sábado, 7 de março de 2020


FACULDADE DE TEOLOGIA
TESTEMUNHAS HOJE

CURSO LIVRE

TEOLOGIA DO VELHO TESTAMENTO I




INTRODUÇÃO

1.1 NOÇÃO GERAL


1.1.1 COMENTÁRIOS INTRODUTÓRIOS

   A fonte de pesquisa para se construir uma Teologia do Velho Testamento é a Bíblia e, em particular, o próprio Velho Testamento, é óbvio. Assim, crer nas Escrituras como inspiradas e verdadeiras é fundamental para o desenvolvimento dessa disciplina.
   Segundo a Teologia Sistemática, que também retira os seus grandes temas da Bíblia, existem, pelo menos, 7 meios de revelação (revelação quer dizer desvendamento, manifestar o que estava oculto):

a)   Pela natureza (Rm. 1:18-21; Sl. 19)
b)   Pela providência (Rm. 8:28; At. 14:15-17)
c)   Pela preservação do universo (Cl. 1:17)
d)   Pelos milagres (Jo. 2:11)
e)   Pela comunicação direta (At. 22:17-21)
f)      Por Cristo (Jo. 1:14)
g)   Pela Bíblia (1 Jo. 5:9-12)

Estamos, no desenvolvimento dessa disciplina, interessados na revelação bíblica e é importantíssimo que saibamos utilizá-la e que creiamos na sua inspiração, infalibilidade e inerracia (2 Tm. 3:16; Rm. 3:2; 2Pd. 3:16; Mt. 15:6; Jo. 10:35; Hb. 4:12).
Existem vários formas de nos posicionar quanto à Bíblia. Entre elas citamos:

a)   Racionalismo. Em sua forma extrema, nega a possibilidade de qualquer revelação sobrenatural. Em sua forma moderada admite a possibilidade de revelação divina, mas essa revelação fica sujeita ao juízo final da razão humana.
b)   Romanismo. A Bíblia é um produto da igreja e por isso não é autoridade única e final.
c)   Misticismo. A experiência pessoal tem a mesma autoridade da Bíblia.
d)   Neo-ortodoxia. A Bíblia é uma testemunha falível da revelação de Deus na Palavra, Cristo.
e)   Seitas. A Bíblia e os escritos do líder ou fundador de cada seita possuem igual autoridade.
f)      Ortodoxia. A Bíblia é a nossa única base de autoridade.

Além disso é bom termos em mente a diferença entre o que é inspiração e o que iluminação.
Entende-se por inspiração o método verbal e plenário, utilizado por Deus, para conduzir os escritores da Bíblia a registrarem nela tão somente a Sua vontade. Uma vez que o Cânon da Bíblia está completo, crê-se também que a inspiração, conforme entendida teologicamente, não existe mais. A inspiração verbal e plenária é atestada pela própria Bíblia (2 Tm 3:16; 2 Pd. 1:20-21; Ex. 17:14; Jr. 30:20; Mt. 15:4; At. 28:25; Mt. 5:17; Jo. 10:35; 1 Tm 5:18; 2 Pd. 3:16; 1 Cor. 2:13; 1 Pd. 1:11-12). Ora, sendo a Bíblia a expressão da vontade de Deus, é conclusivo que ela seja inerrante, pois Deus não comete erros (Jo. 17:3; Rm. 3:4; Mt. 5:17; Jo. 10:35; Gn. 3:16; Mt. 22:31-32).
Por iluminação entende-se a capacitação dada pelo Espírito Santo de Deus, autor da Bíblia, aos seus servos para que interpretem, segundo a vontade de Deus, as palavras das Escrituras Sagradas. A iluminação atual em relação aos não-salvos (1 Co. 2:14; 2 Co. 4:4; Jo. 16:7-11) e aos salvos (1 Co. 2:10-12; 3:2; Jo. 16:13-15).
        A teologia do Velho Testamento é a primeira divisão da teologia bíblica e esforça-se para expor, da forma mais ordenada possível, as grandes declarações da verdade divina que ocorrem nos escritos do Velho Testamento.
        O Velho Testamento não contém uma lista sistematizada das declarações teológicas como é próprio da teologia sistemática. Porém possui um farto material sobre a manifestação de Deus e seu relacionamento com o universo.
        Para se formular uma teologia do Velho Testamento há de se considerar o significado que as palavras e os escritos tinham na época em que foram formulados. Daí o método da teologia do Velho Testamento deve ser o histórico-teológico. Este método deve levar em conta a progressão da revelação de Deus até resumir-se numa forma escrita definitiva. Além disso a teologia do Velho Testamento não se restringe aos feitos de Deus junto ao povo de Israel, mas é abrangente e expansiva, ou seja, o relacionamento de Deus com Israel é para ser visto como o princípio de um relacionamento com toda a humanidade.
        Deve-se manter o devido equilíbrio entre um método de investigação histórico objetivo e o conceito de uma revelação autorizada e definitiva de Deus em forma escrita.
        O pensamento dos escritores do AT não deve restringir-se aos interesses que dizem respeito à religião ou à vida dos hebreus antigos. Deve ser considerado parte da revelação contínua de Deus que chega ao seu ponto culminante na proclamação neotestamentária da sua graça redentora em Cristo, o Messias de Israel e o Salvador da humanidade.
        Os ensinos que dizem respeito à pessoa e à natureza de Deus começam aceitando como fato axiomático a Sua existência. Deus é o fundamento de toda a existência, e se revela de modo criativo por atos tais como a criação do mundo e da humanidade, bem como pela comunicação verbal da sua natureza e vontade. Enquanto Deus é ser necessário, tendo existido desde a eternidade, a terra e sus habitantes são entidades contingentes ou criadas, e dependem do poder do Cristo para existirem.
        Embora sua natureza seja de espírito infinito, Ele permite que seja descrita periodicamente em termos antropomórficos. Ele tem, portanto:

a)   Um rosto que diz respeito à sua presença, da qual as pessoas podem ser escondidas mediante a alienação do pecado (Gen 4:14), mas a qual também age para salvar seu povo da escravidão e levá-lo à segurança (Ex. 33:14).
b)   Mãos, com as quais cria as Suas obras maravilhosas (Sl. 143:5).

c)   Voz, que pode ser ouvida diretamente (Ex. 3:4) ou por intermédio dos profetas quando a sua palavra é proclamada (Is. 8:1; Jr. 1:4; Ez. 31:1).

d)   Forma física, às vezes, e assume a atividade de um mensageiro (Gn. 22:15-18; Is. 63:9), embora a diferença seja suficiente para possibilitar que o mensageiro seja distinguido do Criador (Gen. 24:40).

e)   Nomes que expressam Sua personalidade.

Em todo o At o conceito de Deus é o de um Ser onipotente (Gn. 18:14) que possui uma personalidade completa e que pode ser conhecido plenamente como Deus em cada etapa do processo histórico. Ele é onisciente (Pv. 15:3) e tem conhecimento total de todos os eventos futuros até ao fim dos tempos (Is. 46:10). Seus propósitos e atos são caracterizados por amor ou misericórdia (HESED), que cerca igualmente a criação e as criaturas (Sl. 145:9) e que acha sua expressão nas atividades altruístas da bênção e da redenção. A idéia de Deus como Pai do seu povo está ligada com o estabelecimento da nação da aliança, cujos membros se tornam Seus filhos adotivos, e também se relaciona com a obra do Messias, que finalmente aumentará a família dos fiéis mediante a Sua obra de redenção.

1.2 DEFINIÇÕES e CONCEITUAÇÕES

1.2.1 Teologia do Velho Testamento "É o estudo das declarações dos autores do Velho Testamento sobre Deus e suas relações com a humanidade, com o propósito de por essas declarações numa linguagem contemporânea e inteligível e com a intenção de preservar o que elas significam para as pessoas que as aceitaram originalmente.

Análise da definição:

a) É o estudo das declarações dos autores do Velho Testamento sobre Deus.
        Deus é um assunto estudado na teologia sistemática, porém na teologia do Velho Testamento estudamos as declarações que ele contém sobre Deus.

b) ...e suas relações com a humanidade.
        Não interessa à teologia do Velho Testamento um estudo sobre as declarações sobre Deus que fique tão somente no âmbito do relacionamento com os hebreus. A teologia do Velho Testamento está interessada em levantar, histórica e teologicamente, a progressão do relacionamento de Deus com toda a humanidade.

c) ... com o propósito de por tais declarações numa linguagem contemporânea e inteligível.
        O Velho Testamento não é um compendio doutrinário, mas um conjunto de escritos formado de narrativas, poesias, profecias, etc. Daí a necessidade que a teologia do Velho Testamento tem de colocar tais formas de escritos num sistema em linguagem teológica contemporânea.

d) ...e com a intenção de preservar o que elas significam para as pessoas que as aceitaram originalmente.
        O ambiente original em que as declarações bíblicas foram feitas é de suma importância para o teólogo. O teólogo do Velho Testamento deve começar no passado para alcançar o presente.
        A Bíblia não é um livro de regras para ser obedecido. É preciso aceitar o fato de que no Velho Testamento há muitas coisas que não têm aplicação prática na igreja atual. Foram situações aplicáveis ao povo de Israel. Porém toda passagem bíblica possui uma mensagem teológica. Precisamos, portanto, com a teologia do Velho Testamento descobrir o que é normativo e o que é temporal no Velho Testamento, ou seja: a distinção entre a norma e a forma.

Por exemplo: O culto hebreu tem uma norma dentro de uma forma. Aceitamos a lei moral (normativa) e rejeitamos a lei cerimonial (formativa).

Levítico 25 e o uso da terra - ano sabático - ano jubileu.
        As leis foram dadas numa época histórica e com caráter específico. Contudo ela revela o caráter de Deus e isso é norma. O que a TVT ensina são as normas teológicas do VT.

1.2.2 A Teologia do Velho Testamento é o estudo dos atributos de Deus e o propósito das suas atividades na história e na vida do povo de Israel, de acordo com a doutrina da revelação divina nos livros sagrados deste povo.

   Esta definição distingue a Teologia do Velho Testamento da História da Religião do povo de Israel. Convém manter esta distinção, reconhecendo que as duas ficam naturalmente entrelaçadas. A História da Religião de Israel é a matéria que trata do desenvolvimento religioso do povo de acordo com a seqüência cronológica dos seus períodos históricos e das influências religiosas recebidas dos vizinhos. A Bíblia não sistematiza os seus ensinos, mas a ciência teológica trata das doutrinas distintivas e persistentes das Escrituras na ordem lógica ou teológica que se julga mais conveniente. Discute  a revelação de Deus aos profetas e procura determinar a relevância dela para a teologia cristã.
   Esta definição limita a fonte do material desta primeira divisão da Teologia Bíblica aos livros canônicos dos judeus e dos cristãos evangélicos, ao passo que alguns destes são superiores a outros no valor dos seus ensinos teológicos. A ciência da Teologia do Velho Testamento se limita ao estudo dos ensinos característicos, distintivos e persistentes dos veículos da revelação divina. Deixa de lado as aberrações e os conceitos primitivos condenados pelos profetas e procura apresentar os ensinos teológicos dos escritores mais esclarecidos do Velho Testamento. Aproveita-se da crítica literária, mas não procura fixar a data da origem de cada uma das doutrinas bíblicas. A cosmologia dos escritores tem pouca importância para o teólogo, mas a doutrina da criação do mundo e das atividades de Deus na direção da história tem importância especial, porque põe em relevo o poder e a autoridade do Senhor.

1.3 RELACIONAMENTO COM TEOLOGIA SISTEMÁTICA E COM A TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

1.3.1 RELACIONAMENTO COM A TEOLOGIA SISTEMÁTICA

A teologia sistemática utiliza-se da teologia do Velho Testamento no delineamento dos seus grandes temas. Por exemplo: O que seria da teologia sistemática na abordagem do pecado se não existisse uma teologia do Velho Testamento sobre Gênesis 3? O que seria da teologia sistemática no estudo de Deus se não fosse a dinâmica da revelação de Deus aos homens, exposta no Velho Testamento e estudada pela Teologia do Velho Testamento?
Na Teologia do Velho Testamento estudam-se as operações de Deus na introdução do seu reino entre o povo escolhido, como se apresentam nas Escrituras deste povo.
1.3.2 RELACIONAMENTO COM A TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

A teologia do Velho Testamento lança luz sobre a teologia do Novo Testamento. É como se olhássemos para o futuro. Por outro lado, a teologia do Novo Testamento explica a teologia do Velho Testamento. É como se olhássemos para o passado. Elas se explicam e se complementam mutuamente.

 2 UNIDADE II


2.1 A REVELAÇÃO DE DEUS

2.1.1 CONCEITO E POSSIBILIDADES DA REVELAÇÃO

        Manifestar algo oculto. GALA (nudez) - desnudar. Trazer ao conhecimento. (Ex. 20:26; Is. 53:1; 2 Sam. 7:27. O equivalente grego é apokalypto usado no NT apenas no sentido teológico desenvolvido - Lc. 10:21; Ef. 3:5).
        A revelação bíblica é uma iniciativa de Deus. Deus se revela livremente, por sua genuína vontade e não seria conhecido se assim não o fizesse. A possibilidade da revelação está no fato de Deus ser criador, nós sermos criaturas e podemos supor que Deus nos fez com um propósito. Ainda, a Bíblia revela o Deus que é cheio de amor por sua criação e assim como um pai amoroso jamais se ocultaria de seu filho, Deus não se ocultou dos homens.

2.1.2 A REVELAÇÃO DE DEUS NA DISPENSAÇÃO DA INOCÊNCIA (GÊNESIS 1, 2)

   Considera-se dispensação da inocência o período entre a criação e a queda do homem. Nesse período o relacionamento entre Deus e homem e entre o homem e Deus era completamente livre de quaisquer obstáculos. Havia completa pureza na natureza do homem, de tal maneira que nada ofuscava a santidade de Deus, contribuindo para uma aproximação perfeita. Neste ambiente de relações humanas com Deus e de relações divinas com o homem, os autores do Velho Testamento encontram campo fértil para retratar a personalidade de Deus, sua natureza, suas ações e atitudes, bem como a natureza do homem e sua dependência de Deus.

2.1.2.1 OS POSTULADOS SOBRE A ORIGEM DO UNIVERSO:

a)   O pensamento teísta - Deus é o criador e sustentador de todas as coisas e as fez do nada (ex nihilo), por sua livre vontade. O propósito de Deus ao inspirar a narração da criação do universo não era contar a história da criação, mas revelar-se como o único Deus, criador, provedor e sustentador do universo.

b)   O pensamento materialista - O universo existe por necessidade e por toda a eternidade. É produto da matéria em evolução, dissociação e associação. Exclui qualquer possibilidade da participação de um deus na criação do universo.

c)   O pensamento politeísta:

·      Muitos deuses criaram o universo agindo através das coisas inanimadas (as mitologias) - Terra=gaia,
·      O pensamento astrológico - Crê que alguns planetas, o sol e a lua, são deuses regentes que mantêm o universo em constantes ciclos. O primeiro ciclo que deu origem aos animais e ao ser humano é tido como o ciclo regido por Mercúrio (Hermes), mensageiro de Júpiter, que vem para fecundar a Terra (Gaia) na era de Virgem. A influência do culto aos astros está presente cultura religiosa dos povos semíticos. A terra é tida como a personificação da matéria (mater=mãe). Ela é tida como a deusa da fertilidade como Inanna dos sumérios, Ishtar/Astarte/Ashtaroth dos babilônios, Cibele dos frígios, Hat-hor dos egípcios, Kali dos hindus.

d)   O pensamento dualista - (1) dois princípios auto-existentes e co-eternos: Deus e a matéria, sendo que a matéria estaria subordinada a Deus. (2) Dois espíritos antagônicos: um bom e outro mau. Os maniqueístas pensavam assim: Mani ensinou a mistura do cristianismo com o dualismo persa de luz e trevas. Satanás foi produto das trevas.
e)   O pensamento panteísta - o universo é uma emanação de Deus. Deus fez todas as coisas de si mesmo.

f)      O pensamento da criação eterna - Acredita-se que, por ser onipotente, infinito e amoroso, Deus necessariamente criou todas as coisas na eternidade, ou seja, fora do tempo. Strong objeta: "Antes, é verdade que nenhuma criação eterna seja concebível, pois isto envolve um número infinito. O tempo deve ter um começo, e como o universo e o tempo são coexistentes, a criação não pode ter sido desde a eternidade."

.2.1.2.2 OS POSTULADOS SOBRE O PERÍODO DE CRIAÇÃO:

a)   Teoria pré-adâmicas: (1) Teoria da lacuna, do vazio  ou do arruinamento e recriação: declara que entre Gênesis 1:1 e 1:2 houve um longo período de tempo onde um grande cataclisma desolou a terra (Jr. 4:23-26; Is. 24;1; Is 45:18). Atribui os fósseis humanos antigos aos pré-adamitas na primeira criação em Gen. 1:1 e que foram destruídos antes dos demais eventos da criação.  Esse cataclisma está relacionado com a queda de Satanás. (2) A teoria dos dois Adão. Declara que o primeiro Adão (Gen. 1) foi o Adão da Idade da Pedra, e que o segundo (Gen. 2), foi o Adão da nova Idade da Pedra, ancestral da raça humana de hoje.

b)   O criacionismo "fiat": Inclui todos os conceitos literais que insistem num dia de 24 horas por dia de criação em Gen. 1. Exige uma terra jovem (cerca de 10 mil anos) e um dilúvio universal para explicar os depósitos sedimentares. Rejeita todos os postulados científicos sobre a evolução e idade da terra.

c)   O evolucionismo teísta: Alegoriza o relato de Gênesis como representação poética das verdades espirituais da dependência humana de Deus Criador e dos atos simbólicos da desobediência na queda da graça de Deus. Aceitam a fidedignidade das Escrituras. A evolução orgânica foi o método que Deus utilizou para criar os seres humanos. Acreditam que a Bíblia diz apenas que Deus criou o mundo mas não diz como. Ciência e Bíblia devem se complementar.

d)   O criacionismo progressivo: Ressalta o aspecto de mútua complementação entre a ciência e as Escrituras na explicação da verdade de Deus. São capazes de reinterpretar as Escrituras à luz da ciência se for necessário. Por causa das evidências científicas sobre a idade da terra, aceitam a teoria de que um dia na narração de Gên. 1 é igual a uma era. Dia é o retrato de um período de tempo em vez de um dia de 24 horas. Quanto à evolução, aceitam apenas a teoria micro-evolucionista e têm dúvidas quanto à macro-evolução (símio para o homem) e à evolução orgânica (da molécula para o homem). Quanto ao dia de Gên. 1, variam as colocações: 1 dia=uma era geológica; 1 dia=1 dia intermitente modificado onde cada era da criação é antecedida por um dia solar de vinte e quatro horas; 1 dia=uma era com coincidência parcial, delimitada pela sentença: "Houve tarde e manhã".

e)   Teoria da catástrofe universal. Os dias da criação eram dias de 24 horas. As mudanças geológicas, as jazidas carboníferas são explicadas a partir do dilúvio na época de Noé.


2.1.2.3 REVELAÇÕES DE DEUS EXPLÍCITAS EM GÊNESIS 1 e 2:

a)   Elohim - El=Deus, divindade. Elohim é o plural majestático de Deus que sempre emprega o verbo no singular quando Elohim é o sujeito. O plural também se refere à plenitude de Deus. Na forma hebraica o plural às vezes expressa intensidade e plenitude. É a forma como Deus foi conhecido ao relacionar-se com o universo e difere do nome revelado diretamente ao povo de Israel (YHAWEH). Elohim revela o Deus criador e majestoso.

b)   Bara' – Põe à mostra o poder criador de Deus, vendo-o como criador, agente da ação, capaz de trazer à existência tudo o que existe. Este conceito de criação é conhecido como EX NIHILO (do nada). (Sal. 90:2; Neemias 9:6; Is 40:26; Am. 4:13; Mat. 19:4; At. 17:24-26; Rm. 1:25; 1 Cor. 11:9; Col. 1:16; Ap. 4:11 - Ex nihilo: Gen. 1:1ss; Sl. 33:6; Jo. 1:3; Rom. 4:17; Hb. 11:3). O verbo Bara' se refere sempre às atividades criadoras de Deus. No Velho Testamento é utilizado sempre relacionado a Deus. Está presente nos versos Gênesis 1:1, 1:21, 1:27. e se refere à criação da matéria, da vida animal e do ser humano. Significa cria do nada ou criar algo completamente novo, sem precedentes.

c)   "A terra era sem forma e vazia (...) e disse Deus..." - Caracteriza a surpreendente capacidade de organização em Deus. Sua mente organizada, bem como o seu poder e o seu propósito definido, demonstram um início e um fim previamente elaborado no processo de criação. (Salmo 19:1-6; Rom. 1:18-20). Revela ainda o Deus estético, que prima pela estética.

d)   "o Espírito de Deus se movia (estava se movendo)" – revela a personalidade dinâmica de Deus e seu cuidado protetor e sustentador (um esboço da revelação do Deus onisciente, onipotente e onipresente). (Is. 40:12-14; Sal. 139:1-6, 7, 8-16).

e)   "E viu Deus que era bom" – Existe algo de emocional na natureza de Deus, pois o seu estado emotivo se altera ao contemplar a criação. Entretanto, esta emotividade deve ser diferenciada da emotividade humana no que diz respeito ao controle e à pureza das emoções divinas. Deus é capaz de alegrar-se como também de entristecer-se, contudo a alegria de Deus é pura e sua tristeza não descamba para a prostração ou para a depressão. A Bíblia não fala de um Deus depressivo (Neemias 8:10; Sof. 3:17; Ef. 4:30).

f)      Gênesis 1:26-31; 2:4-25 – Deus não é um déspota, embora possamos ver que Ele toma para si a responsabilidade paterna por sua criação e a responsabilidade da provisão a fim de manter aquilo e aqueles os quais criou. Essa atitude de Deus não pode ser vista como paternalismo humano, pois todos os homens são finitos e falhos na tarefa da provisão e da educação, entretanto Deus sabe que sua criatura e criação não sobrevive sem Ele. Assim, sua atitude ao colocar-se como Pai e Provedor, demonstra uma personalidade responsável, amorosa e consciente.

g)   Gen. 1:26-27, 2:7 - revela o Deus que é capaz de compartilhar sua própria natureza com a humanidade. O plural: "Um de nós" está em concordância com o nome de Deus: Elohim, visto que o discurso está na forma direta. A teoria de que os anjos estivessem ativamente presentes na criação é duvidosa se comparada com Isaías 40:14 40:14; João 14:23 (17); Jó 38:1-10ss. Na queda o plural de plenitude também é utilizado e se for pensarmos nos anjos presentes, Deus estaria colocando-os em igualdade a si mesmo. A imagem de Deus, conhecida como "imago Dei", outorgada ao homem na criação refere-se à capacidade de conhecimento, à inteligência pessoal, à consciência moral, à perfeição moral original e à imortalidade. Não existe distinção entre os termos "imagem e semelhança". No hebraico não existe no texto a conjunção "e", tornando os termos sinônimos, um paralelismo hebraico. (Selem=imagem, demut=semelhança; eikon=imagem, homoiosis= semelhança), estes termos afirmam que o homem foi feito à imagem de Deus, e que Jesus Cristo, o Filho divino, é a imagem essencial do Deus invisível (Gen 1:26,27; 5:1,3; 9:6; 1 Co. 11;7; Col. 3:10; Tg. 3:9). Contudo isso não quer dizer que os homens sejam ou tornar-se-ão deuses. Em Gênesis 2:7, vê-se claramente a distinção entre Criador e criatura: "formou (yasah) o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida, e o homem tornou-se alma vivente". Deus é o agente de todas as ações expressas pelas formas verbais do texto: "formou, soprou-lhe" e o homem é o paciente sobre o qual recai as ações dos verbos e a conseqüência dessas ações fez do homem "alma vivente". A forma física provém da elaboração de Deus, a matéria provém da criação de Deus, o fôlego da vida (nishmat hayim) também provém de Deus. A natureza do homem, como manifestação da imagem nítida do seu Criador, é vinculada de modo consistente no AT com o conceito de Deus como Criador. O conceito de uma imagem pretende demonstrar que o homem não é divino como ?Deus, mas que ele manifesta na sua natureza um grau suficiente de divindade para lembrar aquele que o vê de que o homem reflete o Criador de uma maneira sem paralelo com qualquer outra coisa na criação. Nesse contexto, o salmista podia enaltecer o homem por ele ser um pouco inferior a Deus (Sl. 8:5). Quando, entretanto, a pureza do homem foi maculada pelo pecado da desobediência à vontade de Deus, a imagem de Deus no homem, concomitantemente, foi ofuscada. Já não é possível, pois, demonstrar a natureza de Deus como uma mera referência à natureza do homem. Agora, a Deidade só pode ser refletida com mais exatidão pela própria Deidade, fato este que as narrativas do AT tornam claro.

h)   Os quatro aspectos da imagem de Deus no homem:

·      Somente o homem tem um espírito imortal através do qual pode ter comunhão com Deus (nishmat haym, ruah).
·      O homem é um ser moral, tem livre arbítrio e consciência e pode dominar os seus instintos.
·       O homem é um ser racional, capaz de pensar no abstrato e formular idéias.

·      O homem tem domínio sobre a natureza e sobre os seres vivos.

        Tudo isso implica no conhecimento do propósito de Deus ao criar o homem: ter um ser com o qual pudesse relacionar-se mais intimamente (só o homem tem “ruah”, pois recebeu o “nishmat hayim” de Deus), ter um ser capaz de ser mordomo de toda a criação, ter um ser capaz de refletir as ações, atitudes e o comportamento de Deus.

2.1.2.4 REVELAÇÕES DE DEUS IMPLÍCITAS EM GÊNESIS 1 e 2:

a)   "No princípio" (Gen. 1:1) - Deus se mostra “fora” do princípio, isto é, transcendente ao princípio, ulterior a todas as coisas. Manifesta sua transcendência. Antes de criar Ele já existia. Causa primária. Alfa e ômega. Princípio e fim. (Sal. 90:2). Ora, o princípio não apenas demonstra o início da criação, coma também da história e do tempo. Assim, sendo Deus ulterior ao “princípio” o é também à história, à criação e ao tempo. Sua eternidade, portanto, está em evidência, bem como sua auto-existência. Deus é o Ser necessários, enquanto todos os outros, inclusive nós e os anjos, somos contingentes.

b)   Revela o Deus gracioso - sua obra criadora tem um propósito definido: uma relação de amor (“hesed”) com toda a criação, principalmente para com o homem. Demonstra uma relação altruísta. (Gen. 1:31; 2:7, 15-17, 18).

c)    Revela o Deus pessoal - que é capaz de criar, mover-se, ordenar, elaborar, organizar, agir, pensar. Deus se revela como uma pessoa. Em Gênesis 2:4ss Deus se revela como YHWH-ELOHIM (Javé Deus). Já aqui Deus é revelado como o Deus do pacto, da graça. O nome Javé é revelado a Moisés e isso mostra que Moisés, sendo o autor de Gênesis, demonstra que o Deus pessoal assim se revelara para Adão e Eva. Isso também exclui qualquer teoria que diz ter sido o universo criado por deuses.

d)   Revela o Deus que se compraz com o bem-estar, com a felicidade de suas criaturas: o Éden, a bênção, a mulher, os conselhos, tudo indica a orientação divina para aquilo que constrói. A provisão de Deus é sempre oriunda de ações construtivas e edificantes.

e)   Revela um ser livre e moralmente perfeito - não há qualquer registro que mostra Deus sentindo-se obrigado a criar, nem tampouco que, criando livremente, tenha usado de arbitrariedades. O poder de Deus permitia-lhe criar seres que jamais se afastassem da sua vontade, entretanto, a perfeição moral de Deus não pode estar em conflito com o seu poder. Assim, criar seres livres, ainda que optem pela desobediência, é mais correto moralmente do que criar seres subservientes que não sabem porque servem e obedecem.

f)      Caracteriza a primeira "revelação antropomórfica" sobre Deus: "no sétimo dia Deus descansou". (Isaías diz que Deus não se cansa - 40:28). Sábado quer dizer descanso, Adão significa ruivo (a cor da terra). Na introdução desta apostila falamos do antropomorfismo na linguagem usada pelos escritores do Velho Testamento ao escreverem a revelação de Deus. É comum Deus ser retratado como se tivesse as mesmas faculdades humanas, inclusive como se tivesse um corpo como o nosso.

2.1.3 A REVELAÇÃO DE DEUS DEPOIS DA QUEDA (GÊNESIS 3, 4)

        A única vez que encontramos o verbo “cair” no período que descreve a criação do universo e a formação do homem no Velho Testamento é quando o relato bíblico diz que: “Deus fez cair um pesado sono sobre Adão”. Entretanto essa ação de “cair” é para erguer algo novo, a mulher, que deveria ser a companheira de Adão.
        Entretanto, após a desobediência no Éden, o verbo “cair” toma outro sentido e se torna comum no Velho Testamento. Quase sempre este verbo descreve uma ação contrária à vontade de Deus, um movimento contrário à direção do céu. O “cair” acentua a distância entre o homem e Deus.
        No período da inocência, o relacionamento de Deus com a humanidade e da humanidade com Deus era totalmente desprovido de barreiras. Era um relacionamento íntimo e cheio de amor e realizações plenas. Entretanto, após o pecado, esse relacionamento ficou seriamente prejudicado, pois entre a humanidade pecadora e o Deus santo estava, agora, o pecado. Certamente que a partir daí a revelação de Deus aos homens ganha novos aspectos:

2.1.3.1 AS DIVERSAS TEORIAS SOBRE A ORIGEM DO MAL.

2.1.3.1.1 O ATEÍSMO - Nega a existência de Deus e admite a existência do mal.

1o ARGUMENTO:

a) Ou (a) a moralidade é certa porque Deus a determinou ou (b) Ele a determinou porque é certa.
b) Mas se (a), logo, Deus é arbitrário acerca daquilo que é certo, e não é essencialmente bom.
c) E se (b), logo, Deus não é ulterior, visto ser Ele sujeito a algum padrão além de si mesmo.
d) Mas em qualquer caso - se Deus não é essencialmente bom ou não é ulterior - Deus não é aquilo que os teístas dizem ser.
e) Logo, não existe um Deus teísta.

Crítica: O bem é baseado na vontade de Deus e Deus é soberano e não arbitrário. A natureza de Deus é a norma ulterior de acordo com a qual a sua vontade coopera.

2o ARGUMENTO:

a) Se Deus é totalmente bom, destruirá o mal
b) Se Deus é onipotente, pode destruir o mal.
c) Mas o mal não está destruído.
d) Logo, não há um Deus totalmente bom, onipotente.

Crítica: Há um limite de tempo subentendido na premissa 3. Pode ser que não se possa destruir o mal sem que se destrua o bem de permitir criaturas livres. O argumento pode ser assim:
a) Se Deus é totalmente bom derrotará o mal.
b) Se Ele é onipotente, pode derrotar o mal.
c) O mal ainda não está derrotado.
d) Logo, o mal será derrotado um dia

3o ARGUMENTO:

a) Deus e o mal são contraditórios.
b) Duas coisas contraditórias não podem existir simultaneamente.
c) Mas o mal existe.
d) Logo, Deus não pode existir.
Crítica: Não se pode provar que Deus e o mal sejam contraditórios. Assim o argumento ficaria:
a) Deus existe.
b) O mal existe.
c) Não há nenhum propósito bom para o mal.
d) Logo, não podem ser verdadeiros tanto (a) quanto (b).
e) Mas sabemos que (b) é verdadeiro.
d) Logo, Deus não pode existir.
Crítica: Não se pode provar que Deus não tenha um propósito bom para o mal. Para se ter certeza seria preciso saber de antemão que Deus não é totalmente bom, ou conhecer a mente de Deus, o que é impossível.

4o ARGUMENTO:

a) Se há um Deus moralmente perfeito, logo, ele sempre deve fazer o melhor que pode,  moralmente falando.
b) Mas este mundo não é moralmente o melhor mundo possível.
c) Logo, não há nenhum Deus moralmente perfeito.

Crítica: Não se pode argumentar dizendo que este mundo não é moral­mente o melhor mundo possível. Além do mais, pode ser que este mundo seja a melhor maneira de se alcançar o melhor mundo possível.
Os ateus dizem que os teístas empregam um padrão duplo: absolvem Deus e condenam os homens por práticas semelhantes. Acontece que Deus é soberano, Senhor da vida e criador da vida. Somente o ser que cria a vida tem o direito de tomá-la.

2.1.3.1.2 O PANTEÍSMO - Nega a existência real do mal e admite a existência de Deus.

Os panteístas dizem que o mal é apenas uma ilusão e que pode ser vencido e totalmente eliminado da natureza humana através de práticas ascéticas, exercícios e meditações. Entretanto, se o mal é apenas uma ilusão por que parece tão real? A favor dos ilusionistas existe atualmente a chamada imagem virtual, onde é possível sentir toda a emoção de um acontecimento embora o mesmo seja apenas uma ilusão. Entretanto, passado as causas cessam também os efeitos na questão virtualista, porém na vida passam as causas mas os efeitos permanecem ou talvez as causas nem chegam a passar.

2.1.3.1.3 O DUALISMO - Admite a existência co-eterna de Deus e do mal.

1o ARGUMENTO:

a) O bem e o mal são opostos.
b) Nada pode ser a fonte de seu oposto.
c) Logo, tanto o bem quanto o mal devem ter existido eternamente.

Crítica: O bem pode dar origem ao mal incidentalmente. Uma ambulân­cia que corre para salvar um doente pode acidentalmente atropelar um pedestre. De modo semelhante, um Deus bom pode determinar que os homens sejam livres para desfrutarem da vida, e assim, incidentalmente, dar-lhes poder de trazer a desgraça sobre si mesmos. Além do mais nem todos os opostos têm princípios primários, por exemplo, quente e frio são opostos, mas isso não quer dizer que existe um ser eterno e infinitamente quente e outro ser eterno e infinitamente frio.
2o ARGUMENTO:

a) Deus é o autor de tudo quanto existe.
2) O mal é algo que existe.
c) Logo, Deus é o autor do mal.

Crítica: Deus é autor de algumas coisas apenas indiretamente. Deus não cria o mal de modo direto ou essencial mas, sim, apenas incidentalmente. Deus é diretamente responsável somente pelo fato da liberdade, não por todos os atos da liberdade. Deus criou a possibilidade do mal quando fez homens livres. Entretanto a possibilidade do mal é realmente um bem - é necessária para se ter criaturas livres. Além do mais o mal não é uma coisa ou substância. O mal só existe se relacionado a um outro ser. O mal é uma privação ou ausência do bem. Nada pode ser totalmente mal, pois o mal existe noutra entidade e se esta entidade fosse totalmente mal deixaria de ser aquela entidade para assumir a entidade do mal. Uma privação é a ausência de algo que por natureza deveria estar ali. Quando se tira de algo todo o bem que possui não sobra nada (o mal é - ), quando se tira de algo todo o mal que possui o que sobre é melhor ( o bem é +)

2.1.3.1.4 O DEÍSMO - Admite a existência de Deus e do mal e tenta conciliar a questão.

a)   O finitismo: o bem não tem poder infinito na sua luta conta o mal. Deus ou não é infinito no amor e não se importa em vencer o mal ou não é infinito no poder e não pode vencer o mal. O deísmo abandonou a premissa mais importante: há de que há um Deus infinito, poderoso e amoroso.

b)   O necessitarianismo: era impossível para Deus evitar a criação de um mundo mau.

ARGUMENTO:

a) A criação flui necessariamente de Deus.
b) A criação necessariamente envolve imperfeições.
c) Logo, o mal é necessário.

Crítica: Apenas Deus é um ser necessário, todos os demais são seres contingentes e não podem impor qualquer necessidade ao ser necessário. Deus, como ser necessário, não pode não existir, entretanto os seres contigentes podem não existir.

2.1.3.1.5 TEÍSTA IMPOSSIBILISTA: Deus não poderia prever o mal. Esta é uma posição sustentada por alguns teístas.

1o ARGUMENTO:

a) Deus pode saber qualquer coisa que é possível.
b) Deus não pode saber o impossível.
c) É impossível saber de antemão o que criaturas livres farão
d) Logo, Deus não sabia que criaturas livres pecariam quando ele as fez.

Crítica: Os impossibilistas tentam isentar Deus da responsabilidade da presença do mal no mundo, argumentando sobre o seu desconhecimento sobre o que criaturas livres fariam. Mesmo se Deus não soubesse o que criaturas livres fariam, sabia o que poderiam fazer. Deus é um ser não-temporal (eterno) sabe tudo num único agora eterno. Não sabe de antemão, simplesmente sabe. Sabendo Deus no eterno presente o que flui da criação, logo sabe o mal que dela flui.

2o ARGUMENTO:

a) Se Deus sabe infalivelmente o futuro, logo, aquilo que Ele sabe forçosamente há de realizar-se.
b) Deus sabia que Judas trairia a Cristo.
c) Logo, Judas tinha de trair a Cristo.
d) O que alguém tem de fazer, não está livre para não fazer.
e) Mas Judas estava livre para não trair a Cristo.
f) Logo, Deus não sabia infalivelmente que Judas trairia a Cristo.
Crítica: Os impossibilistas, avaliando as premissas "e" e "f" dizem que ou Judas estava livre para não trair a Cristo e neste caso Deus não sabia infalivelmente que Judas o trairia, ou Judas não estava livre para não trair a Cristo e neste caso, Deus prevê o futuro e tornando-o não-livre. Se somos livres, Deus não pode saber com certeza o que faremos com nossa liberdade. Entretanto, por ser eterno, Deus não prevê qual mal será praticado, mas vê o mal que está sendo praticado. Não é contrário ao livre arbítrio saber o que o livre arbítrio está fazendo ou fará. Não é certo dizer que Deus sabia forçosamente o que Judas devia fazer, quisesse ou não, mas é certo dizer que Deus necessariamente sabia o que Judas contigentemente faria. Ou seja: o evento é necessário no que diz respeito à causa ulterior ( o conhecimento de Deus) mas contigente no que diz respeito à sua causa imediata (a livre escolha de Judas). "O fato de que o ato de traição era necessário, do ponto de vista da presciência de Deus, não significa que tal ato não era livre do ponto de vista de Judas. Disse Aquino que 'as coisas conhecidas por Deus são contingentes em face de suas causas contigentes (escolhas livres), embora a sua causa primeira, o conhe­cimento de Deus, seja necessária.'" A Confissão de Westminster diz: "Embora, em relação com a presciência e o decreto de Deus, a causa primeira, todas as coisas aconteçam imutável e infalivelmente, pela mesma providência, entretanto, ele ordenou que essas coisas aconte­cessem, de acordo com a natureza das causas secundárias, necessária, livre, ou contigentemente." Ou seja: Deus determinou que Judas trai­ria a Cristo, livremente. Haveria contradição se Deus forçasse Judas a livremente trair a Cristo, porque não pode haver liberdade forçada. Porém, se Deus simplesmente determina que judas livremente trairá, inexiste contradição pois Deus pode determinar, com a mesma certeza, através da escolha livre e sem escolha livre. Uma mente onisciente não pode enganar-se. "Só porque um fato foi determinado, isto não signi­fica que não seja livre. Os eventos do passado estão determinados, não podem ser mudados, embora tenham sido realizados, na maioria, livremente. Não se pode decidir mudá-los porque estão no passado e, por isso determinados para sempre. Daí não existe contradição entre um evento resultar de uma escolha totalmente livre e, ao mesmo tempo, ser totalmente determinado. Mas Deus sabe todas as coisas, pode saber o futuro, com a mesma certeza que sabe o passado. Assim, o futuro pode ser absolutamente determinado e, ainda assim, alguns eventos se­rem totalmente livres."
O impossibilismo resultou na Teologia do Processo, onde Deus esta­ria num processo de desenvolvimento com o mundo. Sabendo e intervindo apenas por suposição ou após os acontecimentos levados a efeitos por seres livres.

2.1.3.1.6 O TEÍSMO - Admite a existência do mal com propósito totalmente sob o controle de Deus.

Certamente uma das discussões mais acirradas após a reforma foi a compatibilização da soberania de Deus e o livre arbítrio do homem. Ampla tem sido a discussão sobre a causa das ações humanas. Alguns dizem que Deus é a causa primeira de tudo, outros dizem que não existem causas prévias para as ações de seres livres, outros, ainda, dizem que os seres livres são as causas de suas próprias ações. Ainda que seres livres sejam as causas de suas próprias ações, Deus é soberano e a história terminará como Deus quer que termine. Deus está no co­mando e no controle da história. "Não existe prioridade cronológica, ou lógica, de eleição ou presciência. Sendo um ser simples, todos os atributos de Deus formam uma unidade com sua essência indivisível. Daí decorre que tanto a presciência quanto a predeterminação são uma unidade, em Deus. Assim sendo, seja o que Deus sabe, Ele o determina. Seja o que for que Ele determina, ele sabe. Ou seja: Deus determina sabendo e sabe determinando, desde a eternidade, tudo quanto acontece, inclusive nossos atos livres. Sejam o que for que Deus pré-escolhe, não pode basear-se naquilo que ele sabe de antemão. Nem pode aquilo que ele prevê ser baseado naquilo que ele escolhe de antemão. Tudo isto é ação simultânea e coordenada de Deus. Assim, Deus conhecedoramente determinou e determinadamente soube, desde a eternidade, tudo quanto haveria de acontecer, inclusive todos os atos livres. (...) Deus apenas sabe (ele não antecipa o saber) aquilo que faremos com o nosso livre-arbítrio. Aquilo que temos, aquilo que somos e aquilo que decidiremos está presente diante de Deus em seu eterno AGORA. ... A presciência de Deus não significa, para ele, reordenação da qualquer coisa que ocorrerá mais tarde. Toda a extensão do tempo está presente na mente de Deus, por toda a eternidade. Deus não prevê os fatos, ele os conhece por estarem na sua presença eterna. Deus vê tudo quanto fazemos livremente. Aquilo que ele Vê, ele conhece. Aquilo que ele conhece, ele determina.
Toda a questão da soberania de Deus e o livre arbítrio do homem é fundamental para se entender o relacionamento de Deus com o homem e a presença do mal no universo. E, a partir da presença efetiva do mal no universo, toda a relação de Deus com o homem ficou afetada e a soberania de Deus se acentua na revelação aos homens. É preciso entender este aspecto. Por exemplo, a Bíblia fala amplamente da soberania de Deus sobre todas as coisas (Jó 42:2; Sal. 135:6; Prov. 21:1; Ap. 4:11; Col.1:17; Ef. 1:11; Ex. 9:16; At. 4:12, 1 Tm. 2:5, At. 2:23; Ef. 1:4; At. 13:48; Rom. 9:16,18; Fil. 2:13), e da responsabilidade do homens sobre suas ações (Gen. 2:16,17; Gen. 3:13; Jos. 24:15; 1 Reis 18:21; Mat. 23:37; Ped. 3:5; Rom. 6:16; Rom. 1:18-20; 2 Cor. 4:3-4; Ef. 4:18; Ex. 7:13,14,22; 8:15,19,32) e, às vezes a Bíblia coloca lado a lado a soberania de Deus e a responsabilidade do homem (At. 2:23; João 6:37; Atos 13:48/14:1).
Assim voltamos à pergunta pertinente e impertinente: De quem é a responsabilidade pela presença do mal no universo? Na mesma linha de raciocínio bíblico sobre soberania de Deus e livre arbítrio do homem a resposta é: A responsabilidade é de Deus e dos seres livres que ele criou. Da parte de Deus a responsabilidade é pela possibilidade de o mal tornar-se efetivo (incidentalmente), da parte do homem a responsabilidade é pela efetivação do mal no universo (diretamente). Assim o homem é os seres livres são os responsáveis morais pela efetivação do mal no universo.

2.1.3.2 Deus, embora conhecedor de todas as coisas, criou homens livres, moralmente responsáveis, inclusive livres para desobedecê-lo. Entretanto, Deus não os deixou sem conhecimento daquilo que lhes ocorreria caso optassem pelo pecado. Deus não se revela como paternalista, MAS COMO O DEUS QUE ZELA PELA SUA CRIATURA.

2.1.3.3 O homem tinha consciência da santidade de Deus e da sua nova natureza: pecador. Assim Deus se revela como aquele que não deixa passar o pecado impunemente. A presença santa de Deus não pode ser compartilhada com homens que se rebelam contra ele e por isso, pecam. (Gênesis 3:8).

2.1.3.4 Diante da realidade do pecado no mundo, Deus insiste com Adão e Eva, em forma indagações, sobre o que havia acontecido e que mudou tanto o relacionamento entre o homem e Deus. Estas perguntas não demonstram o desconhecimento de Deus sobre o que o casal haveria de fazer, mas sim APONTAM PARA A NECESSIDADE DE QUE TODO PECADO SEJA CONFESSADO (Gen. 3:9-13). O pecado é contra a natureza essencial do homem e mantê-lo oculto acarreta sentimentos de culpa, consciente e inconscientemente, o que nos prejudica física, psicologica e espiritualmente. (Salmo 32; Prov. 28:13; Tiago 5:13-16; 1 João 1:9-10; Salmo 51:3; Gênesis 32:9,23-24, 33:3-4; Êxodo 32:6-10, 30-35; ainda temos as experiências de Davi, do filho pródigo e tantos outros).

2.1.3.5 Deus se revela como o Deus justo, que pune o mal e exalta o bem (Gen. 3:14-20). Nem mesmo a natureza e a criação irracional foi poupada por causa do pecado.

2.1.3.6 Deus se revela como o Deus provedor do meio pelo qual a humanidade voltaria a ter comunhão com ele. Deus permitiu o mal, mas não o deixará impune e nem lhe permitirá vitória (Gen. 3:15).

2.1.3.7 Deus se revela como aquele que tem disposição para perdoar os pecados (Gen. 3:21). O verbo "vestir" tem sentido idêntico ao de "cobrir" (Kaphar - Kipper) que é o termo usado para perdão dos pecados (cobrir os pecados).

2.1.3.8 Deus se revela como o Deus de amor que, utiliza-se do sofrimento físico a fim de levar-nos a conquista do maior bem (Gen. 3:16-20). O sofrimento passou a ser um limitador da maldade.

2.1.3.9 Deus se revela como o único que detém o conhecimento do caminho da vida eterna. Há disposição para revelá-lo aos homens que o quiserem. (Gen. 3:22-24, 15). O ofício sacerdotal nada mais era do que um preparo para conduzir muitos à presença santa de Deus. Jesus, como o sumo-sacerdote, pela cruz, conduziria muitos à presença de Deus etenamente.

2.1.3.10 No episódio de Caim e Abel, Deus se manifesta:

a)   ADONAI - o nome revelado YWHW passa a ser temido e em seu lugar aparece ADONAI, uma forma que significa "Meu Senhor", um título de respeito, devoção e adoração. (Gen. Gen 4:1)

b)   Deus se revela como o Deus que aceita e participa do culto que lhe prestamos (Gen. 4:2-4). O culto passou a ser a forma de comunicação entre o homem e Deus.

c)   Deus se revela como o Deus que está interessado muito mais na motivação interior do ofertante que na espécie da oferta. Deus demonstra que toda oferta é apenas meio (imperfeito no VT) de restabelecer uma comunicação entre Deus e o homem. A oferta é por causa do homem e não por causa de Deus. Tudo Deus faz para reaproximarmo-nos dele. (Gen. 4:5-7).

d)   Deus se revela como alguém que busca a recuperação do homem (Gen. 4:6-7)

e)   Mais uma vez Deus exige a confissão de pecados e se revela como quem não tolera o pecado, mas ama o pecador a ponto de ser-lhe misericordioso (Gen. 4:9-16).

2.1.4 A REVELAÇÃO DE DEUS A NOÉ (GÊNESIS 6-9)

        Toda a revelação de Deus a Noé aponta para a soberania de Deus e seu absoluto controle sobre a história. Entre os aspectos da revelação de Deus a Noé, profundamente marcados pela queda, encontramos:

a)   O Deus que intervém (Gen. 6:3). Deus sempre intervém na história quando o pecado atinge níveis intoleráveis. Deus determina um tempo para que a humanidade se arrependa - 120 anos até a construção da arca - e então derramaria sobre a terra o seu juízo. Deus sempre dá oportunidade de reconciliação antes de derramar seus juízos.

b)   O Deus que possui sentimentos (6:6). É claro que Deus não se arrepende a nível humano. Esta é uma linguagem antropomórfica. Entretanto Deus se entristece e o pecado da humanidade é a principal fonte da tristeza de Deus.

c)   O Deus gracioso (6:8). Pela primeira vez aparece a palavra "graça" na Bíblia. Seu significado tira do homem qualquer mérito ao receber os favores de Deus, pois graça é favor imerecido, é dádiva de Deus aos homens e Noé foi objeto desta graça e por isso foi poupado da destruição. Ainda é pela graça de Deus que somos poupados da destruição.

d)   O Deus companheiro (6:9). Deus criou uma humanidade para ser-lhe companheira. Houve sempre homens que desfrutaram da companhia de Deus. O companheirismo de Deus é diferente da presença de Deus. Deus está presente em toda parte do universo, porém Deus só tem comunhão com aqueles que lhe são fiéis. Deus é o companheiro do seu povo: "Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos"; "Vós sereis meus amigos se fizerdes o que eu mando"; "...O Espírito de verdade que o mundo não conhece, mas vós o conheceis porque ele habita convosco e estará em vós."

e)   Os juízos de Deus (6:17 e 7:16). O pecado passou a despertar o juízo de Deus, algo desnecessário antes da queda. Deus tem absoluto controle sobre a sua criação e sobre o mal que possam fazer.

f)      O Deus da aliança (6:18). A aliança de Deus com Noé inclui a preservação milagrosa dele, de sua família e dos animais. Deus, pelo seu grande amor, preserva a sua criação.

g)   O Deus da providência (7:1). A arca é uma tipologia da cruz: por ela (Deus se coloca como salvador) Deus preserva os remanescentes de uma geração pecaminosa.

h)   O Deus misericordioso (8:1). Deus tem absoluto controle sobre a natureza. Ele ordena e ela obedece. É claro que Deus não se esquecera e Noé, daí, temos aqui mais um antropomorfismo que significa a plenitude dos tempos. Por ser misericordioso, Deus conclui o seu plano para com a humanidade. A misericórdia de Deus é um dos temas mais belas que encontramos na Bíblia. A misericórdia de Deus põe por terra qualquer tentativa de se caracterizar Deus pela atitude de vingança, de ódio, de destruição ou castigo que dele possa advir. Deus é, sobretudo, misericordioso, algo que o torna tolerante. A ira de Deus não é tempestiva, mas completamente esperada e pode ser evitada.

i)      O Deus persistente (8:15-19). Deus estabelece um novo começo. As ordens dadas a Adão são basicamente repetidas a Noé e sua família. Os planos de Deus não podem ser impedidos.

j)      O Deus longânime (8:20-21). Deus, apesar de a humanidade se rebelar contra ele, ainda é capaz de sentir prazer com o culto que seus servos lhe oferecem. O "aspirou" é mais um antropomorfismo e demonstra o quanto o culto sincero é capaz de mover o coração de Deus na comunhão com o cultuador.

k)   O Deus que sustenta (8:22). Na promessa de sustento de Deus está também determinado o fim da terra "enquanto durar". Mas até lá Deus não permitirá que a terra deixe de ser fértil. Se há homens passando fome não por culpa de Deus, mas por culpa do egoísmo da humanidade.

l)      O Deus dos pactos (9:1-2). O primeiro pacto foi feito com Adão, o segundo com Noé, depois com Abraão e sua descendência e finalmente, com o seu povo. Antes do pecado a liderança do homem era harmoniosa e natural, agora se faz pelo pavor e pelo medo.

m)           O que valoriza a vida (9:3-7). Além de valorizá-la, proibindo que o sangue (a vida) seja derramada, Deus demonstra claramente que tem um propósito para a humanidade.

n)   O Deus da vida eterna (9:15-16). A aliança de Deus é eterna o que inclui a redenção do universo. A redenção há de sobrepujar a queda e assim Deus vencerá o mal definitivamente. A salvação é eterna porque a aliança de Deus é eterna. No verso quinze Deus mostra que na plenitude dos tempos "se lembrará" (antropomorfismo) de sua aliança. Deus não está esquecido, apenas "aguarda a plenitude dos tempos".

o)   O Deus que habita nas alturas (11:7). Os caminhos de Deus são mais altos que os caminhos dos homens. Talvez por isso a humanidade nesse rudimento de progresso intentasse o mesmo que intentou Adão e Eva no Eden: serem iguais a Deus, rebelando-se contra ele. A ordem de Deus a Noé e seus familiares foi para que povoassem a terra e não que se ajuntassem numa torre (Babel=portão de Deus), a fim de serem seus próprios deuses. Curiosamente a escatologia prevê um líder universal e isso facilitará sobremaneira as ações de Satanás.

2.1.5 A REVELAÇÃO DE DEUS A ABRAÃO (GÊNESIS 11-50)

        A revelação de Deus a Abraão é acentuadamente teofânica.
        Teofania é uma revelação através de uma linguagem a respeito de Deus e refere-se às suas manifestações visíveis ou audíveis, quando Deus se apresenta de diversas formas concretas. Entre elas podemos citar: fenômenos da natureza, a glória de Deus, a face de Deus, o Anjo de Deus.
        A revelação teofânica possui uma forma literária específica assim demonstrada por Kuntz: "Inclui uma introdução (Javé apareceu), a auto-asseveração de Deus ("Eu sou o Deus de Abraão, teu pai), a pacificação do temor humano ("Não temas"), a asseveração da graciosa presença divina ("Eu sou contigo), hieros logos ("palavra santa": "abençoar-te-ei"), e a descrição final ("levantou ali um altar"). Este exemplo completo está em Gênesis 26:23-25. Nem sempre as teofanias apresentam todas estas fazes especificamente.

        Deus se revela a Abraão como o Deus da eleição e da providência.

2.1.5.1 Algumas revelações teofânicas de Deus a Abraão são:

        Gênesis 12:7; 15; 16:7-14; 17:1-8; 18:1-10; 21:17-21; 22:11-19.

2.1.5.2 Outras revelações importantes de Deus a Abraão e aos seus familiares:

a) O Deus que elege (Gen. 12:1-3);
b) O Deus da aliança (Gen. 12:2-3);
c) O Deus altíssimo - El Elyon (Gen. 14:19,20,22)
d) O Deus que vive e vê (o Forte que vê) - El Roi ( Gen. 16:13)
e) O Deus todo-poderoso - El Shaddai (Gen. 17:1)
f) O Deus da aliança (Gen. 17:9-15)
g) Antropomorfismo (Gen. 18:21)
h) Antropomorfismo (Gen. 22:12)
i) O Deus da provisão - Javé Jireh (Gen. 22:14)

        Além de todos esses aspectos da revelação de Deus a Abrãao, encontramos na história deste servo de Deus a forma como Deus lapida o caráter que caracteriza o seu povo. A principal mensagem que extraímos do relacionamento de Deus com Abrãao é que Deus leva os seus escolhidos ao limite de suas possibilidades para que aprendam a viver na dependência de Deus. Assim, Abraão deveria ser o pai de uma grande nação, mas casou-se com uma mulher estéril, foi desfiado a imolar seu único filho, teve que abandonar Agar e Ismael no deserto, teve que sair da terra prometida para não morrer de fome.

2.1.6 A REVELAÇÃO DE DEUS A MOISÉS

   A Moisés Deus se revela como o Deus eterno, fiel e salvador. Também aqui são muitas as forma teofânicas de revelação:

2.1.6.1 Revelações teofânicas de Deus a Moisés:

a)   Através do Anjo do Senhor ou Anjo de Deus, literalmente “Mensageiro de YHWH (Ex. 3:2-6; 14:19-22). Segundo Davidson, angelologia avançada não aparece senão nos livros apocalípticos do Velho Testamento (Ezequiel, Daniel e Zacarias), assim seria melhor traduzir a palavra “anjo” como “mensageiro” e deixar ao próprio contexto a decisão quanto à natureza do mensageiro, se é humano, sobre-humano ou uma referência reverente ao próprio Deus, como no caso do texto citado;

b)   através do fogo (Ex. 3:2-6); Ex. 6:1-8;
c)   nuvem e fogo (Ex. 13:21);
d)   nuvem, troves, relâmpagos, clangor de trombetas, fogo, erupção vulcânica, fumaça (Ex. 19:16-25);
e)   pedras preciosas (Ex. 24:9-10);
f)      a glória do Senhor (Kavod - doxa) (Ex. 16-18);
g)   os atributos de Deus (Ex. 34:5-8);
h)   nuvem (Num. 9;15:17);
i)      o fogo do Senhor (Num. 11:1-3);
j)      nuvem (Num. 12:5-10);
k)   a face de Deus (Ex. 33:11; Num. 6:25; Deut. 4:37, 34:10)

2.1.6.2 Outras importantes revelações a Moisés:

a) O nome de Deus revelado - YHWH (Ex. 3:14)
b) O Deus salvador (Ex. 12:1-14)
c) O Deus misericordioso e gracioso (Ex. 12:22-36)
d) O Deus soberano (Ex. 14:4)
e) O Deus que cura - Javé Rafá ( Ex. 15:26)
f) O Deus que nossa bandeira - Javé Nissi (Ex. 17:15)
g) O Deus da aliança (Ex. 24:1-8)
h) O Deus do perdão (Ex. 34:9-10)

        Na história do povo hebreu sob a liderança de Moisés, encontramos Deus selecionando, pelo próprio comportamento do homem, aqueles que entrariam na terra prometida. A caminhada pelo deserto até Canaã, que poderia ser feita em muito menos tempo, entretanto durou 40 anos. O povo ficou dando voltas no deserto até que valorizasse a terra prometida e se esquecesse do Egito. O número de voltas que vamos dar no deserto depende da nossa capacidade de renúncia e do desejo de deixarmos o Egito definitivamente no esquecimento. A cura dos males da alma se torna mais eficaz no deserto (Ex. 15:22-27). Deus não se agrada do nosso lamento quando, nos momentos de adversidade da vida, começamos a nos lembrar do passado, quando ainda estávamos cativos ou inseridos no pecado, cheios de sentimento de culpa ou de saudades. O “Egito” tem que ser uma página virada na história da vida do povo de Deus. Talvez até consultemos, vez por outra, esta página virada, mas apenas para relembrarmos os grandes feitos de Deus.
        É acentuada a revelação da misericórdia de Deus sob o povo hebreu na liderança de Moisés. Textos como Êxodo 9:18-25; 17:1-7, 8-15; etc, mostram que Deus sempre se mostra provedor, apesar das murmurações.
        A maneira como Deus preservou a vida de Moisés, mostra o quanto Deus é soberano, onisciente, onipotente. Seu conhecimento é inerrante, por isso, seus planos são infalíveis. Deus colocou Moisés dentro do palácio de Faraó para utilizá-lo, no momento oportuno, contra o próprio Faraó e em favor do seu povo.

2.1.7 A REVELAÇÃO DE DEUS NO PERÍODO TEOCRÁTICO

        Considera-se período teocrático, o período que Deus reinou sobre Israel através dos juizes e dos reis de Israel. Nesses períodos Deus utilizou os sumo-sacerdotes e os profetas para expressarem a sua vontade e revelarem os seus eternos propósitos. O período dos reis do povo hebreu, antes do reino dividido, pode ser considerado uma teocracia perfeita. Quando os reis do Reino do Norte e do Sul se afastaram da vontade de Deus, expressa pelos profetas, Deus os mandou para o cativeiro ou para o exílio, demostrando, assim, que Deus continuou reinando sobre seu povo.

        Através dos sumo-sacerdotes, juizes e reis, Deus conduzia o povo e a ele se revelava, manifestando a sua vontade. Algumas revelações de Deus nesse período:

a)   As vestes do sumo-sacerdote são profundamente reveladoras dos propósitos de Deus. Observe Êxodo 28:28-30: “Nunca o peitoral se apartará da estola sacerdotal”... Todas as vezes que o sumo-sacerdote entrasse no Santo dos Santos, era obrigado a vestir-se com as vestes sacerdotais. O peitoral não poderia nunca ser esquecido e no peitoral estavam os nomes, gravados em pedras preciosas, das 12 tribos de Israel. Desta maneira o sumo-sacerdote trazia, perpetuamente, os filhos de Israel à presença de Deus. “Nunca o peitoral se apartará...” mostra a inseparável união entre Deus e o seu povo, por intermédio daquele que viria e seria o Sumo-sacerdote que conduziria muitos à presença de Deus, no céu.

b)   “Assim Arão levará os nomes dos filhos de Israel no peitoral do juízo, sobre o seu coração, para memória diante do Senhor, continuamente.” O coração sendo o centro das emoções e sentimentos e, mesmo, da vida no pensamento dos escritores do Velho Testamento, é onde o peitoral repousa com os nomes do povo de Deus. O amor de Deus fez com que Jesus Cristo gravasse no seu coração todos os nossos nomes e os conduzisse, perpetuamente, à presença de Deus como nosso advogado.

c)   O Urim e o Tumim deveriam estar dentro do peitoral, sobre o coração. Eram duas pedras utilizadas para que o sumo-sacerdote conhecesse a vontade de Deus (Lv. 8:8; Nm. 27:21; Dt. 33:8; 1 Sm. 10:20; 28:6; Ed. 2:63; Ne. 7:65). O sumo-sacerdote, portanto, representava a perfeita vontade de Deus como intermediador do povo junto a Deus. Este ofício foi assumido com exatidão por Jesus Cristo. Portanto, na intermediação de Jesus Cristo, somos absolvidos, pois ele leva sobre o seu coração o juízo que estaria sobre nós. Observem a oração sacerdotal de Jesus Cristo em João 17 e comparem com este texto.

d)   Através do Espírito de Deus ( Juízes 3:10; I Sam. 10:9-10, 19:20-24). A manifestação do Espírito de Deus no período dos juízes é o prenúncio para a grande atividade do Espírito de Deus no período profético, desde antes do cativeiro do Reino do Norte até o fim do Império Persa. Nas manifestações do Espírito de Deus encontramos uma nova maneira de Deus expressar sua vontade, seu caráter, seus propósito. Deus é vencedor das batalhas que preside; Deus orienta e sustenta aos que convoca; Deus protege aos que envia contra as artimanhas do inimigo.

e)   No período profético, os profetas falavam em nome de Deus, movidos pelo Espírito de Deus. Assim, as formas anteriores de Deus se revelar foram mudadas pela voz profética. Durante o período profético, são escassas as aparições do anjo do Senhor. As teofanias, os antropomorfismos, o discurso direto, o sacerdócio, todas estas maneiras de revelação mudam para a voz profética e multiplicam-se as visões. No período profético, portanto, predominam as revelações pelo Espírito de Deus e por visões aos profetas que foram levantados pelo próprio Deus para revelarem a sua vontade e o seu caráter.

2.1.8 A REVELAÇÃO DE DEUS A DAVI (1 SAMUEL 16-1 REIS 2, 1 E 2 CRÔNICAS)

        Embora Davi esteja dentro de período Teocrático, a revelação de Deus a Davi é tão especial que merece ser vista à parte.
        Ao Rei Davi Deus se revela como o Deus que há de cumprir suas promessa messiânicas. O relacionamento de Deus com Davi é marcado pelo perdão, misericórdia, graça, proteção e conquistas. Davi foi o rei que se aproximou de Deus como servo e como amigo de Deus (1 Sam. 16:3-13; 2 Sam. 7:4-17). Do relacionamento de Deus com Davi temos a expressão máxima da revelação dos propósitos de Deus e o caráter de seu amor HESED, ‘AHAB e de sua graça. É com Davi que as profecias messiânicas, os salmos messiânicos e a esperança messiânica tomam forma. O Messias sairia da casa de Davi e seria um rei perpétuo sobre Israel e reinaria sobre todas as nações. Este reino sucederia aos juízos de Deus sobre os inimigos do povo de Israel e sobre os idólatras de Israel. O reino messiânico seria um reino de justiça social, de paz, de soberania, de realizações e adoração a Deus.
        Do relacionamento com Davi, conclui-se que Deus procura adoradores sinceros, contritos, quebrantados e que assumam suas verdadeiras naturezas e carateres e procura aprimorá-los através da graça, do perdão, do amor que Deus oferece.
        Os profetas desenvolvem suas profecias, a partir de Davi, apontando para o dia em que os povos seriam julgados com justiça e com retidão. Esse dia é o Dia do Senhor e após ele Israel reinaria através do Ungido do Senhor e as características desse Reino é de harmonia, onde os conflitos de toda ordem teriam fim. Deus revela, portanto, a partir de Davi, muito das características do seu Reino, o Reino de Deus, tão evidente no Evangelho de Mateus e que termina, em Cristo, sendo a esperança da Igreja.



1 UNIDADE I - DEUS PAI

INTRODUÇÃO


A revelação bíblica de Deus foi progressiva e utilizou-se de diversos métodos. O nome revelado de Deus mais os títulos que o povo de Israel ou o próprio Deus lhe conferiu faz parte desta revelação progressiva de Deus, revelando o seu ser, a sua essência e sua relação com sua criatura de forma geral. O Velho Testamento, pela natureza da religião monoteísta dos hebreus, caracteriza Deus na pessoa do Pai (conforme entendem os teístas), entretanto os nomes de Deus revelam a essência de Deus dentro desta revelação progressiva, ainda que no Velho Testamento tais nomes estejam relacionados às ações de Deus na pessoa do Pai, pois para o hebreu não havia ainda uma teologia da Trindade sistematicamente formulado e nem tampouco uma doutrina clara nesse sentido.
Ao estudarmos os nomes de Deus, precisamos ter em mente a natureza teológica desses nomes e não suas formas simbólicas. O nome na cultura hebraica estava relacionado às características intrínsecas das pessoas e não ao aspecto da beleza do nome em sua forma escrita. Alguns personagens bíblicos, pela experiência profunda que tiveram com Deus também tiveram seus nomes mudados: Abrão para Abraão, Jacó para Israel, etc., e todos os nomes estavam de certa forma relacionados às experiências dos pais com Deus ou às circunstâncias dos nascimentos dos filhos: Moisés, Samuel, etc. Assim, precisamos entender os nomes de Deus dentro do pensamento cultural hebreu a fim de chegarmos ao conhecimento mais profundo da natureza e da essência de Deus:

1.1 SUBUNIDADE 1 - NOMES E TÍTULOS DE DEUS


a)                           'EL - Gen. 33:20 - força (ser forte), poder (ser poderoso), ligar. Este é o nome mais primitivo de Deus e está relacionado ao nome genérico de Deus e que diz respeito à sua essência, manifestando o seu poder , sua transcendência e imanência.

b)                           ELOHIM - Gen. 1:1ss - plural de 'EL. É usado sempre com o verbo no singular. Expressa a relação de Deus com o universo e com os povos não israelita. Expressa Deus como criador e a forma plural é majestática, mostrando a profundidade e sublimidade do ser ao qual se refere.

c)                           'EL ELYON - Gen. 14:20 - "Deus Altíssimo". Não traduz a idéia de espaço, pois Deus é onipresente, mas traduz o conceito de transcendência, superioridade, soberania, distinção.

d)                           'EL SHADDAI - Ex. 6:3 - "Deus Todo-Poderoso". Revela o ser ilimitado no poder e que corresponde ao atributo da onipotência. Este nome foi manifestado pelo próprio Deus, antes de revelar-se como YHWH. Com exceção do nome revelado a Moisés, todos os demais nomes derivados de YHWH partem da relação do homem com Deus que, devido às ações de Deus, vão cada vez compreendendo a natureza, a essência e o ser de Deus.

e)                           YHWH - Ex. 3:14-15 - "Eu Sou" - O nome revelado a Moisés. Expressa a relação de Deus com o povo de Israel. Possivelmente derivado da raiz do verbo "ser" (hava), o substantivo JEVEH (1a pessoa do singular do verbo ser) significa "eu sou". Conotação: O DEUS PRESENTE (a presença de Deus foi garantida a Moisés - Ex. 3:12-14)); O DEUS LIVRE ou A LIBERDADE DE DEUS; A ETERNIDADE DE DEUS; O DEUS DA ALIANÇA (Ex. 19:1-8).

f)                              JAVE JIREH - Gen. 22:13-14 - "O Senhor Proverá". Surge da experiência profunda de Abraão com Deus e de sua fé inquestionável num momento de dura provação.

g)                           JAVE NISSI - Ex. 17:15 - "O Senhor é Minha Bandeira". Surge da experiência do povo hebreu com Deus, onde Ele atua com aquele que luta e vence pelo seu povo.

h)                           JAVE SHALOM - Jz. 6:24 - "O Senhor é Paz". Livre da condenação da morte pela consciência de que vendo Deus o homem morreria, Gideão entende que Deus não se interpõe como inimigo do homem, mas como aquele que busca um relacionamento harmonioso.

i)                              JAVE SABAOTH - 1 Sm 1:3 - "O Senhor dos Exércitos". É o nome expresso na experiência de Elcana e Ana que, embora não tivessem filhos, serviam a Deus de contínuo, expressando a submissão àquele que comanda os exércitos dos céus e da terra e, portanto, é soberano e a Ele servimos incondicionalmente.

j)                              JAVE MACCADESHKEM - Ex. 31:13 - "O Senhor que te Santifica". Na experiência do povo hebreu com Deus, ficou claro que Deus é santo e esse lhe um atributo próprio porém comunicável aos homens e só pela sua absorção chegamos diante de Deus.

k)                           JAVE RAAH - Sl. 23:1 - "O Senhor Meu Pastor". Expressa a dependência do homem e o grande amor e poder de Deus.

l)                              JAVE TSIDKENU - Jr. 23:6 - "O Senhor Justiça Nossa". Jeremias, na sua vidência de profeta, antevê o Renovo que procede de Davi como aquele que justificaria o povo de Israel. Esse é um atributo que diz respeito à justiça de Deus e suas exigências. Esta é uma profecia messiânica que mostra em quem a justiça de Deus seria satisfeita a fim de justificar os pecadores.

m)                        JAVE 'EL GMOLAH - Jr. 51:56 - "O Senhor Deus da Recompensa". O Senhor, por causa da sua justiça, é justo juiz. Seus juízos são perfeitos e estão relacionados ao seu amor, santidade e justiça.

n)                           JAVE NAKEH - Ez. 7:9 - "O Senhor que Fere". O pecado suscita a ira de Deus e os seus juízos contra os ímpios e rebeldes. A Deus pertence a “vingança” pois seus juízos são perfeitos.

o)                           JAVE SHAMMAH - Ez. 48:35 - "O Senhor que Está Presente". Pressupões a onipresença de Deus.

p)                           JAVE RAFÂ - Ex. 15:26 - "O Senhor que te Sara". Sua soberania e seu poder fazem dele o médicos dos médicos, pois, como Criador, conhece a natureza humana totalmente.

1.2 SUBUNIDADE 2 - O REINO DE DEUS


1.2.1 Esta expressão não consta explicitamente no VT, mas é clara na linguagem implícita dos seus escritores. Deus é o Rei cujo reino não tem fim.

1.2.2 O Desenvolvimento da doutrina:
Abraão (1900 a.C.) - Moisés (1300 a. C. - fundador da Nação Israelita e organizador de sua religião) - libertação (Ex. 15:1-21) - a aliança (Ex. 19:1-8) - a posse da terra e o regime tribal (1200 a. C. - Deus falava através dos sacerdotes e juízes) - o regime monárquico (1000 a.C - Deus falava através dos profetas) - a separação do povo em dois reinos - 975 a.C. - a decadência do reino de Israel e de Judá - 721 a.C. e 587 a.C. - os remanescentes de Isaías (Is. 2:11,12; 6:1-8; 10:5-19; 6:13; 4:2-4; 10:20-22; 37:30-32; 8:1; 7:3; 46:33; 49:21) - outras referências: Ez. 6:8; Jr. 50:28. O reconhecimento de Deus como Rei: Sal. 2:6; 5:2; 10:16; 24:7ss; 29:10; 47:9; 72:11; 74:12; 84:3; 102:15; 138:4; 149:2; Is. 32:1; 33:22; 43:15; Jr. 10:10; Zc. 14:9.

1.3 SUBUNIDADE 3 - OS ATRIBUTOS DE DEUS

DEFINIÇÃO: Propriedade intrínseca de Deus que o distingue dos demais seres.

1.3.1 CLASSIFICAÇÃO POSSÍVEL

1.3.1.1 INCOMUNICÁVEIS E COMUNICÁVEIS OU ABSOLUTOS E RELATIVOS OU IMANENTES E TRANSITIVOS OU CONSTITUCIONAIS E PESSOAIS.

1.3.1.1.1 INCOMUNICÁVEIS, ABSOLUTOS, IMANENTES OU CONSTITUCIONAIS:

a)                           SIMPLICIDADE  (João 4:24)

b)                           UNIDADE (Deut. 6:4)

c)                           INFINITUDE (1 Reis 8:27; Atos 17:24)

d)                           ETERNIDADE (Gên. 21:33; Salmo 90:2)

e)                           IMUTABILIDADE ( Tiago 1:17)

f)                              ONIPRESENÇA (Salmo 139:7-12)

g)                           SOBERANIA (Efésios 1)

h)                           ONISCIÊNCIA (Mat. 11:21)

i)                              ONIPOTÊNCIA (Apoc. 19:6)

1.3.1.1.2 COMUNICÁVEIS, RELATIVOS, TRANSITIVOS OU PESSOAIS:

a)                           JUSTIÇA  (Atos 17:31)

b)                           AMOR (Efésios 2:4-5)

c)                           VERDADE (João 14:6)

d)                           LIBERDADE (Isaías 40:13-14)

e)                           SANTIDADE (1 João 1:5)

1.3.1.2 METAFÍSICOS, INTELECTUAIS, ÉTICOS, EMOCIONAIS, EXISTÊNCIAIS, RELACIONAIS.

1.3.1.2.1 METAFÍSICOS:

a)                           AUTO-EXISTENTE e NÃO CAUSADO (João 5:26)

b)                           ETERNO ( Salmos 29:10; 48:14)

c)                           IMUTÁVEL (Salmo 102:25-27; Tiago 1:17; Heb. 6:17-18; Heb. 1:10-12; Mt. 5:18)

1.3.1.2.2 INTELECTUAIS:

a)                           ONISCIENTE (1 João 3:20; João 21:17; Sal. 139; Hb. 4:13; Is. 44:7-8, 25-28)

b)                           FIEL (Ap. 19:11; 19:2; 21:5; 22:6; Hb. 10:23; 1 Jo. 1:9; 1 Ts. 5:23-24; 2 Ts. 3:3; 1 Cor. 10:13; 2 Tm. 2:13)

c)                           SÁBIO (Rm. 16:27; Rm. 11:33; Pv. 1:7)

1.3.1.2.3 ÉTICOS:

a)                           SANTO (Salmo 5:4; Habacuque 1:13; Tiago 1:13-14; Isaías 40:25)

b)                           JUSTO OU RETO (Salmo 72:12-24; Is. 65:17; Rm 1:18-32; Rm. 2:1-3:20; Rm. 1:17; 3:21,24; 4:3,21,24)

c)                           AMOR ( Isaías 57:`15; Atos 17:25; 1 Jo. 4;8; Dt. 7:7; Ef. 1:4-5; Jo. 3:16)

1.3.1.2.4 EMOCIONAIS:

a)                           ABORRECE AO MAL (Naum 1:3,6)

b)                           LONGÂNIMO (Gen. 15:16; Ex. 34:6; Sl. 86:15)

c)                           COMPASSIVO (Lm. 3:22; Mq. 7:19; Mt. 15:32; Mt. 20:34; Lc. 7:13; Lc. 10:33; Lc. 15:20; Jo. 17:5,13)

1.3.1.2.5 EXISTENCIAIS:

a)                           LIVRE (ÊX. 3:14-15; Rom. 9:15-16;11:33-36)

b)                           AUTÊNTICO (1 Cor. 2:11)

c)                           ONIPOTENTE (Mc. 14:36; Lc.  1:37; Is. 14:24-27;  2 Cron. 7:14; Rm. 1:24)



1.3.1.2.6 RELACIONAIS:

a)                           TRANSCEDENTE NA SUA EXISTÊNCIA ( Jo. 8:23)

b)                           IMANENTE NA SUA ATIVIDADE PROVIDENCIAL (Sl. 104)

c)                           IMANENTE NA SUA ATIVIDADE REDENTORA (Is. 57:15)

2 UNIDADE 2 - DEUS FILHO


INTRODUÇÃO


Embora o culto judeu ganhou a expressão no Velho Testamento de um culto puramente monoteísta, no sentido de ater-se na pessoa de Deus como Pai, a revelação profética, dada pelo próprio Deus, demonstra sua triunidade. Pode-se, de forma velada, perceber a preexistência do Filho de Deus e suas ações no Velho Testamento.

As provas da preexistência do Filho de Deus podem ser vistas nos seguintes textos:

a)                           Nomes e pronomes pluralizados referentes a Deus no V. T.: Gen. 1:1, 26; 3:22; 11:6-7; 20:13; 48:15; Is. 6:8. Alguns teólogos têm concordado que as formas pluralizadas do nome e dos pronomes referentes a Deus no Velho Testamento, servem como prova de uma pluralidade de pessoas.

b)                           A distinção entre SENHOR e o SENHOR: Gênesis 19:24; Oséias 1:7 (II Tm 1:18); Sl. 2:7(A eterna geração do Filho por parte do Pai); Isaías 9:6; Miquéias 5:2; Salmo 110.

c)                           As ações atribuídas ao Filho no Velho Testamento: Na criação como o Verbo de Deus “...e disse Deus” (Gen. 1:3,6ss., Prov. 8:30; confirmar Col. 1:16,17).

d)                           As referências “Filho”, “Senhor” e “Anjo do Senhor”: Filho (Salmo 2:7); Senhor (Gen. 19:24; 18:13,14,17,19,20,33; Os. 1:7; Sal. 45:6); Anjo do Senhor (Gen. 16:7-14; 22:11-18; 31:11-13; Ex. 3:2-5; Ex. 14:19; 23:20; 32:34; Nm. 22:22-35; Juízes 6:11-23; 13:2-25; I Reis 19:5-7, 9-18; II Reis 19:35; Zc 1:11; 3:1).

2.1 SUBUNIDADE 1 - A PROMESSA DO MESSIAS


2.1.1 CONCEITUAÇÃO
        A promessa do Messias, segundo o pensamento dos profetas, significava o aperfeiçoamento do Reino de Deus, o triunfo final da justiça de Deus no mundo. Este reino aperfeiçoado na sua plenitude seria realizado com a vinda e o governo do Messias, o servo do Senhor.
        O pensamento do reino messiânico desenvolveu-se de forma gradual, embora a esperança messiânica esteja relacionada, no pensamento dos escritores do Antigo Testamento, com as várias atividades providenciais do Senhor na história de Israel, desde a chamada de Abraão até o novo concerto de Jeremias e Ezequiel. Desta forma, o conceito de “reino messiânico” é mais antigo do que a frase que aparentemente tem a sua origem na promessa de Deus a Davi (II Sam. 7:11-16).

2.1.2 RELAÇÃO COM A ELEIÇÃO
        A promessa do Messias e o reino messiânico têm que ser vistos à luz da eleição de Israel. A distinção principal da história hebraica é a profecia, e por meio da profecia o Senhor dirigiu a história de Israel de acordo com o seu eterno propósito, que realmente inclui todas as nações e povos do mundo. A promessa de Deus a Abraão é amplamente reconhecida pelos escritores bíblicos. Ela apresenta-se 5 vezes no livro de Gênesis, com pouca variação, e sempre com ênfase na bênção para as nações. Isto é, o reino messiânico seria, a partir de Israel, bênção para as nações. Este é o elemento mais enfático da promessa a Abraão: por intermédio dele e da sua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra. Esta promessa apresenta-se como eterna e universal na aplicação de seus benefícios (Gen. 17:7,19).
        A eleição de Israel para o benefício das outras nações é reconhecida como passo importante no cumprimento da promessa patriarcal. A missão messiânica de Israel é amplamente reconhecida pelos profetas: “O Senhor te estabeleceu para si como um povo santo, como te prometeu com juramento, se guardares os mandamentos do Senhor teu Deus e andares nos seus caminhos. Todos os povos da terra verão que tu és chamado pelo nome do Senhor; e terão temor de ti” (Deut. 28:9,10). O Senhor Javé é Deus de todas as nações, toda a terra é dele, e em tudo que ele fez pelos patriarcas, e mais tarde pelos filhos de Israel, visava o seu propósito eterno de abençoar todas as famílias da terra. É claro para os escritores bíblicos que o Senhor escolheu Israel para servir como meio de conseguir o propósito do Senhor, revelado na promessa patriarcal.

2.1.3 ORIGEM DO CONCEITO DE REINO MESSIÂNICO
        A origem do conceito do “reino messiânico” e a base das profecias messiânicas estão no concerto do Senhor com Davi: “Também o Senhor te diz que ele mesmo te fará uma casa. Quando os teus dias são cumpridos, e te deitas com teus pais, suscitarei depois de ti o teu filho (semente) que sairá das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Ele edificará uma casa para o meu nome, e eu estabelecerei o trono do seu reino para sempre. Eu serei o seu pai, e ele será o meu filho. Quando ele cometer a iniqüidade, castigá-lo-ei com varas de homens, e com açoites de filhos de homens. Mas o meu amor imutável não se apartará dele (não o retirarei dele), como o retirei de Saul, a quem tirei diante de ti. Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; o seu trono será estabelecido para sempre” (II Sam. 7:11-16; I Cron. 17:1-15).
        O reino messiânico não se distingue, no sentido absoluto, do reino de Deus. Para o indivíduo, o reino de Deus é a presença do Senhor no seu espírito, a harmonia da sua vontade com a vontade divina de tal maneira que a sua vida inteira seja divinamente orientada em perfeita harmonia com o Espírito do Senhor. O Reino de Deus, como o reino messiânico, é também social. O reino messiânico é do próprio Senhor. Desde o tempo de Moisés até a fundação da monarquia, o governo de Israel foi uma teocracia ou o governo de Deus.

2.1.4 A LINGUAGEM DO VT SOBRE O REINO MESSIÂNICO

        Muitos salmos acentuam o governo futuro do mundo pelo Senhor: 47, 67, 89, entre outros. O grupo dos Salmos 93 a 100 é designado como salmos “teocráticos”, porque são profecias do advento e governo do Senhor em algum tempo indefinido no futuro. O costume de cantar os salmos no culto público mantinha acesa a esperança no Messias vindouro, pois os salmistas, como os profetas, se interessavam na esperança messiânica. O tema do Salmo 93 é a majestade do Senhor como o Rei do universo. O Salmo 94 é um apelo à justiça do Senhor contra os malfeitores.
        O profeta Daniel dá ênfase ao triunfo do reino messiânico na luta com as forças do mal. Todos os reinos que dependem apenas do seu próprio poder são destinados à perdição. Mas o reino messiânico, de origem humilde, será vitorioso sobre todos os reinos da terra. Estabelecido pelo Deus do céu, o reino do Senhor se tornará soberano, universal, indestrutível e eterno (Dan. 2:44,45). O reino do Senhor será estabelecido por intermédio do seu povo escolhido. O Salmo 22 apresenta um exemplo da confiança que os profetas e o salmista tinham de que o reino do Messias haveria de ganhar a adesão de todos os povos do mundo.
        O conceito do Messias não se originou com Davi, mas por causa da sua maravilhosa carreira, escritores bíblicos ligaram a esperança a ele ou à sua descendência, fazendo do seu nome o símbolo do Rei Messiânico.
        A profecia de Isaías 7:14: “Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal. Eis a donzela (parthénos, virgem), conceberá e dará à luz um filho, e lhe dará o nome Emanu El. Ele comerá manteiga e mel, e quando souber rejeitar o mal e escolher o bem, será desolada a terra ante cujos dois reis tu tremes de medo”, apesar das várias interpretações, revela três aspectos importantes: 1) HÁ’ALMA (virgem) tem o artigo definido, o que preconiza um termo que poderia ser reconhecido pelos contemporâneos do profeta; 2) a declaração “a donzela dará à luz um filho” encontra-se em um dos textos de Rás Shamra, usada aparentemente com referência ao nascimento divino ou real; 3) o conceito “Deus conosco” era usado no culto, como no Salmo 16: “O Senhor dos Exércitos está conosco”. Outro fato interessante é que manteiga e mel são conhecidos entre os semitas como o alimento dos deuses. O sinal divino e todas as palavras do profeta indicam que não está falando do nascimento de qualquer filho, mas de um filho divino.
        A promessa do Messias fica evidente pelos nomes com os quais o profeta Isaías trata aquele que há de vir como rei: “um menino”, “um filho”, “Maravilhoso Conselheiro”, “Poderoso Deus”, “Eterno Pai”, “Príncipe da Paz”, “Rebento”, “Renovo” (9:6,7; 11:1-5; 10:21; 28:29).
        O Messias de Belém é descendente de Davi (Is. 61:1,2; Lc. 4:18,19; Miq. 5:2-4; Mt. 2:6).

2.2 SUBUNIDADE 2 - A FUNÇÃO SACERDOTAL

2.2.1 CONCEITUAÇÃO
        O sacerdote, o rei, o profeta e o Servo do Senhor são figuras proeminentes nas Escrituras do Velho Testamento. São agentes e servos do Senhor. Cada um deles representa, na sua pessoa e no seu serviço, um ideal visado no aperfeiçoamento da teocracia que servia.

2.2.2 A FUNÇÃO SACERDOTAL
        O sacerdote é ministro do Senhor. O concerto representa a relação entre Deus e o povo. O Senhor é o Deus de Israel, e Israel é o povo do Senhor. A lei cerimonial foi um meio de separar o povo escolhido do mundo para o serviço do Senhor. Esta nação santificada e assim preparada para o serviço é designada como um reino de sacerdotes. Todos os homens da nação sacerdotal tinham o privilégio de aproximar-se de Deus no serviço. Como intermediários entre o povo e Deus, os sacerdotes tinham que chegar perante o Senhor no serviço. Tinham que ser semelhantes, tanto quanto possível, ao Senhor no seu caráter e nos seus motivos. O ideal da santidade do sacerdote não podia ser perfeitamente realizado, mas podia ser representado simbolicamente, para ensinar ao povo um entendimento cada vez mais claro do ideal. O sumo sacerdote, representando as virtudes e a santidade de toda a casta sacerdotal, era o único que podia entrar no lugar santíssimo, como intermediário entre todo o povo e o Senhor, porém, apenas uma vez por ano.
        O sistema sacrificial culminava no grande dia de expiação. Este era o dia mais santo e mais importante na vida religiosa do povo de Israel. Todo o possível era feito para por em relevo o significado da expiação de todos os pecados de todas as pessoas da coletividade do povo do Senhor. O tabernáculo, o altar e o sacerdote tinham que ser ungidos "para os santificar" para o serviço (Lev. 8:10-12).

2.2.3 O OBJETIVO DO SISTEMA SACERDOTAL

        O resultado conseguido pelo sacrifício oferecido pelo sacerdote em favor do povo era o perdão dos pecados. A palavra hebraica KAPHAR, em várias formas, é usada para descrever o efeito da oferta apresentada em qualquer tempo em favor do pecador, ou em favor de todo o povo pecaminoso, quando apresentada pelo sumo sacerdote, no santíssimo lugar, no grande dia de expiação. O sentido etimológico de KAPHAR é duvidoso. O substantivo KOPHER é usado em muitos lugares no sentido de resgate ou preço da vida (Ex. 21:30; Jó 33:24; Prov. 6:35; Is. 43:3). O piel, ou intensivo KIPPER , é usado no sentido de resgatar, expiar, propiciar, reconciliar, cobrir. Os sacrifícios visavam apenas os pecados cometidos por ignorância ou por enfermidade. As ofertas cobriam os pecados de pessoas que pertenciam ao povo do concerto, a fim de reter, ou manter, a comunhão desembaraçada com o Senhor.
        O efeito do sacrifício era apenas símbolo do arrependimento que o acompanhava, e por si só não tinha qualquer eficácia, senão no espírito do ofertante, segundo o esclarecimento da religião puramente ética ou espiritual, pelos profetas. A oferta teve o efeito de aliviar o espírito do ofertante do sentimento de culpa. Não há diferença essencial entre o ato de cobrir o pecado pelo sacrifício, e o de conseguir por meio de oração que o Senhor esconda a sua face do pecado.

2.3 SUBUNIDADE 3 - O SACRIFÍCIO

A FUNÇÃO DO SACRIFÍCIO

        O povo de Israel, libertado e escolhido pelo Senhor, apresenta-se, desde o Monte Sinai, como povo salvo pela graça de Deus, separado, escolhido ou eleito e dedicado, segundo o concerto, ao serviço do Senhor. Mas nem o amor imutável (HESED) do Senhor poderia prender qualquer israelita contra a sua própria vontade. O livre-arbítrio dos israelitas fez com que alguns escolhessem rebelar-se contra o Senhor e perderem o seu lugar entre o povo escolhido.
        O sistema sacrificial nunca se apresenta em qualquer lugar como meio de salvação. "Os sacrifícios foram assim oferecidos a Deus, que estava em relações de graça com o seu povo. Não foram oferecidos para alcançar a sua graça, mas para retê-la, ou para evitar que a comunhão existente entre Deus e o seu povo fosse interrompida ou terminada pelas imperfeições ainda inevitáveis do seu povo, quer seja de indivíduos, quer seja do povo inteiro."
        Morando no ambiente politeísta, e associados com vizinhos corrompidos, os israelitas tinham que lutar para manter a fidelidade ao seu Senhor. Reconhecendo que o povo, na sua enfermidade moral, poderia cair em várias qualidades de erros, o Senhor estabeleceu o sistema de sacrifícios e ofertas para fazer expiação dos pecados de enfermidade e ignorância. Assim o sistema ritual foi instituído para tratar de pecados cometidos dentro do concerto. Deste modo ofereceu ao povo meios de livrar-se do sentimento de culpa de uma qualidade limitada de pecados. Para os pecados cometidos com alta mão, pecados de rebelião contra Deus, não havia expiação, porque tais pecados eliminavam o pecador do povo do concerto.
        O sistema sacrificial servia ao propósito do Senhor no treinamento espiritual do povo escolhido no período primitivo da história. A graça de Deus operava por intermédio do sacrifício para aliviar o pecador do sentimento de culpa e manter a comunhão com o Senhor. Gradualmente esclareceu e aprofundou o conhecimento da santidade e da justiça de Deus. Servia também para acentuar a gravidade do pecado, que separa o homem da presença de Deus, e para mostrar o amor imutável do Senhor na salvação do pecador.

2.4 SUBUNIDADE 4 - O DIA DO SENHOR

        Possivelmente os profetas menores Joel e Sofonias, são os que mais diretamente se expressam sobre o dia do Senhor.
        Alguns comentaristas fazem distinção entre, "o dia do homem ou tribunal humano" (1 Cor. 4:3 - domínio do governo dos homens), "o dia de Cristo" (Filip. 1:6 - a volta de Cristo ou o arrebatamento), "o dia do Senhor" (tribulação e reino messiânico), "o dia de Deus" (1 Cor. 15:28 - habitação eterna com Deus). Aqueles que assim pensam, o fazem devido a necessidade de ver as promessas de Deus para Israel serem cumpridas. Para eles o dia do Senhor será o período do derramamento do juízo de Deus e a implantação do reino messiânico em Israel.
        Conforme Joel, Sofonias e, ainda, Obadias, o Dia do Senhor é o dia de juízo do Senhor. Nas versões portuguesas da Bíblia, a palavra juízo é considerada como sinônima de justiça, mas freqüentemente significa também os estatutos de Deus e as ordenanças da lei. No sentido do julgamento do Senhor, o termo refere-se ao julgamento dos atos dos homens e das nações na história, e também no fim da história. Joel antevê este julgamento no "vale da decisão" ou de Josafá. O Dia do Senhor é a vindicação da justiça e dos justos.
        Os israelitas, em geral, tinham a tendência de pensar, por muito tempo, que eles eram os justos, em virtude da sua eleição como o povo do Senhor. Em certos casos esta opinião recebe apoio nas Escrituras e assim se justifica, em parte, especialmente quando a vida moral e religiosa dos israelitas é comparada com a de seus vizinhos. É deste ponto de vista que se entende o significado do Dia do Senhor na profecia de Obadias. Neste dia de julgamento a maldade das nações cairá sobre a cabeça delas, mas para os da casa de Jacó haverá livramento (vv. 15-17). De igual modo pensa Joel.
        No tempo de Amós, o povo do Reino do Norte desejava o Dia do Senhor (5:12). Mas o povo sofria por causa de seu preconceito teológico. O povo de Israel pensava que o Dia do Senhor significava o estabelecimento do seu governo benéfico sobre o povo escolhido. Mas não entendia a justiça de Deus, que exige a justiça do povo do seu reino. Nesta profecia, o Dia do Senhor será um dia de julgamento de Israel. Contrário ao pensamento popular, a eleição e os privilégios especiais de Israel não podem isentá-lo do julgamento, mas pedem antes o castigo de todas as suas injustiças (cap. 3). Não pode haver esperança nenhuma para Israel no Dia do Senhor. "Será como se um homem fugisse de diante dum leão, e lhe saísse ao encontro um urso; ou como se entrasse em casa, e encostasse a mão á parede e o mordesse uma cobra" (5:19).
        Sofonias descreve o castigo terrível que cairá sobre Judá e Jeremias no Dia do Senhor:
"Dia de indignação é aquele dia,
Dia de angústia e ânsia,
Dia de alvoroço e assolação,
Dia de trevas e escuridão,
Dia de nuvens e de densas trevas" (1:15).
        O Senhor derramará toda a fúria de sua ira sobre as nações, e toda a terra será devorada; mas apesar deste terrível castigo, um restante de Israel e das nações escapará, receberá do Senhor o dom de uma língua pura e servirá no estabelecimento do novo reino mundial do Senhor (3:8,9).
        Segundo Ezequiel 30:3-10, Egito, Pute, Lude, Etiópia e outras terras seriam desoladas no terrível Dia do Senhor.
        Isaías também descreve a terribilidade do Dia do Senhor (13:6-22). Será um dia cruel, com furor e ira ardente, fazendo da terra uma desolação, com a destruição dos pecadores. A terra será sacudida do seu lugar, o sol ficará escurecido, a lua e as estrelas não darão a sua luz.
        Joel declara que o Senhor se assentará no vale de Josafá para julgar as nações. O Egito e Edom serão castigados por causa da violência que fizeram aos filhos de Judá, mas o Senhor será o refúgio do seu povo (3:11-13).
        Os profetas assim entenderam que o Dia do Senhor é o dia em que Deus haveria de julgar os povos e as nações com justiça, e estabelecer o seu reino eterno em todo o mundo.


3 UNIDADE 3 - DEUS ESPÍRITO SANTO


        A palavra RUAH possui diversos sentidos no Velho Testamento. Entre outros podemos citar: vento, espírito, respiração forte, sopro. Esta palavra quando significa "vento", traz a idéia de "poder" e denota o poder, a vida e o Espírito de Deus. O RUAH do Senhor em II Sam. 22:16 demonstra como o conceito do Espírito de Deus desenvolveu-se no Velho Testamento.
        A palavra RUAH é empregada 377 vezes no Velho Testamento e em 87 vezes tem o sentido de vento e dessas 87 vezes, 37 se referem ao vento como o agente de Deus que se manifesta com força violenta, e, às vezes, até destrutivo.
        Oséias 13:15 e Isaías 40:7 empregam a palavra RUAH-ADONAI (o vento do Senhor) com quase o mesmo sentido de Espírito do Senhor. Em Ezequiel 8:3, 11:14 e 37:1 o RUAH-JAVÉ é o agente de Deus que age como o próprio Senhor.
        Na revelação de Deus ao povo de Israel, o Espírito do Senhor, progressivamente, vai substituindo as manifestações do Anjo do Senhor e capacitando homens para que falem por Deus. Assim os escritores do Velho Testamento descreveram as atividades de Deus, pelo seu, Espírito no Velho Testamento.

3.1 SUBUNIDADE 1 - ATUAÇÃO NO VELHO TESTAMENTO

3.1.1 O RUAH-JAVÉ agiu de forma transformadora sobre o caos antes da criação (Gênesis 1:2). São significantes as operações do Espírito do Senhor no sentido de manifestar o poder dinâmico de Deus (Jó 26:13; Isaías 40:6,7; Ezequiel 37:9-14).

3.1.2 O RUAH-JAVÉ deu ao homem a vitalidade e a força (Gênesis 2:7). O NEPHESH (alma vivente) em que o homem se tornou, só foi possível por causa do NISHMATH HAYIM (fôlego de vida) soprado por Deus no homem. Deus é a fonte da vida e o seu Espírito é quem a produz e sustenta (Jó 27:3; 33:4). Assim, desde o Velho Testamento, é o Espírito de Deus quem transmite a vida e isso é de suma importância para a teologia da salvação, onde é o Espírito Santo o agente da regeneração. Quando Deus tira o espírito do homem este morre. O espírito do homem lhe é transmitido pelo Espírito de Deus (Sal. 104:29, 30; Jó 34:14,15).

3.1.3 O RUAH-JAVÉ motivou os homens a dedicarem suas vidas a Deus. A qualidade de vida espiritual dos homens, o amor e a gratidão a Deus são resultados do ministério do Espírito de Deus agindo nos homens (Sal. 51:11; Sal. 143:10; Is. 11:2; Is. 42:1).

3.1.4 O RUAH-JAVÉ inspirou e controlou os profetas. Foi o Espírito de Deus quem capacitou o profeta Ezequiel (Ezequiel 2:1-3; 3:12-14; 8:3; 11:1-2, 5, 24); foi o Espírito do Senhor quem dirigiu o profeta Azarias (II Crônicas 15:1); foi o Espírito de Deus quem se apoderou do profeta Zacarias (II Crônicas 24:20) e encheu Miquéias do poder para profetizar (Miquéias 3:8).

3.1.5 O RUAH-JAVÉ capacitou os juízes de Israel (Juízes 15:14).

3.1.6 O RUAH-JAVÉ ensinou o povo de Deus (Neemias 9:20)

3.1.7 O RUAH-JAVÉ testemunhou de Deus (Neemias 9:30).

3.1.8 O RUAH-JAVÉ está intimamente relacionado à Palavra de Deus (Salmo 33;6-7).

3.1.9 O RUAH-JAVÉ iria agir ativamente na era messiânica (Isaías 11:2; Isaías 61:1; Joel 2:28-32).

3.2 SUBUNIDADE 2 - VINCULAÇÃO COM O PAI

        O Espírito do Senhor é o próprio Senhor em atividade. A presença do Espírito de Deus é a presença dele mesmo em essência, pois o Espírito de Deus é a sua essência. "Tudo o que Deus é e tudo que possa significar para o homem, é representado pelo ministério do seu Espírito que é vida e poder. Qualquer conhecimento que o hebreu tenha recebido dos atributos de Deus foi-lhe comunicado diretamente no intercurso do seu espírito com o Espírito de Deus" (Isaías 31:3; Salmo 139:7-10; Salmo 51:10-13). Não é específico no Velho Testamento o desenvolvimento do conceito da personalidade distinta do Espírito do Senhor. Através da história do povo de Israel, o Espírito vai dirigindo suas atividades cada vez mais para as questões éticas e morais, pondo em destaque a santidade e a justiça de Deus. O Espírito do Senhor motivou e aprimorou a revelação de Deus. As atividades do Espírito do Senhor no Velho Testamento eram intermitentes sobre os juízes e os profetas. Assim, o Espírito de Deus era procedente do próprio Deus e em estreita relação com a sua Palavra.
        O RUAH YAHWEH, no VT não é uma entidade separada, distinta; é o poder de Deus - a atividade pessoal na vontade de Deus atingindo um objeto moral e religioso. O RUAH de Deus é a fonte de tudo o que está vivo, de toda vida física. O Espírito de Deus é o princípio ativo que procede de Deus e dá vida ao mundo físico. Também é a fonte de todas as preocupações e indagações religiosas, despertando líderes carismáticos, como juízes, profetas ou reis. O RUAH Yahweh é um termo usado para designar a ação histórica criadora do Deus único, o qual, muito embora desafie a análise lógica, é sempre ação de Deus.

3.3 SUBUNIDADE 3 - RAÍZES DA DOUTRINA DA TRINDADE

        Visto que no Velho Testamento não está desenvolvida a idéia do Espírito de Deus como pessoa, também a doutrina da trindade não se encontra nitidamente perceptível e nem era algo inerente ao povo de Israel. Entretanto alguns textos no Velho Testamento que nos fazem pensar no Espírito de Deus como pessoa (Ageu 2:5; Zacarias 4:6; Isaías 48:16).
        O termo "Espírito Santo" encontra-se em Salmo 51:11 e Isaías 63:10-11. Certamente não tem o mesmo sentido que no Novo Testamento, mas demonstra que a doutrina do Espírito Santo tem suas raízes na história da experiência religiosa do povo de Israel e é desenvolvida amplamente, colocando o Espírito Santo como terceira pessoa da trindade, a partir da experiência cristã do Novo Testamento.

4 UNIDADE 4 - DOUTRINA DA REDENÇÃO


        Redenção é palavra comum na Bíblia e não somente a doutrina da redenção, mas sua própria história encontram profundas raízes no Velho Testamento. A redenção envolve a idéia do pagamento de um resgate e pode denotar livramento temporal, físico ou espiritual. As palavras que denotam redenção no Velho Testamento são: PADÃ e GA'AL traduzidas para o grego na Septuaginta como: LYTROUSTHAI e APOLYTROSIS.
        No Velho Testamento tanto os bens como a vida poderiam ser redimidas mediante o pagamento de um preço apropriado. Deus tinha direito, a partir da libertação do Egito, quando Deus poupou os primogênitos, sobre a vida dos primogênitos e cada um deles precisava ser redimido por pagamento em dinheiro (Ex. 13:13-15).
        Encontramos a idéia da redenção dos bens materiais em textos como (Lv. 25:25-27, 47-54, Rt. 4:1-12).
        A libertação do povo da escravidão no Egito é tida como redenção (Ex. 6:6, 15:13), por isso Deus é tido como o Redentor de Israel (Sl. 78:35). O preço pago seria, talvez, o grande poder de Deus manifestado na libertação do povo.
        No cativeiro babilônico mais uma vez a libertação ficou conhecida como redenção divina (Jer. 31:11; 50:33-34). O próprio indivíduo é mencionado no AT como objeto da redenção divina, como no caso de Jó e sua esperança no Redentor (Jó 19:25; Pv. 23:10-11).
        O ponto alto da redenção no Velho Testamento é sua conexão com a libertação do pecado (Salmo 130:8; Is. 59:20; Is. 44:22). A pequena quantidade de referências sobre a redenção do pecado se explica pelo fato de que quase todo o tipo de redenção efetuado por Deus foi em conseqüência de pecados praticados pelo povo de Israel (Is. 40:2), além do mais o sistema sacrificial foi a proclamação sempre viva da necessidade da redenção dos pecados.

4.1 SUBUNIDADE 1 - O GRANDE CONCERTO

BERITH é a palavra hebraica que é traduzida por aliança ou concerto no Velho Testamento.
A origem etimológica de BERITH pode vir de Gen. 15:9-11, onde a forma da aliança com Abraão tem algo em comum com "cortar". Pode vir da palavra "agregar" ou "agrilhoar". Ou ainda da palavra "comer" pressupondo uma refeição que era servida após a formação da aliança, por exemplo, após a aliança no Monte Sinai, Moisés e os anciãos subiram ao monte e lá comeram e beberam (Êxodo 24:11).
É a palavra que identifica a aliança que Deus fez com Moisés no Monte Sinai. É usada também com o concerto que Deus fez com Abraão. Os títulos da duas divisões da Bíblia: Novo e Velho Testamentos têm suas origens na palavra BERITH e DIATHEKE (testamento). Entretanto traduzir a palavra BERITH por aliança, testamento, concerto ou pacto a torna menos do que significou no conceito hebreu. Uma aliança ou contrato em nossos dias é feito em comum acordo com ambas as partes, onde os acordados procuram iguais vantagens no pacto celebrado. O próprio casamento exige de ambos os cônjuges iguais benefícios no pacto celebrado e, certamente não haveria aliança onde uma das partes não estivesse compromissada a assumir suas responsabilidades. A aliança que Deus fez com o povo de Israel é inédita porque Deus a fez sem consulta ao povo, os termos foram fixados por Deus e o povo apenas teria de aceitá-la ou não. Por outro lado as vantagens eram todas do povo, pois este sim, tinha necessidade de uma aliança com Deus.
A aliança deuteronômica tem uma forma que pode ser expressa da seguinte forma:

a)                           Preâmbulo ou introdução
b)                           Recitação histórica
c)                           Declaração dos propósitos
d)                           Obrigações
e)                           Invocação de Deus
f)                              Bênçãos e maldições

As alianças feitas no Velho Testamento foram as seguintes:

a)                           Aliança com Noé (Gen. 9:8 ss.)
b)                           Aliança com Abraão (Gen. 12:1-3, 15, 17)
c)                           Aliança com Israel (Ex. 19-24)
d)                           Aliança com Davi (II Sam. 7)

A aliança feita por Deus foi motivada por outras duas palavras extremamente significativas no grande concerto: HESED e `AHABA.

HESED é ainda mais difícil de ser traduzida que BERITH e, por isso mesmo, é normalmente utilizada sem tradução. Pode-se encontrar na Bíblia diversas traduções para HESED, tais como: bondade, beleza, glória, benevolência, beneficência, benignidade, amorável benignidade, misericórdia e compaixão. Mas HESED está mais próximo de AMOR ETERNO e que se aproxima bastante da GRAÇA DE DEUS. HESED expressa a fidelidade dos pactuados (I Sam. 20:14-16), um pacto feito com HESED do Senhor jamais poderia ser desfeito. HESED, portanto, é o amor fiel e imutável de Deus no cumprimento das suas promessas feitas a Israel no concerto.
`AHABA é tido como o amor eletivo de Deus. Quando associamos o HESED com o `AHABA de Deus podemos perceber a intensidade da aliança que Deus fez com Israel. O profundo significado do amor do Senhor pode ser percebido quando se associa o amor inabalável (HESEDE) com o amor eletivo (`AHABA) com o favor divino (HEN), com a fidelidade (`EMETH), com a justiça (TSEDEQ) e com a compaixão (REHUM) de Deus (Jer. 2:2; Sal. 103:8); 89:24; 36:10).
Embora Deus amasse seu povo com seu HESED e `AHABA, Israel não cumpriu os termos da aliança, porém Deus não deixou de amor seu povo (Os. 11:1-9). A quebra da aliança foi por parte do povo e não de Deus, os que quebraram a aliança foram considerados não-povo. Devido a desobediência do povo os profetas foram cada vez mais perdendo a esperança de uma aliança com a totalidade do povo e começaram a proclamar uma aliança feita com os remanescentes o “toco de Jacó”, os que sobraram dentre o povo sem quebrar a aliança (Jer. 23:5, 33:15, Is 1:9, Ez 6:8-10, Zc 8:11), neste restante Deus haveria de cumprir sua aliança e os profetas, com essa visão, começaram a profetizar o reino messiânico e uma nova aliança cuja natureza não seria mais um sinal externo, mas no interior do coração (Jeremias 32:38-40).

4.2 SUBUNIDADE 2 - A JUSTIÇA, A GRAÇA E A FÉ NO VT

Relacionado à doutrina da redenção estão a justiça, a graça e a fé. O Velho Testamento apresenta a justiça de Deus como o atributo relacionado à perfeição moral do Senhor e que caracteriza a sua santidade, a sua natureza, a sua divindade. As duas palavras hebraicas que designam a justiça de Deus são TSEDEQU e TSEDAQAH e são sempre aplicadas à justiça divina em contraste com a justiça dos homens. O Velho Testamento manifesta a justiça de Deus num padrão muito mais elevado que a justiça dos homens (Salmo 98:8-9; Salmo 36:6; Salmo 7:6). Os profetas entenderam que Deus, por ser justo, não poderia deixar impunes os pecados do povo de Israel, embora fosse esse o povo eleito por Deus. Isto é, a eleição de Israel por parte de Deus não invalida a sua justiça (Isaías 28:17; Amós 3:2). Os profetas entenderam a natureza pecaminosa do povo de Israel que sempre levava o povo a distanciar-se de Deus. Sendo Deus justo e perfeito em sua santidade, não poderia deixar impune os pecados do povo de Israel, porém o amor fiel e eletivo de Deus (HESED e `AHABA) impulsionava-o à graça. É desta forma que o HESED de Deus se aproxima muito da graça quando se refere ao perdão dos pecados. Assim a graça de Deus, desde o Velho Testamento, é manifesta sobre o seu povo que, merecendo a justa condenação, recebe de Deus a misericórdia (Jer. 2:2; Sal. 103:8). Desta forma a graça de Deus deve ser vista como "favor imerecido" (HEN). Entretanto, mesmo um povo eleito não poderia receber a graça de Deus de forma coercitiva. A graça de Deus era oferecida e o povo deveria apropriar-se dela pela fé. Os que não se apropriavam da graça divina eram, por livre escolha, excluídos da aliança. A graça de Deus, favor divino (HEN), manifestava-se no sistema sacrificial do culto de Israel: o pecador oferecia o animal e com ele se identificava no momento do sacrifício e, embora o sangue desses animais fossem impróprios para perdoar pecados, Deus, pela sua graça, aceitava tais sacrifícios, mediante a fé daqueles que os ofereciam.


4.3 SUBUNIDADE 3 - O ARREPENDIMENTO E O PERDÃO

A doutrina do pecado é fartamente citada no Velho Testamento. Os livramentos de Deus junto ao povo de Israel estavam sempre relacionados ao pecado do povo. Havia um binômio constante nesta relação: castigo/graça. A doutrina do arrependimento e do perdão pode ser vista em inúmeras referências (Jer. 31:34; Isaías 43:25; 44:22; Miq. 7:18-20; Salmo 51:7,9,10; etc). A necessidade do arrependimento e do perdão está relacionado ao pecado praticado pela Nação e/ou pelos indivíduos. O conceito de pecado no Velho Testamento é obtido pelo estudo de palavras tais como: HATA`(errar o alvo - Prov. 8:36; II Sam. 19:20; Ex. 3:30-33; Jó 1:22; 1:5; Salmo 78:32; Is. 43:27,28); `AVON (iniquidade, culpa - Jó 15:5; Jer. 11:10; Is. 5:18; 43:24); SHAGAG e SHAGA (errar, extraviar-se, vaguear, pecar - Lev. 4:2, 22, 27; Num. 15:27); SUR e SUG (virar, desviar, afastar, abandonar, revoltar - Jui. 2:17); NATASH e AZAB (abandonar - Deut. 32;15; 29:25); porém a palavra que retrata o pecado no seu sentido mais profundo é PASHA' (rebelar-se ou revoltar-se - I Reis 12:19; Is. 1:2; Os. 8:1). PASHA' mostra que o pecado, na sua essência, é mais do que a violação de mandamentos e proibições. O pecado é revolta da vontade do homem contra a vontade de Deus. Diante desta farta referência ao pecado, destaca-se a necessidade do arrependimento e do perdão. O arrependimento é o desvio do pecado e é a condição humana para o perdão de Deus (Ez. 18:30). O perdão é a resposta divina, motivada pelo amor de Deus e efetivada pelo quebrantamento do homem  (2 Crônicas 7:14). O perdão divino é descrito por palavras tais como: NASA' (levantar, carregar, tomar, tirar, levar embora - Gen. 50:17; Miq. 7:18; Sal. 32:5 e 85:2); SALACH (perdoar - Jer. 31:34, 33:8; Sal. 103:3); YASHA' (salvar das conseqüências e do poder do pecado - Jer. 17:14; Ezeq. 36:29); RAPHA' (cura física e espiritual - Is. 19:22; Jer. 17:14). Assim, perdão significa passar por cima, esquecer, apagar, riscar, cancelar, obliterar (Sal. 51:9; Is. 43:25; 44:22; Salmo 85:2).

4.4 SUBUNIDADE 4 - O CONCEITO HEBREU DE SALVAÇÃO

Assim, a doutrina da redenção chega ao seu clímax com o conceito de salvação.
No Velho Testamento o termo salvação abrange todas as qualidades de socorro que os israelitas receberam de Deus. Referida pela palavra YASHA' (fazer largo, viver em abundância, conseguir a vitória, libertar do poder do inimigo, salvar da opressão, do pecado, da aflição, da doença, da morte), a salvação pode ganhar qualquer um dos sentidos da tradução desta palavra. Contudo a salvação era prerrogativa divina (Salmo 3:8). Para o povo de Israel a salvação provem única e exclusivamente do Senhor (I Sam. 14:39; I Cron. 16:35; Sal. 68:28; Is. 32:32).
Os sacrifícios estipulados por Deus no culto hebreu nunca foram tidos como meio de salvação, nem por Deus e nem pelos hebreus. Os sacrifícios foram apenas expedientes de Deus. A salvação podia ser entendida quase que como justiça de Deus quando Ele livrava o seu povo das mãos dos inimigos e nestes casos “salvar” era como “fazer justiça”. Entretanto a idéia de salvação generalizada foi cedendo espaço à doutrina da salvação de pecados e “salvação” passou a significar não somente o livramento das conseqüências do pecado, mas a libertação do poder do pecado. Reconhecendo a natureza pecaminosa do seu próprio coração, o profeta Jeremias exclamou: “Sara-me, Senhor, e serei sarado; salva-me, e serei salvo” (17:14). De igual modo se expressou o salmista (Sal. 51:7,9,10). Desta forma o Velho Testamento mostra o Senhor como o único Salvador (Isaías 40:18,25; 44:24; 46:5) e a doutrina da redenção dá a esperança e certeza de que o Senhor está pronto e desejoso de salvar aos necessitados (Jer. 50:34; Is. 41:14; 43:1; 48:20; 43:14; 44:6, 22, 23, 24, etc).

5 UNIDADE 5 - DOUTRINA DAS ULTIMAS COISAS


5.1 SUBUNIDADE 1 - A ESCATOLOGIA NO VT


Há no Velho Testamento dois conceitos de escatologia: um se refere ao aperfeiçoamento do reino de Deus na terra e é desenvolvida como um conceito nacional de Israel, uma esperança nacional e teve mais influência na teologia do VT; o outro trata da vida futura do homem além da morte e sua relação com o SHEOL, e é desenvolvida como a responsabilidade do indivíduo, a responsabilidade pessoal.
Embora o VT dê pouca ênfase à vida no além, existe uma contemplação de uma vida após a morte, ainda que de forma espectral. Jesus demonstrou que a imortalidade é algo implícito no relacionamento entre Deus e os homens no VT, ao citar que Deus não é Deus dos mortos, mas de vivos, porque para ele todos vivem (Lc. 20:38).

5.2 SUBUNIDADE 2 - CONCEPÇÃO DE MORTE E IMORTALIDADE

O Velho Testamento expõe a formação do homem e sua decorrente natureza. Formado de maneira especial, o Velho Testamento apresenta o homem com triplo relacionamento: com a natureza, com os homens e com Deus e esta é a implicação de o homem ser um "ser moral". No seu relacionamento triplo o homem tem responsabilidades a cumprir: para com a natureza deve preservá-la e dela cuidar; para com os semelhantes, deve respeitá-los; para com Deus deve dignificá-lo, adorá-lo e obedecê-lo. Na narrativa da criação Deus dá ordens ao homem, o cumprimento destas ordens o colocaria em pleno relacionamento com a natureza e com Deus.
O relacionamento do homem não era uma responsabilidade apenas de Adão, pois Adão significada originalmente o homem na sua coletividade, como também "um ser humano" (Gen. 1:26; Gen. 2:5). Assim existe uma representação social do homem e ele torna-se um ser essencialmente social. Adão traz consigo a responsabilidade individual e a representatividade coletiva. Ao formar Adão conforme à sua imagem e semelhança Deus estava imprimindo esta marca distintiva em todos os homens e as ações de Adão seriam também as ações de toda a humanidade.
A natureza do homem se torna distintiva a partir de sua formação. Deus o formou do pó da terra e soprou nele seu hálito e homem se tornou alma vivente. Assim considerado, embora o Velho Testamento descreva o homem como uma unidade, podemos perceber nele uma composição, no mínimo, formada por corpo e espírito ou corpo, alma e espírito. É verdade que no Velho Testamento não se percebe muito a distinção entre alma e espírito, mas demonstra que estes termos representam a imaterialidade do homem enquanto seu corpo representa sua ligação com a matéria. O corpo deve voltar ao pó na morte enquanto o espírito volta a Deus (Ecles. 12:6,7; Gen. 3:19). Duas palavras estão relacionadas à formação do homem com relação à sua natureza imaterial: SELEN (imagem) e DeMUT (semelhança), outras duas palavras seguem-se a estas: NEFESH (sangue, alma), RUAH (espírito). O texto diz que Deus soprou seu RUAH (NISHMATH HAYIM = fôlego de vida) no homem e ele se tornou NEFESH HAYAH (alma vivente). Na narração da queda do homem, Gênesis descreve uma separação entre Deus e o homem ocasionada pelo pecado (rebelião contra Deus). Nesta queda houve afetação da imagem e semelhança de Deus no homem o que é amplamente discutido pelos teólogos de todos os tempos, principalmente pelo apóstolo Paulo. Entretanto no Velho Testamento a concepção de morte física passou a ser mencionada e o termo SHEOL veio descrever a situação do homem após a morte, evidenciando, assim, que o homem sobreviveria após a morte, mas despido de um corpo, o que tornava a morte algo desagradável e infeliz. O conceito de imortalidade do homem, fragilmente desenvolvido no Velho Testamento e amplamente defendido no Novo Testamento, leva-nos à reflexão do que realmente seja a morte. Considerando a criação do homem, podemos supor que, na queda, houve a morte espiritual do homem, isto é, o RUAH de Deus, possibilidade de plena comunhão entre Deus e o homem, foi totalmente perdido, mas, contudo, a imagem foi mantido. Se traduzirmos a imagem de Deus no homem como sua capacidade moral de escolher entre o bem e o mal, sua racionalidade, sua distinção de vida, seus sentimentos e emoções, o que podemos chamar de alma, entendemos que a queda afetou a natureza humana pela natureza pecaminosa, mas não exclui sua imagem de Deus a qual clama por Deus no homem decaído, sente a necessidade de Deus e leva o homem ao conflito da necessidade de Deus enquanto sua tendência para o pecado afasta-o dele. Nesse conflito cabe uma decisão do homem e esta decisão em rejeitar o mal e aproximar-se do bem é a resposta do homem à graça de Deus e que conduz à revificação, à regeneração que é a vida espiritual ou a revificação do espírito que estava morto pelo pecado. Nisto está a plena justiça de Deus em julgar todos os homens e achá-los condenados, pois "não há um justo sequer, ninguém que faça o bem", assim "todos pecaram e separados estão de Deus", condenados pelos seus próprios pecados, mas Deus mediante a sua graça dá ao homem a oportunidade de se livrar do "cativeiro da corrupção". Por causa disso o Velho Testamento reconhece que o homem foi criado para Deus, e que não pode ser feliz separado dele (Salmo 4:8; Salmo 29:11; Salmo 23:4; Salmo 16:2; Salmo 63:1; Salmo 73:25).
A morte no Velho Testamento é descrita como a separação do BASAR (corpo) da NEFESH (alma), mas não é tido como uma extinção total do homem. A alma separava-se do corpo mas continuava a existir, embora num estado de tristeza e esquecimento, no SHEOL. Entendendo a NEFESH como a individualidade de cada pessoal, ou antes sua própria pessoalidade, acreditamos que o Velho Testamento mostra uma existência consciente após a morte. O Velho Testamento apresenta a morte como algo ruim, um mal, amargura e terror (Deut. 30:15; I Sam. 15:32; Salmo 55:4), embora Jó expressou o desejo de achar algum descanso no SHEOL (Jó 17:13-16), pois ele sabe que o seu Redentor vive e espera que ele o vindique após a morte (Jó 19:25-27). O Velho Testamento apresenta a vida como algo desejável.
Em Deuteronômio 30:15 a morte é vista como algo mal e a vida como algo bom. Entretanto se justos e ímpios morrem, onde está a recompensa do justo. A esperança do justo é viver dias longos, longa vida (Gen. 25:8; Salmo 55:15-16, 23). Após a morte, justos e injustos vão para o SHEOL (Salmo 30:1-3).

5.3 SUBUNIDADE 3 - CONCEPÇÃO DE SHEOL

SHEOL foi, na primeira visão escatológica do Velho Testamento, o lugar dos mortos, para onde iam justos e injustos após a morte e onde a presença de Deus não podia ser sentida (Salmo 88:10-12; Isaías 38:18). O SHEOL era tido como a parte inferior da terra, abismo, local de escuridão (Jó 10:22; Is. 14:9-11). Não é o lugar do corpo após a morte, mas da personalidade do indivíduo (alma). Não se apresenta como lugar de castigo ou de recompensas (Jó 3:19). No SHEOL o homem está destituído do RUAH de Javé, mas ainda assim está consciente, o que nos dá a idéia de que a alma seja a personalidade do homem que sobrevive após a morte. O SHEOL é também chamado de ABADOM (perecendo), HADAL (cessação). Os habitantes do SEHOL são chamados REFAIM (sombras), ficam entorpecidos, silenciosos, esquecidos, onde perecem os sentimentos de amor, ódio e inveja (Salmo 88:12; Ecl. 9:5).
Entretanto o conceito de SHEOL como lugar de castigo dos ímpios vai se desenvolvendo pouco a pouco no Velho Testamento. Os habitantes do SHEOL têm curiosidade sobre a chegada de novos habitantes (Is. 14:10). Isaías 24:21,22 faz distinção entre as partes inferiores da terra e as alturas celestes e Ezequiel 32:23 demonstra que os assírios sofrerão mais as misérias do SHEOL. No Salmo 139 soa a nota de esperança de que quem vive na presença de JAVÉ nesta vida não pode ser privado da sua presença na morte (Salmos 73 e 139).
O substantivo Se'OL ocorre cerca de 59 vezes no AT e que são traduzidas por "sepultura", "abismo" ou "inferno", conforme o contexto o exige. A palavra é achada mais vezes nos escritos poéticos (33 vezes, mais 7 na Lei e 19 nos Profetas); das 33 vezes, 16 se encontram nos salmos e 17 na literatura sapiencial. No AT há seis maneiras de se empregar a palavra SHEOL:

5.3.1 Um lugar de onde ninguém pode se alto-resgatar (Salmo 89:48). Uma vez no SHEOL não há mais esperança de se voltar à terra dos viventes(Jó 7:9; 17:13-16). Lá não há atividade de trabalho, planejamento, conhecimento ou sabedoria (Ec. 9:10). Lá ninguém louva a Deus (Salmo 6:5; 88:10-12; Is. 38:18). Lá é um lugar de trevas e silêncio (Jó 10:21-22; Salmo 94:17; 115:17).

5.3.2 Um lugar para onde todos vão ao morrerem (Gênesis 37:35; 42:38; 44:29,31).

5.3.3 Um lugar para onde vão os maus ao morrerem ((Jó 21:13; 24:19; Salmo 9:17; 31:17; 49:14). Onde o pecado é punido (Prov. 5:5; 7:27).

5.3.4 Um lugar de onde os justos são salvos (Salmo 49:15; 86:13; Pv. 15:24; Os. 13:14; Salmo 16:10).

5.3.5 Um lugar sobre o qual Deus tem soberania absoluta (Pv. 15;11; Jó 26:6; Salmo 139:8; Amós 9:2; 1 Samuel 2:6; Dt. 32:22)

5.3.6 SHEOL é usado como metáfora para a gula (Hc. 2:5; Pv. 27:30; 30:16); para o assassinato (Pv. 1:12); para ciúmes (Cânticos 8:6); para problemas da vida (Salmo 88:3); perigos mortais (2 Sam. 22:6; Salmo 18:5; 30:3; 116:3; Jônas 2:2); pecados graves (Is. 28:15, 18; 57:9). É relacionado às idéias mitológicas da Babilônia e do Egito (Is. 14:9, 11, 15; Ez. 32:21, 27).
Os escritores do VT tinham esperança de vida após a morte. O SHEOL é o lugar para onde vão justos e ímpios após a morte, porém o justos são libertos de lá, os ímpios, porém, permanecem lá para sempre. Pelo fato de os escritos bíblicos ensinarem uma diferença marcante entre o destino final dos ímpios e dos justos em relação ao SHEOL, podemos afirmar que o AT não apóia um conceito geral de um destino final para todas as almas, nem um sono da alma dos ímpios.
A palavra SHEOL foi traduzida para o grego por HADES que ocorre dez vezes no NT. Nos Evangelhos representa um lugar de castigo (Mt. 11:23; Lc. 10:15) e cujo poder não pode opor-se à igreja (Mt. 16;18). Pedro cita o Salmo 16:8-11 em Atos 2:27-31 para comprovar que o AT predisse a ressurreição de Jesus do HADES (sepultura) e isso prova que os escritores do VT criam na ressurreição do corpo.
HADES não é empregado nas epístolas do NT, mas no Ap. aparece três vezes e em cada caso seguida de THANATOS (morte), o que distingue morte (sepultura) de HADES (lugar de castigo para os ímpios). Entretanto o conceito de HADES no NT é bem mais limitado que o de SHEOL no VT.

A CONCEPÇÃO ESCATOLÓGICA UNIVERSAL desenvolve melhor o conceito de punição e absolvição após a morte. É um desenvolvimento da escatologia do Velho Testamento e da própria ressurreição do corpo. Entretanto a ênfase está na Nação de Israel em comparação com o castigo que sofrerão seus inimigos. A crença na imortalidade pessoal foi desenvolvida quase no fim do período do Velho testamento. De três pontos de vista os hebreus desenvolveram a doutrina da imortalidade: a) a comunhão com o Senhor demonstrou a semelhança entre o espírito humano e o Espírito de Deus; b) a experiência de regozijo na comunhão com o Senhor; c) com o novo concerto não foi mais possível manter a neutralidade moral dos habitantes do SHEOL e assim desenvolveu-se a doutrina da ressurreição do corpo como uma semelhança entre a vida aqui e a vida no outro mundo. O bem supremo da vida é a comunhão com o Senhor JAVÉ, o doador da vida e devido à sua natureza divina, esta comunhão é tão eterna como o próprio Deus. O Deus eterno é o refúgio ou morada do homem de poucos dias (Salmo 90; Salmo 16; Jeremias 10:16; Salmo 17; Salmo 73; Salmo 49).
A esperança da ressurreição chega a ser evidente mesmo antes da idéia da ressurreição individual. A visão de Ezequiel no vale de ossos secos (Ez. 37:11) é considerada uma ressurreição nacional, bem como Isaías 26:19 e em Daniel 12:2 a ressurreição individual torna-se explícita pela primeira vez. O Dia de Javé (dia do Senhor) passou a expressar uma visão escatológica onde Deus vindicaria publicamente seu povo. Neste dia haveria um juízo mundial (Salmo 96:13; 98:9; Am. 5;18-20; Is. 11:9; Hc. 2:14; Zc. 14:3-9). A esperança messiânica passou a ser dominante e o Rei Messias viria para vindicar o seu povo (Is. 9:6-7; 11:1-10; 32:1-8; Mq. 5:2-4; Am. 9:11-12; Jer. 23:5-6; 33:14-22; Daniel 7:18,22,27). Oséias soma-se a Isaías para proclamar não só o julgamento divino, mas também a restituição; a figura da morte é empregada na proclamação da ressurreição de Israel (Is. 6:13; 65:22; Os. 6:1,2; 13:14). Dois profetas no Velho Testamento proclamam a ressurreição dos mortos com muita propriedade: Isaías a proclama no capítulo 26:1-19, neste texto "teus mortos" significa aqueles que tinham morrido na fé e no temor de Deus. Embora o texto hebraico traga a expressão "meus mortos", com a mudança da última vogal fica "teus mortos" que cabe melhor no contexto. "Orvalho da luz" é melhor do que "orvalho das ervas" porque é um orvalho sobrenatural que, caindo sobre os REFAIM (corpos), transmite-lhes vida. É importante notar que somente os israelitas fiéis são incluídos nesta ressurreição. O outro profeta é Daniel que mostra que as injustiças e as traições que homens justos e fiéis iam sofrendo nesta vida levaram os profetas a refletirem profundamente sobre a morte. A passagem de Daniel 12:2,3 diz sobre os mártires: "E muitos que dormem no pó da terra acordarão, alguns para a vida eterna, e outros para a vergonha e desprezo eterno. Então os sábios resplandecerão como o fulgor do firmamento, e os que levaram a muitos para a justiça refulgirão como as estrelas para todo o sempre." Discute-se se essa ressurreição para a glória refere-se somente aos mártires, entretanto é indiscutível que apenas os ímpios ressuscitarão para a vergonha e desprezo (Dan. 11:33). Também está claro que esse julgamento se refere aos israelitas. Com esse pensamento a idéia sobre o SHEOL mudou e passou a representar a habitação temporária dos justos e a morada eterna dos ímpios como um lugar de castigo. É um conceito rudimentar do inferno desenvolvido no Novo Testamento. A ressurreição para a glória não estava destinada a todos os israelitas, mas somente para o restante fiel, a comunidade dos HASIDIM (os santos fiéis). As ressurreições feitas por Elias e Elizeu são prenúncios de uma doutrina da ressurreição que tomaria forma mediante os profetas. Assim o Velho Testamento apresenta três passos no desenvolvimento da imortalidade:

a)                           a imortalidade do homem piedoso na época messiânica;
b)                           a convicção de que a rica comunhão com Deus não pode ser terminada pela morte;
c)                           a ressurreição do corpo e a completa renovação da vida pela nova união do espírito com o corpo. A natureza da ressurreição ganhou aspectos mais espirituais e glorificados; a ressurreição é para a vida eterna e não para um reino messiânico na terra. Assim se expressa o salmista na sua convicção: "Quanto a mim, com justiça, verei a tua face; satisfar-me-ei quando acordar na tua semelhança". "Tu me guias com o teu conselho, e depois me receberás na glória" (Salmos 17:15; 73:24).

5.4 SUBUNIDADE 4 - SALMO 49 E O LIVRO DE JÓ EM RELAÇÃO À VIDA FUTURA

Tanto o Salmo 49 como o livro de Jó defendem a tese de que a vida do homem não se limita aos seus dias de existência terrena. Por isso mesmo a esperança, tanto do salmista quanto de Jó, é colocada na remissão do Senhor (Salmo 49:15 e Jó 19:25). Em Jó a tese de Satanás é derrotada: o homem é o que possui em termos de bens temporais. Ao tirar tudo de Jó restou-lhe a fé no Redentor e a certeza de que o bem maior do homem não está nesta vida, mas na comunhão eterna com Deus. Assim, em Jó Deus prova a sua tese: o homem é o que possui em termos de bens espirituais. Esses bens não são corruptíveis. Os bens amealhados aqui não irão com o homem para o além, por isso nada se pode possuir aqui eternamente, tudo nesta vida é temporal, entretanto os valores eternos se adquirem nesta vida e sua natureza é bem distinta dos valores temporais: basta ao homem a graça de Deus.

5.5 SUBUNIDADE 5 - O CÉU E A NOVA JERUSALÉM

SHAMAIM é a palavra hebraica que descreve céu e que significa "coisas voltadas para cima", "as alturas", e traz consigo o conceito de habitação de Deus (Salmo 2:4). Fazendo-se uma analogia entre céu como morada de Deus e a esperança de uma habitação com Deus após a morte (Salmo 17:15; 73:24), conclui-se que a esperança do justo no Velho Testamento era estar com Deus eternamente, porém o pensamento dos escritores do Velho Testamento não prevê uma saída da terra, mas prevê uma redenção universal e os justos reinando com Deus numa nova terra (Is. 65:17; 66:22). Não se chega a uma conclusão se a Nova Jerusalém é o próprio céu, porém tem-se a certeza de que a Nova Jerusalém não será esse planeta ou universo corruptível que vemos hoje, por isso será novo céu e nova terra. Esta certeza inclui a presença de Jesus Cristo com seu povo eternamente no que é descrito como a Nova Jerusalém em Apoc. E esta é a nossa esperança e certeza.

BIBLIOGRAFIA:

1 CRABTREE, A.R. Teologia do Velho Testamento. JUERP
2 Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Edições Vida Nova
3 A Bíblia de Jerusalém. Edições Paulinas.
4 A Bíblia Anotada. Editora Mundo Cristão.
5 Bíblia de Referência Thompson. Editora Vida.
6 LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. JUERP
7 MILNE, Bruce. Conheça a Verdade. ABU Editora.
8 HASEL, Gerhard F. Teologia do Novo Testamento. JUERP
9 Parte introdutória dos comentários bíblicos em geral.
10 HOFF, Paul. O Pentateuco. Editora Vida.
11 JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Edições CPAD. Vol. 1,2 e 3
12FITCH, William. Deus e o mal. PES. São Paulo, SP. Primeira Edição. 1984.
13GEISLER, Norman L. e FEINBERG, Paul D. Introdução à filosofia. Edições Vida Nova. São Paulo, SP. Primeira edição. 1983.
14FEINBERG, John; GEISLER, Norman; REICHENBACH, Bruce e PINNOCK, Clark. Predestinação e livre-arbítrio. Editora Mundo Cristão. São Paulo, SP. Primeira edição. 1989.




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