FACULDADE DE TEOLOGIA
TESTEMUNHAS HOJE
CURSO LIVRE
HERMENÊUTICA
CONCEITO GERAL
INTRODUÇÃO
Procuramos ao máximo
fazer um resumo de cada questão, pois caso contrário a disciplina se tornaria
muito extensa, razão pela qual sugerimos que se há algum tópico que seja de
interesse expressivo do aluno, ele pesquise por conta própria, para
enriquecimento de sua própria cultura teológica.
O que é história?
História é: Narração dos fatos notáveis ocorridos na vida dos povos, em particular,
e da humanidade em geral. Conjunto de conhecimentos adquiridos através da
tradição e/ou mediante documentos, acerca da evolução da humanidade.
Definição de Hermenêutica: É a arte e a
interpretação da linguagem.
Objetivos da
Hermenêutica:
Relação entre: Autor
- Leitor:
O objetivo é tornar o
autor contemporâneo do leitor, aproximando-os à compreensão da mesma época. O
leitor deve compreender o escritor na época em que o texto foi escrito e não na
época em que o texto está sendo lido.
Um segundo objetivo
da hermenêutica e esclarecer tudo que haja de obscuro.
Tornar o assunto
compreensível para uma posterior exposição - II Pedro 3:15 e 16.
É possível dizer a
verdade de forma errada. Nas escrituras encontramos a verdade, mas por falta de
conhecimento é possível ensinar ela de forma errada.
“Concordamos,
também, que o pregador ou professor está por demais inclinados a escavar
primeiro, e a olhar depois, e assim encobrir o significado claro do texto, que
freqüentemente está na superfície. Seja dito logo de início, e repetido a cada
passo, que o alvo da boa interpretação não é a originalidade, não se procura
descobrir aquilo que ninguém jamais viu” – Fee/Stuart, Entendes o que lês? Página 13.
A palavra
hermenêutica deriva do termo grego Hermeneutikos, por sua vez deriva de um
verbo “hermeneou” cujo significado é: arte de interpretar os livros sagrados e
os textos antigos. De modo geral e mais abrangente, se fala da teoria da
interpretação de sinais e símbolos de uma cultura e a arte de interpretar leis.
Ciência - Porque contém regras definidas,
organizadas.
Arte - Porque na hora de aplicar as regras há necessidade de
bom senso, sensibilidade.
Há espaço para a
criatividade no estudo da Bíblia, porém, esta só deve ocorrer quando ela é
dirigida pelo Espírito Santo. O máximo cuidado é sugerido quando levamos a
imaginação a criar “verdades” sem base bíblica e a expor estas mesmas como
“doutrina” quando na verdade não passa de uma questão da imaginação e fruto
muitas vezes de uma dedução.
“Há uma diferença
enorme entre interpretação e aplicação”.
Interpretação - Só é o significado
pretendido pelo autor, ou seja, por Deus. A interpretação bíblica deverá
extrair do texto apenas o que o Deus pretendia dizer através do autor humano, e
não o que nós pretendemos que o texto diga.
Hermenêutica Bíblica - Geral e Especial
Geral - É aquela que trata as Escrituras como um todo.
Princípios gerais, básicos. Elabora os princípios. Os princípios de estudos de
hermenêutica são a base para uma teologia sadia e bíblica.
Especial - É aquela que trata de questões
particulares das Escrituras. Esta classe de hermenêutica não pode elaborar
princípios.
Distinção acadêmica, didática:
Hermenêutica - Parte teórica do processo (teoria).
Exegese - Parte prática do processo interpretativa
(prática); tirar para fora o significado do texto.
Não nos compete mais
a pesquisa para determinar os livros canônicos (inspirados), o estudo da
formação do Cânon é um estudo de outra disciplina.
Existem muitos livros
inspirados que não foram incluídos no cânon bíblico pelo fato de se tratarem de
problemas específicos para aquela região, igreja ou pessoa.
Exemplos: I Cor. 5:9
(uma Carta anterior a esta que é considerada a primeira) --- Col. 4:16 (havia
uma carta para os Laodicenses).
Obs: O profeta é inspirado no exercício de sua função.
Ciência que estuda as
possíveis mudanças que ocorrem com o texto bíblico.
- Como foi escrito?
É aquela que estuda
os fatos históricos envolvidos com o texto.
- Quem escreveu? Para quem escreveu?
CÂNON
|
CRÍTICA TEXTUAL
|
CRÍTICA HISTÓRICA
|
EXEGESE - BÍBLICA E
- SISTEMÁTICA
|
Vê se o texto é o
melhor em grego, o mais próximo ao original
|
Quando foi escrito
Porque foi escrito
Quem foi o autor
Para quem escreveu
|
Depois de definir
os aspectos históricos, chegamos à exegese. De uma correta exegese depende a
minha teologia.
|
Bíblica - Limita o estudo a um livro ou um grupo de
livros. Ela focaliza o livro em
sí. Focaliza o livro.
Sistemática - Pega um tema bíblico e nos vamos para toda
a Bíblia para ver o que se fala sobre esse tema. Focaliza o tema.
Exemplo: - O problema
do sofrimento humano no livro de Jó (Teologia
Bíblica).
- O problema do sofrimento humano em toda
a Bíblia (Teologia Sistemática).
- Não fica limitada a situação de Jó
apenas, mas vemos tudo o que Deus mostrou sobre o sofrimento humano.
- Conhecido:
- Deus só pode ser
compreendido na medida em que
Ele se revela.
Nas Escrituras, nós
temos uma revelação necessária e não revelação absoluta, pois Deus não nos
revelou tudo, apenas o necessário para a nossa salvação.
A teologia sistemática
do ponto de vista acadêmico é formulada em bases filosóficas.
Nas Escrituras
Sagradas temos apenas revelação necessária e não revelação absoluta.
Mesmo as Escrituras
defendem a necessidade de uma Hermenêutica Bíblica.
a) - II Pedro
3:15, 16
Algumas coisas difíceis de serem
entendidas.
É possível torcer as Escrituras.
Pedro tinha dificuldade para entender
alguns dos escritos de Paulo
Naquela época, alguns já torciam a Bíblia.
b) - Lucas 24:27
Os apóstolos estavam deprimidos por não
interpretarem devidamente as profecias messiânicas.
O próprio Senhor Jesus reconheceu a
necessidade de explicar as Escrituras.
“Expunha-lhes” – Em grego (diermeneuo).
Jesus fez hermenêutica com os discípulos.
c) - II Tim. 2:15
“Manejar bem a palavra da verdade”
Explorar bem e ensinar corretamente a
palavra da verdade.
Paulo recomenda a Timóteo que maneje bem
as Escrituras.
Entender bem e ensinar corretamente a
palavra da verdade.
d) - II Cor. 2:17
“Mercadejando” - Falsificando
Do grego (capeleuo) = corromper,
falsificar, adulterar
Não devemos corromper, falsificar as
Escrituras.
1o -
Histórico
Estamos largamente separados da época dos
escritores bíblicos.
A Bíblia cobre um período de cerca de
1.500 anos.
Com o tempo, muita coisa se perde.
Quando compreendemos os fatos históricos,
nos podemos compreender melhor os fatos bíblicos.
Um dos mais difíceis a serem transpostos.
A cultura distinta dos povos bíblicos.
Nos apenas vemos aquilo que estamos
condicionados a ver.
O ideal é nos colocarmos em uma posição
neutra.
Gen. 15:2 - Foram achados
documentos na cidade enterrada de Nuzu (c.
2000 - c.1500 a.C.), que mostraram que o costume daquela época era adotar um
filho quando não se tinham filhos legítimos para herdar a herança. Se, porém, o
primogênito nascesse, o adotado passaria para segundo plano.
Gên. 31:34 - Ídolos do lar (no
hebr. - Terafins), eram pequenos
objetos que serviam como documentos que comprovavam a posse das terras e
propriedades. Raquel roubou a herança de seu pai.
Prov. 22:28 - Marcos das
propriedades das terras. O documento que garantia o terreno, assim como as
escrituras de uma casa de hoje.
Deut. 22:5 - Naquela época, as roupas
dos homens e mulheres eram iguais, a diferença estava apenas nas roupas
íntimas. Muitos naquela época, como hoje, usavam as roupas íntimas do sexo
oposto por perversão.
A maneira oriental de pensar é totalmente
diferente da ocidental.
Silogismo - A análise de argumento
formal baseando-se na proposição de uma premícia maior e de outra menor, as
quais se verdadeiras levam à conclusão de que determinado fato é verdadeiro.
Silogismo é a estrutura do
pensamento grego.
* Premícia
maior: Toda virtude é louvável
* Premícia
menor: Ora, a bondade é virtude.
* Conclusão:
Logo, a bondade é louvável.
No Velho Testamento não existe “silogismo”
No Velho Testamento a lógica baseia-se na
experiência humana e não no raciocínio dedutivo.
O pensamento hebraico
é um pensamento concreto e não abstrato.
O hebreu aceita o
fato quando este fato se traduz em experiência.
Davi - Deus é o meu refúgio e minha fortaleza
Moisés - O Senhor é forte e poderoso
Hagar - Deus é um Deus que ouve
Personagens bíblicos
não estão preocupados com a fisionomia, mas de acordo com a experiência de cada
um.
Um teólogo deve ser
conhecido com um profundo conhecedor da Bíblia. Temos conseguido viver isto em
nossa vida, nossa experiência diária. Este conhecimento de nada
nos aproveitará se não traduzirmos este conhecimento em vida.
É por isso que não
devemos fazer certas perguntas à Bíblia. Exemplo: Como foi a fusão em Cristo
(Humanidade e Divindade)?
3o
- Lingüístico - (Hebraico, aramaico
e grego)
Nas melhores traduções há problemas.
Idiomalismo: expressão
específica de uma língua, de um povo.
Falta de equivalência entre as palavras
traduzidas.
I Pedro 1:20 – Qual é verdadeiro
significado da palavra: (grego = epílucis) = iniciativa, impulso.
Nenhuma profecia da Escritura foi feita
pelos profetas ou de sua conta, mas iluminados por Deus.
Produção da profecia e não interpretação.
Defendemos o ponto de
vista ortodoxa sobre a inspiração.
Inspiração Bíblica: A Bíblia conquanto
tenha mantido os estilos pessoais de expressão e liberdade dos escritores
humanos, é a palavra de Deus em suas fontes originais, toda e totalmente
inspirada por Deus mediante o Espírito Santo, sem nenhuma diferença
qualificativa na inspiração de qualquer de seus livros, cuja autoridade é assim
normativa para a fé e a vida, para a doutrina e proclamação, para pensamento e
investigação.
I Cor. 7:10 - “Digo eu, não o
Senhor”.
Paulo faz uma
distinção entre o que Cristo diz e o que ele (Paulo), diz.
Ensino indireto por
meio do Espírito Santo (Paulo era apóstolo).
Não se trata de
inspiração e sim, de uma posição:
Algo que havia sido
dito por Jesus e algo que apenas Paulo havia falado e não Jesus. Porém, é
inspirado do mesmo modo, pois provém de Deus.
Somente a Bíblia
apresenta uma dupla natureza:
1o
- Sua origem divina.
2o
- Sua dimensão humana.
Por
causa de sua origem divina, a Bíblia é a palavra de Deus (Aqui temos
duas grandes posições em relação ao significado de inspiração bíblica,
uma posição defende que a Bíblia contem a palavra de Deus, enquanto que
outra posição defende que a Bíblia é
a palavra de Deus).
II Pedro. 1:20
Iniciativa, ímpeto, impulso
II Pedro. 1:21
Vontade, desejo, intenção
Os profetas bíblicos não tiveram desejo
nem iniciativa para escrever as Escrituras Sagradas.
Ser levado, ser movido.
Usado na época para dizer o que o vento
fazia com um barco a velas, era levado, conduzido pelo vento.
Do mesmo modo, os profetas eram movidos e
conduzidos pelo Espírito Santo.
II Tim. 3:16
Inspiração de Deus
a) Linguagem humana (Hebraico, Aramaico e
Grego, eram línguas usadas na época, não só pelo povo de Deus, mas também por
povos vizinhos).
b) Características peculiares (os profetas
tinham sua própria personalidade e peculiaridades na forma de escrita, e isso
foi vertido para seus escritos).
a) - Linguagem
A linguagem bíblica é humana.
A linguagem não é mecânica, não é verbal.
Podemos concluir com certeza de que o
profeta é preservado de erro quando se trata de uma doutrina.
II Pedro. 1:21 - Homens falaram.
João 1:1
“E Deus era o verbo” - Diz que só há um
Deus? (Não há Pai e Filho?).
“E o verbo era um Deus” - um – em
grego de fato é um artigo indefinido, porque antes do substantivo Deus não tem
artigo.
“E o verbo era Deus” - o fato de “Deus”
vir antes do verbo torna o artigo indefinido anulado.
Isto é uma regra: Torna-se claramente
definido. Sistema este facilmente comprovado em diversos escritos do grego normal
da época. Isto comprova que os escritores se valiam das regras de gramática da
época para seus escritos em linguagem humana. Daí a importância do conhecimento
da época para entender melhor a Bíblia, caso contrário faremos confusão
doutrinária. Este é um dos trabalhos da hermenêutica.
A Bíblia não nos foi dada numa elevada
linguagem, acima da compreensão humana, pois se assim fosse perderia sua
finalidade que é revelar Deus ao homem.
Tudo quanto é humano é imperfeito. Por
essa razão devemos ter em mente que muitas vezes os escritores escreveram de
forma errada, isto é, cometeram certos erros gramaticais. Mas devemos fazer uma
clara distinção, veja:
- A linguagem da Bíblia é imperfeita
- A mensagem da Bíblia é perfeita.
O Senhor falou aos seres humanos em
linguagem compreensível (a fim de que os seres humanos possam entender). Devia,
portanto, utilizar uma linguagem e idioma da época e não de uma linguagem sobre
humana, incompreensível.
O fato de a linguagem ser imperfeita não
afeta a perfeição moral da mensagem.
A Bíblia foi escrita
por homens inspirados, mas a maneira em que eles escreveram não é a maneira de
pensar e exprimir-se de Deus, notamos isso ao comprovar a variedade de estilos
literários entre Paulo e Pedro, entre Pedro e João, entre Marcos e Mateus, e
assim por diante.
Perfeita como o é,
sem por isso deixar de ser simples, a Bíblia não corresponde às grandes idéias
de Deus. Se Deus pudesse expressar Seu pensamento ao nível de divindade, com
certeza o homem finito não poderia compreender esse pensamento.
Moral
|
Física
|
|
Bíblia
|
Santa (Mensagem)
|
Imperfeita
(Linguagem).
|
b) - Característicos peculiares dos profetas:
Atenagóras dizia que Deus usou os
profetas assim como um músico usa a sua flauta. Isto seria possível se a
inspiração fosse mecânica. Que acredita que até as palavras foram ditadas por
Deus.
Jeremias foi um dos profetas que
mais demonstrou sua personalidade na sua maneira de escrever.
A personalidade do profeta é toda
preservada na sua maneira de escrever.
Não são as palavras da Bíblia que são
inspiradas, mas os homens é que o foram. A inspiração não atua nas palavras do
homem.
O Criador de todas as idéias pode
impressionar mentes diversas com o mesmo pensamento, mas cada um pode exprimi-lo
por diferentes maneiras, e ao mesmo tempo, sem contradições - (Tratando-se
especificamente dos Evangelhos).
O QUE É INSPIRAÇÃO
BÍBLICA?
A Bíblia é a Palavra de Deus inspirada. Mas como se dá essa inspiração? Talvez imaginemos um ditado mecânico como a de um chefe à sua datilógrafa. Esta escreve coisas que não entende e que são entendidas apenas pelo chefe e sua equipe. Isto é o que muitos chamam de inspiração mecânica. Isso não é a inspiração bíblica. Pois, ela não dispensa certa compreensão do autor humano (o hagiógrafo), nem sua participação na redação do texto sagrado.
A inspiração bíblica também não é revelação de verdades que o autor humano não conheça. Existe sim, a Revelação, especialmente nos profetas, e Revelação é algo mais elevado do que inspiração. O estudante de teologia deve manter em mente esta clara distinção, ou seja, a diferença entre inspiração e revelação. Revelação é diferente da inspiração bíblica. A Inspiração se exercia, por exemplo, quando o hagiógrafo descrevia uma batalha ou outros fatos documentados em fontes históricas, sem receber revelação divina.
Inspiração Bíblica é a iluminação da mente do autor humano para que possa, com os dados de sua cultura religiosa e secular, transmitir uma mensagem fiel ao pensamento de Deus. O Espírito Santo fortalece a vontade e as qualidades do autor para que realmente o hagiógrafo escreva o que ele percebeu.
Tais livros são todos
humanos (Deus em nada dispensa a atividade racional do homem) e divinos (Deus
acompanha a redação do homem escritor). A Bíblia é um livro divino-humano.
Transmite o pensamento de Deus em roupagem humana. Assemelha-se um pouco a
Jesus, onde Deus se revestiu de carne humana, pois na Bíblia a Palavra de Deus
se revestiu da palavra do homem (judeu, grego, com todas as suas
particularidades de expressão).
A finalidade da inspiração bíblica é estritamente religiosa. Não foi escrita para nos ensinar ciências naturais, mas aquilo que ultrapassa a razão humana (o sentido do mundo, do homem, da vida, da morte, etc diante de Deus). Portanto, não há contradição entre a Bíblia e as ciências naturais. Mesmo Gênesis 1-3 não pretende ensinar como nem quando o mundo foi feito, mas apenas nos revelar que Deus é a origem de todas as coisas.
A Bíblia só é inspirada quando trata de assuntos religiosos? Há páginas na Bíblia não inspiradas?
Toda a Bíblia, em qualquer de suas partes, é inspirada, qualquer que seja a sua temática. Ocorre, porém, que Deus comunica sua mensagem em linguagem familiar pré-científica, bem entendida no trato quotidiano. Por exemplo, quando falamos em "nascer-do-sol" ou "pôr-do-sol", supomos o sistema geocêntrico (ultrapassado, pois, a verdade é que o sol não se põe e nem nasce), mas não somos taxados de mentirosos, porque não pretendemos definir assuntos de astronomia. Assim, quando a Bíblia diz que a luz foi feita antes do sol e das estrelas, ela não ensina teorias astronômicas, mas alude ao mundo em linguagem dos hebreus antigos para dizer que o mundo todo é criatura de Deus. Portanto, em assuntos não-religiosos, a Bíblia adapta-se ao modo de falar familiar ou pré-científico dos homens que, devidamente entendido, não é portador de erro.
Também o pensamento expresso em palavras, como o pensamento básico das Escrituras é inspirado. Os conceitos dos homens estão sempre ligados às palavras. Quando o Espírito Santo iluminava a mente dos autores sagrados, iluminava também o pensamento expresso nas palavras. É por isto que os próprios autores bíblicos fazem questão de realçar vocábulos da Bíblia: João 10:34-35; Hebreus 8:13; Gálatas 3:16.
Notemos, porém, que somente as palavras das línguas originais (hebraico, aramaico e grego) foram assim iluminadas. As traduções bíblicas não gozam da mesma inspiração. Por isso, ao ler a Bíblia, devemos nos certificar de estarmos usando uma tradução fiel e equivalente aos originais.
"Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça". (2Tm 3:16)
O PROBLEMA SINÓTICO
Até o século XVII, a Bíblia era considerada absolutamente como palavra ditada
por Deus. Partindo do conceito de inspiração bíblica como sendo um ditado,
ninguém duvidava de nada. Esta compreensão havia sido tema de inevitáveis e
incontáveis polêmicas interpretativas.
A
partir de 1776, começou a ser despertada uma crítica do texto bíblico, motivada
pelos problemas levantados pelos filósofos racionalistas. O racionalismo já
estava influenciado pelo iluminismo, defendendo a auto-suficiência do homem e
começou por negar no Evangelho tudo que era transcendental, restando assim
pouca coisa. Esta crítica causou grande constrangimento no meio do
cristianismo.
O
racionalismo queria demonstrar seu ponto de vista através da crítica textual. O
trabalho deles despertou os evangélicos para fazerem o mesmo, mas enfatizando o
outro lado, ou seja, a defesa da fé. E eles concluíram que a mesma
critica literária tinha possibilidades de ajudar a entender melhor o Evangelho.
Contribuíram para isto os progressos das novas ciências da psicologia e da
arqueologia. Então surgiu o método crítico-histórico, que começou a ser usado
no sentido positivo pelos teólogos cristãos.
Foi então, no século XVIII, descoberto o assim chamado problema sinótico. O
estudo crítico demonstrou que no texto dos evangelhos há divergências e
diferenças que evidenciam o trabalho pessoal do escritor, sem deixar de lado a
inspiração divina. Desde então, os exegetas se viram na contingência de
considerar o Evangelho como um livro escrito por homens, que têm suas
qualidades e seus defeitos, e estão sujeitos também à critica. Surge então a
chamada crítica textual.
O
problema sinótico se funda na constatação de que os três primeiros Evangelhos
(Mateus, Marcos e Lucas) têm muitos aspectos em comum; por outro lado,
têm também muitas diferenças. As semelhanças chegam a ser desde palavras a
textos inteiros. As diferenças estão no fato de alguns narrarem certos detalhes
e outros omitirem, além de haver discrepâncias em alguns detalhes.
Colocando em números, o problema sinótico apresenta-se da seguinte forma:
a) Dos 661 versículos do Evangelho de Marcos, 600 estão também no de Mateus, e
350 estão no de Lucas.
b) O evangelho de Mateus e de Lucas, tem 240 versículos em comum, e que não
constam no Evangelho de Marcos.
c) Além disso, tanto Mateus como Lucas tem versículos próprios a cada um.
Como exemplos destas semelhanças, podemos citar uma passagem no qual Marcos
descreve assim: "caindo a tarde, quando o sol descia..."; no
Evangelho de Mateus está apenas a primeira parte; no de Lucas está a segunda.
Há diversas outras passagens assim, como no episódio do marido que morreu sem
deixar descendência.
Descoberto o problema, procurou-se interpretar. Isto se tornou difícil, porque
ao lado de grandes semelhanças, há também contrastes. Como se pode explicar
isto? No caso da infância de Jesus, por exemplo, Marcos não diz nada. Mateus
diz alguma coisa, enquanto Lucas apresenta diversas informações.
Numa concepção tradicional, não haveria esta dificuldade, porque todos
acreditavam que os apóstolos ouviram tudo de Jesus e depois escreveram o que
sabiam e que eles haviam usando por isso até as mesmas palavras. Mas
descobriu-se que os Evangelhos foram escritos bastante tempo depois da morte de
Cristo, em épocas diferentes, baseados em tradições orais. Como pode ter
acontecido que os Evangelistas usaram as mesmas palavras, estando em lugares
diferentes e até em épocas diferentes?
Aí
a crítica histórica entrou em ação e surgiram várias explicações. Ainda no
século XIX, dava-se como resposta que Mateus teria sido o primeiro a ser
escrito. Mas Mateus é um texto muito elaborado e deve ser de época posterior.
Além disso, não foi escrito em aramaico, como se pensava, mas seu original é em grego. Portanto ,
não é aquele do qual Eusébio noticia, que "Mateus escrevera em aramaico e
cada um entendeu e interpretou como pôde".
Posteriormente, explicou-se que haveria uma 'fonte' ou tradição oral bem
antiga, e baseado nesta tradição cada autor escreveu os fatos ao seu modo. Esta
explicação de inicio foi aceita, mas a coincidência de palavras não pode ser
justificada por uma tradição apenas oral. Há necessidade de um instrumento
literário.
Daí surgiu a teoria das "duas fontes", hoje aceita pela maioria,
porque explica tudo. Como dissemos, nos evangelhos sinóticos podemos distinguir
três partes: 1. aquelas que são narradas pelos três; 2. aquelas que são
narradas apenas por dois; e 3. aquelas narradas apenas por um.
Quanto à primeira parte, a crítica mostrou que o primeiro evangelho a ser
escrito foi Marcos, por ser mais rústico e incompleto, em contraposição aos
outros, mais elaborados e mais evoluídos. Foi escrito em Roma, porque ele não
explica certos termos latinos, enquanto os outros explicam. A data aproximada é
entre 60 e 70, mas seguramente antes de 70, pois este foi o ano da destruição
de Jerusalém, e eles ainda confundiam este acontecimento com o fim do mundo. Os
outros já não fazem assim. Por tudo isto se concluiu que Marcos escreveu
primeiro, provavelmente baseado na pregação de Pedro e na tradição oral.
Os outros dois (Mateus e Lucas) copiaram de Marcos, melhorando o texto e
adaptando conforme e ocasião, usando também uma tradição oral. Assim se explica
o fato de coincidência entre os três evangelistas.
A
segunda parte, a princípio foi explicada como se um tivesse copiado do outro,
mas provavelmente eles não se conheceram. Portanto, ambos devem ter se
inspirado em outra fonte, talvez já em grego (não se sabe se oral ou escrita)
que servia de base para um ensino primitivo. Talvez até aquele texto a que se
refere Eusébio, pois é anterior aos Evangelhos escritos. É a chamada
"FONTE Q" (de Quelle, em alemão, fonte). Esta fonte só foi conhecida
de Mateus e Lucas.
A
terceira parte tem explicação mais fácil: cada escritor fez uso de certas
fontes que havia em suas regiões, e que os outros não conheceram. Como eles
moravam longe entre si, então um não conheceu as fontes particulares do outro.
Assim em Mateus, por exemplo, discriminam-se: as partes copiadas de Marcos são
principalmente os fatos extraordinários (milagres...); as copiadas de Q são
acima de tudo os discursos (parábolas...); as copiadas das fontes particulares
são outros pormenores.
Convêm notar que nem Marcos nem a fonte Q eram crônicas, ou seja, relatos dos
acontecimentos, mas escritos elaborados pela Igreja primitiva para uso no
ensino. Cristo morreu em torno do ano 30. O evangelho de Marcos só foi escrito
por volta de 65. Neste meio termo, a tradição foi transmitida oralmente, ou por
meio de pequenos folhetos, uns contendo as parábolas, outros contando os
milagres, outros contando os fatos da infância; outro contando a paixão... Em
outras palavras, havia grande proliferação de escritos esparsos nas várias
Igrejas e nas várias regiões.
O
prólogo de Lucas faz-nos supor 3 estágios na formação do Evangelho: a) há as
testemunhas oculares, que contaram o que presenciaram; b ) há os que tentaram
compilar isso, as pequenas fontes; como diz Lucas "muitos empreenderam...
"; c) a obra do evangelista; como diz Lucas: "Escrevi a exposição
ordenada dos fatos".
Quando dizemos que houve 'cópias' uns dos outros, devemos entender que o
Evangelista não copiou simplesmente o outro, mas compôs baseado em suas
pesquisas, e acrescentou algo de si. Além disso, o Evangelho não é um documento
histórico narrativo da vida de Jesus, mas reproduz a sua mensagem, muito embora
não sua mensagem total, pois tudo que Jesus ensinou não está nos Evangelhos.
Eles escreveram apenas o que interessava àquela Igreja, naquelas
circunstâncias. Assim, por exemplo, no traslado do fato do centurião, retirado
da fonte Q, Mateus escreveu que o centurião veio em pessoa falar; e Lucas diz
que ele mandou os anciãos falarem. E Mateus colocou neste contexto o final que
Lucas só colocou no Cap.13 "muitos virão do oriente e do ocidente
sentar-se com Isaac e Jacó...".
Noutra passagem, Mateus fala em paralisia, porque ele queria salientar apenas
que os judeus não reconheceram o reino de Deus, o que os chocava. Mas Lucas diz
'doente quase à morte', porque o que impressionava aos gregos era o Cristo,
Senhor da vida. Só para mostrar como o contexto é importante, em João no
episódio do centurião, este convida Jesus para ir à casa dele. João não tinha
interesse em mostrar nenhuma faceta da personalidade de Jesus, mas apenas e
como um sinal: o homem chegou desconfiando de Jesus, mas no fim tanto ele como
sua família, todos creram.
Mateus 22,1-14 e Lucas 14,16-24 narram a mesma parábola. Mas Mateus junta duas
parábolas numa só: a dos convidados ao banquete com a da veste nupcial. Mateus,
que seria mais longo, não especificou as funções de cada um. Além disso,
acrescenta o episódio de incendiar a cidade e maltratar os servos. Lucas omite
estes detalhes, mas especifica as ocupações dos convidados. Omite, porém a
veste nupcial. Mateus, escrevendo para judeus, tinha interesse em acentuar a
rejeição deles e o convite aos pagãos; Lucas, escrevendo para gregos, não tinha
esta meta.
Os
textos de Mt 19:1-9; Mc 10:1-10; Lc 16:18 falam no divórcio. Era discutida no
tempo de Jesus uma prescrição que estava contida na lei de Moisés. Os textos em
grego divergem por uma palavra, dando margem a duas interpretações. Um destes
textos gregos apresenta a expressão "mê epí pornéias = não em caso de fornicação",
e no outro diz: "paréctos logoû pornéias = a não ser no caso de
fornicação. É uma questão difícil de resolver, pela dificuldade da tradução de
"porneia". Esta palavra vem do grego "pornê” (meretriz).
"Porneia" deve significar qualquer "atividade sexual" fora
do matrimônio. Além da dificuldade textual há a dificuldade jurídica. Não se
pode dizer que Jesus tenha aconselhado isto, porque assim estaria anulando todo
o NT nem se poderia entender o seu raciocínio na ocasião.
O
problema ainda permanece. Uma das soluções que teve aceitação em certo tempo
foi a de um autor francês, interpretando assim: esta palavra grega 'porneia'
teria sido empregada para traduzir a palavra hebraica 'zenût', que quer dizer
'concubinato', um costume muito difundido entre os judeus. O concubinato
consistia num contrato bilateral entre um casal interessado que vivia como
casados, sem efeito legal. Então o texto se referiria a eles: o divórcio é
proibido, 'a não ser em caso de concubinato', pois não sendo casados
legalmente, não haveria óbice. Os outros autores (fora Mateus) não colocaram
esta ressalva, porque nas situações deles não havia o costume. Esta solução não
foi aceita porque seria um pleonasmo da parte de Jesus repetir um conselho ou
uma ordem.
VALOR DOS EVANGELHOS
Os Evangelhos são livros
históricos? Jesus Cristo viveu realmente? Disse tudo aquilo que foi escrito?
Em primeiro lugar,
dizemos que os Evangelhos, muito mais do que narrativas de fatos históricos,
eles são baseados em fatos históricos, fundamentados no fato histórico da vida
e obra de Jesus Cristo. Não se pode provar fato por fato, ou seja, com todas as
minúcias. Mas não se pode negar o valor histórico geral dos fatos, por exemplo,
que Cristo fez milagres. O modo como os autores escrevem, os costumes, a cultura,
as palavras, a mentalidade, corresponde às das pessoas que viviam naquela
época.
Os
impostos e as leis, as religiões (saduceus, publicanos, fariseus, zelotes...),
as cidades e aldeias da época, a personalidade de Cristo (ás vezes contradizendo
o que era comum na época), a originalidade de Jesus, etc, tudo isso forma um
conjunto de fatos que seriam quase impossíveis de inventar mais tarde,
organizados com tanta coerência e perfeição. Outros fatos que não se concebe
terem sido simplesmente inventados, mesmo por pessoas que acreditassem neles: a
paixão, a morte e a ressurreição. Hoje a cruz é glória e símbolo, mas na época
era a mais humilhante das condenações. A história da paixão seria
contraproducente, vergonhosa para quem queria apregoar aquela doutrina. A
covardia dos Apóstolos ao abandonarem o Mestre... Estas coisas, decididamente
não seriam perpetradas por quem aceitava Cristo. Eles se esforçaram por
justificar estes fatos associando com as profecias do AT, muitas vezes apenas
por acomodação, por coincidência.
Finalmente, podemos dizer: os Evangelhos não são livros históricos no sentido
que se entende esta palavra atualmente, mas seguramente são baseados em
acontecimentos históricos. Alguns autores, além dos evangelistas, falaram de
Jesus. Flávius Josephus, fariseu, historiador contemporâneo de Jesus, conta
detalhes daquele tempo, embora com aspecto tendencioso para a ótica dos
fariseus, mas isto era mesmo de se esperar, isto é, que ele não falasse mais de
Jesus e de outros movimentos messiânicos, é preciso se notar que em vista da
dominação dos romanos, ele foi cauteloso para não assustá-los escrevendo sobre
estes movimentos considerados por eles 'subversivos'. Assim, só trataram
mais sobre Jesus os que se interessavam por ele (os apóstolos, no caso). Também
Tácito, historiador romano, escreveu os "Anais" no tempo de Trajano
(116/117) e fala na execução de Cristo e no surgimento do Cristianismo.
Portanto, mesmo outras pessoas que não eram cristãos dão testemunho da vida,
paixão e morte de Cristo.
Duas posições
evangélicas:
1o
- A Bíblia é totalmente privada de erros.
2o
- A Bíblia é sem erro toda vez que fala sobre salvação e fé, mas pode possuir erros em outros pontos.
“Os liberais,
por sua vez, acreditam que a Bíblia é fruto da mente religiosa dos judeus”.
Contextos polêmicos produzem posições
extremadas.
Argumentos:
1) - A Bíblia é plena
e completamente inspirada.
2) - Inerrante em
todas as matérias que toca.
3) - Verbalmente
inspirada.
4) - Nenhum erro pode
ser afirmado se não puder ser comprovado no texto original.
Pode esta Palavra
(Bíblia), ser livre de qualquer erro no seu catógrafo original? Ela é
completamente digna de confiança em matéria de história e doutrina? Os autores
bíblicos sob a liderança do Espírito Santo foram preservados de cometer erro
factual, histórico, científico e quaisquer outros erros?
Observação. Estes pensamentos e
perguntas refletem a posição dos inerrantistas, sem que entendemos por
inerrância algo que está livre de qualquer erro. Podemos afirmar algumas
verdades básicas: (1) A Bíblia é um livro singular, muito especial, que se
diferencia dos demais livros e compêndios da literatura universal. (2) Não
podemos compreender as Escrituras apenas com nossa inteligência humana, a menos
que contemos com a força, o poder e em especial a iluminação do Espírito Santo
que sonda as profundezas de Deus e esclarece os mistérios da Sua Palavra (João
16:13)
1) - Premissa Maior - Tudo o que Deus faz é perfeito
2) - Premissa Menor - Deus inspirou a Bíblia
3) - Conclusão: - Logo, a Bíblia é perfeita.
Este argumento é a base dos que defendem a
inerrância bíblica.
Analogia: Assim como Jesus
foi divino-humano, e nunca cometeu pecado, também a Bíblia é divino-humana e
não contêm erro.
Os inerrantistas
dizem que negar a inerrância é negar a inspiração e a autoridade da Bíblia.
O Argumento do Dominó: Derrubando a 1a
pedra (inerrância bíblica), todas as outras pedras caem.
A primeira pedra
seria a inerrância bíblica.
A segunda seria a
inspiração.
Derrubando-se estas
duas pedras, todas as outras caem.
Exemplos de
dificuldades na Bíblia: Considere com especial atenção a palavra “dificuldades” empregada neste caso,
pois não estamos usando a palavra “erro”
a) - Mat. 27:37 -
(comparar com Mar. 15:26; Luc. 23:38; João 19:19)
Mateus - Este é Jesus o Rei dos Judeus.
Marcos - O Rei dos Judeus.
Lucas - Este é o Rei dos Judeus.
João - Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus.
Cada evangelista escreveu inspirado por Deus, mas de sua maneira.
Cada um usou o próprio estilo literário.
Ver Mat. 6:9 a 15 com Lucas 11:1 a 4 -
(Oração do Pai Nosso).
Na inspiração,
a personalidade do profeta é preservada, sua linguagem é preservada, sua
maneira de escrever também é preservada.
b) - I Cor. 10:8
com Núm. 25:9
Paulo disse que haviam morrido 23.000
pessoas
Moisés disse que haviam morrido 24.000
pessoas.
c) - Levíticos
11:6
“A lebre, porque rumina, mas não tem unhas fendidas, esta vos será
imunda”.
Obs: A lebre “não rumina”.
Duas classes de
linguagem:
Em muitas passagens a Bíblia emprega como
recurso literário uma linguagem fenomenológica
Em outros casos os escritores da Bíblia
usaram uma Linguagem literal que descreve os fatos como
eles realmente são.
Linguagem fenomenológica - descreve os fatos
como eles parecem ser.
O importante não é se a lebre rumina ou
não, mas o ponto central era se o povo de Israel deveria ou não deve comer a
carne da lebre.
Podemos perceber no
caso de Coríntios com Números que a questão em pauta arredonda os números,
pois, se for fiel ao relato seria impossível ser números exatos, não poderiam
ser 23.001 ou 23.999 e Paulo arredondou para a cifra menor?
d) - Mar. 6:8 com
Luc. 9:3
Marcos - Levem um bordão (bengala)
Lucas - Não levem nada, nem bordão.
O fato de levar ou não o bordão, não muda
o objetivo de Jesus, que era o fato
de eles dependeram inteiramente de Deus. Notamos aqui que há apenas uma
divergência de ótica e não um erro de objetivo, seria diferente se Marcos
falasse de não ir e Lucas de ir para a ação missionária requerida.
e) - Mat. 26:34 c/
Marc. 14:30
“Antes que o galo cante...” = Aqui o autor
está sendo em sua argumentação mais genérico.
“Antes que o galo cante, 3 vezes...” = Em contraste aqui outro autor está sendo
mais específico
Um estava sendo mais preciso que o outro,
mas isto não muda o sentido fundamental
da mensagem que era o fato de que Pedro iria negar a Jesus.
Erro:
Para muitos
opositores da Bíblia, quando a ciência erra é apenas um sinônimo de
imperfeição, inexatidão, porém... Para estes, quando encontram uma informação
científica equivocada na Bíblia então é: sinônimo de engano, fraude.
Os profetas não
estavam preocupados com o aspecto científico, histórico, geográfico, etc,
mas com uma mensagem espiritual.
A finalidade da
Bíblia não é dar informações científicas, históricas ou geográficas, mas uma
informação de vida e salvação.
Na Bíblia:
O Verdadeiro Erro é não estar de
acordo com a vontade de Deus.
A Verdade Bíblica se
expressa unicamente na vontade e Deus.
Os mesmos argumentos
servem para:
História Política - A Bíblia não se preocupa com isto.
História Espiritual - A Bíblia se preocupa com esta
história. Que conhecemos como Plano de Salvação, que é exatamente a relação
correta entre Deus e seu povo e se povo com Deus.
A Bíblia só menciona
fatos políticos quando esta tem que ver com a História Espiritual do povo.
Considere com atenção
a leitura de João 21:25 – Se um leitor levar em consideração de forma literal
este trecho, obviamente acusaria a João de estar dando uma “falsa informação”
Todavia o que temos aqui é que conhecemos em literatura como: Exagero poético -
Os evangelhos não são uma biografia
exata da vida de Jesus.
A explicação para o
texto anterior pode ser encontrada na leitura de: João 20:30, 31 - Só se encontram as
coisas necessárias à nossa salvação.
Nem tudo que Jesus
fez foi escrito.
Os escritos foram
fatos selecionados.
A Bíblia tem um duplo
propósito:
Cristológico: Revelar a pessoa de
Cristo
S. João 5:39 / João 14:6
Soteriológico: Informa ao ser
humano os meios providos por Deus para a salvação do homem.
II Tim. 3:15
“Deus fala através
das Escrituras não com o propósito de tornar-nos eruditos, mas com o propósito
de tornar-nos cristãos”.
Dentro da Bíblia
existem coisas secundárias por natureza. Estas coisas contribuem para entender
o ponto central, mas não essas narrativas são o ponto central.
O conhecimento que
temos acerca de Deus é um conhecimento Parcial.
Consideremos a
questão do conhecimento de Deus com esta visão: Jamais poderemos compreender
Deus, essa compreensão será sempre parcial, e muitas vezes cometemos o erro de
olhar os conceitos desde nossa visão humana, vejamos um exemplo:
Em grego temos duas
palavras para o conceito de tempo: “Kronos” e “Kairos” A primeira, “Kronos”, é
a visão humana sobre o tempo, a segunda é a visão divina, é a forma como Deus
compreende o tempo, por essa razão insistimos em afirmar que nosso tempo não é
o mesmo tempo de Deus, e isto se aplica à oração, pedimos para já, conforme
nosso tempo, e Deus nos responde sim, de acordo com seu tempo, somente quando o
tempo de Deus “Kairos” se cruza com nosso “Kronos” então e só então acontece o
milagre.
A Bíblia não contem
uma revelação total de Deus, mas uma revelação parcial daquilo que é
necessário para a nossa salvação.
Calvino e a Hermenêutica
– Adendo Cultural
Orare e labutare
foram palavras empregadas por Calvino para resumir a sua concepção
hermenêutica. Com estes termos ele expressou a necessidade de súplica pela ação
iluminadora do Espírito Santo e do estudo diligente do texto e do contexto
histórico, como requisitos indispensáveis à interpretação das Escrituras. Com o
mesmo propósito, Lutero empregou uma figura: um barco com dois remos, o remo da
oração e o remo do estudo. Com um só destes remos, navega-se em círculo,
perde-se o rumo, e corre-se o risco de não chegar a lugar algum.
Palavras e figuras
como estas revelam a consciência que os reformadores tinham do caráter
divino-humano das Escrituras e o equilíbrio fundamental que caracteriza a
hermenêutica reformada da Palavra de Deus.
I. Delimitação do Assunto
O termo hermenêutica
tem sido empregado em dois sentidos. Historicamente, nos compêndios clássicos
de interpretação bíblica, designa a disciplina que, partindo de pressupostos
básicos, estuda e sistematiza a teoria da interpretação das Escrituras,
enquanto a exegese designa a prática. Neste sentido, o objetivo da
hermenêutica é descobrir e sistematizar os princípios e métodos apropriados
para a compreensão do sentido que o autor intentou transmitir aos seus leitores
originais.
Mais recentemente,
entretanto, estes termos têm sido usados com sentidos diferentes: exegese,
para designar o estudo das Escrituras com vistas a descobrir o sentido original
pretendido pelo autor, e hermenêutica, no sentido restrito da sua
contemporaneidade. Ou seja, a exegese seria uma primeira tarefa histórica pela
qual se busca compreender o que os leitores originais entenderam; enquanto que
a hermenêutica seria uma tarefa teológica prática e posterior, na qual se busca
compreender a relevância da sua mensagem para nós, hoje, no nosso contexto
específico. (Nota 1)
Neste Estudo estes
termos são usados no sentido histórico mais comum: hermenêutica,
designando a disciplina que estuda e sistematiza os princípios e técnicas, com
as quais, partindo de determinados pressupostos, se busca compreender o sentido
original do texto bíblico; exegese, designando a prática destes
princípios e técnicas; e aplicação, designando a busca da relevância do
texto ao nosso contexto específico. Isto é: tendo compreendido qual a mensagem
do texto para os seus leitores originais, em que sentido esta mensagem é
aplicável aos nossos dias e ao nosso contexto?
Convém esclarecer
também que o termo: “reformada”, não é empregado neste estudo para
designar especificamente a hermenêutica dos reformadores. Não se desejamos
fazer uma descrição específica e detalhada da hermenêutica desenvolvida e
praticada por Lutero, Melanchton, Calvino e outros. O termo também não se
refere à denominação reformada (ramo da reforma como ficou conhecido especialmente
na Europa). O termo hermenêutica reformada, neste trabalho, refere-se a
uma corrente ou escola de interpretação bíblica histórica, distinta de outras
correntes, fundamentada em pressupostos bíblicos quanto à natureza das
Escrituras, e que emprega princípios e métodos específicos. Trata-se de uma
escola ou corrente de interpretação que adota o método histórico-gramatical, em
contraposição aos métodos intuitivos (da corrente espiritualista) e
histórico-crítico (humanista) de interpretação bíblica.
Com a expressão hermenêutica
reformada, quer-se designar neste estudo o modelo de interpretação bíblica
defendida e aplicada pelos reformadores, pelos principais símbolos de fé
protestantes, inclusive batista (Nota 2), pelos puritanos ingleses, pelos
huguenotes franceses, e pelas igrejas evangélicas ortodoxas em geral até os
nossos dias. Esta corrente de interpretação poderia ser chamada de hermenêutica
protestante ou hermenêutica evangélica. Mas, ao que parece, estes
termos já não caracterizam muita coisa — pelo menos no campo da hermenêutica —,
pois englobam, sem qualquer distinção, defensores e praticantes de todas as
correntes de interpretação bíblicas: desde a corrente espiritualista
(intuitiva) até a corrente humanista (histórico-crítica).
II. Importância do Assunto
A importância do
assunto dificilmente pode ser exagerada, pois a hermenêutica é a base teórica
da exegese, que, por sua vez, é o alicerce tanto da teologia (quer bíblica,
quer sistemática) como da pregação. Parece que, atualmente, pelo menos no
Brasil, estas disciplinas têm sido parcialmente relegadas por alguns segmentos
evangélicos a um segundo plano. Exegese, a doutrina e a pregação têm sido
substituídas por coisas ‘‘mais práticas’’ (tais como a ação social, o
engajamento político, a administração eclesiástica, o evangelismo, a liturgia,
as exortações morais, etc.). Quando não se nega a importância da exegese, da
doutrina e da pregação, na teoria, nega-se na prática.
Convém observar,
entretanto, que o apóstolo Paulo exorta Timóteo a cuidar ‘‘de si mesmo e da
doutrina’’, de modo que possa ser ele mesmo salvo bem como os seus ouvintes (1
Tm 4.16). Ele o admoesta a apresentar-se a Deus ‘‘aprovado, como obreiro que
não tem do que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade’’ (2 Tm
2.15). E afirma que devem ‘‘ser considerados merecedores de dobrados honorários
(ou honra) os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se
afadigam na Palavra e no ensino’’ (1 Tm 5.17).
Não se pode esquecer
de que ‘‘aprouve a Deus salvar aos que crêem, pela loucura da pregação’’ (1 Co
1.21); e de que ‘‘a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo’’
(Rm 10.17).
A importância da
doutrina é vista especialmente nas cartas do apóstolo Paulo e no tratamento
que faz da questão da justificação pela fé na carta aos Gálatas. Nem a
Igreja de Corinto, com todos os seus problemas morais, foi tão duramente
tratada pelo apóstolo quanto às igrejas da Galácia, em função do seu desvio
doutrinário.
A verdade de Deus
expressa em sua Palavra
é o instrumento empregado pelo Espírito Santo para salvar e santificar. São
‘‘as sagradas letras que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus ’’, e
fazer com que ‘‘o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para
toda boa obra’’ (2 Tm 3.15, 17).
Richard Baxter, um
dos puritanos mais conhecidos do século XVII, foi o instrumento nas mãos de
Deus em um re-avivamento na sua cidade. Autor de dezenas de obras, a maioria de
cunho prático, usou uma figura para expressar a relação entre a verdade da Palavra
e a santidade. Eis suas palavras:
“... As verdades de
Deus são os próprios instrumentos da santificação de vocês; essa santificação é
o resultado produzido por essas verdades sobre o entendimento e a vontade de
vocês. As verdades são o selo e a alma de vocês é a cera; a santidade é a
impressão feita. Se vocês receberem apenas algumas verdades, terão apenas uma
impressão parcial... Se vocês as receberem de modo desordenado, a imagem que
produzirão nas almas de vocês será igualmente desordenada; como se os membros
dos corpos de vocês fossem unidos de modo monstruoso”. (Nota 3)
Aí está a importância
da hermenêutica: ela é a base teórica da exegese, que por sua vez é o
fundamento da teologia e da pregação, das quais depende a saúde espiritual da
igreja, e da nossa própria vida. Uma hermenêutica deformada fatalmente
resultará em exegese deformada, produzirá teologia e pregação deformadas, e se
manifestará tragicamente em igrejas e vidas deformadas.
III. Necessidade da Hermenêutica
Todo leitor é um
intérprete. Mas ler não implica necessariamente em entender. Quando
não há barreiras na compreensão de um texto, a interpretação é automática e
inconsciente. Mas isso nem sempre ocorre. De conformidade com a doutrina
reformada da clareza ou perspicuidade das Escrituras, a Bíblia é
substancialmente, mas não completamente clara. As verdades básicas necessárias
à salvação, serviço e vida cristã são evidentes em um ou outro texto, mas nem
todos os textos das Escrituras são igualmente claros.
Por ser um livro
divino-humano, inspirado por Deus, mas escrito por homens, admite-se que há
dificuldades de ordem espiritual e de ordem humana para a compreensão das
Escrituras. O apóstolo Pedro reconheceu essa dificuldade com relação aos
escritos do apóstolo Paulo, dizendo que neles ‘‘há certas coisas difíceis de
entender...’’ (2 Pe 3.16).
Isto significa que a
compreensão das Escrituras não é necessariamente automática e espontânea. É,
sim, o resultado da ação iluminadora do Espírito Santo, por um lado, e por
outro, do estudo diligente da língua e do contexto histórico em que foi
escrita.
A. Dificuldades de
Ordem Espiritual
O aspecto espiritual
envolvido na interpretação das Escrituras é demonstrado claramente em passagens
bíblicas tais como 1 Coríntios 2.14 e 2 Coríntios 4.3-6:
Ora, o homem natural
não aceita as coisas do Espírito de Deus, por que lhe são loucura; e não pode
entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
...se o nosso
evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos
quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes
não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de
Deus... Porque Deus que disse: De trevas resplandecerá luz, ele mesmo
resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de
Deus na face de Cristo.
Nestes textos o
apóstolo Paulo ensina claramente a absoluta incapacidade do homem natural (não
regenerado) de compreender a revelação de Deus. A razão desta incapacidade é a
cegueira espiritual em que se encontra como resultado da queda do homem do seu
estado original, e da ação diabólica. E a cura desta cegueira não é
intelectual, mas espiritual. Só o Espírito Santo pode fazer resplandecer a luz
do Evangelho da glória de Cristo num coração em trevas.
Outro texto que
demonstra o caráter espiritual envolvido na interpretação das Escrituras é 2
Coríntios 3.14-15. Neste texto o apóstolo Paulo explica que os judeus tinham
como que um véu embotando os seus olhos espirituais, de modo que não podiam
compreender o significado do que liam, por causa da incredulidade:
Mas os sentidos deles
se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga
aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que em Cristo é
removido. Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração
deles.
Como este véu pode
ser retirado? Pela conversão, responde o apóstolo no verso seguinte: ‘‘Quando,
porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu é retirado’’ Na carta aos
Efésios, o apóstolo Paulo ensina a mesma coisa com relação aos gentios:
“...Não mais andeis
como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos
de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que
vivem, pela dureza dos seus corações” (Ef 4.17-18).
A ação iluminadora do
Espírito Santo é, portanto, indispensável na interpretação e apreensão do
ensino das Escrituras. A erudição piedosa é preciosa e indispensável para a
preservação da sã doutrina. Um erudito, por mais bem equipado que esteja
hermeneuticamente, desprovido, porém, da ação regeneradora e iluminadora do
Espírito, possivelmente não alcançará o sentido da Escritura tanto quanto
um crente simples e fiel, mesmo que indouto em métodos e técnicas de
interpretação.
Mesmo o crente
precisa da ação iluminadora contínua do Espírito Santo para progredir na
compreensão das Escrituras. Seu coração não está embotado como o dos judeus
descrentes; nem seu entendimento está obscurecido, como o dos gentios
incrédulos. Mas ainda há muito a compreender; e a ação iluminadora do Espírito
Santo permanece indispensável. Com esse propósito o apóstolo Paulo orava
insistentemente pelos crentes, a fim de que Deus lhes iluminasse mais e mais,
para compreenderem mais profundamente a natureza do evangelho e a suprema
riqueza da sua graça. Eis um exemplo apenas na carta aos Efésios:
“... Não cesso de dar
graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de
nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e
de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração,
para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da
sua herança nos santos, e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que
cremos...” (Ef 1.16-19).
Textos como este
revelam o papel do Espírito Santo e da fé na compreensão das verdades
espirituais. A interpretação e a compreensão das Escrituras torna-se
essencialmente uma tarefa espiritual — embora não rejeitando habilidades
naturais ou técnicas.
B. Dificuldades
Naturais
Deve-se observar,
entretanto, que as Escrituras também revelam, por ensino direto e por inúmeros
exemplos, que o coração do homem é mais enganoso do que todas as coisas e
desesperadamente corrupto (Jr 17.9), não sendo, portanto, totalmente confiável.
Além disso, não existe somente o Espírito da verdade; há também o espírito do
erro (1 Jo 4.6). O pai da mentira está sempre pronto a enganar, se possível
for, até os eleitos. Logo, o caráter espiritual envolvido na interpretação das
Escrituras não elimina, de modo algum, o lado humano, também necessário para a
sua correta interpretação e compreensão. Afinal, é pela própria Palavra, e
através da Palavra, que o Espírito Santo realiza essa obra iluminadora.
Por haver sido
escrita em línguas humanas, em contextos históricos, sociais, políticos e
religiosos específicos, um conhecimento adequado da língua e do contexto
histórico também é necessário para uma melhor interpretação e compreensão das
Escrituras. Deve-se lembrar também que o ministro da Palavra é aquele que se
afadiga no estudo dela (1 Tm 5.17). Logo, para uma interpretação e compreensão
adequada das Escrituras, fazem-se necessários requisitos de natureza
espiritual, bem como requisitos de natureza intelectual. Ambos são necessários
e imprescindíveis.
IV. Principais Correntes de Interpretação
As classificações
normalmente pecam pelo simplismo. É de fato difícil resumir e agrupar
adequadamente as diversas ênfases, tendências, princípios e práticas de uma
determinada área de estudos, sem negligenciar peculiaridades importantes. Com a
hermenêutica não é diferente. Contudo, observando as diferentes ênfases,
tendências, princípios e práticas de interpretação das Escrituras adotados no
curso da história da Igreja, pode-se perceber pelo menos três correntes gerais
nas quais as diversas escolas podem ser de certo modo agrupadas:
A. Corrente
Espiritualista
Muitos grupos na
história da interpretação bíblica se caracterizaram por superenfatizar o
caráter espiritual (místico) das Escrituras, em detrimento do seu caráter
humano. Esta corrente distingue-se especialmente pela insatisfação generalizada
com o sentido natural, literal das Escrituras. Dois dos textos mais explorados
são 2 Coríntios 3.6: ‘‘...a letra mata, mas o Espírito vivifica’’ e 1 Coríntios
2.7: ‘‘...falamos a sabedoria de Deus em mistério’’. O maior perigo dessa
corrente de interpretação é o subjetivismo e o misticismo. Nenhuma das duas
passagens mencionadas prescreve a supremacia de sentidos
"espirituais" e ocultos da Escritura sobre sentidos naturais e
óbvios. 2 Coríntios 3.6 faz um contraste entre os dois ministérios ou alianças
exercidos por Moisés e por Cristo; 1 Coríntios 2.7 trata do mistério de Deus,
que é Cristo, mistério agora revelado. Nada há nestas passagens que exaltem sentidos
ocultos da Escritura, disponíveis apenas aos "espirituais" ou
avançados. Alguns sistemas hermenêuticos pertencentes à corrente espiritualista
são descritos abaixo.
Trata-se de um dos
métodos de interpretação mais antigos. Fortemente influenciados pelo platonismo
e pelo alegorismo judaico, os defensores desse método de interpretação
atribuíam diversos sentidos ao texto das Escrituras, enfatizando o sentido
chamado de alegórico.
Clemente de
Alexandria (†215) e Orígenes (†254) são os dois principais nomes da escola
alegórica de Alexandria, no Egito. Clemente identificava cinco sentidos para um
dado texto das Escrituras: 1) histórico, 2) doutrinário, 3) profético, 4)
filosófico e 5) místico. Orígenes distinguia três níveis de sentidos: 1) o
literal, ao nível do corpo, 2) o moral, ao nível da alma, e 3) o alegórico, ao
nível do espírito.
A hermenêutica
alegórica prevaleceu durante toda a Idade Média, especialmente em sua forma
quádrupla. Sua origem é provavelmente o sistema hermenêutico de Agostinho.
Segundo este método, as passagens das Escrituras teriam quatro sentidos: um
sentido literal, e três sentidos espirituais: moral, alegórico e anagógico. O sentido
literal seria o registro do que aconteceu (o fato); o sentido moral
conteria uma exortação quanto à conduta (o que fazer); o sentido alegórico
ensinaria uma doutrina a ser crida (o que crer); e o sentido anagógico
apontaria para uma promessa a ser cumprida (o que esperar). Assim, uma
referência bíblica sobre a água, teria um sentido literal (a água), um sentido
moral (exortação a uma vida pura), um sentido alegórico (o
sacramento do batismo), e um sentido anagógico (a água da vida na Nova
Jerusalém). (Nota 4)
Este método pode
fornecer esplêndidas interpretações, mas rouba o real significado do texto,
desviando a atenção do leitor do seu verdadeiro sentido, que o Espírito Santo
intentou transmitir.
O caráter deste
método de interpretação fica manifesto na conhecida interpretação alegórica de
Orígenes (Nota 5) da parábola do bom samaritano (Lc 10.30-37). Segundo
ele, o homem atacado pelos ladrões simbolizava Adão (a humanidade); Jerusalém,
os céus; Jericó, o mundo; os ladrões, o diabo e suas hostes; o sacerdote, a
lei; o levita, os profetas; o bom samaritano, Cristo: o animal sobre o qual foi
colocado o homem ferido, o corpo de Cristo (que suporta o Adão caído); a
estalagem, a igreja; as duas moedas, o Pai e o Filho; e a promessa do bom
samaritano de voltar, a segunda vinda de Cristo. (Nota 6)
Outro exemplo do
caráter desse método de interpretação pode ser percebido nas diferentes
interpretações alegóricas atribuídas às duas moedas mencionadas nessa parábola:
o Pai e o Filho, o Antigo e o Novo Testamento, os dois mandamentos do amor (a
Deus e ao próximo), fé e obras, virtude e conhecimento, o corpo e o sangue de
Cristo, etc.
Muitos são consciente
ou inconscientemente adeptos desta corrente de interpretação bíblica. Também
chamados de impressionistas, (Nota 7) os hermeneutas intuitivos
caracterizam-se por identificar a mensagem do texto com os pensamentos que lhes
vêm à mente ao lê-lo, sem contudo dar a devida atenção à gramática, ao contexto
e às circunstâncias históricas, geográficas, culturais, religiosas, etc. Um
passo adiante estão os místicos, que aqui e ali aparecem na história da igreja,
com a sua ênfase na iluminação interior. Uma versão moderna do método de
interpretação intuitiva pode ser verificada na prática de abrir as Escrituras
ao acaso para pregar ou encontrar uma mensagem para uma ocasião específica, sem
o devido estudo do texto e do seu contexto histórico.
Há uma escola
contemporânea de interpretação das Escrituras que enfatiza excessivamente o
conhecimento subjetivo em detrimento do seu sentido gramatical e histórico.
Trata-se da assim chamada nova hermenêutica, que nada mais é do que um
desenvolvimento dos princípios hermenêuticos de Bultmann, com sua ênfase na
relevância da mensagem do Novo Testamento para o homem contemporâneo.
Para Bultmann e para a
nova hermenêutica — reconhecidamente influenciados pela filosofia
existencialista de Martin Heidegger (Nota 8) — o importante não é a
intenção do autor, nem o que o texto falou aos seus leitores originais, mas o
que fala a nós, hoje, no nosso contexto: esse é o sentido do texto. Para a
hermenêutica existencialista o importante mesmo não é o texto, mas o que está
por trás dele. Não interessa tanto o que o texto diz (historicamente), mas o
que ele quer dizer (existencialmente). Logo, as Escrituras só serão
interpretadas realmente se lidas existencialmente, se forem experimentadas. Ou
seja, as Escrituras não são objetivamente a Palavra de Deus, elas se tornam
Palavra de Deus, quando nos falam subjetivamente.
Talvez as principais
críticas à hermenêutica existencialista sejam que ela rejeita o elemento
sobrenatural das Escrituras (milagres, encarnação, ressurreição, etc.) como
sendo mitos, e que torna subjetivo o conceito de Palavra de Deus, com sua
ênfase existencialista. Com isso, ela esvazia a mensagem bíblica e, assim como
o método alegórico e o método intuitivo, abre espaço para se ler no texto
quaisquer idéias ou conceitos originados na mente do leitor. (Nota 9)
B. Corrente Humanista
No extremo oposto da
corrente espiritualista encontra-se a corrente que se pode chamar de humanista.
Esta corrente caracteriza-se por dar ênfase excessiva ao caráter humano das
Escrituras e por uma aversão ao seu caráter sobrenatural. A ênfase dessa
corrente está no método, na técnica, nos aspectos literários ou históricos das
Escrituras, em detrimento do seu caráter divino, espiritual e sobrenatural.
Calvino e a
Hermenêutica – Adendo Cultural Parte II
1. Precursores de
Interpretação Bíblica
Os saduceus, com o
seu repúdio à doutrina da ressurreição e descrença na existência de seres
angelicais, podem ser considerados como precursores dessa corrente de
interpretação das Escrituras. Pouco se sabe sobre a origem desse partido
judaico, mas parece haver adotado uma posição secular-pragmática de
interpretação das Escrituras. (Nota 10) Ao negarem verdades básicas das
Escrituras, os saduceus podem ser considerados, guardadas as devidas
proporções, como os modernistas ou liberais da época. (Nota 11)
2. Humanismo
Renascentista
Os humanistas
renascentistas, com seu interesse meramente literário e acadêmico nas
Escrituras, e com sua ênfase na moral, também podem ser incluídos nesta
corrente de interpretação bíblica. Alguns se dedicaram ao estudo das
Escrituras, outros chegaram até a editar textos bíblicos na língua original.
Mas o interesse deles era meramente acadêmico, lingüístico, literário e
histórico. Estavam interessados nas Escrituras por sua antigüidade e não por
ser a Palavra de Deus.
3. Escola Crítica
A escola mais
característica e influente desta corrente de interpretação bíblica é a escola
crítica, com o seu método histórico-crítico. Uma das razões para o surgimento
do método histórico-crítico parece ter sido ‘‘a pretensão de tornar científicos
os estudos bíblicos, ou seja, faze-los compatíveis com o modelo científico e
acadêmico da época’’ (Nota 12) E o resultado desta nova postura para com
as Escrituras (crítica, ao invés de gramatical) foi o liberalismo teológico que
tem sido a postura de muitos teólogos desde o século passado.
Trata-se sem dúvida
de uma hermenêutica racionalista. Ao invés da revelação governar a razão, a
razão é que determina a revelação. A razão e o intelecto passaram a ser
determinantes, sendo rejeitado como erro, fábula ou mito tudo o que não puder
ser explicado ou harmonizado com a razão.
Os adeptos desta
corrente rejeitam as doutrinas reformadas das Escrituras, tais como inspiração,
autoridade, inerrância, e preservação; enfatizam a moralidade e descartam o
sobrenatural. Sob forte influência do evolucionismo de Darwin e da dialética de
Hegel, as Escrituras deixaram de ser vistas como a Palavra de Deus inspirada na
qual ele se revela ao homem, passando a ser considerada ‘‘como um registro do
desenvolvimento evolucionista da consciência religiosa de Israel (e mais tarde
da Igreja)’’. (Nota 13). O conceito liberal de inspiração das Escrituras
só é objetivo no sentido de as Escrituras serem o objeto da inspiração. No
mais, é subjetivo: elas são o sujeito: elas é que inspiram, com o ‘‘seu poder
de inspirar experiências religiosas’’. (Nota 14)
Na prática, portanto,
a principal característica da escola crítica de interpretação é o pressuposto
de que as Escrituras devem ser estudadas do mesmo modo que as demais
literaturas antigas, pelo emprego das mesmas metodologias. Esta postura,
crítica, com sua ênfase apenas no caráter humano das Escrituras, resultou em
uma série de metodologias críticas de caráter histórico ou lingüístico que vêm
sendo empregadas na interpretação das Escrituras.
A crítica ou
história da tradição é uma dessas metodologias, cuja pretensão é ‘‘descobrir
a história percorrida por determinado trecho, no âmbito da tradição oral, ou
seja, na fase anterior à sua fixação literária mais antiga’’. (Nota 15).
Isto é: estudar como os eventos históricos e ensinos originais de Jesus teriam
dado origem às diversas formas de tradições orais até o seu registro escrito.
Seu propósito é ‘‘destradicionalizar’’ (semelhante à desmitologização de
Bultmann) os Evangelhos, em busca do ‘‘fato’’ ou ensino ‘‘original’’. (Nota
16)
A crítica da forma
é outra metodologia crítica. Sua pretensão é classificar os escritos do Novo
Testamento em gêneros literários e identificar as tradições que teriam dado
origem às fontes empregadas pelos autores do Novo Testamento. Segundo os
teóricos da crítica da forma, (nota 17), os evangelhos provém de
tradições orais não cronológicas existentes (chamadas de paradigmas, novelas,
lendas, mitos e exortações). Posteriormente essas tradições orais teriam sido
organizadas em relatos cronológicos escritos que foram empregados pelos
evangelistas. Mas a teoria é extremamente especulativa, visto que não explica
como esses gêneros teriam surgido e se desenvolvido. Além disso, não existe
registro histórico dessas supostas coleções não cronológicas.(Nota 18).
Outra metodologia
desenvolvida pela escola crítica de interpretação é a crítica das fontes.
De acordo com esta teoria há muito pouco nos evangelhos (especialmente nos
sinópticos) originário dos evangelistas. Eles teriam sido mais coletores e
editores dos diversos relatos (tradições escritas) existentes sobre a vida de
Jesus do que propriamente autores. A teoria se baseia nas palavras de Lucas no
início do seu evangelho (cf. Lc 1.1, 3), e na observação de que os evangelhos
de Mateus e Lucas normalmente concordam literalmente com o evangelho de Marcos (ambos
ou cada um isoladamente), enquanto que raramente concordam entre si, quando
discordam de Marcos. A conclusão mais comum a que se chegou é que Mateus e
Lucas foram copiados de Marcos (quando concordam com ele) e de outra suposta
fonte chamada "Q", quando concordam entre si, mas discordam de
Marcos.
Não há, contudo,
concordância entre os críticos da forma. As evidências internas (baseadas em
supostas inconsistências cronológicas, estilísticas, teológicas e históricas) a
favor dessa teoria são bastante limitadas, subjetivas, ambíguas e
contraditórias com as evidências externas (afirmativas dos pais da igreja que
apontam de modo unânime em direção oposta). (Nota 19). Muitas outras
possibilidades tornam qualquer conclusão extremamente incerta. Marcos poderia
ter usado Mateus e Lucas; os três evangelistas podem ter usado as mesmas
fontes; Jesus pode ter repetido ensinos e parábolas com palavras diferentes em
ocasiões diferentes, etc. A verdade é que não se sabe com exatidão como os
evangelistas escreveram seus evangelhos.
Parece evidente que
pelo menos um, Lucas, lançou mão de algumas fontes, mas conforme ele mesmo
afirma, ele e suas fontes basearam-se no que lhes transmitiram ‘‘testemunhas
oculares’’ dos acontecimentos (Lc 1.2). Entretanto, não há meios de saber
concretamente que fontes foram estas e até que ponto e como as usaram. Isso
torna a crítica da forma necessariamente especulativa. De concreto, mesmo,
têm-se os Evangelhos, como Palavra de Deus escrita por homens inspirados
(movidos) pelo Espírito Santo, fundamentados no que testemunharam e no
testemunho de outras testemunhas oculares, e, portanto, fidedignas.
Além dessas
metodologias, há também a crítica da redação, que se propõe a estudar
como os evangelistas teriam usado (editado) as suas supostas fontes na
composição dos evangelhos; isto é, que mudanças peculiares (ou contribuições)
teriam sido introduzidas pelos evangelistas às fontes que usaram, e com que
propósito (especialmente teológico). (Nota 20) Mas, a que conclusões
seguras se podem chegar com a crítica da redação, se nem mesmo há certeza
alguma com relação ao uso das fontes?
Por fim, pode ser
mencionado o criticismo histórico. Sua pretensão é avaliar a
historicidade das narrativas bíblicas, ou, como escreve Marshall, ‘‘...testar a
precisão do que se propõe ser uma narrativa histórica.’’ (Nota 21) Mas
este propósito não é somente pretensioso (inconsistente do ponto de vista
bíblico); é também tendencioso, na medida em que explora as aparentes
contradições internas (especialmente entre as passagens paralelas dos
evangelhos) e externas (com fontes seculares e históricas); e encara os relatos
de ocorrências sobrenaturais por uma perspectiva altamente especulativa. Assim,
o criticismo histórico não vê os textos paralelos como complementares, mas como
contraditórios; atribui às fontes seculares autoridade superior à das
Escrituras; rejeita as intervenções sobrenaturais; e considera muitas
narrativas históricas como invenção da igreja, novelas ou mitos.
Os resultados de
todas estas metodologias críticas são inseguros, questionáveis e dúbios, e sua
aplicação prática extremamente limitada (se possível). São hipóteses
construídas sobre especulações infrutíferas que não contribuem em praticamente
nada para a compreensão do texto do Novo Testamento, a não ser para lançar
dúvidas sobre a sua inspiração, autoridade e inerrância. (Nota 22).
Não obstante, parece
que a corrente humanista de interpretação das Escrituras tem começado a
prevalecer em um número considerável de seminários teológicos no nosso país. A
ênfase hermenêutica destes seminários está no método, na técnica, nos aspectos
literários ou históricos das Escrituras, em detrimento do seu caráter divino,
espiritual e sobrenatural. A metodologia predominante tem sido o método
histórico-crítico. E, em virtude da impossibilidade de conciliar este método
com as doutrinas bíblicas da inspiração, autoridade, suficiência, inerrância e
preservação das Escrituras, muitos destes seminários têm se afastado cada vez
mais da verdadeira fides reformata (fé reformada).
Como os resultados
das metodologias críticas empregadas pelo método histórico-crítico são quase
sempre infrutíferos, e sua aplicação prática extremamente limitada, não é
incomum que o produto final de muitos dos nossos seminários seja formandos
despreparados para o ofício de ministros da Palavra. Nesta condição, não é de
estranhar que, como observou Lopes, ‘‘...os púlpitos de bom número das igrejas
evangélicas destilam uma espécie de sermão onde pouca ou nenhuma atenção se dá
ao sentido original do texto bíblico’’. (Nota 23). Destilam também,
acrescento, teologias imprecisas e inconsistentes, que pouco edificam os
membros de suas congregações.
C. Corrente Reformada
A corrente reformada
de interpretação das Escrituras (objeto específico deste estudo) posiciona-se
entre as duas correntes extremas já consideradas. Ela (a corrente reformada)
caracteriza-se pelo equilíbrio resultante do reconhecimento do caráter
divino-humano das Escrituras. Em função disso, os intérpretes desta corrente
reconhecem a necessidade da iluminação do Espírito falando através da própria
Palavra, ao mesmo tempo em que admitem a necessidade de interpretação
gramatical e histórica das Escrituras. A interpretação reformada rejeita, por
um lado, a alegorização indevida das Escrituras e, por outro, repudia uma
postura primariamente crítica com relação a elas.
1. Método
Gramático-Histórico
O método de
interpretação adotado e praticado pela corrente reformada ou protestante
conservadora é conhecido pelo nome de método gramático-histórico; o método de
interpretação honrado pelo tempo, no dizer de M. Lloyd-Jones. Trata-se de um
método fundamentado em pressuposições bíblicas quanto à própria natureza das
Escrituras, que emprega princípios gerais e métodos lingüísticos e históricos
coerentes com o caráter divino-humano da Palavra de Deus.
2. Precursores:
Escola de Antioquia e Agostinho
Os reformadores não
criaram este método de interpretação bíblica do nada. Eles se fundamentaram no
próprio ensino bíblico sobre a sua natureza e na prática apostólica. As origens
da interpretação reformada também são encontradas na escola de Antioquia da
Síria, que pode ser considerada precursora do método gramático-histórico. Seus
principais representantes foram Teodoro de Mopsuéstia (†428) e João Crisóstomo
(†407), o ‘‘Boca de Ouro’’. Eles rejeitaram tanto o literalismo judeu, como o
alegorismo de Alexandria; defendiam uma interpretação literal e histórica das
Escrituras; criam na realidade histórica dos eventos descritos no Antigo
Testamento; defendiam a unidade das Escrituras e admitiam o desenvolvimento ou
progressividade da revelação. (Nota 24).
Agostinho também pode
ser considerado precursor do método gramático-histórico de interpretação
bíblica. Ele não parece haver sido consistente na aplicação do seu método. De
fato, sua distinção de quatro sentidos das Escrituras foi tão influente que
prevaleceu por toda a Idade Média, como já foi visto. Apesar disso, ele
estabeleceu importantes princípios de interpretação bíblica no seu manual de
hermenêutica e pregação, De Doctrina Chistiana. Eis alguns desses
princípios: (Nota 25)
2. Deve-se considerar
o sentido literal e histórico do texto.
3. O Antigo
Testamento é um documento cristológico.
4. O propósito do
expositor é descobrir o sentido do texto e não atribuir-lhe sentido.
5. O credo ortodoxo
deve controlar a interpretação das Escrituras.
6. O texto não deve
ser estudado isoladamente, mas no seu contexto bíblico geral.
7. Se o texto for
obscuro, não pode se tornar matéria de fé. As passagens obscuras devem dar
lugar às passagens claras.
8. O Espírito Santo
não dispensa o aprendizado das línguas originais, geografia, história, ciências
naturais, filosofia, etc.
9. As Escrituras não
devem ser interpretadas de modo a se contradizerem. Para isso, deve-se
considerar a progressividade da revelação.
3. Princípios
Reformados
Tem sido reconhecido
que a reforma teológica e eclesiástica do século XVI foi o resultado de outra
reforma: uma reforma hermenêutico-exegética. (Nota 26). De fato, a
redescoberta das doutrinas bíblicas pelos reformadores e a reforma eclesiástica
decorrente foram precedidas por um evidente rompimento com os princípios
hermenêuticos e com a prática exegética medieval.
a. A Única Regra
Infalível de Interpretação
A Reforma Protestante
rejeitou veementemente a hermenêutica alegórica medieval, e registrou seu
repúdio em alguns dos seus principais símbolos de fé. Eis um exemplo: o
parágrafo IX do capítulo I da Confissão de Fé de Westminster (idêntico
ao mesmo parágrafo da Confissão de Fé Batista de 1689):
A regra infalível de
interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão
sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que
não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por
outros textos que falem mais claramente.
Este parágrafo
estabelece o princípio reformado fundamental de interpretação bíblica, segundo
o qual a única regra infalível de interpretação das Escrituras é a própria
Escritura. Ela se auto-interpreta, elucidando, assim, suas passagens mais
difíceis. O que estas confissões querem dizer com essa afirmativa é que o
sentido de uma passagem obscura não pode ser autoritativamente determinado nem
por tradição, nem por decisão eclesiástica, nem por argumento filosófico, nem
por intuição espiritual, mas sim, unicamente, por outras partes das Escrituras
que expliquem e esclareçam o seu sentido.
b. Repúdio à
Interpretação Alegórica Medieval
O parágrafo acima,
citado da Confissão de Fé, também representa o repúdio dos reformadores ao
método de interpretação quádrupla medieval. Em lugar dele, os reformadores
ensinavam que cada passagem das Escrituras tem um só sentido, que é literal — a
não ser que o próprio contexto ou outro texto das Escrituras requeiram
claramente uma interpretação figurada ou metafórica.
John Colet (c.
1467-1519) foi um dos primeiros reformadores a romper com o método alegórico
medieval, ao expor em 1496, em Oxford, as cartas do apóstolo Paulo em seu
sentido literal e no seu contexto histórico. (Nota 27). Três anos depois,
em 1499, ele já sustentava o princípio de que as Escrituras não podem ter senão
um único significado: o mais simples. (Nota 28)
Lutero também
rejeitou a interpretação alegórica. Defendeu que ‘‘nós devemos nos ater ao
sentido simples, puro e natural das palavras, como requerido pela gramática e
pelo uso do idioma criado por Deus entre os homens.’’ (Nota 29)
Quanto a Calvino, sua
aversão à interpretação alegórica era de tal ordem que ele chegou a afirmar ser
satânica, por desviar o homem da verdade das Escrituras. ‘‘É uma audácia
próxima do sacrilégio’’, escreveu ele, ‘‘usar as Escrituras ao nosso bel-prazer
e brincar com elas como com uma bola de tênis, como muitos antes de nós o
fizeram.’’ (Nota 30).
c. Necessidade de
Iluminação Espiritual
Os reformadores
reconheceram a natureza divino-humana das Escrituras, e enfatizaram o papel do
Espírito Santo no processo de interpretação da sua mensagem. Para eles, o
impedimento maior estava na cegueira espiritual do homem, em função da queda, e
não nas Escrituras. Tanto para Lutero, como para Calvino, (Nota 31) nenhuma
pessoa poderia interpretar corretamente as Escrituras sem a ação iluminadora do
Espírito Santo através da própria Palavra. Eis as palavras de Lutero sobre o
assunto:
...a verdade é que
ninguém que não possui o Espírito de Deus vê um til sequer do que está na
Escritura. Todos os homens têm seus corações obscurecidos, de modo que, mesmo
quando discutem e citam tudo o que está na Escritura, não compreendem ou
conhecem realmente qualquer assunto dela... O Espírito é necessário para a
compreensão de toda a Escritura e cada uma de suas partes. (Nota 32)
d. Interpretação
Gramatical e Histórica
Por outro lado,
reconhecendo a natureza histórica das Escrituras, os reformadores defendiam a
sua interpretação literal, enfatizando também a importância da gramática e da
história na compreensão da sua mensagem.
Melanchton foi um dos
responsáveis pela ênfase reformada na exegese gramatical. Em um discurso
proferido em 1518 em Wittenberg, ele exortou seus ouvintes a recorrerem às
Escrituras nas línguas originais, onde encontrariam Cristo, livre das
discordâncias dos teólogos latinos. Lutero ficou tão impressionado com o que
ouviu, que passou a assistir às aulas de grego de Melanchton, dedicando-se com
afinco ao estudo do grego. (Nota 33)
Mas foi Calvino, sem
dúvida, quem melhor praticou a exegese gramatical e histórica. Ele tem sido
considerado por muitos o maior intérprete da Reforma e um dos maiores de todas
as épocas. A profundidade, lucidez e erudição dos seus comentários, que
abrangem praticamente todos os livros da Bíblia, (Nota 34) continuam a
ser admirados e considerados atuais e raramente igualados. (Nota 35) E
não se pense que essa é a opinião apenas dos calvinistas (um compreensível
exagero presbiteriano deste autor). Mesmo Jacobus Arminius (1560-1609), um dos
mais conhecidos opositores das doutrinas de Calvino, reconhecia a excelência
dos comentários dele, e chegou a recomendá-los como incomparáveis. Eis suas
palavras:
Depois da leitura das
Escrituras..., e mais do que qualquer outra coisa,... eu recomendo a leitura
dos Comentários de Calvino... Pois afirmo que na interpretação das
Escrituras Calvino é incomparável, e que seus Comentários são mais
valiosos do que qualquer coisa que nos tenha sido legada nos escritos dos pais
— tanto assim que atribuo a ele um certo espírito de profecia no qual ele se
encontra em uma posição distinta acima de outros, acima da maioria, na verdade,
acima de todos. (Nota 36)
e. Desenvolvimento do
Método Gramático Histórico
Estes e outros
princípios de interpretação praticados pelos reformadores (Lutero, Calvino e
demais reformadores alemães, suíços, franceses e ingleses) viriam a ser
desenvolvidos e adotados pelo protestantismo ortodoxo em geral desde então,
(Nota 37) e se tornaram conhecidos pelo nome de método
gramático-histórico de interpretação bíblica.
Foi este o método
empregado pelos puritanos no séc. XVII;38 pelos líderes evangélicos do
século XVIII na Europa e América do Norte (tais como George Whitefield e
Jonathan Edwards); pelo anglicano J. C. Ryle, pelo batista Charles Spurgeon na
Inglaterra e pelos presbiterianos Charles e Alexander Hodge no Seminário de
Princeton nos EUA, no século passado; e pelos intérpretes e pregadores
protestantes (luteranos, anglicanos, presbiterianos e batistas) ortodoxos deste
século.
Os manuais de
hermenêutica de Davidson, Patrick, Imer, Terry, Berkhof, Berkeley, Mickelsen e
Ramm pertencem todos a essa escola de interpretação bíblica, bem como os
comentários bíblicos de Keil e Delitzsch, Meyer, Matthew Henry, Lange, Alford,
Ellicot, Lightfoot, Hodge, Broadus e muitos outros.
O método
gramático-histórico de interpretação bíblica desenvolvido pela corrente
reformada é, de fato, a hermenêutica honrada pelo tempo. É um método coerente
com a natureza das Escrituras; fundamenta-se em pressuposições teológicas
bíblicas; e emprega princípios gerais adequados e métodos lingüísticos e
históricos extremamente frutíferos.
CONCLUSÃO
A teologia e a praxis
eclesiástica deformadas do evangelicalismo moderno clamam por reforma; clamam
por um novo retorno às Escrituras. A corrente espiritualista de interpretação
bíblica já foi colocada na balança e achada em falta: as hermenêuticas alegórica,
intuitiva e existencialista, por não darem a devida consideração ao caráter
humano das Escrituras, abrem espaço para todo tipo de exesegese. O
caráter fantasioso destas hermenêuticas acaba desviando a atenção do leitor ou
ouvinte do verdadeiro sentido do texto bíblico (aquele que o Espírito Santo
intentou transmitir).
A corrente humanista
de interpretação bíblica também já foi colocada na balança e achada em falta: a
hermenêutica dos saduceus, dos humanistas renascentistas e da escola crítica,
por não darem a devida atenção ao caráter divino das Escrituras, tendem a
atribuir à razão a autoridade que pertence à revelação. Este caráter
racionalista da hermenêutica humanista induz ao liberalismo teológico que acaba
negando a legítima fé reformada.
A corrente reformada
de interpretação bíblica também já foi colocada na balança da história, mas foi
aprovada com louvor: o método gramático-histórico fundamentado no próprio
ensino bíblico sobre as Escrituras e desenvolvido e aplicado pelos reformadores
e seus legítimos herdeiros, por dar a devida atenção tanto ao caráter divino
como ao caráter histórico das Escrituras, promoveu as reformas teológicas e
eclesiásticas mais profundas já experimentadas pela igreja cristã.
Durante a Reforma
Protestante do século XVI e a reforma puritana do século XVII, por exemplo,
muito entulho religioso teve que ser rejeitado. Muitas doutrinas e práticas
eclesiásticas acumuladas no decurso dos séculos tiveram que ser abolidas,
quando reformadores e puritanos dedicaram-se com labor e oração a perscrutar as
Escrituras para ver se as coisas eram de fato assim. A hermenêutica reformada
das Escrituras já demonstrou ter a capacidade de revelar a falácia de doutrinas
e práticas eclesiásticas ‘‘fundamentadas’’ em interpretações alegóricas,
intuitivas, existencialistas e racionalistas.
O evangelicalismo
brasileiro tem acumulado nos últimos cem anos — especialmente nas últimas
décadas — considerável entulho religioso. Não é possível entrar em detalhes
aqui. Mas a proliferação de teologias estranhíssimas, práticas litúrgicas
inusitadas e condutas eclesiásticas no mínimo excêntricas, já descaracterizaram
a fé e o culto reformados. Mesmo denominações historicamente reformadas têm
absorvido doutrinas e práticas de culto inconsistentes com o ensino bíblico e
com seus símbolos de fé. Esta descaracterização se explica, pelo menos em
parte, pelo emprego das hermenêuticas deficientes que estivemos considerando.
Não é tempo,
portanto, de reconsiderarmos os rumos que estamos tomando? De nos desvencilharmos
das hermenêuticas alegóricas, intuitivas, existencialistas e racionalistas, e
de retornarmos à hermenêutica reformada aprovada pela história? Não é tempo de
fazermos da oração uma prática hermenêutica, suplicando pela iluminação do
Espírito Santo; e de labutarmos no estudo diligente das Escrituras, dando a
devida atenção à língua e às circunstâncias históricas em que foram escritas?
Orare e labutare é o
caminho. Não é um caminho fácil nem mágico. Requer sinceridade e diligência.
Talvez não forneça interpretações esplêndidas nem realce a criatividade,
imaginação e genialidade do pregador. Mas é o antigo e bom caminho aprovado com
louvor pela história. Ele deixa que a verdade de Deus opere e que as Escrituras
falem com poder e graça, promovendo profundas reformas teológicas e
eclesiásticas.
Notas
1 Gordon D. Fee e
Douglas Stuart, Entendes o Que Lês? Um Guia para Entender a Bíblia com o
Auxílio da Exegese e da Hermenêutica (São Paulo: Vida Nova, 1986) 19, 25.
2 Ver o capítulo
primeiro da Confissão de Fé Batista de 1689.
3 Richard Baxter, "Directions for Weak Distempered
Christians," em
The Practical Works of Richard Baxter (Grand
Rapids: Baker, 1981) 677.
5 Um dos iniciadores
e um dos principais nomes da escola alegórica de interpretação das Escrituras.
6 Bruce, "The History of New Testament Study," 28.
7 Ralph P. Martin, "Approaches to New Testament
Interpretation," em New Testament
Interpretation : Essays on Principles and Method, ed.
I. H. Marshall (Exeter: The Paternoster Press, 1979) 220.
8 Bruce, "The History of New Testament Study," 51.
9 Outros dados sobre
a hermenêutica existencialista podem ser encontrados em Bernard L. Ramm ,
"La Nova
Hermeneutica ", em Diccionario de la Teología Práctica ;
Hermeneutica, ed. Rodolf G. Turnbull
(Grand Rapids: Subcomisión Literatura Cristiana de la Iglesia Cristiana
Reformada, 1976) 83-88.
10 S. Taylor,
"Saduceus," em Enciclopédia
Histórico-Teológica da Igreja Cristã, vol. III (São Paulo: Vida Nova, 1990) 332.
11 B. J. Van der Walt, Anatomy of Reformation: Flashes and
Fragments of a Reformed Cosmocope (Potchefstroom: Potchefstroom University
for Christian Higher Education, 1881) 10, 26.
12 Enio Ronald
Mueller, "O Método Histórico-Crítico: Uma Avaliação," em Entendes
o Que Lês? Um Guia para Entender a Bíblia com o Auxílio da Exegese e da
Hermenêutica, eds. Gordon D. Fee e Douglas Stuart (São Paulo: Vida Nova,
1986) 245.
13 Henry A. Virkler, Hermenêutica:
Princípios e Processos de Interpretação Bíblica (Miami: Editora Vida, 1987)
52.
14 Bernard Ramm, Protestant Biblical Interpretation: A Textbook of
Hermeneutics, 3a. ed. rev. (Grand Rapids: Baker, 1973) 64.
15 Mueller, "O Método Histórico-Crítico," 257.
16 Mais sobre o assunto em David R. Catchpole , "Tradition
History," em New Testament Interpretation : Essays on
Principles and Method, ed. I. H. Marshall
(Exeter: The Paternoster Press, 1979) 165-180.
17 Tais como K. L. Schmidt, M. Dibelius e R. Bultmann.
18 Mais sobre o assunto pode ser encontrado em Stephen H. Travis, "Form
Criticism," em New Testament Interpretation: Essays on
Principles and Method, ed. I. H. Marshall
(Exeter: The Paternoster Press, 1979) 153-164.
19 David Wenham, ‘‘Source Criticism,’’ em New Testament
Interpretation : Essays on Principles and Method, ed.
I. H. Marshall (Exeter: The Paternoster Press, 1979) 144.
20 Stephen S. Smalley, "Redaction Criticism," em New Testament
Interpretation ; Essays on Principles and Method, ed.
I. H. Marshall (Exeter: The Paternoster Press, 1979) 181.
21 I. Howard Marshall, "Historical Criticism," em New Testament
Interpretation ; Essays on Principles and Method, ed.
I. H.
Marshall (Exeter: The Paternoster Press, 1979) 126.
22 Uma crítica
em português ao método histórico-crítico de interpretação das Escrituras pode
ser encontrada em Mueller, "O Método Histórico-Crítico," 255-271.
Nestas páginas Mueller expõe resumidamente as metodologias críticas e apresenta
as objeções ao método histórico-crítico levantadas por Gerhard Maier, de
Tübingen, no livro Das Ende der Historisch-kritischen Methode ("O
Fim do Método Histórico-Crítico"), publicado em 1974, e no artigo
‘‘Concrete Alternatives to the Historical Critical Method," em Evangelical Review
of Theology 6/1 (abril 1982).
23 Augustus
Nicodemus Lopes, ‘‘Lutero Ainda Fala: Um Ensaio em História da Interpretação
Bíblica,’’ em Fides
Reformata 1/2 (1996) 110.
24 Ramm, Protestant Biblical Interpretation, 48-50.
25 De acordo com Ramm, Protestant Biblical Interpretation,
36-37, e Virkler, Hermenêutica, 45.
26 Ramm, Protestant Biblical Interpretation, 52.
27 Bruce, "The History of New Testament Study,"
29.
28 Marvin W. Anderson, ‘‘La Reforma y la Interpretacion ,"
em Diccionario de la
Teología Práctica ; Hermeneutica, ed. Rodolf G. Turnbull
(Grand Rapids: Subcomisión Literatura Cristiana de la Iglesia Cristiana
Reformada, 1976) 52.
29 Em sua obra Sobre a Escravidão da
Vontade (citada por F. F. Bruce, The History of New Testament Study,
31). Este livro de Lutero, publicado inicialmente em 1525, foi condensado por
Clifford Pond e publicado em inglês em 1984 com o título Born Slaves, e
em portugês em 1992 pela Editora Fiel, com o título Nascido Escravo.
30 Ramm, Protestant Biblical Interpretation, 58.
31 Lamberto Floor enfatiza com muita propriedade este aspecto da
interpretação bíblica de Calvino no artigo "The Hermeneutics of
Calvin," em Calvinus
Reformatur : His Contribution to Theology, Church and
Society (Potchefstroom, South Africa: Potchefstroom University for
Christian Higrer Education, 1982) 181-191.
32
Citado por Ralph A. Bohlmann, Princípios de Interpretação Bíblica nas
Confissões Luteranas (Porto Alegre: Casa Publicadora Concórdia, 1970) 29.
33 Anderson, "La Reforma y la Interpretación ,"
54-55.
34 Com exceção de 2 e 3 João e Apocalipse (no
Novo Testamento).
35 Ver Ramm, Protestant
Biblical Interpretation 57; e Louis Berkhof, Principios de
Interpretación Biblica (Grand Rapids: Subcomisión Literatura Cristiana,
1976) 52.
36 Carta
escrita a Sebastian Egbertsz, publicada em P. van Limborch e C. Hartsoeker, Praestantium
ac Eruditorum Virorum Epistolae Ecclesiasticae et Theologicae (Amsterdam,
1704), nº 101 (citado por Bruce, "The History of New Testament Study,"
33).
37 Cf. Virkler,
Hermenêutica, 49.
38 Breves
exposições em português dos princípios de interpretação puritana das Escrituras
podem ser encontradas no capítulo ‘‘Os Puritanos como Intérpretes da Bíblia’’ em J. I. Pacher , Entre
os Gigantes de Deus: Uma Visão Puritana da Vida Cristã (São José dos
Campos, São Paulo: Editora Fiel, 1996) 105-114; e em Leland Ryken , Santos
no Mundo: Os Puritanos como Realmente Eram (São José dos Campos, São Paulo:
Editora Fiel, 1992) 155-159.
Os autores do Velho testamento reivindicam
que aquilo que estão escrevendo é de origem Divina.
No Antigo Testamento, aparece:
361 vezes a expressão: “diz o Senhor”
445 vezes a expressão: “assim diz o
Senhor”
540 vezes a palavra dãbhãr = “Palavra do
Senhor”
Os profetas assim como os ouvintes tinham
plena convicção de que a mensagem era de origem divina.
O próprio Jesus aceitou a autoridade do
Antigo Testamento.
Ex. Mateus 5:17-19; Lucas 10:25-28; Lucas
16:19-31
Também repousa sobre a inspiração divina.
Mas repousa também sobre a pessoa de Jesus
que também é identificado como a palavra de Deus.
Exemplos: - Hebreus 1:1, 2 - Mateus 15:6.
Lucas 5:1
I Tessalonicenses. 2:16
I Timóteo 5:18 - Paulo cita um texto do
Antigo Testamento e um do Novo Testamento e os coloca no mesmo nível
chamando-os de Escritura.
II Pedro 3:15, 16
* O Antigo Testamento
e o Novo Testamento devem ser vistos como partes de um todo. Partes da
revelação de Deus, pois ambas tem a mesma origem que é a revelação de Deus.
Hebreus 1:1, 2:
1o
- Unidade - entre o Antigo e o Novo
Testamento
A fonte é a mesma: Deus
E Deus não muda
2o
– Continuidade.
O Deus que falou muitas vezes voltou a
falar no momento.
As revelações progressivas de Deus, elas
formam um todo.
3o
– Progressividade.
A revelação de Deus é progressiva, ela é
crescente.
Deus falou primeiramente através dos
profetas
Depois falou através de Seu Filho Jesus, o
que se tornou na revelação
suprema.
4o
– Diversidade.
Existe algo que une o A. T. e o N. T.
Mas existe também algo que os separa
No Antigo Testamento, Deus falou aos
profetas de muitas maneiras.
Os costumes eram diferentes, a linguagem
era diferente, o tempo era
diferente, mas o Deus era o mesmo, portanto a mensagem era a mesma -
(Salvação).
I Cor. 12:4-6 - O Senhor é o mesmo.
Temos que comparar
textos do Antigo Testamento com do Novo Testamento, desde que tratam do mesmo
assunto.
Exemplos: Mateus
27:5; Lucas 10:27 - João 13:27
O conceito católico
no tempo de Lutero era que a Palavra de Deus era: Bíblia + Tradições.
Diziam que a Palavra
de Deus era a Revelação de Deus, mais as tradições dos homens, em especial a
tradição da igreja (católica).
Lutero se posicionou
contra esta idéia. Sua posição era: Sola
Scriptura = Somente a Escritura (Bíblia).
O princípio de Sola
Scriptura reconhece a unicidade, a veracidade da Bíblia. Reconhece a autoridade
da Bíblia.
Nenhuma das doutrina
de qualquer igreja ou denominação religiosa deve estar baseada em alguma outra
fonte que não seja a Bíblia.
Não temos o direito
de explorar um texto fora do contexto e da idéia que o autor queria expressar.
- Esdras 7:6, 10.
- Esdras é o mais
antigo intérprete que temos notícia.
- O povo estava
falando uma língua aparentada, mas diferente do hebraico: o aramaico. Isto
levou Esdras a ensinar ao povo as Escrituras.
- Esdras era
sacerdote e era versado nas leis de Moisés. Esdras havia proposto em seu
coração guardar as leis de Deus.
- O povo daquela
época perdera a facilidade com a língua hebraica por influência do aramaico.
- Por isso, os
sacerdotes liam o Pentateuco para eles e os interpretava.
- O Pentateuco estava
todo em hebraico.
- Neemias 8:1-8
- V. 8 - “Leram no
livro..., claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o que se
lia”.
- Dessa forma
iniciou-se a ciência que nós chamamos de Hermenêutica.
- Segundo a tradição
judaica, Esdras é considerado o primeiro a usar a exegese, foi ele quem iniciou
os escribas (ele é considerado o primeiro escriba).
- Sopherins: Escribas:
- Foi também neste
período que surgiram as sinagogas
- O templo era para
serviços oficiais. A sinagoga era para serviços informais.
- Eram eles que ensinavam
o povo sobre as Santas Escrituras
- Copiaram
zelosamente as Escrituras.
- O período
intertestamentário, foi o período em que surgiram diversas seitas no Novo
Testamento:
- Alguns escribas,
fariseus, saduceus, essênios.
- Estavam tão
desejosos de guardar a lei que começaram a dizer que cada palavra era
inspirada.
- Isso trouxe
vantagens e desvantagens:
- Vantagem:
fidelidade ao texto bíblico original
- Desvantagem:
achar que todos os pormenores, todos os detalhes, tinham uma mensagem, cada
letra era considerada como inspirada.
A interpretação
literal, não leva em conta as figuras de linguagem.
Letrismo - ênfase demasiada
nas letras
Literalismo - leva em conta a
existência de figuras de linguagem.
Nos tempos de Cristo:
1 - Literal -
(Peshat) - nós cremos
2 - Midráshica
(rabínica) - vem do hebraico:
Beth-Midrash = Escola
Beth - casa
Darash - interpretar
Hillel (Liberal) e Shamai (conservador)
eles eram dois rabinos fundadores de escola, importantes da época de Cristo. Gamaliel
era neto de Hillel.
Ao estudarmos a Bíblia, temos que buscar
os princípios envolvidos.
3 - Pesher
(essênios)
Pesher
- exegese fantasiada.
As 1, 2 e 3, eram mais comuns entre Judeus
Palestinos.
A 4, era entre os Judeus helenistas.
4 - Alegórica
O alegorismo surgiu na Grécia.
Homero e Hesíodo (escritores gregos),
foram os responsáveis por toda tradição mitológica grega.
Heródoto, Tales, Tucídides, começaram a
usar o alegorismo para explicar os escritos de Homero e Hesíodo.
Os estudos foram transferidos de Atenas
para Alexandria.
Idéia Platônica:
Como se fosse uma bola partida no meio.
Parte de cima: Idéias (Deus, sobrenatural)
Parte de baixo: Sombras (Homem, físico)
Judeus na Grécia contavam as historias da
Criação e do Êxodo.
Os gregos viram estas histórias
semelhantes, às histórias da Mitologia grega (Homero e Hesíodo)
Os estudiosos começaram então a usar o
Alegorismo para explicar a Bíblia, assim como usavam para explicar os escritos
de Homero e Hesíodo.
Filo (20 a .C. - 50 d.C) – Começou a
empregar em seus livros o método do alegorismo. Aplicou a filosofia grega à
teologia judaica. Para ele, o alegorismo é uma flutuação da interpretação sobre
a linha do texto.
Assim só os mais
adiantados conseguiriam usar o alegorismo. Os simples ficavam presos ao que
está escrito.
O método alegórico de
interpretarão entrou na igreja no 2o século.
Apareceu mais tarde
como método crítico.
Citações no Novo
Testamento que lembram o Velho Testamento:
- 160 - citações
diretas
-
4.105
– alusões
1o
- Foi uniforme e tratava o texto, os registros, como fatos fiéis.
2o
- Fazia aplicação sem mudar o sentido do texto
3o
- Denunciou o modo como os rabinos estavam interpretando as Escrituras.
4o
- Os escribas e fariseus nunca puderam acusar Jesus de usar qualquer texto da
Escritura de modo ilegítimo
5o
- Parece que Jesus usou alguns textos de modo antinatural, mas geralmente se
tratava de legítimas expressões idiomáticas hebraicas ou aramaicas, ou padrão
de pensamento que não se traduz diretamente para nossa cultura e nosso tempo.
Obs. São geralmente
passagens de cumprimento.
56 casos, pelos
menos, há referências explícitas a Deus como o autor do texto bíblico.
1o
- Ao citar o Antigo Testamento, com freqüência o Novo modifica o fraseado
primitivo. Como se pode justificar hermeneuticamente tal prática?
R: - Na época havia
várias versões do A. T., Além da versão em hebraico havia também quatro versões
em grego (Septuaginta, Áquila, Símaco, Teodócio).
2o
- Muitas vezes o autor do Novo Testamento faz alusões, vale-se da memória ao
transcrever os textos do A. T.
3o
- Na vida comum, não estar preso à atuação é geralmente sinal de que o autor
tem domínio da matéria.
A forma como os escritos do N.T. usam o
A.T. deve nos ensinar a maneira em que devemos usar as Escrituras.
O alegorismo
predominou desde o 2o século, até à Idade média, foi o método
que mais durou na história cristã.
Os escritores
bíblicos queriam mostrar que Jesus era o Messias. Então os judeus começaram a
interpretar o Antigo testamento de Maneira errada, usando o alegorismo para
provar que Jesus não era o Messias.
Na ansiedade de
mostrar que o Antigo Testamento é um documento cristão e que Jesus não era o
Messias, caíram no erro de alegorizar os textos bíblicos.
Alexandria - Berço do
alegorismo grego.
Nessa cidade um
personagem chamado Panteno fundou a Escola Catequética de Alexandria.
Clemente - foi o
substituto de Panteno, foi o segundo professor da escola.
Clemente foi o
primeiro cristão a suar vastamente o alegorismo para interpretar o texto
bíblico. Ele era versado na filosofia grega.
Era também de origem
pagã.
Para ele, cada texto
bíblico tem cinco sentidos: HISTÓRICO, DOUTRINAL, PROFÉTICO, FILOSÓFICO e
MÍSTICO (alegórico).
Foi sucessor de
Clemente
Foi um gigante
intelectual. Publicou obras apologéticas.
Cria ser a Escritura
uma vasta alegoria na qual cada detalhe é simbólico.
Acreditava que o homem
constitui de 3 partes:
Corpo - sentido
literal
Alma - sentido moral
Espírito - sentido
alegórico ou místico.
Assim também as
Escrituras constituem de três partes.
Produziu a “Hexapla -
Hebraico, Grego, Áquila, LXX, Símaco, Teodócio”, a maior obra respectiva à
Bíblia produzida até hoje. Tinha 12 mil páginas. Levou trinta anos para ficar
pronta.
Escreveu o livro
“Cidade de Deus”
Escreveu também o
livro “A Doutrina Cristã”
Tinha 12 regras
básicas para interpretar as Escrituras.
Na prática, acabou
renunciando seus princípios e inclinou-se para uma alegorização excessiva.
Cria que Escritura
tinha um sentido quádruplo:
HISTÓRICO,
ETIMOLÓGICO, ANALÓGICO, ALEGÓRICO.
Foi um homem mui
piedoso, mas que causou uma das maiores desgraças do cristianismo: a criação da
“Santa
Inquisição”.
Forçava os “hereges”
a aceitarem as idéias da igreja.
Fundada no ano 290
por 2 presbíteros: Doroteu e Luciano.
Primeira escola
protestante de hermenêutica.
Criticavam o
alegorismo por lançarem muitas dúvidas na historicidade de muita coisa do
Antigo Testamento.
Os princípios
exegéticos da escola de antioquia lançaram a base da hermenêutica evangélica
moderna.
Neste período os
teólogos não tinham muito conhecimento da Bíblia.
Valiam-se em grande
parte das tradições e do alegorismo para explicar as Escrituras.
Foi uma época de
pouca cultura e erudição. Poucas pesquisas foram feitas neste período.
A fonte de doutrinas
não era só a bíblia, mas também as tradições.
Tentavam harmonizar
as tradições com a Bíblia.
O método do
alegorismo predominava, mas não havia só este método. Havia também o
misticismo.
Exemplo: Cabala ou Kabbala - é um tratado
filosófico, religioso hebraico que propõe resumir uma espécie de religião
secreta que se supõe haver coexistido com a religião popular dos hebreus.
Kaballah - Kabbel:
Receber.
No cabalismo, também
estava presente o “letrismo” Era um letrismo absurdo. Era uma teologia
completamente mística.
Os judeus da Espanha
(Sefarditas) fundaram uma escola própria de interpretação, liderada por Willian
Champeaux, Séc. XII.
Incentivaram o
retorno a um método de interpretação histórico-gramatical.
Grande impacto.
Restaura os chamados: Quatro sentidos.
Influência
grandemente a Lutero.
Lutero
1) - Fé é a
iluminação (como princípios de Interpretação)
2) - Rejeitou o
método alegórico...
3) - A Bíblia é um
livro claro...
Ao romper com o método alegórico, valeu-se
do método cristológico.
Separou textos do Antigo e Novo Testamento
que mencionavam ou se referiam a Cristo.
Quando o homem aceita a graça de Deus e a
Jesus como Salvador, quando ele passa pela cruz então é justificado.
Aquilo que lhe condenava agora não lhe
condena mais
O que nos salva é o sangue de Cristo
O que nos leva à perdição é a rejeição
deste sangue.
Muitos que não fizeram crime, adultérios,
etc, estarão perdidos, por não aceitarem esta graça.
Existem dois tipos de pecado:
1 - Pecado consciente, pecado decidido,
viver no pecado.
2 - Pecado ocasional, conseqüente de minha
natureza pecaminosa.
Exemplos:
1 - Aquele que vive pecando e não aceita a
graça de Deus
2 - Aquele fiel que vive em comunhão com
Deus, mas que por um deslize cai em pecado.
Calvino
Seguiu as mesmas
linhas de Lutero.
Concílio de Trento -
dogmas da Igreja Católica
Contra reforma
Protestantes também
firmaram suas doutrinas.
Surgiu em resultado
ao confissionalismo.
Retorno à antiga
piedade bíblica. Verdadeiro estudo da Bíblia (fé, oração).
Diz que a razão e a
única coisa que pode governar o homem.
Era uma filosofia.
O pai da teologia
liberal que aplicou os conceitos do racionalismo na teologia cristã foi
Friedrich Schleiermacher (1768-1834)
Lia a Bíblia como um
produto puramente humano, e, portanto, esta não era nenhuma norma de vida.
- Religião humanista
Para ele, Deus é
apenas mais uma experiência, um sentimento.
O homem é agora o
centro da religião. Cada um pode ter a sua religião particular. Nenhuma
autoridade externa.
O liberalismo está
constituído sobre três coisas:
1 - Não existe o
sobrenatural (Não existe Deus, pois Deus é um sentimento)
2 - A Bíblia é um
livro puramente humano
3 - A Bíblia deve ser
interpretada baseada apenas em recursos humanos (do ponto de vista humano).
Tudo que não é racional deve ser
rejeitado.
Vê-se nisto um processo evolutivo (lei do
mais forte). Ainda hoje há resíduos deste tipo de liberalismo.
É uma tentativa de
aproximar mais os liberais e os conservadores (meio termo, posição
equilibrada).
Diz que Deus não se
revela em palavras.
Portanto , a Bíblia não é a palavra de Deus.
Deus se revela a Sí
mesmo, em pessoa ao homem.
A Bíblia é um
testemunho de homens que experimentaram um contato pessoal com Deus.
“A Bíblia é a cada
passo a vulnerável palavra do homem”.
Pegou o pensamento de
Bubber e aplicou a Deus:
Conhecida como
Teologia do Encontro.
Dizia que não devemos
ver a Deus como uma coisa, mas como alguém real.
A Bíblia é o
testemunho de homens que tiveram um encontro com Deus.
Filósofo e sociólogo
alemão com sangue judeu.
Para Bubber isto não
tem nada a ver com Deus (religião)
Diz que homens no
passado tiveram esse encontro pessoal com Deus e baseados nesse testemunho
pessoal, escreveram a Bíblia.
A Bíblia não é
inspirada por Deus ao ter sido escrita, mas a Bíblia inspira a todos que a
lêem. Para eles, isto é inspiração.
Portanto, a Bíblia
deixa de ser normativa.
A religião fica sendo
algo puramente pessoal.
O pensamento
neo-ortodoxo é religioso, mas é extremamente humanista.
O significado de um
texto fica sendo aquilo que ele achar melhor, que se adapta melhor à sua
condição de vida.
Tantos significados
quantos forem os leitores e não há interpretação certa ou errada.
Um texto tem apenas
um significado, aquele pretendido pelo autor.
Exemplo: Efésios
4:26-27.
A respeito de Efésios 4:26-27, a que tipo de relações
Paulo estava se referindo?
a) relações entre marido e mulher
b) relações entre pais e filhos
c) relações entre membros da igreja
d) relações entre patrão e empregados
Princípio presente
neste texto:
Na medida do possível, procurar resolver os problemas no mesmo dia. Toda e
qualquer aplicação deve derivar da interpretação do texto.
Ao pregarmos, devemos
fazer uma boa exegese do texto e estar certo de sua aplicação.
O significado mais profundo intencionado
por Deus em uma passagem.
Daniel 12:8 - Nem sempre o profeta entende
aquilo que ele escreve.
Exemplo: Isaías 40-66
Salmo 2:7
Sensus Plenior - Só se reconhece
olhando o Novo testamento e achando-se passagens do Velho Testamento citadas
com uma outra interpretação.
Tem que ter algo em
comum.
Exemplo: (A.T.) -
Isaías 64:4.
(N.T.) - I Cor. 2:9
Um profeta inspirado pode usar qualquer
texto da Bíblia e usá-lo com outro propósito. Mas não necessariamente isto seja
Sensus Plenior, mas é inspirado e é verdade do mesmo jeito.
É aquela que nos diz
o que devemos fazer, uma prescrição.
Exemplo. Idolatria,
Deus Criador, etc.
Declaração explícita.
Verdade repetida
muitas e muitas vezes na Bíblia como um todo ou no mesmo livro.
Não são normas de
vida para hoje, são simplesmente descrições.
Exemplos. Véu na
igreja, ósculo santo, mulheres caladas na Igreja. Etc.
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