidades de natureza psicogênica,
vestígios de sentimentos de culpa, e essas neuroses se mascaram e desnorteiam o
indivíduo.
10. PSICOPATOLOGIA E
PROBLEMAS RELIGIOSOS
Einstein afirmou certa
ocasião que "A ciência sem religião é manca; a religião sem ciência é
cega". É um modo de dizer que não se pode prescindir de ambas as
realidades; um modo de afirmar a verdade de ambas e como mutuamente podem se
ajudar. Para o pastor/pregador, o conhecimento de si mesmo pela autoanálise e
do aparato psíquico do seu rebanho pela análise de seu comportamento, suas
angústias e necessidades é o mais poderoso instrumento para repassar a mensagem
de que a esperança de cura existe: é só trabalhar com o kairos, o tempo de Deus,
num labor paciente, tranquilo, organizado através da terapêutica da palavra, do
púlpito com mensagem preparada e ungida nos ditames de Jeremias 3.15,
"Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com
conhecimento e com inteligência".
Há, entretanto, certa
qualidade de religião pessoal que pode ser classificada como enferma. Também
estes estão nas igrejas. É a pessoa que, fazendo uma leitura ultra linear da
Escritura Sagrada, transforma sua vida, a de familiares e a de outras pessoas
num fardo tão pesado que quase não podem transportar. OATES no seu When
Religion Gets Sick afirma que quando a religião fica enferma, prejudicam de
maneira total as funções básicas da vida. Isso quer dizer que a disfunção é um
critério para medir a enfermidade. Por exemplo, normal é a prática do jejum;
recusar-se a se alimentar por ter medo do castigo de Deus, já é Neurose
conduzindo a uma religião enferma.
Há psicopatologias que
conduzem a uma religião doente. A idolatria, em todas as suas formas e a
superstição são exemplos de religião enferma; a religião que não ensina a
perdoar e a olhar com fé e esperança o futuro e os dias maus; a religião da
amargura, do ódio e da perseguição está seriamente doente. Uma abordagem
psicanalítica da pregação e do pregador levará em conta esses defeitos na fé.
Na verdade, se a fé for do tamanho da menor semente tem esperança; mas se a
proclamada fé tiver um lado estragado, uma "banda podre" para usar
expressão popular bem atual, o remédio é trabalhar o Id, o Superego e o Ego do
seu portador e arrumar seu Inconsciente de tal maneira que as manifestações do
Superego como em Colossenses 2.20s ("por que vos sujeitais ainda a
ordenanças, como se vivêsseis no mundo, como: não toques, não proves, não
manuseies?") sejam substituídas por outros sentimentos como os estimulados
por Paulo em Filipenses 4.8, que ensina, "tudo o que é verdadeiro, tudo o
que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo
o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso
pensai".
Este é um excelente roteiro
para uma abertura do Inconsciente ou, se preferirem, para a solidez da
consciência cristã.
11. PSICOSSOMÁTICA E
PREGAÇÃO
Não podemos esquecer que o
ser humano é um todo harmônico. Tanto a visão hebraica do “adam” (o ser humano)
como Deus criou, quanto a Teoria Geral dos Sistemas tão bem conceituada por VON
BERTALANFFY, são concordes em afirmar a unidade essencial da pessoa humana.
Sempre ocorreu haver pessoas enfermas que sem apresentar lesões em órgãos do
corpo, sofriam dos mesmos. Hoje essas pessoas são chamadas Neuróticas e
tratadas de acordo, quando no passado a própria Medicina caminhava às cegas no
tocante ao psiquismo humano.
A importância à psique(A
mente, o entendimento, o intelecto, o que contém os sentimentos mais profundos
de alguém: a loucura não é simplesmente a ruptura da psique. A alma, o
princípio espiritual do homem que se opõe ao corpo. O espírito, a parte
imaterial, incorpórea e inteligente do homem. [Psicologia] Reunião dos
caracteres psíquicos de um ser humano; psiquismo.) passou a ser dada com os
estudos de Freud e seus discípulos. A própria Psicanálise nasceu do trabalho
desenvolvido por Freud a partir de um caso de Histeria, que influenciou a
cética Medicina, que passou a dar maior importância ao sistema psíquico,
anteriormente ignorado.
O surgimento da Medicina
Psicossomática tirou os excessos tanto dos psicanalistas quanto dos médicos e
colocou as coisas nos lugares adequados. Passou-se a compreender a interação
corpo-mente. O psiquiatra MÁS DE AYALA fez uma equilibrada consideração quando
afirmou que "Em todas as épocas, havia-se observado as influências que as
emoções agudas exercem sobre as funções do corpo. A cada situação emocional -
alegria, pena, vergonha, ira - acompanha uma síndrome psicossomática, que tem
lugar no ritmo cardíaco, na respiração, na irrigação sanguínea, nas secreções,
no sistema muscular, etc. Não obstante isso ser velho como o mundo, a Medicina
não os levava em conta, pois essas trocas psicomotoras pertencem à vida normal
e ela só estudava os doentes no hospital. Do mesmo modo como a Fisiologia
acadêmica se fez sobre rãs descerebradas e cachorros narcotizados, o que levou
Letemendi a dizer: à medicina humana falta homem e sobra rã".
Ao ocorrer um distúrbio
somático, como o mau funcionamento de algum órgão, víscera ou glândula, o
sistema psíquico recebe uma comunicação e inicia a manfestação de sintomas
estranhos, muitas vezes diagnosticados como Neuroses quando são apenas
descontrole orgânico. O contrário também ocorre: um distúrbio psíquico (não
mental), mesmo momentâneo, transparece na forma de manifestações de colite,
prisão de ventre, hemorróidas, constantes azias, hipertensão (ou hipotensão),
taquicardia, má circulação nas mãos ou nos pés, dores musculares, alergias,
urticárias, acne, sudorese excessiva, asma, bronquite crônica ou alérgica,
rinite e laringite alérgicas, apnéia, diabetes, impotência, anorgasmia
feminina, enurese, psoríase, vitiligo e tantas outras. Mulheres mal-amadas
desenvolvem dores na coluna e dores de cabeça recorrentes; empregos inadequados
ou mal recompensados trazem úlcera gástrica e enxaquecas. Os exemplos são
inúmeros. A gravidez imaginária é um típico caso de psicossomatismo. Abortos
ocorrem por problemas de ordem emocional, sejam eles medos, desgosto ou tensão
nervosa. É um caso que a Psicanálise chama de Conversão.
E esse povo está tanto nos
consultórios dos psicanalistas quanto nos santuários para ouvir a ministração
do púlpito, o qual, em havendo a inteligência mencionada em Jeremias 3.15,
transformará a igreja e a sua mensagem numa enorme comunidade terapêutica. Não
era sem motivo que Jesus Cristo dizia ao suplicante que lhe pedia a cura
física, "Filho, tem bom ânimo; os teus pecados estão perdoados” (Mateus
9:2) , ou, ainda, "Tem bom ânimo filha, a tua fé te salvou" (Mateus
9:22).
Estes são apenas dois
exemplos do divino interesse de Jesus pelo homem total, que vive angustiado,
sentindo-se culpado e necessitado de perdão.
11.1. Angústia
Uma jovem que sofria de
Angústia, após consulta a um ginecologista, descobriu que portava um distúrbio
nos ovários. Tratada, a Angústia desapareceu. A tireóide, quando funciona mal,
é responsável por alterações de humor no indivíduo. Muita gente considerada
fria, impulsiva, alienada ou angustiada porta distúrbios na sua tireóide.
Para Freud, a Angústia
define-se como sentimentos de medo e desamparo em relação a uma tensão de
libido recalcada, uma expressão de libido reprimida. MASSERMANN, citado por
TALLAFERRO, propôs a seguinte conceituação "O afeto desagradável que
acompanha uma tensão instintiva não satisfeita. É um sentimento difuso de
mal-estar e apreensão que se reflete em distúrbios visceromotores e
modificações da tensão muscular". GERKIN, falando das experiências de
crise na vida hodierna e sua ministração pastoral, aborda o conceito de
Angústia fazendo-a referir-se a uma dor aguda e profunda, sofrimento e aflição.
Vezes tantas, a Angústia
aparece ao mesmo tempo em que palpitações, transpiração, diarreia e respiração
ofegante, fenômenos fisiológicos que podem surgir com ou sem a consciência da
Angústia. Consiste este sentimento em uma sensação de desamparo em relação ao
perigo. O perigo pode ser externo ou interno: o temor de uma enchente, da
viagem numa estrada reconhecidamente perigosa, ou a fraqueza, covardia ou falta
de iniciativa. Por essa razão, a Angústia é considerada um dos principais
problemas da Neurose, e pode originar-se tanto na ordem psíquica quanto na
somática ou em ambas ao mesmo tempo.
Traumas de infância, medo de
perdas, de ser abandonada, de não ser amada, temor da morte trazem Angústia, e
esse povo quer direção segura do púlpito e orientação firme da Palavra de Deus,
a qual coloca nos lábios de Jó expressões como, "falarei da angústia do
meu espírito, queixar-me-ei na amargura da minha alma", e na boca de Davi,
"... consideraste a minha aflição, e conheceste as angústias da minha
alma" (Salmos 31:7).
11.2. Depressão
OATES ensina haver
diferentes níveis de relacionamento na atividade do Cuidado Pastoral. É aí que
psicanalista e pastor seguem rotas diferentes. É nos diferentes níveis de
relacionamento que o ministro de Deus se torna amigo pessoal, vizinho,
pastor-pregador, pastor-conselheiro e companheiro de outras atividades.
Dependendo da situação em vista ou da emergência criada, o pastor deve saber o
que fazer quando chamado a intervir. Isso vale igualmente no púlpito. Salienta,
ainda, cinco níveis de Psicoterapia Pastoral, que são: o da Amizade, o do
Conforto, o da Confissão, o do Ensino, o do Aconselhamento e Psicoterapia.
Pessoas em Depressão
enquadram-se no nível do conforto. Há uma ligação muito forte entre a Depressão
e a Melancolia, visto que em ambas o paciente se submete a incontáveis
auto-reprovações: sente-se indigno, impõem-se punições, e é como se uma força
que tem a finalidade de destruí-lo se desenvolvesse. Rejeita a alimentação,
passa o tempo a dormir, não cuida de si e não se importa com os outros. É um
quadro semelhante ao do luto.
Em muitas dessas pessoas, as
razões para esta Depressão permanecem ignoradas no Inconsciente ou
Pré-consciente, e as fazem precisar de um ministério de conforto que o púlpito
deve trazer. É preciso ressaltar que a possibilidade de suicídio entre tais
pessoas é altíssima, e que elas estão no nosso meio também. OATES, que é
otimista nestes casos, afirma que a dor severa da depressão pode ser curada.
Uma Terapia Breve, mesmo através da pregação, deve ter como primeiríssimo passo
trabalhar a baixa auto-estima, seguindo-se a restauração da confiança pelas
forças do Ego, o que o leigo chama de "massagear o ego", e a Bíblia
destaca o "amar o próximo como a si mesmo". O terceiro passo será a
inversão da auto-agressão, seguido pelo estabelecimento de uma ligação da
compreensão dos aspectos dinâmicos com a situação que precipitou a Depressão e
as situações genéticas anteriores.
O pregador há, ainda, de
oferecer apoio através da disponibilidade expressa (se tem treinamento adequado
para lidar com a situação) ou fazer referência a um profissional da área de
saúde mental.
O pastor deve estar alerta
para o fato de que a tentativa ou ameaça de suicídio é um pedido de socorro. É
evidente que o pastor/pregador tem ao seu dispor recursos alheios ao tratamento
psicanalítico: a atuação do Espírito Santo e o poder da oração.
11.3. Sentimento de Culpa
Para muitos psicanalistas e
psicólogos, a idéia de Culpa é a causa de inúmeras perturbações psíquicas. No
entanto, a realidade verificada é que estes sentimentos são tão universais
quanto o medo, a fome e o amor.
Para FREUD, os Sentimentos
de Culpa são o resultado de pressões sociais. Nascem na mente da criança quando
os pais a castigam, e não são outras coisas senão o medo de perder o amor
deles. É consequência da construção e do reforço do Superego. JUNG, por sua
vez, afirma ser a recusa da aceitação plena de si mesmo. DE ODIER distingue
entre "culpa funcional" e "culpa de valores", sendo a
primeira a consequência de uma sugestão social, medo de tabus ou de perder o
amor das outras pessoas. A "culpa de valores" é a consciência genuína
de que se transgrediu uma norma autêntica; é o juízo livre que o ser humano faz
de si próprio sob uma convicção moral. Martin BUBER, o pensador judeu, expõe a
"culpa genuína" e a "culpa neurótica" à qual chama também
de "irreal", e para quem a culpa genuína sempre gira em torno de alguma
violação das relações humanas, constituindo uma ruptura na relação Eu-Tu.
No conceito bíblico, a Culpa
não pode ser separada do pecado: é desacato à autoridade de Deus, e nasce da
transgressão de qualquer dos mandamentos revelados na Sua Palavra como bem o
declara 1João 3.4: "Qualquer que comete pecado, também comete iniquidade;
porque o pecado é iniquidade".
A estas pessoas, o púlpito
pode ministrar levando-as à Confissão, Reparação da falta cometida logo que
possível e Renúncia do pecado. O púlpito que ministra ao culpado lhe dirá como
Jesus "Nem eu te condeno. Vai, e não peques mais" (João 8:11).
12. CONCLUSÃO: O RESULTADO
A Pregação tem seu lado
terapêutico como acima exposto. E o objetivo do púlpito evangélico é levar o
crente em Jesus Cristo a crescer. Crescer "na graça e no conhecimento de
Jesus Cristo” (2 Pedro 3:18), aperfeiçoá-lo para o desempenho do ministério do
seu ministério, e levá-lo "à medida da estatura da plenitude de
Cristo"(Efésio 4:13); conduzindo-o à abundância de vida libertando-o de
suas mazelas, afetos e complexos.
Esta relação de ajuda
mantida pelo púlpito e ensino aumentará o conhecimento que cada um tem de si
mesmo, levará o ouvinte/ovelha à auto aceitação como um ato de maturidade, levá-lo-á
a uma capacidade de estabelecer melhores relacionamentos com Deus, com os
outros e com si mesmo, terá a confiança reforçada, liberdade de amar e alegria
de viver porque tudo isso é o que a Psicanálise realiza e com muito mais
propriedade a ministração cristã através da Pregação.
13. PREGAÇÃO
13.1. O literal e o
analógico
Usamos com muita normalidade
imagens, analogias e ilustrações na conversação diária. Com efeito, fazemos
poesia quando conversamos, e, como pregadores, realizamos a pregação como uma
atividade poética. Se é criação, feitura, há de ser um poema. É lembrar que na
língua grega, "feitura" se diz poeimia, de onde resulta a nossa
palavra "poema". Pregação é igualmente uma atividade dramática. No
ato de interpretar e repassar a palavra um verdadeiro sociodrama, ou, melhor
ainda, um psicodrama, quando nos vemos, e nos descobrimos nos meandros e na
mensagem do texto sagrado. Ainda mais: pregação é um canal de graças. Bênçãos
sem conta descem nessa virtual escada de Jacó quando os anjos sobem levando o
incenso e o fervor de nossas orações, e descem trazendo a bênção, a unção e a
graça do trono de Deus.
Eis-nos diante do texto.
Temos necessidade de interpretá-lo. É preciso hermeneutizar porque o povo de
Deus gasta considerável parte do seu tempo em cultos, Escolas Bíblicas, células
ou pequenos grupos de crescimento discutindo documentos escritos que são os
textos bíblicos. Também pelo fato de que estes textos constituem o cânon da
Escritura da comunidade, e porque a igreja, apesar de ter o cânon fechado,
serve a um Deus vivo e que dá direção. Ainda mais: a igreja necessita da
interpretação dos textos bíblicos que reside na relação entre a igreja e as
Escrituras. Relação que não é simples, visto que a autoridade da Escritura se
faz presente, e ela informa, mas também corrige, confirma, encoraja e julga.
É verdade. A Bíblia precisa
ser interpretada por, pelo menos, dois motivos:
1-É composta por livros
antigos pertencentes a uma cultura diferente da nossa;
2-Tem uma mensagem válida e
permanente que deve ser aplicada a situações vividas hoje.
Observe-se, no entanto, que
a interpretação bíblica tem sido uma área de intenso conflito. Ou como o
expressou Bultmann: "Não existe uma interpretação neutra da Bíblia".
No entanto, faz-se a
interpretação com base em:
- Diferentes formas de interpretar;
- Diferentes comunidades de
intérpretes: judaísmo, protestantismo, catolicismo;
- Diferentes visões: científica, literária,
pastoral, teológica.
Ao lado do método histórico,
também chamado de literal, tem sido largamente difundido o alegórico, que
propõe que além do significado comum e óbvio de uma passagem bíblica expressa
pelo primeiro, existe o significado real ou espiritual.
Esse sistema foi
desenvolvido pelos gregos c. 520 a. C. para a interpretação de Homero e
Hesíodo. Mais adiante, intérpretes judeus, notadamente Aristóbulo (2o século a.
C.) e Filo de Alexandria (1o século d.C.). Esse método alegórico foi muito
usado até a Reforma. Era marcado pela pouca preocupação com o panorama
histórico. "Jerusalém", por exemplo, podia ser a Cidade Santa, mas
também a Igreja. Pedro, na sua Primeira Carta, descreve o diabo como um leão
que ruge. No 5° século, Agostinho interpreta a arca como figura da Igreja. Suas
dimensões representavam para ele o corpo humano de Cristo, e a porta ao lado da
arca são as feridas no lado de Cristo crucificado. Na Idade Média, houve uma
acentuada preferência pelo Cântico dos Cânticos. Nele, Salomão foi alegorizado
como Jesus Cristo, e a Sulamita como a Igreja. Tem sido longa a história da
interpretação e uso dessa interpretação na pregação cristã. Entre os judeus,
três etapas marcam sua parte na história: de 300 a. C. a 200 d.C.; de 200 a
700; de 700 a 1100. A ausência do profetismo fez surgir a sinagoga e a figura
do rabino, ou mestre, cuja tarefa era fundamentalmente harmonizar os textos
entre si, e adaptar a escritura a toda circunstância. Deu-se a formação do
corpo da Lei Oral (o Talmud) em contraposição à Lei Escrita (a Torah) já
existente. Criou-se, afinal, um sistema vocálico pelos massoretas ( Em torno do
século VI, um grupo de competentes escribas judeus teve por missão reunir os
textos considerados inspirados por Deus, utilizados pela comunidade hebraica,
em um único escrito. Este grupo recebeu o nome de "Escola de
Massorá". Os "massoretas" escreveram a Bíblia de Massorá,
examinando e comparando todos os manuscritos bíblicos conhecidos à época. O
resultado deste trabalho ficou conhecido posteriormente como o "Texto
Massorético".O termo "massorá" provém na língua hebraica de
messorah (מסורה, alt. מסורת) e indica "tradição". Portanto, massoreta
era alguém que tinha por missão a guarda e preservação da tradição) para a
preservação da pronúncia do texto a vocálico(formado por vogal ou vogais ). A
interpretação da Igreja Apostólica foi de tipológica, passando pela simbólica
até a cristológica.. Isso significa que passagens do Antigo Testamento foram
tidas como figuras e tipos das ações messiânicas para o primeiro caso. Quanto
ao simbolismo, prevalece o sinal e o símbolo mais que a interpretação literal
ou histórica. Na terceira, o eixo de pensamento é Cristo. Na interpretação
patrística (séculos II a V), a Escritura possui um sentido espiritual oculto
que deve ser descoberto. Para os Apologetas, o Antigo Testamento é sombra do
Novo. O método largamente utilizado foi o tipológico. Nesse caso, algumas
palavras do Evangelho devem ser lidas como alegoria.
A Escola Alexandrina
(Egito), que vigorou entre 180 e 450, conciliava a filosofia grega com a
mensagem cristã, usando igualmente o método alegórico. Na verdade, os
alexandrinos viam três sentidos na Bíblia:
- Literal
- Moral
- Alegórico
Assim, diziam que as funções
da Bíblia eram: narrar o que acontecera; sugerir ensinos morais e exigir a
busca do sentido profundo. O próprio Orígenes pontificava que para os
principiantes era o sentido corporal; para os avançados, o psíquico; para os
perfeitos, o espiritual.
A Escola Antioquena (Síria,
280 a 500) buscava o sentido literal e histórico. Estudava o contexto para
descobrir o sentido literal. Para isso, estudava a Bíblia palavra por palavra.
Na busca do sentido típico, partiam para o antítipo através do tipo.
Os Capadócios (Ásia Menor)
situaram-se no meio caminho entre os alegóricos de Alexandria, e os
histórico-literais de Antioquia.
Na Idade Média (séculos
VIII-XIV) foram estabelecidos os quatro sentidos da Escritura:
- Literal, que mostra os fatos reais.
- Alegórico, que ajuda a descobrir o mistério
oculto.
- Moral, que orienta os costumes.
- Anagógico, que encaminha para
as realidades transcendentais.
- Realmente, um longo caminho até hoje.
13.2. Literalidade
É a significação conceitual
imediata que o autor dá a suas palavras para expressar uma ideia. Para isso se
serve das regras convencionais de gramática dentro de uma lógica de sentido
comum, refletindo a situação histórica concreta em que vive o referido autor.
Recebe também os nomes de Sentido Histórico e Lógico-Gramatical.
Não se procura ver um
sentido cabalístico desligado do contexto histórico. No entanto, o autor
bíblico pode expressar suas ideias com palavras que hão de ser tomadas em
sentido próprio.
O sentido literal é o óbvio
e geral, a exegese o esclarece prontamente.
13.3. Analogia
Ensina Buttrick que "a
pregação busca a linguagem metafórica porque Deus é uma misteriosa
Presença-na-Ausência". Daí o aparente misterioso nome de Deus Eu-Sou o que
sou, que visa a dizer (o que não foi repassado pelos antigos tradutores)
"Eu sou o que sempre serei", "Eu serei o que sempre Tenho
Sido", "Eu continuarei a ser o que sempre fui", "Eu não
mudo", ou, ainda, "Eu sou o Eterno". De fato, algumas vezes,
onde não há uma definição formal, torna-se claro o significado pelo uso de
alguma expressão análoga ou pela antítese, em sentido figurado ou metafórico.
Nesse caso, há largo uso de sinédoques, metonímias, metáforas, ênfases,
hipérboles e elipses. Entenda-se alegoria como uma metáfora continuada.
De modo amplo, analogia é
qualquer semelhança que se estabelece por um confronto. Pode haver algum grau
de imperfeição, evidentemente, mas deve ficar sempre bem patente que a analogia
fixa o significado da forma de uma palavra pela forma semelhante de outra
conhecida. A palavra já determina o conceito, Ana-ton-auton-logon, ou seja,
"segundo o mesmo logos". Isso quer dizer que mantendo diversidade de
duas coisas, é dado lugar a certa semelhança, embora pequena, que baste para
manter a comparação. As essências são diversas, mas a relação é a mesma. E
porque a “analogia é uma estrutura fundamental em todos os campos do ser e do
saber, também se faz presente na interpretação da palavra de Deus”.
Aristóteles entendia que a
denominação por analogia era o tipo mais importante de metáfora ou de sentido
translato. A própria palavra "metáfora" significa
"transporte"; transporte de conceitos, de ideias, de significados.
Dizer que alguém "entrou pelo cano" é uma metáfora, assim como
algumas metáforas perderam esse sentido, como, por exemplo, quando alguém na
Idade Média da língua portuguesa era perseguido por cães ferozes, e lembrando
que a palavra "cão" no português antigo se dizia "perro",
era uma pessoa "aperreada", alguém que estava em sérias dificuldades
de ser destroçado por aqueles animais intratáveis. Diz-se que há uma
"analogia", uma "correspondência". A linguagem já foi
definida como um dicionário de metáforas extintas. Entendendo assim, a Bíblia
deve ser definida "como um complexo de metáforas válidas: metáforas e
parábolas, que aludem às realidades divina e humana".
Na Bíblia, há uma relação
entre "loucura" e "pecado", portanto, "sabedoria"
terá a ver com "retidão" e "piedade". A Bíblia usa
fartamente a linguagem analógica, a linguagem de correspondência. Dizemos com a
Bíblia que "o Senhor sobre ti levante o rosto..." "Deus é
luz" e "se andarmos na luz, como ele está na luz...”, e que "o Verbo
se fez carne, e habitou entre nós..." E tudo isso é linguagem da analogia.
13.4. Símbolos Sagrados
Sem dúvida, o simbolismo
bíblico é um dos assuntos mais difíceis, talvez, ou mesmo, delicado para ser
tratado pelo intérprete da Bíblia Sagrada. Do Gênesis ao Apocalipse, símbolos
são larga e fartamente utilizados, e caíam na sensibilidade dos ouvintes ou
leitores porque uma lição espiritual e moral se encontravam implícita. A
formação do Adam em suas modalidades de ish e ishah; Torre de Babel, a Escada de
Jacó, a Sarça Ardente, a Cruz do Calvário, as línguas como de fogo do
Pentecostes, todo o variadíssimo desfile de animais fabulosos, números, cores,
cidades, nuvens, lagos, praças ensinam que há pertinência para uma tentativa de
extrair das metáforas, alegorias e hipérboles lições eternas plenas de
concretude para a prática de vida do cristão das vésperas do século 21, e,
particularmente, do obreiro e da obreira na Causa de Jesus Cristo.
Verdades espirituais e
oráculos proféticos foram transmitidos em símbolos que merecidamente podem
receber o nome de sagrados, e assim, a providência e a graça de Deus foi
repassada até hoje. Por causa deste caráter enigmático, há necessidade de
intérpretes que tenham um discernimento sadio e apropriado, para que aquilo que
se apresenta confuso, ilógico e fora de propósito, tome forma, razão e
objetivo.
O método apropriado e lógico
de investigar os princípios do Simbolismo consiste fazer uma comparação entre
os variados símbolos bíblicos, especialmente aqueles que se fazem acompanhar de
uma solução autorizada.
É possível que haja quem
negue a realidade de certos relatos ou de detalhes nesses relatos. Há quem
negue a espada flamejante "ao oriente do jardim do Éden", por não
entender o simbolismo do fogo, sinal da presença, da direção, da glória ou da
justiça de Deus.
O sangue é um elemento frequentemente
lembrado por seu altíssimo simbolismo espiritual. Da Antiga à Nova Aliança, o
sangue se faz presente; presente e marcante.
13.4.1. O Sangue como
Símbolo
Sangue em hebraico é “dam”.
É palavra tão importante que aparece 360 vezes no Antigo Testamento. O livro de
Levítico (Vaiykra) tem a maior frequência com 88 registros, sendo seguido por
Ezequiel com 55 menções. A grosso modo, é possível dividir a menção do sangue
em duas partes:
- O derramamento de sangue como resultado de
violência resultando geralmente em morte, como no caso de guerra ou
assassinato.
- O derramamento de sangue,
sempre resultando em morte, como ato litúrgico: sacrifício ou consagração a
Deus.
O sangue simboliza a vida: o
sangue da vítima é a vida que é passada através da morte. Por essa razão,
quando se afirma que alguém é "salvo pelo sangue de Cristo" está, na
verdade, dizendo que somos salvos pela vida de Cristo, e deste modo,
participamos de Sua vida.
Outra interpretação enfatiza
que o sangue no Antigo Testamento denota não a vida, mas a morte, ou seja, a
vida que é oferecida na morte. Que seja esclarecido, no entanto, que não há nos
conceitos veterotestamentários qualquer preocupação com morbidez das divindades
que regiam o mundo do além (como imaginavam os vizinhos pagãos do povo de
Israel).
Examinar, portanto, símbolos
é buscar sentido, as ideias, o que queremos expressar. E a expressão requer
signos (palavra, vocábulos, gestual). Lembremos, entretanto, que estamos
tratando de um mundo e de uma mente que diferem substancialmente da nossa:
somos cidadãos ocidentais, latinos, beirando o século 21, de mentalidade
helênica, com capacidade de pensar em abstrações; os livros que compõem o
Antigo Testamento refletem um modo de vida oriental, semita, de 3 mil anos
passados, com imensa tendência de pensar em termos concretos. Portanto, o
figurativo, o plástico, o gráfico seria o signo para dar sentido às expressões
que não poderiam ser traduzidas por vocábulos, aquilo que Saussure chamou de
significante, de ordem material e que se situa no plano da expressão.
13.5. Alegoria
É um recurso de linguagem
que consiste na representação de uma ideia abstrata por uma figura dotada de
atributos que sugerem aquela mesma abstração. Ensina Fountain que a alegoria é
a extensão da metáfora, quando metáfora, por sua vez, indica semelhança entre
duas coisas diferentes, declarando que uma é a outra. A alegoria é uma forma de
interpretação. Segundo Hansen, "Decifra significações tidas como verdades
sagradas, ocultas na natureza sob a aparência das coisas e também na linguagem
figurada dos textos das Escrituras, que revelam um sentido espiritual”.
De acordo com a alegoria
hermenêutica, existe uma prosa do mundo a ser pesquisada no mundo da prosa
bíblica. E adianta o mencionado Hansen que "se as coisas podem ser
consideradas signos na ordem da natureza, é porque são signos na ordem da
revelação... os da Escritura designam coisas e estas, por sua vez, designam
verdades morais".
É precisamente uma verdade
moral e espiritual que se procura abordar no exame de material extraído do
livro do Levítico. O texto escolhido vem do capítulo 8 que trata da consagração
de Arão e seus filhos. Remetemos o leitor ao estudo Consagrado para Cuidar,
amostra do que foi trabalhado em um trecho da palavra de Deus, e já publicado
nas páginas da Bíblia World Net.
Prova
n°01 – QUESTIONÁRIO
Nome:________________________________________________nota___________
1. O pregador do evangelho
não pode esquecer três relevantes e imprescindíveis realidades: Que o senhor
Jesus é o... Assina com (X) a alternativa correta.
a) ( ) Senhor do céu, Senhor
da terra e Senhor da mar.
b) ( ) Profeta, Senhor e seu
Senhor.
c) ( ) Senhor do universo,
Senhor da igreja e seu Senhor.
d) ( ) Senhor do universo,
Profeta e Rei.
2. A pregação, em si, é o
elemento central do culto. É um ato de adoração; é oferta feita a Deus pelo
pregador. Lutero chegou ao ponto de dizer ser o próprio cerne do culto cristão,
e que não haveria culto se não... Assina com ( X ) a alternativa correta.
a) ( ) houvesse sermão.
b) ( ) houvesse louvor.
c) ( ) houvesse músicos.
d) ( ) houvesse obreiros.
3. A Psiquiatria... É um
ramo da Medicina dedicado ao tratamento das doenças mentais. O que a
Psicanálise observa. Assina com ( X ) a alternativa correta.
a) ( ) busca realizar
terapia
b) ( ) busca estudar as
doenças mentais
c) ( ) busca o alívio das
dores de cabeça e dores fisicas.
d) ( ) busca o alívio dos
distúrbios procurando revelar os fatores que os determinam reconhecimento das
doenças mentais.
4. Relacione as frases com
os seus respectivos autores
I - John Stott
II - Erasmo
III - Jerônimo
IV - Calvino
5. Na Idade Média (séculos
VIII-XIV) foram estabelecidos os quatro sentidos da Escritura:
a) ( ) História, Alegórico,
Foto, Analógico.
b) ( ) Literal, Alegórico,
Moral, Anagógico.
c) ( ) Literal, Alegórico,
Moral, Achismo.
d) ( ) Boato, Alegórico,
Conversa, Anagógico.
a) ( ) "O ministro se
acha no ápice de sua dignidade quando do púlpito alimenta o rebanho do Senhor
com sã doutrina".
b) ( ) "O ministro não
pode ser escravo do seu estômago e da sua carteira".
c) ( ) "Ninguém , deve
se arrogar o título de pastor se não puder ensinar os que apascenta".
d) ( ) "O sermão deve
dar descanso após incomodar".
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