sexta-feira, 27 de março de 2020



FACULDADE DE TEOLOGIA TESTEMUNHAS HOJE


CURSO LIVRE
HOMILETICA
A PREGAÇÃO
E O
PREGADOR





A PREGAÇÃO E O PREGADOR

1. A PREGAÇÃO E O PREGADOR
1.1 O fato e o ato
"Conjuro-te, pois, diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino; prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda a longanimidade e ensino. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas tendo coceira nos ouvidos, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre bem o teu ministério" (2 Timóteo 4.1-5).
Após haver exortado o jovem pastor Timóteo a ser firme e perseverante na chamada que havia recebido; e após, igualmente, haver alertado sobre a corrupção que reinaria nos dias finais; encorajado, ainda, a manter a doutrina, Paulo estimula seu jovem pupilo a ser incansável na proclamação do evangelho. Isso o apóstolo o fará dentro de um plano bem simples: fala acerca da pregação (vv.1 e 2) e acerca do pregador (v.5). Entre esses dois fatos, utiliza ele o elo de uma nova descrição dos erros teológicos, doutrinários e ideológicos , trazidos pelos profetas de um falso evangelho (vv.3 e 4). Diz o apóstolo: "Conjuro-te, pois, diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino" (v.1).
Não é um novo apelo. O apóstolo já o havia feito com outras palavras em ocasiões variadas desta mesma carta. Paulo chama a Deus Pai, e a Jesus Cristo como testemunhas . É Jesus, o juiz de vivos e de mortos; é Jesus, o conquistador que retorna; é Jesus, o Rei. E mencionando essas verdades, fala o apóstolo de Sua epifania, de Seu juízo, da plenitude de Seu reino. É Jesus nosso alvo de vida, para Quem Paulo encoraja Timóteo a olhar, como também para o mundo do seu tempo, e para ele, Paulo, pastor mais experimentado, sofrido, calejado nas lides ministeriais. (vv.6-8).
2. A PREGAÇÃO (2 Timóteo 4.2-4)
2.1. O Querigma (cerne da mensagem cristã. 2.transmissão dessa mensagem a quem não é cristão, visando convertê-lo.): "Prega a Palavra" (v. 2 a)
O ministro do evangelho não tem o direito de escolher o que pregar. A ordem é dada em voz de comando, porque o pregador há de ser como o porta-voz do seu rei. Esse é o padrão: o mesmo para o mensageiro deste fim de século. É o da pregação que nasce da consciência de ser um arauto do Rei dos reis, do que anuncia, faz conhecido em voz, razão porque a pregação cristã é igualmente chamada "proclamação" ou "anúncio".
Prega-se a Jesus Cristo. Paulo o diz: "nós pregamos a Cristo crucificado"; anuncia-se o evangelho; proclama-se o reino. Devemos pregar a "Cristo crucificado"; anuncia-se o evangelho; proclama-se o reino. Devemos pregar a fé, a esperança e o amor; devemos pregar o Calvário e o túmulo vazio; devemos anunciar a reconciliação e a inauguração do reino do Senhor.
O pregador do evangelho não pode esquecer três relevantes e imprescindíveis realidades: Jesus Cristo é o Senhor do universo, do cosmos; é o Senhor da igreja, Seu corpo; e é seu Senhor, de sua vida, de sua esperança. Jesus Cristo é o começo da proclamação, e o cumprimento desse abençoado anúncio e promessa de salvação para todo o que crê.
Há, porém, espaço para essa pregação hoje? Radicais dizem que os pregadores devem jogar fora as suas Bíblias. Igrejas existem que, ao invés de estudar as Escrituras, preferem analisar nas suas "Escolas Bíblicas" documentos de conteúdo político e teses outras! E já que o mundo de nossos dias tem se tornado tão exigente, não seria melhor usar de formas outras para apresentar a mensagem? Que tal o teatro? O balé? As artes plásticas? Por que não o debate em torno de filmes, a leitura de uma peça? . E são mil e uma as propostas para uma "apresentação contemporânea do evangelho", mas, nada, nada mesmo substitui a pregação. Como bem colocou Emil Brunner: "Onde há verdadeira pregação; onde, em obediência a fé, é proclamada a palavra, ali, apesar de todas as aparências contra, é produzido o acontecimento mais importante que pode ter lugar na terra".
A pregação, em si, é o elemento central do culto. É um ato de adoração; é oferta feita a Deus pelo pregador. Lutero chegou ao ponto de dizer ser o próprio cerne do culto cristão, e que não haveria culto se não houvesse sermão. É essa palavra dinâmica (Hb.4.12), a palavra de Deus, a palavra do evangelho, que sempre é criativamente aplicada em diferentes níveis. Essa é a pregação da esperança que a pregação de Jesus Cristo anunciou e vem anunciando até a parousia (A palavra grega Parousia era usada com o sentindo de presença ou vinda. Seu uso técnico indicava a presença ou chegada de um rei ou governante. No Novo Testamento ela é usada designar a presença (vinda) de Cristo novamente a Terra, primeiramente para os fieis e depois para os infiéis. O assunto da Segunda Vinda de Cristo na Bíblia é um tema bem explorado pelo Espírito Santo. Só no Novo Testamento existe mais de trezentas passagens sobre a temática. O apostolo Paulo em suas epistolas menciona sobre a Parousia cerce de cinquenta vezes. Há capítulos inteiros nos evangelhos e epístolas inteira sobre a Segunda Vinda. Portanto a Parousia de Jesus Cristo é citada nas Escrituras Sagrada oito vezes mais que a primeira vinda. Este dado ressalta a importância deste evento para o Senhor e também para o seu povo. Esta deve a esperança dos cristãos. A Segunda Vinda de Cristo é dividida em duas fases distintas. Primeiramente Ele virá para a Igreja cujo evento está registrado em 1 Ts.4. 13-18. Após o Salvador retornará no final da Grande Tribulação para socorrer Israel (Zc.14. 3-5). Quando o Messias retornar para a Igreja acontecerá o arrebatamento “ressurreição dos santos e o rapto dos vivos que são fieis a Palavra de Deus”) do Senhor. O evangelho não só é sobre Jesus, mas É Ele mesmo. Os primeiros pregadores declaravam:
- Que a época do cumprimento das promessas, a plenitude dos tempos, havia chegado;
- Que através da ressurreição, Jesus foi exaltado à destra de Deus;
- Que a presença do Espirito Santo na igreja é a evidência do poder e da glória de Cristo;
- Que a era messiânica terá sua consumação na parousia.
Realmente a mensagem sobre o que o Senhor disse e fez pela salvação da pessoa humana é a única sobre o único caminho de salvação que é Jesus Cristo:
"Em nenhum outro há salvação, pois também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" (Atos 4:12). Para essa mensagem, a Bíblia usa denominações variadas:
- "o evangelho do reino de Deus" ("Depois disto andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus" - Lucas 8:1);
- "a palavra de reconciliação" ("Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens os seus pecados, e nos confiou a palavra da reconciliação" - 2 Coríntios 5:19);
- "o evangelho de Cristo" ("Deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo. Então, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais firmes em um mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho" – Filipenses 1:27).
Sim, o pregador do evangelho está na linha de sucessão dos profetas que anunciam esta extraordinária palavra que nunca volta vazia, razão porque não pode mutilá-la ou modificá-la. Seu dever de obediência é comunicar a Palavra de Deus que lhe foi confiada.
Há quem deseje um evangelho sem cruz, sem maiores compromissos, o evangelho da facilidade e sem conflitos.
É o evangelho do Cristo desfigurado. Diferente daquele que o pregador cristão é convocado a anunciar, o do Cristo crucificado. O evangelho do Cristo desfigurado é o do "espetaculoso" (mistura do "espetáculo” com "horroroso"), evangelho tão do gosto dos evangelistas e missionários de porta de esquina, o do povo que pede sinais, o da-concupiscência-dos olhos. O evangelho do sucesso, o da soberba da vida, da vitória sem cruz, da coroa sem sofrimento, dos valores materiais, dos atalhos. O pregador evangélico, no entanto, é o que anuncia a palavra da cruz sem a qual não pode existir proclamação de boas novas,
"porque nós não somos falsificadores da palavra de Deus, como tantos outros; mas é com sinceridade, é da parte de Deus e na presença do próprio Deus que, em Cristo, falamos". (2 Coríntios 2:17)
2.2. A Didaquê (Didaqué (Διδαχń, "ensino", "doutrina", "instrução" em grego clássico), Instrução dos Doze Apóstolos (do grego Didache kyriou dia ton dodeka apostolon ethesin) ou Doutrina dos Doze Apóstolos é um escrito do século I que trata do catecismo cristão. É constituído de dezesseis capítulos, e apesar de ser uma obra pequena, é de grande valor histórico e teológico. O título lembra a referência de «E perseveravam na doutrina dos apóstolos ...» (Atos 2:42).).

2.2.1. "insta a tempo e fora de tempo" (v. 2 b)
A pregação da mensagem de Jesus Cristo não depende de circunstâncias. Haja ou não perseguição; percam-se ou não vantagens pessoais, nada deve influenciar nosso ministério. Paulo o pontua: "Vós vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, acolhendo a palavra com a alegria do Espírito Santo, apesar das numerosas tribulações" (1 Tessalonicenses 1:6).
A expressão básica da carta a Timóteo apresenta um bem feito jogo de palavras: "fica de prontidão em tempo oportuno (eukairos) e, em sendo o caso, também em tempo inoportuno (akairos)". Seja ou não em situações favoráveis. Kairos ensinam os léxicos, é o tempo oportunidade, o tempo de Deus. Atender a essa hora significativa é abraçar a salvação; rejeitá-la é ruina. O pregador não pode perder a visão da urgência. John Stott enfatizou muito bem ao pronunciar "O sermão deve dar descanso após incomodar".
2.2.2. "admoesta"
Há um crescendo nas palavras: insta, admoesta, repreende, exorta. Até podemos falar em níveis de pregação. O apóstolo fala em admoestação, uma abordagem intelectual usando-se a argumentação. Jesus Cristo ordenou que ensinássemos os crentes "a guardar todas as coisas" que Ele havia mandado.
A proclamação admoestadora é a confrontação da pessoa com a realidade dinâmica da palavra anunciada; é a pregação da esperança. Deve levar a confissão do pecado ou a sua convicção porque proclamar o evangelho, instar em tempo oportuno, é confrontar. Hoje quando o antinatural é vendido como natural, e o pecado parece ter desaparecido, a Igreja de Jesus Cristo deve conduzir à salvação dos perdidos e a santificação dos salvos. É a didaquê.
2.2.3. "repreende"
A repreensão tem pontuação moral. Jesus Cristo deixou-nos o mandamento sobre promover a reconciliação de vidas, o perdão no aconselhamento com vistas ao arrependimento. Dr. Wayne Oates, professor de Psicologia Pastoral do The Southern Baptist Theological Seminary (em Louisville, EUA) ensina que “como homem de Deus, como representante divino, o pastor se torna uma consciência visível. E essa é a razão porque pode admoestar repreender e exortar com sabedoria e compaixão. A repreensão movida pelo amor de Cristo Jesus e pelo calor do Espírito dá ao pregador autoridade da qual o seu rebanho precisa”.
2.2.4. "exorta"
É encorajamento, é conforto. O ministério da paráclese (Do grego pará, «ao lado» +klásis, «fratura»Corpo epistolar (1Ts 2,1–5,11): recordação da primeira evangelização (2,1-20); o envio e o retorno de Timóteo (3,1-13); paráclese ou exortação (4,1-12); a ...) tinha lugar destacado na Igreja apostólica. Era uma missão especial dos profetas. É encorajamento à vida justa, perfeita, à ética. As cartas paulinas trazem com muita frequência passagens de exortação.
2.2.5. O Modo De Fazer (v. 2c)
"Com longanimidade e ensino", diz Paulo. Com paciência, com perseverança, sem cansaço, sem irritação, apesar das tentações do aborrecimento e da impaciência com certas ovelhas de cabeça dura e miolo mole. O pregador há de ter boa doutrina, que é a base do ensino cristão.
3. O TEMPO E OS MITOS (2 Timóteo 4.3-4)
3.1. O tempo (v. 3)
Sem dúvida, estamos vivendo esses dias. É um momento em que a ortodoxia será posta de lado por não ser suportada. São os "tempos penosos" do capitulo 3, verso 1. O momento quando teorias maléficas são propagadas por movimentos ideológicos, filosóficos, religiosos e místicos. E, porque há quem se deixe levar (cf. "não suportarão a sã doutrina", "grande desejo de ouvir coisas agradáveis", "desviarão os ouvidos da verdade", "voltar-se-ão às FÁBULAS", vv.3,4), há, igualmente, necessidade da admoestação, repreensão e exortação referidas no versiculo 2. É nossa oportunidade missionária e pastoral, é o kairós, o momento marcado por Deus, o chamado da hora. Afinal, a mensagem do evangelho é eugênica, hígida, sadia.
"Para os devassos, os sodomitas, os roubadores de homens, os mentirosos, os perjuros, e para tudo que for contrário à sã doutrina." (1 Timóteo.1:10) e assim o pregador é exortado a reter "...firme a palavra fiel, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para exortar na sã doutrina como para convencer os contradiz entes" (Tito 1:9), ou seja, o pregador não há de dar ao povo o que o povo aprecia (que não caia nessa tentação!), mas o de que o povo precisa. Paulo lembra que têm "grande desejo de ouvir coisas agradáveis" (no original, têm "coceira nos ouvidos", prurido, comichão), fome de novidades (2 Timóteo 4:3),.
A palavra mágica de nossa época parece ser liberdade. Realmente, qualquer causa tem algo que com ela se relaciona. Fala-se em "Frente Nacional de Libertação", em "livre empresa", "imprensa livre", "liberação feminina", "amor livre", "liberdade sexual", "liberação gay".  E essa palavra é muito apreciada. A Bíblia se pronuncia sobre o assunto: "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (João 8:36). Jesus Cristo pôs a marca da liberdade no seu ministério: "O espírito do Senhor está sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos, e restauração de vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos, e para proclamar o ano aceitável do Senhor" (Lucas 4:18).
Sim! A mensagem cristã é um brado de "Independência ou Morte!": "Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte" (Romanos 8:2). Liberdade de uma situação para outra. Liberdade da derrota moral, do desespero da morte, das tentativas de auto salvação, do julgamento final para crescer à estatura do ser humano perfeito, para servir ao Senhor , e viver a vida do Espírito.
O ser humano, nosso alvo de pregação, tem seus problemas peculiares: a secularização, a ideologia da tecnocracia, a busca desenfreada de lucro, o ateísmo, o hedonismo, a sacralização dos fenômenos naturais, a deificação da sua própria obra, a ansiedade, o sentimento de culpa, a revolução interior no lugar do equilíbrio, da qual o gadareno é seu retrato.
São tempos difíceis: há um rápido aumento da parceria homossexual, dos casamentos abertos, e (pasme-se!) a criação de Igrejas gays como a Metropolitan Community Church, cisma da Igreja Metodista Unida dos EUA e espalhada pelos Estados Unidos e Canadá. Karl Barth alerta com muita propriedade ao pregador de nossos dias que tenha numa das mãos o jornal diário para ler o mundo e suas circunstâncias, e na outra a palavra de Deus para falar profeticamente a esse mundo (cético), irreligioso, ao tempo que sofrido e amargurado (e em desespero). De Erasmo:
"O ministro se acha no ápice de sua dignidade quando do púlpito alimenta o rebanho do Senhor com sã doutrina".
3.2. Os mitos ( v. 4 )
Paulo diz que "não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fabulas" (Tito 1:14). A propósito, Paulo encoraja outro jovem pastor a repreender com severidade objetivando a saúde da fé, "não dando ouvidos a fábulas judaicas, nem a mandamentos de homens que se desviam da verdade" (2 Timóteo 4:4). Afinal, a função do quérigma inclui uma luta contra os mitos, as "fábulas" das traduções bíblicas. Isso é o que diz Harvey Cox. Comblin, referindo-se aos mitos do homem contemporâneo, menciona o que chama "mitos do passado", os "sonhos da noite" de acordo com Ernest Bloch, e os "mitos do futuro", a projeção da vida presente no futuro. Aliás, segundo alguns, o ser humano de nosso tempo teria feito uma grande descoberta: que é possível viver sem Deus, dando como consequência que a pessoa humana não tem necessidade de Deus para viver e trabalhar. Aí pessoas com tal ideia na cabeça “... se desviaram, e se entregaram a discursos vãos", e "...já... se desviaram, indo após Satanás" (1 Timóteo 5:15). Por razões deste tipo, necessário é que o pregador viva "não dando ouvidos a fabulas judaicas, nem a mandamentos de homens que se desviam da verdade" (Tito 1:14) .
VERDADE VIVA
Senhor faça-nos compreender que uma verdade é muito mais viva quando ela se move, quando ela evolui e traz novos frutos em cada estação. Quando muda diante de nossos olhos com a hora do dia, com a idade do homem, com o passo dos séculos, mas permanece, em substância, para todos: séculos e homens, sempre iluminadora, sempre vivificadora, alimentando-nos a cada dia e levando-nos à nossa perfeição! Senhor dá-nos a inteligência!
4. PREGAÇÃO E O PREGADOR
4.1. O fato e o ato
"Conjuro-te, pois, diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino; prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda a longanimidade e ensino. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas tendo coceira nos ouvidos, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre bem o teu ministério" (2Tm.4.1-5). A primeira parte deste estudo teve como tema central A PREGAÇÃO como missão cristã, como proclamação e ensino autorizado das doutrinas, princípios e leis espirituais deixados por Jesus Cristo. Nesta segunda parte, será analisada a figura do Proclamador, do mensageiro da mensagem do evangelho.
5. O PREGADOR (v. 5a)
5.1. "Tu, porém, sê sóbrio em tudo" (v. 5a)
O preparo da mensagem começa com o preparo do mensageiro, lembrando que sua força vital é a mencionada em Mateus 10.20:
"...não sois vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós".
Não é fácil ser pastor. Humanamente falando, é uma tarefa complexa pelo fato que lida com missões tão amplas e, por vezes, tão divergentes. É preciso dependência de Deus, e de Sua graça e de Sua energia espiritual.
Para ser ministro da palavra é preciso salvação pessoal, chamada divina porque se for de homens, o pastor não resiste fidelidade à palavra de Deus, convicção de que fora de Jesus Cristo não há salvação, convicção da existência do diabo (o candidato a pastor no concílio de exame disse não crer no diabo). Suspensão do concílio, e um pastor idoso disse aos colegas, "não se preocupem; basta um mês no pastorado e ele vai se convencer” e dedicação ao Espírito Santo.  Bushell afirmou com muita propriedade: "A pregação não é outra coisa senão a explosão de uma vida que primeiramente se abasteceu de poder nas regiões onde o próprio Deus está entre os alicerces da alma"
A primazia é que o pregador ame o Senhor, por isso Paulo pode dizer, "O Senhor esteve ao meu lado e me fortaleceu, para que por mim fosse cumprida a pregação..." ( 2 Timóteo 4:17).
É isso que lhe dará integridade, da parte de Deus o shalom, palavra que quer dizer, inteireza, plenitude, totalidade, paz, saúde, salvação. Do pregador é esperado que seja um "homem de Deus" e um "embaixador de Cristo". Há um poder, um peso simbólico no pastor/pregador, como disse Dr. Oates, que tem sido hoje altamente contestado, até porque há os defraudadores de evangelho. Espera-se, ainda, que seja a encarnação da mensagem em conduta e estilo de vida. Que não haja contradição entre fatos e palavras, a "Síndrome de Apocalipse": aparência de cordeiro e voz de dragão.
O pregador há de ser sóbrio, sensível, vigilante, com mente sadia, autocontrolado, palavras, alíás, que se referem ao relacionamento das crenças e da estabilidade emocional do candidato ao ministério. Calvino deixou claro que "o ministro não pode ser escravo do seu estômago e da sua carteira".
5.2. "Sofre as aflições" (v. 5b)
E nem se pode fugir porque aquele que é chamado ao sofrimento pelo amor de Jesus Cristo padecerá perseguições. E também, "Eu de muita boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas".
Nossa geração está preocupada em evitar a dor. Há todo um imenso capítulo sobre o uso de analgésicos e anestésicos. Para alívio da dor, desde a popular aspirina até a codeína, para a insensibilidade total ou parcial do corpo o éter, o clorofórmio, a benzocaína. Já o cristão entende haver um momento para o sofrimento: "se filho (é o salvo) também herdeiro, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados" (Romanos 8:17).
Existe base bíblica para uma teologia do sofrimento. Romanos 5.3 menciona uma glória nas tribulações, e essa glória decorre do fato de as aflições são vistas como a experiência do dia a dia do cristão. É um sinal de que Deus considerava os que as suportavam como dignos do Seu reino.
Não há glória sem sofrimento, isso, porém, não quer dizer qualquer dor, mas, sim, o sofrimento com Cristo, não é uma enxaqueca, uma mialgia ou mesmo um maligno câncer. Não é morbidez ou masoquismo do cristão. Assim, devemos sofrer com Cristo. Como foi, então, o Seu sofrimento? Que ou quem O fez sofrer? Foram pessoas , suas necessidades, tragédias, dores, resistência, má vontade e abandono. Jesus Cristo sofria com as pessoas. Chorou quando elas choraram. Sofreu por elas. Do mesmo modo, o pregador da Palavra há de sofrer com e pela igreja que lhe foi confiada, e pelo seu apostolado no mundo: "Agora me regozijai no meio dos meus sofrimentos por vós, e cumpro na minha carne o que resta das aflições de Cristo por amor do seu corpo, que é a igreja" (Colossenses 1:24).
O ministro da palavra deve sofrer as aflições por causa da verdade, visto que a pregação do evangelho sempre demanda exaustão e perseguição, e envolve a participação nos sofrimentos do Salvador, como tão bem coloca o apóstolo: "Agora me regozijo no meio dos meus sofrimentos por vós, e cumpro na minha carne o que resta das aflições de Cristo, por amor de seu corpo, que é a igreja; da qual eu fui constituído ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, a fim de cumprir a palavra de Deus"(Colossenses 1:24-25).
O pregador da palavra divina convive com qualidades variadas de problemas: solidão, tensões familiares, dificuldades da obra, onde o pior é que, em muitos casos, o conflito se desenvolve dentro do seio do povo de Deus (decepções, deslealdade, críticas ferinas, incompreensão, indiferença) George Whitefield ("Pregava para as multidões ao ar livre, porque as igrejas na Inglaterra do século18 não o recebiam" A partir de 1737, com apenas 23 anos, George Whitefield (1714-1770) assustou a Inglaterra com uma série de sermões que transformaram a sociedade britânica. Atacado pelo clero, pela imprensa e até por uma multidão de insatisfeitos, Whitefield se tomou o pregador mais popular naquela época. Entretanto, antes disso, ele passou por situações muito semelhantes as que experimentam alguns missionários pioneiros que se entregaram a pregação do evangelho em cumprimento ao imperativo do Senhor Jesus George Whitefield, respondeu ao IDE do Senhor. Repetidas vezes, ele teve de pregar fora dos portões do templo pelo simples fato de sua pregação apaixonada ser muito distante da usual formalidade dos pastores daquele tempo. Ele chegou a ser agredido em algumas ocasiões. Na cidade de Basingstoke, por exemplo, foi espancado a pauladas. Em Moorfield, destruíram a mesa que lhe servia de púlpito. Em Exeter, durante uma pregação para dez mil pessoas, Whitefield foi apedrejado. Nada, porém, podia conter aquela mensagem. A influência de Whitefield cresceu de tal forma que ele era capaz de manter atentas 20 mil pessoas, encantadas com seus sermões, por mais de duas horas. Durante 34 anos, a voz de George Whitefield ressoou na Inglaterra e América do Norte. Whitefield era um calvinista firme, de origem metodista. Era um evangelista agressivo que cruzou o Oceano Atlântico 13 vezes a fim de proclamar a salvação também na América. Ele se tornou o pregador favorito dos mineiros de carvão e dos valentões de Londres porque ia até eles) até exclamou: "Não estou cansado da obra de Deus, mas, sim, na obra de Deus". É verdade, o cansaço pode trazer experiências divergentes: o estresse espiritual (algo seríssimo!) ou maior maturidade.
Que não se caia no pecado da reclamação contra o povo do Senhor, na "Síndrome de Moisés", o qual exclamava, "Concebi eu porventura todo este povo? dei-o à luz, para que me dissesses: Leva-o ao teu colo..." (Números 11:12); nem no pecado da "síndrome de Elias" que à ameaça do perigo fugia e não confiava. Paulo, ao contrário dos seus colegas de vocação, escreve um verdadeiro "Hino ao Apostolado" onde se humilha e posiciona diante do Deus Soberano que chama, habilita e protege.
O ministro da palavra há de ser veludo por fora e aço por dentro em todas as circunstâncias, cordato e afetuoso não se deixando oxidar nem quebrar. Ou como afirma o apóstolo, "ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser brando para com todos aptos para ensinar, paciente; corrigindo com mansidão os que resistem na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade"(2 Timóteo 2:23-26).
5.3. "Faz a obra de um evangelista" (V. 5c)
A palavra "evangelista" só três vezes aparece no Novo Testamento. Qual a obra do evangelista? Quem eram eles? Não precisamos nos cansar para verificar que a resposta imediata é que os apóstolos são evangelistas e tinham como qualificação especial estar com o Mestre e pregar. Após a ressureição, a principal preocupação deles tornou-se a pregação, e de tal modo que outros homens foram selecionados para cuidarem de outros assuntos relevantes, porém mais terra-a-terra.
Extraordinários homens esses evangelistas! Paulo aponta Jesus Cristo como tema único do seu ministério apostólico/evangelístico, a pregação da esperança, da alegria, da perseverança, o entusiasmo que era passado aos ouvintes. O evangelista é, deste modo, um portador de boas notícias, não um agoureiro ou profeta da desgraça, mas um otimista, um apocalíptico no real sentido da palavra. A única munição que o evangelista leva consigo é a autoridade de Cristo, que através do Seu Espirito concede esse dom especial da sua graça.
O Novo Testamento oferece modelos da pregação evangelística: é o testemunho, quando o crente em Jesus Cristo não só conta a história, mas a sua parte naquela história; a proclamação, que é como já visto fazer o papel de porta-voz, quando sempre se aguarda uma resposta; o ensino, pois que na prática não se deve dissociar a evangelização do ensino: o evangelista deve saber ensinar, e o mestre, evangelizar. Jerônimo até disse que "ninguém, deve se arrogar o título de pastor se não puder ensinar os que apascentam".
Evangelização sem o "ensinar a guardar" resulta em crentes superficiais e nanicos. Ensino sem a pregação do arrependimento é ancilose. Não era o que acontecia na igreja dos primeiros dias conforme o declaram Atos 5.42 e 20.20. Perfeito exemplo de integração de ensino e pregação evangelística se encontra em Atos 8.26-38, terminamos o texto por dizer que Filipe o evangelizou e ouviu a pergunta que todo evangelista pede em oração para ouvir com maior frequência, "que impede que eu seja batizado?" (v. 36b). Outro modelo é o convite no teor do Salmo 34.8, "provai, e vede que o Senhor é bom"; a vida, posto que tenham um ministério espetacular como o ensino de Paulo em 2Coríntios 3.18. Sim, mesmo a nossa luz é de menor grandeza refletindo a grandeza de primeira da luz do Senhor. É o desafio de viver como cristão de que fala o apóstolo em Romanos 12.1,2.
5.4. "Cumpre bem o teu ministério" (v.5b )
O que há de ser feito com sinceridade e dependência do Espírito Santo com a dignidade da chamada que recebeu. Dennis Kinlaw (Dennis Franklin Kinlaw (26 de junho de 1922 - 10 de abril de 2017), nasceu em Lumberton , Carolina do Norte. Foi presidente do Asbury College entre 1968-1981 e 1986-1991 e chanceler da escola em 1992. Antes, ele foi professor de Línguas e Literatura do Antigo Testamento no Asbury Theological Seminary (1963-1968) e professor visitante no Seoul Theological College , Seul , Coréia do Sul em 1959. Ele possuía um BA no Asbury College (1943), um M.Div no Asbury Theological Seminary ( 1946), e MA e Ph.D. da Universidade Brandeis .Ele foi o fundador da Francis Asbury Society e autor de vários livros. A Biblioteca Kinlaw no campus do Asbury College é nomeada em homenagem tanto ao falecido Dennis Kinlaw quanto à sua falecida esposa, Elsie.), salienta que o aspecto mais importante na pregação não é o preparo da mensagem, mas o do mensageiro. Isso significa que nossa prioridade máxima é ter momentos de comunhão com o Senhor Jesus Cristo, pois chamou Jesus aos apóstolos "para que estivessem com ele". E aos chamados levitas não foi designado, entre outros encargos "estar diante do Senhor servindo-o”?
Os ministros da Nova Aliança, como os profetas do Antigo Testamento, agem cheios do Espírito do Senhor, e Lucas insiste nisso: com respeito aos Doze, a Pedro, aos Sete, a Estevão, a Filipe, a Saulo, a Barnabé e Paulo. A comunhão de Jesus Cristo e Seu Espírito capacitará o ministro da palavra a ver as pessoas e os fatos como Cristo os vê. Sim, as previsões divinas são inesgotáveis, "Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazeis". Isso explica João 14.23-26; 15.26,27; 16.7-13. O ministro da palavra vive rodeado de perigos e tentações, razão porque necessita ser energizado pelo poder do Alto. Afinal, não é um mero profissional, nem um mero conselheiro, não é um mero orador. É, sim, um ministro da Nova Aliança, da Palavra e das ordenanças.
A palavra "ministro" tem uma origem interessante. Era o perfeito contrário de "magistrado" e de "mestre" para os antigos romanos. Magister era o encarregado de administrar a justiça porque havia nele algo mais que os outros, os quais não tinham esse magis, essa competência além. Por sua vez, minister era o que tinha um minus, algo menos que os outros porque a serviço dos outros, das autoridades e dos senhores. É mesmo. O pastor é um paradoxo: é mestre, porém ministro; possui um magis, o ser pastor-mestre, e um minus, seu ministério, ou como coloca Paulo "sou o menor..."
Precisamos de lábios ungidos pela brasa do altar, tanto quanto nossos ouvidos, mãos, pés e olhos. Nossa vida interior vai se refletir no púlpito. É nesse ponto que vale a pena citar Lutero o qual dizia que três coisas fazem o pastor: a oração, a meditação e a tentação, visto que as três lhe abrem a consciência para compreender as grandes, magníficas, abençoadas verdades espirituais.
Para bem cumprir seu apostolado, o ministro evangélico precisa estudar. Ele que já conhece o poder transformador de Deus, precisa estudar para bem manejar a Escritura. Jesus Cristo o ressaltou, "Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus" (Mateus 22:29).
O pregador é intérprete da Bíblia, razão porque há de ser homem de estudo, de oração e profundamente inserido no tempo. Há de ter preparo teológico através das ciências bíblicas e teológicas, versado na Teologia Bíblica, na Teologia Sistemática, na Hermenêutica; homem de conhecimentos gerais, leitor de publicações especializadas, dos jornais diários, das revistas de comentário, da história. Há de ter preparo, e permanecer se preparando: é um homem sempre em formação, estudante perene da Bíblia, pesquisador de bons e variados comentários, estudante da teologia e profundo na doutrina.
O pregador da Palavra de Deus há de se alimentar constantemente da meditação das Escrituras, como na ordem a Ezequiel: "Filho do homem... come este rolo, e vai fala à casa de Israel" (Ezequiel 3:1) ou na experiência de Jeremias: "Acharam-se as tuas palavras eram para mim o gozo e alegria do meu coração" (Jeremias 15:16) .É uma contradição (seria melhor dizer aberração?) a pregação não-teológica. Seria o mesmo que falar em mecanismo não mecânico, ou medicina não médica, motivo pelo qual não é possível desvincular o preparo teológico de um ministério bem cumprido.
O apóstolo Paulo faz a Timóteo alguns apelos de cunho pessoal. Diz por exemplo: "...(que) pelejes a boa peleja, conservando a fé, e uma boa consciência.". (1 Tm 1:28-19), "Exercita-te a ti mesmo na piedade" (1 Tm 4:7). "Aplica-te à leitura, à exortação, e ao ensino.." (1 Tm 4:13) ."Conjuro-te... que sem prevenção guardes estas coisas, nada fazendo com parcialidade" (1 Tm 5:21). "Segue a justiça, a piedade, a fé, o amor , a constância, a mansidão".(1 Tm 6:11). "... guarda o depósito que te foi confiado, evitando as conversas vãs e profanas e as oposições da falsamente chamada ciência”. (1 Tm 6:20) "Conserva o modelo das sãs palavras..." (2 Tm 1:13). "Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro de que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (2 Tm 2:15), e outros tantos, e tantos outros de atualíssima aplicação na vida do obreiro do século atual.
De onde vem a força do pastor? Com atribuições tão variadas, e por vinte e quatro horas à disposição do seu rebanho, as suas forças espirituais, emocionais e físicas provém de, pelo menos, duas fontes:
Deus ("Posso todas as coisas naquele que me fortalece"- Fp.4:13) Aquele que chamou também o sustenta. Na experiência de chamada de algumas das personagens bíblicas, há um senso de inadequação, de estar aquém da vocação. Não foi assim com Amós? Com Jeremias? Com Ezequiel? Mas pelo poder do Senhor, a voz interior continua a falar: o desejo forte, continuado de fazer do ministério a ocupação suprema da vida: "Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, porque me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!" ( 1Coríntios.9:16).
Outra fonte é a sua igreja, por causa de duas importantes razões: o conceito do Sacerdócio dos Crentes porque, precisando o pastor das orações do seu rebanho, espera que ele tome parte ativa na intercessão pelo seu ministério. Como o apóstolo aos gentios rogou: "Irmãos, orai por nós"
 ( 1Tessalonicenses 5:25).
O outro conceito é o de Igreja Ministrante, a dimensão pastoral da igreja como um todo. O ministro dá e recebe forças: pastoreia e é pastoreado. Bendito feedback.!... Se para o ministro jovem a palavra encorajadora é "ninguém despreze a tua mocidade...", para o pastor já experimentado nas lides do apostolado persiste a alegria de dizer com Paulo, "combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé” (2Coríntios 4:7).
6. O VERBO E O PÚLPITO
o pregador e o seu auditório numa abordagem psicanalítica
6.1. A Natureza da Psicanálise e a Natureza da Pregação
Para se entender a Psicanálise, é preciso, antes de tudo, torná-la distinta de duas disciplinas com as quais frequentemente é confundida.
6.1.1. A Natureza da Psicanálise
Quando se emprega o termo Psicanálise, a referência é "à descrição teórica da mente humana e ao sistema de psicoterapia a ela associado desenvolvido por Sigmund Freud em Viena", ensina KLINE (A psicoterapeuta austríaca Melanie née Reizes, posteriormente conhecida como Melanie Klein, nasceu na cidade de Viena, no dia 30 de março de 1882. Era filha do médico Moritz Reizes,  judeu de origem polonesa, provindo de Lemberg, situada na Galícia. Em 1946, Melanie Klein publicou um de seus textos mais importantes: “Notas sobre os Mecanismos Esquizóides”. No início da década seguinte o grupo kleiniano lançou o livro “Desenvolvimentos em Psicanálise”. Em 1957, Melanie Klein publicou “Inveja e Gratidão”, seu último livro com grandes novidades teóricas. O texto “Narrativa da Análise de uma Criança, no qual Melanie Klein trabalhou até poucos dias antes de sua morte, em 22 de setembro de 1960, seria editado logo em seguida. Ao longo de sua obra, Melanie Klein formulou uma teoria que possibilitou a compreensão da vida mental primitiva e abriu novos horizontes dentro do campo da psicanálise. Para Julia Kristeva, que dedicou à psicanalista o segundo volume da coleção “O Gênio Feminino”, a clínica da infância, da psicose e do autismo, em que predominam nomes como Bion, Winnicott e Frances Tustin, seria inconcebível sem a inovação kleiniana. Melanie Klein seria em seu entender a refundadora mais ousada da psicanálise moderna. Segundo Luís Cláudio Figueiredo e Elisa Maria de Ulhôa Cintra, “se perguntássemos aos estudiosos da área qual teria sido, depois de Freud (1856-1939) e ultrapassando-o, o autor que mais contribuiu para que se compreenda o funcionamento psíquico inconsciente, não haveria dúvida: Melanie Klein, seguida de seus discípulos Wilfred Bion (1897-1979) e Donald Winnicott (1896-1971). A estranheza das formações do inconsciente e das primeiras experiências desafia todas as medidas de bom senso. Melanie Klein ensinou a por de lado a razão e o senso de medida para compreender o caráter autônomo e demoníaco das fantasias inconscientes e angústias.”).  A Psiquiatria, por outro lado, é um ramo da Medicina dedicado ao tratamento das doenças mentais. Observe-se que a Psicanálise busca o alívio destes distúrbios procurando revelar os fatores que os determinam, podendo ser, até, técnica da própria Psiquiatria, ao passo que, onde a Psicanálise não encontrar reconhecimento, a Psiquiatria pode não incluí-la. O terceiro termo é Psicologia, que é aplicado à ciência do comportamento. Existe, aliás, uma Psicologia Clínica que é essencial e basicamente psiquiátrica. KLINE. Utiliza-se a mesma designação para descrever sistemas semelhantes derivados da interpretação freudiana, como os de Adler, Jung, Fereczi, Reich, Klein, e outros tantos. Visto isso, verifica-se que a Psicanálise nasceu com um propósito de base terapêutica, e tem sido considerada, ao longo desses cem anos, como "o mais moderno e eficiente - embora longo e dispendioso - método de tratamento dos desequilíbrios mentais". Gastão Pereira da SILVA a denomina de "terapêutica da sinceridade". O objetivo é "abrir o Inconsciente" do analisando, já que o Inconsciente é a razão da Psicanálise.
O psicanalista utiliza basicamente o que é externado pela palavra, seja a narrativa de memórias, o sonho, as parapraxias (atos falhos ou lapsus linguae), os chistes (gracejos) e, mesmo, o silêncio como resistência e modo de comunicação.
6.1.2. A Natureza da Pregação
MORAES, num artigo de título altamente sugestivo, aponta para a "Cumplicidade na Pregação", quando esclarece que "tanto mais o pregador conhece e vive o conteúdo do seu sermão, tanto mais identificação há entre ele e a mensagem, tanto mais é possível ter ouvintes interessados e atentos”. Esse interesse e atenção do ouvinte vêm andar paralelamente ao conceito freudiano de Transferência, ponto capital em Psicanálise. No tratamento psicanalítico, a Transferência é uma ocorrência importantíssima, visto que todo o curso da análise dela depende.
Poderemos conceituá-la como a passagem dos afetos do paciente para a pessoa do terapeuta ou analista. A Transferência não é uma conquista amorosa, embora haja um processo de "sedução" (no bom sentido, naturalmente), Não há, contudo, propósitos sexuais, mas de simpatia, ou "cumplicidade" para usar a expressão de MORAES.
O que sucede no consultório e divã do psicanalista vai suceder no santuário e púlpito quando este exerce um papel de "sedução" e se estabelece uma Transferência nos mesmos ou quase nos mesmos moldes da que acontece em psicoterapia. O livro de Ezequiel registra um como processo de Transferência dos filhos de Israel para com o excelente pregador que era esse profeta: "Quanto a ti, ó filho do homem, os filhos do teu povo... vêm a ti, como o povo costuma vir, e se asentam diante de ti como meu povo... Deveras, tu és para eles como quem canta canções de amor, que tem voz suave, e que tange bem...”.
Na realidade, MORAES apresenta características da cumplicidade na Pregação que podem ser as da Psicanálise, quando ele ensina que: A cumplicidade é um recurso necessário ao momento atual, sendo que o mesmo pode ser dito da Psicanálise. A cumplicidade na pregação começa a acontecer antes mesmo da entrega da mensagem. Na prática psicanalítica, a Transferência leva o paciente a antegozar o momento da sessão de análise. A cumplicidade na pregação exige do pregador um conhecimento do povo, seus problemas e anseios, o mesmo podendo ser afirmado do psicanalista que deve ser uma pessoa atualizada com o mundo e razoavelmente entendida em todas as áreas para poder conduzir a conversa com o seu paciente.
A cumplicidade deve estar presente na introdução do sermão. E assim ocorre quando do início da sessão de terapia. A cumplicidade na pregação requer que a mensagem seja pregada com equilíbrio, do mesmo modo como o terapeuta conduzirá a sessão.
A cumplicidade na pregação é uma realidade quando o povo tem a oportunidade de participar. Não havendo Resistência (outro termo freudiano), o paciente participa bem, saindo plenamente aliviado da sessão de terapia, como abençoado do Culto pela pregação.
O Dr. Wayne OATES, autor e co-autor de mais de cinquenta livros na área de Cuidado Pastoral, menciona em seu aclamado The Christian Pastor a questão do Ensino Pastoral, o Ministério da Pregação e o Cuidado Pastoral. Elaborando este tema, diz o mencionado professor do Seminário Batista de Louisville, que o relacionamento pregação-pastoral propõe um paradoxo na abordagem que o pastor usa para ir ao encontro da vida do seu povo em termos de alvos, ideais, objetivos e propósitos para viver no Reino de Deus. Aborda, ainda, que o bom pregador depende, tanto quanto o bom pastor, de algumas leis da personalidade, para a sua eficiência. Menciona, também, o estabelecimento de um Rapport (Rapport é um conceito do ramo da psicologia que significa uma técnica usada para criar uma ligação de sintonia e empatia com outra pessoa), termo usado em certas áreas como Transferência o é na Psicanálise; no entanto, acrescenta OATES, vai levar tempo e um relaxamento paciente de suspeitas e defesas de todo tipo.
É natureza da Pregação, portanto, suprir as necessidades espirituais do povo de Deus através de uma pessoa idônea que comunique oralmente a mensagem divina extraída da Bíblia Sagrada com o poder e unção do Espírito Santo. Depreende-se que, por ser um recurso divinamente inspirado, a pregação assume as alturas de uma relação de ajuda.
7. O VOCABULÁRIO DA PSICANÁLISE
Sem dúvida, expressões como consciente, inconsciente, ego, superego, mecanismo de defesa, repressão, regressão, projeção, ato falho, libido, fase oral, fase anal, fase fálico-genital, complexo de Édipo são largamente utilizadas pelo povo, apesar de o serem sem qualquer conceituação psicanalítica. São, no entanto, termos da Psicanálise freudiana. Torna-se imperativo entendê-las para uma abordagem psicanalítica da Pregação cristã.
7.1. Inconsciente e Cia.
Temos a chamada Teoria Topográfica, a qual trata como diz o nome, da topografia do aparelho psíquico, que se divide em Inconsciente, Pré-consciente e Consciente. Filósofos, psicólogos e, naturalmente, psicanalistas admitem a existência de um Inconsciente. Thomas LIPPS afirmou que "o inconsciente deve ser considerado a base universal da vida psíquica". Outrossim, MALEBRANCHE2 deduzia ser o Inconsciente originário de numerosas representações da impossibilidade da simultaneidade da apercepção. E para Edward VON HARTMANN3, os fenômenos inconscientes não estão submissos a uma regra da experiência, pois é sempre o "eterno inconsciente", de existência isolada, com propriedades transcendentes, e não passíveis de comprovação experimental.
Para o Inconsciente vão, por assim dizer, as ideias censuradas ou recalcadas. Gastão Pereira da SILVA usa a figura metafórica de um "presídio" ou "enxovia" na qual se acumulam as "más tendências psíquicas". Esse recalque que vai para o Inconsciente pode ser um desejo, um sentimento ou ódio, de qualquer maneira, algo inacessível à pessoa. A principal linguagem do Inconsciente é a dos sonhos, dos atos falhos e a dos chistes, já o destacamos. "Abrir o Inconsciente", repetimos, é o propósito da Psicanálise.
O Pré-consciente, por sua vez, arquiva as ideias selecionadas que estão ao alcance do Consciente, que é usado no dia-a-dia, pois qualquer sensação que possa ser descrita é consciente.
2 Nicolas Malebranche (1638 –1715) , filósofo francês. Sua principal obra é De la Recherche de la Vérité (Da Procura da Verdade), onde trata da natureza do espírito humano e do que o homem deve fazer para evitar o erro nas ciências.
3 Karl Roben Eduard von Hartmann, (1842-1906), filósofo alemão, chamado "o filósofo do inconsciente" que em sua metafísica procura conciliar duas correntes contrárias de pensamento, o racionalismo e o irracionalismo, por meio do papel central que atribui ao inconsciente.
7.2. Ego, Superego e Id
A denominada Teoria Estrutural destaca os três mecanismos da Personalidade: o Id, o Superego e o Ego. O Id repousa inteiramente no Inconsciente, sendo que sua energia está quase totalmente à disposição dos instintos básicos que são o Eros (instinto de vida, do bem, tudo o que é positivo, bom, justo, animado e animador) e o Tanatos instinto de morte, do mal, de negativo, injusto, e rebaixador).
O Superego é um sistema de monitoramento e fonte de determinações morais e comportamentais, ou, como coloca HURDING, "uma voz 'interior paterna ou materna”.
O Ego, por seu lado, tem por objetivo maior a "autopreservação do organismo", e como função principal a coordenação de funções e impulsos internos, bem como fazer com que os mesmos se expressem no mundo exterior sem conflitos.
7.3. Pulsão
É um conceito-limite entre o psíquico e o somático. Há quem use a palavra Instinto em lugar de Pulsão, embora Freud tenha usado Instinto para caracterizar um comportamento animal preformador (significa formar antes ou antecipadamente. É importante que você pré-forme essa argumentação), hereditário e característico de uma espécie. A Pulsão é um processo dinâmico que consiste em um impulso cuja fonte reside numa excitação corporal localizada. A fonte da pulsão, assim como sua meta, está no lado somático.
O desenvolvimento progressivo da teoria das pulsões deve ser dividido em três etapas:
- Primeira etapa: caracteriza-se por um antagonismo entre a pulsão sexual e a pulsão de auto-conservação.
- Segunda etapa. Nesta dá-se o surgimento do Narcisismo.
- Terceira etapa, que se constitui pela oposição entre a pulsão de vida (Eros)( Eros e Thanatos: “Instintos” de vida e morte de Freud. A Teoria das pulsões de Freud evoluiu ao longo de sua vida e obra. Ele inicialmente descrevia uma classe de unidades conhecidas como os “instintos de vida” e acreditava que essas unidades eram responsáveis por grande parte do comportamento) e a pulsão de morte (Tanatos)( Na mitologia grega, Tânato (do grego θάνατος , transl. Thánatos, "morte"), também referido como Thanatos, é a personificação da morte, enquanto Hades reinava sobre os mortos no mundo inferior. ).
A Pulsão é distanciada do Instinto por ter uma característica própria: o ser sempre parcial. Não pode ser totalizada, nem domesticada, e não precisa de coisa alguma para se manifestar.
7.4. Transferência
Referindo-se a este tema, Karen HORNEY(Psicanalista alemã, nascida em 1885 e falecida em 1952, que estuda Medicina e se especializa em Psicanálise, desenvolvendo a sua atividade como psicanalista, de 1919 a 1932, na Clínica Psicanalítica de Berlim. Em 1934 fixa-se em Nova Iorque, publicando, em 1937, o livro The Neurotic Personality of our Time onde chama a atenção para a importância que os fatores culturais têm nas perturbações neuróticas. Na sua opinião, Freud tinha esquecido esta importante variável. Além disso, defende que, para se compreender as neuroses, mais do que a exploração exaustiva do passado do paciente, seria importante analisar as vivências do presente, na sua opinião, principais responsáveis pelas perturbações.)  afirma ser, na sua opinião, "a mais importante descoberta de Freud", pelo fato de que é possível a utilização terapêutica das reações emocionais do paciente em relação ao analista e à situação analítica. Este assunto já foi objeto de tratamento mais acima.
7.5. Resistência
Em termos clínicos, Resistência é tudo o que interrompe o trabalho psicanalítico. Freud ensina que "a resistência acompanha o trabalho psicanalítico em todos os seus passos" FREITAS destaca de modo simples que a verdadeira Resistência é o medo ou vergonha de pedir ajuda e reconhecer as próprias limitações, bem como admitir os próprios problemas e a dificuldade de pedir ajuda.
7.6. Ansiedade
A ansiedade é produzida pela competição existente em nossa sociedade, a qual se transfere para dentro de si. Sempre foi assim, e isso se torna agravado pela perda do Outro, pela perda de si mesmo e pela incapacidade frente ao novo. Essa ansiedade é chamada por HORNEY de "neurótica”. Impulsos hostis é a principal fonte de onde nasce a ansiedade neurótica
8. O VOCABULÁRIO DA PREGAÇÃO
Há, igualmente, um vocabulário utilizado pelo pregador e que tem como fonte a Teologia cristã e a Doutrina bíblica. São ricas e plenas de significado as palavras que o constituem e que são empregadas na comunicação do evangelho. Os conceitos mais destacados são Graça, Fé, Salvação, Justifica0ção, Santificação, Glorificação.
4 A médica psicanalista Karen Horney (1885-1952) enfatizou a preeminência de influências sociais e culturais sobre o desenvolvimento psicossexual, focalizou sua atenção sobre as psicologias divergentes de homens e mulheres e explorou as vicissitudes dos relacionamentos maritais.
8.1. Graça
Efésios 2.8, declara que "Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus". Graça é o amor de Deus que por força do pecado é imerecido pelo ser humano. É a mais expressiva das palavras do vocabulário da pregação.
8.2. Fé
A fé é instrumental, básica e essencial, pois sem ela "é impossível agradar a Deus", como ensina Hebreus 6.11. A fé nos conduz à justificação, outro excelente vocábulo da fé cristã.


8.3. Salvação
A obra de restauração do ser humano pela graça divina mediante a fé pessoal é chamada de salvação, e compreende três fases: a justificação, a santificação e a glorificação. A primeira ocorre num momento crítico do kairos, ponto de retorno de caminhada, e se estende na busca da semelhança a Jesus Cristo naquilo que é denominado santificação. A glorificação, ápice da obra salvadora, ocorre tão somente na Glória Eterna.
8.4. Paz
O resultado de toda a obra de salvação é trazer qualidade de vida ao convertido. Paz é a consequência da justificação.
9. NEUROSE E SEXUALIDADE NA IGREJA
Alguém jocosamente definiu o Neurótico como uma pessoa que constrói castelos no ar, o Psicótico como quem mora nele, e o Psicanalista como sendo aquele que cobra o aluguel. O fato é que a igreja é formada por uma quantidade de pessoas que podem ser classificadas como neuróticas, visto que "neurose é uma reação que afeta os aspectos de uma pessoa". Difere do Psicótico porque a psicose implica na fragmentação de toda a personalidade.
O fato é a que Neurose resulta de um mecanismo de defesa: os impulsos do Id não conseguem ser devidamente sublimados e isso faz com que as repressões do Superego ganhem maior expressão, surgindo deslocamentos doentios através dos Mecanismos de Defesa como a Compensação, Projeção, Racionalização, Conversão.
Os Neuróticos são pessoas que vivem com esses chamados Sintomas Neuróticos no seu dia a dia, sem qualquer alteração nas atividades normais. ELLIS esclarece o assunto com palavras simples: "Basicamente, é o indivíduo que age, com frequência, de maneira ilógica, irracional, imprópria e infantil". Certa gravidade surgirá quando o estado emocional se tornar por demais intensos e os sintomas se evidenciarem com muita clareza. Esses sintomas são principalmente a angústia, a ansiedade e as fobias. Mas há sempre a possibilidade de recuperação.
Mas não é fácil reconhecer um Neurótico que não deve ser confundido com o Infeliz. O Neurótico é quem por defeitos herdados ou adquiridos em idade precoce, não sabe pensar com clareza, agir como pessoa adulta e fazer as coisas de modo eficiente. Muitos neuróticos têm grande talento, inteligência elevada e boa aparência, no entanto, a sua condição psíquica atrapalha a capacidade potencial e as realizações efetivas.
Estes sofredores estão também na igreja portando dúvidas, indecisão, conflito, temor, ansiedade, sentimentos de inadequação, de culpa e autocensura, supersensibilidade e excesso de desconfiança, hostilidade, ressentimento, ineficiência, autoengano, ausência de realismo, rigidez, timidez, afastamento, comportamento antissocial, insensatez, esquisitice, infelicidade, depressão, incapacidade de amar, egocentrismo, tensão, incapacidade de repousar, tendências obsessivas, inércia, falta de orientação, trabalho compulsivo, excesso de ambição, irresponsabilidade, fuga e autopunição, desejosos de uma libertação, de uma catarse, de uma ministração que lhes virá não somente de uma entrevista individual, de um trabalho de Psicoterapia de Grupo ou, ainda, do púlpito que transformará todo o Culto num grande espaço de Cuidado Pastoral, numa imensa relação de ajuda.
O que faz a Neurose é a Repressão, a luta travada no interior do indivíduo, numa repetição da exclamação de Paulo, o apóstolo, que diz: "não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço". Essa tremenda Repressão ocorre geralmente em pessoas escravizadas a formas rígidas de educação e de moral, submissas que são a um implacável Superego e que veem, quantas vezes, pecado e delito em atos que seriam considerados puros e normais por outras pessoas. Com a passagem do tempo, os afetos da psiquê fazem surgir enfermidades de natureza psicogênica, vestígios de sentimentos de culpa, e essas neuroses se mascaram e desnorteiam o indivíduo.
10. PSICOPATOLOGIA E PROBLEMAS RELIGIOSOS
Einstein afirmou certa ocasião que "A ciência sem religião é manca; a religião sem ciência é cega". É um modo de dizer que não se pode prescindir de ambas as realidades; um modo de afirmar a verdade de ambas e como mutuamente podem se ajudar. Para o pastor/pregador, o conhecimento de si mesmo pela autoanálise e do aparato psíquico do seu rebanho pela análise de seu comportamento, suas angústias e necessidades é o mais poderoso instrumento para repassar a mensagem de que a esperança de cura existe: é só trabalhar com o kairos, o tempo de Deus, num labor paciente, tranquilo, organizado através da terapêutica da palavra, do púlpito com mensagem preparada e ungida nos ditames de Jeremias 3.15, "Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência".
Há, entretanto, certa qualidade de religião pessoal que pode ser classificada como enferma. Também estes estão nas igrejas. É a pessoa que, fazendo uma leitura ultra linear da Escritura Sagrada, transforma sua vida, a de familiares e a de outras pessoas num fardo tão pesado que quase não podem transportar. OATES no seu When Religion Gets Sick afirma que quando a religião fica enferma, prejudicam de maneira total as funções básicas da vida. Isso quer dizer que a disfunção é um critério para medir a enfermidade. Por exemplo, normal é a prática do jejum; recusar-se a se alimentar por ter medo do castigo de Deus, já é Neurose conduzindo a uma religião enferma.
Há psicopatologias que conduzem a uma religião doente. A idolatria, em todas as suas formas e a superstição são exemplos de religião enferma; a religião que não ensina a perdoar e a olhar com fé e esperança o futuro e os dias maus; a religião da amargura, do ódio e da perseguição está seriamente doente. Uma abordagem psicanalítica da pregação e do pregador levará em conta esses defeitos na fé. Na verdade, se a fé for do tamanho da menor semente tem esperança; mas se a proclamada fé tiver um lado estragado, uma "banda podre" para usar expressão popular bem atual, o remédio é trabalhar o Id, o Superego e o Ego do seu portador e arrumar seu Inconsciente de tal maneira que as manifestações do Superego como em Colossenses 2.20s ("por que vos sujeitais ainda a ordenanças, como se vivêsseis no mundo, como: não toques, não proves, não manuseies?") sejam substituídas por outros sentimentos como os estimulados por Paulo em Filipenses 4.8, que ensina, "tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai".
Este é um excelente roteiro para uma abertura do Inconsciente ou, se preferirem, para a solidez da consciência cristã.
11. PSICOSSOMÁTICA E PREGAÇÃO
Não podemos esquecer que o ser humano é um todo harmônico. Tanto a visão hebraica do “adam” (o ser humano) como Deus criou, quanto a Teoria Geral dos Sistemas tão bem conceituada por VON BERTALANFFY, são concordes em afirmar a unidade essencial da pessoa humana. Sempre ocorreu haver pessoas enfermas que sem apresentar lesões em órgãos do corpo, sofriam dos mesmos. Hoje essas pessoas são chamadas Neuróticas e tratadas de acordo, quando no passado a própria Medicina caminhava às cegas no tocante ao psiquismo humano.
A importância à psique(A mente, o entendimento, o intelecto, o que contém os sentimentos mais profundos de alguém: a loucura não é simplesmente a ruptura da psique. A alma, o princípio espiritual do homem que se opõe ao corpo. O espírito, a parte imaterial, incorpórea e inteligente do homem. [Psicologia] Reunião dos caracteres psíquicos de um ser humano; psiquismo.) passou a ser dada com os estudos de Freud e seus discípulos. A própria Psicanálise nasceu do trabalho desenvolvido por Freud a partir de um caso de Histeria, que influenciou a cética Medicina, que passou a dar maior importância ao sistema psíquico, anteriormente ignorado.
O surgimento da Medicina Psicossomática tirou os excessos tanto dos psicanalistas quanto dos médicos e colocou as coisas nos lugares adequados. Passou-se a compreender a interação corpo-mente. O psiquiatra MÁS DE AYALA fez uma equilibrada consideração quando afirmou que "Em todas as épocas, havia-se observado as influências que as emoções agudas exercem sobre as funções do corpo. A cada situação emocional - alegria, pena, vergonha, ira - acompanha uma síndrome psicossomática, que tem lugar no ritmo cardíaco, na respiração, na irrigação sanguínea, nas secreções, no sistema muscular, etc. Não obstante isso ser velho como o mundo, a Medicina não os levava em conta, pois essas trocas psicomotoras pertencem à vida normal e ela só estudava os doentes no hospital. Do mesmo modo como a Fisiologia acadêmica se fez sobre rãs descerebradas e cachorros narcotizados, o que levou Letemendi a dizer: à medicina humana falta homem e sobra rã".
Ao ocorrer um distúrbio somático, como o mau funcionamento de algum órgão, víscera ou glândula, o sistema psíquico recebe uma comunicação e inicia a manfestação de sintomas estranhos, muitas vezes diagnosticados como Neuroses quando são apenas descontrole orgânico. O contrário também ocorre: um distúrbio psíquico (não mental), mesmo momentâneo, transparece na forma de manifestações de colite, prisão de ventre, hemorróidas, constantes azias, hipertensão (ou hipotensão), taquicardia, má circulação nas mãos ou nos pés, dores musculares, alergias, urticárias, acne, sudorese excessiva, asma, bronquite crônica ou alérgica, rinite e laringite alérgicas, apnéia, diabetes, impotência, anorgasmia feminina, enurese, psoríase, vitiligo e tantas outras. Mulheres mal-amadas desenvolvem dores na coluna e dores de cabeça recorrentes; empregos inadequados ou mal recompensados trazem úlcera gástrica e enxaquecas. Os exemplos são inúmeros. A gravidez imaginária é um típico caso de psicossomatismo. Abortos ocorrem por problemas de ordem emocional, sejam eles medos, desgosto ou tensão nervosa. É um caso que a Psicanálise chama de Conversão.
E esse povo está tanto nos consultórios dos psicanalistas quanto nos santuários para ouvir a ministração do púlpito, o qual, em havendo a inteligência mencionada em Jeremias 3.15, transformará a igreja e a sua mensagem numa enorme comunidade terapêutica. Não era sem motivo que Jesus Cristo dizia ao suplicante que lhe pedia a cura física, "Filho, tem bom ânimo; os teus pecados estão perdoados” (Mateus 9:2) , ou, ainda, "Tem bom ânimo filha, a tua fé te salvou" (Mateus 9:22).
Estes são apenas dois exemplos do divino interesse de Jesus pelo homem total, que vive angustiado, sentindo-se culpado e necessitado de perdão.
11.1. Angústia
Uma jovem que sofria de Angústia, após consulta a um ginecologista, descobriu que portava um distúrbio nos ovários. Tratada, a Angústia desapareceu. A tireóide, quando funciona mal, é responsável por alterações de humor no indivíduo. Muita gente considerada fria, impulsiva, alienada ou angustiada porta distúrbios na sua tireóide.
Para Freud, a Angústia define-se como sentimentos de medo e desamparo em relação a uma tensão de libido recalcada, uma expressão de libido reprimida. MASSERMANN, citado por TALLAFERRO, propôs a seguinte conceituação "O afeto desagradável que acompanha uma tensão instintiva não satisfeita. É um sentimento difuso de mal-estar e apreensão que se reflete em distúrbios visceromotores e modificações da tensão muscular". GERKIN, falando das experiências de crise na vida hodierna e sua ministração pastoral, aborda o conceito de Angústia fazendo-a referir-se a uma dor aguda e profunda, sofrimento e aflição.
Vezes tantas, a Angústia aparece ao mesmo tempo em que palpitações, transpiração, diarreia e respiração ofegante, fenômenos fisiológicos que podem surgir com ou sem a consciência da Angústia. Consiste este sentimento em uma sensação de desamparo em relação ao perigo. O perigo pode ser externo ou interno: o temor de uma enchente, da viagem numa estrada reconhecidamente perigosa, ou a fraqueza, covardia ou falta de iniciativa. Por essa razão, a Angústia é considerada um dos principais problemas da Neurose, e pode originar-se tanto na ordem psíquica quanto na somática ou em ambas ao mesmo tempo.
Traumas de infância, medo de perdas, de ser abandonada, de não ser amada, temor da morte trazem Angústia, e esse povo quer direção segura do púlpito e orientação firme da Palavra de Deus, a qual coloca nos lábios de Jó expressões como, "falarei da angústia do meu espírito, queixar-me-ei na amargura da minha alma", e na boca de Davi, "... consideraste a minha aflição, e conheceste as angústias da minha alma" (Salmos 31:7).
11.2. Depressão
OATES ensina haver diferentes níveis de relacionamento na atividade do Cuidado Pastoral. É aí que psicanalista e pastor seguem rotas diferentes. É nos diferentes níveis de relacionamento que o ministro de Deus se torna amigo pessoal, vizinho, pastor-pregador, pastor-conselheiro e companheiro de outras atividades. Dependendo da situação em vista ou da emergência criada, o pastor deve saber o que fazer quando chamado a intervir. Isso vale igualmente no púlpito. Salienta, ainda, cinco níveis de Psicoterapia Pastoral, que são: o da Amizade, o do Conforto, o da Confissão, o do Ensino, o do Aconselhamento e Psicoterapia.
Pessoas em Depressão enquadram-se no nível do conforto. Há uma ligação muito forte entre a Depressão e a Melancolia, visto que em ambas o paciente se submete a incontáveis auto-reprovações: sente-se indigno, impõem-se punições, e é como se uma força que tem a finalidade de destruí-lo se desenvolvesse. Rejeita a alimentação, passa o tempo a dormir, não cuida de si e não se importa com os outros. É um quadro semelhante ao do luto.
Em muitas dessas pessoas, as razões para esta Depressão permanecem ignoradas no Inconsciente ou Pré-consciente, e as fazem precisar de um ministério de conforto que o púlpito deve trazer. É preciso ressaltar que a possibilidade de suicídio entre tais pessoas é altíssima, e que elas estão no nosso meio também. OATES, que é otimista nestes casos, afirma que a dor severa da depressão pode ser curada. Uma Terapia Breve, mesmo através da pregação, deve ter como primeiríssimo passo trabalhar a baixa auto-estima, seguindo-se a restauração da confiança pelas forças do Ego, o que o leigo chama de "massagear o ego", e a Bíblia destaca o "amar o próximo como a si mesmo". O terceiro passo será a inversão da auto-agressão, seguido pelo estabelecimento de uma ligação da compreensão dos aspectos dinâmicos com a situação que precipitou a Depressão e as situações genéticas anteriores.
O pregador há, ainda, de oferecer apoio através da disponibilidade expressa (se tem treinamento adequado para lidar com a situação) ou fazer referência a um profissional da área de saúde mental.
O pastor deve estar alerta para o fato de que a tentativa ou ameaça de suicídio é um pedido de socorro. É evidente que o pastor/pregador tem ao seu dispor recursos alheios ao tratamento psicanalítico: a atuação do Espírito Santo e o poder da oração.
11.3. Sentimento de Culpa
Para muitos psicanalistas e psicólogos, a idéia de Culpa é a causa de inúmeras perturbações psíquicas. No entanto, a realidade verificada é que estes sentimentos são tão universais quanto o medo, a fome e o amor.
Para FREUD, os Sentimentos de Culpa são o resultado de pressões sociais. Nascem na mente da criança quando os pais a castigam, e não são outras coisas senão o medo de perder o amor deles. É consequência da construção e do reforço do Superego. JUNG, por sua vez, afirma ser a recusa da aceitação plena de si mesmo. DE ODIER distingue entre "culpa funcional" e "culpa de valores", sendo a primeira a consequência de uma sugestão social, medo de tabus ou de perder o amor das outras pessoas. A "culpa de valores" é a consciência genuína de que se transgrediu uma norma autêntica; é o juízo livre que o ser humano faz de si próprio sob uma convicção moral. Martin BUBER, o pensador judeu, expõe a "culpa genuína" e a "culpa neurótica" à qual chama também de "irreal", e para quem a culpa genuína sempre gira em torno de alguma violação das relações humanas, constituindo uma ruptura na relação Eu-Tu.
No conceito bíblico, a Culpa não pode ser separada do pecado: é desacato à autoridade de Deus, e nasce da transgressão de qualquer dos mandamentos revelados na Sua Palavra como bem o declara 1João 3.4: "Qualquer que comete pecado, também comete iniquidade; porque o pecado é iniquidade".
A estas pessoas, o púlpito pode ministrar levando-as à Confissão, Reparação da falta cometida logo que possível e Renúncia do pecado. O púlpito que ministra ao culpado lhe dirá como Jesus "Nem eu te condeno. Vai, e não peques mais" (João 8:11).
12. CONCLUSÃO: O RESULTADO
A Pregação tem seu lado terapêutico como acima exposto. E o objetivo do púlpito evangélico é levar o crente em Jesus Cristo a crescer. Crescer "na graça e no conhecimento de Jesus Cristo” (2 Pedro 3:18), aperfeiçoá-lo para o desempenho do ministério do seu ministério, e levá-lo "à medida da estatura da plenitude de Cristo"(Efésio 4:13); conduzindo-o à abundância de vida libertando-o de suas mazelas, afetos e complexos.
Esta relação de ajuda mantida pelo púlpito e ensino aumentará o conhecimento que cada um tem de si mesmo, levará o ouvinte/ovelha à auto aceitação como um ato de maturidade, levá-lo-á a uma capacidade de estabelecer melhores relacionamentos com Deus, com os outros e com si mesmo, terá a confiança reforçada, liberdade de amar e alegria de viver porque tudo isso é o que a Psicanálise realiza e com muito mais propriedade a ministração cristã através da Pregação.
13. PREGAÇÃO
13.1. O literal e o analógico
Usamos com muita normalidade imagens, analogias e ilustrações na conversação diária. Com efeito, fazemos poesia quando conversamos, e, como pregadores, realizamos a pregação como uma atividade poética. Se é criação, feitura, há de ser um poema. É lembrar que na língua grega, "feitura" se diz poeimia, de onde resulta a nossa palavra "poema". Pregação é igualmente uma atividade dramática. No ato de interpretar e repassar a palavra um verdadeiro sociodrama, ou, melhor ainda, um psicodrama, quando nos vemos, e nos descobrimos nos meandros e na mensagem do texto sagrado. Ainda mais: pregação é um canal de graças. Bênçãos sem conta descem nessa virtual escada de Jacó quando os anjos sobem levando o incenso e o fervor de nossas orações, e descem trazendo a bênção, a unção e a graça do trono de Deus.
Eis-nos diante do texto. Temos necessidade de interpretá-lo. É preciso hermeneutizar porque o povo de Deus gasta considerável parte do seu tempo em cultos, Escolas Bíblicas, células ou pequenos grupos de crescimento discutindo documentos escritos que são os textos bíblicos. Também pelo fato de que estes textos constituem o cânon da Escritura da comunidade, e porque a igreja, apesar de ter o cânon fechado, serve a um Deus vivo e que dá direção. Ainda mais: a igreja necessita da interpretação dos textos bíblicos que reside na relação entre a igreja e as Escrituras. Relação que não é simples, visto que a autoridade da Escritura se faz presente, e ela informa, mas também corrige, confirma, encoraja e julga.
É verdade. A Bíblia precisa ser interpretada por, pelo menos, dois motivos:
1-É composta por livros antigos pertencentes a uma cultura diferente da nossa;
2-Tem uma mensagem válida e permanente que deve ser aplicada a situações vividas hoje.
Observe-se, no entanto, que a interpretação bíblica tem sido uma área de intenso conflito. Ou como o expressou Bultmann: "Não existe uma interpretação neutra da Bíblia".
No entanto, faz-se a interpretação com base em:
-   Diferentes formas de interpretar;
- Diferentes comunidades de intérpretes: judaísmo, protestantismo, catolicismo;
-    Diferentes visões: científica, literária, pastoral, teológica.
Ao lado do método histórico, também chamado de literal, tem sido largamente difundido o alegórico, que propõe que além do significado comum e óbvio de uma passagem bíblica expressa pelo primeiro, existe o significado real ou espiritual.
Esse sistema foi desenvolvido pelos gregos c. 520 a. C. para a interpretação de Homero e Hesíodo. Mais adiante, intérpretes judeus, notadamente Aristóbulo (2o século a. C.) e Filo de Alexandria (1o século d.C.). Esse método alegórico foi muito usado até a Reforma. Era marcado pela pouca preocupação com o panorama histórico. "Jerusalém", por exemplo, podia ser a Cidade Santa, mas também a Igreja. Pedro, na sua Primeira Carta, descreve o diabo como um leão que ruge. No 5° século, Agostinho interpreta a arca como figura da Igreja. Suas dimensões representavam para ele o corpo humano de Cristo, e a porta ao lado da arca são as feridas no lado de Cristo crucificado. Na Idade Média, houve uma acentuada preferência pelo Cântico dos Cânticos. Nele, Salomão foi alegorizado como Jesus Cristo, e a Sulamita como a Igreja. Tem sido longa a história da interpretação e uso dessa interpretação na pregação cristã. Entre os judeus, três etapas marcam sua parte na história: de 300 a. C. a 200 d.C.; de 200 a 700; de 700 a 1100. A ausência do profetismo fez surgir a sinagoga e a figura do rabino, ou mestre, cuja tarefa era fundamentalmente harmonizar os textos entre si, e adaptar a escritura a toda circunstância. Deu-se a formação do corpo da Lei Oral (o Talmud) em contraposição à Lei Escrita (a Torah) já existente. Criou-se, afinal, um sistema vocálico pelos massoretas ( Em torno do século VI, um grupo de competentes escribas judeus teve por missão reunir os textos considerados inspirados por Deus, utilizados pela comunidade hebraica, em um único escrito. Este grupo recebeu o nome de "Escola de Massorá". Os "massoretas" escreveram a Bíblia de Massorá, examinando e comparando todos os manuscritos bíblicos conhecidos à época. O resultado deste trabalho ficou conhecido posteriormente como o "Texto Massorético".O termo "massorá" provém na língua hebraica de messorah (מסורה, alt. מסורת) e indica "tradição". Portanto, massoreta era alguém que tinha por missão a guarda e preservação da tradição) para a preservação da pronúncia do texto a vocálico(formado por vogal ou vogais ). A interpretação da Igreja Apostólica foi de tipológica, passando pela simbólica até a cristológica.. Isso significa que passagens do Antigo Testamento foram tidas como figuras e tipos das ações messiânicas para o primeiro caso. Quanto ao simbolismo, prevalece o sinal e o símbolo mais que a interpretação literal ou histórica. Na terceira, o eixo de pensamento é Cristo. Na interpretação patrística (séculos II a V), a Escritura possui um sentido espiritual oculto que deve ser descoberto. Para os Apologetas, o Antigo Testamento é sombra do Novo. O método largamente utilizado foi o tipológico. Nesse caso, algumas palavras do Evangelho devem ser lidas como alegoria.
A Escola Alexandrina (Egito), que vigorou entre 180 e 450, conciliava a filosofia grega com a mensagem cristã, usando igualmente o método alegórico. Na verdade, os alexandrinos viam três sentidos na Bíblia:
- Literal
- Moral
- Alegórico
Assim, diziam que as funções da Bíblia eram: narrar o que acontecera; sugerir ensinos morais e exigir a busca do sentido profundo. O próprio Orígenes pontificava que para os principiantes era o sentido corporal; para os avançados, o psíquico; para os perfeitos, o espiritual.
A Escola Antioquena (Síria, 280 a 500) buscava o sentido literal e histórico. Estudava o contexto para descobrir o sentido literal. Para isso, estudava a Bíblia palavra por palavra. Na busca do sentido típico, partiam para o antítipo através do tipo.
Os Capadócios (Ásia Menor) situaram-se no meio caminho entre os alegóricos de Alexandria, e os histórico-literais de Antioquia.
Na Idade Média (séculos VIII-XIV) foram estabelecidos os quatro sentidos da Escritura:
-   Literal, que mostra os fatos reais.
-   Alegórico, que ajuda a descobrir o mistério oculto.
-   Moral, que orienta os costumes.
- Anagógico, que encaminha para as realidades transcendentais.
-    Realmente, um longo caminho até hoje.
13.2. Literalidade
É a significação conceitual imediata que o autor dá a suas palavras para expressar uma ideia. Para isso se serve das regras convencionais de gramática dentro de uma lógica de sentido comum, refletindo a situação histórica concreta em que vive o referido autor. Recebe também os nomes de Sentido Histórico e Lógico-Gramatical.
Não se procura ver um sentido cabalístico desligado do contexto histórico. No entanto, o autor bíblico pode expressar suas ideias com palavras que hão de ser tomadas em sentido próprio.
O sentido literal é o óbvio e geral, a exegese o esclarece prontamente.
13.3. Analogia
Ensina Buttrick que "a pregação busca a linguagem metafórica porque Deus é uma misteriosa Presença-na-Ausência". Daí o aparente misterioso nome de Deus Eu-Sou o que sou, que visa a dizer (o que não foi repassado pelos antigos tradutores) "Eu sou o que sempre serei", "Eu serei o que sempre Tenho Sido", "Eu continuarei a ser o que sempre fui", "Eu não mudo", ou, ainda, "Eu sou o Eterno". De fato, algumas vezes, onde não há uma definição formal, torna-se claro o significado pelo uso de alguma expressão análoga ou pela antítese, em sentido figurado ou metafórico. Nesse caso, há largo uso de sinédoques, metonímias, metáforas, ênfases, hipérboles e elipses. Entenda-se alegoria como uma metáfora continuada.
De modo amplo, analogia é qualquer semelhança que se estabelece por um confronto. Pode haver algum grau de imperfeição, evidentemente, mas deve ficar sempre bem patente que a analogia fixa o significado da forma de uma palavra pela forma semelhante de outra conhecida. A palavra já determina o conceito, Ana-ton-auton-logon, ou seja, "segundo o mesmo logos". Isso quer dizer que mantendo diversidade de duas coisas, é dado lugar a certa semelhança, embora pequena, que baste para manter a comparação. As essências são diversas, mas a relação é a mesma. E porque a “analogia é uma estrutura fundamental em todos os campos do ser e do saber, também se faz presente na interpretação da palavra de Deus”.
Aristóteles entendia que a denominação por analogia era o tipo mais importante de metáfora ou de sentido translato. A própria palavra "metáfora" significa "transporte"; transporte de conceitos, de ideias, de significados. Dizer que alguém "entrou pelo cano" é uma metáfora, assim como algumas metáforas perderam esse sentido, como, por exemplo, quando alguém na Idade Média da língua portuguesa era perseguido por cães ferozes, e lembrando que a palavra "cão" no português antigo se dizia "perro", era uma pessoa "aperreada", alguém que estava em sérias dificuldades de ser destroçado por aqueles animais intratáveis. Diz-se que há uma "analogia", uma "correspondência". A linguagem já foi definida como um dicionário de metáforas extintas. Entendendo assim, a Bíblia deve ser definida "como um complexo de metáforas válidas: metáforas e parábolas, que aludem às realidades divina e humana".
Na Bíblia, há uma relação entre "loucura" e "pecado", portanto, "sabedoria" terá a ver com "retidão" e "piedade". A Bíblia usa fartamente a linguagem analógica, a linguagem de correspondência. Dizemos com a Bíblia que "o Senhor sobre ti levante o rosto..." "Deus é luz" e "se andarmos na luz, como ele está na luz...”, e que "o Verbo se fez carne, e habitou entre nós..." E tudo isso é linguagem da analogia.
13.4. Símbolos Sagrados
Sem dúvida, o simbolismo bíblico é um dos assuntos mais difíceis, talvez, ou mesmo, delicado para ser tratado pelo intérprete da Bíblia Sagrada. Do Gênesis ao Apocalipse, símbolos são larga e fartamente utilizados, e caíam na sensibilidade dos ouvintes ou leitores porque uma lição espiritual e moral se encontravam implícita. A formação do Adam em suas modalidades de ish e ishah; Torre de Babel, a Escada de Jacó, a Sarça Ardente, a Cruz do Calvário, as línguas como de fogo do Pentecostes, todo o variadíssimo desfile de animais fabulosos, números, cores, cidades, nuvens, lagos, praças ensinam que há pertinência para uma tentativa de extrair das metáforas, alegorias e hipérboles lições eternas plenas de concretude para a prática de vida do cristão das vésperas do século 21, e, particularmente, do obreiro e da obreira na Causa de Jesus Cristo.
Verdades espirituais e oráculos proféticos foram transmitidos em símbolos que merecidamente podem receber o nome de sagrados, e assim, a providência e a graça de Deus foi repassada até hoje. Por causa deste caráter enigmático, há necessidade de intérpretes que tenham um discernimento sadio e apropriado, para que aquilo que se apresenta confuso, ilógico e fora de propósito, tome forma, razão e objetivo.
O método apropriado e lógico de investigar os princípios do Simbolismo consiste fazer uma comparação entre os variados símbolos bíblicos, especialmente aqueles que se fazem acompanhar de uma solução autorizada.
É possível que haja quem negue a realidade de certos relatos ou de detalhes nesses relatos. Há quem negue a espada flamejante "ao oriente do jardim do Éden", por não entender o simbolismo do fogo, sinal da presença, da direção, da glória ou da justiça de Deus.
O sangue é um elemento frequentemente lembrado por seu altíssimo simbolismo espiritual. Da Antiga à Nova Aliança, o sangue se faz presente; presente e marcante.
13.4.1. O Sangue como Símbolo
Sangue em hebraico é “dam”. É palavra tão importante que aparece 360 vezes no Antigo Testamento. O livro de Levítico (Vaiykra) tem a maior frequência com 88 registros, sendo seguido por Ezequiel com 55 menções. A grosso modo, é possível dividir a menção do sangue em duas partes:
-  O derramamento de sangue como resultado de violência resultando geralmente em morte, como no caso de guerra ou assassinato.
- O derramamento de sangue, sempre resultando em morte, como ato litúrgico: sacrifício ou consagração a Deus.
O sangue simboliza a vida: o sangue da vítima é a vida que é passada através da morte. Por essa razão, quando se afirma que alguém é "salvo pelo sangue de Cristo" está, na verdade, dizendo que somos salvos pela vida de Cristo, e deste modo, participamos de Sua vida.
Outra interpretação enfatiza que o sangue no Antigo Testamento denota não a vida, mas a morte, ou seja, a vida que é oferecida na morte. Que seja esclarecido, no entanto, que não há nos conceitos veterotestamentários qualquer preocupação com morbidez das divindades que regiam o mundo do além (como imaginavam os vizinhos pagãos do povo de Israel).
Examinar, portanto, símbolos é buscar sentido, as ideias, o que queremos expressar. E a expressão requer signos (palavra, vocábulos, gestual). Lembremos, entretanto, que estamos tratando de um mundo e de uma mente que diferem substancialmente da nossa: somos cidadãos ocidentais, latinos, beirando o século 21, de mentalidade helênica, com capacidade de pensar em abstrações; os livros que compõem o Antigo Testamento refletem um modo de vida oriental, semita, de 3 mil anos passados, com imensa tendência de pensar em termos concretos. Portanto, o figurativo, o plástico, o gráfico seria o signo para dar sentido às expressões que não poderiam ser traduzidas por vocábulos, aquilo que Saussure chamou de significante, de ordem material e que se situa no plano da expressão.
13.5. Alegoria
É um recurso de linguagem que consiste na representação de uma ideia abstrata por uma figura dotada de atributos que sugerem aquela mesma abstração. Ensina Fountain que a alegoria é a extensão da metáfora, quando metáfora, por sua vez, indica semelhança entre duas coisas diferentes, declarando que uma é a outra. A alegoria é uma forma de interpretação. Segundo Hansen, "Decifra significações tidas como verdades sagradas, ocultas na natureza sob a aparência das coisas e também na linguagem figurada dos textos das Escrituras, que revelam um sentido espiritual”.
De acordo com a alegoria hermenêutica, existe uma prosa do mundo a ser pesquisada no mundo da prosa bíblica. E adianta o mencionado Hansen que "se as coisas podem ser consideradas signos na ordem da natureza, é porque são signos na ordem da revelação... os da Escritura designam coisas e estas, por sua vez, designam verdades morais".
É precisamente uma verdade moral e espiritual que se procura abordar no exame de material extraído do livro do Levítico. O texto escolhido vem do capítulo 8 que trata da consagração de Arão e seus filhos. Remetemos o leitor ao estudo Consagrado para Cuidar, amostra do que foi trabalhado em um trecho da palavra de Deus, e já publicado nas páginas da Bíblia World Net.


Prova n°01 – QUESTIONÁRIO

Nome:________________________________________________nota___________
1. O pregador do evangelho não pode esquecer três relevantes e imprescindíveis realidades: Que o senhor Jesus é o... Assina com (X) a alternativa correta.
a) ( ) Senhor do céu, Senhor da terra e Senhor da mar.
b) ( ) Profeta, Senhor e seu Senhor.
c) ( ) Senhor do universo, Senhor da igreja e seu Senhor.
d) ( ) Senhor do universo, Profeta e Rei.
2. A pregação, em si, é o elemento central do culto. É um ato de adoração; é oferta feita a Deus pelo pregador. Lutero chegou ao ponto de dizer ser o próprio cerne do culto cristão, e que não haveria culto se não... Assina com ( X ) a alternativa correta.
a) ( ) houvesse sermão.
b) ( ) houvesse louvor.
c) ( ) houvesse músicos.
d) ( ) houvesse obreiros.
3. A Psiquiatria... É um ramo da Medicina dedicado ao tratamento das doenças mentais. O que a Psicanálise observa. Assina com ( X ) a alternativa correta.
a) ( ) busca realizar terapia
b) ( ) busca estudar as doenças mentais
c) ( ) busca o alívio das dores de cabeça e dores fisicas.
d) ( ) busca o alívio dos distúrbios procurando revelar os fatores que os determinam reconhecimento das doenças mentais.
4. Relacione as frases com os seus respectivos autores
I - John Stott
II - Erasmo
III - Jerônimo
IV - Calvino
5. Na Idade Média (séculos VIII-XIV) foram estabelecidos os quatro sentidos da Escritura:
a) ( ) História, Alegórico, Foto, Analógico.
b) ( ) Literal, Alegórico, Moral, Anagógico.
c) ( ) Literal, Alegórico, Moral, Achismo.
d) ( ) Boato, Alegórico, Conversa, Anagógico.
a) ( ) "O ministro se acha no ápice de sua dignidade quando do púlpito alimenta o rebanho do Senhor com sã doutrina".
b) ( ) "O ministro não pode ser escravo do seu estômago e da sua carteira".
c) ( ) "Ninguém , deve se arrogar o título de pastor se não puder ensinar os que apascenta".
d) ( ) "O sermão deve dar descanso após incomodar".


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