FACULDADE DE TEOLOGIA
TESTEMUNHAS HOJE
CURSO LIVRE
VIDA NOS TEMPOS BÍBLICOS
USOS E COSTUMES
INTRODUÇÃO
Vida nos Tempos Bíblicos apresenta os resultados da mais
recente pesquisa bíblica arqueológica relacionada com a vida e praticai do
dia-a-dia do povo da Bíblia. As leis, os costumes e os hábitos dos tempos
bíblicos são muito diferentes dos de nosso tempo; e quando pudermos entender
essas diferenças, tiremos um quadro muito mais claro de muitos dos
acontecimentos registrados na Bíblia.
A vida da família descrita nas Escrituras difere muito da
nossa. Mulheres e crianças ocupavam na sociedade posições diferentes do que
ocupam em nossa época. Além do mais, nos tempos bíblicos as mulheres de Israel
possuíam um status muito mais favorável do que o desfrutado pelas mulheres das
culturas circunvizinhas. O alto conceito em que os hebreus tinham o casamento
era ímpar naquele tempo, muito embora houvesse constante tensão entre os ideais
de Israel e as práticas corruptas dos povos entre os quais eles viviam. Os
filhos eram bem-vindos ao seio da família, e em muitos casos o amor que a
família bíblica votava aos filhos está refletido nas Escrituras. Outro elemento
da vida familiar bem diferente do nosso é o alto grau de respeito dispensado às
pessoas idosas.
Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos abrange muito mais do que
a vida em família. Enfermidade e cura, alimento e hábitos alimentares,
vestuário e adorno também são examinados de um modo que ajude o leitor da
Bíblia a retratar as práticas da era bíblica.
Comparada com a dos romanos e a dos gregos, a arquitetura
hebraica era simples. Nos primeiros tempos as pessoas viviam em tendas grandes,
e somente quando Israel se fixou na terra é que se construíram casas e se
fizeram óbvias as diferenças entre os abastados e os pobres. A música de Israel
era simples também, embora, afinal, se introduzissem instrumentos procedentes
dos povos que rodeavam a nação. Além disso, atribui-se a Davi a invenção de
diversos instrumentos musicais. Muitos desses instrumentos eram usados no
culto.
O culto de Israel era marcado por temor e ações de graça,
esperança e gratidão. Ainda que esse culto nem sempre tenha sido fiel, Israel
experimentou as bênçãos das promessas de Deus. Foi esta esperança trouxe
alegria tão exuberante às suas celebrações.
Vida cotidiana nos Tempos Bíblicos é um guia das leis,
costumes e princípios morais do período bíblico. O estudante da Bíblia é
incentivado a ler o livro e a descobrir o significado desses fatores na vida de
Israel, bem como o seu significado para os nossos dias.
1.
RELACIONAMENTOS DA FAMÍLIA
Dois fatos se destacam no que a Bíblia diz acerca da família
e seus relacionamentos. Primeiro, os papéis dos membros da família permaneceram
quase os mesmos durante o período bíblico. A mudança de cultura e de leis não
afetou em grande medida os costumes familiares. É verdade que os povos que
viveram nos primeiros tempos do período do Antigo Testamento eram seminômades ―
freqüentemente se mudavam de uma região para outra ― de modo que seus hábitos
diferiam, de certa forma, daqueles dos povos de residência fixa. A lei mosaica
aboliu algumas da práticas nômades, tais como o casamento de um homem com sua
irmã. Todavia, permaneceu a maior parte do estilo de vida familiar original,
mesmo na era neotestamentária.
Segundo, a vida da família nos tempos bíblicos refletia uma
cultura muito diferente da nossa. É preciso que reconheçamos esta diferença
quando nos voltamos para as Escrituras em busca de diretriz na criação de
nossas famílias. Devemos buscar os princípios bíblicos em vez de copiar
diretamente os estilos de vida específicos que a Bíblia retrata. Esses estilos
de vida foram projetados para pequenas comunidades agrícolas, e em muitos casos
não eram do agrado de Deus. Por exemplo: a cultura daquela época permitia a um
homem ter mais de uma esposa, e alguns homens de Deus as tiveram; não obstante,
em parte alguma a Bíblia declara que Deus aprovou esta prática. Classificamo-la
como um costume cultural tolerado, mas não um costume receitado biblicamente.
Outro exemplo: Quando Abraão viveu no Egito com Sara, ele lhe
recomendou dizer que era sua irmã, temendo que os egípcios o matassem por causa
da grande beleza de Sara. Ela era, de fato, sua meia-irmã, um grau de
parentesco que Deus mais tarde especificou como próximo demais para casamento
(cf. Gênesis 20:12; Levítico 18:9). Como resultado, Faraó levou Sara para sua
casa e Deus afligiu―lhe a família com pragas a fim de resgatá-la.
O ensino bíblico sobre a vida familiar inclui instruções para
os filhos, para as mães e para os pais. Veremos exemplos de famílias que
observaram a vontade de Deus e foram grandemente abençoadas; veremos também as
que desobedeceram a Deus e colheram as conseqüências. Ao longo do caminho
notaremos como a vida da família mudou durante o curso da história de Israel.
A
UNIDADE FAMILIAR
A família foi a primeira estrutura social que Deus criou. Ele
formou a primeira família juntando Adão e Eva como marido e esposa (Gênesis
2:18-24). O homem e a mulher tornaram-se o núcleo de uma unidade familiar.
Por que Deus criou a estrutura da família? Gênesis 2:18 diz
que Deus criou a mulher como auxiliadora de Adão, o que indica que o homem e a
mulher foram reunidos primeiramente para companheirismo; a esposa devia ajudar
o marido, e o marido devia cuidar da esposa. Então os dois juntos deviam
atender às necessidades dos filhos, fruto de seu relacionamento.
A. Marido. A palavra hebraica que traduzimos por marido
significa, em parte, "dominar, governar". Também pode ser traduzida
como "senhor, amo". Como cabeça da família, o esposo era responsável
pelo seu bem-estar. Por exemplo, quando Abraão e Sara enganaram Faraó a
respeito de seu casamento, o governante inquiriu a Abraão em vez de Sara, que
realmente havia mentido (Gênesis 12:17-20). Isto não quer dizer que o marido
hebreu era um tirano que gostava de mandar na família. Pelo contrário, ele
assumia amorosamente a responsabilidade pela família e buscava atender às
necessidades dos que estavam debaixo de sua autoridade.
Todo casal judeu unia-se com a idéia de ter filhos. Estavam
especialmente ansiosos por ter um filho varão. O homem orgulhava-se de verdade
pela sorte de ser pai de um filho. Jeremias observou: "...o homem que deu
as novas a meu pai, dizendo: Nasceu-te um filho; alegrando-o com isso grandemente"
(Jeremias 20:15).
O pai judeu assumia a
liderança espiritual da família; ele funcionava como seu sacerdote (cf. Gênesis
12:8; Jó 1:5). Esperava-se que ele conduzisse a família na observância dos
vários ritos religiosos, tais como a Páscoa (Êxodo 12:3).
Juntamente com a esposa, o pai devia ensinar "a criança
no caminho em que deve andar..." (Provérbios 22:6). O pai tinha, também,
de transmitir aos filhos toda a lei escrita. Ele era admoestado nestes termos:
"tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e
andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás como
sinal na tua mão e te serão por frontal entre os teus olhos. E as escreverás
nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas" (Deuteronômio 6:7-9).
Casa do Antigo Testamento
reconstruída. Interior reconstruído de uma casa típica dos tempos bíblicos
mostra o fogão (à esquerda do centro) e uma talha com a concha de tirar água
(primeiro plano). Um tear horizontal pende de um poste no lado esquerdo da área
onde a família toma as refeições ― uma esteira circular posta com tigelas.
Jarras de guardar mantimento, cestas e tigelas estão nas prateleiras, nos
bancos e no chão.
Na porta da cidade. As
portas tas da cidade eram centros de conversações e de comércio. Muitas vezes
as portas recebiam o nome de acordo com os artigos aí negociados (p. ex., Porta
das Ovelhas, Porta do Peixe)- Visto como os anciãos muitas vezes faziam negócio
junto à porta, "assentar-se à porta" significava atingir certa
eminência social.
O pai tinha de infligir castigo físico quando necessário.
Isto devia ser feito de tal modo que não provocasse "vossos filhos à ira,
mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor" (Efésios 6:4).
Nos tempos bíblicos, o homem que não sustentasse
adequadamente a família era culpado de ofensa grave. O homem que falhava neste
ponto era evitado e escarnecido pela sociedade (cf. Provérbios 6:6-11; 19:7).
Paulo escreveu: "Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente
dos de sua própria casa, tem negado a fé, e é pior do que o descrente" (1
Timóteo 5:8).
Como esposo e pai, o homem defendia os direitos da família
perante os juizes quando se fizesse necessário (veja Deuteronômio 22:13-19).
"O órfão e a viúva" não tinham um homem que defendesse seus direitos,
por isso com freqüência lhes era negada a justiça (cf. Deuteronômio 10:18).
O povo judeu era governado por várias tradições judaicas. O
Talmude diz que o pai tinha quatro responsabilidades para com o filho, além de
ensinar-lhe a Lei. Ele devia circuncidar o filho (cf. Gênesis 17:12-13),
redimi-lo de Deus se ele fosse o primogênito (cf. Números 18:15-16),
achar-lhe uma esposa
(cf. Gênesis 24:4),
e ensinar-lhe uma profissão.
Um bom pai pensava nos filhos como seres humanos completos, e
respeitava seus sentimentos e capacidades. Disse um erudito judeu daquele tempo
que um bom pai devia "afastá-los com a mão esquerda e puxá-los para junto
de si com a mão direita". Este delicado equilíbrio entre firmeza e afeição
tipificava o pai judeu ideal.
B. Esposa. No casamento, espontaneamente a mulher assumia um
lugar de submissão ao companheiro. A responsabilidade da esposa era a de
"auxiliadora" do marido (Gênesis 2:18), aquela que "lhe faz bem,
e não mal, todos os dias de sua vida" (Provérbios 31:12). Sua principal
responsabilidade girava em torno do lar e dos filhos, mas às vezes se estendia
ao mercado e a outras áreas que afetavam o bem-estar da família (cf. Provérbios
31:16, 25).
O alvo primário da esposa era dar filhos ao marido. O
porta-voz da família de Rebeca disse-lhe: "És nossa irmã: sê tu a mãe de
milhares de milhares, e que a tua descendência possua a porta dos seus
inimigos" (Gênesis 24:60). A família judia esperava que a esposa se
tornasse como uma videira frutífera, enchendo n casa de filhos (Salmo 128:3).
Assim, a mãe saudava o primeiro filho com muita felicidade e
alívio.
À medida que os filhos iam chegando, a mãe ia ficando mais
presa ao lar. Ela amamentava cada criança até à idade de dois ou três anos,
além de vestir e alimentar O restante da família. Diariamente gastava horas
preparando refeições e fazendo roupas de lã. Quando necessário, a esposa
ajudava o marido nos campos, plantando ou colhendo.
A mãe participava da responsabilidade de educar os filhos.
Estes passavam os primeiros anos formativos da vida junto à mãe. Finalmente, os
filhos varões tinham idade suficiente para acompanhar os pais aos campos ou a
outro lugar de emprego (cf. Provérbios 31:1-9). A mãe voltava, então, suas
atenções mais plenamente para as filhas, ensinando-lhes como ser esposas e mães
bem-sucedidas.
O desempenho das tarefas de uma mulher determinava o fracasso
ou o êxito da família. Os sábios diziam: "A mulher virtuosa é a coroa do
seu marido, mas a que procede vergonhosamente é como podridão nos seus
ossos" (Provérbios 12:4). Se a esposa trabalhava com afinco na tarefa que
tinha pela frente, o marido era grandemente beneficiado. Os judeus acreditavam
que um homem poderia galgar posição, entre os líderes de Israel, somente no
caso de sua esposa ser sábia e talentosa (cf. Provérbios 31:23).
C. Filhos varões. Nos tempos bíblicos, os filhos varões
tinham de sustentar os pais quando estes envelhecessem, e dar-lhes sepultamento
digno. Por este motivo, o casal geralmente esperava ter muitos filhos,
"Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da mocidade. Feliz o
homem que enche deles a sua aljava: não será envergonhado, quando pleitear com
os inimigos à porta" (Salmo 127:4-5).
O primogênito mantinha um lugar de honra muito especial no
seio da família. Esperava-se que ele fosse o próximo cabeça da casa. No decurso
de sua vida, esperava-se que ele assumisse maior responsabilidade por seus atos
e pelos atos de seus irmãos. Foi por isto que Rúben, como irmão mais velho,
mostrou maior preocupação pela vida de José, quando os irmãos concordaram em
matá-lo (Gênesis 37:21, 29).
Ao morrer o pai, o primogênito recebia uma porção dobrada da
herança da família (Deuteronômio 21:17; 2 Crônicas 21:2-3).
O quinto mandamento admoestava: "Honra a teu pai e a tua
mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te
dá" (Êxodo 20:12). Tanto o pai quanto a mãe deviam receber a mesma soma de
respeito. Contudo, os rabinos do Talmude raciocinavam que se alguma vez um
filho tivesse de escolher entre os dois, a preferência devia ser dada ao pai.
Por exemplo, se ambos os pais pedissem um copo de água simultaneamente, o
Talmude ensinava que tanto o filho quanto a mãe deviam atender à necessidade do
pai.
Jesus foi o exemplo perfeito de filho obediente. Lucas
observou que aos 12 anos de idade, Jesus "desceu com eles para Nazaré; e
era-lhes submisso" (Lucas 2:51). Mesmo enquanto suportava as agonias da
cruz, Jesus pensou em sua mãe e em sua responsabilidade para com ela como
primogênito. Pediu a João que cuidasse dela após a sua morte, cumprindo desse
modo seu dever de amor (João 19:27).
D. Filhas. Nos tempos antigos, as filhas não eram prezadas
como os filhos varões. Alguns pais realmente as consideravam como um fardo. Por
exemplo, um pai escreveu: "O pai vela pela filha, quando nenhum homem
sabe; e o cuidado dela tira o sono: quando ela é jovem, para que não deixe
passar a flor da idade [não deixe de casar-se]; e sendo casada, para que não
seja odiada; em sua virgindade, para que não seja violada e se engravide na
casa do pai; ou tendo marido, para que ela não se comporte mal; e quando
casada, para que não seja estéril" (Eclesiástico 42:9-10).
Contudo, os hebreus tratavam as filhas com mais humanidade do
que algumas das culturas vizinhas. Os romanos realmente expunham as filhas
recém-nascidas aos elementos, na esperança de que morressem. Os hebreus criam
que a vida ― do homem e da mulher ―vinha de Deus. Por esta razão, nunca
considerariam matar um de seus filhinhos. Em realidade, quando o profeta Nata
procurou descrever o relacionamento íntimo de um pai com o filho, ele retratou
uma filha nos braços do pai com a cabeça reclinada no seu regaço (2 Samuel
12:3).
Moendo farinha, assando pão.
Os hebreus usavam pedras para moer o trigo e a cevada a fim de fazer farinha.
Misturavam a farinha, o fermento, o azeite de oliveira e água ou leite para
fazer uma massa que depois era adelgaçada para ir ao forno.
As filhas primogênitas tinham um especial lugar de honra e de
deveres na família. Por exemplo, a primogênita de Ló tentou persuadir a irmã
mais moça a ter um filho do pai, para preservar a família (Gênesis 19:31-38).
Na história de Labão e Jacó, a filha primogênita, Lia, teve prioridade sobre a
irmã mais moça (Gênesis 29:26).
Se a família não tinha filhos varões, as filhas podiam herdar
as possessões do pai (Números 27:5-8); mas só poderiam conservar a herança se
se casassem dentro de sua própria tribo (Números 36:5-12).
A filha estava sob o domínio legal do pai até que se casasse.
O pai tomava por ela todas as decisões importantes, tais como com quem ela
devia casar-se. Mas a filha era solicitada a dar seu consentimento na escolha
de um noivo, e às vezes até lhe era permitido declarar preferência (Gênesis
24:58; 1 Samuel 18:20). O pai aprovava todos os votos da filha antes de se tornarem
obrigatórios (Números 30:1-5).
Uma "Mesa"
Judaica. Uma família israelita dos tempos do Antigo Testamento comia em volta
de uma esteira no chão, como esta, onde eram postos os pratos de barro simples.
Esta reconstrução encontra-se no Museu Ha-Aretz, em Tel-Avive.
Esperava-se que a filha ajudasse a mãe no lar. Bem cedo na
vida ela começava a aprender as várias habilidades de que necessitava para
tornar-se uma boa esposa e mãe. Aos 12 anos de idade, a filha tornava-se
dona-de-casa com seus direitos próprios e lhe era permitido casar.
Em algumas culturas do Oriente Próximo, as famílias não
permitiam que as filhas saíssem de casa. Se apareciam em público, deviam usar
um véu para cobrir o rosto e não lhes era permitido falar com pessoas do sexo
masculino. Os israelitas não impunham tais restrições às suas filhas. As moças
eram relativamente livres para ir e vir, contanto que dessem conta do seu
trabalho. Vemos exemplos desta liberdade no caso de Rebeca, que conversou com
um estranho junto ao poço (Gênesis 24:15-21), e as sete filhas do sacerdote de
Midiã, que conversaram com Moisés enquanto davam de beber ao rebanho do pai
(Êxodo 2:16-22).
As moças dos tempos bíblicos preocupavam-se muito com sua
aparência. Acreditavam que a pele clara era bonita. Se uma jovem ficava
bronzeada pelo sol, ela se escondia da vista pública (Cantares 1:6). Por este
motivo, as mulheres procuravam fazer o trabalho externo nas primeiras horas da
manhã ou ao entardecer. Às vezes, porém, a mulher era obrigada a expor-se ao
sol do meio-dia, como no caso da jovem de Cantares de Salomão. Ela acusou os
irmãos de a colocarem "por guarda das vinhas", o que significa que
era obrigada a estar fora de casa a maior parte do dia (Cantares 1:6).
A família esperava que a filha permanecesse virgem até ao
casamento. Infelizmente, nem sempre isto acontecia. Algumas moças eram
seduzidas ou violadas. Quando isto acontecia, a lei mosaica estabelecia
distinções cuidadosas entre o castigo pela violação de uma moça que estava
noiva e pelo da que não estava.
Freqüentemente as filhas
casavam-se em idade prematura. Tais casamentos não criavam os problemas que
criam hoje. Embora a recém-casada deixasse o domínio do pai, ela entrava no
novo domínio do marido e sua família. A sogra entrava em cena para continuar a
orientação e o treinamento que a jovem havia recebido de sua própria mãe. A
esposa e a sogra muitas vezes criavam um laço de amizade forte e duradouro.
Isto se acha perfeitamente exemplificado no livro de Rute, quando Noemi
repetidamente se refere a Rute como "minha filha". Miquéias descreveu
a família rixenta como aquela em que "a filha se levanta contra a mãe, a
nora contra a sogra" (Miquéias 7:6).
Quando uma jovem ia viver com a família do marido, ela não
abria mão de todos os direitos que tinha em sua própria família. Se o marido
morria e não havia cunhados com quem se casar, ela podia voltar à casa paterna.
Foi exatamente isso que Noemi recomendou às suas noras, e Orfa aceitou a
sugestão (Rute 1:8-18).
E. Irmãos e Irmãs. O amor desenvolvia-se entre os irmãos
enquanto cresciam juntos, compartilhando as responsabilidades, os problemas e
as vitórias. Um dos Provérbios declara: "O homem que tem muitos amigos
pode congratular-se; mas há amigo mais chegado do que um irmão"
(Provérbios 18:24, ERC).
José revelou verdadeiro amor a seus irmãos. Mas enquanto ele
era jovem, os irmãos o venderam à escravidão porque odiavam a predileção do pai
para com ele. Mais tarde, quando José adquiriu poder e posição, podia ter
acertado as contas com eles. Em vez de fazê-lo, ele lhes mostrou amor e
misericórdia. Disse ele: "Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos
irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque para
conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós" (Gênesis 45:5).
A Bíblia descreve muitos irmãos que mantiveram um profundo e
permanente amor entre si. O Salmista descreveu o amor dos irmãos, dizendo:
"É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba
de Arão, e desce para a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermom, que
desce sobre os montes de Sião" (Salmo 133:2-3).
Irmãos e irmãs também compartilhavam um laço especial. Os
filhos de Jó nunca davam banquetes sem convidar suas três irmãs (Jó 1:4).
Quando Diná foi violada, seus irmãos vingaram o crime (Gênesis 34).
Nos tempos antigos, às vezes os jovens se casavam com sua
meia―irmã. Abraão e Sara tinham o mesmo pai, mas diferentes mães (Gênesis
20:12). Como já observamos, a lei mosaica proibiu esta prática (Levítico 18:9;
20:17; Deuteronômio 27:22).
O laço de amor entre irmãs e irmãos era tão forte que a lei
mosaica permitia que o sacerdote tocasse o corpo de um irmão, irmã, pai, mãe ou
filho falecido (Levítico 21:1-3). Esta era a única vez que o sacerdote podia tocar um defunto e tornar-se
cerimonialmente contaminado.
A
FAMÍLIA AMPLIADA
No sentido mais fundamental, a família hebraica constituía-se
do esposo, esposa e filhos. Quando o marido tinha mais de uma esposa, a
"família" incluía todas as esposas e todos os filhos em seus vários
relacionamentos (cf. Gênesis 30). Às vezes a família incluía todos os que
compartilhavam um teto comum sob a proteção do cabeça da família. Podiam ser
avós, criados e visitantes, bem como filhas viúvas e seus filhos. A família
ampliada geralmente incluía os filhos e suas esposas e filhos (Levítico
18:6-18). Deus contou os escravos de Abraão como parte do grupo familiar, pois
ele exigiu que Abraão os circuncidasse (Gênesis 17:12-14, 22-27). Na primitiva
história de Israel até quatro gerações viviam juntas. Isto era parte normal do
modo de vida seminômade e mais tarde do modo de vida agrícola.
No Oriente Médio, ainda hoje os povos seminômades perambulam
juntos como famílias numerosas em busca de sobrevivência. Cada família ampliada
tem seu próprio "pai" ou xeque, cuja palavra é lei.
Nos dias do Antigo Testamento, a família ampliada era
governada pelo homem mais velho da casa, que também era chamado
"pai". Muitas vezes esta pessoa é o avô ou bisavô. Por exemplo,
quando a família de Jacó se mudou para o Egito, Jacó foi considerado o
"pai" ― muito embora seus filhos tivessem esposas e filhos (cf.
Gênesis 46:8-27). Jacó continuou no governo da "família" até à morte.
O "pai" de uma família ampliada tinha o poder de
vida e morte sobre todos os seus membros. Vemos isto quando Abraão quase
sacrificou seu filho Isaque (Gênesis 22:9-12), e quando Judá sentenciou sua
nora à morte porque ela havia cometido adultério (Gênesis 38:24-26).
Mais tarde, a lei mosaica restringiu a autoridade do pai. Não
lhe permitia sacrificar o filho sobre o altar (Levítico 18:21). Permitia-lhe
vender a filha, desde que não fosse a um estrangeiro, ou para prostituição
(Êxodo 21:7; Levítico 19:29). De acordo com a lei, o pai não podia negar o
direito de primogenitura de seu primogênito, mesmo que ele tivesse filhos de
duas mulheres diferentes (Deuteronômio 21:15-17).
Alguns pais hebreus quebraram essas leis, como no caso de
Jefté, que votou sacrificar quem quer que lhe saísse ao encontro após seu
retorno vitorioso da batalha. Sua filha foi a primeira pessoa. Crendo que ele
tinha de cumprir o voto, Jefté sacrificou-a (Juizes 11:31, 34-40). Da mesma
forma o rei Manasses queimou o filho para aplacar um deus pagão (2 Reis 21:6).
Não sabemos quando a família ampliada dos tempos do Antigo
Testamento abriu caminho para a estrutura familiar que conhecemos hoje. Alguns
eruditos acham que ela se extinguiu durante a monarquia de Davi e de Salomão.
Outros crêem que ela continuou por mais tempo ainda. Mas, nos tempos do Novo
Testamento, a família ampliada havia quase desaparecido. Os escritos de Paulo o
confirmam; quando ele escreveu sobre os papéis e atitudes de cada membro da
família, falou apenas dos pais, filhos e escravos (cf. Efésios 5:22― 6:9).
O Novo Testamento diz que José e Maria viajaram como um casal
para alistar-se em Belém (Lucas 2:4-5). Foram ao templo sozinhos quando Maria
ofereceu sacrifícios (Lucas 2:22). Também viajaram sozinhos quando levaram
Jesus para o Egito (Mateus 2:14). Esses relatos tendem a confirmar que a
"família" do Novo Testamento constituía-se somente do marido, da
esposa e dos filhos.
O
CLÃ
A família ampliada fazia parte de um grupo maior a que
chamamos clã. O clã podia ser tão grande que registrava centenas de homens em
suas fileiras (cf. Gênesis 46:8-27; Esdras 8:1-14). Os membros de um clã
descendiam de um ancestral comum, e assim se consideravam uns aos outros como
parentes. Sentiam-se obrigados a ajudar e a proteger uns aos outros.
Muitas vezes o clã designava um homem, chamado goel, para
oferecer ajuda aos membros necessitados. Em português, esta pessoa é mencionada
como resgatador. Sua ajuda cobria muitas áreas de necessidade.
Se um membro do clã tinha de vender parte de sua propriedade
para pagar dívidas, ele dava ao resgatador a primeira opção de compra. O
resgatador tinha, então, de comprar a propriedade, se pudesse, para conservá-la
na posse do clã (Levítico 25:25; cf. Rute 4:1-6). Vemos esta situação quando o
primo de Jeremias veio a este, dizendo: "Compra o meu campo que está em
Anatote... porque teu é o direito de posse e de resgate; compra-o"
(Jeremias 32:6-8). Jeremias comprou o campo e usou o acontecimento para
proclamar que os judeus finalmente voltariam a Israel (Jeremias 32:15).
De quando em quando um exército capturava reféns e os vendia
pela melhor oferta. Também, um homem podia vender-se à escravidão para resgatar
uma dívida. Em ambos os casos, o parente do escravo tinha de encontrar o
resgatador do clã, que tentaria comprar a liberdade do seu parente (Levítico
25:47-49).
Se um homem casado morria sem ter deixado filho, o goel tinha
de casar-se com a viúva (Deuteronômio 25:5-10). A isto se dava o nome de
casamento de levirato ("cunhado"). Quaisquer filhos nascidos deste
arranjo eram considerados descendência do irmão falecido.
A história de Rute e Noemi exemplifica bem a responsabilidade
do resgatador. A viúva Noemi tinha de vender sua propriedade próxima de Belém,
e queria que sua nora sem filhos se casasse de novo. O parente mais próximo
concordou em adquirir o campo mas não estava disposto a casar-se com Rute.
Assim, ele desistiu de ambas as obrigações numa cerimônia realizada perante os
anciãos da cidade. Então Boaz, o parente seguinte, comprou o campo e casou-se
com Rute (Rute 4:9-10).
O goel tinha de vingar a morte de um parente. Nesse caso, ele
era chamado "vingador do sangue" (cf. Deuteronômio 19:12). A lei de
Moisés limitava esta prática estabelecendo cidades de refúgio para onde os
homicidas podiam fugir, porém mesmo esta providência não garantia a segurança
do assassino. Se o homicídio foi praticado por maldade ou premeditação, o
vingador do sangue seguiria o homicida até à cidade de refúgio e exigiria sua
extradição. Em tal caso, o homicida seria entregue ao goel è este o mataria
(cf. Deuteronômio 19:1-13). Foi assim que Joabe matou a Abner (2 Samuel
3:22-30).
EROSÃO
DA FAMÍLIA
A família que vive em harmonia e em verdadeiro amor é um
deleite para todos quantos se associam com ela. Por certo foi isto que Deus
tinha em mente quando estabeleceu a família. Infelizmente, a Bíblia mostra-nos
poucas famílias que alcançaram este ideal. No decurso da história bíblica, as
famílias foram-se desgastando por pressões sociais, econômicas e religiosas.
Podemos identificar alguns desses fatores.
A. Inexistência de filhos. A falta de filhos era uma grande
ameaça a um casamento nos tempos bíblicos. Se o casal não podia conceber um
filho, marido e mulher consideravam o problema como castigo de Deus.
A despeito de seu constante amor à esposa, um homem sem
filhos às vezes se casava com uma segunda mulher ou usava os serviços de uma
escrava para conceber filhos (Gênesis 16:2; 30:3; Deuteronômio 21:10-14).
Alguns homens divorciavam-se da esposa para fazer isto. Embora esta prática
solucionasse o problema da falta de filhos, ela criava muitos outros problemas.
B. Poligamia. Havia
contínua rixa doméstica quando duas mulheres compartilhavam o mesmo marido nos
tempos do Antigo Testamento. A palavra hebraica para a segunda esposa
significa, literalmente,
"esposa rival" (cf. 1 Samuel 1:6); isto
sugere que geralmente havia
amargura e hostilidade entre esposas polígamas. Não obstante, a poligamia era
habitual, especialmente no tempo dos patriarcas. Se um homem não podia levantar
o dinheiro de casamento para uma segunda esposa, ele considerava a compra de
uma escrava para esse fim ou o uso de uma que ele já tinha em casa (cf. Gênesis
16:2; 30:3-8).
Num casamento polígamo, invariavelmente o marido favorecia
uma esposa em detrimento da outra. Isto causava complicações como, por exemplo,
decidir qual o filho a honrar como primogênito. Às vezes um homem desejava
deixar a herança para o filho da esposa favorecida, embora, em realidade,
devesse deixá-la ao filho da esposa "aborrecida" (Deuteronômio
21:15:17). Moisés declarou que o primogênito tinha de ser devidamente honrado,
e o marido não podia reduzir a parte da mãe do primogênito diminuindo "o
mantimento da primeira, nem os seus vestidos, nem os seus direitos
conjugais" (Êxodo 21:10).
A política era, também, motivo para a poligamia. Muitas vezes
um rei selava uma aliança com outro, casando-se com a filha do seu aliado.
Quando a Bíblia fala do grande harém de Salomão, ela acentua que ele
"Tinha setecentas mulheres, princesas" (1 Reis 11:3). Isto mostra que
a maioria de seus casamentos foram de natureza política. Provavelmente as
mulheres vinham de pequenas cidades-estados e de tribos dos arredores de
Israel.
Depois do Êxodo, a maioria dos casamentos hebreus foram
monogâmicos; cada marido tinha somente uma esposa (Marcos 10:2-9). O livro dos
Provérbios nunca menciona a poligamia, muito embora toque em muitos aspectos da
cultura hebraica. Os profetas sempre usaram o casamento monogâmico para
descrever o relacionamento do Senhor com Israel. Tal casamento era o ideal da
vida familiar.
C. Morte do marido. A morte do marido sempre tinha
conseqüências de longo alcance para a família. O povo dos tempos bíblicos não
constituía exceção. Após um período de lamentações, a esposa enviuvada podia
adotar vários cursos de ação.
Se ela não tivesse filhos, esperava-se que continuasse a
viver com a família do marido, de acordo com a lei do levirato (Deuteronômio
25:5-10). Ela devia casar-se com um dos irmãos do marido ou com um parente
próximo. Se esses homens não estivessem disponíveis, estava ela livre para
casar-se fora do clã (Rute 1:9).
As viúvas com filhos dispunham de outras opções. Do livro deuterocanônico
de Tobias aprendemos que algumas voltavam para a família do pai ou do irmão
(Tobias 1:8). Se a viúva era idosa, um de seus filhos varões podia cuidar dela.
Se ela adquirira segurança financeira, podia viver sozinha. Por exemplo, Judite
não se casou nem se mudou para a casa de um parente, pois "seu marido
Manasses lhe havia deixado ouro, e prata, e criados e criadas, e gado e terras;
e ela permaneceu neste estado" (Judite 8:7).
De quando em quando a viúva não tinha sequer um centavo, nem
tinha parente homem do qual depender. Tais mulheres enfrentavam grandes
dificuldades (cf. 1 Reis 17:8-15; 2 Reis 4:1-7).
A viúva sem filhos, dos tempos do Novo Testamento, achava-se
numa posição muito mais segura. Se ela não dispunha de nenhum dos costumeiros meios
de sustento, podia recorrer à igreja em busca de ajuda. Paulo sugeriu que as
viúvas jovens casassem de novo e que as viúvas idosas fossem sustentadas pelos
filhos; mas se a viúva não tinha a quem recorrer, a igreja devia cuidar dela (1
Timóteo 5:16).
Aldeia de
Kafr Kenna. Uma aldeia na
Galiléia rural, Kafr Kenna, ainda se parece muito com as aldeias dos tempos
bíblicos. Observe o estilo simples das casas.
D. Filhos rebeldes. Era pecado grave desonrar o pai ou a mãe.
Moisés ordenou que a pessoa que ferisse ou amaldiçoasse o pai ou a mãe fosse
morta (cf. Êxodo 21:15, 17; Levítico 20:9). Não temos registro de que este
castigo tenha sido aplicado, mas a Bíblia descreve muitos casos em que os
filhos desonraram os pais. Quando Ezequiel enumerou os pecados de Jerusalém,
escreveu: "No meio de ti desprezam o pai e a mãe, praticam extorsões
contra o estrangeiro e são injustos para com o órfão e a viúva" (Ezequiel
22:7). Quadro semelhante é apresentado em Provérbios 19:26. Jesus condenou
muitos judeus de seu tempo por não honrarem os pais (Mateus 15:4-9)
Às vezes o pai ou a mãe causava mais atrito no seio da
família do que o filho ou a filha. O profeta Nata anunciou a Davi que "não
se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher
de Urias, o heteu, para ser tua mulher" (2 Samuel 12:10). Desse tempo em
diante, Davi teve problema com os filhos.
Amnon apaixonou-se de Tamar, sua meia-irmã, e a violentou.
Não obstante, Davi não castigou o filho, e Absalão, irmão de Tamar, matou a
Amnom por vingança. Então Absalão fugiu para a terra de sua mãe, retornando
mais tarde para chefiar uma revolta contra o pai (2 Samuel 13). Davi insistiu
em que seus homens não matassem Absalão, mas o jovem morreu num acidente de
Batalha. Davi chorou a morte do filho (2 Samuel 18).
Ao aproximar-se Davi da morte, seu filho Adonias desejou
sucedê-lo no trono. Davi não tentou restringir-lhe as pretensões, nesta ou em
nenhuma outra ocasião. A Bíblia diz que o rei jamais "o contrariou
[Adonias], dizendo: Por que procedes assim?" (1 Reis 1:6).
E. Rivalidade entre os filhos. O escritor de Provérbios expõe
graficamente o problema dos filhos que discutem entre si: "O irmão
ofendido resiste mais que uma fortaleza; suas contendas são ferrolhos dum
castelo" (Provérbios 18:19). A Bíblia descreve irmãos que discutem por
vários motivos. Jacó procurou furtar a bênção de Esaú (Gênesis 27). Absalão
odiou a Amnom porque Davi se recusou a puni-lo (2 Samuel 13). Salomão destruiu
a seu irmão Adonias por suspeitar que este desejava o trono (1 Reis 2:19-25).
Quando Jeorão subiu ao trono, matou todos os irmãos, de sorte que nunca fossem
uma ameaça para ele (2 Crônicas 21:4).
Às vezes os pais provocavam a rivalidade entre os filhos,
como no caso da família de Isaque. A Bíblia diz que "Isaque amava a
Esaú...; Rebeca, porém, amava a Jacó" (Gênesis 25:28). Quando Isaque
desejou abençoar a Esaú, Rebeca ajudou Jacó a obter a bênção para si. Esaú
enfureceu-se e ameaçou matar a Jacó que fugiu para um país longínquo (Gênesis
27:41-43). A reunificação da família demandou uma geração inteira.
Infelizmente, Jacó não tirou proveito da lição dos erros de
seu pai. Ele também favoreceu a um dos filhos, dando a José honra perante os
outros. Isto enfureceu de tal modo os restantes que tramaram matar o predileto
do pai. A Bíblia registra que "Vendo, pois, seus irmãos, que o pai o amava
mais do que a todos os outros filhos, odiaram-no e já não lhe podiam falar
pacificamente" (Gênesis 37:4).
F. Adultério. Os judeus consideravam o adultério uma grave ameaça
à família, por isso puniam os adúlteros imediatamente e com severidade.
RESUMO
A família era um fio unificador na história bíblica. Quando
ameaçada ou desafiada, a unidade familiar lutava pela sobrevivência. Deus usou
as famílias para transmitir sua mensagem a cada nova geração.
Deus sempre se expressara como Pai de sua família redimida
(Oséias 11:1-3). Ele espera receber honra da parte de seus filhos (Malaquias
1:6). Jesus ensinou seus discípulos a orar, dizendo "Pai nosso."
Mesmo hoje, as orações das crianças preparam-nas para honrar a Deus como o Pai
perfeito, capaz de atender a todas as suas necessidades.
Deus ordenou a unidade da família como parte vital da
sociedade. Pela amorosa experiência da família humana, começamos a entender o
tremendo privilégio que temos de fazer parte da "família de Deus".
2.
MULHERES E CONDIÇÕES DA MULHER
É justo dizer que o Israel bíblico achava que os homens eram
mais importantes do que as mulheres. O pai ou o homem mais idoso da família
tomava as decisões que afetavam todo o grupo familiar, ao passo que as mulheres
tinham muito pouco que dizer sobre elas. Esta forma patriarcal (centrada no
pai) de vida em família determinava como as mulheres eram tratadas em Israel.
Por exemplo, uma menina era educada para obedecer ao pai sem
questionar. Depois, quando se casava, devia obedecer ao marido da mesma forma.
Se ela se divorciava, ou enviuvava, quase sempre voltava a viver na casa do
pai.
Em verdade, Levítico 27:1-8 sugere que uma mulher valia
apenas a metade de um homem. Assim, uma filha era menos bem recebida do que um
filho. Os meninos eram ensinados a tomar decisões e a governar suas famílias.
As meninas eram criadas para casar e ter filhos.
A jovem nem mesmo pensava numa carreira fora do lar. A mãe
lhe ensinava a cuidar da casa e criar filhos. Esperava-se que ela fosse uma
auxiliadora do marido e lhe desse muitos filhos (Gênesis 3:16). Se a mulher não
tinha filhos, era tida como amaldiçoada (Gênesis 30:1-2, 22; 1 Samuel 1:1-8).
Não obstante, a mulher era mais do que um objeto que podia
ser comprado e vendido. Cabia-lhe um papel importante. Provérbios 12:4 diz:
"A mulher virtuosa é a coroa do seu marido, mas a que procede
vergonhosamente é como podridão nos seus ossos." Em outras palavras, uma
boa esposa era boa para o marido; ela o ajudava, cuidava dele e fazia-o
sentir-se honrado. Mas uma esposa má era pior do que um câncer; ela podia
destruí-lo dolorosamente e fazê-lo objeto de zombaria. A esposa podia fazer ou
desfazer o marido.
Ainda que a maioria das mulheres passasse os dias como donas-de-casa
e mães, havia algumas exceções. Por exemplo, Miriã, Débora, Hulda e Ester foram
mais do que boas esposas ― foram líderes políticas e religiosas que comprovaram
ser capazes de conduzir a nação tão bem quanto qualquer homem.
OPINIÃO
DE DEUS SOBRE AS MULHERES
No final do primeiro capítulo do Gênesis, lemos: "Criou
Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criou. E Deus os abençoou, e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei
a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, e
sobre todo animal que rasteja pela terra" (Gênesis 1:27, 28). Esta
passagem mostra duas coisas a respeito das mulheres. Primeira, a mulher bem
como o homem foi criada à imagem de Deus. Deus não criou a mulher para ser
inferior ao homem; ambos são igualmente importantes. Segunda, também se
esperava que a mulher tivesse autoridade sobre a criação de Deus. Homem e
mulher devem compartilhar esta autoridade ― ela não pertence apenas ao homem.
Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei
uma auxiliadora que lhe seja idônea" (Gênesis 2:18). Assim, "Deus fez
cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu: tomou uma de suas
costelas" (Gênesis 2:21), Deus empregou essa costela na criação de Eva.
Este relato mostra como a mulher é importante para o homem: Ela é parte de seu
próprio ser, e sem ela o homem é incompleto.
Mas Adão e Eva pecaram, e Deus disse a Eva: "O teu
desejo será para o teu marido, e ele te governará" (Gênesis 3:16). Foi,
portanto, dito às mulheres que obedecessem a seus maridos. E assim permaneceu,
mesmo nos tempos do Novo Testamento, quando o apóstolo Paulo disse às esposas
cristãs, "sejam submissas a seus próprios maridos, como ao Senhor"
(Efésios 5:22). Mas, embora a mulher devesse obedecer ao marido, ela não era
inferior a ele. Significa, simplesmente, que ela deve estar disposta a deixar
que ele dirija. Na verdade, Paulo exigiu submissão tanto da parte do marido
como da esposa, "sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo"
(Efésios 5:21). Em outra carta, Paulo declarou claramente que não há diferença
de status em Cristo entre homem e mulher. "Não pode haver judeu nem
grego", escreve ele, "nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher;
porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3:28).
Retrato de uma cabeça. As
linhas de cobre negro feitas nas pálpebras desta escultura de marfim (século
quatorze a.C.) dão uma aparência de vida a esta representação de uma importante
mulher de Ugarite. Ao longo da testa, na linha do cabelo encontram-se laçadas
de prata misturada com ouro. O alto toucado e o cabelo eram outrora cobertos de
ouro fino.
A
POSIÇÃO LEGAL DAS MULHERES
A posição legal da mulher, em Israel, era inferior à do
homem. Por exemplo, o homem podia divorciar-se da esposa "por ter ele
achado coisa indecente nela", mas à esposa não era permitido divorciar-se
do marido por nenhuma razão (Deuteronômio 24:1-4). A Lei declarava que a esposa
suspeita de ter relações sexuais com outro homem devia fazer prova de ciúmes
(Números 5:11-31). Contudo, não havia prova alguma para o homem suspeito de
infidelidade com outra mulher. A Lei dizia, também, que o homem podia fazer um
voto religioso, e esse voto era válido (Números 30:1-15); mas o voto feito por
uma mulher podia ser anulado por seu pai ou (se ela fosse casada) pelo marido.
O pai de uma mulher podia vendê-la para pagar uma dívida (Êxodo 21:7), e ela
não podia ser libertada depois de 6 anos, como podia o homem (Levítico 25:40).
Num caso, pelo menos, um homem deu sua filha para ser usada sexualmente por uma
turba (Juizes 19:24).
Algumas leis, porém, sugeriam que homens e mulheres deviam
ser tratados como iguais. Por exemplo, os filhos deviam tratar o pai e a mãe
com igual respeito e reverência (Êxodo 20:12). O filho que desobedecesse ou
amaldiçoasse ao pai ou à mãe devia ser castigado (Deuteronômio 21:18-21). O
homem e a mulher apanhados no ato de
adultério deviam ambos morrer apedrejados (Deuteronômio 22:22). (É interessante
notar neste ponto que quando os fariseus arrastaram uma adúltera à presença de
Jesus com a intenção de apedrejá-la, eles próprios já haviam quebrado a lei
deixando que o homem escapasse -João 8:3-11).
Outras leis hebraicas ofereciam proteção às mulheres. Se o
homem tomasse uma segunda esposa, ele ainda era obrigado, pela lei, a alimentar
e vestir a primeira esposa, e continuar a ter relações sexuais com ela (Êxodo
21:10). Mesmo a mulher estrangeira, tomada como noiva, na guerra, tinha alguns
direitos; se o marido se cansasse dela, devia dar-lhe liberdade (Deuteronômio
21:14). Qualquer homem culpado do crime de estupro devia ser morto por
apedrejamento
(Deuteronômio 22:23-27).
Em geral, só os homens possuíam propriedade. Mas quando os
pais não tinham filhos varões, as filhas podiam receber a herança. Deviam
casar-se dentro do clã para conservá-la (Números 27:8-11).
Uma vez que Israel era uma sociedade dominada por homens,
algumas vezes os direitos da mulher eram menosprezados. Jesus contou a história
de uma viúva que teve de importunar um juiz que não queria tomar tempo para
ouvir o seu lado da questão. Não querendo que ela continuasse a aborrecê-lo,
finalmente o juiz concordou em ouvi-la (Lucas 18:1-8). Como acontecia com
muitas das histórias de Jesus, isto era algo que podia realmente acontecer, e
talvez tenha acontecido.
Não obstante, as viúvas recebiam também alguns privilégios
especiais. Por exemplo, era-lhes permitido respigar os campos após a colheita
(Deuteronômio 24:19-22) e receber uma porção dos dízimos no terceiro ano,
juntamente com os levitas (Deuteronômio 26:12). Assim, a despeito de seu status
legal inferior, as mulheres gozavam de alguns direitos especiais na sociedade
judaica.
MULHERES
NO CULTO
As mulheres eram consideradas membros da "família da
fé". Como tais, podiam entrar na maioria das áreas de culto.
A Lei determinava que todos os homens se apresentassem
perante o Senhor três vezes por ano. Evidentemente, em algumas ocasiões as
mulheres iam com eles (Deuteronômio 29:11; Neemias 8:2; Joel 2:16), mas não se
exigia que fossem. Talvez não se exigia que fossem por causa de seus
importantes deveres como esposas e mães. Por exemplo, Ana foi a Silo com o
marido e pediu um filho ao Senhor (1 Samuel 1:3-5). Mais tarde, quando a
criança nasceu, ela disse ao marido: "Quando for o menino desmamado, levá-lo-ei
para ser apresentado perante o Senhor, e para lá ficar para sempre" (vv.
21-22).
Mulher de Mari. Estatueta de
barro da cidade de Mari, localizada ao longo do rio Eufrates na Mesopotâmia
(hoje Síria); retrata uma mulher cantando. A estatueta foi feita antes de 2500
a. C.
Como cabeça da casa, o marido ou pai apresentava os
sacrifícios e ofertas em nome da família toda (Levítico 1:2). Mas a esposa
podia também estar presente. As mulheres compareciam à Festa dos Tabernáculos
(Deuteronômio 16:14), à festa anual do Senhor (Juizes.21:19-21), e à festa da
Lua Nova (2 Reis 4:23).
Um sacrifício que só as mulheres faziam ao Senhor era
oferecido após o nascimento de uma criança: "E, cumpridos os dias da sua
purificação por filho ou filha, trará ao sacerdote um cordeiro de um ano por
holocausto, e um pombinho ou uma rola por oferta pelo pecado à porta da tenda
da congregação" (Levítico 12:6).
À época do Novo Testamento, as mulheres judias já não
participavam ativamente no culto do templo ou da sinagoga. Embora houvesse uma
área especial no templo conhecida como "Pátio das mulheres", não lhes
era permitido entrar no pátio interior. Fontes extrabíblicas dizem-nos que não
se permitia às mulheres ler ou falar na sinagoga; mas podiam sentar-se e ouvir
na seção especial a elas destinada. As mulheres podem ter tido permissão para
entrar somente nas sinagogas que funcionavam com base em princípios
helenísticos.
Na igreja cristã primitiva revela-se um quadro diferente.
Lucas 8:1-3 mostra que Jesus recebeu algumas mulheres como companheiras de
viagem. Ele incentivou a Marta e Maria a sentar-se a seus pés como discípulas
(Lucas 10:38-42). O respeito de Jesus pelas mulheres era algo
surpreendentemente novo.
Depois que Jesus ascendeu ao céu, diversas mulheres
reuniram-se com os demais discípulos no cenáculo para orar. Conquanto a
Escritura não o diga tão especificamente, com toda a probabilidade essas
mulheres oravam em público, em voz audível. Tanto homens como mulheres
congregaram-se no lar da mãe de João Marcos a fim de orar pelo livramento de
Pedro (Atos 12:1-17), e do mesmo modo, homens e mulheres oravam regularmente na
igreja de Corinto (1 Coríntios 11:2-16). Por isso o apóstolo Paulo deu
instruções a homens e mulheres sobre a maneira de orar em público.
Esta liberdade concedida às mulheres era tão nova que causou
alguns problemas na igreja, de modo que Paulo deu às primeiras organizações
algumas diretrizes limitando o papel das mulheres. Escreveu ele:
"Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido
falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se, porém, querem
aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seus próprios maridos; porque
para a mulher é vergonhoso falar na igreja" (1 Coríntios 14:34-35).
Poço de água e degraus.
Construída cerca de 1100 a.C, esta escadaria de setenta e nove degraus desce em
espiral ao tanque de Gibeom. A escadaria e o poço, que exigiram a remoção de
quase 3000 toneladas de pedra calcária, dava acesso à água fresca dentro dos
muros da cidade. Mulheres de Gibeom faziam o longa descida e subida todos os
dias a fim de prover água para suas casas.
Em outra carta, Paulo escreveu: "A mulher aprenda em
silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem que
exerça autoridade sobre o marido; esteja, porém, em silêncio" (1 Timóteo
2:11-12). As opiniões diferem quanto ao que, exatamente, levou Paulo a escrever
essas coisas, e até que ponto constituem normas para os cristãos de nosso
tempo. Contudo, por certo ele estava corrigindo comportamento que parecia
desregrado para a época.
Diversas mulheres da Bíblia foram famosas por sua fé.
Incluídas na lista dos fiéis em Hebreus 11 estão duas mulheres: Sara e Raabe
(Josué 2; 6:22-25). Ana foi um exemplo piedoso da mãe israelita: Ela orou a
Deus; creu que ele ouviu suas orações; e cumpriu a promessa que fez a Deus. Sua
história encontra-se em 1 Samuel 1. Maria, mãe de Jesus, também foi uma boa e
piedosa mulher. Maria deve ter-se lembrado do exemplo de Ana, pois seu cântico
de louvor a Deus (Lucas 1:46-55) é muito parecido com o de Ana (1 Samuel
2:1-10). O apóstolo Paulo lembra a Timóteo a bondade de sua mãe e avó (2
Timóteo 1:5).
Todavia, nem todas as mulheres judias dos tempos bíblicos
foram leais a Deus. Segundo o livro dos escritos judeus conhecido como Talmude,
algumas mulheres "dedicavam-se à feitiçaria" (Joma 83b) e ao
ocultismo. O Talmude alegava também que "a maioria das mulheres inclina-se
para a feitiçaria" (Sinédrio 67a). Alguns rabinos criam que foi por isto
que Deus disse a Moisés: "A feiticeira não deixarás viver."
Faça-se justiça, porém: as Escrituras não dizem que as
mulheres estavam mais interessadas no ocultismo do que os homens. Diversas
referências bíblicas a mulheres que participavam do ocultismo (p. ex., 2 Reis
23:7; Ezequiel 8:14; Oséias 4:13-14) mostram claramente que os homens também se
envolviam. E das quatro vezes que a bruxaria é mencionada no livro de Atos, só
uma delas se relaciona com uma mulher (Atos 8:9-24; 13:4-12; 16:16-18;
19:13-16).
AS
MULHERES NA CULTURA DE ISRAEL
A sociedade israelita determinava que o lugar da mulher era
no lar. Esperava-se que ela achasse a vida de esposa e mãe muito agradável.
Evidentemente, as mulheres judias aceitavam esse papel com boa disposição.
A. A esposa ideal. Todo homem desejava encontrar uma esposa
perfeita, uma esposa que lhe fizesse "bem, e não mal, todos os dias de sua
vida" (Provérbios 31:12). Poucos homens, então como agora, desejavam uma
mulher mandona ou que gostasse de brigar! Provérbios 19:13 comparava uma esposa
rixenta a um contínuo gotejar sobre a cabeça de alguém. Em realidade,
"Melhor é morar numa terra deserta do que com a mulher rixosa e
iracunda" (Provérbios 21:19).
Cena de mercado romano. Este
relevo funerário romano mostra o balcão de um negociante de aves e vegetais.
Atrás do balcão está uma vendedora. A sorte das mulheres romanas era melhor do
que a da maioria das mulheres do mundo antigo.
Que qualidades entravam na composição da "esposa
perfeita" no antigo Israel? Que qualidades a família procurava numa noiva
para o filho? Que qualidades a mãe tentava instilar na filha, preparando-a para
ser uma boa esposa e mãe?
A maioria dessas qualidades acham-se descritas num
interessante poema em Provérbios 31. O poema é um acróstico ― ou seja, cada
verso começa com uma letra hebraica diferente em ordem alfabética. Podíamos
chamar esses versos de "ABC da Esposa Perfeita".
Segundo este poema, a esposa ideal tem muitos talentos. Ela
sabe cozinhar e costurar (vv. 13, 15, 19, 22). Nunca desperdiça o tempo com
fuxicos, mas passa o tempo em tarefas mais importantes (v. 27). Ela tem queda
para ver o que precisa ser feito e o faz. Entende bem de negócios, sabe comprar
e vender com sabedoria (vv. 16, 24). Contudo, ela não é egoísta. Ajuda os
necessitados e dá conselho aos que são menos sábios (v. 26). Possui, também,
profunda reverência por Deus (v. 30). Tenta, por todos os modos, ser uma
"auxiliadora idônea" para o marido. O poema termina dizendo que se
ela fizer todas essas coisas, seu marido será elevado a uma posição de destaque
aos olhos da comunidade (v. 23).
Um esboço mais breve do que constitui uma esposa perfeita
pode ser encontrado em Eclesiástico 26:13-16: "A graça de uma esposa
deleita o marido, e sua discrição lha engordará os ossos. Uma mulher calada e
amorosa é um dom do Senhor; e nada vale tanto quanto uma mente bem instruída.
Uma mulher modesta e fiel é uma graça dobrada, e sua mente casta não pode ser
avaliada. Como o sol quando se ergue no alto céu, assim é a beleza de uma boa
esposa na ordenação de sua casa."
B. A beleza da mulher. Cada sociedade tem seus próprios
padrões de beleza. Algumas culturas acentuam que a mulher bela deve ser gorda,
enquanto para outras ela deve ser delgada. É difícil saber exatamente o que os
antigos hebreus consideravam belo.
A maioria das mulheres atraentes que a Bíblia menciona não
são descritas em detalhe. Geralmente o escritor nota que uma mulher era
"bela"', e isso é tudo. O conceito bíblico de beleza está aberto a
diferentes interpretações.
Tome-se, por exemplo, a declaração de que "Lia tinha os
olhos baços, porém Raquel era formosa de porte e de semblante" (Gênesis
29:17). Alguns eruditos pensam que a palavra hebraica traduzida por
"baços" poderia ser mais bem traduzida por "ternos e
encantadores". Nesse caso, podia significar que ambas as irmãs eram belas
a seu próprio modo. Lia podia ter tido belos olhos, enquanto Raquel possuía corpo
bonito.
As mais claras descrições de uma mulher bonita vêm de
Cantares de Salomão; mas ainda aqui há alguma dúvida de que a moça esteja sendo
descrita com precisão. O poeta usa uma longa série de símiles e metáforas para
pintar um quadro mental de seu amor, e às vezes a técnica poética entra na
forma da descrição. Os dentes dela são brancos como o rebanho de ovelhas, sem
faltar nenhum. Seus lábios são como um fio de escarlate (Cantares 4:2-3).
Algumas das mais importantes mulheres do Antigo Testamento
são mencionadas como tipos de beleza. Sara (Gênesis 12:11), Rebeca (Gênesis
26:7) e Raquel (Gênesis 29:17) são todas descritas assim. Davi foi tentado a
cometer adultério com Bate-Seba porque ela era mui formosa (2 Samuel 11:2).
Tamar, filha de Davi, foi violentada por seu meio-irmão Amnom por causa de sua
beleza (2 Samuel 13:1). Tanto Absalão como Jó tinham filhas formosas (2 Samuel
14:27; Jó 42:15). A luta entre Salomão e Adonias para suceder a Davi como rei
terminou quando Adonias quis casar com a formosa Abisague (1 Reis 1:3-4). Não
somente seu pedido foi negado, como lhe custou a vida (1Reis 2:19-25). Os
judeus que viviam durante o período persa foram salvos por uma bela judia de
nome Ester (cf. o livro de Ester).
Penteado. Um painel do
sarcófago da princesa Kawit do Egito (cerca de 2100 a.C.) retrata o esmerado
processo de pentear cabelos. Uma criada trança os cabelos de sua senhora,
enquanto a princesa tem na mão uma tigela de leite e um espelho.
Nem todas as mulheres eram naturalmente formosas, mas as
ricas podiam melhorar a aparência com roupas, perfumes e cosméticos caros. O
profeta Ezequiel disse que a nação de Israel era como uma jovem que se banhou e
ungiu. Ela usava roupas bordadas e calçados de couro. Deus disse à nação:
"Também te adornei com enfeites, e te pus braceletes nas mãos e colar à
roda do teu pescoço. Coloquei-te um pendente no nariz, arrecadas nas orelhas, e
linda coroa na cabeça. Assim foste ornada de ouro e prata; o teu vestido era de
linho fino, de seda, e de bordados" (Ezequiel 16:11-13). O profeta Isaías
mencionou mais destes adornos em 3:18-23,
tais como anéis dos artelhos, turbantes e amuletos, sinetes e as jóias
pendentes do nariz. Os arqueólogos têm encontrado alguns desses objetos.
Jeremias falou de outra prática comum do seu tempo. As
mulheres pintavam linhas no rosto para darem maior realce aos olhos (Jeremias
4:30). Outras mulheres usavam pentes adornados de jóias para tornarem o cabelo
mais bonito. Muitos desses pentes e centenas de espelhos também têm sido
encontrados, dando uma retrospectiva dos tempos bíblicos.
Há, porém, dois tipos de beleza ― a exterior e a interior de
uma personalidade agradável. As Escrituras advertem homens e mulheres a não
darem demasiada importância aos aspectos físicos e às roupas dispendiosas.
Um sábio admoestou: "Como jóia de ouro em focinho de
porco, assim é a mulher formosa que não tem discrição" (Provérbios 11:22).
Outro sábio escreveu: "Enganosa é a graça e vã a formosura, mas a mulher
que teme ao Senhor, essa será louvada" (Provérbios 31:30). Pedro e Paulo
disseram às mulheres de sua época que se preocupassem mais com a beleza
interior do que com a boa aparência (1 Timóteo 2:9-10; 1 Pedro 3:3-4).
C. A mulher como parceira sexual. Era contrário à Lei que uma
mulher não casada tivesse relações sexuais. Devia permanecer virgem até após a
cerimônia de casamento. Se alguém pudesse provar que ela não era virgem quando
se casou, era trazida à porta da casa de seu pai e os homens da cidade
apedrejavam-na até morrer (Deuteronômio 22:20-21).
O sexo, porém, era parte muito importante da vida
matrimonial. Deus havia ordenado que o relacionamento sexual fosse realizado em
lugar próprio e entre as pessoas certas ― parceiros conjugais. Os judeus
levavam isto tão a sério que o homem recém-casado estava livre de seus deveres
militares ou de negócios durante um ano inteiro, de sorte que ele promovesse
"felicidade à mulher que tomou" (Deuteronômio 24:5). A única
restrição era que o marido e a esposa não tivessem relações sexuais durante o
período de menstruação da mulher (Levítico 18:19).
O sexo devia ser desfrutado pela esposa bem como pelo marido.
Deus disse a Eva: "o teu desejo será para o teu marido" (Gênesis
3:16). Nos Cantares de Salomão, a mulher era muito agressiva, beijando o marido
e conduzindo-o à recâmara. Ela lhe expressava amor vez após vez, e insistia com
ele para que desfrutasse o relacionamento físico de ambos (Cantares 1:2; 2:3-6,
8-10; 8:1-4).
Nos tempos do Novo Testamento houve desacordo na igreja de
Corinto com relação ao papel do sexo. Parece que algumas pessoas achavam que a
vida devia ser gozada na sua totalidade de modo que, fosse o que fosse que
alguém desejasse fazer sexualmente, devia estar certo ― incluindo o adultério,
a prostituição e atos homossexuais. Outros pensavam que o sexo era de certo
modo mau e não se devia ter nenhuma relação física, nem mesmo com o esposo ou
com a esposa. Paulo lembrou aos coríntios que o adultério e a homossexualidade
eram pecados e deviam ser evitados (1 Coríntios 6:9-11), mas disse que maridos
e esposas deviam desfrutar juntos o dom divino do sexo. Paulo instruiu: "O
marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também semelhantemente a esposa
ao seu marido....Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo
consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e novamente vos
ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência" (1
Coríntios 7:3, 5).
D. A mulher como
mãe. Sem os remédios e os analgésicos
modernos, o nascimento de uma criança
era experiência muito dolorosa. Em realidade, muitas mães morriam ao dar à luz
(cf. Gênesis 35:18-20; 1 Samuel 4:20). A despeito desses perigos, a maior parte
das mulheres ainda desejavam ter filhos.
Para as mulheres hebréias era extremamente importante ser boa
esposa e mãe. A maior honra que uma mulher poderia receber seria dar à luz o
Messias. Mal podemos imaginar a emoção de Maria quando o anjo Gabriel a saudou
com as palavras, "Salve! agraciada; o Senhor é contigo. Bendita és tu
entre as mulheres!" (Lucas 1:28). Então ele prosseguiu, dizendo-lhe que
ela seria a mãe do Messias. A saudação que Maria recebeu de Isabel foi do mesmo
teor (cf. Lucas 1:42).
E. O trabalho da
mulher. Pelos padrões hodiernos, não consideraríamos muito estimulante a vida
diária marcada por trabalho duro e longas horas da mãe israelita média.
Levantava-se de manhã antes de todos, e acendia o fogo na
lareira ou no fogão. O principal alimento da dieta judaica era o pão. Com
efeito, a palavra hebraica para alimento (ohel) era sinônimo de pão. Um dos
deveres da esposa e mãe, portanto, era moer o grão para fazer farinha. Isto
requeria vários passos e ela não dispunha de nenhuma das bugigangas elétricas
que as esposas modernas possuem, de modo que todo o seu trabalho era feito a
mão.
Ela usava espinhos, restolho, ou mesmo estéreo como
combustível. Geralmente cabia aos filhos o trabalho de encontrar lenha; se,
porém, eles não tivessem idade suficiente para sair de casa, então essa tarefa
cabia à mulher.
Todas as famílias necessitavam de água. Às vezes elas construíam
sua própria cisterna para armazenar a água da chuva; mas, na maioria das vezes,
a água vinha de uma fonte ou de um poço no meio da aldeia.
Preparando a massa. Esta
figura humana, rudemente modelada de el-Jib, na Palestina (cerca do sexto
século a.C.) curva-se sobre a gamela para preparar a massa. O pão era o
alimento básico do antigo Oriente Próximo. Os padeiro9 misturavam farinha com
água e temperavam-na com sal; depois amassavam-na em gamela especial. A seguir
adicionavam uma pequena quantidade de massa fermentada até que toda a massa
fosse levedada. Os judeus não usavam fermento nas ofertas de manjares (Levítico
2:11), e seu emprego era proibido durante a semana da Páscoa.
Algumas cidades do Antigo Testamento foram edificadas sobre
fontes subterrâneas; Megido e Hazor foram duas dessas cidades. Em Hazor a
mulher ia até um poço profundo. Então ela descia duas rampas feitas por mão
humana, de nove metros e cinco lances de escada até ao túnel de água, onde ela
seguia por mais escadas até ao nível de água para encher o grande cântaro. Era
preciso que ela tivesse considerável força para subir e sair do poço com um
pesado vasilhame de água. Mas isso não era de todo mau. A caminhada em busca de
água dava-lhe oportunidade de conversar com outras mulheres da aldeia. As
senhoras muitas vezes se reuniam em torno da fonte de água ao entardecer ou bem
cedo de manhã para trocar novidades e boatos (cf. Gênesis 24:11). A mulher
junto ao poço de Sicar veio ao meio-dia, sem dúvida, porque as outras mulheres,
por causa de sua vida frouxa, não queriam saber de nada com ela e
menosprezavam-na (cf. João 4:5-30).
Também se esperava que a esposa fizesse as roupas da família.
As crianças pequenas tinham de ser amamentadas, vigiadas e mantidas limpas. A
medida que as crianças cresciam, a mãe lhes ensinava boas maneiras. Também
ensinava às filhas mais velhas a cozinhar, costurar e fazer as demais coisas
que uma boa esposa israelita devia saber.
Além disso, era de esperar que a esposa ajudasse a recolher a
colheita (cf. Rute 2:23). Ela preparava algumas colheitas como azeitonas e uvas
para armazenamento. Assim, sua rotina diária tinha de ser flexível bastante
para incluir estes outros misteres.
MULHERES
LÍDERES EM ISRAEL
Em sua grande maioria, as mulheres israelitas nunca se tornavam
dirigentes públicas, mas houve algumas exceções. A Bíblia registra os nomes e
atos de diversas mulheres que se destacaram em assuntos políticos, militares ou
religiosos.
A. Heroínas militares. As duas mais famosas heroínas
militares do Antigo Testamento foram Débora e Jael; ambas participaram da mesma
vitória. Por meio de Débora, Deus falou ao general Baraque como os cananeus
podiam ser batidos. Baraque concordou em atacar os cananeus, porém desejava que
Débora fosse com ele à batalha. Ela foi, e os cananeus foram devidamente
derrotados. Contudo, Sísera, general cananeu, escapou a pé. Jael viu-o, saiu a
saudá-lo e convidou―o a entrar em sua tenda. Ali ele caiu no sono. Enquanto ele
dormia, Jael entrou e encravou-lhe na cabeça uma estaca da tenda, matando-o
(Juizes 4-5).
Noutra ocasião diversas mulheres ajudaram a defender a cidade
de Tebes contra os atacantes. O chefe do ataque, Abimeleque, aproximou-se da
porta da torre para a incendiar. Uma das mulheres viu-o junto à porta e
lançou-lhe sobre a cabeça uma pedra de moinho. A pesada pedra partiu o crânio
de Abimeleque. Enquanto jazia moribundo, ordenou ao seu escudeiro:
"Desembainha a tua espada, e mata-me; para que não se diga de mim: Mulher
o matou" (Juizes 9:54). O ataque foi abandonado. Gerações posteriores
deram à mulher desconhecida o crédito pela vitória (cf. 2 Samuel 11:21).
Mulher fiando lã. Este
relevo de pedra, procedente de Susa, retrata uma mulher segurando um fuso na
mão esquerda e um material fibroso, talvez lã, na direita. Atrás dela está uma
criada com um grande abano. Entre os hebreus, fiar era principalmente ocupação
de mulheres (Êxodo 35:25-26).
Os judeus contemporâneos de Jesus contavam uma história
popular a respeito de uma mulher rica, chamada Judite, devota e formosa. A
história começou com a invasão de Israel por um exército assírio, conduzido
pelo general Holofernes. Ele sitiou uma das cidades de Israel, cortou-lhe o
alimento e os suprimentos, e lhe deu cinco dias para render-se. Judite
incentivou seus concidadões a confiar em Deus pela vitória. Então ela vestiu-se
com roupas bonitas e fez uma visita a Holofernes. O general achou que ela era
muito amável e pediu-lhe que o visitasse todos os dias. Na última noite,
véspera da rendição dos judeus, Judite ficou sozinha com Holofernes. Quando ele
caiu embriagado, Judite tirou-lhe a espada, cortou-lhe a cabeça e colocou-a num
cesto. Depois ela voltou à cidade. Na manhã seguinte, vendo os assírios que seu
chefe estava morto, a vitória foi fácil para os judeus.
B. Rainhas. Nem todas as mulheres da Bíblia foram conhecidas
por suas boas ações. A rainha Jezabel é a mulher má mais bem conhecida do
Antigo Testamento. Era filha de Etbaal, rei dos sidônios. Casou-se com Acabe,
príncipe de Israel, e mudou-se para Samaria. Tornando―se rainha, impôs seus
desejos ao povo. Quis que os israelitas se curvassem diante de Baal, por isso
trouxe centenas de seus profetas para o país e os incluiu na folha de pagamento
do governo. Também matou todos os profetas do Senhor que pôde encontrar (1 Reis
18:13). Mesmo homens piedosos como Nabote foram mortos. O profeta Elias fugiu e
escondeu-se de Jezabel para salvar a vida. Ele achava que era o único
verdadeiro profeta que restara em todo o país. Na realidade, no reino todo
havia apenas 7.000 pessoas que se recusaram a adorar a Baal, mas somente Deus
sabia quem eram. Sete mil, naturalmente, era muito pouco. Anos após a derrota e
morte de Jezabel, o culto de Baal continuava (1 Reis 18-21).
Herodias foi outra mulher que usou o poder e a beleza para
conseguir o que desejava. Quando João Batista denunciou o casamento dela com o
rei Herodes, ela conseguiu que o rei prendesse João e o encarcerasse. No
aniversário de Herodes, a filha de Herodias dançou para os convidados. Isto
agradou muito ao rei, de modo que ele prometeu dar-lhe o que ela pedisse.
Herodias disse à filha que pedisse a cabeça de João Batista. Deste modo, ela
causou a morte de João.
Nem todas as rainhas da Bíblia foram más. A rainha Ester usou
seu poder sobre o império persa para ajudar os judeus. Um relato completo de sua história encontra-se
no livro de Ester.
C. Rainhas-mães. Os escritores de 1 e 2 Reis e de 2 Crônicas
contam muita coisa acerca das rainhas-mães de Judá. Referindo-se aos vinte
diferentes reis que reinaram em Judá desde Salomão até ao tempo do exílio,
somente uma vez esses livros deixaram de mencionar uma rainha-mãe. O exemplo
típico do que se disse acerca da rainha-mãe encontra-se nesta passagem:
"No segundo ano de Jeoás, filho de Jeoacaz, rei de Israel, começou a
reinar Amazias, filho de Joás, rei de Judá. Tinha vinte e cinco anos quando
começou a reinar, e vinte e nove anos reinou em Jerusalém. Era o nome de sua
mãe Jeoadã, de Jerusalém. Fez ele o que era reto perante o Senhor" (2 Reis
14:1-3).
Supomos que a mãe do rei deve ter sido uma pessoa importante
em Judá. Infelizmente, muito pouco se sabe acerca de seu papel no governo ou na
sociedade.
Encontramos, porém, a influência decisiva de uma rainha-mãe
no caso de Adonias. Visto ser ele o filho mais velho sobrevivente de Davi,
achava que devia ser o próximo rei depois de Davi. Diversos altos oficiais
concordavam com ele ― incluindo Joabe, general do exército, e Abiatar, o
sacerdote. Por outro lado, o profeta Nata e outro sacerdote de nome Zadoque
achavam que Salomão, outro dos filhos de Davi, seria um rei melhor. Bate-Seba,
mãe de Salomão, persuadiu Davi a jurar que Salomão seria rei (1 Reis 1:30).
Salomão tratou sua mãe com respeito pelo que ela havia feito (1 Reis 2:19).
Todavia, nem todas as rainhas-mães foram tratadas tão
respeitosamente. Quando o rei Asa introduziu reformas religiosas no país, ele
depôs sua mãe da dignidade de rainha-mãe. Ela havia feito uma imagem da deusa
Aserá (poste-ídolo). Visto que o rei Asa achava que essas coisas eram
pecaminosas, ele tirou as prostitutas e
destruiu todos os ídolos, incluindo o poste-ídolo. Embora o rei Asa não tenha
matado a mãe, ele retirou-lhe o poder (1 Reis 15:9-15).
Cabeça de mulher de
marfim. Esta cabeça de marfim de uma
mulher assíria (cerca do século oitavo a.C.) foi esculpida de um grande dente
de elefante. Um filete de cordão duplo ou espécie de turbante segura o cabelo,
o qual cai em cachos sobre o pescoço.
Uma rainha-mãe que teve tremendo poder foi Atalia, mãe de
Acazias. Quando seu filho foi morto em combate, Atalia apoderou-se de trono e
procurou matar todos os herdeiros legítimos. Durante seis anos Atalia reinou em
Judá com mão de ferro; tão-logo, porém, o jovem príncipe teve idade suficiente
para tornar-se rei, Atalia foi destituída e morta (2 Reis 11:1-16).
D. Conselheiros. A maior parte das aldeias tinha pessoas
sábias a quem outras pessoas freqüentemente pediam conselho. A corte do rei
tinha, do mesmo modo, muitos conselheiros sábios. Embora não haja referências
bíblicas a mulheres conselheiras na corte, há diversos exemplos de mulheres
sábias nas aldeias.
Quando Joabe, comandante-chefe do exército de Davi, desejou
reconciliar Davi com seu filho Absalão, ele recorreu a uma mulher sábia de
Tecoa para ajudá-lo. A mulher fingiu ser viúva com dois filhos. Ela disse que
um dos filhos havia matado o outro num acesso de raiva, e agora o restante de
sua família queria matar o filho remanescente. Davi ouviu a história da mulher
e disse que ela estava certa em perdoar o segundo filho. Então a mulher mostrou
ao rei que ele não estava praticando o que pregava, pois não havia perdoado a
Absalão por um crime semelhante. Davi percebeu que ele estivera errado e
permitiu que Absalão regressasse a Jerusalém (2 Samuel 14:1-20).
Outra mulher sábia salvou da destruição a sua cidade. Um
homem por nome Seba chefiou uma revolta contra o rei Davi. Fracassada a
revolta, Seba fugiu e escondeu-se na cidade de Abel. Joabe, general de Davi,
cercou a cidade e preparava-se para atacá-la quando uma mulher sábia da cidade
apareceu no muro e pediu para falar a Joabe. Ela lembrou-lhe quão importante
sua cidade havia sido para Israel; disse-lhe que destruir esta cidade era como
matar "uma mãe em Israel". Assim, juntos combinaram um plano. Se Seba
fosse morto, a cidade não seria atacada. A sábia mulher voltou e contou o plano
traçado aos moradores. Mataram Seba e Joabe e seu exército retiraram-se.
E. Dirigentes religiosas. Em Israel, Deus não ordenou
sacerdotisas, e uma mulher não poderia, em hipótese alguma, tornar-se
sacerdotisa porque seu ciclo mensal a fazia impura. O ministério sacerdotal
restringia-se aos varões descendentes de Arão. Contudo, as mulheres podiam
desempenhar muitas outras tarefas rituais. Não é de surpreender encontrar
mulheres participando do culto público a Deus em vários níveis.
A
MEZUZÁ
Quando o anjo da morte passou sobre o Egito, matando todos os
primogênitos, as famílias judias foram protegidas pelo sangue do cordeiro
pascoal espargido nas ombreiras das portas de suas casas (Êxodo 12:23). Hoje
muitos judeus prendem uma mezuzá nas ombreiras das portas como lembrete da
presença de Deus e da redenção do povo judeu do Egito.
A mezuzá (hebraico,
"ombreira de porta") é um pequeno estojo que contém um pergaminho no
qual está escrita a seguinte oração: "Ouve,
Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus
de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a rua força. Estas
palavras que hoje te ordeno, estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus
filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao
deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão e te serão
por frontal entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas
tuas portas" (Deuteronômio 6:4-9).
O pergaminho continua com Deuteronômio 11:13-21, que acentua
a obediência aos mandamentos e as recompensas de uma vida reta.
Mesmo hoje cada pergaminho da mezuzá é cuidadosamente escrito
por escribas qualificados, usando os mesmos estritos procedimentos que usam ao
escrever as leis. Depois é enrolado firmemente e colocado no estojo de sorte
que a palavra shaddai ("Todo-poderoso") aparece através de uma
pequena abertura perto do topo. Lê-se uma oração especial quando a mezuzá é
presa quase ao topo da ombreira direita da porta. Embora a popularidade da
mezuzá tenha diminuído em anos recentes, muitos judeus ainda a beijam tocando
os lábios com os dedos e a seguir levantando-os até ela quando entram numa casa
e ao saírem dela. Ao mesmo tempo, recitam o Salmo 121:8: "O Senhor
guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre."
A mezuzá é um lembrete diário para a família judaica de sua
responsabilidade para com Deus e a comunidade. Para a comunidade, é um sinal de
que este é um lar onde as leis de Deus imperam supremas. Dentro deste
santuário, longe das influências mundanas, a família judaica estuda as
Escrituras, observa os feriados religiosos, e instrui os filhos na fé dos seus
pais.
Um antigo erudito hebreu explicou a finalidade da mezuzá
comparando-a aos guardas de um rei terreno. Do mesmo modo que um rei tem
guardas à porta para garantir-lhe a segurança, assim o povo de Israel está
seguro dentro de seus lares porque a palavra de Deus está à porta para
guardá-lo.
As mulheres serviam como profetisas ― isto é, porta-vozes
femininos de Deus. A mais famosa profetisa hebréia foi Hulda, esposa de Salum.
Ela exerceu este ministério nos dias do rei Josias. Quando foi encontrado no
templo o livro da Lei, os guias religiosos vieram a ela e lhe perguntaram o que
Deus desejava que a nação fizesse. A nação inteira, incluindo o rei Josias,
tentou levar a cabo suas instruções nos mínimos detalhes, pois estavam certos
de que Deus havia falado por intermédio dela (2 Reis 22:11-23:14).
Houve muitas outras profetisas no Antigo Testamento,
incluindo-se Miriã (Êxodo 15:20), Débora (Juizes 4:4) e a mulher de Isaías
(Isaías 8:3). O Novo Testamento menciona que Ana e as filhas de Filipe eram
profetisas, mas não sabemos muita coisa a respeito de suas vidas ou de suas
mensagens (Lucas 2:36; Atos 21:9).
Algumas mulheres usaram os talentos musicais que Deus lhes
deu. Miriã e outras mulheres cantaram um hino de louvor a Deus depois que ele
livrou os israelitas da mão dos egípcios (Êxodo 15:2). Quando Deus ajudou
Débora e Baraque a derrotar os cananeus, eles escreveram um cântico de vitória
e o cantaram em dueto (Juizes 5:1-31). Três filhas de Hemã eram também
musicistas; de acordo com 1 Crônicas 25:5, 6 elas tocavam no templo.
Na igreja de Cencréia havia uma diaconisa por nome Febe, que
Paulo disse ter "sido protetora de muitos, e de mim inclusive"
(Romanos 16:2). Numa carta a Timóteo, Paulo escreveu que as esposas de diáconos
devem ser "respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em
tudo" (1 Timóteo 3:11). Porém ele deixou claro que não queria nenhuma
mulher ensinando ou exercendo autoridade sobre os homens (2:12).
Outras líderes da igreja primitiva incluíam Priscila, que com
mais exatidão, expôs a Apoio o caminho de Deus (cf. Atos 18:24-28). Evódia e
Síntique eram duas das líderes espirituais de Filipos. Paulo disse:
"juntas se esforçaram comigo no evangelho, também com Clemente e com os demais
cooperadores meus" (Filipenses 4:3). Parece, pois, que elas realizavam
trabalho semelhante ao dele.
RESUMO
Uma antiga história judaica demonstra quão importante era a
mulher em Israel. Diz a história que certo homem piedoso casou-se com uma
piedosa mulher. Não tiveram filhos, por isso concordaram em divorciar-se. Então
o marido se casou com uma mulher ímpia e ela o fez ímpio. A mulher piedosa
casou-se com um homem ímpio e fez dele um homem reto. A moral da história é que
a mulher determina o ambiente do lar.
A mãe israelita tinha um lugar importante na vida da família.
Em grande parte, era ela o segredo de uma família bem-sucedida ou a causa de
seu fracasso. Ela podia exercer incalculável influência sobre o marido e os
filhos.
A história de Israel e sua cultura devem muito a essas
mulheres que trabalharam arduamente.
3.
CASAMENTO E DIVÓRCIO
A Bíblia expressa com clareza as intenções de Deus para o
casamento. Deus quer que o homem e a mulher se realizem tanto espiritual como
sexualmente. Este relacionamento foi desfigurado pela queda da humanidade no
pecado. A história de Israel fala das mudanças que afetaram o casamento porque
os israelitas preferiram aceitar as práticas degradantes de seus vizinhos
ímpios.
Jesus reafirmou o significado do casamento. Ele censurou a
atitude dos judeus para com o divórcio, e desafiou os parceiros conjugais a
viverem em harmonia.
CASAMENTO
Convém observar as passagens bíblicas que descrevem o
propósito do casamento. A Bíblia dá uma visão geral dos privilégios e deveres
do vínculo matrimonial.
A. Divinamente estabelecido. No princípio Deus criou um casal
de seres humanos, um homem e uma mulher. Sua primeira ordem a eles foi:
"Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra" (Gênesis 1:28). Ao
reunir este casal, Deus instituiu o casamento, a mais fundamental de todas as
relações sociais. O casamento capacitava a raça humana a cumprir a ordem de
Deus de encher a terra e sujeitá-la (Gênesis 1:28).
Deus fez a ambos, o homem e a mulher, à sua imagem, cada qual
com um papel especial e cada qual complementado pelo outro. O capítulo 2 de
Gênesis diz que Deus criou primeiro o homem. Depois, usando uma costela do
homem, Deus fez-lhe "uma auxiliadora" (Gênesis 2:18). Quando Deus
trouxe Eva a Adão, ele os uniu e disse: "Por isso deixa o homem pai e mãe,
e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne" (Gênesis 2:24).
Deus tencionava que o casamento fosse uma relação permanente.
Devia ser uma entrega pactuai única de duas pessoas que excluíam todas as
demais de sua intimidade. Deus proibiu expressamente a quebra dessa união
quando ordenou: "Não adulterarás" (Êxodo 20:14). O Novo Testamento
reafirma a singularidade do vínculo matrimonial. Jesus disse que O homem e sua
mulher "já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus
ajuntou não o separe o homem" (Mateus 19:6). Paulo comparou lindamente o
amor de um homem à sua esposa ao amor de Cristo à sua Igreja (Efésios 5:25).
Ele disse que o amor de Cristo era tão profundo ao ponto de ele morrer pela
igreja, e do mesmo modo o amor do homem à sua esposa deve superar quaisquer
imperfeições que ela possa ter.
O casamento é mais do que um contrato que duas pessoas fazem
para seu mútuo benefício. Visto que fazem seus votos matrimoniais na presença
de Deus e em seu nome, podem buscar poder de Deus para cumprir tais votos. Deus
torna-se uma parte sustentadora do casamento. O livro dos Provérbios lembra-nos
disto quando diz que Deus dá sabedoria,
discrição e entendimento, de modo
que os parceiros matrimoniais possam evitar que sejam induzidos à infidelidade
(cf. Provérbios 2:6-16). Os escritores do Novo Testamento entenderam que o
casamento cristão é criado e mantido por Cristo.
B. Marcado pelo amor. Acima de tudo mais, o amor é o sinal da
união. Note-se a simplicidade com que a Bíblia descreve o casamento de Isaque e
Rebeca: "[ele] tomou a Rebeca, e esta lhe foi por mulher. Ele a amou"
(Gênesis 24:67). O amor, baseado em verdadeira amizade e respeito, sela e
sustenta o laço matrimonial. Pedro conclama os maridos a viverem "a vida
comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher
como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, por isso que sois juntamente
herdeiros da mesma graça de vida" (1 Pedro 3:7). Este tipo de amor entre
marido e mulher purifica a relação matrimonial de ambos.
A Bíblia diz que marido e mulher são iguais como pessoas
diante de Deus, visto que ambos foram feitos à imagem de Deus. Ambos podem ser
salvos de seus pecados, mediante Jesus (Gênesis 1:27; Gálatas 3:28; Colossenses
3:10-11). Juntos recebem os dons e as bênçãos de Deus para seu casamento
(Romanos 4:18-21; Hebreus 11:11; 1 Pedro 3:5-7). Quando se unem em casamento,
ambos têm obrigações, embora possam ter graus variáveis de capacidade para
executar as responsabilidades que partilham.
Procissão matrimonial. Esta
concepção artística de uma procissão matrimonial típica nos tempos bíblicos,
mostra o noivo acompanhando o grupo do casamento de volta à sua casa para uma
festa. Música e dança eram partes essenciais da celebração, que durava de uma a
duas semanas.
C. Realização sexual. Outro fator no relacionamento
matrimonial é a união sexual dos parceiros. A união sexual consuma o casamento
na base de uma entrega matrimonial mútua. A expressão "coabitou o homem
com Eva" ou "conheceu Adão a Eva" (Gênesis 4:1, 25 e outros
lugares), é o modo direto de a Bíblia referir-se ao intercurso sexual. Mas a
Bíblia trata este ato com dignidade, chamando-o digno de honra e sem mácula
(Hebreus 13:4). As Escrituras exigem do povo de Deus que conserve puras as suas
relações sexuais. Não devem usar o sexo para dar vazão a paixões lascivas, como
o fazem os ímpios (1 Tessalonicenses 4:3-7). A Bíblia recomenda ao homem casado
deleitar-se na esposa de sua mocidade todos os dias de sua vida (Eclesiastes
9:9). Ele deve embriagar-se "sempre com as suas carícias" (Provérbios
5:15-19).
1. Um dever a cumprir. Quando um israelita comprometia-se a
casar, ele não devia permitir que nada o impedisse de cumprir seu propósito.
Não devia ir à guerra, para não dar-se o caso de ele morrer e outro homem
casar-se com a noiva prometida (Deuteronômio 20:7). Durante o primeiro ano de
casamento ele não devia retomar nenhuma tarefa que interferisse em sua presença
no lar para promover "felicidade à mulher que tomou" (Deuteronômio
24:5). Paulo disse aos maridos e às esposas que estivessem sexualmente
disponíveis um ao outro, sem privar-se um ao outro, de modo que Satanás não
pudesse tentá-los a tolerar afeições errantes por lhes faltar domínio―próprio
(1 Coríntios 7:3-5).
2. Promiscuidade e perversão. Paulo diz que o homem que se
une "à prostituta, forma um só corpo com ela, porque, como se diz [o homem
e a prostituta], serão os dois uma só carne" (1 Coríntios 6:16). O corpo,
diz Paulo, é o templo de Cristo. Uma vez que a união sexual promíscua une a
carne de dois indivíduos, ela é uma profanação do templo de Cristo.
Aqui o termo carne significa mais do que órgãos sexuais ou
mesmo o corpo todo. Ele se refere
à pessoa integral. A união sexual
inevitavelmente envolve a pessoa toda, quer dentro, quer fora do casamento.
Quando Deus exige que seu povo viva vidas santas (1 Pedro 1:15-16), isto inclui
a conduta sexual com relação ao casamento (1 Tessalonicenses 4:3-6). Deus
exigiu santidade correspondente dos israelitas (Levítico 18; 20:10-21). A
pessoa na sua totalidade ― corpo não menos do que alma ― é separada para Deus.
Com o tempo a prostituição religiosa das nações pagas entrou
em Israel. A própria presença desta prática profanou o culto do Senhor (1
Samuel 2:22).
A Bíblia proíbe o incesto (Levítico 18:6-18; 20:11-12).
Denuncia, também, as relações homossexuais como depravadas e reprováveis aos
olhos de Deus. Na verdade, tais relações acarretavam pena de morte em Israel
(cf. Levítico 18:22; 20:13; Deuteronômio 23:18; Romanos 1:26-27; 1 Coríntios
6:9; 1 Timóteo 1:10).
Cenas de casamento. Cenas de
um casamento romano típico são vistas nos lados deste altar. Na cena à
esquerda, o casal junta as mãos ao término da cerimônia matrimonial. À direita,
crianças tomam parte na procissão à casa do noivo, carregando uma oferta para o
sacrifício pagão.
3. Papéis sexuais próprios. Nos tempos bíblicos, pensava-se
no casamento como um estado em que as pessoas naturalmente cumpririam seus
respectivos papéis sexuais. Dessa maneira, o homem era o cabeça da família e a
esposa devia submeter-se à sua autoridade (Salmo 45:11; 1 Pedro 3:4-6). Este
relacionamento de papéis esteve presente desde o começo; a mulher foi feita
para ser auxiliadora do homem, adaptada para ele nesse sentido. Por todo o
tempo do Antigo Testamento a mulher encontrou seu lugar na sociedade por
intermédio do pai, depois mediante o marido, e então por meio do irmão mais
velho ou parente resgatador. Deus usou este relacionamento de papéis para estabelecer
harmonia na família e na sociedade toda. A submissão da mulher judia ao marido
não lhe depreciava as capacidades nem a reduzia a um lugar secundário na
sociedade. A esposa "excelente" do Antigo Testamento (Provérbios 31)
gozava da confiança do marido e do respeito dos filhos e vizinhos. Ela
desfrutava de muita liberdade para usar suas habilidades econômicas a fim de
prover para a família. Era reconhecida como pessoa de sabedoria e graciosa
mestra. Estava tão longe quanto possível de ser uma escrava-utensílio, que é
como a mulher era considerada em outras culturas do Oriente Próximo.
D. Símbolo espiritual. O casamento simbolizava a união entre
Deus e seu povo. Israel era chamada de esposa do Senhor, e o próprio Senhor
disse: "não obstante eu os haver desposado" (Jeremias 31:32; cf.
Isaías 54:5). Os profetas declararam que a nação havia cometido
"prostituição" e "adultério" quando ela se voltou de Deus
para os ídolos (Números 25:1-2; Juizes 2:17; Jeremias 3:20; Ezequiel 16:17;
Oséias 1:2). Disseram que Deus havia repudiado sua esposa infiel (Isaías 50:1;
Jeremias 3:8) ao enviar ele os israelitas para o cativeiro. Não obstante, Deus
teve compaixão de sua "esposa",
Israel, e chamou-a de volta para
ser fiel (Isaías 54). Como o noivo se alegra na sua noiva (Isaías 62:4-5),
assim o Senhor se delicia em fazer de Israel o "povo santo", seus
remidos (Isaías 62:12).
O
Novo Testamento descreve a igreja como a noiva de Cristo, preparando-se para a
vida no reino eterno (Efésios 5:23). Esta imagem sublinha a verdade de que o
casamento deve ser uma união de amor e fidelidade, exclusiva e permanente. Os
maridos devem amar as esposas como Cristo ama à sua noiva resgatada, e as
esposas devem submeter-se a seus maridos, como se submetem a Cristo.
COSTUMES
MATRIMONIAIS BÍBLICOS
Nos tempos bíblicos, o primeiro passo no casamento era dado
pelo homem ou por sua família (Gênesis 4:19; 6:2; 12:19; 24:67; Êxodo 2:1).
Geralmente, as famílias do casal faziam o arranjo do casamento. Assim Hagar,
como chefe da família "o casou [Ismael] com uma mulher da terra do
Egito" (Gênesis 21:21). Estando Isaque com quarenta anos de idade, era
perfeitamente capaz de escolher sua própria esposa (Gênesis 25:20); no entanto,
Abraão mandou seu servo a Harã a fim de buscar uma esposa para Isaque (Gênesis
24).
Abraão deu ao servo duas ordens estritas: A noiva não podia
ser cananéia, e devia deixar o lar paterno para viver com Isaque na Terra
Prometida. Em circunstância alguma devia Isaque voltar a Harã para viver de
acordo com o antigo modo de vida da família.
O servo de Abraão encontrou a orientação do Senhor em sua
escolha (Gênesis 24:12-32). Então, segundo o costume da Mesopotâmia, ele fez os
arranjos com o irmão e a mãe da moça (Gênesis 24:28-29, 33). Ele selou o acordo
dando-lhes presentes (um dote) a eles e a Rebeca (Gênesis 24:53). Finalmente,
buscaram o consentimento da própria Rebeca (Gênesis 24:57). Este procedimento
era muito semelhante às práticas matrimoniais humanas descritas em antigos
textos de Nuzi.
Em circunstâncias diferentes, ambos os filhos de Isaque ―
Jacó e Esaú ― escolheram suas próprias esposas. A escolha de Esaú causou muita
amargura de espírito a seus pais (Gênesis 26:34-35; 27:46; 28:8-9); mas a
escolha de Jacó encontrou aprovação.
Jacó foi enviado à casa de Labão, seu tio, em Harã, onde agiu
com a autoridade de seu pai no arranjo para casar-se com Raquel. Em vez de dar
um dote a Labão, ele trabalhou durante sete anos. Mas não se costumava permitir
que a filha mais moça casasse primeiro, e assim Labão enganou Jacó casando-o
com Lia, irmã mais velha de Raquel. Jacó aceitou, pois, a oferta de Labão de
trabalhar mais sete anos para obter Raquel.
Naquela região, o homem que não tinha filho muitas vezes
adotava um herdeiro, dando-lhe a filha como esposai Exigia-se que o filho
adotivo trabalhasse na família. Se mais tarde nascesse um filho, o adotivo
perdia a herança em favor do herdeiro natural. Talvez Labão tenha tencionado
adotar a Jacó; mas então lhe nasceram filhos (Gênesis 31:1). Talvez os filhos
de Labão tenham sentido ciúmes de Jacó por temerem que ele pudesse reivindicar
a herança. De qualquer maneira, Jacó deixou Harã secretamente para voltar à
casa paterna em Canaã.
Raquel levou consigo os deuses do lar que pertenciam ao pai.
Visto como a posse desses deuses era uma reivindicação à herança, Labão saiu no
encalço dos fugitivos; mas Raquel ocultou os ídolos de modo que Labão não os
encontrasse. Para pacificar o tio, Jacó comprometeu-se a não maltratar as
filhas de Labão nem tomar outras esposas (Gênesis 31:50).
Deveríamos notar, especialmente, a tradição do Antigo
Testamento do "preço da noiva". Conforme vimos, o marido ou sua
família pagava ao pai da noiva um preço por ela para selar o acordo de
casamento (cf. Êxodo 22:16-17; Deuteronômio 22:28-29).
O preço da noiva nem sempre era pago em dinheiro. Podia ser
pago na forma de roupas (Juizes 14:8-20) ou de algum outro artigo valioso. Um
preço muitíssimo horrendo foi exigido por Saul, que pediu a Davi prova física
de que ele havia matado 100 filisteus (1Samuel 18:25).
O pagamento do preço da noiva não significava que a esposa
tinha sido vendida ao marido e agora era sua propriedade. Era reconhecimento do
valor econômico da filha. Mais tarde a lei sancionou a prática de comprar uma
criada para tornar-se esposa de um homem. Tais leis protegiam as mulheres
contra abuso ou maus tratos (Êxodo 21:7-11).
Às vezes, o noivo ou sua família dava presentes à noiva
também (Gênesis 24:53). Doutras vezes o pai da noiva também lhe dava um
presente de casamento, como fez Calebe (Josué 15:15-19). É interessante notar
que Faraó deu a cidade de Gezer como presente de casamento à sua filha, esposa
de Salomão (1 Reis 9:16).
A festa fazia parte importante da cerimônia de casamento.
Geralmente era dada pela família da noiva (Gênesis 29:22), mas a família do
noivo podia oferecê-la também (Juizes 14:10).
Tanto a noiva como o noivo tinham criados para servi-los
(Juizes 14:11; Salmo 45:14; Marcos 2:19). Se fosse um casamento real, a noiva
dava suas criadas ao esposo para aumentar a glória da corte dele (Salmo 45:14).
Muito embora a noiva se adornasse com jóias e vestimentas
bonitas (Salmo 45:13-15; Isaías 49:18), o noivo era o centro de atenção. O
Salmista apresenta, não a noiva (como fazem os modernos ocidentais), mas o
noivo como feliz e radiante no dia do casamento (Salmo 19:5).
Em outras nações do Oriente Próximo, o noivo costumeiramente
passava a morar com a família da noiva. Mas em Israel, em geral era a noiva que
ia para o lar do marido e se tornava parte de sua família. O direito de herança
pertencia ao varão. Se um israelita tinha somente filhas e desejava preservar a
herança da família, suas filhas tinham de casar-se dentro da própria tribo
porque a herança não podia ser transferida para outra tribo (Números 36:5-9).
Um dos mais importantes aspectos da celebração do casamento
era o pronunciamento da bênção de Deus sobre a união. Foi por isto que Isaque
abençoou a Jacó antes de enviá-lo a Harã para buscar uma esposa (Gênesis 24:60;
28:1-4).
Embora a Bíblia não descreva uma cerimônia matrimonial,
supomos que fosse um acontecimento muito público. Jesus compareceu a, pelo
menos, uma cerimônia de casamento e abençoou-a. Em suas lições, ele referiu-se
a vários aspectos das festividades de casamento, mostrando assim que a pessoa
comum tinha familiaridade com tais cerimônias (Mateus 22:1-10; 25:1-3; Marcos
2:19-20; Lucas 14:8).
O
LEVIRATO
Os israelitas achavam muito importante que o homem tivesse
herdeiro. A preservação da herança da propriedade que Deus lhes havia dado, era
feita através dos descendentes (cf. Êxodo 15:17-18; Salmo 127; 128).
A mulher incapaz de ter filhos muitas vezes era alvo do
opróbrio dos vizinhos (Gênesis 30:1-2, 23; 1 Samuel 1:6-10; Lucas 1:25). Ela e
a família se recolhiam, então, em ardente oração (Gênesis 25:21; 1 Samuel
1:10-12, 26-28).
Surgia situação mais grave se o marido morresse antes de ela
ter-lhe dado herdeiro. Para resolver este problema, deu-se início à prática do
levirato. Mencionado pela primeira vez em conexão com a família de Judá
(Gênesis 38:8), o levirato mais tarde veio a fazer parte da lei de Moisés
(Deuteronômio 25:5-10). Quando uma mulher enviuvava, o irmão do marido morto,
de acordo com a lei do levirato, tinha de casar-se com ela. Os filhos deste
casamento tornavam-se herdeiros do irmão falecido, a fim de que "o nome
deste não se apague em Israel" (Deuteronômio 25:6). Se um homem recusava
casar-se com a cunhada viúva, ele sofria a ignomínia pública (Deuteronômio
25:7-10; cf. Rute 4:1-7).
O exemplo mais conhecido deste tipo de casamento foi o de Boaz
com Rute. Neste caso, o parente mais próximo não quis casar-se com ela; então
Boaz, como o parente mais próximo logo a seguir, agiu como parente resgatador.
Havendo ele pago a dívida da herança de Elimeleque, tomou Rute por sua esposa
"para suscitar o nome deste [Malom] sobre a sua herança, para que este
nome não seja exterminado dentre seus irmãos, e da porta da sua cidade"
(Rute 4:10). Davi foi a terceira geração deste casamento, e desta linha veio,
mais tarde, Jesus Cristo (Rute 4:17; Romanos 1:3).
VIOLAÇÕES
DO CASAMENTO
Embora Deus tenha ordenado o casamento como uma relação
sagrada entre um homem e uma mulher, logo ele foi corrompido quando alguns
homens tomaram duas esposas (cf. Gênesis 4:19). O casamento misto com pessoas
estrangeiras e a adoção de formas pagas complicaram o problema.
A Bíblia registra que Abraão seguiu o costume pagão de gerar
filho que lhe fosse herdeiro por via de uma escrava, porque sua esposa era
estéril. "Toma, pois, a minha serva", rogou Sara ao marido, "e
assim me edificarei com filhos por meio dela" (Gênesis 16:2). A escrava,
Hagar, logo deu um filho a Abraão. Mais tarde, Sara também deu à luz um filho.
A arrogância de Hagar afrontou Sara e levou-a a tratar Hagar com severidade.
Quando Sara viu Ismael caçoando de seu próprio filho, achou que ela já havia
suportado o suficiente. Exigiu que Abraão mandasse Hagar embora. Visto como
Hagar lhe havia dado um filho, Abraão não podia vendê-la como escrava. Deu
liberdade a Hagar e despediu-a com um presente (Gênesis 21:14; 25:6).
Jacó foi outro patriarca hebreu que seguiu costumes
matrimoniais pagãos. Jacó tomou duas esposas porque seu tio o ludibriou,
casando-o com a mulher errada (Gênesis 29:21-30). Quando Raquel percebeu que
era estéril, deu a Jacó sua serva "para que eu traga filhos ao meu
colo" (Gênesis 30:3-6). Lia ficou enciumada e deu a Jacó sua própria serva
para ter mais filhos em nome dela (Gênesis 30:9-13). Desse modo Jacó teve duas
esposas e duas concubinas, mas ele deu status igual a todos os seus filhos como
herdeiros da aliança (Gênesis 46:8-27; 49).
A começar com Davi, os reis de Israel deram-se ao luxo de ter
muitas esposas e concubinas, muito embora Deus lhes tivesse ordenado,
especificamente, que não fizessem tal coisa (Deuteronômio 17:17). Esta prática
conferia-lhes status social e os capacitava a fazer várias alianças políticas
(2 Samuel 3:2-5; 5:13-16; 12:7-10; 1 Reis 3:1; 11:1-4).
Davi caiu em adultério
com Bate-Seba e finalmente
cometeu homicídio a fim de casar-se com ela. A morte era o castigo de
rotina para este pecado (Levítico 20:10; Deuteronômio 22:22). Mas em vez de
tirar a vida de Davi, Deus decretou que o filho de Davi e Bate-Seba deveria
morrer, e que haveria luta contra Davi em sua própria casa (2 Samuel 12:1-23).
Salomão também foi castigado por desobedecer às ordens de
Deus concernentes ao casamento. Suas muitas esposas estrangeiras levaram-no à
idolatria (1 Reis 11:4-5).
A lei mosaica protegia as concubinas e as esposas múltiplas,
mas não com o fito de sancionar a prática. A lei dava status secundário às
concubinas e a seus filhos a fim de proteger estas vítimas inocentes da
sensualidade descontrolada (Êxodo 21:7-11; Deuteronômio 21:10-17). Deveríamos
observar a concessão da lei no que tange a essas práticas à luz do comentário
de Jesus sobre o divórcio: "Por causa da dureza do vosso coração é que
Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres; entretanto, não foi assim desde o
princípio" (Mateus 19:8).
Malaquias denunciou o abuso e a negligência que uma esposa
sofria quando o marido se voltava para uma mulher paga e repudiava a primeira.
O pacto do casamento chamava-a a produzir "semente piedosa"; mas a
infidelidade do homem levou-o a ignorar suas responsabilidades para com ela
(Malaquias 2:11, 14-16).
A lei mosaica não permitia aos israelitas casar-se com
mulheres estrangeiras (Deuteronômio 7:3) porque elas adoravam outros deuses.
Quando os israelitas voltaram do cativeiro, foram avisados de que o casamento
com mulheres estrangeiras era contrário à lei de Deus. Esdras e Neemias falaram
sobre o assunto muitas vezes (Esdras 10; Neemias 10:30; 13:23-28). Neemias
censurou sua geração, dizendo: "Não pecou nisto Salomão, rei de Israel?
...Não obstante isso as mulheres estrangeiras o fizeram cair no pecado"
(Neemias 13:26; cf. 1 Reis 11:4-5). Esdras exigiu que todo homem pusesse fim ao
seu relacionamento com esposa estrangeira. Os que recusaram, foram expulsos da
congregação e seus bens destruídos (Esdras 10:8). A relação sexual que Deus
tinha em mente era a monogamia ― um homem e uma mulher. Mas devido às paixões
humanas degradadas, a lei de Deus precisou proibir pecados sexuais específicos
(Levítico 18:1-30; 20:10-24; Deuteronômio 27:20-23).
Mesmo assim, alguns homens, desavergonhadamente, buscaram
prostitutas (Gênesis 38:15-23; Juizes 16:1). O livro de Provérbios adverte com
detalhes contra mulheres lascivas e vis que instigam os jovens nas ruas
(Provérbios 2:16-19; 5:1-23; 6:20-35). A prostituição do culto cananeu era um
grave abuso, que de quando em quando era praticada em Israel (1 Samuel 2:22-25;
1 Reis 15:12; 2 Reis 23:7; Oséias 4:13-14; cf. Deuteronômio 23:17).
A imoralidade sexual encabeça diversas listas de pecados
citadas na Bíblia (Marcos 7:21; Romanos 1:24-27; 1 Coríntios 6:9; Gálatas 5:19;
Efésios 5:5). Todo pecado sexual desfigura a imagem de Deus' no homem. Deus
advertiu que destruiria toda sociedade que permitisse a continuação de tal
pecado (Levítico 18:24-29).
A
PESSOA SOLTEIRA
Por suas palavras e por sua própria vida de solteiro, Jesus
mostrou que o casamento não era um fim em si mesmo, nem essencial à integridade
da pessoa. Como servo de Deus, a pessoa podia não ser chamada para ter um
companheiro e filhos. O discípulo cristão podia ter de esquecer pais e
possessões por amor do reino de Deus (Lucas 18:29; cf. Mateus 19:29; Marcos 10:29-30).
Paulo desejava que todos os homens estivessem contentes por
viver sem casar-se, como ele (1 Coríntios 7:7-8). Ele encontrava plena
liberdade e inteireza em consagrar-se "desimpedidamente, ao Senhor"
(1 Coríntios 7:35). Mas reconhecia que a pessoa que não tem o dom do autocontrole nesta área deve casar-se,
para que não peque (1 Coríntios 7:9, 36).
Casal real. Este relevo
pintado em pedra calcária, de cerca de 1370 a. C, retrata uma rainha egípcia
oferecendo flores ao rei, que despreocupadamente se apoia em seu bastão. Esta e
outras inscrições mostram que a rainha desempenhava papel secundário na família
real.
DIVÓRCIO
Os biblicistas discordam quanto ao modo de Jesus e Paulo
interpretarem a lei mosaica concernente ao divórcio. Não obstante, as provisões
do Antigo Testamento são perfeitamente claras.
A. Lei mosaica. A lei de Moisés permitia que um homem
repudiasse sua mulher quando "ela não for agradável aos seus olhos, por
ter ele achado coisa indecente nela" (Deuteronômio 24:1). O objetivo
primário desta legislação era impedi-lo de tomá-la de novo depois que ela se
houvesse casado com outro homem; isto teria sido "abominação perante o
Senhor" (Deuteronômio 24:4).
Supunha-se que a lei desestimularia o divórcio em vez de
incentivá―lo. Ela exigia um "termo de divórcio" ― um documento
público garantindo à mulher o direito de casar-se de novo sem sanção civil ou
religiosa. O divórcio não podia ser feito no âmbito privado.
O motivo aceitável para garantir o divórcio era que houvesse
alguma "coisa indecente". Os tipos específicos de
"indecência" tinham suas próprias penalidades. Por exemplo, o
adultério acarretava a morte por apedrejamento.
Se o homem acreditava que sua esposa não era virgem por
ocasião do casamento, ele podia levá-la aos anciãos da cidade. Se a julgassem
culpada, a punição seria a morte (Deuteronômio 22:13-21). Contudo, se o homem
houvesse acusado falsamente a esposa, ele seria castigado e devia pagar ao pai
dela o dobro do preço usual da noiva.
Quando o marido suspeitava que a esposa havia adulterado, ele
a levava ao sacerdote, que lhe aplicava a "lei de ciúmes". Tratava-se
de um julgamento por "provação", típico das antigas culturas do
Oriente Próximo. A mulher devia tomar a água amargosa. Se ela fosse inocente, então
a água não lhe faria mal. Se fosse culpada, ficaria doente. Nesse caso ela era
apedrejada até morrer como adúltera (Números 5:11-31).
Embora a lei de Moisés permitisse ao homem divorciar-se da
esposa, esta não tinha permissão para divorciar-se do marido por motivo algum. Muitas
mulheres provavelmente escaparam de circunstâncias desagradáveis sem o termo de
divórcio (cf. Juizes 19:2). Legalmente a esposa estava sujeita ao marido
enquanto ambos vivessem ou até que ele a repudiasse. Se fosse dado à mulher um
certificado de divórcio, ela podia casar-se de novo com qualquer homem, exceto
com um sacerdote (Levítico 21:7, 14; Ezequiel 44:22).
Contudo, o novo casamento impedia-a com respeito ao primeiro
marido ― isto é, ele não poderia casar-se de novo com ela, porque ela havia, de
fato, cometido adultério contra ele (cf. Mateus 5:32).
A despeito das provisões que permitiam o divórcio, Deus não o
aprovava. "O Senhor Deus de Israel diz que odeia o repúdio"; ele
chamou-o de "violência" e de "infidelidade" (Malaquias
2:16).
DIVÓRCIO
NA BABILÔNIA
O casamento é um ritual antigo; também o é o divórcio. Talvez
nada haja tão fundamental numa cultura como suas normas concernentes ao
relacionamento entre um homem e uma mulher.
Hamurabi, rei babilônio que reinou de 1728 a 1686 a.C.
redigiu intricadas leis conhecidas como o Código de Hamurabi. Essas leis lidam
com todos os aspectos da vida babilônica, incluindo o divórcio. As leis de
divórcio de Hamurabi eram quase tão complicadas quanto as de nosso tempo.
Um marido babilônio podia simplesmente dizer à esposa:
"Tu não és minha esposa" (ul assati atti), ou que ele a "havia
deixado" ou a "havia repudiado". Ele lhe dava "dinheiro de
despedia" ou "dinheiro de divórcio". Às vezes se dizia que ele
havia "cortado a orla de seu vestido". Uma vez que o vestido muitas
vezes simbolizava a pessoa que o usava, isto queria dizer que o marido havia
cortado o vínculo matrimonial com a esposa. Suas palavras eram um decreto legal
de divórcio.
A esposa babilônia podia dizer que "odiava" o
marido ou que ela o "deixou", o que significa que ela se recusava a
ter relações sexuais com ele. Contudo, nada do que a mulher dissesse podia
dissolver o casamento. Ela não tinha o poder de divorciar-se do marido sem
consentimento de um tribunal.
O divórcio não era problema a não ser que o casamento tivesse
sido formalizado. "Se um homem adquire uma esposa, mas não redigiu os
contratos para ela, essa mulher não é esposa", segundo o Código de
Hamurabi. Contudo, uma vez que as pessoas fossem legalmente casadas, as
condições e conseqüências do divórcio estavam claramente traçadas no Código.
Havia leis de divórcio concernentes a casamentos não consumados, casamentos sem
filhos, casamento com uma sacerdotisa, casamento em que o marido era levado
cativo durante a guerra, casamento em que a esposa ficava gravemente enferma; e
sempre havia provisões específica acerca de quem devia receber a soma de dinheiro.
Um marido podia divorciar-se da esposa quase a seu
bel-prazer. Contudo, se ela não era achada em falta, o mando tinha de dar-lhe o
dote, muitas vezes uma grande parte de sua propriedade. Isto protegia a esposa
de divórcio caprichoso ou casual. Se houvesse mau procedimento por parte do
marido ou da esposa, esperava-se que os tribunais avaliassem o castigo. Uma
mulher nunca podia iniciar o processo de divórcio; ela devia esperar que o
marido recorresse ao tribunal. Se a mulher não podia provar sua própria
inocência e a culpa do marido, ela era afogada. Desnecessário é dizer que só em
casos extremos uma mulher buscava o divórcio. Se o marido fosse achado em
falta, a esposa "não incorre em castigo" por sua recusa a direitos
conjugais e podia retornar à casa paterna.
Uma mulher podia até ser repudiada se ela fosse "uma
borboleta, negligenciando assim sua casa e trazendo humilhação ao esposo".
Se achada culpada deste crime, "eles lançavam essa mulher à água".
Nada era sagrado ou perpétuo no casamento na Babilônia. Ele
parece ter sido um acordo secular antes que um compromisso religioso ou moral.
B. Ensinos de Jesus. No tempo de Jesus havia muita confusão
acerca das bases para o divórcio. Os rabinos não estavam de acordo sobre o que
constituía o "indecente" de Deuteronômio 24:1. Havia duas opiniões.
Os que seguiam o rabino Shammai achavam que o adultério era a única base para o
divórcio. Os seguidores do rabino Hillel aceitavam diversas razões para o
divórcio, incluindo coisas tais como cozinhar mal.
Os Evangelhos registram quatro declarações de Jesus
concernentes ao divórcio. Em duas delas, ele permitiu o divórcio no caso de
adultério.
Em Mateus 5:32, Jesus comentou a posição tanto da mulher
quanto a do seu marido: "Qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso
de adultério, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada,
comete adultério." Em outra declaração, Jesus falou da posição do homem
que repudiava sua mulher: "Quem repudiar sua mulher, não sendo por causa
de adultério, e caiar com outra, comete adultério" (Mateus 19:9).
Essas duas afirmativas parecem permitir o divórcio na base da
infidelidade. Contudo, em dois outros contextos, Jesus não parece dar aprovação
nenhuma ao divórcio. Em Marcos 10:11-12 ele disse: "Quem repudiar sua
mulher e casar com outra, comete adultério contra aquela. E se ela repudiar seu
marido e casar com outro, comete adultério." Em Lucas 16:18, Jesus faz uma
declaração semelhante: "Quem repudiar sua mulher e casar com outra, comete
adultério; e aquele que casa com a mulher repudiada pelo marido, também comete
adúltero."
Como é que as declarações de Jesus permitindo o divórcio por
infidelidade se harmonizam com as declarações que parecem proibi-lo
inteiramente?
A primeira pista encontra-se nas conversações de Jesus com os
fariseus (Marcos 10:5-9; Lucas 16:18), nas quais ele insiste em que o divórcio
é contrário ao plano de Deus para o casamento. Embora a lei de Moisés
permitisse o divórcio, era. apenas uma concessão provisória e relutante. Jesus
contraditou a lei ao declarar que, mesmo se o casal divorciado não tivesse sido
sexualmente infiel um ao outro, aos olhos de Deus cometeriam adultério se agora
se casassem com outros parceiros.
Note-se que as declarações de Jesus fazem parte das
conversações com os fariseus acerca da lei mosaica, a qual eles acreditavam
sancionava o divórcio por outros motivos além do adultério (Deuteronômio
24:1-4). O ponto central de Jesus era que o divórcio nunca deveria ser
considerado bom, nem deveria ser tomado levianamente. Assim, em sua declaração
citada em Lucas 16:18, ele nem mesmo menciona o assunto do adultério.
(Evidentemente, Marcos 10:5-9 registra apenas as palavras de Jesus que se
relacionam com o ponto central da conversação.)
Nas duas passagens de Mateus (uma delas é um relato completo
do que está registrado em Marcos 10), Jesus permite o divórcio por um motivo
somente ― "imoralidade", ou intercurso sexual ilícito. O pensamento
de Jesus é claro: ao criar uma união sexual com alguém que não seja o parceiro
matrimonial, a pessoa dissolve seu casamento. Neste caso, o decreto de divórcio
simplesmente reflete o fato de que o casamento já foi rompido. O homem que se
divorcia de sua esposa por esta causa "não a faz adúltera", pois ela
já o é. O divórcio por imoralidade geralmente liberta o parceiro inocente para
casar de novo sem incorrer na culpa de adultério (Mateus 19:9), mas às vezes
este ponto é questionado.
Embora Jesus permitisse o divórcio por adultério, ele não o
exigiu. Muito ao contrário: Insistindo em que o divórcio rompe o plano de Deus
para o casamento, ele abriu a porta ao arrependimento, ao perdão e à cura num
casamento infiel, como fez no caso de outras relações desfeitas pelo pecado. A
reconciliação era o método de Jesus para solucionar os problemas matrimoniais.
Deus havia demonstrado esta forma de reconciliação e perdão
quando mandou Oséias casar-se com uma prostituta, depois lhe disse que a
resgatasse após ela ter-se vendido a outro homem. Deus perdoou a Israel
exatamente assim. Quando o povo de Israel continuou a adorar ídolos, Deus o
enviou para o cativeiro; mas ele o redimiu e o trouxe de volta para si (Jeremias
3:1-14; cf. Isaías 54).
C. Ensinos de Paulo. Em 1 Coríntios 7:15, Paulo diz que um
cristão cujo consorte retirou-se do casamento devia estar livre para formalizar
o divórcio: "... se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais
casos não fica sujeito à servidão, nem o irmão, nem a irmã." Não obstante, Paulo incentiva o crente a
manter o casamento, na esperança de que o parceiro incrédulo venha a ser salvo
e os filhos não sofram.
Evidentemente, Paulo está pensando em pessoas que se casaram
antes da conversão, porque ele diz aos crentes que nunca se casem com
incrédulos (1 Coríntios 7:39; 2 Coríntios 6:14-18).
Observe-se que esta situação
é bem diferente daquela que Jesus mencionou no episódio narrado em Mateus 19 e
Marcos 10. Jesus estava falando aos mestres da Lei ― em realidade, aos maus
intérpretes da Lei ― ao passo que Paulo falava aos cristãos, muitos deles
gentios que nunca tinham vivido sob a Lei de Moisés. Os leitores de Paulo
haviam mudado seu modo de vida após o casamento, e tentavam influenciar seus
cônjuges a fazerem o mesmo. Eles eram obrigados a pensar não^ somente em seu
próprio bem-estar, mas também no bem-estar dos cônjuges e filhos. Por essas
razões, e pelo fato de que a monogamia é o plano de Deus, os casamentos devem
ser mantidos sem separação.
Paulo procurava desestimular o divórcio, a despeito de ser
prática-indubitavelmente comum na cultura greco-romana da Corinto paga. Em
assim fazendo, ele se revelava como verdadeiro e leal porta-voz da Lei.
4.
NASCIMENTO E PRIMEIRA INFÂNCIA
Hoje, como nos tempos bíblicos, o nascimento de uma criança é
uma ocasião momentosa. Mas questões que os pais hodiernos bem podem debater
teriam sido estranhas e assustadoras para as pessoas que viveram no antigo
Israel. Por exemplo, as seguintes perguntas nunca teriam passado pela mente dos
israelitas: "Devemos ter filhos?" "Nesse caso, devemos limitar o
número a um ou dois?" Ou, "Se vamos ter filhos, quando devemos
começar?"
A atitude dos antigos israelitas poderia resumir-se nisto:
"Desejamos filhos. Desejamo-los agora. Teremos tantos filhos quantos nos
for possível, porque os filhos nos são muito importantes. Em realidade,
preferiríamos ser 'ricos' de filhos a ricos de dinheiro."
O
DESEJO DE TER FILHOS
O primeiro mandamento de Deus foi: "Sede fecundos,
multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a" (Gênesis 1:28). Os casais
dos tempos bíblicos levavam muito a sério esta ordem. Como declarou um dos
sábios judeus: "Se alguém não se empenha em aumentar, é como se derramasse
sangue ou diminuísse a imagem de Deus."
A ordem de Deus em Gênesis 1:28 era considerada grande
privilégio e bênção. O desejo de cumprir esta ordem é o tema de muitas histórias
da Bíblia. Quem pode esquecer-se do filho prometido a Abraão em sua velhice
(Gênesis 15:4; 18:14), ou da profecia que Isaías entregou ao rei Acaz:
"Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e lhe chamará
Emanuel" (Isaías 7:14)? E depois veio o mais milagroso de todos os
anúncios, dirigido à Virgem Maria: "Eis que conceberás e darás à luz um
filho a quem chamarás pelo nome de Jesus" (Lucas 1:31).
Todo casal judeu desejava ter filhos. Em realidade, era esse
o alvo do casamento. O casal desejava ser lembrado; só através de descendentes
isto era assegurado. Morrer sem deixar descendentes podia levar a família toda
a ser destruída, esquecida para sempre. Em 2 Samuel 14:4-7 lemos a respeito de
uma viúva que tinha dois filhos. Estes entraram numa terrível briga e um matou
o outro. Para fazer o filho culpado pagar por seu crime, os demais parentes
insistiram em que ele fosse executado. A mãe, porém, implorou ao rei que a vida
do seu filho fosse poupada: "Assim apagarão a última brasa que me ficou, de
sorte que não deixam a meu marido nome, nem sobrevivente na terra" (2
Samuel 14:7).
Mesmo hoje os árabes palestinos consideram anormal a vida sem
filhos. Quando nasce o primeiro filho de um casal, o nome do pai é ampliado de
sorte que o nome do bebê se torna parte do nome do pai. Por exemplo, um pai
cujo nome do filho é "Daniel", passa a ser conhecido como "Abu
Daniel", que quer dizer "Pai de Daniel". E se um homem está
casado há dois anos e sua esposa ainda não se engravidou, ele pode muito bem
ser apelidado de "Pai de Ninguém".
O planejamento dos filhos era uma alta prioridade na vida do
casal israelita. Já antes do casamento, os parentes falavam sobre os filhos que
viriam. A família da noiva reunia-se para pronunciar uma bênção sobre ela,
declarando seu desejo de que ela tivesse muitos filhos. Basta olharmos para
Gênesis 24:60 para obter um retrato desta cena. Aqui vemos Rebeca preparando-se
para a longa viagem a Canaã a fim de casar-se com Isaque. Antes de sua partida,
a família se reúne para pronunciar uma bênção sobre ela. O porta-voz da família
diz: "És nossa irmã: sê tu a mãe de milhares de milhares, e que a tua
descendência possua a porta dos seus inimigos." Bênção semelhante foi dada
a Rute antes de seu casamento com Boaz (Rute 4:11-12).
O casal judeu esperava que cada novo filho fosse varão, mas
aceitavam alegremente um menino ou uma menina. Não era assim em algumas das
culturas das redondezas. Muitas vezes as meninas recém-nascidas eram deixadas
ao ar livre para morrer. Alguns pais gentios até vendiam as filhinhas como
escravas.
Os judeus adultos sabiam como uma criança era concebida, mas
raramente discutiam o ato sexual em si. Em vez disso, acentuavam que os filhos
eram uma dádiva de Deus ao casal, "herança do Senhor" (Salmo 127:3).
Conforme declarou o Salmista, é Deus o Senhor "cujo trono está nas
alturas; que se inclina para ver o que se passa no céu e sobre a terra? ...Faz
que a mulher estéril viva em família, e seja alegre mãe de filhos" (Salmo
113:5-6, 9).
A Bíblia usa muitas interessantes figuras de retórica para
descrever a família. A mãe é como "videira frutífera" (Salmo 128:3),
Os filhos são como rebentos de oliveira em torno da árvore paterna (Salmo
128:3). Os filhos varões são como flechas na mão do guerreiro (Salmo 127:4).
O
CASAL SEM FILHOS
A história de Raquel e Lia (esposas de Jacó) mostra quão
importante era para uma mulher dar filhos ao marido (Gênesis 30:1-24).
Muitos casais israelitas não podiam ter filhos. Hoje sabemos
que os casais podem não ter filhos por causa da esterilidade do marido ou da
esposa; mas o mundo dos tempos bíblicos lançava a culpa somente sobre a esposa
pelo problema. (Para uma exceção, veja Deuteronômio 7:14.)
O clamor de Raquel: "Dá-me filhos, senão morrerei"
(Gênesis 30:1), expressava os sentimentos de toda mulher casada. E, não há
dúvida, muitos maridos preocupados concordariam com a resposta de Jacó:
"Acaso estou eu em lugar de Deus que ao teu ventre impediu
frutificar?" (Gênesis 30:2).
Os concidadãos ridicularizavam a mulher estéril,
atribuindo-lhe "opróbrio" (Lucas 1:25). Mesmo as pessoas que a amavam
tratavam-na com compaixão, e a colocavam na mesma categoria duma viúva.
A esterilidade, porém, era mais do que uma questão física ou
social. Profundos significados religiosos prendiam-se ao problema também.
Moisés prometeu ao povo que se obedecessem ao Senhor, seguir-se-ia bênção:
"Bendito serás mais do que todos os povos; não haverá entre ti nem homem
nem mulher estéril, nem entre os teus animais" (Deuteronômio 7:14). Assim,
julgava-se que a esterilidade fosse resultado de desobediência a Deus. Este
princípio se vê através de toda a história de Israel. Por exemplo, Abraão
declarou abertamente a Abimeleque, rei de Gerar, que Sara era sua irmã. Mas
Deus revelou a Abimeleque, num sonho, que Sara era casada com Abraão. Quando o
rei devolveu Sara ao marido, Abraão pediu a Deus que o recompensasse com
filhos. "Porque o Senhor havia tornado estéreis todas as mulheres da casa
de Abimeleque, por causa de Sara, mulher de Abraão" (Gênesis 20:18). Esta
passagem da Escritura descreve uma esterilidade que durou apenas por um breve
período de tempo. Contudo, a condição poderia ser permanente (cf. Levítico
20:20-21). Mas, fosse a esterilidade temporária ou permanente, ela era tida
como maldição de Deus.
É-nos difícil imaginar quão devastadores esses acontecimentos
teriam sido para a esposa sem filhos. Ela estava espiritualmente arruinada,
socialmente desfavorecida, e psicologicamente deprimida.
Estava casada com um marido que desejava um filho para
assegurar a continuação de sua linhagem familiar. O marido podia continuar a
amá-la, porém ela achava que o seu amor não era consolação suficiente (cf. 1
Samuel 1:6-8). Por outro lado, um esposo ressentido poderia tornar insuportável
a vida da mulher .
Um casal estéril passava uma boa parte do tempo examinando
suas falhas passadas para ver se havia algum pecado não confessado. Com
lágrimas, a esposa arrependia-se de todo pecado conhecido. Então o marido
oferecia um sacrifício satisfatório para cobrir algum pecado "desconhecido"
(cf. Levítico 4:2). A falta de filhos passava a ser o assunto principal das
orações do casal. Note como Isaque rogou ao Senhor que concedesse um filho à
sua esposa (Gênesis 25:21). Ana chorou perante o Senhor e fez um voto de que se
Deus lhe desse um filho, ela o consagraria ao serviço do Senhor (1 Samuel
1:11).
Quando o pecado era eliminado como a causa do problema,
esposa estava livre para procurar diferentes soluções. Seus parentes amigos e
vizinhos podiam sugerir que ela tentasse vários alimentos ou poções afrodisíacos
que foram bons para eles.
Estatueta micênica. Uma
mulher idosa, uma jovem, e um menino são retratados nesta escultura de marfim
(décimo-terceiro século a.C.)- Era importante, na antiga estrutura da família,
um estreito relacionamento entre as mulheres mais idosas e as mais jovens,
especialmente na área da educação dos filhos.
Um desse alimentos é
mencionado na Bíblia: Raquel pediu "mandrágoras" de Lia, sua irmã
(Gênesis 30:14-16). Acreditava-se que as mandrágoras produziam fertilidade;
muitas vezes eram usadas como encantamentos de amor. Raquel acreditava que se comesse
este alimente conceberia. Nos
tempos rabínicos as mulheres procuravam vencer! esterilidade mudando a dieta
alimentar. Acreditava-se que maçãs e peixes tornavam a pessoa sexualmente forte
para a procriação.
Modernas escavações em Israel têm descoberto muitas figuras
de fertilidade feitas de barro. Supunha-se que elas ajudassem a mulher a ficar
grávida por "mágica de simpatia". Cada figurinha era moldada para
parecer uma mulher grávida. À medida que a mulher estéril manejava e conservava
junto de si a figurinha, ela esperava assumir a semelhança da figura grávida.
As mulheres também usavam amuletos para assegurar a
fertilidade. O profeta Jeremias notou outra prática paga comum: As mulheres de
Judá faziam bolos, ofereciam bebidas e queimavam incenso à "rainha dos
céus" para garantir fertilidade (Jeremias 44:17-19; cf. Jeremias 7:18). A
"rainha" mencionada nesta passagem era, provavelmente, Astarote, a
deusa cananéia do amor sexual, da maternidade e da fertilidade. Naturalmente,
todas estas práticas supersticiosas eram más aos olhos de Deus.
Se esses remédios não dessem resultado, a mulher era
considerada permanentemente estéril. A esta altura, o marido podia tomar medidas
drásticas. Podia casar-se com outra esposa ou (pelo menos nos tempos dos
patriarcas) usar uma escrava para ter filhos com o seu nome. Foi por isto que
Sara deu sua serva Hagar a Abraão (Gênesis 16:2) e Raquel pediu a Jacó, seu
marido, que engravidasse sua serva Bila
(Gênesis 30:3).
A adoção era também um método de superar a infertilidade da
esposa. O casal sem filhos podia adotar uma criança ou mesmo um adulto como
filho. Eliézer de Damasco era homem crescido, mas Abraão pediu a Deus que ele
fosse seu herdeiro (Gênesis 15:2). As plaquetas do décimo-quinto século a. C,
descobertas em Nuzi, mostram que Abraão estava seguindo uma praxe
comum das culturas semíticas, embora tenhamos poucas referências a ela.
A adoção resolvia muitos problemas: O filho adotado cuidaria do casal na
velhice, provendo-lhes um sepultamento apropriado, e herdaria a propriedade da
família. Contudo, se o Casal tivesse um filho natural após a adoção, este se
tornaria o herdeiro legítimo.
Note-se que ao nascer, o filho de Bila foi colocado no colo
de Raquel. Este ato era a parte central da cerimônia de adoção. A criança foi
então adotada por Raquel como sua própria (cf. Gênesis 30:3). As outras
referências bíblicas à adoção acham-se num ambiente estrangeiro: A filha de
Faraó adotou Moisés (Êxodo 2:10 ― Egito) e Mordecai adotou Ester (Ester 2:7, 15
― Pérsia).
Mesmo com a ênfase sobre a obtenção de filhos, uns poucos
casais preferiram morrer sem filhos a recorrer à adoção ou à poligamia. Este
era o plano de Zacarias e Isabel (Lucas 1:7).
Se uma mulher engravidava após longos anos de espera, era
provável que ela fosse a mais feliz mulher da aldeia. Haveria grande regozijo
ao nascer-lhe o filho. Vemos isto, dramaticamente, no relato de Isabel, a mãe
de João Batista. Lucas escreve: "Ouviram os seus vizinhos e parentes que o
Senhor usara de grande misericórdia para com ela, e participaram do seu
regozijo" (Lucas 1:58). Quando Raquel finalmente concebeu e teve um filho,
ela exclamou: "Deus me tirou o meu vexame" (Gênesis 30:23). Na
esperança de que este não seria oi único filho, ela lhe deu o nome de José, que
significa "Ele (Deus)' acrescenta", dizendo: "Dê-me o Senhor
ainda outro filho" (Gênesis; 30:24).
Mãe e filho. Esta figurinha
de barro cru, representando mãe e filho, data cerca de 3000 a. C; provém de Bete-Yerá, norte de Israel. A
família era assunto comum da primitiva arte cananéia.
ABORTO
ACIDENTAL
Assim como em nossos dias, nem todas as mulheres dos tempos
bíblicos podiam carregar o feto o tempo suficiente para darem à luz Não obstante,
as referências que a Bíblia faz ao aborto são de natureza geral. Embora a
tragédia do aborto provavelmente fosse objeto de cochichos nos círculos
femininos, o sentido de bom gosto do povo talvez as impedisse de discuti-lo
abertamente.
Percebendo que estava prestes a perder a família, a saúde e
os bens! Jó desejou ter sido como "aborto oculto... como crianças que
nunca viram a luz" (Jó 3:16). O profeta Jeremias declarou amargamente que
teria sido melhor se ele tivesse morrido no ventre materno e nunca ter nascido
(Jeremias 20:17-18). As mulheres dos tempos bíblicos não teriam usado a moderna
terminologia médica para descrever o aborto. Elas teriam tentado explicá-lo em
outros termos. Podiam buscar a origem do problema num alimento que tivessem
ingerido, ou em algo que fora bebido. Por exemplo, nos dias do profeta Eliseu,
as mulheres de Jericó estavam convencidas de que a água dali lhes estava
causando aborto (2 Reis 2:19-20).
Às vezes o aborto era causado por acidente. Uma mulher
grávida podia ser empurrada ou escoiceada por um animal. Ela podia encontrar-se
entre dois homens em briga. De acordo com a lei mosaica, a pessoa que infligia
o golpe era multada se a mãe abortasse. Se o aborto causasse complicações e
como resultado a mulher morresse, a Lei impunha a pena de morte (Êxodo
21:22-23).
O
"BEM-AVENTURADO ACONTECIMENTO"
Os hebreus, mesmo sem contarem com os correntes dados da
medicina, sabiam algo a respeito do processo de crescimento. O Salmista
descreveu em termos poéticos o papel de Deus no processo, quando escreveu:
"Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no Seio de minha mãe.
Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as
tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem; os meus ossos não
te foram encobertos, quando no oculto fui formado, e entretecido como nas
profundezas da terra. Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no
teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e
determinado, quando nem um deles havia ainda" (Salmo 139:13-16).
Mulher dando à luz. A
estatueta de barro, do século oitavo, de Chipre, retrata uma mulher dando à
luz. A figura do centro, em trabalho de parto, senta-se ereta sobre os joelhos
da companheira enquanto a parteira á atende. Alguns eruditos acham que Gênesis
30:3 refere-se a este modo de dar à luz.
A. Dor de parto. Faraó interrogou duas parteiras para saber
por que desobedeceram à ordem de matar os meninos hebreus. Elas responderam:
"...É que as mulheres hebréias não são como as egípcias; são vigorosas, e
antes que lhes chegue a parteira já deram à luz os seus filhos" (Êxodo
1:19).
Como deveríamos interpretar o que as parteiras disseram?
Estavam simplesmente inventando a história porque temiam ao Senhor (Êxodo
1:17)? Se estavam dizendo a verdade, que é que pretendiam dizer? Não podemos
admitir que todas as mães hebréias tivessem parto sem dor; outros textos
bíblicos não apóiam esta teoria.
Quando, no jardim do Éden, Adão e Eva pecaram contra Deus, a
maldição divina sobre a humanidade foi que as mulheres experimentariam dor ao
darem à luz (Gênesis 3:16). As agonias do nascimento e os gritos de uma mulher
em trabalho de parto eram comuns numa aldeia judia.
Quando os profetas procuravam descrever o juízo de Deus,
frequentemente usavam a imagem de uma mulher em trabalho de parto. Por exemplo,
Isaías disse: "Como a mulher grávida, quando se lhe aproxima a hora de dar
à luz, se contorce e dá gritos nas suas dores, assim fomos nós na tua presença,
ó Senhor! Concebemos nós, e nos contorcemos em dores de parto, mas o que demos
à luz foi vento" (Isaías 26:17-18). Semelhantemente, disse Jeremias:
"Pois ouço uma voz, como de parturiente, uma angústia como da primípara em
suas dores; a voz da filha de Sião, ofegante, que estende as mãos,! dizendo: Ai
de mim agora!" (Jeremias 4:31).
As dores de parto eram, às vezes, acompanhadas por
complicações. O Antigo Testamento registra várias ocasiões em que a vida da mãe
corria perigo. Por exemplo, a criança que nasceu a Tamar foi chamada Perez, que
significa "ruptura" ou brecha. A parteira notou que a criança havia
feito na mãe uma ruptura ou rasgo desusadamente grande (Gênesis 38:29). Raquel,
a esposa amada de Jacó, morreu, enquanto dava à luz Benjamim, seu segundo filho
(Gênesis 35:18-20)| Igualmente, a esposa de Finéias perdeu a vida nó parto,
embora a criança tenha sido salva (1 Samuel 4:20). O nascimento de uma criança
era doloroso e muitas vezes difícil. A mãe sofria sem oi benefícios dos
modernos tira-dores ou da sofisticada assistência médica.
B. parto. Em algumas culturas antigas, a mãe deitava-se para
dar à luz um filho; em outras, a mãe ficava de cócoras, numa posição abaixada.
Embora a Bíblia pouco se refira a esta fase do nascimento, há uma referência a
"assentos" (Êxodo 1:16, ERC), o que indica que a mãe não ficava
deitada. Infelizmente, não há descrição do assento ou tamborete. Mas esses
assentos eram bem conhecidos em outras culturas do Oriente Médio.
Geralmente a mãe era assistida por uma parteira, mulher
especialmente experimentada em ajudar na hora do parto. Às vezes, essas
mulheres também eram mães; elas haviam aprendido por experiência qual o tipo de
assistência que era necessário. Algumas parteiras eram profissionais que
executavam este serviço como ocupação de tempo integral.
A parteira desempenhava várias funções. Além de receber a
criança, ela aconselhava e incentivava a parturiente. Em diversas ocasiões, a
Bíblia registra as palavras das parteiras à medida que davam tranqüilidade e
consolo (cf. Gênesis 35:17; 1 Samuel 4:20). Se nasciam gêmeos, a parteira tinha
a responsabilidade de fazer distinção entre o primeiro a nascer e o segundo.
Quando Tamar deu à luz os gêmeos, a parteira pegou um fio encarnado e o amarrou
à mão do primogênito, dizendo à mãe: "Este saiu primeiro" (Gênesis
38:28).
Nem sempre a mãe tinha o benefício de uma parteira. Se ela
tivesse um filho prematuro ou estivesse fora de seu ambiente normal, podia ler
de enfrentar a provação sozinha. A Bíblia sugere que Maria, mãe de Jesus,
estava sozinha com o marido quando deu à luz Jesus (Lucas 2:7).
Nos tempos bíblicos, a criança não começava a vida num
ambiente hospitalar esterilizado. Geralmente ela nascia em casa, onde as
Condições não eram higiênicas. Provavelmente nasceria num chão sujo. Os animais
domésticos às vezes partilhavam as mesmas habitações. Muitas vezes a água usada
para lavar a criança estava poluída; as vestes usadas para envolvê-la tinham
sido lavadas na mesma água impura. As moscas portadoras de doenças e outros
insetos logo encontravam a criança. O estábulo onde Jesus nasceu pode não ter
sido nada pior do que alguns dos lares de Belém.
O recém-nascido dormia na mesma cama com a mãe, de sorte que
este pudesse amamentá-lo durante a noite. Contudo, isto podia resultar em
tragédia. Certa vez, Salomão foi solicitado a julgar um caso que envolvia duas
meretrizes que moravam na mesma casa. Uma das mulheres tinha sono pesado, e
durante a noite, acidentalmente, rolou sobre o filho e este morreu. Ao
descobrir que a criança estava morta, secretamente trocou-a pela da outra mulher.
Salomão pôde determinar qual das mulheres era a mãe do menino vivo (1 Reis
3:16-28).
Considerando as deficientes condições de vida, a mortalidade
infantil deve ter sido muito alta. Estudos demográficos realizados no Egito e
em outras culturas antigas mostram que o índice de mortalidade infantil chegava
a 90%. Os muitos sítios de sepultamento infantil descobertos em várias
escavações arqueológicas tendem a apoiar esta hipótese. É importante lembrar,
também, que a cerimônia de redenção do primogênito varão não se realizava antes
que o menino tivesse 30 dias. Se ele passasse do primeiro mês, eram boas as
suas chances de chegar à vida adulta.
Imediatamente após o parto, era preciso executar várias
tarefas. Até data recente, prevalecia entre os árabes palestinos um costume que
pode refletir o procedimento dos tempos bíblicos. Primeiro, o cordão umbilical
era cortado e amarrado. Depois a parteira segurava o bebê e esfregava sal, água
e óleo por todo o seu corpo. A criança era envolvida apertadamente em tecidos
ou trapos limpos durante sete dias, e então se repetia o processo. Isto
continuava até a criança chegar aos 40 dias. O profeta Ezequiel mencionou sal,
lavamento e faixas com referência ao nascimento de uma criança (Ezequiel 16:4).
Lucas observou que Maria "deu à luz o seu filho primogênito,
enfaixou-o..." (Lucas 2:7).
Os deveres da parteira terminavam quando entregava a criança
à mãe para amamentá-la. A mãe judia considerava privilégio e dever amamentar a
criança ao seio. Na realidade, as crianças eram amamentadas ao seio durante o
primeiro ano de vida, ou mais. Algumas vezes, porém, a mãe não era fisicamente
apta para alimentar o filho. Quando isto acontecia, arranjava-se uma
ama-de-leite. Esta ama-de-leite era outra mãe que amamentava (geralmente não
aparentada.) com a criança), que agora amamentava a criança com leite de seu
próprio peito.
A Bíblia relata algo sobre três dessas amas. A filha de Faraó
encontrou o menino Moisés entre os juncos à beira do rio Nilo. Uma de suas
primeiras ordens foi que se conseguisse uma ama dentre as mulheres hebréias
para amamentar a criança. A ama-de-leite de Moisés foi sua própria mãe (Êxodo
2:7-8). A Bíblia descreve uma cena; comovente que mostra a alta estima
dispensada às amas: "Morreu Débora, a ama de Rebeca, e foi sepultada ao pé
de Betel, debaixo do carvalho que se chama Alom-Bacute" [ou "Carvalho
de Lágrimas"] (Gênesis 35:8). Outra ama-de-leite trabalhava com a família
real em Jerusalém. Ela arriscou a vida ocultando a criança que devia herdar o
trono quando tivesse idade suficiente para tornar-se rei (2 Reis 11:1-3).
A parteira comunicava à mãe que a criança havia nascido,
estava viva e passava bem. Se o pai estava trabalhando no campo, ou no mercado,
ela mandava avisá-lo. Jeremias referiu-se a esta praxe quando disse:
"Maldito o homem que deu as novas a meu pai, dizendo: Nasceu-te um filho;
alegrando-o com isso grandemente" (Jeremias 20:15).
Os vizinhos da família perguntariam se a criança
recém-nascida era menino. O anúncio do nascimento era simples. Dizia: "Foi
concebido um homem!" (Jó 3:3), ou "Nasceu-te um filho" (Jeremias
20:15). Isto nos lembra o anúncio do Messias: "Um menino nos nasceu, um filho
se nos deu" (Isaías 9:6).
DAR
NOME À CRIANÇA
Os nomes eram muito importantes no mundo do Antigo
Testamento. Cada nome hebreu tinha um significado, e ele se tornava parte
importante da vida da criança. Os judeus acreditavam que primeiro deviam
conhecer o nome de uma pessoa antes que pudessem conhecer a própria pessoa.
Basta que olhemos para o nome de Jacó, que quer dizer "agarrador de
calcanhar", ou "suplantador", para vermos a importância de um
nome. Conhecer o nome de Jacó era conhecer-lhe o caráter! Portanto, o ato de
escolher um nome para a criança era grave responsabilidade.
Após o exílio, o significado do nome perdeu a importância que
tinha. Uma criança podia receber o nome Daniel, não por seu significado, mas
para honrar o famoso servo de Deus. Porém, houve exceções, mesmo durante este
período. Por exemplo, o nome Jesus é uma forma grega do nome hebreu Josué, que
significa "salvação do Senhor".
O nome da criança geralmente
era escolhido por um dos pais, ou por ambos. A Bíblia indica que geralmente a
mãe dava nome à criança. Como hoje, outras pessoas se incumbiam de ajudar nesta
importante tarefa. Se os vizinhos e parentes de Isabel tivessem feito como
queriam, seu filho teria sido chamado "Zacarias". Mas Isabel
protestou, insistindo em que o menino se chamasse "João" (Lucas
1:60-61).
Em parte alguma a Bíblia diz especificamente quando a criança
devia receber o nome. Em alguns casos, a mãe deu nome à criança no dia de seu
nascimento (p. ex., 1 Samuel 4:21). Nos tempos do Novo Testamento, o menino
geralmente recebia o nome no oitavo dia, no momento da circuncisão (cf. Lucas
1:59; 2:21).
Em sua maioria, os nomes da Bíblia são teofóricos. Isto é, um
nome divino foi juntado a um substantivo ou a um verbo, produzindo uma
sentença. Por exemplo, Jônatas significa "O Senhor deu". O nome Elias
refere-se à lealdade do profeta: "Meu Deus [é] o Senhor." Isto é
verdade, também, com relação a muitos nomes pagãos. Muitos nomes do Antigo
Testamento contêm a palavra Baal. O neto do rei Saul chamava-se Meribe-Baal (1
Crônicas 8:34).
As circunstâncias que cercavam o nascimento da criança
algumas vezes influíam na escolha do seu nome. Por exemplo, se uma mulher ia ao
poço em busca de água e tinha seu filho ali, ela podia chamá-lo Beera,
"[nascido junto ao] poço." Uma criança nascida durante uma tempestade
de inverno podia chamar-se Baraque, "relâmpago". Quando os filisteus
capturaram a arca do concerto, uma mãe estava dando à luz um filho. O menino
recebeu o nome de Icabode; nas palavras da mãe, "Foi-se a glória [cabode]
de Israel" (1 Samuel 4:21).
Os nomes de animais eram comumente usados para crianças.
Raquel significa "ovelha". Débora é a palavra hebraica para
"abelha". Calebe quer dizer "cão", e Acbor refere-se a
"camundongo". Só podemos fazer conjecturas por que se usavam nomes de
animais. Talvez expressassem algum tipo de desejo dos pais. Uma mãe podia ter
chamado a filha de Débora por desejar que ela, ao tornar-se madura, fosse uma
"abelha" industriosa e ocupada.
Freqüentemente o nome se referia a um traço de personalidade
que os pais esperavam descrevesse a criança quando ela chegasse à vida adulta.
Nomes como Shobek (Preeminente) e Azzan (Forte) podem ser melhor compreendidos
sob esta luz. Mas, em outros casos, o nome parecia ser exatamente o contrário
do que os pais esperavam que o filho fosse. Gareb sugere uma condição
"escabiosa" e Nabal faz referência a um "tolo". Algumas
culturas primitivos acreditavam que os demônios desejavam possuir as crianças,
por isso davam a elas nomes com sons repugnantes. Talvez nomes como
''Escabioso" e "Tolo" fossem dados, portanto, nos tempos bíblicos
para afastar espíritos maus.
Akhnaton, Nefertiti, e
filhos. Esta placa de pedra calcária pintada é um retrato da família do Faraó
Akhnaton (décimo-quarto século a.C), sua rainha e as três filhas. A rainha está
sentada, com duas filhas ao colo, enquanto o rei entrega um objeto à mais
velha.
É comum hoje dar ao primogênito o mesmo nome do pai, mas esse
não era o caso nos tempos bíblicos. Basta que se dê uma olhada às várias
árvores genealógicas descritas nas Escrituras para comprová-lo. Por exemplo, de
Boaz até ao último rei de Judá, estão arrolados 24 nomes de reis. E não há dois
deles iguais!
Alguns nomes eram mais populares do que outros. Por exemplo,
pelo menos doze homens mencionados no Antigo Testamento foram chamados de
Obadias ("servo do Senhor"). A fim de distinguir entre muitas
crianças com o mesmo nome, podia acrescentar-se o nome do pai ao do filho. O
nome completo do profeta Micaías era "Micaías ben Inlá", ou
"Micaías, filho de Inlá". O nome do apóstolo Pedro, antes de Jesus
mudá-lo, era "Simão Barjonas", ou "Simão, filho de Jonas".
Este costume também servia para lembrar ao filho seus ancestrais.
Outro modo de distinguir entre pessoas com o mesmo nome era
identificar cada pessoa pela sua cidade natal. O pai de Davi era chamado
"Jessé, o belemita" (1 Samuel 16:1). O gigante que Davi matou era
"Golias, de Gate" (1 Samuel 17:4). Entre os principais sustentadores
de Jesus encontrava-se Maria Madalena ou "Maria de Magdala" (Mateus
28:1). Judas Iscariotes, o discípulo que traiu a Jesus vinha da cidade de
Queriote.
Às vezes o nome da pessoa era mudado depois que ela atingia a
idade adulta. O próprio indivíduo podia pedir a mudança de nome. Noemi, sogra
de Rute, procurou trocar de nome para Mara, porque, disse ela, "grande
amargura [mara] me tem dado o Todo-poderoso" (Rute 1:20). A Bíblia não diz
se os seus vizinhos a levaram a sério. O jovem fariseu chamado Saulo tinha sido
cristão durante anos antes de mudar o nome para Paulo, depois que levou um
importante oficial, Sérgio Paulo à conversão na ilha de Chipre (Atos 13:1-13).
Em outras ocasiões, a pessoa recebia um novo nome. Um anjo do
Senhor trocou o nome de Jacó para Israel (Gênesis 32:28). Jesus mudou o nome de
Simão para Pedro (Mateus 16:17-18). Não se sabe quantas vezes as pessoas mudavam
de nome nos tempos bíblicos.
RITUAIS
DO PARTO
A antiga cultura judaica observava rituais de parto. A
criança nascia 11 uma comunidade
profundamente religiosa. Os seguintes ritos tinham significados
religiosos especiais no desenvolvimento da criança.
A. Circuncisão dos meninos. Muitas culturas do mundo moderno
praticam a circuncisão por motivos de higiene. Algumas tribos primitivas
executam o rito em infantes e em rapazinhos, enquanto outras esperam até que os
meninos cheguem à puberdade ou estejam prontos para o casamento. Essas
tradições têm permanecido em grande parte inalteradas durante séculos. Práticas
semelhantes eram comuns no Oriente Próximo nos tempos bíblicos. Visto como os
filisteus não praticavam a circuncisão, Os judeus os ridicularizavam (cf. 1
Samuel 17:26). Em alguns casos, OS israelitas foram circuncidados quando
adultos (Josué 5:2-5).
A circuncisão significava que o menino era admitido na
comunidade do pacto. O Senhor disse a Abraão: "O que tem oito dias será
circuncidado entre vós... a minha aliança estará na vossa carne e será aliança
perpétua" (Gênesis 17:12-13). Portanto, esta prática era cuidadosamente
observada. O incircunciso era considerado pagão. Quando a cultura grega chegou
à Palestina, dois séculos antes de Cristo, muitos judeus abandonaram seus
costumes. Alguns homens submetiam-se a uma operação que os fazia parecer
"incircuncisos" de novo. Isto era equivalente a apostasia.
A
PARTEIRA HEBRÉIA
A parteira é a mulher que assiste uma mãe ao dar à luz. Nos
tempos antigos, os deveres da parteira consistiam em cortar o cordão umbilical,
lavar o bebê, esfregá-lo com sal, envolvê-lo em faixas, e depois apresenta- lo
ao pai. Em certa ocasião a parteira sugeriu o nome para a criança (Rute 4:17).
A perícia e dedicação dessas mulheres no parto deram honra à sua profissão.
Freqüentemente a parteira era amiga e vizinha da família, e às vezes membro da
casa.
A obstetrícia é uma prática antiga, mencionada pela primeira
vez na Bíblia durante o tempo de Jacó (Gênesis 35:17). A parteira era
experiente em lidar com as dificuldades associadas com nascimentos múltiplos,
conforme sugerido quando Tamar deu à luz Perez e Zerá (Gênesis 38:27-30).
A Bíblia menciona duas mulheres que morreram durante o parto:
Raquel, quando deu à luz Benjamim
(Gênesis 35:17), e a nora de Eli' quando nasceu Icabode (1
Samuel 4:20-21). Em > cada caso, o diligente aviso da parteira tornou
possível à mãe dar nome ao filho.
As duas mais famosas parteiras mencionadas na Bíblia são
Sifrá e Puá. Acredita-se que elas foram as principais parteiras que assistiam
as mulheres hebréias durante o cativeiro no Egito. Josefo e outros crêem que
essas duas eram mulheres egípcias a quem Faraó incumbiu de executar suas ordens
de matar os menino" hebreus. Mas as parteiras desobedeceram Faraó com a
desculpa de que as hebréias eram mais saudáveis e vigorosas do que as egípcia
durante o parto. (Isto implicava que seria difícil as parteiras alegarem que os
bebês tinham morrido durante o parto.)
A Lei de Moisés não estipulava quem devia fazer a operação
menino. Supõe-se, comumente, que era feita por um varão adulto Pelo menos numa
ocasião a Bíblia registra que ela foi realizada por uma mulher; mas as
circunstâncias que cercavam este acontecimento
especial não eram comuns,
pois o marido parecia estar moribundo (cf. Êxodo 4:25). A palavra hebraica para
"circuncisor" e "sogro" é a mesma. Isto, provavelmente,
remonta aos dias pré-aliança quando o futuro sogro preparava o jovem para o
casamento.
A circuncisão é uma operação extremamente delicada. Em nossa
sociedade ela é executada por um médico especialista. É provável que nos tempos
do Novo Testamento, o rito fosse executado por um especialista que não
pertencia ao grupo familiar (1 Macabeus 1:61).
A princípio, usavam-se para esta operação instrumentos
rudimentares como facas de pedra. Mesmo depois de desenvolvidas as facas de
metal, usavam-se facas de pedra (Êxodo 4:25 e Josué 5:2). Lentamente esta
tradição foi abandonada, e nos tempos do Novo Testamento as facas de pedra
haviam sido substituídas por facas de metal.
O menino judeu, conforme vimos, devia ser circuncidado ao
oitavo dia. Deus deu primeiro este mandamento a Abraão (Gênesis 17:12) e o
repetiu a Moisés no deserto (Levítico 12:3). Em períodos anteriores, os
israelitas nem sempre obedeceram a esta ordem. Mas depois do exílio, a lei era
cuidadosamente observada. Esta prática continuou através dos tempos do Novo
Testamento (cf. Lucas 2:21) e permanece como traço característico do Judaísmo
hoje. Quando o oitavo dia caía no sábado, o rito da circuncisão ainda era
executado ― a despeito das muitas regras e regulamentos sobre suspender as
atividades cotidianas que se desenvolveram para manter santo o sábado.
Estudos recentes têm confirmado que o tempo mais seguro para
executar a circuncisão é no oitavo dia de vida. A vitamina K, que causa a
coagulação do sangue, não é produzida em doses suficientes até ao sétimo dia.
No oitavo dia o organismo contém 10% mais de protrombina do que o normal; a
protrombina também é importante para coagulação do sangue.
B. Purificação da mãe. Supunha-se que o parto tornava a
mulher cerimonialmente impura. Isso significava que não lhe era permitido
participar de nenhuma das observâncias religiosas ou tocar objetos sagrados. Os
biblicistas de há muito têm especulado sobre os motivos deste procedimento.
Acentuava que a criança era nascida em pecado? Demonstrava que o ato sexual e o
nascimento de uma criança eram Um tanto pecaminosos? Ou se destinava
simplesmente a proteger a mãe, impedindo-a de sentir-se obrigada a sair para
fora de casa logo após o nascimento de um filho? A Bíblia não nos dá o motivo.
Contudo, é importante lembrar que qualquer pessoa ― homem ou mulher ― era
considerado cerimonialmente impuro se tivesse uma descarga de sangue, sêmen ou
pus (cf. Levítico 12; 15). Outras culturas dos tempos bíblicos tinham tabus
semelhantes.
De acordo com Levítico 12, a mãe era impura durante 40 dias
após o nascimento de um filho; ficava impura o dobro desse tempo se fosse uma
filha. Aqui, também, não se dá o motivo do procedimento.
ESCOLAS
GREGAS E ROMANAS
Os gregos e os romanos antigos tinham um sofisticado sistema
escolar. As escolas não eram obrigatórias, nem eram dirigidas pelo governo.
Contudo, o sistema escolar era popular.
No sistema grego, os meninos eram mandados para a escola aos
seis anos de idade. O dono e dirigente da escola era o professor. Parece que os
gregos não tinham escolas com internato.
Os gregos não ensinavam línguas estrangeiras. (Eles
consideravam sua língua como suprema!) A educação constava de três divisões
principais: música, ginástica, escrita. Todas as crianças gregas aprendiam a
tocar lira. As mães ensinavam as filhas a ler e a escrever, e também lhes
ensinavam a tecer, dançar e tocar um instrumento musical. Estranhamente, as
poucas mulheres gregas bem instruídas geralmente eram prostitutas para os
ricos.
Os preletores gregos ganhavam a vida ensinando em escolas e
mesmo nas ruas. Alguns desses professores ambulantes ― Sócrates, por exemplo ―
tornaram-se famosos. Os meninos gregos podiam freqüentar a escola até à idade
de 16 anos. Depois disso, esperava-se que treinassem nos esportes.
Diferentemente dos gregos,
os romanos usavam outras nacionalidades para ensinar seus filhos, Amiúde
uma ama grega começava 1 O treinamento da criança. Meninos e meninas entravam
para a escola formal aos sete anos. Aos 13, se tivessem saído bem, as crianças
entravam para a escola secundária; havia 20 dessas escolas em Roma no ano 30
d.C. Mesmo; a educação secundária romana era ministrada em grego, e os
professores geralmente eram escravos gregos ou libertos. Como os gregos, os,
romanos tinham professores mais adiantados que iam de escola em escola.
No fim deste período, depois que a mãe apresentava oferta
pelo pecado e o holocausto no lugar central de culto, ela era declarada
cerimonialmente pura. Esta tradição é incomum, porque os sacrifícios
normalmente eram apresentados pelos varões. Também, a Lei permitia à mulher
considerável liberdade na escolha do tipo de| animal que ela sacrificaria,
dependendo de seu status social. Esperava-se que uma mulher rica trouxesse um
cordeiro para o holocausto mas se a família era extremamente pobre, mesmo duas
rolas erai permitidas. É interessante notar que Maria, mãe de Jesus, tinha
condições de oferecer somente o par de rolas no tempo de sua purificação (Lucas
2:22-24).
C. Redenção do primogênito. Visto que todo primogênito era
possessão do Senhor, era necessário que a família redimisse, ou readquirisse de
Deus esse infante primogênito. O preço da redenção era cinco siclos de prata,
dados aos sacerdotes quando o filho tinha um mês de idade (Números 18:15-16).
A Bíblia não nos fala acerca da cerimônia de redenção, mas
nos tempos rabínicos estabelecera-se o seguinte procedimento. A ocasião festiva
era celebrada no trigésimo-primeiro dia de vida da criança. ( acontecia de o
trigésimo-primeiro dia cair num sábado, a cerimônia i atrasava de um dia.) A
celebração ocorria na casa da criança, com um sacerdote e outros convidados
presentes. O rito começava quando o pai apresentava a criança ao sacerdote.
Este perguntava ao pai: "Desejas redimir o filho ou desejas deixá-lo
comigo?" Então o pai respondia que redimiria o filho, e entregava ao sacerdote
cinco moedas de prata. Quando a criança era devolvida, o pai dava graças a
Deus. O sacerdote respondia declarando ao pai: "Teu filho está redimido!
Teu filho está redimido!" A seguir o sacerdote pronunciava uma bênção
sobre a criança, e então se juntava aos convidados numa mesa de banquete.
Se o menino era órfão por ocasião do nascimento, o dever de
redimi-lo recaía sobre um dos parentes varões da criança.
A criança havia sobrevivido
as primeiras semanas decisivas. Seus pais lhe haviam dado nome e executado os ritos
fundamentais. A mãe continuaria a amamentar o menino até que ele tivesse dois
ou três anos. Nesse tempo, ele seria desmamado e cruzaria a linha que separava a
primeira infância da segunda.
Estatueta de mulher grávida.
As mulheres que não podiam conceber, amiúde guardavam figuras que pareciam
mulheres grávidas. Supunha-se que essas figuras ajudavam a produzir a gravidez
por "mágica de simpatia". Esta estatueta de marfim retrata uma mulher
grávida com um umbigo exagerado (cerca de 3500 a.C).
5.
INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
A gente dos tempos bíblicos respeitava os anciãos como fonte
de sabedoria e orientação. Dispensavam atenção à ordem divina de "Diante
das cãs te levantarás, e honrarás a presença do ancião..." (Levítico
19:32). A maioria das decisões que afetavam o clã era tomada pelos anciãos da
aldeia (cf. Êxodo 3:16-18). O título ancião (que significa "barbado")
indicava a idade da pessoa. Os israelitas criam que a pessoa adquiria sabedoria
à medida que envelhecia e era, portanto, um patrimônio valioso da família
(Deuteronômio 32:7; Eclesiástico 25:6).
Deveríamos ter em mente esta opinião sobre as pessoas idosas
ao começarmos a estudar as crianças dos dias bíblicos. Em nossa sociedade,
freqüentemente as crianças são o centro de atenção e atividade. Nos tempos
antigos, as crianças também eram importantes ― porém elas não podiam contestar
os pais ou os anciãos, nem podiam expressar livremente suas opiniões. Os pais
estavam decididos a ensinar a "criança no caminho em que deve andar"
(Provérbios 22:6) e parte desse "caminho" era o respeito aos pais e
anciãos. Mesmo os adultos jovens não contestavam as declarações feitas por seus
anciãos. Por exemplo, Eliú principiou seu discurso a Jó e seus amigos em tom
apologético, dizendo: "Eu sou de menos idade, e vós sois idosos;
arreceei-me e temi de vos declarar a minha opinião" (Jó 32:6). Nesta luz,
podemos entender melhor por que Jeremias hesitou em tornar-se profeta. Ele
disse: "Ah! Senhor Deus! Eis que não sei falar; porque não passo de uma
criança" (Jeremias 1:6). Os discípulos de Jesus refletiram esta atitude
quando tentaram proteger Jesus das crianças. Mas Jesus lhes disse: "Não os
embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus" (Lucas 18:16).
Crianças e atividade
escolar. Um relevo de um sarcófago romano mostra o progresso de uma criança
desde a amamentação no selo materno (esquerda) até um menino preparado para sua
primeira atividade escolar (direita).
APARÊNCIA
FÍSICA E CRESCIMENTO
Os Evangelhos dão poucas informações acerca da aparência
física de Jesus, quer como adulto, quer como criança. Mas a Bíblia apresenta
descrições resumidas de alguns indivíduos. Por exemplo, Davi foi descrito como
tendo cabelos avermelhados ou "...ruivo, de belos olhos e boa
aparência" (1 Samuel 16:12). Todavia, não sabemos qual o tipo de pessoa
que os israelitas consideravam simpática, bonita.
Alguns murais e
baixos-relevos que remontam aos tempos do Antigo Testamento mostram qual
poderia ter sido a aparência dos israelitas. O problema aqui é que não podemos
determinar os aspectos reais e os imaginários. Contudo, eles adicionam uma ou
mais peças ao quebra-cabeças.
As escavações arqueológicas
dão algumas evidências mais dos característicos físicos dos israelitas.
Examinemos abaixo algumas dessas pistas.
A. Fases de crescimento. Os hebreus empregavam diversas
palavras para descrever as fases de crescimento da criança. Esta, quando muito
pequena, era chamada "sugadora", o que significa que ela ainda era
amamentada. Depois era mencionada como "desmamada"; esta mudança era
um marco importante na vida da criança. Quando amadurecia um bocadinho mais, os
hebreus diziam que ela era "alguém que dá passos um pouco mais
rápidos".
Outro patamar era atingido com a puberdade. O jovem nesta
fase era chamado elem ou almah, que significa "estar sexualmente
maduro".
Cinco fases da vida humana estão esboçadas em Levítico
27:1-8; três delas caem na infância ou na adolescência. A primeira fase ia do
nascimento até 30 dias; a segunda, de um mês a cinco anos; e a terceira, dos
cinco anos até aos 20. As últimas duas fases eram a vida adulta e a velhice.
B. Tamanho. Os israelitas se consideravam menores do que os
cananeus, que habitavam a Terra Prometida antes deles. Quando os espias
regressaram de sondar a Terra Prometida, relataram que a terra estava cheia de
gigantes. Disseram: "Maior e mais alto do que nós é este povo; as cidades
são grandes e fortificadas até aos céus. Também vimos ali os filhos dos
enaquins" (Deuteronômio 1:28). A gente mencionada como
"enaquins" eram descendentes legendários de uma tribo de gigantes.
Mas os arqueólogos encontraram provas de que os cananeus eram de porte e
constituição médios. Parece que o relatório dos espias se baseou no medo antes
que nos fatos (Deuteronômio 1:28; Números 13:28).
Pelo estudo dos esqueletos de israelitas adultos, os
cientistas acharam que o porte médio deles era de 160 a 170 cm. Seu porte
pequeno se devia, em parte, à deficiente fonte de alimentação de que dispunham.
A seca e as pragas de gafanhotos reduziam-lhes drasticamente a produção
agrícola. Isto gerava fome generalizada entre o povo (Amós 4:6-10).
A despeito de todas essas severidades, havia umas poucas
pessoas obesas. Eglom, rei de Moabe, é descrito como "homem gordo"
(Juizes 3:17). Mas o alimento era freqüentemente escasso, de sorte que,
enquanto o rico podia comprar mais do que necessitava, o pobre quase morria de
fome. A Bíblia condena o egoísmo insensível dos ricos (cf. Lucas 12:13-21),
como condena a gula. Por exemplo, Deus julgou Eli e seus filhos porque se
engordavam comendo as melhores partes das ofertas (1 Samuel 2:29).
Embora os israelitas possam ter sido mais baixos e mais
magros do que seus contemporâneos, não eram mais fracos. Todos trabalhavam com
afinco, inclusive as meninas. Todos os dias as mulheres jovens enchiam seus
cântaros no poço local e os levavam para casa sobre a cabeça. Quando cheio de
água, cada cântaro pesava nada menos que 22 kg. O preparo do grão para alimento
era outra tarefa estrênua e cansativa para a coluna vertebral. Uma esposa ideal
desse tempo era a que tinha braços fortes (Provérbios 31:17).
A vida exigia trabalho duro por parte dos homens; tal
trabalho era parte, também, do crescimento de um rapaz (1 Samuel 16:11). Tanto
homens como meninos empenhavam-se em toda sorte de trabalho físico. Por
exemplo, carregavam ovelhas ou bodes doentes de volta para a aldeia de campos
distantes. Quando se ia construir uma casa, eles carregavam as pedras a mão. A
maior parte de suas viagens era feita a pé. Tudo isto contribuía para fazer dos
israelitas um povo forte e flexível.
Às vezes o jovem demonstrava sua força e coragem atacando e
matando um animal selvagem. Davi contou a Saul: "Teu servo apascentava as
ovelhas de seu pai; quando veio um leão, ou um urso, e tomou um cordeiro do
rebanho, eu saí após ele, e o feri, e livrei O cordeiro da sua boca;
levantando-se ele contra mim, agarrei-o pela barba, e o feri, e o matei. O teu
servo matou, assim o leão como o urso" (1 Samuel 17:34-36). Acontecimentos
semelhantes estão registrados por toda a Bíblia (p. ex., 2 Samuel 23:20).
Em toda cultura há exceções à regra. A Bíblia diz de Saul:
"Entre os filhos de Israel não havia outro mais belo do que ele; desde os
ombros para cima sobressaía a todo o povo" (1 Samuel 9:2). Golias era,
também, um homem excepcionalmente grande. Em 1 Samuel 17:4, lemos que sua
altura era de seis côvados e um palmo. Um côvado era a distância que vai do
cotovelo à ponta do dedo médio, ou aproximadamente 45 cm. Isso daria a Golias
uma altura superior a 270 cm. No outro extremo da escala estava Zaqueu, que
subira a um sicômoro para ver sobre as cabeças da multidão (Lucas 19:3-4).
Amenotepe III e família.
Este colossal grupo de família de 7 m de altura rebata o Faraó Amenotepe III
(cerca de 1450 a. C.) com barba e toucado cerimoniais. A rainha Tiy usa uma
pesada peruca encimada por uma coroa. As três filhas estão representadas pelas
três pequenas figuras ao longo da frente do trono. Isto indica o papel
significativo dos filhos na sociedade egípcia.
C. Cor da pele e do cabelo. O nome Esaú significa
"marrom-avermelhado". Os descendentes de Esaú eram os povos
marrom-avermelhados conhecidos por edomitas. Em contraste, a pele dos
israelitas era mais clara e de cor mais amarelada. Em nosso tempo, os
israelitas parecem ter pele escura por causa de sua constante exposição ao sol.
As moças israelitas consideravam bela a pele clara e evitavam
os raios do sol tanto quanto possível. Lemos nos Cantares de Salomão que a
futura esposa pediu às suas servas: "Não olheis para o eu estar morena,
porque o sol me queimou" (Cantares 1:6). Ela estava constrangida porque
sua pele não era tão clara como a das outras moças.
A jovem israelita antiga tinha cabelos escuros ou pretos.
Cantares de Salomão 5:11 descreve-os como "pretos como o corvo".
Várias vezes no Bíblia o cabelo da jovem era assemelhado a um rebanho de cabras
que descem de uma colina (Cantares 4:1; 6:5); a cabra nativa era preta.
Os arqueólogos têm encontrado turbantes em vários sítios de
Israel que datam dos tempos do Antigo Testamento. Essas relíquias indicam que
os homens, bem como as mulheres, usavam cabelos compridos. Absalão (2 Samuel
14:26) e Sansão (Juizes 16:16-19) tinham ambos cabelos compridos.
Os pais cananeus amiúde rapavam a cabeça dos filhos, deixando
um anel de cabelo no topo (Levítico 19:27). Este era um costume egípcio vedado
aos israelitas. O apóstolo Paulo insistiu com as mulheres a que não rapassem a
cabeça e com os homens a que não usassem cabelos compridos (1 Coríntios
11:14-15); o cabelo curto significava que a mulher era prostituta. Os penteados
freqüentemente eram uma questão cultural; o que uma geração aceitava, outra
não.
D. Filhos com problemas físicos. Os defeitos de nascença eram
predominantes nos tempos bíblicos assim como o são hoje. No Pentateuco
encontramos uma lista de alguns dos defeitos mais comuns (Levítico 21:18-21).
Aparentemente, a pessoa com defeito de nascença estava proibida de desempenhar
quaisquer deveres sacerdotais. Tal pessoa facilmente se tornava objeto de
caçoada e importunação cruéis. Isto era estritamente proibido por Deus, que disse:
"Não amaldiçoarás ao surdo, nem porás tropeço diante do cego; mas temerás
o teu Deus: Eu sou o Senhor" (Levítico 19:14; cf. Deuteronômio 27:18).
EDUCAÇÃO
Os israelitas proporcionavam educação esmerada para os
filhos. Incluía instrução religiosa bem como treinamento em habilidades!
práticas de que necessitariam no mundo das atividades diárias. Eram um povo
agrícola, por isso só aos guias religiosos se ensinava a ler e escrever.
"E crescia Jesus em sabedoria... e graça, diante de Deus
e dos homens" (Lucas 2:52). Este versículo capta o alvo do sistema
educacional judaico. Ele se esforça por comunicar não somente conhecimento, mas
sabedoria, que gira em torno do relacionamento do indivíduo com Deus.
No Israel antigo a educação era um processo informal, Os pais
executavam a maior parte do treinamento, ou todo ele. Não havia salas de aula
ou currículo estruturado. Nos tempos do Novo Testamento os judeus haviam
adotado um método mais formal de educação. Criaram salas de aula e havia
professores qualificados para instruir todas as crianças da aldeia.
A. Modelo de ensino.
Para que possamos entender a função do professor judeu, devemos primeiro
considerar o Mestre divino que aquele tomava por modelo. A Bíblia refere-se a
Deus como o Mestre que ensina seus alunos: "Este é o caminho, andai por
ele" (Isaías 30:20-21). Deus conhece e entende ás necessidades de seus
alunos; ele é plenamente versado no assunto; ele é o exemplo perfeito e
infalível para seus alunos. O professor judeu tinha perante si o padrão quando ia
para o trabalho.
Sabemos que Deus usou homens para ensinar a Lei à nação de
Israel. Esses homens não eram somente mestres, mas exemplos de piedade ― homens
como Moisés, como os sacerdotes, e profetas como Elias. Seus alunos eram as
pessoas adultas da nação de Israel, que eram depois responsáveis por transmitir
o conhecimento aos seus filhos.
B. Responsabilidade
paterna. A educação religiosa dos filhos era responsabilidade dos pais
(Deuteronômio 11:19; 32:46). Não se abriam exceções para os pais
que julgavam estar ocupados demais para ensinar.
Mesmo quando os filhos chegavam à maioridade e casavam, a
responsabilidade dos pais não terminava; ainda tinham parte importante na
educação dos netos (Deuteronômio 4:9). Na verdade, frequentemente eles moravam
na mesma casa.
Meninas brincando. As
meninas dançam e jogam neste relevo (cerca de 2200 a. C.) procedente de uma
tumba egípcia em Sacará. Quatro das meninas seguram espelhos.
O pai israelita era, em última instância, responsável pela
educação dos filhos; mas as mães também desempenhavam papel decisivo,
especialmente até a criança atingir cinco anos de idade. Durante esses anos
formativos, esperava-se que ela moldasse o futuro dos filhos e das filhas.
Quando o menino tinha idade bastante para trabalhar com o
pai, este se tornava seu principal professor, muito embora a mãe continuasse a
partilhar na responsabilidade de ensino (cf. Provérbios 1:8-9; 6:20). A mãe
arcava com a principal responsabilidade pelas filhas, ensinando-lhes
habilidades que lhes seriam necessárias para tornar-se, com o tempo, boas
esposas e mães.
Se alguém que não o pai tinha de assumir a responsabilidade
de ensinar um menino, então essa pessoa era considerada seu "pai". Em
gerações posteriores, chamava-se "pai" à pessoa a quem se atribuía!
especificamente a tarefa de ensinar, e ela se dirigia aos alunos como
"meus filhos".
Jogo procedente de Tell Beit
Mirsim. Crianças cananéias jogavam um jogo sobre uma tábua com dez peças ―
cinco na forma de cone e cinco tetraedros, todas de cerâmica azul. Uma piorra
de marfim, com buracos nos quatro lados, completa o conjunto.
A principal preocupação dos pais judeus era que os filhos
viessem a conhecer o Deus vivo. Em hebraico, o verbo "conhecer"
significa estar intimamente envolvido com uma pessoa; a Bíblia afirmou que a
reverência ou "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento
do Santo é prudência" (Provérbios 9:10). Os pais piedosos ajudavam os
filhos a desenvolver este tipo de conhecimento de Deus.
Desde tenra infância os jovens aprendiam a história de
Israel. Na primeira fase da infância, provavelmente a criança memorizava uma
declaração de crença e a recitava uma vez por ano, pelo menos, na oferta das
primícias. O credo reduzia o relato da história de Israel a uma forma simples,
fácil de memorizar:
Arameu, prestes a perecer, foi meu pai, e desceu para o
Egito, e ali viveu como estrangeiro com pouca gente; e ali veio a ser nação
grande, forte e numerosa. Mas os egípcios nos maltrataram e afligiram, e nos
impuseram dura servidão. Clamamos ao Senhor, Deus de nossos pais; e ele ouviu a
nossa voz, e atentou para a nossa angústia, para o nosso trabalho e para a
nossa opressão; e nos tirou do Egito com poderosa mão, e com braço estendido, e
com grande espanto, e com sinais, e com milagres; e nos trouxe a este lugar, e
nos deu esta terra, que mana leite e mel. Eis que agora trago as primícias dos
frutos da terra que tu, ó Senhor, me deste (Deuteronômio 26:5-10).
Deste modo os filhos aprendiam que a nação de Israel havia
feito aliança com Deus. Esta aliança impunha-lhes certas restrições. Não eram
livres para buscar seus próprios desejos, mas tinham responsabilidade perante
Deus porque ele os havia redimido. Diligentemente lhes eram ensinadas as
diretrizes que Deus lhes dera.
Jesus resumiu a essência e intenção dessas leis ao declarar:
"Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de
todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo,
semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois
mandamentos dependem toda a lei e os profetas" (Mateus 22:37-40).
Provavelmente não havia escolas formais nos tempos do Antigo
Testamento. A maior parte do aprendizado ocorria em meio à vida cotidiana. A
medida que surgiam as oportunidades no decorrer do dia, os pais instruíam os
filhos.
Uma criança podia perguntar: "Por que essas pedras estão
empilhadas ali? Que significam?" (cf. Josué 4:21). Então o pai tomaria
tempo para explicar-lhes o pano de fundo religioso e o significado do
monumento.
A educação do filho tomava a vida toda para completar-se. A
família judaica levava a sério as instruções do Senhor: "Estas palavras
que hoje te ordeno, estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus
filhos" (Deuteronômio 6:6-7). A frase "tu as inculcarás" vem de
uma palavra hebraica que geralmente se referia a afiar uma ferramenta ou amolar
uma faca. O que a pedra de amolar é para a lâmina da faca, assim o é o
treinamento para a criança. A educação preparava os filhos para tornar-se
membros úteis e produtivos da sociedade.
C. Escolas da sinagoga. Não sabemos quando se estabeleceram
pela primeira vez as escolas da sinagoga, Alguns crêem que a prática remonta ao
tempo do exílio na Babilônia. Não importa o tempo em que tenha começado, o fato
é que na época do Novo Testamento a escola da sinagoga era parte vital da vida
judaica.
Todos os sábados os judeus se reuniam fielmente na sinagoga
para ouvir o rabino ler as Escrituras e explicar a Lei, Esta atividade levou os
muçulmanos a apelidar os judeus de "o povo do Livro". A sinagoga
patrocinava classes especiais à parte das horas regulares de adoração. Durante
a semana, os meninos iam a essas classes para estudar as Escrituras com
professores qualificados. Essas classes suplementavam a educação religiosa que
os meninos recebiam dos pais.
O pai judeu preocupava-se muito mais com o caráter do professor
do que com sua capacidade de ensinar. Naturalmente, exigiam dele que fosse
competente em sua profissão, mas estavam muito mais interessados em que ele
fosse um bom exemplo para os filhos. Os escritos judaicos da época do Novo
Testamento dão-nos uma relação parcial das características ideais de um
professor: Não devia ser preguiçoso. Devia ter um temperamento uniforme. Jamais
devia revelar parcialidade. Nunca devia impacientar-se. Jamais devia
comprometer sua dignidade dizendo gracejos. Nunca devia desestimular a criança.
Devia mostrar que o pecado é repulsivo. Devia punir todos os malfeitos. Devia
cumprir todas as suas promessas.
Além da leitura das Escrituras, os meninos judeus também
aprendiam regras de etiqueta, música, guerra, e outros conhecimentos práticos.
Lemos como se disse de Davi "que sabe tocar [isto é, músico], e é forte e
valente, homem de guerra, sisudo em palavras, e de boa aparência; e o Senhor é
com ele" (1 Samuel 16:18). Podemos deduzir deste relato que Davi tinha uma
educação refinada, como o tinha a maioria dos meninos judeus.
Nos tempos do Novo Testamento, as escolas judaicas exigiam
que todo estudante dominasse diversas passagens-chave da Escritura. De primária
importância era o Shema, outra declaração de credo dos judeus (Deuteronômio
6:4-5). A seguir, em importância, vinham; Deuteronômio 11:13-21 e Números
15:37-41. Também se exigia que o;| aluno aprendesse os salmos de hallel
("louvor") (Salmos 113-118), i bem como o relato da criação (Gênesis
1-5) e as leis dos sacrifícios (Levítico 1-8). Se a criança tivesse
inteligência fora do comum, podia examinar mais do livro de Levítico.
Somente os meninos recebiam instrução formal fora do lar.
Começavam reunindo-se na casa do professor, onde liam os rolos que continham
porções das Escrituras, tais como o Shema. Esta era a escola primária da época.
Quando os meninos atingiam idade suficiente para aprender as
lições sabáticas, eles se reuniam na "casa do Livro" ― a sinagoga.
Aqui eles entravam na sala onde eram guardados os rolos da Tora e preparavam as
lições sob a supervisão do Hazzan, o guardador dos rolos.
Mais tarde lhes era
permitido discutir questões da Lei com os mestres fariseus. Essas discussões
constituíam o nível "Secundário" da educação judaica.
Nos tempos do Novo Testamento a escola funcionava o ano todo.
Durante os meses quentes do verão os meninos passavam na escola não mais que 4
horas por dia. Se o dia estava quente demais, os alunos podiam ser dispensados.
As aulas eram antes das 10 e depois das 15 horas. Ocorria uma interrupção de 5
horas durante a parte mais quente do dia.
A sala de aula continha uma pequena plataforma elevada onde o
professor se assentava de pernas cruzadas. Diante dele, numa fila inferior,
estavam os rolos contendo passagens escolhidas do Antigo Testamento. Não havia
livros de texto. Os alunos assentavam-se no chão aos pés do professor (Atos
22:3).
As classes não eram classificadas por idade; todos os alunos
estudavam na mesma sala. Por este motivo, a instrução deles tinha de ser muito
individualizada. O professor copiava um versículo para os alunos menores e
estes o recitavam em voz alta até que o tivessem aprendido. Entrementes, o
professor ajudava os meninos maiores a ler um trecho de Levítico. Para nós,
provavelmente o barulho causaria muita distração, mas os meninos israelitas
logo se acostumavam com ele. Os sábios acreditavam que se o versículo não fosse
repetido em voz alta, logo seria esquecido.
D. Preparo vocacional. Os meninos deviam ficar alvoroçados
por acompanhar os pais aos campos para trabalhar ou ao mercado para comprar e
vender. Observavam cuidadosamente os pais plantando, podando e colhendo. Às
vezes lhes era permitido tentar uma tarefa difícil, o que aumentava a emoção.
Um novo mundo se abria ao menino quando tinha idade suficiente para acompanhar
o pai.
Mas o trabalho era monótono e cansativo. À medida que o
menino troada, também cresciam suas responsabilidades. Não demorava muito,
esperava-se que o menino fizesse o trabalho de um dia todo sem parar, exceto
para um breve descanso.
Os homens incentivavam os filhos a trabalhar duro,
admoestando-os com a Escritura. Provérbios 6:9-11 dizia: "ó preguiçoso,
até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? Um pouco para
dormir, um pouco para toscanejar, um pouco para encruzar os braços em repouso,
assim sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade como um homem
armado." Para sobreviver, a família tinha de trabalhar com afinco.
Os israelitas criam que uma vida indisciplinada não
prepararia o jovem para enfrentar com êxito o que lhe sobreviesse. Bem cedo na
vida ensinavam aos filhos o significado da responsabilidade, de modo que, ao
chegarem à vida adulta, pudessem satisfazer suas exigências com confiança. Se
um filho crescia sem responsabilidade, ele não só criava constrangimentos para
si próprio mas trazia vergonha para a família. Um dos sábios observou: "A
vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a
envergonhar a sua mãe" (Provérbios 29:15).
Visto que Israel era uma sociedade agrícola, muito da
sabedoria prática passada de pai para filho girava em torno da lavoura. Isto;
incluía lições sobre o tamanho do solo para o plantio e cultivo dei várias
colheitas, bem como a ceifa e armazenamento dos produtos. Os filhos aprendiam
essas habilidades trabalhando ao lado dos pais durante a juventude. Mesmo
quando os judeus começaram a procurar emprego fora da lavoura, ainda eram
"gente da terra".
Circuncisão. Este relevo de
Sacará retrata o rito egípcio da circuncisão. À esquerda, um assistente segura
as mãos do menino enquanto o circuncisor executa a operação com um objeto
arredondado, talvez uma faca de pedra (cf. Êxodo 4:25). À direita, o paciente
se apóia colocando a mão na cabeça do circuncisor. Diferentemente dos egípcios,
os hebreus circuncidavam os meninos com a idade de oito dias, para significar a
aceitação da criança na comunidade do pacto.
Também era responsabilidade do pai ensinar a seus filhos uma
carreira ou profissão. Por exemplo, se o pai era oleiro, ele ensinava essa
habilidade aos filhos. Um dos sábios judeus afirmou que "aquele que não
ensina a seu filho uma profissão útil faz dele um ladrão".
Enquanto os meninos aprendiam essas habilidades, as meninas
aprendiam a fazer pão, fiar e tecer, sob os olhos vigilantes das mães (Êxodo
35:25-26; 2 Samuel 13:18). Se não houvesse filhos varões na família, podia-se
exigir que as filhas aprendessem o trabalho do pai (Gênesis 29:6; Êxodo 2:16).
ATIVIDADES
DE LAZER
Os jovens nos tempos bíblicos não tinham "tempo de
sobra" como o têm os jovens hoje. Mas ainda tinham muito tempo para
recreação e lazer.
A. Brinquedos. As crianças tinham poucos brinquedos.
Geralmente se divertiam brincando com uma vara, um osso, ou um pedaço de
cerâmica quebrada. Brinquedos de terracota têm sido encontrados em muitas
escavações.
No Egito, os arqueólogos têm encontrado brinquedos mecânicos
simples como carrinhos e vagões nos túmulos reais. As meninas israelitas
brincavam com bonecas simples de barro vestidas de trapos.
Em certa ocasião, o profeta Isaías assemelhou Deus a uma
pessoa que faz rolar uma bola (Isaías 22:18). Esta é a única referência bíblica
a um brinquedo dessa natureza. Infelizmente, o profeta não descreveu nem a bola
nem o jogo que se fazia com ela.
B. Jogos. O profeta
Zacarias predisse tempos de paz para Israel, dizendo: "As praças da cidade
se encherão de meninos e meninas, que nelas brincarão" (Zacarias 8:5). A
Bíblia não descreve os jogos que as crianças podiam ter jogado, porém ela os
menciona dançando e cantando (cf. Jó 21:11-12). Jesus disse que as pessoas de
sua geração eram como meninos que, sentados nas praças, gritam aos
companheiros: "Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos
lamentações, e não pranteastes" (Mateus 11:16-17).
Desenhos nas paredes dos túmulos egípcios antigos mostram
crianças lutando e jogando jogos como cabo-de-guerra. Embora haja pouca
evidência de que os meninos hebreus praticassem esses esportes, é muitíssimo
provável que o fizessem. Corridas a pé e amarelinha eram também jogos de que as
crianças gostavam.
Os meninos dos tempos bíblicos gostavam de explorar as
cavernas e aberturas que cercavam o seu mundo. Os meninos pastores amiúde davam
umas escapadelas para explorar ou apanhar animais selvagens. Os meninos também
praticavam o uso da funda ou o arremesso da lança. Mesmo enquanto brincavam,
eles se preparavam para a varonilidade.
VIAGEM
A JERUSALÉM
O Senhor ordenou que todos os varões hebreus adultos se
congregassem regularmente no lugar central de cultos (Êxodo 23:14-17;
Deuteronômio 16:16-17). O propósito era, antes de tudo, religioso, mas as
crianças consideravam a viagem uma espécie de férias, repleta de aventura e
emoção. Contavam como privilégio poderem ir. Jerusalém era uma cidade cheia de
novas vistas e sons que eles estavam ansiosos por experimentar, Freqüentemente
as crianças ficavam tão ansiosas por chegarem a Jerusalém que corriam adiante
dos adultos mais vagarosos.
O
CÍRCULO VESPERTINO
A refeição da tarde, numa aldeia judaica, era tomada cerca de
duas horas antes do pôr-do-sol. Depois da janta os homens iam para um local de
reunião ao ar livre, onde se assentavam ou deitavam num grande círculo com os
homens mais velhos ou mais respeitados no centro. Os meninos maiores podiam
ficar nas bordas exteriores e ouvir enquanto os homens relatavam os acontecimentos
daquele dia ou de tempos atrás.
Tábua de jogo. Descoberta
numa sepultura em Ur, esta tábua de jogo (cerca do vigésimo-quinto século a.C.)
era oca para conter as quatorze peças redondas de jogar. A tábua é incrustada
com conchas, ossos, pedra calcária vermelha, e riscas de lápis-lazúli fixadas
em betume.
O círculo era como um "jornal" vespertino. Sabemos
que tipo de coisas ocorriam. Os homens discutiam assuntos tais como o
nascimento de um filho, a doença de um aldeão, o aparecimento de um leão ou de
um urso na vizinhança, ou acontecimentos nacionais. Então seus pensamentos
provavelmente se voltavam para os planos do futuro. Podiam discutir a
perspectiva de uma colheita abundante, os primeiros indícios de uma praga de
gafanhotos, ou a quantidade de chuva que havia caído.
O silêncio reinaria por uns poucos momentos, após o que um
velho podia começar a recitar um poema de atos heróicos do passado, como a
história de Davi. Isto podia levar a um cântico, com muito dos homens
participando. Então uma voz podia declarar em tom proverbial: "Sob três
coisas estremece a terra." Outro homem, do outro lado do círculo, podia
responder: "Sim, sob quatro não pode subsistir." Então diferentes
homens citariam quatro coisas que a terra não poderia suportar, como "Sob
o servo, quando se torna rei". Após um período de risadas e reflexão, um e
depois outro fariam comentários animados sobre a vida, tal como: "Como
vaso de barro coberto de escórias de prata..." seguido de: "assim são
os lábios amorosos e o coração maligno" (Provérbios 26:23). Era um tipo
estranho e assombroso de conversação ― sutil, engenhoso, grave e muitíssimo
instrutivo. Este tipo de diálogo podia ter continuado por diversas rodadas
antes que o tópico mudasse e a reunião se encerrasse.
Podemos imaginar que quando os jovens se encaminhavam para
casa, cada um deles refletia sobre o que tinha ouvido. Alguns guardavam
informações importantes que desejavam recordar. Outros achavam seus corações
estranhamente comovidos pelos contos de homens ousados de outrora. Outros
simplesmente se divertiam com os boatos e com os provérbios que tinham ouvido.
Mas, coletivamente, seu estoque de sabedoria e de discernimento havia
aumentado, e desse modo suas vidas se haviam enriquecido.
6.
ENFERMIDADES E CURA
Doença e enfermidade têm infestado o homem desde que Deus
expulsou Adão e Eva do jardim do Éden (cf. Gênesis 3:19). Os hebreus criam que
a doença era causada pelo pecado individual que Deus tinha de castigar (Gênesis
12:17; Provérbios 23:29-32), pelo pecado dos pais (2 Samuel 12:15), ou por
sedução de Satanás (Mateus 9:34; Lucas 13:16). Contudo, alguns trechos bíblicos
mostram que nem sempre há uma explicação tão simples para a enfermidade (cf. Jó
34:19-20).
Mesmo nos tempos do Antigo Testamento, os hebreus associavam
a cura com Deus. Por exemplo, Malaquias falou do sol da justiça trazendo
salvação [cura] nas suas asas (Malaquias 4:2), e Davi louvou a Deus como aquele
que "sara todas as tuas enfermidades" (Salmo 103:3).
CURAS
RITUAIS E CURAS MILAGROSAS
Aqui vamos passar em revista algumas das enfermidades e
respectivos problemas dos tempos bíblicos. A compreensão desses problemas é
importante para todo estudante da Bíblia, porque amiúde eles determinavam o
curso da história de Israel, e o ministério de Jesus encareceu a cura dos
enfermos.
A. Afasia. É a perda
temporária da fala, geralmente causada por' uma lesão cerebral, mas às vezes
atribuída a um transtorno emocional. Isto aconteceu ao profeta Ezequiel
(Ezequiel 33:22). Quando o? anjo disse a Zacarias que ele ia ser pai de João
Batista, o velho saiu do templo e não podia falar (Lucas 1:22).
B. Apoplexia. Este termo refere-se a uma ruptura ou obstrução
de uma artéria do cérebro, causando derrame. Quando Abigail falou a Nabal de seu
insulto a Davi e de suas horrendas conseqüências, "...se amorteceu nele o
coração, e ficou ele como pedra"; dez dias mais tarde ele morreu (1 Samuel
25:37-38). Esses sintomas sugerem que ele sofreu um ataque de apoplexia. O
mesmo pode ter acontecido a Uzá, que tocou a arca da aliança (2 Samuel 6:7),
bem como a Ananias e Safira (Atos 5:5, 9-10).
C. Câncer. Ezequias
estava muito doente e o Senhor lhe disse que se preparasse para morrer (2 Reis
20:1). O Senhor infligiu uma doença incurável a Jeorão, e após dois anos
saíram-lhe as entranhas (2 Crônicas 21:18-19). Os biblicistas crêem que esses
homens podem ter sofrido algum tipo de câncer, embora a disenteria crônica
também pudesse ter produzido os sintomas de Jeorão. Contudo, a Bíblia não se
refere ao câncer pelo nome porque esta enfermidade não tinha sido identificada
nos tempos bíblicos.
D. Cegueira e perda
da audição. Três tipos de cegueira são
mencionados na Bíblia: a repentina, causada por moscas e agravada por sujeira,
pó e resplendor; a gradual, causada por velhice; e a crônica. Paulo sofreu
cegueira temporária no caminho de Damasco (Atos 9:8). A Bíblia se refere com
freqüência a pessoas idosas cujos olhos se "enfraqueceram" (cf.
Gênesis 27:1; 48:10; 1 Samuel 4:15). Mas, na maioria das vezes, ela se refere à
cegueira crônica.
Cristo curando um cego.
Neste detalhe da frente de um sarcófago romano (cerca de 330 A. D.) Cristo toca
os olhos de um cego com uma pasta de saliva antes de enviá-lo ao tanque de
Siloé (João 9). Os hebreus criam que Deus amaldiçoaria aos que fizessem o cego
errar o caminho (Deuteronômio 27:18).
Os israelitas sentiam compaixão pelos cegos. Na verdade, Deus
impôs maldição ao que fizesse o cego errar o caminho (Deuteronômio 27:18).
Jesus assistiu muitos cegos. Ele disse: "O Espírito do Senhor... me ungiu
para evangelizar aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e
restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos" (Lucas
4:18), Jesus curou um cego de nascença (João 9:1-41); um cego cuja cura foi
gradual (Marcos 8:24); dois cegos assentados à beira da estrada (Mateus
20:30-34); e muitos outros (Marcos 10:46-52; Lucas 7:21).
Muitas vezes se interpretava a cegueira como castigo por
fazer o mal. Encontramos exemplos disto em Sodoma (Gênesis 19:11); o exército
sírio (2 Reis 6:18); e no caso de Elimas, em Pafos (Atos 13:6-11).
De quando em quando o Novo Testamento se refere a pessoas que
perderam a capacidade da fala (cf. Mateus 9:32; 15:30; Lucas 11:14). Frequentemente
tal fato era resultado da perda da audição.
E. Coxeadura. A Bíblia descreve muitas pessoas que eram
coxas, sendo o caso mais memorável registrado em Atos 3:2-11, onde lemos a
respeito de um homem (coxo de nascença) que diariamente era carregado à Porta
Formosa de Jerusalém para mendigar. Um dia o mendigo viu Pedro e João que
entravam no templo e pediu-lhes dinheiro. Em vez de dar-lhe dinheiro, os
apóstolos invocaram o nome de Jesus para curar o homem. Pedro ergueu o mendigo,
que começou a andar. Jesus curou muitas pessoas que eram coxas (cf. Mateus
15:30-31).
F. Defeitos. Este termo geral refere-se a qualquer defeito do
corpo como cegueira, coxeadura, osso quebrado, dedos ou artelhos extras
(polidactilia), corcunda e assim por diante. A pessoa portadora de defeitos não
podia oferecer sacrifícios a Deus (Levítico 21:16-24), nem lhe era permitido ir
além do véu do templo ou aproximar-se do altar, pois isto profanaria o
santuário. Animais imperfeitos não poderiam ser usados para sacrifícios (Êxodo
12:5).
G. Desarranjos femininos. De acordo com a Lei de Moisés, a
mulher que sofria de desarranjos menstruais devia ser considerada i impura
(Levítico 15:25). Uma dessas mulheres, que sofria havia doze-anos (Lucas
8:43-48) tocou na orla da veste de Jesus e, por causa de j sua grande fé, foi
imediatamente curada.
H. Disenteria. Esta é uma enfermidade que em fase adiantada
putrefaz os intestinos (2 Crônicas 21:15-19). A fibrina separa-se do
revestimento interior dos intestinos e é expelida.
O Novo Testamento refere-se
a uma forma grave de disenteria como "fluxo sangüíneo". O pai de um
cristão chamado Públio jazia enfermo com fluxo sangüíneo (Atos 28:8). Paulo
chegou, orou por ele e o homem foi curado.
I. Distúrbios endócrinos. A Lei de Moisés não permitia a um
anão entrar na congregação do povo de Deus (Levítico 21.20). A ciência moderna
tem demonstrado que o nanismo é causado por distúrbio das glândulas endócrinas.
A Bíblia menciona também alguns gigantes, como Golias
(1Samuel 17:4). O verdadeiro gigantismo é causado por secreções excessivas da
glândula pituitária. Contudo, muitas pessoas altas herdam esse traço de seus
antepassados.
J. Distúrbios da pele. A Bíblia refere-se a muitos tipos de
distúrbios da pele, tais como "tinha" ou sarna (Levítico 13:30;
21:20). Levítico 13:39 provavelmente se refira à vitiligem, que amiúde era
confundida com lepra.
L. Distúrbios mentais e nervosos. O rei Saul parece ter tido
sintomas de maníaco depressivo (cf. 1 Samuel 16:14-23), e a Bíblia menciona
outros que podem ter sofrido de distúrbios mentais ou nervosos. O rei
Nabucodonosor é um exemplo (Daniel 4:33).
M. Doenças venéreas. Há alguma evidência de que as doenças
venéreas eram comuns nos tempos bíblicos. Por exemplo, Zacarias 11:17 adverte
ao pastor que abandona o rebanho, dizendo que seu braço completamente se lhe
secará, e o olho direito de todo se escurecerá. Lia tinha um problema de vista
que provavelmente poderia ter sido resultado de sífilis hereditária (Gênesis
29:17).
N. Edema ("Hidropisia"). Esta palavra descreve um
acúmulo anormal de fluido seroso no tecido conectivo do corpo ou numa cavidade
serosa e é um sintoma. O acúmulo causa inchação. Jesus encontrou-se, pelo
menos, com uma vítima de edema na casa de certo fariseu. Indagado por Jesus se
era lícito curar no sábado, ele não lhe respondeu. Portanto, Jesus curou o
sofredor (Lucas 14:1-4).
O. Epilepsia. Este é um desarranjo marcado por descargas
elétricas erráticas do sistema nervoso central e manifestado por ataques
convulsivos. Certo homem trouxe seu filho epiléptico a Jesus em busca de
socorro (Marcos 9:17-29). A Versão de Almeida diz que o rapaz tinha um espírito
"mudo e surdo". Jesus curou-o.
P. Febres. Moisés advertiu aos israelitas rebeldes de que
"porei sobre vós o terror, a tísica e a febre ardente que fazem
desaparecer o lustre dos olhos" (Levítico 26:16). Deuteronômio 28:22
também se refere à febre.
Quando Jesus viu a sogra de Simão Pedro doente com este
sintoma, ele repreendeu a febre e ela levantou-se da cama e serviu os
discípulos (Lucas 4:38). Noutra ocasião, Jesus curou o filho febril de um
oficial do governo (João 4:46-54).
Muitas enfermidades na Palestina antiga teriam sido
caracterizadas por febres altas, sendo as mais comuns a malária e a tifóide.
Irrompeu uma praga quando os filisteus colocaram a arca de Deus no templo dum
ídolo (1 Samuel 5:2, 9, 12). O surto foi associado com ratos.
Q. Furúnculos. Este termo refere-se a quaisquer úlceras
inflamadas na pele, tais como as causadas por uma infecção estafilocócica. Eles
podem ter sido confundidos com "tumores" OU antraz. Os furúnculos
("shechin" em hebraico) são mencionados pela primeira vez em Êxodo
9:9, quando Faraó recusou permitir que OS israelitas deixassem o Egito, e
irromperam furúnculos no povo. Satanás teve permissão para afligir a Jó com
furúnculos (Jó 2:7). O rei Ezequias também foi afligido com furúnculos (2 Reis
20:7), os quais Isaías curou aplicando uma pasta de figos. A pasta de figos
frescos tinha efeito de puxar. Antes do advento dos antibióticos, era comum
este tipo de tratamento para furúnculos.
R. Gangrena. Esta enfermidade é mencionada somente uma vez na
Bíblia e a versão de Almeida a traduz por "câncer": "Além disso
a linguagem deles corrói como câncer" (2 Timóteo 2:17). Nesta passagem a
palavra grega usada é gaggraina como gangrena. Refere-se à deterioração circulatória
que comumente chamamos gangrena, que se espalha rapidamente e consome o tecido.
S. Gota. O excesso de ácido úrico no sangue causa este mal
dos rins que se manifesta por inflamação dolorida das juntas. O segundo livro
das Crônicas 16:12-13 diz que o Rei Asa sofria de uma doença dos pés, que
evidentemente era a gota.
T. Insolação. Isaías pode ter-se referido à insolação ou
prostração pelo calor quando disse: "A calma nem o sol os afligirá"
(Isaías 49:10). Em 2 Reis encontramos um jovem que trabalhava entre os
segadores, quando disse ao seu pai: "Ai! a minha cabeça!" Foi levado
para casa, onde morreu (2 Reis 4:18-20). É possível que a insolação fosse uma
moléstia comum nos verões quentes do Oriente Próximo.
U. Lepra. Uma das mais horríveis doenças do mundo, a lepra é
causada por um bacilo e se caracteriza pela formação de nódulos que se
espalham, causando perda de sensação e deformidade. Hoje tratada com drogas à
base de sulfona, a lepra é, talvez, a menos infecciosa de todas as moléstias
contagiosas conhecidas. O mal de Hansen, como é mais propriamente conhecido,
era freqüentemente mal diagnosticado nos tempos bíblicos. As pessoas
acreditavam então que era altamente contagiosa e hereditária. Levítico 13:1-17
condena a lepra como "praga".
Na base de um pêlo numa chaga, uma pústula ou uma mancha na
pele que se tornou branca, o sacerdote declararia a pessoa leprosa e a isolaria
durante sete dias. Se nesse tempo não ocorresse mudança na mancha, o isolamento
se estenderia por mais uma semana. Nesse tempo, se a mancha tivesse começado a
desaparecer, o "leproso" seria declarado são e voltava à sua vida
normal. Contudo se a mancha permanecesse ou se espalhasse, ele era declarado
impuro e seria expulso.
A lepra era muito comum no Oriente Próximo. Se um hebreu
fosse curado da lepra, ele devia oferecer determinados sacrifícios e participar
dos ritos de purificação (Levítico 14:1-32). Jesus curou leprosos em muitas
ocasiões (cf. Lucas 5:12-13; 17:12-17).
O
LEPROSO
Através da história, a lepra
tem sido uma das mais temidas moléstias. Até ao presente século, os homens têm
dependido de várias formas de ostracismo social num esforço por controlar a
doença. Os havaianos baniram os leprosos da ilha de Molokai.
Os nobres medievais
construíram vastos leprosários. E os judeus antigos punham o leproso "fora
do arraial" (Levítico 13:46).
Pouco sabemos da vida real
dos leprosos nos tempos bíblicos depois de haverem sido segregados da
comunidade. Levítico 13-15 contêm os dados mais pertinentes sobre o tratamento
― ou de sua falta ― da lepra no Antigo Testamento. Esses capítulos dão pormenores
dos sintomas da moléstia, dos procedimentos pelos quais o sacerdote determinava
a cura de um caso, e das ofertas a serem feitas antes que o leproso pudesse
reentrar na comunidade.
A condição de vida do
leproso foi descrita muito simplesmente em Levítico: "As vestes do
leproso, em quem está a praga, serão rasgadas, e os seus cabelos serão
desgrenhados; cobrirá o bigode e clamará: Imundo, imundo! Será imundo durante
os dias em que a praga estiver nele; é imundo, habitará só: a sua habitação
será fora do arraial" (Levítico 13:45-46).
Era horrível ser condenado à
vida de leproso. Nos tempos medievais, muitas vezes o sacerdote lia o ritual de
sepultamento do leproso antes de ele ser expulso da cidade. Os milagres de cura
da lepra realizados por Cristo são testemunho de sua compaixão bem como de seu
poder (cf. Mateus 8:1-4; Marcos 1:40-45; Lucas 5:12-14).
Lucas é o único evangelista
que fala da cura de dez leprosos operada por Jesus durante sua ultima viagem a
Jerusalém. Os dez se acharam curados quando iam apresentar-se ao sacerdote, mas
somente um voltou para agradecer a Cristo. Este relato é a única evidência do
Novo Testamento de que os leprosos viviam em grupos, sugerindo que a lei de
Levítico tinha sido relaxada. 2 Reis 7:3-10 menciona quatro leprosos agrupando-se
fora das portas de uma cidade. Mas evidentemente os leprosos viviam separados
da população saudável das cidades. Nos tempos do Antigo Testamento, a lepra era
considerada fonte de contaminação física antes que de corrupção moral (um mito
popular no tempo de Jesus).
A lepra era sempre um
desastre, mas levou séculos para a sociedade aprender a enfrentar com êxito a
moléstia.
V. Malária. Esta moléstia infecciosa é causada por
protozoário do gênero plasmodium. Esses animais unicelulares podem viver no sangue
de seres humanos e de animais ou na fêmea do mosquito anófeles. Uma vez que a
malária se instala no sistema, ela tende à recidiva. Paulo pode estar falando
da malária quando se refere ao "espinho na carne" (2 Coríntios 12:7).
X. Paralisia. Os Evangelhos registram um incidente bem
conhecido em que Jesus curou um paralítico em Cafarnaum (Marcos 2:1-12). O
livro de Atos descreve como os apóstolos curaram pessoas com "paralisia"
(Atos 8:7; 9:33-34).
Z. Poliomielite. Este é o nome comum da paralisia infantil,
que geralmente afetava as crianças. Em 1 Reis 17:17 encontramos uma mulher que
trouxe o filho ao profeta Elias. O menino estava tão doente que já não havia
fôlego nele; este sintoma sugere que ele podia ter tido poliomielite, embora
também possa ter sido uma forma de meningite. Elias fez o menino reviver
mediante a intervenção do Senhor em resposta à sua oração. Contudo, a Bíblia
não nos diz se o menino ficou completamente curado. Os homens descritos em
Mateus 12:9-13 e João 5:3 podem ter tido poliomielite.
AA. Praga. Nossas traduções podem empregar esta palavra para
designar qualquer doença epidêmica. Também é empregada em sentido geral em
Êxodo 7-10, onde ela se refere aos castigos que Deus infligiu aos egípcios.
Os israelitas foram atingidos por epidemias três vezes
durante sua peregrinação no deserto. A primeira vez foi quando estavam comendo
as codornizes que Deus enviou para satisfazer-lhes o desejo de comer carne
(Números 11:33). A segunda vez, uma "praga" ceifou a vida dos que
desestimularam os israelitas de entrar na Terra Prometida (Números 14:37). A
terceira epidemia veio como castigo de Deus sobre os israelitas. Arão deteve a
"praga" oferecendo incenso a Deus (Números 16:46-47). Em outra
ocasião, Finéias salvou os israelitas de uma epidemia matando um homem que
trouxe uma midianita para o seu meio. Não obstante, 24.000 pessoas morreram
(Números 25:8-9).
O Antigo Testamento descreve muitos casos em que Deus enviou
"pragas" para castigar seu povo. Um exemplo disso encontra-se em 2
Samuel, onde Davi diz: "... a fim de edificar nela um altar ao Senhor,
para que cesse a praga de sobre o povo" (2 Samuel 24:21).
Não temos prova de que a Bíblia se refira à peste bubônica,
que viria a ceifar milhões de vidas na Europa medieval.
BB. Síncope. A parada cardíaca ou a repentina queda de
pressão sangüínea geralmente se denomina síncope. Quando Jacó ficou sabendo que
seu filho José ainda vivia, seu coração "ficou como sem palpitar"
(Gênesis 45:26) ― provavelmente uma referência à síncope. Quando Eli ouviu dizer
que a arca da aliança tinha sido capturada, caiu da cadeira para trás, quebrou
o pescoço, e morreu (1 Samuel 4:18). Este pode ter sido outro caso de falha
cardíaca ou síncope.
CC. Tísica ou tuberculose. Moisés advertiu aos israelitas
rebeldes: "O Senhor te ferirá com a tísica, a febre, e a inflamação, com o
calor ardente ..."
DD. Tumores. Este termo provavelmente se refere à antraz,
doença que pode ser transmitida ao homem por gado, ovelhas, cabras e cavalos.
Trepanação. Cirurgiões da
Judéia durante o sexto século a.C. praticavam a trepanação, que é a remoção
cirúrgica do osso do crânio para aliviar a pressão cerebral. Os cirurgiões
rapavam a cabeça do paciente, faziam uma incisão na pele, e a recuavam para
expor o osso. Depois usavam uma pequena serra para remover uma seção do crânio,
que era recolocada quando havia sido drenado o excesso de fluido. Os
arqueólogos têm encontrado crânios com buracos parcialmente abertos ou com
furos de dreno abertos, o que sugere que a operação freqüentemente não tivera
êxito.
A doença é causada por uma bactéria em forma de bastonete,
que forma esporos. Esses esporos, por sua vez, podem infeccionar os seres
humanos, que desenvolvem uma lesão em forma de bolha com pústula (vesícula). Na
fase infecciosa, o tumor é denominado pústula maligna. Os tumores são
mencionados somente uma vez na Bíblia (Êxodo 9:9-10). Deus infligiu-os aos
egípcios quando Faraó recusou deixar que os hebreus fossem para a Terra
Prometida.
EE. Varíola. Alguns biblicistas crêem que a palavra hebraica
maqaq (literalmente "definhar-se") refere-se à varíola. Almeida
geralmente traduz esta palavra como "consumir-se", o que sugere
desespero emocional: "Aqueles que dentre vós ficarem serão
consumidos" (Levítico 26:39). "Não lamentareis, nem chorareis, mas definhar-vos-eis
nas vossas iniqüidades" (Ezequiel 24:23).
FF. Vermes. Isaías avisou que os rebeldes de Israel seriam
afligidos com vermes (Isaías 51:8). Também ele predisse este destino para a
Babilônia (Isaías 14:11). Esta doença parasítica podia ser fatal porque não
havia remédio para ela.
A Bíblia diz que "um anjo do Senhor" feriu a
Herodes, o Grande. Comido de vermes, ele morreu (Atos 12:23).
O
USO DE REMÉDIOS
Quando o organismo de uma pessoa começava a deteriorar-se e a
sofrer dores, a vítima naturalmente procurava remédio. Desse modo as pessoas
dos tempos antigos desenvolveram um extenso conhecimento de remédios
naturais.
Provavelmente os primeiros remédios chegaram aos israelitas
por meio dos egípcios, especialmente dos sacerdotes. Os egípcios também
embalsamavam seus mortos com especiarias e perfumes costume que os israelitas
logo vieram a adotar.
Nos tempos bíblicos, os remédios eram feitos de substâncias
minerais e animais, de ervas, vinhos, frutas e outras partes das plantas. A
Bíblia refere-se com freqüência ao emprego medicinal dessas substâncias.
Por exemplo, o "bálsamo de Gileade" é mencionado
como substância curativa (Jeremias 8:22). Pensa-se que o "bálsamo"
era uma excreção aromática de uma árvore sempre verde ou uma forma de incenso.
Sabia-se que o vinho misturado com mirra aliviava a dor entorpecendo os
sentidos. Este remédio foi oferecido a Jesus enquanto ele pendia da cruz, porém
ele se recusou a tomá-lo (Marcos 15:23) À Os israelitas ungiam os enfermos com
loções suavizantes de óleo de oliva e
ervas. Na história do Bom Samaritano, óleo e vinho foram derramados nas feridas
da vítima de assalto (Lucas 10:34).
Os primitivos cristãos continuaram esta prática, ungindo os enfermos enquanto oravam por eles (Tiago 5:14).
Mateus 23:23 menciona certas especiarias como
antiácidos. As | mandrágoras eram usadas
para excitar o apetite sexual (Gênesis: 30:14). Outras plantas eram usadas como
remédios ou estimulantes.
OS
MÉDICOS E SEU TRABALHO
Os médicos profissionais exerciam suas habilidades nos tempos
bíblicos, mas o seu trabalho era grandemente considerado como magia. O Antigo
Testamento não menciona o nome de nenhum médico, embora se refira ao trabalho deles (cf. Gênesis 50:2; 2 J Crônicas 16:12; Jeremias
8:22). O livro deuterocanônico de Eclesiástico (segundo século a.C.) celebra a
sabedoria e perícia dos médicos (38:1-15). No Novo Testamento, Lucas é
mencionado pelo nome como o "médico amado" (Colossenses 4:14).
A circuncisão é o único tipo de cirurgia mencionado na
Bíblia. Tratava-se da remoção cerimonial do prepúcio do menino hebreu oito dias
após o seu nascimento. A prática começou por ordem de Deus a Abraão (Gênesis
17:10-14), e Deus irou-se contra Moisés por ter deixado de observá-la (Êxodo
4:24-26). O próprio Jesus foi circuncidado ao oitavo dia (Lucas 2:21).
TRATAMENTOS
RITUAIS E CURAS MILAGROSAS
A Bíblia refere-se a alguns casos em que o enfermo executava
uma lavagem ritual a fim de receber a cura. Quando Naamã ficou leproso por
exemplo, o profeta Eliseu instruiu-o a mergulhar sete vezes no rio Jordão.
Naamã o fez e foi curado (2 Reis 5:10). Jesus aplicou lodo aos olhos de um cego
e lhe disse que fosse lavar-se no tanque Siloé. O cego obedeceu e recebeu a
vista (João 9:7).
Em muitas outras ocasiões Deus operou milagres pelo
ministério de seus servos. Elias e Eliseu viram numerosas curas deste tipo (cf.
1 Rs 17:17-22; 2 Reis 4:32-37). Quando Jesus curava pessoas de toda sorte de
enfermidades, confirmava-se que ele era o Messias (Lucas 7:20-22),
Os sacerdotes do templo exerciam diversas funções médicas. O
livro de Levítico descreve sete formas de purificação ritual que tinham
significado médico. Elas tratavam de: pós-parto (Levítico 12), lepra (Levítico
13), doença venérea (Levítico 15:12-15), função sexual masculina (Levítico
15:16-18), intercurso sexual (Levítico 15:18), menstruação (Levítico 15:19-30),
e cadáveres (Levítico 21:1-3).
Instrumentos cirúrgicos.
Facas, escalpelos, pinças, grampos estão entre estes instrumentos cirúrgicos
encontrados em Pompéia. Eles indicam que as artes cirúrgicas eram bastante
sofisticadas no primeiro século A. D.
7.
ALIMENTO E HÁBITOS ALIMENTARES
Desde Gênesis 1:29 (quando Deus disse: "Eis que vos
tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a
terra, ...isso vos será para mantimento") até Apocalipse 22:22 (quando
João fala da "árvore da vida, que produz doze frutos"), a Bíblia está
repleta de referências a alimento.
Os produtos vegetais constituíam uma grande parcela da dieta
no clima quente da Palestina. Quando se comia carne, com freqüência era com o
propósito de servir a estranhos ou hóspedes ilustres.
Os cereais eram parte importante da dieta. O pão era comido
só ou com algo para aumentar-lhe o sabor, como sal, vinagre, caldo ou mel.
Frutas e peixe eram pratos favoritos da dieta. Lembre-se dos discípulos que
foram chamados por Jesus quando exerciam o ofício da pesca.
A serpente tentou Eva a comer uma fruta, e o pecado entrou no
mundo. Esaú vendeu seu direito de primogenitura por um prato de sopa. Jesus foi
tentado a transformar pedras em pão, e ele usou alimento ― pão e vinho ― como
símbolo de nossa participação em seu sofrimento. O alimento ― necessidade
terrena, humana ― é um fio fascinante entretecido na história da revelação de
Deus à raça humana.
COSTUMES
ALIMENTARES
A Bíblia está repleta de referências a banquetes e festas;
muito pouco se diz a respeito das refeições cotidianas da família. Contudo,
toda evidência aponta para o costume de duas refeições regulares por dia ―
desjejum, uma leve refeição matinal, e ceia, uma refeição mais reforçada à
tarde, quando o ar era mais fresco.
A princípio os judeus sentavam-se em tapetes para comer. Mais
tarde, porém, adotaram o hábito de usar mesa com divãs sobre os quais se
reclinavam (João 21:20). Fazia-se uma breve oração ou pronunciava-se uma bênção
antes de comer, como quando Jesus abençoou o pão ao alimentar a multidão
(Mateus 14:19). O lavar as mãos era considerado essencial e observado como
dever religioso, especialmente pelos fariseus (Marcos 7:3).
Partir o pão juntos, mesmo hoje, parece dizer: Somos amigos;
partilhamos de um laço comum. Tais sentimentos são evidentes por toda a Bíblia.
É como se o comer fosse mais do que mera ingestão de alimento; é participar em
tudo quanto significa pertencer à raça humana e partilhar essa mutualidade com
os que nos cercam,
A. Desjejum. A refeição matinal (em alguns escritos referida
como jantar) geralmente era tomada entre as nove horas e meio-dia, era uma
refeição leve e consistia em pão, frutas e queijo.
B. Ceia. A principal refeição do dia era tomada ao
entardecer. As temperaturas quentes durante o dia na Palestina eram algo
abrandadas ao entardecer e prevalecia uma atmosfera mais descontraída. Na
refeição vespertina consumia-se carne, vegetais, manteiga e vinho.
C. Festas. O povo judeu gostava de celebrações e, segundo as
Escrituras, uma festa parecia ser um bom modo de comemorar um acontecimento
alegre. A música era parte importante de suas festas (Isaías 5:12) e a dança
fazia, às vezes, parte da recepção (como quando a filha de Herodias dançou para
Herodes e seus convivas, Marcos 6:32).
A festa era planejada e presidida pelo "mordomo" ou
"mestre-sala" da festa (João 2:8), que comandava os criados e provava
o alimento e o vinho.
Os festivais religiosos, dos quais a celebração festiva era
parte muito importante, podem ser agrupados assim: (1) O sábado, a festa das
luas novas, o ano sabático, e o ano do jubileu; (2) a páscoa, o pentecoste, e a
festa dos tabernáculos; (3) as festas de Purim e da dedicação. Todo o trabalho
cessava nos dias de festa principal; a celebração de sete dias da páscoa
proibia o trabalho no primeiro e no sétimo dias (Levítico 23).
Realizavam-se festas por ocasião de casamento (João 2:1-11),
aniversário (Gênesis 40:20), sepultamentos (Jeremias 16:7-8), tosquia das
ovelhas (1 Samuel 25:2, 36), e em muitas outras épocas. Talvez a mais
freqüentemente lembrada seja a festa preparada pelo pai do filho pródigo (Lucas
15:11-32).
É interessante notar que as mulheres nunca estavam presentes,
como hóspedes, nas refeições judaicas.
D. Hospitalidade. Abraão "estava assentado à entrada da
tenda, no maior calor do dia... e eis três homens de pé em frente dele"
(Gênesis 18:1-2). Abraão deu-lhes água para beber e para lavar o pó de seus
pés. Assentaram-se à sombra da árvore e ele e Sara prepararam-lhes alimento
para comerem. Seus hóspedes eram anjos! Hebreus 13:2 diz: "Não
negligencieis a hospitalidade, pois alguns praticando-a, sem o saber acolheram
anjos." A hospitalidade, a bondade para com os estranhos, e
"principalmente aos da família da fé" (Gálatas 6:10), tinha raízes no
Antigo Testamento e veio a ser parte integrante dos ensinos do Novo.
E. Mesa. Na antiga Palestina, a mesa era uma pele ou pedaço
de couro circular, colocada sobre o tapete do chão. Nas beiradas desta mesa em
forma de bandeja havia laçadas através das quais passava-se um cordão.
Terminada a refeição, o cordão era esticado e a "mesa" ficava
pendurada, deixando o caminho livre.
Em tempos posteriores introduziu-se a mesa com divas para
reclinar. Os convidados encostavam-se na mesa com o cotovelo esquerdo e comiam
com a mão direita.
F. Utensílios. É provável que diversos vasos sejam
representados por esta palavra. Os vasos sagrados referidos em Êxodo 25:29
incluem pratos, bilhas e bacias. Um prato comum usado numa casa vem-nos à mente
quando lemos 2 Reis 21:13: "Eliminarei Jerusalém, como quem elimina a
sujeira de um prato, elimina-a e o emborca."
G. O bocado. Os hebreus não usavam talheres. O bocado era um
pedaço de pão usado para mergulhar na sopa ou caldo que ficava no centro da
mesa. O dono da festa podia mergulhar um bocado e dá-lo a um convidado. Jesus
deu um bocado a Judas (João 13:26), indicando que era ele quem o ia trair.
JEJUNS
O festejar era parte importante da vida judaica, mas o jejum
(passar sem alimento por um período de tempo) era igualmente essencial. Os
jejuns foram prescritos para o dia de Expiação pelo código de Moisés
("afligireis as vossas almas", Levítico 16:29), para comemorar a
quebra das tábuas da Lei, e para outros eventos tais na história dos judeus.
O jejum era praticado para mostrar humildade, pesar e
dependência de Deus. Vestes de pano de saco, cinzas borrifadas sobre a cabeça,
mãos sem lavar, e cabeça não ungida eram sinais de que a pessoa estava
jejuando.
Embora o jejum se tornasse ato de hipocrisia para alguns
(Mateus 6:16-18), temos o relato que Jesus jejuou durante 40 dias e 40 noites,
quando se encontrava no deserto (Mateus 4:2). Parece que se trata dei uma
questão deixada inteiramente a critério do indivíduo.
VINHO
A lei de Moisés admitia o uso do vinho; contudo, proibia-se a
embriaguez. O vinho era usado como oferta de libação do sacrifício diário
(Êxodo 29:40). Os nazireus estavam proibidos de beber (Números 6:3), como
estavam também os sacerdotes quando executavam os serviços do templo (Levítico
10:9). Paulo sugere a Timóteo que os diáconos não devem ser "inclinados a
muito vinho" (1 Timóteo 3:8). Parece não haver dúvida de que o beber em excesso
era problema naquele tempo como continua a ser hoje.
Lagar. Valas como esta em
Jerusalém continham uvas das quais se fazia vinho. Segurando em cordas sobre as
cabeças, os homens pisavam as uvas para extrair o suco, que escorria de um furo
no fundo da vala para um tonei (cf. Neemias 13:15).
Incluída numa lista de leis e ordenanças está a admoestação
de não tardar em "trazer ofertas... das tuas vinhas" (Êxodo 22:29). A
palavra hebraica traduzida como "vinhas" parece referir-se ao suco de
olivas e de uvas. A "beberagem de uvas" mencionada em Números 6:3 era
uma bebida feita pela saturação das uvas.
A borra do vinho era usada para melhorar o sabor, a cor e a
força do vinho novo. "Vinhos velhos bem clarificados" (Isaías 25:6)
referia-se a um vinho rico de considerável qualidade ― um símbolo das bênçãos
da festa do Senhor.
Ofereceram a Jesus uma esponja embebida em vinagre quando ele
pendia na cruz. Este era provavelmente o vinho azedo que os soldados romanos
bebiam (Mateus 27:48). Embora não fosse uma bebida agradável, o vinagre era
usado para molhar o pão (Rute 2:14). Quando despejado sobre o salitre, o
vinagre produz um efeito efervescente. Assim: "O que entoa canções junto
ao coração aflito é... como vinagre sobre salitre" (Provérbios 25:20,
Almeida, ERC).
CEREAIS
Um generoso suprimento de cereais parece indicar um povo bem
nutrido. Pense na importância atribuída à tarefa de José de armazenar o cereal
extra durante os sete anos de abundância no Egito (Gênesis 41:47-57).
"Todas as terras vinham ao Egito, para comprar de José" (v. 57). Do
grão se faz pão, e o pão pode sustentar nações.
A. Cevada. A cevada era cultivada na Palestina e no Egito, e
destinava-se a alimentar o gado e os cavalos. Embora os egípcios usassem a
cevada para alimentar animais, os hebreus a usavam para fazer pão, pelo menos
para os pobres.
B. Milho. "Espigas" em referências tais como
Deuteronômio 23:25 e Mateus 12:1, significam várias espécies de grão,
incluindo-se cevada, milho e
trigo. O milho, como o conhecemos, não era cultivado no hemisfério Oriental.
Boaz deu a Rute "grãos tostados" (Rute 2:14); "Trigo
tostado" (Almeida, ERC).
C. Centeio. Embora o centeio seja mencionado em Êxodo 9:32,
realmente ele nunca foi cultivado na Palestina. As autoridades no assunto crêem
que a referência significa outro cereal como painço ou espelta.
Moinho de farinha. Os
moinhos manuais para transformar o grão em farinha consistiam em duas pedras
circulares, tendo a inferior uma superfície ligeiramente convexa para guiar os
grãos quebrados para a margem externa, de onde caiam. As mós tinham sulcos
curvados que multiplicavam seu efeito de corte e moagem enquanto a mó superior
girava sobre a inferior. Os moinhos maiores eram operados por burros ou por
escravos. Estes moinhos romanos, procedentes de Pompéia, são do tipo maior.
Note-se atrás deles o forno de assar pão.
D. Trigo. "Se o grão de trigo... morrer, produz muito
fruto" (João 12:24). Aqui Jesus fala de um dos mais largamente usados de
todos os cereais entre os hebreus. Mencionado em toda a Bíblia como um elemento
básico da dieta hebraica, o trigo é uma das plantas que Moisés disse que
poderia ser cultivada em Canaã, a Terra Prometida (Deuteronômio 8:8).
E. Moinho. O mais simples tipo de moinho usado para moer o
grão era chamado gral ― uma pedra com uma cavidade côncava que retinha o grão a
ser moído por outra pedra. Um moinho mais eficiente constituía-se de duas
pedras, de 60 cm de diâmetro por 15 cm de espessura. A mó inferior era elevada
no centro. A mó superior era côncava e tinha um furo no meio. O grão era
despejado no furo, e a mó superior era rodada por meio de uma manivela. O grão
era esmagado ao cair entre as duas mós. Para se obter uma farinha bem fina, o
grão tinha de ser moído mais de uma vez.
A mó era tão importante para os hebreus que a Lei estatuía:
"Não se tomarão em penhor as mós ambas...", pois se penhoraria assim
a vida (Deuteronômio 24:6).
F. Peneira. O produto
do moinho era peneirado; o que não
passasse na peneira era moído de novo. As peneiras antigas eram feitas de junco
e papiro. Isaías fala das nações sendo peneiradas com a peneira da destruição
(Isaías 30:28).
PÃO
"O pão nosso de cada dia dá-nos hoje" (Mateus
6:11). Jesus orou pelo pão, significando o alimento em geral. Mas o pão em si
era um ingrediente da dieta hebréia. O grão ― geralmente o trigo, mas também a
cevada ― era moído, peneirado, transformado em massa, amassado, feito em forma
de bolos, depois assado.
Expressões como "pão que penosamente granjeastes"
(Salmo 127:2) e "pão da impiedade" (Provérbios 4:17) podem indicar
que essas experiências se tornam parte habitual da vida assim como o pão de
cada dia é parte da vida.
A. Pão da proposição. Todos os sábados eram feitos 12 pães
não fermentados (representando as 12 tribos de Israel). Eram colocados em duas
pilhas ou fileiras sobre a mesa de ouro do santuário como oferta ao Senhor.
Quando o pão velho era retirado, ele podia ser comido apenas pelos sacerdotes
no átrio do santuário (Levítico 24:5-9).
B. Levedura. Jesus
emprega o termo levedura (fermento usado no pão para fazê-lo crescer) num
sentido figurativo, como ele faz com muitos termos bem conhecidos do dia-a-dia.
Em Mateus 13:33 ele assemelha o reino ao fermento, com seu poder de alterar o
todo.
Talvez estejamos mais familiarizados com o uso deste termo em
relação com o pão não levedado. O pão sem fermento era usado às vezes nas
ofertas pacíficas e também durante a semana da páscoa para lembrar aos
israelitas seu livramento da servidão egípcia.
C. Obréia ou bolos de mel. Este bolo fino, não levedado,
feito de flor de farinha e untado com azeite era usado nas ofertas (Êxodo
16:31; Números 6:15).
D. Bolos. Estes biscoitos duros ou bolos em pedaços são
mencionados em 1 Reis 14:3.
FABRICO
DO PÁO
O fabrico do pão geralmente competia às mulheres. Com
freqüência se usava o forno; mas às vezes se preparava uma massa fina num jarro
de pedra aquecido que depois era assada. Tipicamente, a massa feita de trigo ou
cevada era batida numa gamela; faziam-se, então, bolos circulares, furados com
algum objeto pontiagudo e assados em| um cântaro ou numa tigela. O pão fresco
era fabricado todos os dias. Oséias 7:4, 6 refere-se aos padeiros públicos.
A. O forno. Os fornos dos hebreus eram, provavelmente, de
três tipos: (1) O forno de areia, no qual se fazia o fogo sobre areia limpa e
quando a areia estava quente removia-se o fogo.
A massa era espalhada sobre a areia quente em camadas finas para assar.
(2) O forno de terra, o "fogareiro de barro" (Levítico 11:35), era um
buraco na terra no qual se aqueciam pedras. A massa era espalhada em camadas
finas sobre as pedras depois que o fogo havia sido retirado. (3) Fornos
portáteis, mencionados em "cozida no forno" (Levítico 2:4),
provavelmente eram feitos de barro. Dentro deles se fazia o fogo.
Quando estavam quentes, espalhavam-se camadas finas de massa
sobre as pedras alinhadas no fundo do forno depois de removidas as cinzas.
Assadeira de pão. Este prato
grande, procedente de Laquis (cerca do século quinze a.C) pode ter sido usado
para dar forma a bolos ou pão, ou para cozê-los (cf. Levítico 2:5).
B. Borralho. Abraão disse a Sara que fizesse "pão assado
ao borralho" (Gênesis 18:6). Ele se referia a pedras quentes usadas para
assar pão. O borralho podia também significar o combustível nele queimado
(Salmo 102:3) ou um forno portátil (Jeremias 36:22-23).
CARNE
E ALIMENTOS AFINS
O consumo de carne é mencionado no concerto que Deus fez com
Noé: "Tudo o que se move, e vive, ser-vos-á para alimento" (Gênesis
9:3). Embora a dieta normal dos hebreus consistisse em vegetais e frutas, eles
comiam carne, especialmente nos banquetes e festas. Surgiu na igreja primitiva
um problema quanto ao comer carne oferecida aos ídolos. Paulo, porém, deixou
claro que nada é impuro para os puros (Tito 1:15; cf. 1 Timóteo 4:4).
A. Novilho. Quando o filho pródigo voltou ao lar, o pai matou
um novilho cevado para festejar (Lucas 15:23). Na vida dos hebreus, o novilho
era considerado a melhor de todas as carnes e era reservada para as ocasiões
mais festivas.
B. Cabrito ou bode. O irmão mais velho do filho pródigo ficou
indignado e disse ao pai: "Nunca me deste um cabrito sequer para
alegrar-me com os meus amigos" (Lucas 15:29). O cabrito era a carne mais
comum, mais barata, e comida pelos pobres. Era usada nas ofertas sacrificiais
(Números 7:11-87).
C. Aves. Algumas aves eram consideradas impuras para alimento
(Deuteronômio 14:20). Mas a perdiz, a codorniz, o ganso e o pombo podiam ser
comidos.
D. Peixes. Um alimento
predileto na Palestina
era o peixe, apanhado em grandes quantidades no mar da Galiléia e no rio
Jordão.
Depois de sua ressurreição, Jesus preparou uma refeição
matinal de peixe e pão num braseiro junto à praia para alguns dos discípulos
(João 21:9-13). De outra feita, quando apareceu aos discípulos após a
ressurreição, ele pediu-lhes algo que comer. Lucas diz: "Então lhe
apresentaram um pedaço de peixe assado... E ele comeu na presença deles"
(Lucas 24:42-43).
A Lei declarava que todo peixe com barbatanas e escamas era
limpo e portanto podia ser comido (Deuteronômio 14:9-10).
E. Ovelha (Cordeiro). Além de seus muitos usos que não o
alimento, a ovelha era importante por sua carne, leite e a gordura da cauda,
que às vezes chegava a pesar quase sete quilos. Na celebração da Páscoa
matava-se um cordeiro que era comido para rememorar o livramento da escravidão
do Egito.
F. Gordura. A gordura pura de um animal era sacrificada a
Deus, visto que era considerada a mais rica ou a melhor parte (Levítico 3:16).
Não podia ser comida em tempos primitivos, mas parece que se ignorava esta lei
quando os animais eram mortos para serem usados apenas como alimento
(Deuteronômio 12:15).
CAÇA
Leões, ursos, chacais, raposas, veado, corços e gazelas são
mencionados no Antigo Testamento. Alguns desses animais eram caçados para
alimento, sendo apanhados em covas, armadilhas ou redes. Isaque instruiu a Esaú
a tomar seu arco e aljava e apanhar alguma caça para que pudesse comer o
alimento apreciado (Gênesis 27:3-4). O sangue desses animais selvagens não era
comido.
Embora não fossem usadas como utensílios para comer, segundo
as conhecemos, as facas eram necessárias para matar animais e prepará-los para
refeição ou para o sacrifício (Levítico 8:20; Esdras 1:9).
COZINHAR
Cozinhar era serviço da mulher, especialmente nos anos
anteriores à conquista de Canaã. Para assar, acendia-se um fogo de lenha ou
usava-se um forno. Para cozer, a carne do animal era cortada em pedaços,
colocada numa panela (tacho) com água, e amaciada (Ezequiel 24:4-5). A carne e
o caldo eram servidos separadamente. Os vegetais também eram fervidos.
O tacho era um vasilhame grande de metal usado para ferver a
carne (1 Samuel 2:14). Usava-se um garfo de três dentes para retirar a carne do
tacho.
LACTICÍNIOS
"Terra que mana leite e mel" foi prometida aos
israelitas (Josué 5:6), e nessa promessa eles divisaram abundância e
prosperidade. Os hebreus bebiam o leite de camelas, ovelhas e cabras. O leite
de camela era especialmente rico e forte, mas não era doce. Por todo o Antigo
Testamento encontram-se referências ao leite (cf. Provérbios 27:27;
Deuteronômio 32:14).
A. Manteiga. O termo
hebreu chemcth traduzido como creme, coalhada, queijo e manteiga Gênesis 18:8,
Abraão serviu coalhada (chemah) visitaram sua tenda. Provérbios 30:33 diz que
"o bater do leite produz manteiga". Seja qual for o significado exato
da palavra hebraica, há certo acordo de que os hebreus usavam um tipo manteiga.
Provavelmente fosse feita da mesma forma que os árabes a preparam hoje. Leite
aquecido, ao qual se adiciona uma pequena quantia de leite talhado (leben), é
despejado num saco de pele de cabra e agitado até que a manteiga se
separe. É escorrido e três dias depois é novamente aquecido. A manteiga
assim preparada conserva-se bem no clima quente da Palestina.
B. Queijo. Com o
queijo temos, mais
ou menos, o
mesmo problema que temos com a manteiga; é difícil saber com certeza o
que os escritores queriam dizer. Veja-se: "Porventura... não me coalhas-te
como queijo?" (Jó 20:10); "Porém estes dez queijos leva-os ao
comandante" (1 Samuel 17:18); "também mel, coalhada, ovelhas e queijos
de gado... para comerem" (2 Samuel 17:29). Em cada uma dessas citações, a
palavra queijo no original é diferente. É provável que o queijo, nesses três
casos, seja leite coalhado.
FRUTAS
Um alimento predileto dos hebreus eram as frutas que cresciam
em abundância no clima quente daquela parte do mundo. Os espias que Moisés
enviou a Canaã trouxeram um ramo de videira com um cacho de uvas, tão grande
que o transportaram numa vara. Também trouxeram romãs e figos (Números 13:23).
Esses e uma variedade de outros frutos eram apreciados como parte da dieta
regular.
A. Uvas. Veja acima a
seção sobre "Vinho".
B. Passas. "Cachos de passas" foram trazidos a
Davi, "porque havia regozijo em Israel" (1 Crônicas 12:40). As passas
eram uvas secadas nos cachos. Também são mencionadas em 1 Samuel 25:18 e 2
Samuel 16:1.
C. Bolo de passas. Embora garrafas em Isaías 22:24 certamente
signifique um tipo de vasilhame, no hebraico é a palavra usada em 2 Samuel 6:19
com o sentido de "um bolo de passas". Essa palavra provém de ashisha
("prensado"). Os bolos de passas parecem ser uvas secas ou passas que
são prensadas para formar um bolo. Eram usados como sacrifícios aos ídolos
(Oséias 3:1) e apreciados como guloseima.
D. Romã. Esta bela fruta de vermelho-rosado, com suas muitas
sementes, cuja abundância era símbolo de fertilidade, predileta entre os
israelitas, cultivada tanto por seu fruto saboroso como por sua beleza. O suco
da romã era muitíssimo apreciado (Cantares 8:2). Era uma das frutas que
cresciam na Terra Prometida (Números 13:23).
A orla da sobrepeliz do sumo sacerdote era ornamentada com
"romãs de estofo azul, púrpura e carmesim" (Êxodo 28:33). Duzentas
romãs ornamentais decoravam cada uma das colunas (Jaquim e Boaz) no templo de
Salomão (2 Crônicas 3:16).
E. Melão. Os israelitas estavam acampados no quente deserto
da Arábia tendo somente maná para comer. Queixaram-se aos ouvidos do Senhor:
"Lembramo-nos... dos melões" do Egito (Números 11:5). Esta é a única
referência bíblica a melões. É impossível determinar se se referiam ao melão
perfumado ou à melancia, ou a ambos, visto como é possível que ambos crescessem
no Egito naquele tempo. Seja qual for o caso, o melão era refrescante nos dias
quentes.
F. Maçã. A maçã ou macieira mencionada na Bíblia é,
provavelmente, a cidreira e o seu fruto, embora sejam sugeridos também o
damasco e o marmelo. A Bíblia diz que o fruto desta "macieira" é doce
(Cantares 2:3); seu fruto é da cor do ouro (Provérbios 25:11); e era aromático
(Cantares 7:8).
"Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a
palavra dita a seu tempo" (Provérbios 25:11). Literalmente, "Uma
palavra dita com propriedade é como cidras douradas em cestos de prata".
G. Figo. Desde as folhas de figueira que Adão e Eva usaram
para cobrir sua nudez (Gênesis 3:7) até à figueira que Jesus amaldiçoou (Marcos
11:4), os figos são mencionados por toda a Bíblia. Eram um fruto comum na
Palestina. As figueiras crescem isoladas ou em pequenos grupos e suas grandes
folhas proporcionam uma deliciosa sombra, (cf. João 1:48). Os figos são comidos
frescos colhidos da árvore, secos, ou prensados em bolos (1 Samuel 25:18).
H. Oliva. "À tarde ela [pomba] voltou a ele; trazia no
bico uma folha de oliveira" (Gênesis 8:11). Noé recebeu o símbolo de paz e
abundância e ficou sabendo que as águas tinham minguado. A azeitona, fruto comum na Palestina, parece-se com a ameixa e 1 primeiro é verde,
depois fica amarelada, e finalmente preta quando J completamente madura. A árvore assemelha-se
a uma macieira e produz fruto mesmo quando bem velha. Os cachos de flores
lembram o lilás.
As azeitonas são derribadas com varas ou sacudidas da árvore
e alguns frutos são deixados para os pobres (Deuteronômio 24:20). O fruto era
comido ― verde ou maduro ― mas a maior porção da colheita da azeitona era destinada
à extração de azeite.
O melhor azeite vem do fruto verde. Em Êxodo 27:20
menciona-se o "azeite puro de oliveira, batido". A primeira extração,
feita mediante agitação em panelas ou cestos, produz o mais fino azeite; a
segunda e a terceira extrações são
inferiores. O azeite era usado para a unção, empregado como alimento e na
cozinha, e para iluminação. Uma boa árvore produz 60 litros de azeite por ano.
O azeite era extraído em pesadas prensas de pedra chamadas
gath-shemen (Getsêmani vem desta palavra; Mateus 26:36). Miquéias 6:15 fala de
pisar a azeitona para extrair o azeite, como se pisa a uva. Outras referências
sugerem que se deitava uma grande mó sobre sua superfície lisa que era premida
sobre a superfície superior. Outra pedra era colocada reta sobre esta e
passava-se uma viga através de seu centro. Um cavalo, um boi, ou um homem
girava a pedra de cima extraindo-se o azeite pelo peso.
A "oliveira" mencionada em Isaías 41:19 é,
certamente, a que produz azeitona. Uma autoridade no assunto sugere que esta se
refere a uma planta oleaginosa, um arbusto que produz azeite de qualidade
inferior. Mas a opinião geral é que se trata da oliveira.
VEGETAIS
"Que se nos dêem legumes [vegetais] a comer e água a
beber" (Daniel 1:12). Daniel solicitou o alimento simples de seu povo em
vez da dieta rica do rei. "No fim dos dez dias, as suas aparências eram
melhores; estavam eles mais robustos do que todos os jovens que comiam das
finas iguarias do rei" (v. 15).
Os vegetais eram o cardápio diário dos israelitas.
Mencionam-se hortas em Deuteronômio 11:10 e 1 Reis 21:2.
A. Fava. Favas e outros alimentos foram trazidos a Davi
quando ele fugia de Absalão (2 Samuel 17:28). De novo, em Ezequiel 4:9 se
descreve um pão feito de trigo, cevada, favas e lentilhas. Fazia-se um caldo
adicionando-se favas batidas ao trigo ou ao trigo triturado. As favas eram
temperadas com azeite e alho, fervidas e saboreadas.
B. Lentilha. Esaú
vendeu seu direito de primogenitura por um prato de cozinhado de lentilhas
(Gênesis 25:29-34). As lentilhas são semelhantes às
ervilhas de horta
e as lentilhas
vermelhas são consideradas como
as melhores. Como no caso das favas, os pobres às vezes usa lentilhas para
fazer pão.
C. Pepino. Quase todos
concordam em que pepino é uma tradução das palavras hebraicas shakaph e miqshah
(Números 11:5; Isaías 1:8). Duas espécies de pepino eram cultivadas nos tempos
bíblicos ― o pepino longo, que se colhia em julho, e o maxixe, que entra no
mercado em setembro.
Os hebreus lembraram-se dos pepinos e dos melões do Egito
quando nada tinham que comer no deserto senão maná (Números 11:5). Um costume
interessante entre os hebreus era construir locais de vigia, com folhas,
chamados palhoças onde um guarda podia sentar-se e impedir a entrada de
ladrões. Terminada a temporada da colheita, esses locais eram abandonados. Em
Isaías 1:8 lemos que "Sião é deixada como... palhoça no pepinal" ―
desolada.
D. Cebola e alho.
Esses dois vegetais aromáticos em forma de bulbos, crescem bem nas regiões
quentes. Cebolas e alhos eram parte da lembrança das boas coisas do Egito
quando os israelitas se irritaram no deserto. A referência a essas raízes em
Números 11:5 sem dúvida significa a cebola e o alho com os quais estavam
familiarizados. Sabe-se que ovelhas e camelos dão bem com esses vegetais.
E. Alho porro. O nome "alhos silvestres" aparece
somente uma vez em Números 11:5. A mesma palavra original aparece diversas
vezes, mas em todos os outros casos é traduzida de modo diferente. Várias
opiniões as identificam como qualquer alimento vegetal verde, tal como o que os
pobres comiam com pão e os ricos usavam para fazer molho de carne, como o alho
porro atual. Provavelmente seja uma espécie de loto, cuja raiz era fervida e
comida com condimento.
F.Cozinhado. O cozinhado ou guisado de Jacó é famoso (Gênesis
25:29-34). O cozinhado era uma sopa feita de lentilhas e temperado com azeite e
alho.
Outra história interessante
sobre cozinhado encontra-se em 2 Reis 4:38-41. Neste tipo de cozinhado foram
usados outros ingredientes.
G. Ervas amargas. Este prato parecido com salada fazia parte
da festa da páscoa. Era usado para lembrar aos hebreus a tristeza por que
haviam passado no Egito (Êxodo 12:8; Números 9:11). Os vegetais incluídos nas
ervas poderiam ter sido rábano-rústico, alface, escarola, salsa, e agrião.
NOZES
Jacó enviou nozes como presente a José no Egito (Gênesis
43:11). É provável que as nozes não crescessem naquele país. Em Cantares 6.11
fala-se de um pomar de nogueiras.
A. Amêndoa. Esta árvore que floresce cedo é chamada shaked na
língua hebraica, que significa "vigiar, vigilante". Devido à sua
florada cedo, o símbolo da amendoeira é usado em Eclesiastes 12:5 para
representar o rápido envelhecimento da humanidade. Jeremias também emprega a
amendoeira para expressar a ação rápida da palavra de Deus (Jeremias 1:11-12).
A vara de Arão brotou, floresceu, e produziu amêndoas no
tabernáculo. Por meio deste milagre o povo entendeu que a casa de Levi,
representada por Arão, foi declarada a tribo sacerdotal (Números 17:1-9).
Há dois tipos de amêndoas. A amarga é conhecida por seu óleo;
a doce é usada para sobremesas.
B. Pistácia. A Bíblia diz que Jacó também enviou nozes de
pistácia a José no Egito (Gênesis 43:11). Esta é a única vez que são
mencionadas na Bíblia. São usadas em confeitaria.
Banquete assírio. Servido
por criados e músicos, o rei Assurbanípal e a rainha festejam no jardim neste
relevo de seu palácio (cerca do século sexto a.C). Como os assírios, os antigos
hebreus freqüentemente celebravam acontecimentos religiosos e sociais com
festas, acompanhados por música e dança.
Árabes comendo. O partir do
pão juntos era a expressão básica da hospitalidade no antigo Oriente Próximo,
como o é ainda hoje. Alguns eruditos crêem que os hebreus comiam duas vezes por
dia ― uma refeição leve pela manhã e uma mais pesada no frescor da tarde. Nos tempos
antigos, as refeições eram servidas em tapetes no chão, como se vê aqui. Usavam-se
divas na época dos romanos.
MEL
A lei do Senhor é "mais doce do que o mel e o destilar
dos favos" (Salmo 19:10). As referências a esta delícia correm através da
Bíblia desde Gênesis até Apocalipse. Os israelitas foram conduzidos a uma terra
que mana leite e mel (Êxodo 3:8); pelo menos 20 referências na Bíblia têm quase
a mesma descrição. O mel não podia ser oferecido sobre o altar do Senhor
(Levítico 2:11), talvez porque certas nações pagas praticavam tal costume.
Jeroboão, quando seu filho caiu enfermo, mandou a esposa ao
profeta Aías com "uma botija de mel" (1 Reis 14:3). João Batista
alimentava-se de "gafanhotos e mel silvestre" (Mateus 3:4).
A palavra mel, em algumas referências, pode significar o
xarope de tâmaras ou de uvas (hebraico, dibs). A frase "chupar mel da
rocha" (Deuteronômio 32:13) provém do fato que as abelhas, às vezes,
depositam o mel nas rochas e o cobrem com cera.
MANÁ
Os filhos de Israel, depois que deixaram o Egito, chegaram ao
deserto de Sim, que fica entre Elim e o Sinai. Começaram a queixar-se de Moisés
e Arão: "Quem nos dera tivéssemos morrido... na terra do Egito... pois nos
trouxestes... para ma tardes de fome a toda esta multidão." O Senhor ouviu
a queixa do povo e disse: "Eis que vos farei chover do céu pão, e o povo
sairá, e colherá diariamente a porção para cada dia." No sexto dia deviam
colher uma porção extra para o sábado. O maná não caía no sábado. O Senhor
continuou a prover o pão milagroso todas as manhãs, exceto no sábado, durante
quarenta anos, até que os israelitas entraram na terra de Canaã (Êxodo 16).
Algumas autoridades tentam dar explicações naturais para o
maná, a mais comum das quais tem que ver com a tamarga. Esta árvore presentemente
é encontrada na península do Sinai. Uma seiva semelhante à sacarina e que
parece com a descrição do maná fornecido aos israelitas goteja dela em certas
estações do ano. Êxodo 16:14 diz que restava "uma coisa fina e semelhante
a escamas, fina como a geada sobre a terra" (v. 14). "Era como
semente de coentro, branco, e de sabor como bolos de mel" (Êxodo 16:31).
A
PÁSCOA TRADICIONAL
O ritual da páscoa situa-se no centro do culto judaico. Cada
elemento da Pesach (Hebraico, "passagem") destinava-se a comemorar a
histórica passagem dos judeus da escravidão para uma nação governada por Deus.
A páscoa é uma celebração de sete dias na qual a festa
principal ocorre na primeira noite. A refeição seder (hebraico,
"serviço") com seu ritual acompanhante relembra a última refeição que
os judeus tomaram no Egito antes de iniciarem a viagem para a Terra Prometida.
Ordena-se aos judeus que se lembrem da história de seu cativeiro e do
livramento na noite do Seder: "Naquele mesmo dia contarás a teu filho, dizendo:
É isto pelo que o Senhor me fez, quando saí do Egito" (Êxodo 13:8).
Dos muitos ingredientes tradicionais do Seder, os mais
importantes são aqueles que Deus especificou para a última refeição no Egito:
"O cordeiro será sem defeito, macho de um ano" (Êxodo 12:5). Os
cordeiros deviam ser assados, não cozidos. Lembra-se aos participantes do Seder
que o sangue do cordeiro devia ser passado nas ombreiras da porta das casas
para proteger os judeus da praga que feriu os incrédulos na noite da primeira
páscoa.
O cordeiro pascoal devia ser comido com ervas amargas,
conforme ordenado em Êxodo. Nos tempos do Antigo Testamento, usava-se a alface
amarga, a chicória, ou a escarola; hoje as famílias judias mais provavelmente
usem rábano-rústico ou cebola ralados. Essas ervas simbolizam a amargura do
cativeiro egípcio.
Visto como o primeiro Seder foi comido enquanto os judeus se
preparavam para a fuga, o tema da pressa está entretecido na festa. O pão não
levedado de uma textura semelhante à bolacha, tal como matzos, era mais
conveniente para um povo em fuga do que os pães levedados, que precisavam de
amassar e crescer.
Cada participante do Seder toma um copo de vinho. O anfitrião
reclina-se sobre almofadas, lembrando o antigo modo de comer. Na frente dele é
colocado o prato do Seder com os tradicionais alimentos simbólicos: Três
obréias de pão matzo embrulhadas num guardanapo, as ervas amargas, o haroset ou polpa de
fruta, o cordeiro assado, o ovo cozido, os vegetais doces, e um prato de água
salgada para lavar as mãos.
A parte mais bem conhecida do ritual do Seder são,
provavelmente, as "Quatro perguntas". O filho mais novo da família
faz perguntas sobre o Seder, começando com as palavras: "Por que esta
noite de Páscoa é diferente de todas as outras noites do ano?" Pergunta
sobre o uso do pão não levedado, das ervas amargas, da imersão dos vegetais, e
das almofadas na cadeira do anfitrião. Ele responde recitando a história da
passagem de Israel do cativeiro para a liberdade.
Embora a preparação para o Seder demande muita paciência,
nenhum dos alimentos tradicionais apresenta quaisquer dificuldades. O haroset é
o único que requer uma receita especial, e há muitas versões disponíveis. Na
realidade, o fato importante acerca do haroset é sua textura (que se assemelha
à argamassa) mais do que seus ingredientes. Um haroset simples podia incluir
maçãs raladas, nozes em fatias, açúcar, cinamomo e vinho vermelho doce. Esses
ingredientes são amassados juntos até que alcancem certa consistência. Pode-se
adicionar matzo, substituir outros frutos ou nozes, e o açúcar e a canela são adicionados
ao sabor individual.
Algumas autoridades no assunto acreditam que a seiva da
tamarga é a mesma que o maná original. Outros contestam esta conclusão pelos
seguintes motivos: (1) O maná original durou 40 anos continuamente; o maná da
tamarga é imprevisível e sasonal. (2) A quantidade produzida pelo maná da
tamarga não daria para alimentar de três a quatro milhões de pessoas
diariamente. (3) O maná original caía do céu; o maná da tamarga caía dos rebentos
da árvore. (4) O maná original não podia ser guardado por mais de um dia; o
maná da tamarga dura meses. (5) O maná original podia ser cozido, moído, pisado
e transformado em bolos; o maná da tamarga não pode ser usado assim. (6) Os
nutrientes diferiam ― o original sustentou uma nação durante 40 anos; a tamarga
é apenas uma substância sacarina.
Hospitalidade. Deus disse
aos israelitas que fossem hospitaleiros (Levítico 19:34). Isto significava que
deviam oferecer alimento, abrigo e vestimenta aos viajantes que passassem por
suas terras. Um importante costume hebreu era a lavagem dos pés dos hóspedes,
gesto de boas-vindas numa região poeirenta, em que as estradas muitas vezes
tornavam a viagem a pé uma experiência dolorosa.
8.
VESTUÁRIO E COSMÉTICOS
O modo de vestir-se dos israelitas mudou aos poucos no
decorrer dos séculos. Notemos a evolução
de cinco artigos básicos de vestuário.
Deus fez vestimentas para Adão e Eva. "Fez o Senhor Deus
vestimenta de peles para Adão e sua mulher, e os vestiu" (Gênesis 3:21).
Esta vestimenta (Hebraico, kethon) era uma camisa simples feita de pele de
animal. Mais tarde, os hebreus começaram a fazer camisas de linho ou de seda
(para pessoas importantes). Assim, lemos que José usava "uma túnica talar
de mangas compridas" (Gênesis 37:3), que a ERC traduz como "túnica de
várias cores".
Embora o kethon tenha permanecido como costume do povo comum,
outra forma de vestido chamada simlah entrou em moda. Sem e Jafé tomaram esta
vestimenta para cobrir a nudez de seu pai (Gênesis 9:23). A princípio, os
israelitas faziam a simlah de lã, porém mais tarde usava-se pêlo de camelo.
Tratava-se de uma vestimenta exterior semelhante a um lençol grande com um
capuz, e os judeus a usavam como roupa de frio. Os pobres a usavam como vestido
básico de dia e como capa de noite (Êxodo 22:26-27).
Em casa, em ocasiões especiais, os israelitas usavam o beged.
Isaque e Rebeca vestiram seu filho Jacó com esta roupa, que eles consideravam a
melhor (Gênesis 27:15). Os israelitas consideravam o beged um distintivo de
dignidade do usuário, e era usado por membros distintos de famílias
importantes. Depois de instituídos os rituais do templo, os sacerdotes passaram
a usar o beged.
O quarto artigo de vestuário, o lebhosh (que significa
"vestir"), era de uso geral. Contudo, com o tempo tornou-se uma
vestimenta exterior tanto para os ricos como para os pobres. Assim, diz a
Bíblia que Mordecai usava um lebhosh de pano de saco (Ester 4:2), enquanto um
lebhosh mais requintado podia servir de "veste real" (Ester 8:15). O
Salmista referiu-se a esta vestimenta quando escreveu: "Repartem entre si
as minhas vestes, e sobre a minha túnica deitam sortes" (Salmo 22:18).
Finalmente, a addereth era usada para indicar que o usuário
era uma pessoa de importância (Josué 7:21). Esta vestimenta era também um tipo
de capa ou abrigo exterior. Tal capa ainda é usada hoje por muitos na
Palestina, sem levar em conta sua posição social.
Esses exemplos demonstram como mudou o uso de certas
vestimentas à medida que mudou a sociedade judaica. E a manufatura dessas
vestes mostra a disponibilidade de diferentes materiais têxteis em cada época
da história.
Este artigo analisará quatro diferentes aspectos do vestuário
dos tempos bíblicos ― o tecido, o vestuário masculino, o vestuário feminino, e
o vestuário dos sacerdotes. Notaremos também o uso que a gente do Oriente Próximo
fazia de jóias e cosméticos.
TIPOS
DE TECIDOS
Gênesis 3:7 diz que Adão e Eva perceberam que estavam nus e
coseram folhas de figueira e fizeram "cintas" ou "aventais"
(hebraico, hagor). Então o Criador fez para Adão e Eva vestes de peles, antes
de expulsá-los do jardim do Éden (Gênesis 3:21). Mais tarde, entraram em uso
vários tecidos para roupas.
A. Linho. O linho, feito da planta do mesmo nome, e cultivada
especialmente para esse fim, era um dos mais importantes tecidos para os
israelitas. Antes de os israelitas conquistarem o país, os cananeus já o usavam
(Josué 2:6).
O linho era um tecido versátil, podendo ser grosseiro e
espesso, ou muito fino e delicado. O linho fino e quase transparente dos
egípcios gozava de alta reputação. Também faziam eles linho grosseiro, tão
pesado que podia ser usado para tapetes ou para cobrir o chão.
Os tecidos de linho fino eram usados pelos que desfrutavam de
posições sociais elevadas ou de riqueza (cf. Lucas 16:19), e os tecidos
grosseiros eram usados pela gente comum. Os egípcios vestiram José com linho
fino quando o fizeram seu governador (Gênesis 41:42).
As cortinas, o véu e os reposteiros do tabernáculo hebreu
eram feitos de linho fino (Êxodo 26:1, 31, 36), como o eram as cortinas e
reposteiros da porta do átrio e do próprio átrio (Êxodo 27:9; 16, 18). A estola
e o peitoral do sumo sacerdote continham linho fino (Êxodo 28:6, 15). A túnica,
o cinto e os calções que todos os sacerdotes usavam também eram feitos de linho
branco de fina qualidade (Êxodo 28:39; 39:27-28).
O material mais usado para as vestes interiores, ou roupa de
baixo, dos judeus era o linho. As vestes sepulcrais de Jesus eram feitas deste
tecido. Diz a Bíblia que José de Arimatéia "baixando o corpo da cruz
envolveu-o em um lençol [de linho fino] que comprara (Mc 15:46). O linho branco
fino também era símbolo de pureza moral (Apocalipse 15:6).
B. Lã. Os judeus usavam a lã de ovelha como o principal
material para roupas. Os mercadores da
cidade de Damasco, na Síria, encontraram
na cidade portuária de Tiro um mercado pronto para sua fina lã (Ezequiel
27:15). A lã é um dos mais antigos materiais usados para roupa tecida.
A lei de Deus não permitia que os israelitas fizessem
vestimentas de uma mistura de lã e linho (Deuteronômio 22:11). Esta lei tinha
diversos outros preceitos correspondentes ― tais como não semear semente de
duas espécies num mesmo campo, ou não arar com junta de boi e jumento (Levítico
19:19). Talvez essas leis expressassem simbolicamente a idéia de separação e
simplicidade que caracterizavam o antigo povo de Deus. Por outro lado, as
vestes do sumo sacerdote eram feitas de tal mistura. Portanto, a mistura pode
ter sido considerada santa e imprópria para a vestimenta comum.
A lã continuou sendo um dos principais materiais têxteis. Na
verdade, a economia das terras bíblicas dependia grandemente dela.
C. Seda. Ezequiel 16:10, 13 descreve a seda como um tecido de
grande valor. As palavras hebraicas para este pano eram sheshí e meshí. Alguns
eruditos pensam que o termo encontrado em Provérbios 31:22 (sheshí) refira-se
ao linho fino. Não sabemos se os egípcios usavam seda, mas os chineses e outros
asiáticos a usavam nos tempos do Antigo Testamento. Certamente a seda chegou às
terras bíblicas após a conquista de Alexandre, o Grande (cerca de 325 a. C).
Mas pode ter chegado à Palestina mais cedo, visto que Salomão comerciava com os
países vizinhos, possíveis produtores deste tecido.
A fina qualidade e a cor viva dos tecidos aumentavam-lhes o
valor, de modo que a seda mantinha uma importante posição no mundo antigo. Os
amantes do luxo da "Babilônia" (Roma?) do Novo Testamento prezavam
muito a seda (Apocalipse 18:12). Em data tardia como o ano 275 de nossa era, os
artigos de seda pura valiam o seu peso em ouro.
D. Pano de saco. Os israelitas usavam pano de saco como
ritual de arrependimento, ou como sinal de luto. A cor escura e o tecido
grosseiro deste material de pêlo de cabra tornava-o ideal para esse uso. Quando
os irmãos de José o venderam aos ismaelitas, Jacó vestiu-se de pano de saco
para chorar a perda do filho (Gênesis 37:34). Em tempos de extrema tristeza, os
israelitas usavam este material rústico pegado à pele, como o fez Jó (Jó
16:15).
O Novo Testamento também associava o pano de saco com o
arrependimento, conforme encontramos em Mateus 11:21: "Porque se em Tiro e
em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que
elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza." O israelita
entristecido vestia-se com pano de saco e colocava cinzas sobre a cabeça, e
depois se assentava nas cinzas. Nosso moderno costume ocidental de usar cores
escuras nos funerais corresponde ao uso do pano de saco dos israelitas.
O pano de saco também era usado para fazer sacos para cereais
(Gênesis 42:25; Josué 9:4)
E. Algodão. Não sabemos se os israelitas faziam roupas de
algodão. A palavra hebraica pishtah significava um tipo de material de origem
vegetal, em contraposição ao material de origem animal como a lã. O termo pode
referir-se à planta do linho, ou ao algodoeiro.
Embora a palavra hebraica karpas geralmente fosse traduzida
por cor (Ester 1:6; 8:15), é possível que se refira ao algodão. Tanto a Síria
como a Palestina cultivam algodão hoje; mas não se sabe se os hebreus, antes de
entrarem em contato com a Pérsia, o conheciam.
VESTUÁRIO
E CLIMA
O clima é um fator principal na determinação do vestuário de
um povo. Pode-se ver isto comparando-se a roupa dos antigos hebreus com a dos
povos que viviam em diferentes zonas climáticas.
Os egípcios do vale do Nilo rapavam a cabeça e o corpo para
mantê-los frescos e limpos, e desenvolveram o tecido de linho ― praticamente o
mais leve dos materiais de vestuário ― para compensar os efeitos do sol
escaldante de sua região. Os trabalhadores egípcios usavam um simples pano nos
lombos; em tempos primitivos, esta veste era também aceita para os homens em
geral. No tempo do rei Tutankâmen (décimo-quarto século a.C), o pano de lombo
passou a ser uma veste mais comprida, muito semelhante a um avental. As túnicas
ou capas leves eram usadas sobre os ombros. As mulheres usavam uma vestimenta
comprida, solta, que ia de baixo dos braços até ao tornozelo, e era presa nos
ombros por uma ou duas tiras. A única vestimenta egípcia com mangas era o
kalasiris, um retângulo de linho com mangas separadas.
Os egípcios preferiam o linho mais puro. Para calçado eles
usavam couro ou sandálias de junco. A proteção da cabeça consistia em chapéus
cênicos para os homens e turbantes para as mulheres. Muitos egípcios usavam
leques, muito úteis na região quente em que viviam, além de serem decorativos.
Contraste-se a vestimenta
dos antigos egípcios com a dos celtas, povo bárbaro que viveu no norte dos
Alpes, no mínimo, por volta do sexto século a.C. Os celtas eram altos,
musculosos, gente de pele dará que vivia e trabalhava num clima severo o frio.
Sua economia básica era a lavoura. Criavam gado, cultivavam cereais, e
engajavam-se em outras atividades agrícolas ― em climas consideravelmente mais
frios do que o dei Egito.
Dependendo do clima da região, os celtas usavam roupa de
baixo grossa e um tipo de meia ou perneira. Os homens das tribos cisalpinas por
volta do terceiro século a.C. já usavam calças. Nesse tempo, os celtas também
usavam túnicas cinturadas ou camisas com uma capa. Eles enrolavam pano nos pés.
As mulheres celtas usavam uma única vestimenta comprida com uma capa.
Os celtas preferiam linhos
grosseiros e lã para proteger-se do frio. Suas vestimentas eram coloridas, num
variegado espectro que ia desde os tons mais escuros até os matizes do sol e
brancos. Os egípcios, por outro lado, preferiam o branco; suas únicas cores
alternativas eram azul, amarelo e verde claros.
Esses extremos nos estilos de vestir-se ― desde panos para os
lombos, feitos de linho, no Egito, até às vestes grosseiras no norte da Europa
― ressaltam o papel que o clima desempenha na determinação do tipo de
vestimentas de diferentes povos.
MANUFATURA
DE TECIDOS
As mulheres judias faziam roupas por necessidade. A
preparação dos tecidos e a fabricação de roupas eram considerados deveres
femininos. Havia diversos processos de manufatura de tecidos.
A. Fiação de roca. As mulheres judias usavam a fiação da roca
para fazer pano, visto como a roda de fiar era desconhecida naquele tempo. Elas
colocavam a lã ou o linho na roca (uma vi semelhante), e então usavam um fuso
para torcer as fibras em fios. A Bíblia menciona esta arte em Êxodo 35:25-26 e Provérbios
31:19
B. Tecelagem. Depois que as mulheres transformavam as
matérias-primas em fio, usavam-no para tecer o pano. Chamamos de urdidum aos
fios no sentido de seu comprimento, e de trama aos fios em sentido transversal
do tear. As mulheres fixavam a trama numa lançadeira, instrumento que segurava
o fio de sorte que ele pudesse passar por cima e por baixo dos fios da
urdidura. A Bíblia não descreve especificamente o uso da lançadeira, mas está
implícito em Jó 7:6. A urdidura era fixada a um pino de madeira no topo ou
parte de baixo do tear, e o tecelão ficava de pé enquanto trabalhava. (A Bíblia
não menciona o tear propriamente dito, apenas o pino ao qual se prendia a
urdidura ― Juizes 16:14). Por este método podia-se produzir tecido de várias
texturas.
Provavelmente os israelitas estavam familiarizados com a
tecelagem bem antes do tempo de sua escravidão no Egito. Mas aqui eles
aperfeiçoaram a arte a tal ponto que puderam fabricar as cortinas do templo
mencionadas em Êxodo 35:35.
Os israelitas fabricaram vários tipos de tecidos nos anos de
sua peregrinação pelo deserto. Tais tecidos incluíam vestimentas de lã
(Levítico 13:48), linho retorcido (Êxodo 26:1), e as vestes bordadas dos
sacerdotes (Êxodo 28:4, 39).
C. Curtimento. O curtimento era um processo de que dispunham
os povos dos tempos bíblicos para secar peles de animais, preparando-as para
uso. Empregavam cal, sumo de algumas plantas, e folhas ou casca de determinadas
árvores para curtir as peles.
Os judeus consideravam desonroso o ofício de curtidor. Pedro
desafiou este preconceito hospedando-se em casa de Simão, um curtidor, em Jope
(Atos 9:43). Os curtidores judeus geralmente eram obrigados a exercer seu
ofício fora da cidade.
D. Bordado. Os hebreus faziam lindos trabalhos de agulha. O
termo bordador (hebraico shâbâts e râqam) aparece em Êxodo 28:39; 35:35; 38:23.
A "obra de artista" (hebraico, châshab) mencionada em Êxodo 26:1 pode
ter sido mais semelhante à decoração do que trabalho de agulha. Contudo,
nenhuma dessas duas atividades se encaixaria à nossa moderna noção de
decoração.
O bordador ou decorador tecia o pano com uma variedade de
cores e depois aplicava sobre ele um desenho. Assim, a parte decorada do pano
ficava de um lado do tecido. Em contraste, a "obra de artista" era
feita tecendo-se fio de ouro ou figuras diretamente no tecido. Os judeus faziam
este tipo sofisticado de decoração somente nas vestes usadas pelos sacerdotes.
E. Tintura. Os israelitas estavam familiarizados com a
tintura na época de sua saída do Egito (cf. Êxodo 26:1,14; 35:25). O processo
de tingir está descrito em pormenores nos monumentos egípcios; contudo, a
Bíblia não apresenta relato preciso de como os hebreus tingiam seus tecidos.
Com algumas exceções, o algodão e o linho eram usados sem
tingir. O algodão podia ser tinto de azul anil, mas o linho era mais difícil
de tingir. De quando em quando fios
azuis decoravam o que fora pano simples. Quando a Bíblia menciona a cor de um
tecido que não o azul, isso quer dizer
que se tratava de lã.
As cores naturais que os judeus usavam para tingir eram
branco, preto, vermelho, amarelo e verde. O vermelho era uma cor muito popular
do vestuário hebreu.
A púrpura, tão famosa no antigo Oriente Próximo, vinha de uma
espécie de marisco do mar Mediterrâneo. Os hebreus tinham em alta conta os
artigos de púrpura, mas empregavam o termo livremente para referir-se a toda
cor de tom avermelhado. O Novo Testamento diz-nos que Lídia, da cidade de
Tiatira, era "vendedora de púrpura" (Atos 16:14). Tiatira era famosa
por seus tintureiros, daí supormos que Lídia negociava com tecido de púrpura e
talvez fizesse seu próprio tingimento.
O
CUIDADO DOS TECIDOS
Os tecidos eram lavados por lavandeiros nos tempos bíblicos.
O lavandeiro profissional limpava as vestimentas pisando nelas ou batendo-as
com um pedaço de pau numa tina de potassa usados j como agentes de limpeza.
Usavam-se também outras substâncias para limpar, tais como álcali e greda. Para
branquear as vestimentas, os lavandeiros empregavam a "terra de
lavandeiro".
O trabalho do lavandeiro criava um cheiro desagradável, por
isso era feito fora da cidade. Os lavandeiros lavavam e secavam as roupas num
lugar chamado "campo do lavandeiro", no lado norte da cidade de
Jerusalém. Seu abastecimento de água vinha do açude superior de Giom, na parte
norte da cidade. A Bíblia diz que o rei da Assíria enviou soldados contra
Jerusalém, partindo desta direção (2 Reis ; 18:17). É interessante notar que o
campo do lavandeiro estava tão próximo dos muros da cidade que os embaixadores
assírios no campo podiam ser ouvidos das muralhas.
VESTUÁRIO
MASCULINO
Os israelitas quase não receberam influências das vestes dos
países vizinhos, visto que suas viagens eram limitadas. As modas dos homens
israelitas permaneceram quase inalteradas, geração após geração.
A. Roupa de uso geral. Comumente, os homens judeus usavam uma
veste interior, uma exterior, um cinto e sandálias. Os árabes atuais usam as
mesmas vestes flutuantes e fazem a mesma distinção entre vestimentas
"interiores" e "exteriores" ― sendo as vestimentas interiores
de material leve e as exteriores de material pesado e quente. Os árabes
modernos fazem uma visível distinção entre a roupa dos ricos e a dos pobres,
sendo que os ricos usam materiais mais finos.
1. Vestimenta interior. A "vestimenta interior" do
homem israelita assemelhava-se a uma camisa justa, apertada. A palavra hebraica
mais comum para esta vestimenta (kethoneth) é traduzida variadamente como capa,
manto, túnica e vestimenta. Era feita de lã, de linho ou de algodão. As mais
primitivas dessas vestes eram feitas sem mangas e chegavam apenas até aos
joelhos. Mais tarde, a vestimenta interior estendeu-se até aos pulsos e os
tornozelos.
Dizia-se estar nu o homem que usava apenas esta vestimenta
interior (1 Samuel 19:24; Isaías 20:2-4). O Novo Testamento provavelmente se
refere a esta vestimenta quando diz que Pedro "cingiu-se com sua veste
porque se havia despido, e lançou-se ao mar" (João 21:7).
2. Cinto. O cinto do homem era uma cinta ou faixa de pano, de
corda, ou de couro, com 10 cm de largura, ou mais. Um prendedor permitia-lhe
ser afrouxado ou apertado. Os judeus usavam o cinto de duas maneiras: como um
laço em torno da cintura da vestimenta interior ou ao redor da vestimenta
exterior. Quando usado em torno da vestimenta interior, muitas vezes era
chamado de pano do lombo ou pano da cintura. O uso do cinto realçava a
aparência da pessoa e impedia que os mantos longos e flutuantes interferissem
no trabalho diário e nos movimentos. A expressão bíblica "cingir os
lombos" significava colocar o cinto; queria dizer que a pessoa estava
pronta para o serviço (1 Pedro 1:13). Por outro lado, "desatar o
cinto" significava que a pessoa era preguiçosa ou estava descansando
(Isaías 5:27).
3. Vestimenta exterior. Os homens hebreus usavam uma
"vestimenta exterior" que consistia numa faixa de pano quadrada ou
oblonga, de 2 a 3 metros de largura. Esta vestimenta (me'yil) era chamada de
capa, manto, túnica e vestimenta. Era enrolada no corpo como uma coberta
protetora, com dois cantos do material na frente. A vestimenta exterior unia-se
ao corpo com um cinto. Às vezes os israelitas decoravam o cinto desta
vestimenta exterior com ricos e belos ornamentos de metal, pedras preciosas, ou
bordados. O pobre usava esta vestimenta exterior como roupa de cama (Êxodo
22:26-27), O rico muitas vezes tinha uma vestimenta exterior de linho finamente
tecido, e o pobre uma vestimenta grosseiramente tecida de pêlo de cabra.
Os homens judeus usavam franjas com fitas azuis na
"borda" (orla) desta vestimenta exterior (Números 15:38). As franjas
lembravam-lhes a constante presença dos mandamentos do Senhor. Jesus referiu-se
a essas franjas em Mateus 23:5; evidentemente, os escribas e fariseus alargavam
muito estas franjas para que as pessoas pudessem ver quão fiéis eles eram em
cumprir os mandamentos do Senhor.
Muitas vezes os hebreus rasgavam a veste exterior em tempos
de pesar (Esdras 9:3, 5; Jó 1:20; 2:12).
O número de mantos de uma pessoa era medida da riqueza no
Oriente Próximo (cf. Tiago 5:2). Conseqüentemente, um grande guarda-roupa
indicava uma pessoa rica e poderosa, e a falta de vestuário mostrava pobreza.
Nesta conexão, observe Isaías 3:6-7.
4. Bolsa. A bolsa do homem era realmente formada pelo cinto,
com dupla costura e presa com uma fivela. A outra extremidade do cinto era enrolada
no corpo e depois enfiada na primeira seção, que abria e fechava com uma
correia de couro. O conteúdo da bolsa era colocado debaixo da correia. O cinto
de Mateus 10:9 e o alforje de Marcos 6:8 referem-se a este tipo de bolsa.
Parece que os judeus também usavam um tipo de bolsa separada do cinto (Lucas
10:4).
Os homens judeus usavam também uma sacola, que pode ter sido
semelhante à nossa bolsa moderna. Os pastores levavam o alimento e outras
utilidades neste tipo de saco. Parece que a sacola era usada sobre o ombro. Foi
numa sacola dessas que Davi levou as cinco pedras para matar o gigante Golias
(1 Samuel 17:40). É provável que o alforje mencionado no Novo Testamento,
levado por pastores e viajantes, fosse feito de peles (Marcos 6:8).
5. Sandálias. O termo sandálias é usado apenas duas vezes na
Bíblia. Em sua mais simples forma, a sandália era um solado de madeira preso
com correias ou tiras de couro. Os discípulos de Jesus usavam este tipo de
sandálias (Marcos 6:9). Quando um anjo apareceu a Pedro na prisão, ordenou-lhe
que calçasse as sandálias (Atos 12:8). Todas as classes de pessoas na Palestina
usavam sandálias ― mesmo os mais pobres. Na Assíria, as sandálias cobriam
também o calcanhar e o lado do pé. A sandália e a correia eram tão comuns que simbolizavam
a coisa mais insignificante, como em Gênesis 14:23.
Sandálias. A maioria das
pessoas nas terras antigas andavam descalças ou usavam sandálias. Os pobres não
podiam dar-se o luxo de usar sapatos, visto que estes eram feitos de couro
macio, que era escasso. As sandálias eram de couro duro. Alguns pensam que os
israelitas faziam as solas de madeira, de cana ou junco, ou de casca de
palmeira, pregando-lhes correias de couro. Os arqueólogos têm encontrado grande
variedade de sandálias. As desta foto são da Bretanha durante o tempo da
ocupação romana; observe os cravos na segunda sandália a partir da esquerda.
Os judeus não usavam as sandálias dentro de casa (Lucas
7:38); retiravam-nas ao entrar na casa, e lavar os pés. A retirada das
sandálias era também sinal de reverência; quando Deus falou com Moisés da sarça
ardente, disse-lhe que tirasse as sandálias dos pés (Êxodo 3:5).
Os judeus consideravam carregar ou desatar as sandálias de
outra pessoa como uma tarefa muito humilde. Quando João Batista falou da vinda
de Cristo, disse: "O qual vem após mim, do qual não sou digno de
desatar-lhe as correias das sandálias" (João 1:27).
Andar sem sandálias era indício de pobreza (Lucas 15:22) ou
sinal de luto (2 Samuel 15:30; Isaías 20:2-4; Ezequiel 24:17, 23).
B. Vestes para ocasiões especiais. Os judeus ricos possuíam
diversos conjuntos de vestuário; cada conjunto compunha-se de uma vestimenta
interior e uma exterior. Alguns desses conjuntos de vestuário eram feitos de
tecido muito fino e eram usados sobre vestimentas de várias cores (Isaías
3:22).
1. Mantos de honra. Amiúde, um homem ao ser empossado numa
posição de honra ou de importância recebia um manto especial. José recebeu um
manto assim quando foi colocado em posição de liderança no Egito (Gênesis 41:42).
Por outro lado, a retirada de um manto indicava que o homem estava sendo
demitido de seu ofício. Um manto de fina qualidade era sinal de honra especial
na família (Lucas 15:22).
2. Vestes núpciais. Nas grandes ocasiões, o hospedeiro dava
vestes especiais a seus convidados. Nos casamentos judeus, por exemplo, o
hospedeiro fornecia vestes núciais a todos 08 convidados (Mateus 22:11). Às
vezes, os nubentes usavam coroas (Ezequiel 16:12).
3. Vestimentas de
luto. Veja acima a seção sobre "pano de saco".
4. Roupas de inverno. No inverno, os povos das terras
bíblicas usavam peles ou couro para fazer vestidos. Este tipo de vestuário de
inverno pode estar indicado em 2 Reis 2:8 e Zacarias 13:4. As peles de gado
comum eram usadas pelas pessoas paupérrimas (Hebreus 11:37), mas alguns mantos
de pele eram muito caros e faziam parte do guarda-roupa real.
Vestir-se de ovelha (pele de ovelha) sugeria inocência e
brandura; porém Mateus 7:15 fala de tal veste como símbolo do disfarce de
falsos profetas, que levavam o povo para o caminho errado.
C. Ornamentos. Os
judeus varões usavam braceletes, anéis, correntes e colares de vários tipos. No
Oriente Próximo, ambos os sexos usavam cadeias de ouro como ornamento e símbolo
de dignidade. Os oficiais do governo colocaram tais cadeias em José e em Daniel
como símbolo de soberania (Gênesis 41:42; Daniel 5:29). Os judeus homens tinham
uma paixão por melhorar sua aparência pessoal, e amiúde usavam jóias para este
fim. É provável que a arte de joalheria tenha-se desenvolvido num período bem
primitivo (Números 31:50; Oséias 2:13).
1. Anéis. O judeu usava o anel como selo e símbolo de sua
autoridade (Gênesis 41:42; Daniel 6:17). Com o sinete ele estampava seu selo
pessoal nos documentos oficiais. Podia ser usado num cordão em torno do pescoço
ou no dedo. Os homens também usavam anéis ou faixas nos braços (cf. 2 Samuel
1:10).
Nada menos que dez anéis foram encontrados numa das mãos de
uma múmia egípcia, indicando que o mercado de jóias era muito ativo. Nas
batalhas, os soldados tiravam braceletes e argolas usadas nos tornozelos dos
inimigos e os levavam como despojos. Depois de matar a Saul, o amalequita
trouxe a Davi o bracelete de Saul como prova de sua morte (2 Samuel 1:10).
2. Amuletos. Nas nações supersticiosas do Oriente Próximo
muitas pessoas temiam espíritos imaginários. Para proteger-se, usavam
encantamentos mágicos. Os amuletos mencionados na Bíblia eram brincos usados
pelas mulheres (Gênesis 35:4; Juizes 2:13; 8:24), ou pingentes nas cadeias
usadas pelos homens. O amuleto continha palavras sagradas ou a figura de um
deus. Noutra forma de amuleto, as palavras eram escritas num papiro ou
pergaminho fortemente apertado e costurado nele com linho.
3. Filactérios. Para contrapor-se à prática idólatra de usar
amuletos, os varões hebreus começaram a usar filactérios. Havia dois tipos de
filactérios: um usado entre as sobrancelhas, e outro no braço esquerdo. O que
se usava na testa chamava-se frontal. Tinha quatro compartimentos, cada um dos
quais continha um pedaço de pergaminho. No primeiro estava escrito Êxodo
13:1-10; no segundo, Êxodo 13:11-16; no terceiro, Deuteronômio 6:4-9, e no
quarto, Deuteronômio, 11:13-21. Esses quatro pedaços de papel eram embrulhados
em pele de animal, fazendo um pacote quadrado. Este pacotinho era então atado à
testa com uma correia ou fita. Essas passagens bíblicas continham ordens de
Deus para que se lembrassem de sua Lei e obedecessem a ela (p. ex.,
Deuteronômio 6:8).
O filactério que o homem usava no braço era feito de dois
rolos de pergaminho, nos quais as leis eram escritas com tinta especial. O
pergaminho era parcialmente enrolado, encerrado num estojo preto de pele de
bezerro, e atado com uma correia na parte superior do braço, junto ao cotovelo.
A correia era então enrolada em torno do braço em linhas cruzadas, terminando
na ponta do dedo médio. Alguns judeus usavam os filactérios de manhã e de
noite; outros os usavam somente na oração matutina. Nos sábados e em outros
dias sagrados não se usavam os filactérios; esses dias eram em si mesmos sinais
sagrados, de sorte que era desnecessário usá-los.
Jesus condenou a prática de alargarem "seus
filactérios" (Mateus 23:5). Os fariseus faziam seus filactérios maiores do
que o comum, para que os observadores casuais pensassem que eram muito santos.
D. Penteado. Os varões hebreus consideravam o cabelo um
ornamento pessoal importante, por isso lhe dispensavam muito cuidado e atenção.
Os monumentos egípcios e assírios mostram exemplos de arranjos esmerados do
cabelo nessas culturas. Os egípcios também usavam vários tipos de perucas.
Porém vemos uma importante diferença entre os penteados dos hebreus e dos
egípcios em Gênesis 41:14, onde se diz que José "se barbeou" antes de
apresentar-se a Faraó. Um egípcio ter-se-ia contentado em pentear o cabelo e
aparar a barba; mas os homens hebreus cortavam o cabelo quase como o cortam
hoje os homens do Ocidente, usando um tipo primitivo de tesoura (2 Samuel
14:26). A palavra cortava, neste texto, significa "cortar o cabelo da
cabeça" (tosar). Os judeus também usavam navalhas, como vemos em Números
6:5.
Quando um judeu fazia um voto religioso, ele não cortava o
cabelo (cf. Juizes 13:5). Os israelitas não deviam cortar o cabelo tão rente
que se assemelhassem a deuses pagãos que tinham a cabeça raspada. Nem deviam
parecer-se com os nazireus, que se recusavam a cortar o cabelo (Ezequiel
44:20). Nos tempos do Novo Testamento, o cabelo comprido nos homens era
considerado contrário à natureza (1 Coríntios 11:14).
Amiúde os homens aplicavam óleo perfumado ao cabelo antes de
festivais ou de outras ocasiões jubilosas (Salmo 23:5). Jesus menciona este
costume em Lucas 7:46, quando diz: "Não me ungiste a cabeça com
óleo..."
O homem judeu também dispensava muita atenção ao cuidado da
barba. Era insulto tentar tocar a barba de um homem, exceto ao beijá-la
respeitosa e afetuosamente como sinal de amizade (2 Samuel 20:9). Arrancar a
barba, cortá-la inteiramente, ou descurar de apará-la eram expressões de
profundo lamento (cf. Esdras 9:3; Isaías 15:2; Jeremias 41:5). Os homens egípcios
e romanos preferiam rostos barbeados, embora os governantes egípcios usassem
barbas artificiais.
E. Ornato para a cabeça. Evidentemente, os varões judeus
usavam ornato para a cabeça em ocasiões especiais (Isaías 61:3), nos dias de
festa, ou em tempos de lamentação (2 Samuel 15:30). Pela primeira vez vemos
mencionado o ornato para a cabeça em Êxodo 28:40, como parte das vestes
sacerdotais.
Os varões hebreus provavelmente usavam uma cobertura para
cabeça somente em raras ocasiões, embora os egípcios e os assírios as usassem
com freqüência. Alguns antigos ornatos para a cabeça eram muito trabalhados,
especialmente os usados pela realeza. O egípcio comum usava um ornato simples
que consistia num pano quadrado, dobrado de modo que três cantos caíssem sobre as
costas e ombros. Este pode ter sido o tipo usado pelos hebreus.
Os assírios usavam um ornato muito semelhante a um turbante
alto (Ezequiel 23:15). Os sírios em Damasco muito provavelmente usava o
turbante.
Túnica. A túnica, vestimenta
interior semelhante ao quimono, chegando até aos joelhos ou aos tornozelos, era
usada junto à pele. Tanto homens como mulheres usavam túnicas feitas de
algodão, de linho ou de lã. Presa ao corpo por um cinto (geralmente uma cinta
de couro), a túnica podia ser a única vestimenta usada pelos pobres em clima
quente. Contudo, os ricos nunca apareciam em público sem as vestimentas
exteriores.
VESTUÁRIO
FEMININO
As mulheres usavam roupas muito semelhantes às dos homens.
Contudo, a lei proibia estritamente a uma mulher usar qualquer coisa que se
julgasse pertencer particularmente a um homem, tal como o sinete e outros
ornamentos. De acordo com Josefo, historiador judeu, também se proibia às
mulheres usar as armas de um homem. Por semelhante modo, era proibido aos
homens usar o manto exterior de uma mulher (Deuteronômio 22:5).
A. Vestimenta interior. Esta vestimenta era usada por ambos
os sexos, e era feita de lã, de algodão ou de linho.
B. Vestimenta exterior. A vestimenta exterior da mulher
hebréia diferia da do homem. Era mais
comprida, com borda e franja suficientes
para cobrir os pés (Isaías 47:22). Prendia-se à cintura por um cinto. Como no
caso dos homens, a vestimenta da mulher podia ser feita de materiais
diferentes, de acordo com a condição social da pessoa.
A frente da vestimenta exterior da mulher era comprida
bastante para que pudesse colocá-la sobre o cinto e servir de avental. A
palavra avental (ERC) aparece pela primeira vez em Gênesis 3:7, quando Adão e
Eva coseram para si aventais de folhas de figueira. Esta peça de vestuário
pode, em certa medida, parecer-se com nosso moderno avental. O avental podia
ter sido usado para proteger as vestes durante o trabalho, ou para transportar
alguma coisa (cf. Rute 3:15).
C. Véu. As hebréias não usavam véu todo o tempo, como agora é
costume em muitas das terras do Oriente Próximo. Usar véu era um ato de
modéstia, geralmente a indicar que a mulher não era casada. Quando Rebeca viu a
Isaque pela primeira vez, não estava usando véu; porém ela se cobriu com um véu
antes que Isaque a visse (Gênesis 24:65).
As mulheres dos tempos do Novo Testamento cobriam a cabeça durante o
culto, mas não necessariamente o rosto (1 Coríntios 11:5).
D. Lenço. A palavra hebraica para lenço (mispachoth) podia
ser mais bem traduzida como guardanapo ou toalha. Esses panos eram usados para
envolver coisas que eram levadas (Lucas 19:20), para enxugar o suor do rosto,
ou para cobrir a face do morto.
Alguns comentaristas acham que o lenço era preso sob o queixo
e no topo da cabeça para impedir que a maxila do defunto decaísse (João 11:44).
João 20:7 diz que o lenço que cobria o rosto do Senhor foi encontrado enrolado
num lugar à parte dos lençóis.
Amiúde as mulheres das modernas nações do Oriente Próximo
levam lenços com belos trabalhos de agulha. Este pode também ter lido o costume
nos tempos antigos.
E. Sandálias. As mulheres judias usavam sandálias, como o
faziam os homens. Havia muitas variações da sandália comum. A sola podia ser
feita do couro duro do pescoço do camelo. Às vezes diversas camadas de couro
eram costuradas juntas.
Um tipo de sandália de mulher tinha duas correias: uma
passava entre o dedão e o segundo dedo, e a outra passava em tomo do calcanhar
e sobre o peito do pé. Este calçado podia ser facilmente tirado quando se entrava
em casa.
F. Ornamentos. A Bíblia menciona jóias pela primeira vez
quando o servo de Abraão presenteou a Rebeca com brincos e pulseiras (Gênesis
24:22). Jeremias descreveu bem a atração que a mulher judia tinha pelas jóias,
quando disse: "Acaso se esquece a virgem dos seus adornos?" As
mulheres hebréias usavam pulseiras, colares, brincos, anéis de nariz, e cadeias
de ouro. Isaías 3:16, 18, 23 dá um quadro gráfico da mulher ornamentada de
acordo com a moda dos tempos do Antigo Testamento,
1. Braceletes. Tanto as mulheres como os homens hebreus
usavam braceletes ou pulseiras (Gênesis 24:30). Hoje, os povos do Oriente
Próximo consideram o bracelete de uma mulher como emblema de elevado status ou
realeza, como provavelmente era no tempo de Davi (2 Samuel 1:10). O bracelete
real por certo era feito de metal precioso, como ouro, e era usado acima do
cotovelo. O bracelete da mulher comum podia ter sido usado no pulso, como o é
hoje (Ezequiel 16:11). Em sua maioria, os braceletes das mulheres eram redondos
para deslizar sobre a mão. Alguns braceletes eram feitos de duas partes que se
abriam numa dobradiça e se fechavam com um laço ou alfinete. Os braceletes
variavam de tamanho, desde alguns centímetros de largura até faixas estreitas.
2. Argolas de tornozelo. Era tão comum as mulheres usarem
argolas no tornozelo como usarem braceletes. Essas argolas eram feitas quase
dos mesmos materiais (Isaías 3:16, 18, 20). Algumas argolas tilintavam um som
musical quando as mulheres andavam. As mulheres da classe alta usavam argolas
ocas cheias de pedrinhas, de modo que se podia ouvir o som de matraca quando
andavam.
3. Brincos. Não temos certeza quanto à forma dos brincos
hebreus, mas textos das Escrituras sugerem que eram redondos (p. ex., Gênesis 24:22). Os brincos egípcios eram
geralmente grandes aros de ouro, de 3 a 5 cm de diâmetro. Vez por outra os aros
eram presos juntos ou se adicionavam pedras preciosas para causar sensação.
As nações pagas às vezes usavam brincos como amuletos.
(Veja-se a seção sobre "Amuletos".) Vemo-lo quando a família de Jacó
se foi de Siquém para Betel (Gênesis 35:4), e abandonaram seus brincos.
4. Jóias de nariz. O anel ou jóia de nariz da mulher era um
dos mais antigos ornamentos do Oriente. O anel era feito de marfim ou de metais
preciosos, amiúde incrustados de jóias. Às vezes, essas jóias de nariz tinham
diâmetro superior a 6 cm e pendiam sobre os lábios da mulher. O costume de usar
anéis de nariz ainda existe em algumas partes do Oriente Próximo,
principalmente entre dançarinas e as mulheres de classes inferiores. Contudo,
não temos evidência de que as mulheres hebréias usassem anéis de nariz.
5. Alfinetes de ondular. A palavra hebraica (charitim), que a
Edição Revista e Corrigida (Almeida) em Isaías 3:22 traduz como
"alfinetes", e em 2 Reis 5:23 é traduzida como "sacos", é
empregada somente essas duas vezes na Bíblia. Não se sabe que tipo de jóia
podia ter sido, nem mesmo que fosse um tipo de jóia.
6. Cosméticos e perfumes. As mulheres egípcias e assírias
usavam tinta como cosmético. Coloriam
as pestanas e as beiradas das pálpebras com um pó fino preto umedecido
com azeite ou vinagre, para obter um efeito um tanto semelhante à sombra
moderna.
As mulheres hebréias também pintavam as pestanas. Mas esta
prática era geralmente vista com desdém, como no caso de Jezabel (2 Reis 9:30).
A pintura dos olhos é desdenhosamente mencionada em Jeremias 4:30 e Ezequiel
23:40.
Algumas mulheres tingiam os dedos da mão e do pé com hena.
Isto era especialmente verdadeiro em se tratando das egípcias, que também tatuavam
as mãos, os pés e o rosto.
As mulheres antigas usavam perfume quase da mesma maneira que
as mulheres usam hoje. As fontes comuns de perfume nos tempos bíblicos eram o
incenso e a mirra da Arábia e da África, o aloés e o nardo da índia, o cinamono
de Ailom, o gálbano da Pérsia, estoraque e açafrão da Palestina. O perfume era
um valioso artigo de comércio (cf. Gênesis 37:25).
Êxodo 30:34-38 diz que os hebreus fabricavam um perfume usado
nos rituais do tabernáculo. Mas a Lei proibia o uso pessoal deste perfume.
7. Penteado. O
apóstolo Paulo disse que o cabelo era um véu natural, ou mantilha, para a
mulher; ele dá a entender que no seu tempo era vergonhoso uma cristã cortar o
cabelo (1 Coríntios 11:15). As mulheres usavam o cabelo longo e trançado. O Talmude
menciona que as judias usavam pentes e grampos.
Entre as egípcias e assírias, os penteados eram muito mais
trabalhados do que os usados pelas hebréias, conforme mostram os monumentos da
época.
8. Ornato para a cabeça. As judias usavam algum tipo de ornato
para cabeça, mas o apóstolo Paulo insistiu em que as cristãs se vestissem com
modéstia (1 Timóteo 2:9). As mulheres podem ter usado ouro ou jóias como
ornamentos do cabelo (1 Pedro 3:3); segundo era o costume das mulheres dos
países vizinhos.
O véu que as judias às vezes usavam mal podia ser considerado
um ornato para a cabeça, embora realmente a cobrisse. Em contraste, esse ornato
para outras mulheres do Oriente Próximo era esmerado e caro, dependendo da
riqueza e da posição social de quem o usava.
VESTES
SACERDOTAIS
A veste sacerdotal era muito diferente da veste do judeu
comum. Além do mais, a vestimenta do sumo sacerdote diferia daquela do
sacerdote comum.
A. Calções. Entre os hebreus, só os sacerdotes usavam
calções. Em alguns países vizinhos, tanto os calções como as calças eram usados
pelos homens comuns.
Os judeus usavam linho fino para fazer esta vestimenta
sacerdotal. Evidentemente, servia como roupa de baixo de sorte que o sacerdote
não ficasse exposto quando subia os degraus do templo para ministrar no altar
(Êxodo 28:42-43). Esta vestimenta de baixo cobria o corpo do sacerdote desde a
cintura até aos joelhos. Em vez de calças, os "calções" provavelmente
eram um avental duplo. Outras referências a calções encontram-se em Êxodo
39:28; Levítico 6:10; 16:4; e! Ezequiel 44:18.
B. Sobrepeliz ou manto. Os sacerdotes usavam também mantos de
linho fino durante o serviço no templo. Essas vestimentas vinham do tecelão que
fazia a peça inteiriça. Eram presas à cintura por um cinto decorado com trabalho
de agulha (Êxodo 38:31-34). A vestimenta de Jesus era também um manto sem
costura, simbolicamente mostrando seu sacerdócio universal (João 19:23; Hebreus
4:14-15). O manto ou ] túnica do sacerdote chegava quase a cobrir os pés e era
tecido num] formato de losango ou xadrez.
C. Tiara. O sacerdote comum usava uma tiara. Esta peça era
feita 3 de linho fino (Êxodo 39:28). A palavra hebraica (migbaoth), da qual sei
traduziu tiara, significa "ser sublime".
D. Calçado. Durante o culto, os sacerdotes ficavam descalços.
Antes de entrarem no tabernáculo, deviam lavar as mãos e os pés "Pôs a
bacia entre a tenda da congregação e o altar, e a encheu água, para se lavar.
Nela Moisés, Arão e seus filhos lavavam as mãos e os pés" (Êxodo
40:30-31). A área na qual os sacerdotes ficavam era considerada solo sagrado,
como foi no caso de Moisés e a sarça ardente (Êxodo 3:5).
E. Cuidado do cabelo. Vemos, em Levítico 21:5, que a calvície
desqualificava um homem para o exercício do sacerdócio. Não permitido ao
sacerdote rapar a cabeça ou rasgar as suas vestes mesmo para chorar a morte do
pai ou da mãe (Levítico 21:10-11).
VESTES
DO SUMO SACERDOTE
Um dos característicos que
separavam o sumo sacerdote do sacerdote comum era o espargir de suas vestes com
o óleo da unção (Êxodo 28:41; 29:21). Quando o sumo sacerdote falecia suas
vestes passavam ao seu sucessor.
As vestimentas do sumo sacerdote compunham-se de sete peças ―
a estola, a sobrepeliz, o peitoral, a mitra, a túnica bordada, o cinto e os
calções (Êxodo 28:4, 42).
Fabricação de roupas. A
roupa usada pelos hebreus servia como símbolo externo dos sentimentos e desejos
íntimos do indivíduo. As ocasiões festivas e alegres pediam cores vivas,
enquanto a pessoa enlutada vestia pano de saco, o mais pobre tipo de
vestimenta. As famílias israelitas faziam a maior parte de sua própria roupa.
Nesta cena doméstica, o pai está fazendo sandálias de couro enquanto a mãe
costura uma túnica do material que ela teceu.
A. Estola. As vestes do sumo sacerdote eram feitas de linho
simples (1 Samuel 2:18; 2 Samuel 6:14), como o eram as vestes de todos os
sacerdotes. A estola, porém, era feita de "ouro, estofo azul, púrpura,
carmesim e linho fino retorcido" (Êxodo 28:6). Isto indica que ela era uma
mistura de lã e linho, visto que o linho só podia ser tingido de azul. A
"obra esmerada" significa algum tipo de bordado.
A estola dividia-se em duas partes. Uma parte cobria as
costas e a outra o peito do usuário. A vestimenta era presa nos ombros por uma
grande pedra de ônix.
O cinto da estola era feito de estofo azul, púrpura e
carmesim entretecido com fio de ouro (Êxodo 28:8).
B. Sobrepeliz da estola. A sobrepeliz da estola era de
material inferior ao da estola, tingida de azul (Êxodo 39:22). Era usada sob a
estola e mais comprida do que esta. A sobrepeliz não tinha mangas, A penas
aberturas nos lados para os braços.
A orla desta vestimenta tinha uma franja de romãs de estofo
azul, púrpura e carmesim, com uma campainha de outro entre uma romã e outra.
Essas campainhas eram presas à orla da sobrepeliz do sumo sacerdote para que se
pudesse ouvir quando ele entrava no lugar santo ou de lá saía (Êxodo 28:32-35).
C. Peitoral. O peitoral do sumo sacerdote acha-se descrito
com pormenores em Êxodo 28:15-30. Era uma peça de material bordado, com cerca
de 25 cm de lado, quadrado e duplo formando um saco ou bolsa.
Esta vestimenta sacerdotal era adornada com doze pedras
preciosas, cada uma delas trazendo o nome de uma das doze tribos de Israel
(Êxodo 28:17-21). Os dois cantos inferiores eram presos ao cinto. Os anéis, as
cadeias e outros prendedores eram de ouro ou de cordão de fina qualidade.
O peitoral e a estola eram chamados de "memória"
(Êxodo 28:12, 29), porque lembravam ao sacerdote seu relacionamento com as doze
tribos de Israel. Também era chamado "peitoral do juízo" (Êxodo
28:15), talvez porque fosse usado pelo sacerdote, que era porta-voz da justiça
e juízo de Deus à nação judaica. Também pode ter sido assim; chamado porque ele
provia um receptáculo para o urim e o tumim, os oráculos sagrados que mostravam
os juízos de Deus sobre os homens (cf. Números 26:55; Josué 7:14; 14:2; 1 Samuel
14:42).
D. Mitra. A mitra, ou turbante superior, era o ornato oficial
para a cabeça do sumo sacerdote (Êxodo 28:39). Era feita de linho fino, tinha
muitas dobras, e seu comprimento total era de cerca de 7,3 m.
Este pano comprido era enrolado em torno da cabeça na forma
turbante. Na frente da mitra estava uma lâmina de ouro com as palavras
hebraicas "Santidade ao Senhor" (Êxodo 28:36-43; 39:28, 30).
E. Túnica bordada, cinto e calções. Esta túnica especial era
de orla comprida, feita de linho, e bordada com um desenho como se nela
houvessem pedras (Êxodo 28:4). Os
sacerdotes comuns também usavam esta vestimenta.
O cinto das vestes do sumo sacerdote era enrolado em torno
corpo diversas vezes, desde o peito em sentido descendente, pontas do cinto
pendiam até aos tornozelos (Êxodo 29:5). Sob vestes sacerdotais, o sumo
sacerdote usava o mesmo tipo de calções que o sacerdote comum.
Túnica. A túnica era um
manto exterior com mangas. O cinto ― às vezes ornamentado com metais preciosos,
pedras ou bordado ― prendia esta vestimenta ao corpo
9.
ARQUITETURA E MOBILIÁRIO
Os povos modernos admiram a arquitetura clássica grega e
romana, com suas altas colunas de mármore e arcos esmeradamente decorados. Mas
Israel produziu muito pouca arquitetura que pudéssemos chamar de inovadora ou
que causasse admiração. Os israelitas projetavam seus edifícios e móveis para
servir às suas necessidades diárias, pouco se importando com os aspectos
estéticos. Não obstante, seus edifícios e móveis dizem-nos algo do estilo de
vida das pessoas.
As mais comuns habitações do mundo antigo eram tendas,
formadas por postes fincados no chão e tendo uma cobertura de pano ou de pele.
O morador de tenda usava cordas para prender esta cobertura nas estacas
enterradas no solo (cf. Isaías 54:2). Às vezes usavam-se cortinas para dividir
as tendas em quartos e cobria-se o chão com esteiras ou tapetes. A porta era
uma dobra de pano que podia ser retirada ou levantada. O tendeiro acendia o
fogo num buraco no chão no meio da tenda. Seus utensílios de cozinha eram
poucos e simples, e facilmente transportáveis.
Quando as pessoas começaram a fixar-se nas cidades,
construíram lares mais permanentes. Evidentemente, bem cedo desenvolveram
habilidades arquitetônicas. Mesmo depois que os cananeus e assírios deram
início à construção de cidades, os hebreus ainda viviam em tendas. Só foram
abandonar seus hábitos simples depois da conquista da Terra Prometida. Nessa
época ocuparam as casas deixadas pelos cananeus.
Diz a Bíblia que os israelitas construíram casas grandes e
caras na Judéia (cf. Jeremias 22:14; Amós 3:15; Ageu 1:4). Essas casas, porém,
pertenciam a pessoas abastadas; muitos ainda viviam em tendas ou em abrigos
rudimentares.
Os ricos construíam suas casas em forma de claustro, isto é,
em torno de um pátio aberto. A pessoa entrava na casa por uma porta que
geralmente se mantinha fechada, sob os cuidados de alguém que atuava como porteiro
(cf. Atos 12:13). Esta porta dava para um alpendre mobiliado com cadeiras ou
bancos. Caminhava-se pelo alpendre até um pequeno lance de escadas que conduzia
às câmaras e ao pátio quadrangular aberto.
O
PÁTIO CENTRAL
O pátio era o centro da casa judaica. Provavelmente era aqui
que Jesus se encontrava quando um grupo de homens baixou um paralítico
"para o meio", ao alcance do Senhor (Lucas 5:19). O pátio era
projetado para permitir a entrada de luz e ar nos quartos ao redor. O piso do
pátio era pavimentado com ladrilho ou pedra para escoar a água da chuva que
podia entrar pela clarabóia. Às vezes o dono da casa construía o pátio ao redor
de uma fonte ou poço (cf. 2 Samuel 17:18).
Multidões se congregavam no pátio do hospedeiro em ocasiões
festivas (cf. Ester 1:5). Geralmente o hospedeiro fornecia tapetes, esteiras e
cadeiras para seus convidados, e podia até estender um toldo sobre a clarabóia.
Os quartos circundantes abriam somente para o pátio, por isso
a pessoa tinha de cruzá-lo quando entrava na casa ou dela saía. Em séculos
posteriores, os construtores começaram a construir sacadas ou galerias fora dos
quartos que davam frente para o pátio central.
Uma escada simples de pedra
ou de madeira levava do pátio para os quartos de cima, e para o terraço. As
casas maiores podiam ter mais de um lance de escadas.
A. Os aposentos do dono. No lado do pátio que dava frente
para a entrada estava a sala de recepção do dono da casa. Era belamente
mobiliada com uma plataforma elevada e um diva nos três lados, que servia de
cama de noite e de assento durante o dia. Os hóspedes que entravam retiravam as
sandálias antes de pisar a parte elevada da sala.
Os cômodos destinados à esposa e às filhas geralmente ficavam
na parte de cima, mas às vezes estavam no mesmo nível do pátio central.
Ninguém, exceto o dono da casa, podia entrar nestas dependias. Visto como o
proprietário efetuava a maior despesa nessas dependências, elas eram às vezes
chamadas "castelos da casa" (1 Reis 1 Reis 15:25), ou "casa das
mulheres" (Ester 2:3; cf, 1 Reis 7:8-12)
B. Dependências domésticas. Supomos que na Judéia antiga,
como na Palestina hoje, as pessoas usavam o pavimento térreo para fins
domésticos ― guardar mantimentos, alojar os criados, e assim por diante. Esses
cômodos do andar térreo eram pequenos e mal mobiliados.
OS
QUARTOS SUPERIORES
Subindo-se a escada até ao segundo pavimento, verificava-se
que os cômodos eram grandes e arejados, e amiúde mobiliados com muito maior
elegância do que os quartos de baixo. Esses cômodos superiores também eram mais
altos e maiores do que os inferiores, projetando-se sobre a parte de baixo do
edifício de sorte que suas janelas davam para a rua. Eram separados, espaçosos
e muito confortáveis.
Paulo pregou seu sermão de despedida numa sala assim.
Podemos! imaginar que as pessoas tinham de formar dois círculos ou fileiras,
ficando o círculo exterior junto à parede. As pessoas deste círculo deitavam-se
sobre almofadas ao lado do batente da janela. Nessa posição dormiu Êutico e
caiu na rua (Atos 20:7-12).
A. A alliyah. Às vezes os judeus construíam outra estrutura
chamada alliyah sobre o alpendre ou sobre o portão de entrada da casa.
Consistia em apenas um ou dois quartos, e sua altura era de um pavimento acima
da casa principal. O dono da casa usava-a para receber estranhos, para guardar
roupas, ou para descanso e meditação. Provavelmente Jesus se referia à alliyah
quando falou de entrar no "quarto" para orar (Mateus 6:6). Degraus
conduziam diretamente da rua à alliyah, mas outro lance de escada ligava a
alliyah com o pátio central da casa. A alliyah providenciava um lugar muito
mais privado para adoração do que o eirado principal da casa, que podia ser
ocupado por toda a família.
A Bíblia pode referir-se à alliyah quando menciona o
"pequeno quarto" de Eliseu (2 Reis 4:10), a "sala de verão"
de Eglom (Juizes 3:20-23), a "sala que estava por cima da porta" (2
Samuel 18:33), a "sala" de Acaz, sobre o terraço (2 Reis 23:12), e a
"câmara" onde Ben-Hadade se escondeu (1 Reis 20:30).
Esboço de uma casa. Este
desenho retrata uma residência grande numa antiga aldeia israelita. , casa do
israelita médio, segundo os padrões modernos, era pequena e desconfortável. Um
ponto favorito para descontração era o eirado, ao qual se chegava por uma
escada de pedra ou por uma escada simples de madeira.
B. O terraço ou eirado. O terraço era uma parte importante da
casa nos tempos bíblicos. Podia-se subir até lá por um lance de escada junto à
parede exterior. Na maioria dos casos o terraço era plano; mas às vezes os
construtores faziam abóbadas sobre os quartos mais importantes. A lei judaica
exigia que cada casa tivesse um parapeito ou gradil ao redor do terraço para
evitar que alguém caísse (Deuteronômio 22:8). As casas adjacentes muitas vezes
usavam o mesmo terraço, e pequenos muros sobre o terraço assinalavam os limites
de cada casa.
Os construtores cobriam os terraços com um tipo de argamassa
que se endurecia ao sol. Caso rachasse, o dono da casa tinha de espalhar uma
camada de capim sobre o eirado para evitar goteiras de chuva (cf. 2 Reis 19:26;
Salmo 129:6). Alguns terraços eram cobertos por telhas ou ladrilhos lisos.
Os israelitas usavam os terraços como local de retiro e
meditação (Neemias 8:16; 2 Samuel 11:2; Isaías 15:3; 22:1; Jeremias 48:38). Nos
terraços eles secavam linho, cana de Unho, grão, figos e outras frutas (Josué
2:6). Às vezes armavam tendas nos terraços e aí dormiam de noite (2 Samuel
16:22).
As pessoas usavam os eirados para tratar de assuntos privados
(1 Samuel 9:25). Também iam ali para adoração privada (Jeremias 19:13; 2 Reis
23:12; Sofonias 1:5; Atos 10:9) e para fazer proclamações públicas ou para
chorar a perda de entes queridos (Jeremias 48:38; Lucas 12:3).
JANELAS
E PORTAS
Nas casas antigas, as janelas eram simplesmente aberturas
retangulares na parede que davam para o pátio central ou para a rua. Às vezes
os israelitas construíam uma sacada ou alpendre ao longo da frente da casa,
cuidadosamente fechada por treliças. Só abriam a janela da sacada para as
festas e outras ocasiões especiais. Supomos que Jezabel contemplava de uma
janela exterior assim quando foi agarrada e morta por Jeú (2 Reis 9:30-33).
Provavelmente esta janela é o que se chama "grades" (Provérbios 7:6,
Cantares 2:9). Os israelitas não tinham janelas com vidro, porque este artigo
era muito caro.
As portas das casas antigas não tinham dobradiças. O fecho da
porta projetava-se como um eixo redondo na parte de cima e na de baixo. A
extremidade superior deste eixo ajustava-se num encaixe na verga e a inferior
entrava num encaixe no batente. Almeida (versão Atualizada) emprega as palavras
dobradiças e gonzos para referir-se ao eixo da porta (1 Reis 7:50; Provérbios
26:14).
Muitas vezes os construtores colocavam fechadura com chave na
porta principal da casa. As chaves antigas eram feitas de madeira ou metal, e
algumas eram tão grandes que eram notórias quando levadas em público (Isaías
22:22). Os tesoureiros e outros oficiais públicos levavam essas enormes chaves
como símbolo de seu elevado ofício.
LAREIRAS
As casas antigas não tinham chaminés, muito embora algumas
versões da Bíblia usem esta palavra em Oséias 13:3. A fumaça produzida escapava
através de furos no teto e nas paredes. A parte central da lareira, um pequeno
forno ou braseiro de metal, não era um acessório permanente (cf. Jeremias
36:22-23). Visto que o braseiro era fácil de transportar de um lugar para
outro, os reis e generais amiúde usavam-no em campanhas militares.
Parapeito de janela.
Encontrada em Ramate-Rael, no sul de Israel, esta fileira de colunas de pedra
calcária (cerca de 600 a.C.) parece ter sido o parapeito de uma janela.
Provavelmente era pintada de vermelho, visto como se encontraram vestígios de
tinta vermelha nos pedaços dos quais se reconstruíram estas colunas que enfeitavam
o palácio do rei Jeoaquim.
Mesa de Jericó. Um túmulo em
Jericó continha esta mesa comprida com duas pernas numa ponta e uma na outra.
O
PÁRTENON
O Pártenon de Atenas é um dos mais belos exemplos da
arquitetura grega clássica. Representa fisicamente o método racional,
harmonioso dos gregos antigos de considerar a vida. Mais ainda, é uma maravilha
de desenho arquitetônico.
Os gregos erigiram pelo menos uma estrutura prévia no local
do Pártenon em 488 a.C, quando planejaram uma estrutura maciça como oferta de
gratidão por sua vitória sobre os persas em Maratona. O alicerce de pedra
calcária deste edifício estendia-se mais de 6 m na rocha da Acrópole. A maior
parte da obra que fica acima do solo neste sítio foi, porém, destruída quando
os persas saquearam a Acrópole em 480 a.C.
Os gregos começaram a trabalhar no Pártenon no ano 447 a. C.
e o terminaram em 438 a. C. Fizeram da estrutura o templo principal na Acrópole
por volta de 432 a. C, quando o dedicaram a Atena Partenos, deusa padroeira de
Atenas. A construção deste edifício foi feita com fundos levantados pelo
governo de Péricles.
O edifício foi projetado para criar uma ilusão de óptica. Os
topos das colunas dóricas do Pártenon inclinam-se para o centro de cada
colunata, os degraus se curvam para cima no centro, e as colunas têm maior
espaço no centro de cada fileira do que no extremo. Isto faz as colunas
parecerem uniformemente espaçadas. (Se elas tivessem sido, de fato,
uniformemente espaçadas, o ângulo de perspectiva tê-las-ia feito parecer
desiguais.)
Há oito colunas em cada extremo do Pártenon e dezessete em
cada lado. O Pártenon tem uma área central, ou cella, que por sua vez é
dividida em câmaras. Originariamente uma colunata interior sustentava a grande
estátua cultuai de Atena, uma obra-prima do escultor Fídias. Esta estátua não
sobreviveu, mas sabemos de sua aparência geral mediante reproduções menores e
através de muitas representações em moedas antigas. A estátua foi vista e
descrita pelo viajante Pausânias no segundo século A. D.
Todo o Pártenon é feito de mármore, inclusive as telhas do
teto. Os gregos não usaram argamassa ou cimento na estrutura; eles ajustaram
blocos de mármore com a maior precisão e os prenderam com grampos e pinos de
metal.
Uma faixa ornamental de escultura de baixo-relevo (friso)
decora o Pártenon. Essas decorações representam combates entre os deuses tais
como Zeus, Atena e Posêidon. Também retratam cavaleiros montados, grupos de
carruagens, e cidadões de Atenas.
Os gregos usaram cor para realçar a beleza do Pártenon. O
teto da colunara era colorido de vermelho, azul e ouro ou amarelo. Uma faixa
que corria junto ao friso era colorida de vermelho, e a cor acentuava a
escultura e os acessórios de bronze no interior do edifício.
O Pártenon teve uma história variada. Já em 298 a.C, Lachares
retirou as lâminas de ouro da estátua de Atena. No ano 426 A. D. o Pártenon foi
transformado num templo cristão, e os turcos o transformaram numa mesquita em
1460. Em 1687 08 venezianos, que combatiam os gregos, usaram o Pártenon como
paiol de pólvora, e acidentalmente provocaram uma explosão que destruiu a parte
central do edifício. Nenhum reparo importante se fez até 1950, quando
engenheiros repuseram as colunas no lugar e consertaram a colunata do norte.
MÉTODOS
DE CONSTRUÇÃO
Descrevemos uma casa típica de pessoas abastadas. As casas
não seguiam um modelo rígido; algumas eram mais trabalhadas do que a que
apresentamos, e outras mais simples. Os métodos de construção de casas dos
israelitas eram, porém, tradicionais.
Estábulos. Os arqueólogos
descobriram em Megido estas ruínas de um extenso complexo! estábulos, com capacidade
para alojar nada menos que 480 cavalos. Este é o estábulo que dá pai norte,
constituído de cinco unidades e com capacidade para cerca de vinte e quatro
cavalos! princípio, os escavadores atribuíram esses estábulos a Salomão; mas
investigação posterior mostrou que eles datam do tempo de Acabe, diversas
gerações depois.
A. Lares dos abastados. Os materiais de construção eram
abundantes na Palestina. Os proprietários endinheirados podiam obter facilmente
pedra, tijolo e a melhor madeira para o trabalho ornamental de suas casas.
Muitas vezes usavam pedra lavrada e mármore polido (1Crônicas 29:2; Ester 1:6).
Também empregavam grandes quantidades de cedro para forrar paredes e tetos,
frequentemente adornados de ouro, prata e marfim (Jeremias 22:14; Ageu 1:4).
Talvez sua paixão pelo marfim explique as referências bíblicas a "casas de
marfim" e "palácios de marfim" (p. ex., 1 Reis 22:39; Salmo
45:8; Amós 3:15).
Os ricos proprietários de terras também construíam
"casas de inverno" e "casas de verão" para seu conforto
nessas estações (cf. Amós 3:15). Construíam as casas de verão parcialmente
subterrâneas e as pavimentavam com mármore. Essas casas geralmente possuíam
fontes no átrio central, e eram construídas de modo a permitir a entrada de ar
fresco. Isto as tornava muito refrescantes nos dias tórridos do verão. Pouco
sabemos acerca das casas de inverno.
Temos uma rápida visão do método típico de construção dos
tempos do Antigo Testamento quando lemos como Sansão destruiu um templo dos
filisteus (Juízes 16:23-30). Os inimigos de Sansão levaram-no para o átrio
central do templo, que estava cercado por uma série de sacadas, cada qual
sustentada por uma ou duas colunas. Aqui os oficiais do estado se reuniam para
realizar negócios públicos e proporcionar entretenimentos para o povo. Se as
colunas desmoronassem, o edifício tombava e as pessoas que estavam nas sacadas
cairiam ao pavimento inferior.
B. Lares dos pobres. As casas do povo comum eram choças de
apenas um cômodo com paredes de taipa. Os construtores reforçavam essas paredes
com hastes de junco, ou com estacas recobertas de barro. Por isso as paredes
eram muito inseguras, e freqüentemente se tornavam ninhos de serpentes e de
insetos nocivos (cf. Amós 5:19). A família ocupava o mesmo cômodo com os
animais, embora às vezes dormissem numa plataforma acima destes. As janelas
eram pequenas aberturas no alto das paredes, talvez trancadas.
A Bíblia adverte contra a "lepra na casa" (Levítico
14:34-53), que provavelmente era uma reação química nas paredes de taipa dessas
casas mais pobres. Os israelitas entendiam que esta "lepra" podia
prejudicar-lhes a saúde, por isso os sacerdotes lhes ordenaram que a
removessem.
Os camponeses faziam as portas de suas casas muito baixas e
as pessoas tinham de curvar-se para entrar nelas. Isto impedia a entrada de
animais selvagens e de inimigos. Dizem alguns que era um meio de prevenir que
bandos de árabes nômades invadissem as casas.
O
CULTO DE CONSAGRAÇÃO
Os israelitas, antes de se mudarem para uma nova casa,
primeiro a agravam (Deuteronômio 20:5). Supomos que celebravam este
acontecimento com grande júbilo, e pediam a bênção de Deus sobre a 6 as pessoas
que viveriam nela.
MOBÍLIA
Aos nossos olhos, as casas mais bem mobiliadas da Palestina
pareceriam vazias. Sobre os pisos de mármore da casa de um rico teríamos visto
belos tapetes, e sobre os bancos, almofadas de rico tecido. Mas os israelitas
abastados não tinham a grande variedade de móveis a que estamos acostumados, e
os pobres tinham ainda menos. Um homem endinheirado podia ter uma esteira ou
uma pele de animal para reclinar-se durante o dia, um colchão para dormir de
noite, uma banqueta, uma mesa baixa, e um braseiro. Note-se que a rica sunamita
mobiliou o quarto de Eliseu com apenas uma cama (talvez meramente um colchão),
uma mesa, uma banqueta e um candeeiro (2 Reis 4:10-13).
O
HERODIUM
O Herodium. Herodes, o Grande, construiu magníficas
estruturas para seu próprio conforto i proteção. Entre esses projetos
encontravam-se seu palácio-fortaleza em Masada e o Herodium Nd| caso de
insurreição ou de derrota militar, qualquer um desses oferecia forte defesa. O
Herodiun que também se destinava a ser o local de sepultamento de Herodes,
permanece como um tributo ad exagerado medo de Herodes. Esta é uma das maiores
fortalezas já construídas para guardar un único homem.
O Herodium fica a cerca de 11 quilômetros ao sul de Jerusalém
e 5 quilômetros ao sudeste de Belém, numa altitude de cerca de 700 metros. Foi
construído no local onde Herodes derrotou as forças dos hasmoneus e dos que os
apoiavam no ano 40 a. C. ― local de gratas memórias para Herodes. Josefo,
historiador judeu do primeiro século, fala da construção do Herodium no ano 20
a. C, e da procissão fúnebre de Herodes até ao local. Era uma das últimas três
fortalezas controladas pelos judeus fora de Jerusalém quando os romanos
destruíram a cidade em 70 A. D. O Herodium também serviu como centro rebelde
durante a revolta de Bar-Kochba (132-135 A. D.).
V. Corbo dirigiu quatro temporadas de escavação no Herodium
(1962-1967). G. Foerster fez restauração e exploração no sítio do Herodium em
1967 e 1970, e E. Netzer dirigiu uma escavação no local em 1972. Eles
descobriram uma surpreendente estrutura que por certo fá o maior feito de
engenharia dos tempos inter-testamentários.
Visto de longe, o
local parece um truncado. A estrutura constitui-se de quati torres ― três
semicirculares e uma redonda ― cercadas por um muro circular, cujo diâmetro
exterior mede 55 metros. Este muro duplo tem uma ampla passagem de 3 metros
entre um muro e outro. Evidentemente, os entulhos de areia e pedra do edifício
se acumularam do lado de fora dos muros logo após a construção deixando
expostos apenas seus topos. Desse modo, a montanha tomou a forma de um cone.
A metade oriental do espaço interno Herodium consistia num
pátio aberto circundado por colunas coríntias, com uma êxedra (área externa com
assentos para conversações informais) em cada extremo. A metade ocidental
incluía um complexo de casas de banho esmeradamente decoradas, com um grupo de
salas incluindo um refeitório que ocupava o lado sul. O refeitório converteu-se
em sinagoga, evidentemente, quando alguns dos adeptos de Bar-Kochba resistiram
aos romanos ali no segundo século. Em cima, os quartos ocidentais formavam um
segundo pavimento e, talvez, um terceiro, usados como salas de estar.
Uma rede de enormes cisternas abastecia de água o interior da
montanha. Essas cisternas abasteciam de água o interior da montanha. Essas
cisternas foram construídas em forma de favo de mel. Um aqueduto trazia água para
o local, dos tanques de Salomão, próximos de Belém. A inscrição de uma das
peças de cerâmica encontradas pelos arqueólogos menciona Herodes.
Na base norte da montanha, Netzer descobriu um complexo de
estruturas. Havia um palácio medindo cerca de 53 m X 122 m, do qual se estendia
uma sacada de observação sobre o que parece ter sido um hipódromo de mais ou
menos 300 metros de comprido, uma piscina, um prédio de serviço, e outras
estruturas não Identificadas. Obviamente, Herodes tencionava viver com magnificência
e ser sepultado em esplendor.
Visto como os pisos de uma casa mais elegante eram de
ladrilho ou de argamassa, muitas vezes precisavam de ser varridos ou esfregados
(cf. Mateus 12:44; Lucas 15:8). À noite os residentes punham no chão colchões
espessos, grosseiros, sobre os quais dormiam. As pessoas mais pobres usavam
peles de animais para o mesmo fim. Em dois ou em três lados do quarto de um
homem rico havia um banco, geralmente de 30 cm de altura, coberto com uma
almofada. O dono usava este banco para assentar-se durante o dia. Numa
extremidade do cômodo ele era mais elevado, e este era o lugar costumeiro de
dormir (cf. 2 Reis 1:4; 4:10). Além do banco, as pessoas muito ricas tinham
armações de cama feitas de madeira, de marfim, ou de outros materiais caros
(Amós 6:4; Deuteronômio 3:11). Estas armações eram mais comuns nos tempos do
Novo Testamento (cf. Marcos 4:21).
Os israelitas usavam algumas de suas vestes exteriores
normais como roupa de cama (Êxodo 22:26-27; Deuteronômio 24:12-13). Antes de
deitar-se à noite, eles simplesmente tiravam as sandálias e o cinto. O
travesseiro dos hebreus era, provavelmente, uma pele de cabra estofada com lã,
penas, ou algum outro material macio. A gente mais pobre da Palestina usa essas
peles de animais como travesseiros ainda hoje.
Os reis e outros governantes exigiam uma banqueta para apoiar
os pés quando se assentavam no trono (2 Crônicas 9:18), mas esta peça de
mobiliário era rara nas casas particulares.
Por outro lado, as lamparinas eram muito comuns. Elas
consumiam azeite de oliva, piche, nafta ou cera, e tinham pavios de algodão ou
de linho. (Diz uma tradição judaica que os sacerdotes faziam mechas para as
candeias do templo de suas velhas vestes de linho.) Os israelitas mais pobres
faziam suas lamparinas de barro, enquanto os ricos tinham candeias de bronze e
de outros metais.
Os israelitas deixavam que suas candeias ardessem toda a
noite, visto que a luz os fazia sentir-se mais seguros. Conta-se que a família
preferia passar sem alimento a deixar que suas lâmpadas se apagassem, uma vez
que isto indicava que eles haviam abandonado a casa. Assim, quando Jó prediz a
ruína dos perversos, ele diz: "...a luz dos perversos se apagará... a luz
se escurecerá nas suas tendas, e a sua lâmpada sobre ele se apagará" (Jó
18:5-6). O escritor de Provérbios louva a mulher prudente, dizendo: "a sua
lâmpada não se apaga de noite" (Provérbios 31:18). Diversas outras
passagens bíblicas mostram que a luz simbolizava a vida e dignidade de uma
família (cf. Jó 21:17; Jeremias 25:10).
Embora seu mobiliário fosse simples, os israelitas viviam em
muito maior conforto do que seus antepassados, que perambulavam com seus
rebanhos. No tempo de Jesus o lar típico era arrumado e limpo, com a beleza
funcional comum aos lares de outros países influenciados pela cultura
helenista. Conquanto Roma governasse a Palestina, poucas pessoas adotaram os gostos
ornamentais dos romanos.
Armações de bronze para
cama. Esta cama de Tell el-Far'ah no sul de Israel foi reconstruída de armações
de bronze para as pernas e as varas de ferro que as uniam. A maioria dos
israelitas dormiam em catres ou em esteiras no chão. Somente os ricos podiam
permitir-se o luxo de camas, que se tornaram mais comuns nos tempos do Novo
Testamento.
10.
MÚSICA
A Bíblia dá muito pouca informação acerca das formas musicais
hebraicas e do seu desenvolvimento. Por este motivo, devemos combinar o estudo
da Bíblia com história e arqueologia se desejarmos saber algo da música dos
tempos bíblicos.
DESENVOLVIMENTO
DA MÚSICA HEBRAICA
A história da música hebraica remonta à primeira pessoa que
bateu com um pedaço de pau numa rocha, e estende-se à orquestra do templo e ao
"celebrai com júbilo" solicitado no Salmo 98. Esse primeiro músico
ouviu ritmo quando bateu seu primitivo instrumento. Percebendo que podiam fazer
música, as pessoas criaram instrumentos mais complexos.
Por exemplo, atribui-se a Davi o invento de vários
instrumentos, muito embora não saibamos precisamente quais foram (cf. Amós
6:5). Davi formou um coro de 4.000 cantores para oferecer louvores ao Senhor
"com os instrumentos que Davi fez para esse mister" (1 Crônicas 23:5;
cf. 2 Crônicas 7:6; Neemias 12:8). Davi compôs também cânticos, tais como seu
lamento pela morte de Saul e Jônatas.
Embora Deus dirigisse o desenvolvimento social e religioso de
Israel, a nação absorveu idéias de culturas circunvizinhas. Estava Israel numa
encruzilhada geográfica e exposta a idéias e costumes de outras partes do mundo
(Gênesis 37:25), incluindo-se o estilo musical.
Muitos homens de Israel casaram-se com mulheres estrangeiras
cujos costumes aos poucos se infiltraram no estilo de vida hebreu. Segundo a
coleção de escritos judeus pós-bíblicos, chamada Midrash, o rei Salomão
casou-se com uma egípcia cujo dote incluía 1.000 instrumentos musicais. Se isto
for verdadeiro, não resta dúvida de que ela trouxe músicos consigo para tocar
esses instrumentos no estilo tradicional egípcio.
O fim a que a música servia e a reação dos ouvintes também
influíram no desenvolvimento da música hebraica. Em tempos de guerra, amiúde
era necessário fazer soar um alarme ou enviar algum outro tipo de aviso
urgente. Desse modo, os hebreus criaram o shophar, um instrumento semelhante à
trombeta, com tons altos, penetrantes (Êxodo 32:17-18; Juizes 7:18-20). O
divertimento e a frivolidade exigiam os tons leves e alegres produzidos pela
flauta (Gênesis 31:27; Juizes 11:34-35; Mateus 9:23-24; Lucas 15:23-25).
A. Efeito distrativo. Os dirigentes hebreus que serviam no
templo tiveram muito cuidado em evitar o uso de música associada com a adoração
paga sensual. Nas culturas onde eram comuns os ritos de fertilidade, mulheres
cantoras e musicistas incitavam a orgias sexuais em honra de seus deuses. Mesmo
instrumentos não associados com práticas pagas às vezes eram proibidos. O profeta
Amós condenou os que cantavam "à toa ao som da lira" (Amós 6:5).
É claro, havia momentos em que as distrações da música podiam
ser úteis. O dedilhar suave da harpa de Davi acalmava a um Saul atormentado (1
Samuel 16:23). Depois que Daniel foi lançado na cova dos leões, o rei Dario
retirou-se para seus aposentos e não deixou que trouxessem à sua presença
"instrumentos de música" (Daniel 6:18).
A música era parte importante da vida cotidiana. Diversões,
casamentos e funerais não estavam completos sem ela. Até mesmo a guerra
dependia da música, visto como instrumentos especiais soavam para chamar à
batalha. A diversão e a descontração aristocráticas patrocinavam os músicos e
suas habilidades.
B. Função no culto. A música também fazia parte da vida
religiosa de Israel. O culto formal dos israelitas observava diversos rituais
prescritos por Deus. A música servia de acompanhamento a esses rituais.
A música do templo constituía-se de cantores e orquestra.
Cantores e músicos só podiam proceder dos varões de determinadas famílias. Do
mesmo modo, os tipos de instrumentos eram restritos. Instrumentos que
estivessem associados com mulheres, com
diversão rouquenha ou estridente (tal como o sistro egípcio), ou com culto
pagão estavam banidos da orquestra do templo.
O Antigo Testamento arrola diversos tipos de instrumentos na
orquestra do templo (cf. 1 Crônicas 15:28; 16:42; 25:1). Esses instrumentos
incluem a grande harpa (nevel), a lira (kinnor), o chifre de carneiro
(shophar), a trombeta (chatsotserah), o tamborim (toph), e címbalos
metsiltayim). Depois que os israelitas voltaram do exílio e reconstruíram o
templo, a orquestra foi restabelecida (cf. Neemias 12:27). A gaita ou flauta
(halil) provavelmente agora foi incluída, e a música vocal passou a ser mais
proeminente.
Além do culto formal no interior do templo a música era parte
de outras atividades religiosas. Instrumentos não permitidos no templo eram
tocados em outras funções religiosas, tais como os dias de festa. Muitas vezes
a festa começava com uma proclamação musical; então seguiam-se música, cântico
e até mesmo dança. Permitia-se a participação das mulheres cantoras e
musicistas (Esdras 2:65; Neemias 7:67; 1 Crônicas 35:25).
C. Limites de nosso conhecimento. O Antigo Testamento
raramente menciona as formas de música, as origens dos instrumentos e assim por
diante. O modo de executar ou de fabricar instrumentos era transmitido por
tradição oral em vez de o ser por escrito. A maior parte dessa tradição oral
perdeu-se, deixando-nos apenas a breve informação encontrada na Bíblia.
Tocadores de buzina e
tambor. Este relevo em basalto, procedente de Carquêmis na Síria (oitavo ou
nono século a. C.) retrata quatro músicos, um soprando uma buzina curva, um
carregando um tambor grande e dois tocando o tambor com as mãos abertas. A
figura à direita parece usar uma correia passada ao pescoço para ajudar a
sustentar o tambor.
Muito poucos instrumentos musicais antigos existem intactos,
por isso devemos fazer conjecturas sobre como eram e como soavam. Comparando as
referências bíblicas com os artefatos de outras culturas, os historiadores e
arqueólogos têm ajudado a preencher muitas das lacunas de nosso conhecimento da
música dos tempos bíblicos.
Este estudo é um processo contínuo como bem o demonstram as
traduções mais recentes da Bíblia. Se compararmos passagens sobre a música de
versões antigas da Bíblia com traduções mais recentes, podemos notar algumas
diferenças.
TIPOS
DE INSTRUMENTOS
Os instrumentos musicais entram em três classes básicas,
segundo o modo de produzir-se o som: (1) instrumentos de corda, que usam a
vibração de cordas
para produzir o
som; (2) instrumentos
de percussão, nos quais o som é produzido por uma membrana vibratória ou
por uma concha de metal; e (3) instrumentos de sopro, que produzem som pela
passagem do ar sobre uma palheta vibratória.
A. Instrumentos de percussão. O povo de Israel usava uma
variedade de instrumentos de percussão para destacar o ritmo de sua música. O
ritmo era elemento vital da poesia e canções.
1. Campainhas. Certo tipo de campainha recebia o nome
(metsilloth) derivado da palavra hebraica que significa "retinir" ou
"chocalhar". Este tipo é mencionado uma única vez na Bíblia (Zacarias
14:20), onde se nos diz que os israelitas atavam essas campainhas nos freios ou
nos peitorais dos cavalos.
Outro tipo era uma campainha pequenina, do ouro puro
(paamonim). Era presa à orla da sobrepeliz do sumo sacerdote e alternada com
romãs ornamentais (Êxodo 28:33-34). Essas campainhas produziam som apenas
quando tocavam umas às outras, pois elas não tinham badalos. Este som retininte
significava que o sumo sacerdote estava entrando na presença de Deus; outros
que se atrevessem a entrar no santo dos santos seriam mortos (v. 35).
2. Castanholas. Veja "Címbalos"
e "Sistro-chocalho".
Músicos egípcios. Esta
pintura de um túmulo de Tebas (cerca do décimo-quinto século a. C.) retrata
mulheres egípcias tocando instrumentos musicais e dançando. Da esquerda para a
direita vemos uma harpista, uma alaudista, uma dançarina, uma tocadora de flauta
dupla, e uma lirista com um instrumento de sete cordas. Note-se a pele de
leopardo decorando a parte inferior da armação da, harpa.
3. Címbalos. Os címbalos (metziltayim ou tziltzal) eram
feitos cobre e os únicos instrumentos de percussão na orquestra do templo.
Eram usados quando o povo
celebrará e louvava a Deus. Juntavam-se às trombetas e aos cantores para
expressar alegria e ações de graça ao Senhor (1 Crônicas 15:16; 16:5), Asafe,
músico-chefe de Davi (1 Crônicas 16:5), era tocador de címbalos. Quando o povo
voltou do cativeiro, os descendentes de Asafe foram chamados para juntar-se aos
cantores e às trombetas em louvor ao Senhor (Esdras 3:10).
Em passagens como 1 Crônicas 16:5, algumas versões traduzem o
hebraico por castanholas. Hoje é geralmente aceito que esta tradução é inexata
e deve ser címbalos.
4. Sistro-chocalho. Esta é a tradução correta para 2 Samuel
6:5. O sistro era uma pequena armação em forma de U com um cabo anexado ao
fundo da curva. Pedaços de metal ou outros objetos pequenos eram fixados em
cordéis sobre pequenas barras esticadas de um lado ao outro do sistro,
O uso do sistro remonta ao antigo Egito e tem contrapartes em
outras culturas antigas. Era meramente um fazedor de ruídos, tocado por
mulheres tanto nas ocasiões alegres como nas tristes.
5. Tamboril. Veja "Tamborim".
6. Tamborim. Os músicos modernos classificariam este
instrumento como um "membranofone" porque o som é produzido por uma
membrana vibratória. É corretamente
traduzido por tamboril ou
tamborim. Era carregado e batido com a
mão. Em tempos muito primitivos pode ter
sido feito com duas membranas, com pedaços de bronze inseridos na borda.
7. Gongo. O
"bronze" mencionado
em 1
Coríntios 13:1 era, realmente, um gongo de metal. Era usado
em casamentos e em outras ocasiões festivas.
B. Instrumentos de corda. Os arqueólogos têm encontrado
fragmentos de harpas e de outros instrumentos do Egito e de países
circunvizinhos do Oriente Próximo. A Bíblia descreve diversos instrumentos de
corda usados em Israel.
Alaúde. Esta placa de
terracota procedente do Iraque (cerca .de 2000 a. C.) retrata um músico tocando
um alaúde triangular de três cordas. Geralmente o alaúde era tocado por
mulheres e pode ter sido um dos "instrumentos de música" mencionados
em 1 Samuel 18:6.
1. Harpa. A harpa era um instrumento predileto da classe
aristocrática e era prodigamente feito (1 Reis 10:12; 2 Crônicas 9:11). Era
usada na orquestra do templo e foi indicada para "levantar a voz com
alegria" (1 Crônicas 15:16).
A
PARTITURA MUSICAL MAIS ANTIGA DO MUNDO?
Uma erudita recentemente trouxe a público uma evidência
controvertível ao sugerir que os antigos egípcios produziram partituras
musicais durante os mesmos séculos da construção da poderosa Esfinge, há cerca
de 4500 anos. Maureen M. Barwise afirma ter decifrado hieróglifos musicais que
remontam à quarta dinastia do antigo reino, aproximadamente 2600 a. C.
De acordo com sua tradução, a música era escrita basicamente
numa só linha melódica. As mais antigas peças musicais sagradas apresentavam
harpas e flautas acompanhadas por tamborins e baquetas de percussão, a que mais
tarde se juntaram trombetas, alaúdes e liras.
A Srta. Barwise alega que os músicos egípcios usavam uma
escala incompleta produzindo bela música a despeito de peculiaridades óbvias.
Ela observa que essa música era similar às antigas canções folclóricas
gaélicas, galesas e escocesas, com sons semelhantes da gaita de foles da
Escócia.
A pesquisadora empreendeu a tarefa incomum de reproduzir
diversas melodias, trans-pondo-as para a clave de sol. De acordo com Barwise,
os egípcios entendiam de compasso, tom, ritmo e de acordes harmônicos além da
melodia básica. As músicas adaptadas parecem cobrir uma variedade de tipos
musicais, que vai desde o um tanto jocoso "Beautíful Moon-Bird of the
Nile" até à um tanto imponente grande marcha "Honra ao forte braço de
Faraó".
A música egípcia era considerada sagrada. Portanto, sua
composição era estritamente governada por lei e não se desenvolveu muito no
decorrer dos séculos.
Os murais, os baixos-relevos e a literatura da antigüidade
mostram claramente que os egípcios eram hábeis musicistas. Muitos especialistas
crêem que esta música primitiva foi preservada em forma escrita, mas a teoria
arqueológica firmada sustenta que as melodias eram uma tradição oral.
A tradução que a Srta. Barwise fez dos hieróglifos para a
notação musical contesta a antiga escola de pensamento e sua erudição tem
encontrado um misto de aceitação. Alguns críticos concordam com a avaliação de
David Wulston de que o trabalho dela não passa de "uma extravagante
fantasia [construída] do mais inauspicioso material."
2. Alaúde. Este instrumento triangular de três cordas pode
ter sido um dos "instrumentos de música" mencionados em 1 Samuel
18:6. Geralmente era tocado por mulheres e estava excluído da orquestra do
templo.
3. Citara. Dois termos hebreus são traduzidos por citara. Um
é] mencionado em apenas um livro da Bíblia (Daniel 3:5,7,10,15). Esta citara
especial (nevel) era freqüentemente usada na música secular, tal como na folia
no banquete de Nabucodonosor. Era executada] tangendo-se as cordas com os
dedos.
Uma citara menor (kinnor) era considerada como o instrumento]
mais sofisticado. Sua forma e número de cordas variavam, mas todos] os tipos de
cítaras produziam um som muitíssimo agradável. A citara era usada em ambientes
seculares (Isaías 23:16), mas era também-,j aceita no uso sacro. É o
instrumento que Davi usou para acalmar o rei Saul. Geralmente, esta
"pequena citara" era executada ferindo-se as] cordas com um plectro
assim como o violão pode ser tocado com uma
palheta. Contudo, parece que Davi preferia usar a mão, em vez do plectro
(1 Samuel 16:16, 23; 18:10; 19:9). Os artífices habilidosos faziam cítaras de
prata ou de marfim e as decoravam com pródiga ornamentação.
CANÇÕES
QUE CONTAM HISTÓRIAS
Superficialmente, a música dos antigos gregos e hebreus
parecia ter pouco em comum. Os gregos cantavam de seus deuses e de batalhas
mitológicas; os hebreus, por outro lado, devotavam suas canções ao louvor do
único Deus. Mas há um elo importante entre a música grega e a hebraica, elo que
envolve poesia, cântico e religião. Esse elo é a epopéia.
Os estudiosos de literatura conhecem n epopéia como um poema
narrativo longo que apresenta os feitos dos deuses ou dos heróis tradicionais
de uma maneira dignificada. O oitavo século a. C. presenciou a criação de duas
grandes epopéias gregas: a "Ilíada" e a "Odisséia",
atribuídas a Homero. A "Ilíada" descreve o choque de armas entre
gregos e troianos "nas planícies ressoantes da Tróia ventosa". A
"Odisséia" relata as andanças cheias de aventura de Ulisses em seu
retorno à Grécia após a queda de Tróia.
Essas epopéias glorificam o valor heróico e as proezas
físicas. Também nos proporcionam muitos detalhes da vida cotidiana da Grécia
antiga.
Os gregos compuseram muitas de suas epopéias para música. A
música ajudava os narradores a recordar a letra das epopéias, que em geral eram
peças extremamente longas com dezenas de estrofes e muitos nomes de pessoas e
lugares. Rimando as linhas, os narradores achavam que podiam lembrar-se mais
facilmente da intricada história que tinham de contar.
Os gregos não usaram essas "canções de história"
como parte de seu culto. (Os templos gregos eram usados para abrigar os deuses
e não uma assembléia religiosa.) O uso da canção épica no culto começou com os
hebreus, séculos antes do serem escritas as epopéias gregas. Os mais antigos
cânticos de culto hebreus surgiram de um sentimento religioso para com Deus em
momentos importantes.
Por exemplo, o primeiro aparecimento de música de história de
que se tem registro foi quando Miriã, irmã de Moisés, cantou com alegria depois
que os judeus escaparam dos soldados de Faraó (Êxodo 15:19-21). Muitos dos
Salmos eram epopéias (p. ex., Salmos 114, 136-137) e os profetas algumas vezes
irromperam em cânticos épicos (p. ex., Isaías 26; Habacuque 3).
Os hebreus não adaptaram suas epopéias a melodias intricadas.
A variação tonal de seus cânticos provavelmente não era grande, e eles
selecionavam instrumentos de ritmo em vez de instrumentos melódicos. As
melodias dos Salmos e de outros cânticos históricos eram bem conhecidas nos
seus dias, e provavelmente eram cantadas em forma de versos pelos coros. É
evidente que os hebreus chegaram a considerar os cânticos de história como
parte essencial de seu culto. Sua música brotava da alma de um povo cuja vida
cotidiana era ordenada religiosamente.
4. Saltério. Veja "Harpa".
5. Sambuca. O livro de Daniel (ERC) refere-se com freqüência
à sambuca (Daniel 3:5,7, 10,15).
Não sabemos o formato e o tamanho exatos da sambuca. O
instrumento parece ter sido emprestado dos babilônios e assim não era comum entre
os instrumentos de Israel.
6. Viola. Veja
"Harpa".
C. Instrumentos de sopro. A despeito de seu limitado conhecimento
de trabalho em metal, os israelitas modelaram uma variedade de buzinas e de
outros instrumentos de sopro.
Liristas cativos. Três
liristas cativos (possivelmente judeus de Laquis) são levados através de uma
área montanhosa por um soldado assírio armado com clava e arco. A lira produzia
um som doce, ressonante quando suas cordas eram tangidas com um plectro (um
pedaço fino de osso ou metal). Este relevo de alabastro vem das ruínas do
palácio de Senaqueribe (704-681 a. C.) em Nínive.
1. Clarineta. A primitiva clarineta era um instrumento
popular nos j tempos bíblicos. È mencionada como flauta em Isaías 5:12; 30:29;
e Jeremias 48:36. As referências do Novo Testamento incluem Mateus] 9:23;
11:17; Lucas 7:32; e 1 Coríntios 14:7. A clarineta provavelmente! não era usada
no templo, porém era um instrumento popular em] banquetes, casamentos ou
funerais.
2. Cometa. Veja "Trombeta", "Shophar", e
"Sistro-chocalho".
3. Pífaro. O pífaro (mashrokitha) era realmente um tubo
grande. Pelai fato de ser um tubo grande e ter um bocal, ele produzia um som
agudo, penetrante, um tanto semelhante ao oboé.
O pífaro eral popular no uso secular e religioso, porém não é mencionado
como instrumento da orquestra do primeiro templo. Às vezes seu uso foi]
permitido no segundo templo. Devido ao seu som penetrante, era] usado em
procissão (Isaías 30:29 ERC).
4. Órgão. Veja
"Flauta".
5. Flauta. De modo geral, flauta se refere a um instrumento
de sopro que expressa exuberante alegria ou lamento extático. Geralmente se
acredita ter sido um instrumento secular, embora o Salmo 150:4 (ERC) mencione
seu uso no templo para uma celebração religiosa.
6. Shophar. O shophar
é mais bem entendido como "chifre d carneiro", como em Josué 6:4, 6,
8, 13. Destinava-se a fazer ruído, não música; daí não poder executar melodias.
Era usado para da| avisos e anunciar ocasiões especiais, como no caso da
transferência da arca (2 Samuel 6). Também era usado para afugentar espíritos
maus e deuses do inimigo (Zacarias 9:14-15).
7. Trombeta. A trombeta, semelhante ao shophar, era usada
pelos sacerdotes. Muitas vezes as trombetas se apresentavam aos parei (Números
10:1-10). Originalmente foram ordenadas
duas para templo; mas o número podia ser aumentado para 120, dependendo da sua
finalidade (2 Crônicas 5:12).
As trombetas eram feitas de osso, de concha ou de metais ―
bronze, cobre, prata, ouro ― todas produziam um som agudo e estridente.
Geralmente se crê que essas trombetas, como o shophar, não podiam produzir sons
em vários tons, de modo que produzissem música (melodia). Contudo, podiam
executar notas de legato, staccato e trinados. Assim, elas podiam dar sinais
complicados para anunciar reuniões, batalhas, e emboscadas.
Gideão usou trombetas para aterrorizar o inimigo (Juizes
7:19-20). João ouviu o som de uma trombeta antes de receber a visão do
apocalipse (Apocalipse 1:10). Na verdade, as trombetas estão entre os proeminentes
símbolos do Juízo (1 Coríntios 15:52; 1 Tessalonicenses 4:16; Apocalipse 8:2).
11.
RITUAIS DE CULTO
O povo de Israel adorava o Deus vivo de muitas formas e em
muitos lugares diferentes no decorrer do ano. É importante ver que impacto os
rituais de culto tinham sobre sua vida diária. Primeiro,
precisamos entender como o povo da Bíblia se sentia em relação ao Deus que
adoravam. Moisés disse ao povo de Israel: "Porque tu és povo santo ao
Senhor teu Deus: o Senhor teu Deus te escolheu, para que fosses o seu povo
próprio, de todos os povos que há sobre a terra" (Deuteronômio 7:6). Deus
os escolheu não por alguma coisa especial que tivessem feito ou pelo que
fossem, mas porque o Senhor os amava (Deuteronômio 7:7-8). Deus mostrou este
amor de muitas maneiras. Ele foi fiel à sua aliança (v. 9); destruiu os seus
inimigos (v. 10); abençoou as suas colheitas (v. 13); afastou deles as
enfermidades (v. 15).
Em resposta aos atos de Deus, os Israelitas foram um povo
grato. O salmista disse: "Bom é render graças ao Senhor, e cantar louvores
ao teu nome, ó Altíssimo, anunciar de manhã a tua misericórdia, e, durante as
noites, a tua fidelidade" (Salmo 92:1-2).
Eles viviam no temor de Deus. Conforme observou o sábio:
"O temor do Senhor é o princípio do saber" (Provérbios 1:7). Essas
respostas eram expressas em seu culto. Naturalmente, os israelitas responderam
a Deus com uma variedade de pensamento e emoção; mas estes dois elementos ―
gratidão e temor ― parecem tipificar o relacionamento do povo com Deus.
Também precisamos entender como Deus e Israel interagiam. Por
exemplo, era fácil ver a Deus na vida dos patriarcas. Ele capacitou Sara a ter
filhos em idade avançada (Gênesis 18:9-10). Provou a Abraão e poupou a Isaque
da morte (Gênesis 22). Falava com as pessoas e elas com ele (Gênesis 13:14-17;
15:2). Mas aos israelitas nunca foi permitido ver a Deus; Moisés teve de
esconder seu rosto da presença divina "porque temeu olhar para Deus"
(Êxodo 3:6).
Veremos como os israelitas expressaram sua gratidão e temor
ao Pai celestial, como o cultuavam.
ANTES
DO TEMPO DE MOISÉS
A primeira menção clara de um ato de culto encontra-se em
Gênesis 4:2-7: "Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavrador. Aconteceu
que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor.
Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho, e da gordura
deste." Os filhos de Adão e Eva reconheceram que Deus lhes havia dado
"todas as ervas" e "todos os animais" (Gênesis 1:29-30),
por isso lhe trouxeram ofertas simples. Não sabemos precisamente onde e como
foram feitas as ofertas. Somos informados, porém, de que trouxeram dois tipos
de oferta, e que a de Caim foi rejeitada enquanto a de Abel foi aceita.
Este breve relato conta-nos duas coisas muito importantes
acerca do culto: Primeira, Deus confirma a adoração. Não sabemos se ele havia
falado aos irmãos neste lugar especial antes deste dia. Mas neste dia Deus
falou (Gênesis 4:6), e agiu (Gênesis 4:4-5) enquanto adoravam. Deus santificou
esta hora para eles. Segunda, Deus é o ponto focai do culto. A Bíblia não faz
menção alguma de qualquer altar ou de quaisquer palavras proferidas por esses
homens. Não sabemos que orações eles podem ter oferecido. Mas sabemos o que
Deus fez; sua ação foi a parte vital do culto.
A Bíblia não diz por que Caim e Abel fizeram ofertas a Deus;
simplesmente que assim fizeram "no fim de uns tempos". Podemos supor
que desejavam agradecer o que Deus lhes dera. Sabiam que Deus os havia
abençoado e continuaria a abençoá-los. Por isso foram motivados não só pelos
acontecimentos passados, mas por suas esperanças futuras . Seus sacrifícios
foram feitos com duplo intento: gratidão pelo que Deus lhes havia dado e
confiança em que ele continuaria a dar. É importante lembrar ambos os aspectos
do culto e não negligenciar um ou o outro.
Altar de pedra. Encontrado
fora da porta que dá para Berseba, este altar de pedra é típico dos que eram
usados no Oriente Próximo para oferta de sacrifícios. Os israelitas deviam
oferecer sacrifício somente em Jerusalém, mas muitos desobedeciam a esta lei.
Não sabemos por que a oferta de Abel foi aceita e a de Caim
rejeitada. Desconhecemos quaisquer regulamentos com referência aos sacrifícios
nessa época. A pista pode estar no versículo 7: "Se procederes bem, não é
certo que serás aceito?" Em outras palavras, o caráter falho de Caim pode
ter tornado sem sentido o seu sacrifício. Este é o primeiro caso registrado de
sacrifício de animal. Com o passar do tempo, o povo aprendeu que Deus honrava e
aceitava suas ofertas sacrificiais.
Os patriarcas erigiam altares e faziam sacrifícios onde quer
que se estabelecessem (cf. Gênesis 8:20; 12:7-8). Erigiam, também, monumentos
de pedra. Jacó tomou a pedra que usou por travesseiro e a "erigiu em
coluna, sobre cujo topo entornou azeite" (Gênesis 28:18-22). Chamou-a
Betel, ou "casa de Deus".
Os patriarcas também designavam árvores sagradas (p. ex.,
Gênesis 12:6; 35:4; Deuteronômio 11:30; Josué 24:26), e poços sagrados (Gênesis
16:14). Estes elementos lembravam-lhes o que Deus havia feito em ocasiões especiais
de suas vidas.
Os patriarcas construíram altares simples de terra e de pedra
("altares de monte de pedras") para a matança de animais para
ofertas. Em realidade, a palavra hebraica geralmente traduzida como altar
(misbeach), literalmente quer dizer "lugar de matança".
Não parece ter havido sacerdócio formal no tempo dos
patriarcas, não obstante lemos de um notável encontro entre Abraão e
Melquisedeque, um misterioso "sacerdote do Deus Altíssimo". Alguns
eruditos especulam dizendo que Melquisedeque era um rei cananeu procedente de
Salém. Abraão encontrou-o depois de livrar alguns de seus parentes cativos
(Gênesis 14:17-20). Visto que Deus propiciou a Abraão efetuar o livramento, ele
respondeu com gratidão e adoração. Em vez de edificar um altar ou de oferecer
um sacrifício de animal, Abraão ofereceu o dízimo de tudo como sacrifício e
recebeu a bênção de Deus através do mediador, Melquisedeque. Esta misteriosa
figura é o primeiro sacerdote mencionado na Bíblia.
Havia outros sacerdotes nesta época? Se os havia, por que não
são citados? Talvez os patriarcas geralmente atuassem como seus próprios
sacerdotes. Eles eram 03 únicos que ofereciam sacrifício a Deus. Se, porém,
eles exerciam o ofício de clérigos para outros, tal fato não está claramente
afirmado.
Havia espontaneidade no culto dos patriarcas. No princípio
eles deixavam seus altares descobertos e expostos ao tempo; isto, certamente,
determinava a ocasião das cerimônias, visto como queimar era uma parte
essencial delas. Também, Deus agiu e falou quando quis, e os patriarcas não
podiam saber com antecedência quando Deus os chamaria ao culto. Considerando
que somente um punhado de pessoas cultuavam de uma vez, não havia necessidade
de programar o tempo do culto.
NO
TEMPO DE MOISÉS
Moisés inaugurou um novo período nas práticas de culto de
Israel ― período que se estendeu para muito além da vida do grande legislador.
Começou quando ele conduziu o povo de Israel para fora do Egito (1446 a. C),
porém a sua influência direta sobre a prática do culto estendeu-se por toda a
história dos judeus. Por questões práticas, nesta seção vamos concentrar-nos
sobre a influência de Moisés até ao tempo dos juizes (que terminou em 1043 a.
C. com a indicação de Saul como primeiro rei de Israel). Durante o tempo dos
juizes, o povo de Deus ainda adorava em tendas ou tabernáculos. Mas quando Davi
foi coroado rei, fizeram-se os planos para a construção do templo; nossa próxima
seção trata desse assunto.
Modelo do tabernáculo. Este
modelo construído pelo Dr. Conrad Schick mostra o tabernáculo, um santuário de
tenda móvel feito de acordo com instruções que Deus deu a Moisés no Monte
Sinai. Um compartimento especial do tabernáculo, chamado "santo dos
santos", era reservado como o lugar onde Deus habitava. Somente o sumo sacerdote
podia entrar neste lugar, e ele o fazia somente num dia do ano ― no dia da
Expiação.
A. O local de culto. Já mencionamos que Deus sancionou o uso
de altares de terra e pedra (Êxodo 20:24-26). Nos dias de Moisés, Deus também
sancionou um novo tipo de local de culto. Quando o grande legislador subiu ao
topo do Monte Sinai, recebeu muito mais do que os Dez Mandamentos. Dentre
outras coisas, ele recebeu uma planta para um local fechado de culto, com um
altar alojado numa tenda de pano. E difícil construir um quadro deste novo
local. Muitos artistas têm traçado suas impressões, baseadas nas descrições da
Bíblia; mas não há pleno acordo quanto ao plano do tabernáculo.
Não obstante, sabemos que este local de culto era muitíssimo
diferente dos altares erigidos a céu aberto. Em primeiro lugar, era muito mais
esmerado. Uma descrição do altar em si encontra-se em Êxodo 27:1-3: "Farás
também o altar de madeira de acácia: de cinco côvados será o seu comprimento, e
de cinco a largura, será quadrado o altar, e de três côvados a altura. Dos
quatro cantos farás levantar-se quatro chifres, os quais formarão uma só peça
com o altar; e o cobrirás de bronze. Far-lhe-ás também recipientes para
recolher a sua cinza; e pás, e bacias, e garfos, e braseiros; todos esses
utensílios farás de bronze."
Não somente os materiais eram diferentes dos materiais dos
primeiros altares, mas as ferramentas exigidas para fabricá-los e os utensílios
que o acompanhavam eram diferentes (cf. Êxodo 20:25). Há bom indício de que
Israel usou ambos os tipos de altares ― os externos e este no interior do tabernáculo
― nesta época. Por fim, erigiu-se no tabernáculo um altar mais permanente,
central.
Modelo da arca da aliança. A
arca era uma caixa retangular de madeira de acácia que continha as tábuas dos
Dez Mandamentos, um vaso de maná, e a vara de Arão. A tampa ou
"propiciatório" era uma lâmina de ouro circundada por querubins
dourados com asas estendidas. A arca erá símbolo da presença de Deus entre seu
povo.
A Bíblia também descreve a tenda que agora cobria o altar:
"Ora Moisés costumava tomar a tenda e armá-la para si, fora, bem longe do
arraial; e lhe chamava a tenda da congregação. Todo aquele que buscava ao
Senhor saía à tenda da congregação, que estava fora do arraial. Quando Moisés
saía para a tenda, fora, todo o povo se erguia, cada um em pé à porta da sua
tenda, e olhavam pelas costas, até entrar ele na tenda. Uma vez dentro Moisés
na tenda, descia a coluna de nuvem, e punha-se à porta da tenda; e o Senhor
falava com Moisés. Todo o povo via a coluna de nuvem que se detinha à porta da
tenda; todo o povo se levantava, e cada um à porta da sua tenda adorava ao
Senhor" (Êxodo 33:7-10). A tenda é descrita de novo em Êxodo 26. Com uma
descrição tão pormenorizada, pode parecer fácil exemplificar como era a tenda.
Mas não é. Seria tão desafiante como reproduzir um motor de automóvel se
tivéssemos apenas uma descrição verbal do projeto e realmente nunca tivéssemos
visto um motor.
Moisés falava com Deus nesta tenda. Embora a Bíblia não diga
que Moisés oferecia sacrifícios na tenda (cf. Êxodo 33:7-10), podemos supor que
o fazia, visto que era ali que estava o altar. Moisés buscava ao Senhor. O povo
sabia que Deus se encontrava com Moisés porque a "coluna de nuvem" se
detinha à porta da tenda. Este era um sinal conhecido da presença de Deus.
Moisés e seu servo Josué entravam na tenda sozinhos enquanto
as demais pessoas ficavam em pé e esperavam. Depois que Moisés adorou na tenda
pela primeira vez, ele voltou ao monte para receber novas tábuas da lei. Depois
ele desceu para transmitir a mensagem de Deus ao seu povo.
Em certo sentido, Moisés era
um "intermediário" entre Deus e os israelitas. Ele não era um
sacerdote formal, mas Deus o escolheu como seu mensageiro-líder. Podemos ver
aqui os começos do sacerdócio; porém o próprio Moisés não foi realmente chamado
de sacerdote até séculos mais tarde (cf. Salmo 99:6).
B. O sacerdócio. A esta altura, na história de Israel, passou
a existir um sacerdócio ordenado. De acordo com a ordem de Deus (Êxodo 28:1),
Moisés consagrou seu irmão Arão e aos filhos deste como sacerdotes. Estes
homens vinham da tribo de Levi. Deste ponto até aos tempos intertestamentários,
o sacerdócio oficial pertenceu aos levitas.
Moisés estabeleceu distinção entre Arão e seus filhos, pois
ele ungiu Arão como "sumo sacerdote entre seus irmãos" (Levítico
21:10). Ele distinguiu o ofício de Arão dando-lhe vestes especiais (Êxodo 28:4,
6-39; Levítico 8:7-9). Com a morte de Arão, as vestes e o ofício passaram para
Eleazar, seu filho mais velho (Números 20:25-28).
Escadaria das portas de
Hulda. Crêem os eruditos que os peregrinos podem ter cantado os cânticos de
romagem (ou dos . degraus) (Salmos 120-134) quando faziam suas viagens ao
locais sagrados na tradição israelita. Esta escadaria, descoberta no sul do
monte do templo e que dava para as portas de Hulda em Jerusalém, provavelmente
é a escadaria que os peregrinos subiam em seu caminho para os átrios interiores
do templo.
A função mais importante do sumo sacerdote era presidir no
dia anual de Expiação. Nesse dia, ele podia entrar no santo dos santos do tabernáculo
e espargir o propiciatório com o sangue das ofertas pelo pecado. Ao fazer isto,
ele expiava seus erros, os de sua família e os de todo o povo de Israel
(Levítico 16:1-25). O sumo sacerdote também devia espargir o sangue das ofertas
pelo pecado diante do véu do santuário e nos chifres do altar (Levítico
4:3-21).
Como chefe espiritual de Israel, o sumo sacerdote devia
atingir um grau mais elevado de pureza cerimonial do que os sacerdotes comuns. Levítico 21:10-15
delineia as exigências de pureza do sumo sacerdote. Qualquer pecado que ele
viesse a cometer era uma ruína para todo o povo de Israel. Ele tinha de fazer
expiação por tal pecado com uma oferta especialmente prescrita (Levítico
4:3-12).
O sumo sacerdote oferecia também a oferta diária de manjares
(Levítico 6:19-22) e participava dos deveres gerais do sacerdócio (Êxodo
27:21). Esses deveres eram muitos. Os sacerdotes presidiam a todos os
sacrifícios e festas. Serviam como conselheiros médicos da comunidade (Levítico
13:15), e eram administradores de justiça (Deuteronômio 17:8-9; 21:5; Números
5:11-13). Só eles podiam dar bênção em nome de Deus (Números 6:22-27) e tocar
as trombetas a fim de convocar o povo para a guerra ou para a festa (Números
10:1-10).
Os levitas serviam como sacerdotes desde a idade de 30 até 50
anos (Números 4:39) ou desde 25 até 50 anos (Números 8:23-26). Depois dos 50
anos, só lhes era permitido assistir seus colegas sacerdotes.
O dízimo do povo proporcionava alimento e vestuário para os
sacerdotes (Levítico 27:32-33); um décimo do dízimo era entregue aos sacerdotes
(Números 18:21, 24-32). Uma vez que a tribo de Levi não possuía território, 48
cidades com suas pastagens circunvizinhas foram dadas a eles (Números 35:1-8).
C. O Sistema sacrificial. A Bíblia contém muitos dos
regulamentos de Moisés para o sacrifício, mas os sete primeiros capítulos de
Levítico são totalmente dedicados ao ritual. Muitos eruditos consideram esta
seção como uma espécie de "manual do sacrifício". Ela descreve cinco
tipos de sacrifício: ofertas queimadas (holocaustos), ofertas de cereais
(manjares), ofertas pacíficas, ofertas pelo pecado, e ofertas por
transgressões.
1. Holocaustos. Este tipo de sacrifício era queimado
totalmente. Nada dele era comido por ninguém; o fogo o consumia todo. Na verdade,
o fogo nunca se extinguia: "O fogo arderá continuamente sobre o altar; não
se apagará" (Levítico 6:13).
O adorador trazia um animal macho ― um touro, um cordeiro, um
bode, um pombo, uma rola (dependendo em grande parte das posses do adorador) ―
à porta da tenda ou do templo. O animal tinha de ser sem mácula. Então o
adorador colocava as mãos sobre a cabeça do animal e era "aceito a favor
dele, para sua expiação" (Levítico 1:4). A imposição de mãos era um ato
cerimonial mediante o qual o adorador abençoava ou preparava o animal do
sacrifício. A seguir o animal era morto junto à porta. Imediatamente o
sacerdote recolhia o sangue e o espargia sobre o altar. (Os sacerdotes nunca
bebiam o sangue.) Em seguida, o sacerdote esquartejava o animal, oferecia a cabeça
e a gordura sobre o altar, depois lavava as pernas e as entranhas em água e as
oferecia. O que sobrasse podia ser atirado nas cinzas. (Por exemplo, isto
acontecia com as penas das aves.)
Além de colocar o animal sobre o altar, 09 sacerdotes eram
responsáveis por manter o fogo aceso. Não podiam deixar que as cinzas se
acumulassem no fundo do altar, mas de quando em quando as colocavam de lado.
Mais tarde, pegavam as cinzas e as levavam para fora do arraial ou da cidade
"a um lugar limpo". Para fazer isto, trocavam de roupa.
Posteriormente, na história de Israel, o holocausto passou a
ser um sacrifício oferecido de contínuo: "Esta é a oferta queimada que
oferecereis ao Senhor, dia após dia: dois cordeiros de um ano, sem defeito, em
contínuo holocausto" (Números 28:3). Conforme esta passagem indica, todos
os dias eram sacrificados dois animais. Um de manhã e outro ao cair da tarde.
Isto se fazia para expiar os pecados do povo contra o Senhor (Levítico 6:2). A
queima simbolizava o desejo da nação de livrar-se desses atos pecaminosos
contra Deus.
2. Ofertas de manjares. Além de animais, os israelitas
sacrificavam cereais ou produtos vegetais. Essas colheitas podiam ser
oferecidas independentemente dos holocaustos, ou juntamente com eles. A palavra
hebraica para "oblação" {minha) às vezes refere-se a essas ofertas de
manjares; outras vezes, minha refere-se a outros tipos de sacrifício.
O capítulo 2 de Levítico menciona quatro espécies de ofertas
de manjares e dá instruções para cozinhar cada uma delas. O adorador podia
oferecer um bolo de flor de farinha assado num forno, cozido numa assadeira,
feito numa frigideira, ou torrado. (O último método era usado para as ofertas
dos primeiros frutos ou primícias.) Todas as ofertas de manjares eram feitas
com azeite e sal; não se podia usar mel, e fermento. Além desses ingredientes
cozidos, o adorador devia, trazer uma porção de incenso. Também podia trazer
porções dos materiais não cozidos (grãos em seu estado natural, sal e azeite)
com a} oferta.
Os adoradores traziam ofertas de manjares a um de dois
sacerdotes, que as levava ao altar e atirava uma "porção memorial"
(do pão, do bolo, da obréia ou de ingredientes não cozidos) ao fogo. Ele fazia
a mesma coisa com o incenso. O sacerdote comia o restante; mas se era o próprio
sacerdote que fazia a oferta de manjares, ele queimava todo o sacrifício.
A finalidade da oferta de manjares parece ter sido semelhante
à i oferta queimada ― exceto no caso da oferta de "grão", que estava
vinculada à oferta das primícias (Levítico 2:14). Parece que o propósito da
oferta das primícias era santificar a colheita inteira. A oferta de
"grão" substituía o restante da colheita ― acentuando que toda
colheita era santa ao Senhor.
QUANDO
TIVERAM FIM OS SACRIFÍCIOS
Judea Capta ― "A Judéia
foi capturada" ― lia-se nas moedas cunhadas pelos romanos em comemoração
de sua vitória no ano 70 de nossa era. Milhares de judeus morreram na batalha;
milhares mais foram levados para o cativeiro; muitos outros preferiram deixar o
país. Seu centro de culto, o templo, foi destruído pelo fogo e a capital do
Judaísmo caiu.
Os imperadores romanos encaminharam o imposto do templo,
anteriormente coletado de todos os judeus, para o templo de Júpiter Capitolino
em Roma. Judeus tristes abstinham-se de comer carne e beber vinho, outrora
elementos do templo; achavam errado desfrutar daquilo que já não podia ser
oferecido a Deus.
Com o fim do culto no templo, o sacerdócio começou a
declinar. Embora os sacerdotes ainda pudessem receber ofertas movidas e
dízimos, suas receitas foram grandemente reduzidas. Esta perda de renda, somada
à perda de sua função no templo, resultou numa perda de influência e de
autoridade.
O Deuteronômio proibia altares e sacrifícios fora do lugar
escolhido, Jerusalém. Mas esta não era a primeira vez que os judeus se viram
privados de seu templo e do culto sacrificial; durante o exílio, o povo se
congregava regularmente para ler as Escrituras e discutir seu significado.
Essas sinagogas (em grego, "assembléias") após a destruição do templo
de novo se tornaram vitais para o Judaísmo.
O povo judeu reunia-se na sinagoga para orar, cantar e
estudar a Tora. A principal função da sinagoga era promover compreensão e a
devida observância da lei judaica. Em realidade, ela tornou-se a sede de um
governo espiritual que ordenava e disciplinava a vida das pessoas.
Após a destruição do templo, os sábios que interpretavam a
Lei chegaram a ser chamados de tannaim, e os que foram autorizados como
dirigentes receberam o título de rabi, ou "doutor da lei". Os sábios interpretavam as leis encontradas
no Pentateuco bem como as leis tradicionais, orais, chamadas halakoth. A
principal preocupação deles era a forma como essas leis afetavam a vida do
povo. Os adeptos do grande sábio Shammai eram conhecidos por suas interpretações
conservadoras, enquanto os seguidores do sábio Hillel aderiam a interpretações
mais liberais.
Jabne (a moderna Jâmnia) nas planícies ocidentais da Judéia
logo se tornou o centro do conhecimento judaico. Durante a guerra com Roma, o
sábio Joana ben Zakkai foi levado clandestinamente para fora de Jerusalém num
caixão de defunto. Ele dirigiu-se ao acampamento romano, onde pediu às
autoridades que permitissem a ele e a seus discípulos fixar-se na cidade
costeira de Jabne e aí estabelecer uma academia. Joana percebeu muito bem que a
única importante vitória a ser conseguida na guerra contra Roma era a
sobrevivência do Judaísmo. Se fosse necessário, uma tradição vitalizada poderia
tornar-se uma "pátria portátil" para os judeus. Jabne veio a ser o
novo centro dessa tradição.
Após a revolta de Bar-Kochba, em 135 A. D., o centro de
estudos judaicos mudou-se para Usha, na Galiléia, perto da moderna Haifa. Aqui
os sábios começaram a coligir e codificar o que havia das halakoth num
documento que veio a ser chamado Mishna.
Os sábios discordavam quanto à forma como se deveria
organizar as halakoth. Um grupo achava que elas deviam seguir a ordem dos
versículos bíblicos aos quais se referiam. Outro grupo, encabeçado pelo rabi
Akiba ben Joseph, era favorável a arranjar os ditos pelo assunto, forma que foi
finalmente adotada.
A tarefa de reunir a Mishna só foi completada na primeira
parte do terceiro século. A Mishna e a Gemam (comentário sobre a Mishna),
compreendem as principais partes do livro sagrado dos judeus, chamado Talmude.
Esta abrangente compilação do procedimento, dos costumes, das crenças e dos
ensinos judaicos ainda é reverenciada e estudada pelos eruditos judeus.
3. Ofertas pacíficas. Uma refeição ritual chamada
"oferta pacífica" era partilhada com Deus, com os sacerdotes e, às
vezes, com outros adoradores. Ela incluía machos e fêmeas do gado bovino, ovino
ou caprino. O procedimento era quase idêntico ao da oferta queimada. Neste
caso, o sangue do animal era recolhido e espargido ao redor do altar. A gordura
e as entranhas eram queimadas. O restante era comido pelos sacerdotes e (se a
oferta fosse voluntária) pelos próprios adoradores. Este sacrifício expressava
o desejo do adorador de dar graças ou louvor a Deus. Às vezes, exigia-se dele
que fizesse isto; de outras vezes, podia fazê-lo espontaneamente.
As ofertas exigidas incluíam bolos não levedados. Os
sacerdotes tinham de comer tudo no mesmo dia em que o sacrifício era feito,
exceto a porção memorial dos bolos e os restos do animal.
Quando a oferta era voluntária, os regulamentos não eram tão
estritos. Os adoradores não precisavam trazer bolos e podiam comê-los em dois
dias, e não apenas um. A porção do sacerdote limitava-se ao peito e à coxa
direita do animal, enquanto qualquer pessoa cerimonialmente limpa podia comer
do restante.
Jacó e Labão ofereceram este tipo de sacrifício quando
fizeram um tratado (Gênesis 31:43ss.). Alguns eruditos chamam este sacrifício
de "oferta de voto". As "ofertas de gratidão" e as
"ofertas voluntárias" seguiam o mesmo padrão geral. O sacrifício de
Saul (1 Samuel 13:8ss.) enquadrava-se na última categoria; embora "forçado
pelas circunstâncias" a fazê-lo, por certo não se exigia dele que o
fizesse. (De fato, Samuel censurou-o, dizendo que o ato era ilegal.) As ofertas
de voto e de gratidão eram exigidas, ao passo que as ofertas voluntárias não o
eram.
4. Ofertas pelo pecado. Os sacrifícios pelo pecado
"pagavam" ou expiavam as culpas rituais do adorador contra o Senhor.
Essas culpas eram involuntárias. "Disse mais o Senhor a Moisés: Fala aos
filhos de Israel, dizendo: Quando alguém pecar por ignorância contra qualquer
dos mandamentos do Senhor, por fazer contra algum deles o que não se deve
fazer" (Levítico 4:1-2, itálicos acrescentados). Moisés instruiu várias
pessoas a oferecerem sacrifícios diferentes nestes casos.
Os pecados do sacerdote eram expiados com a oferta de um
novilho. O sangue não era derramado sobre o altar, mas espargido pelo dedo do
sacerdote sete vezes sobre o altar. A gordura das entranhas era queimada em seguida.
Os restos eram queimados, não comidos, fora do arraial ou cidade "a um
lugar limpo, onde se lança a cinza".
Os pecados dos príncipes ou dirigentes da comunidade eram
expiados com a oferta de um bode. O sangue era espargido somente uma vez, ei o
restante derramado ao redor do altar como na oferta queimada.
Os pecados de qualquer pessoa eram expiados com cabras,
cordeiras,! rolas ou pombas. Se alguém não tinha condições de oferecer nenhum?
desses animais, a oferta de grão era aceitável. O procedimento para a oferta de
cereal era o mesmo da oferta de manjares.
Seria impossível citar todas as formas pelas quais uma pessoa
podia cometer um pecado por ignorância contra Deus. Alguns tinha mi implicações
morais. Outros, como no caso dos leprosos (cf. Lucas] 5:12ss.), eram puramente
cerimoniais. Outro exemplo de sacrifício] por uma falta cerimonial seria a
oferta que uma mulher fazia após ter] dado à luz, a fim de recuperar sua pureza
cerimonial (Levítico 12). As ofertas pela nação e pelo sumo sacerdote cobriam
todos estes pecados de um modo coletivo. No dia da Expiação (Yom Kippur), o
sumo sacerdote espargia sangue sobre a própria arca da aliança. Este era o
supremo ritual da expiação.
A
IDOLATRIA DE JEZABEL
Jezabel, filha de Etbaal,
rei de Sldom, foi criada em Sidom, foi criada em Sidom, cidade comercial na
costa do Mar Mediterrâneo. Sidom era tida como centro de vícios e impiedades.
Quando Jezabel se casou com Acabe, rei de Israel, mudou-se para Jezreel, cidade
que servia ao Senhor. Jezabel decidiu logo transformar Jezreel num» Cidade
semelhante à sua cidade natal.
Jezabel tentou convencer o marido a começar a servir ao
bezerro de ouro, sob o pretexto de que tal culto realmente seria uma adoração
no Senhor. Na verdade, o bezerro era um ídolo central do culto a Baal, um
deus-sol Importante para os antigos fenícios. Visto como se acreditava que Baal
tinha poder sobre as colheitas, sobre os rebanhos e sobre a fertilidade da»
famílias agrícolas, o bezerro de ouro multas vezes era associado com Baal. Como
o culto a este deus se espalhou pelos países fronteiriços da Fenícia, outros
povos também adotaram os ritos lascivos da religião, os quais incluíam
sacrifícios humanos, autotortura, e beijar a imagem. As práticas do culto de
Baal escandalizavam os judeus piedosos, mas pelo fato de Acabe ser facilmente
manipulado por Jezabel, logo se ergueram em todo o Israel os belos templos em
honra de Baal.
Os sacerdotes do Senhor opunham-se a Jezabel; muitos deles
foram assassinados. Mesmo o grande profeta Elias fugiu de sua ira (1 Reis
18:4-19).
Em seu esforço por apagar o nome de Deus em todo o Israel,
Jezabel tornou-se a primeira perseguidora religiosa na história bíblica. Com
tanta eficácia ela injetou o veneno da idolatria nas veias de Israel que a
nação sofreu.
Elias disse: "Os cães comerão a Jezabel dentro dos muros
de Jezreel" (1 Reis 21:23). Esta profecia cumpriu-se; somente a caveira,
os pés c as palmas das mãos de Jezabel ficaram para ser sepultadas (2 Reis
9:36-37).
O coração dos israelitas deve ter amadurecido para a
idolatria, do contrário Jezabel não teria podido perverter tanto a religião
deles. O rei Acabe cometeu grave pecado contra Deus ao casar-se com ela, porque
Jezabel adorava a Baal (1 Reis 21:25-26).
5. Ofertas pela culpa. A oferta pela culpa era semelhante à
oferta pelo pecado, e muitos estudiosos do assunto incluem-na na primeira
categoria. Sua única diferença estava em que a oferta pela culpa era feita em
dinheiro. Este sacrifício era feito pelos pecados cometidos por ignorância,
relacionados com fraude. Por exemplo, se o adorador, sem premeditação,
defraudasse alguém, em dinheiro ou propriedade, seu sacrifício devia ser igual
ao valor da quantia tomada, acrescentada de um quinto. Ele oferecia esta soma
ao sacerdote, depois fazia uma restituição semelhante ao ex-dono da
propriedade. Portanto, ele restituía duas vezes o que havia tomado, mais 40%
(Levítico 6:5-6).
Todos esses sacrifícios relacionavam-se diretamente ou com a
expiação (remoção da culpa) ou com a propiciação (manter o favor de Deus). Eles
lembram-nos igualmente as duas fortes emoções em todo culto: temor e gratidão.
D. O ano ritual. O povo de Israel adorava a Deus nas ocasiões
pelo Senhor determinadas ou sempre que "o buscavam". Mas, sob a
liderança de Moisés, o culto tornou-se obrigatório em certas ocasiões do ano. O
povo começou a observar o sábado e outros dias indicados de adoração.
Os mais importantes eventos do calendário ritual eram as três
grandes festas dos peregrinos ― a Páscoa, a Festa das Semanas (Pentecoste), e a
Festa dos Tabernáculos (ou Tendas). Em cada uma dessas ocasiões, os varões
israelitas iam ao lugar central de culto para oferecer sacrifícios a Deus.
1. O sábado. Não parece ter havido observância alguma de um
dia especial de descanso entre os hebreus até ao tempo de Moisés. A primeira
menção do sábado encontra-se em Êxodo 16:23, quando os hebreus se acamparam no
deserto de Sim antes de receberem os Dez Mandamentos. Ali Deus os instruiu a
observar o sábado de sete em sete dias, em honra da obra da criação (Êxodo
20:8-11; cf. Gênesis 2:1-3) e do livramento de Israel do cativeiro
(Deuteronômio 5:12-15; cf. Êxodo 32:12). O sábado apartava os israelitas do
trabalho e de qualquer outra atividade comum (Êxodo 35:2-3); assim, o dia
lembrava-lhes a separação de Israel das nações vizinhas, e sua relação com Deus
como um povo da aliança.
Grande parte da matéria legal dos primeiros cinco livros da
Bíblia relaciona-se com a guarda do sábado. Quebrar o sábado era como quebrar a
aliança de Israel com Deus; por isso, a quebra era punível com a morte (Números
15:32-36). Dois cordeiros eram sacrificados no sábado, ao contrário de um cordeiro
nos outros dias (Números 28:9). Doze pães da proposição (representando as 12
tribos de Israel) eram apresentados no tabernáculo no sábado (Levítico 24:5-8).
2. A Páscoa e a festa dos pães asmos. Durante as grandes
festas de peregrinação de Israel, todos OS homens eram obrigados a
apresentar-se diante do santuário do Senhor (Deuteronômio 16:16). A primeira e
mais importante destas comemorações era a festa da Páscoa. Ela combinava duas
observâncias que originalmente eram separadas: a Páscoa, a noite celebrada em
memória da passagem do anjo da morte sobre as famílias dos hebreus no Egito, e
a festa dos Pães Asmos, que comemorava os primeiros sete dias do Êxodo. As duas
celebrações estavam estreitamente entrelaçadas. Por exemplo, o fermento devia
ser removido da casa antes de ser morto o cordeiro pascal (Deuteronômio 16:4).
Portanto, a refeição da Páscoa era de pão sem fermento (Êxodo 12:8).
Finalmente, o povo de Israel fundiu em uma as duas celebrações.
Este grande festival começava na noite do décimo-quarto dia
de abibe (que teria sido considerado o começo do décimo-quinto dia). O cordeiro
ou cabrito era morto ao crepúsculo (Êxodo 12:6; Deuteronômio 16:6) e era assado
inteiro e comido com pão sem fermento e ervas amargas. A cerimônia era cheia de
simbolismo: O sangue do animal simbolizava a purificação de pecados. As ervas
amargas representavam a amargura da escravidão no Egito. E o pão asmo era
símbolo de pureza.
Famílias inteiras participavam da ceia da Páscoa. Se a
família era pequena, os vizinhos se juntavam a ela até que houvesse número
suficiente para comer todo o cordeiro (Êxodo 12:4). O chefe da casa recitava a
história de Israel durante a refeição.
O primeiro e o sétimo dias da celebração eram guardados como
sábados: não havia trabalho algum e o povo se congregava para uma assembléia
santa (Êxodo 12:16; Levítico 23:7; Números 28:18, 25). No segundo dia da festa,
o sacerdote movia um feixe da primeira cevada colhida, perante o Senhor, para
consagrar o começo da colheita. Além dos sacrifícios regulares no santuário, os
sacerdotes sacrificavam diariamente dois novilhos, um carneiro, e sete
cordeiros como oferta queimada e um bode como oferta pelo pecado (Levítico
23:8; Números 28:19-23).
3. A Festa das Semanas
(Pentecoste). Esta festa era observada 50 dias após a oferta do feixe de cevada
na festa dos pães asmos. Ela assinalava o fim da colheita e o começo da oferta
sazonal das primícias (Êxodo 23:16; Levítico 23:15-21; Números 28:26-31;
Deuteronômio 16:9-12). Este festival de um dia era observado como sábado, com
uma santa convocação no tabernáculo. Eram oferecidos dois pães sem fermento, ao
lado de dez animais próprios para oferta queimada, um bode para oferta pelo
pecado, e dois cordeiros de um ano para oferta pacífica. Os sacerdotes
insistiam com o povo para que neste festival se lembrasse de ter sido um povo
necessitado (Deuteronômio 16:11-12), como o deviam fazer em todas as festas de
peregrinação.
A rocha sagrada. Atualmente
no centro da mesquita de Ornar (completada em 691 A. D.), esta rocha está
situada no local dos templos de Salomão e de Herodes. Muitos acreditam que a
rocha outrora formava a base do altar judaico. O local é sagrado também para os
muçulmanos, que crêem ter sido deste ponto que Moamé ascendeu ao céu.
4. A Festa dos Tabernáculos (Tendas). Esta festa comemorava a
peregrinação de Israel no deserto. Ela recebe seu nome do fato que os
israelitas viviam em tendas ou sob ramos de árvores durante a celebração
(Levítico 23:40-42). A festa começava no décimo-quinto dia do sétimo mês (tisri),
e durava sete dias. Ela caía no fim da época da colheita ― daí um terceiro nome
para a festividade, a "Festa da Colheita" (Êxodo 23:16; 34:22;
Levítico 23:39; Deuteronômio 16:13-15). O sacerdote oferecia uma oferta
queimada especial de 70 novilhos durante a semana. Dois carneiros e 14
cordeiros eram o holocausto diário, e um bode a oferta diária pelo pecado
(Números 29:12-34).
Todo sétimo ano, quando não havia colheita por causa do ano
sabático, a Lei de Moisés era lida publicamente durante a festa. Tempos mais
tarde, foi acrescentado outro dia à Festa das Tendas para este fim. Era
conhecido como Simhath Torah ("Alegria da Lei"), em homenagem à Lei.
5. O Dia da Expiação. A lei de Moisés exigia somente um jejum
― o Dia da Expiação (Êxodo 30:10; Levítico 16; 23:31-32; 25:9; Números
29:7-11). Este dia caía no décimo dia de tisri, exatamente antes da Festa das
Tendas.
O dia era separado para a purificação de pecados. Era
observado abstendo-se de trabalho,
jejuando e comparecendo a uma santa convocação. O sumo sacerdote trocava suas
vestes esmeradas por; uma vestimenta simples de linho branco e oferecia uma
oferta por si próprio, pela sua casa e por toda a nação de Israel.
Um aspecto interessante da observância do dia era que o sumo
sacerdote simbolicamente transferia os pecados do povo para um bode, ou bode
emissário. O sacerdote punha as mãos sobre a cabeça do bode e confessava os
pecados do povo. Então o bode era levado ao deserto, onde era abandonado para
morrer. (Em tempos posteriores, um assistente conduzia o bode para fora de
Jerusalém e o arrojava de um dos penhascos que havia ao redor da cidade.) Este
ato encerrava os ritos do Dia da Expiação, O povo, livre do pecado, dançava e
regozijava-se (cf. Salmo 103:12).
Bacia ritual. Os sacerdotes
lavavam nesta bacia vários objetos de culto para obter pureza cerimonial. Os
antigos hebreus consideravam a pureza um atributo tanto físico como moral.
Pessoas enfermas e os objetos que elas tocavam eram tidos como impuros
(Levítico 15:22).
DA
MONARQUIA AO EXÍLIO
Os padrões de culto de Israel mudaram perceptivelmente desde
o tempo da monarquia (que começou quando Saul se tornou rei, em 1043 a. C.) até
ao tempo do Exílio (que começou quando os babilônios capturaram Judá no ano 586
a. C).
Antes disto, o povo de Israel adorava a Deus em muitos
lugares diferentes; no governo dos reis, o culto concentrava-se num lugar
central de sacrifício. Antes, uma pessoa podia fazer uma oferta sob o impulso
do momento; agora, ela tinha de seguir os procedimentos estabelecidos pela lei
de Moisés.
A. O templo. O primeiro rei de Israel, Saul, parece ter
ficado confuso acerca do modo próprio de cultuar. Às voltas com a derrota certa
nas mãos dos filisteus, ele retrocedeu ao antigo sistema. Edificou um altar ali
mesmo no seu acampamento e pediu a ajuda de Deus. Samuel chegou logo depois
para adverti-lo do mandamento do Senhor de
não adorar "em todo lugar" (1
Samuel 13:8-14; cf. Deuteronômio 12:13).
Sob a liderança de Davi, Israel, como nação, se tornou mais
forte e mais rica. Depois de construir um grande palácio de cedro, pareceu
errado a Davi que ele morasse em casa de cedros, e a arca de Deus se achasse
numa tenda (2 Samuel 7:2). Portanto, com a bênção do profeta Nata, Davi reuniu
materiais e comprou o local para um templo, uma casa de Deus (2 Samuel
24:18-25; 1 Crônicas 22:3). Contudo, ele não iria construir o templo (1
Crônicas 22:6-19), mas seu filho Salomão.
Os capítulos 6 e 7 do primeiro livro dos Reis e os capítulos
3 e 4 do segundo livro das Crônicas contêm descrições do templo. Há urra
notável semelhança entre o templo de Salomão e os planos do tabernáculo (Êxodo
25-28). Por exemplo, cada um deles tinha de câmaras ou pátios. Os altares do
templo eram de bronze com utensílios semelhantes aos do tabernáculo. A maioria
das representações gráficas do templo incluem degraus que levam a um alpendre
com duas colunas de cada lado de uma porta. Dentro da menor estava a arca
da aliança. Uma espécie de galeria para armazenar o
tesouro nacional circundava todo o edifício.
B. Sacerdotes, Profetas e Reis. No tempo de Moisés
desenvolveu-se um sacerdócio formal na tribo de Levi. Contudo, sob a monarquia,
houve exemplos de sacerdotes não levíticos (2 Samuel 8:17; 20:25; 1 Reis 4:4).
Em 1 Reis 12:31 lemos que Jeroboão, o primeiro rei do reino do norte,
constituiu seu próprio sacerdócio: "sacerdotes, que não eram dos filhos de
Levi".
As atribuições sacerdotais foram muito especializadas durante
a monarquia. Por exemplo, um grupo incumbia-se do altar, e outro estava
encarregado do azeite das lâmpadas.
Mas o povo reconhecia que Deus tinha outros porta-vozes além
dos sacerdotes. Quando o povo quis um rei, dirigiram-se a Samuel, o profeta.
Que papel desempenharam os profetas no culto de Israel?
Sabemos que os profetas davam conselho aos reis (1 Reis 22),
mas também falavam ao povo nos santuários. Havia, realmente, um "ofício de
profeta" formal, como havia um sacerdócio distinto; Amós no-lo diz,
negando que pertencia ao corpo de profetas (Amós 7:14).
Os dois grupos ― sacerdotes e profetas ― tinham diferentes
propósitos e funções. Por exemplo, a Bíblia não fala com freqüência sobre
profetas no culto; ela fala mais vezes das críticas que faziam das
PRÁTICAS
DE CULTO.
O rei também desempenhava importante papel no culto de
Israel; alguns dizem que seu papel era o mais importante de todos. Quando ele
se comunicava com Deus, a nação inteira sentia o impacto (2 Samuel 21:1). O
sumo sacerdote ungia o rei para significar que Deus o escolhera para sua tarefa
real (cf. 1 Samuel 10:1). Como representante ungido do povo, o rei tinha de
fazer sacrifícios (1 Reis 8; 2 Samuel 24:25). Ele reunia materiais para o
templo e ordenava a construção. No fim, ele tinha poder de afetar tudo o que
Israel fazia concernente ao culto. Alguns dos últimos reis profanaram as
atividades do templo com rituais e ídolos estrangeiros. Mas outros forçaram uma
volta aos modos próprios de culto.
A compreensão que o povo tinha do sacrifício foi desafiada
neste período. Vejam-se estas palavras do profeta Miquéias: "Com que me
apresentarei ao Senhor, e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele
com holocaustos? com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de
carneiros? de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha
transgressão? fruto do meu corpo pelo pecado da minha alma?" (Miquéias
6:6-7). Os israelitas tinham de reconhecer que o motivo é mais importante do
que o próprio ato de sacrifício. Eles precisavam ver que o Senhor não exige
grandes sacrifícios por amor aos sacrifícios, mas requer justiça, misericórdia
e humildade (Miquéias 6:8). Esta distinção tinha efeitos de longo alcance.
Nem toda a matança de animal agora era considerada como
sacrificial. O povo podia matar e comer quanto quisesse; mas não podia comer o
dízimo do grão, das primícias, ou de qualquer outro sacrifício. Começaram a
considerar alguns atos de matança como sagrados, enquanto outros eram
seculares.
Diagrama do templo em
Araq-el-Emir. Esta reconstrução de um templo judaico edificado pelos macabeus
sob João Hircano baseia-se nos achados de escavações no local. A fachada do
edifício erigido no começo do segundo século a, C, foi decorada com enormes
figuras de leões em relevo. O interior retangular exibia quatro sala» de canto,
uma das quais era uma torre com escada». Em tempos posteriores, o templo de
Salomão foi profanado de várias formas por infiéis reis judaicos (cf. 1 Reis
14:26; 2 Reis 12:4-15; 16:8; 18:15-16; 21:4; 23:1-12). Finalmente,
Nabucodonosor o destruiu no ano 586 a. C.
C. Festas. As principais festas deste período ainda eram a
das Semanas, a dos Pães Asmos (Páscoa) e a das Tendas. O comparecimento do povo
ainda era obrigatório, mas todas elas eram realizadas em Jerusalém. (Outrora,
eram realizadas em qualquer lugar onde se encontrasse a arca da aliança.)
Geralmente, o culto durante a monarquia era realizado numa
atmosfera de regozijo. Havia música, gritaria e danças. Mas o culto também se
caracterizava por orações, votos, vigílias, promessas, refeições sagradas e
lavagens rituais.
As influências estrangeiras começaram a infiltrar-se no culto
de Israel e os profetas as denunciaram em alta voz. Amós clamou contra a quebra
da lei ritual (Amós 2:8), contra a prostituição ritual (Amós 2:4), e contra o
culto que não era acompanhado de arrependimento (Amós 4:4-6). Ele disse que
Deus desprezava as festas de Israel (Amós 5:21-24). Os profetas também
denunciaram a idolatria no culto de Israel (2 Reis 18:4; Isaías 2:8, 20; Oséias
8:4-6; 13:1-2). Mesmo o próprio templo ― seus móveis e utensílios, simbolismos
e padrões de culto ― mostravam influências cananéias, fenícias e egípcias.
A reforma levada a efeito pelo rei Josias (639-608 a. C.)
aboliu os altares locais e acabou com as famílias sacerdotais locais. Todos os
sacrifícios eram novamente feitos em Jerusalém. Josias suprimiu os cultos
locais e todos os ritos idolatras (2 Reis 23:4-25). Após a sua morte, porém,
Judá voltou a fazer o que era mau perante o Senhor (2 Reis 23:32, 37).
O
EXÍLIO E O PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO
No ano 586 a. C, Nabucodonosor saqueou Jerusalém e destruiu o
templo santo que Salomão havia edificado. Agora os israelitas não poderiam
cultuar como o faziam antes; foram obrigados a mudar seu modo de culto. Este
período de exílio começou com o que podíamos chamar de "últimos anos"
do culto de Israel.
A Bíblia diz pouca coisa sobre o que aconteceu no local do
templo enquanto os judeus se encontravam no exílio. O "templo" de
Ezequiel foi, provavelmente, uma visão. Porém, Ciro da Pérsia ordenou aos
israelitas que construíssem "uma casa [a Deus] em Jerusalém de Judá"
(Esdras 1:2). Ciro também lhes restituiu os vasos sagrados de ouro e de prata
que Nabucodonosor havia levado como despojo (Esdras 5:14).
De muitas maneiras, pois, o segundo templo seria como o de
Salomão. Mas a arca da aliança foi permanentemente perdida durante a invasão
babilônia. Somente um pequeno grupo de israelitas restaurou o templo, por isso
o capital e a mão-de-obra foram mínimos. O novo edifício era menor e menos
adornado do que fora o de Salomão. Não obstante, seguia as linhas descritas por
Moisés em Êxodo 25-28.
Evidentemente, todo o culto judaico centralizava-se no novo
templo. A Mishna diz que os Salmos estavam em grande uso nessa época. Os salmos
de romagem (120-134) eram cantados na Festa das Tendas, e os salmos de hallel
(113-118; 136) eram usados em todas as grandes festas.
Os judeus achavam estar sob o peso da ira e do juízo de Deus.
Para reparar a culpa, eles começaram novamente a fazer ofertas e sacrifícios.
Os levitas encontravam-se entre os primeiros a regressar a
Judá: "Então se levantaram os cabeças de famílias de Judá e de Benjamim, e
os sacerdotes e os levitas, com todos aqueles cujo espírito Deus despertou,
para subirem a edificar a casa do Senhor, a qual esta em Jerusalém"
(Esdras 1:5). Note-se que as Escrituras dizem sacerdotes e levitas", como
se os dois não mais fossem sinônimos. Nem todos os levitas eram agora
considerados sacerdotes - só o eram os descendentes de Arão. Durante a
monarquia outros ramos da tribo de Levi tinham sido aceitos como sacerdotes. Mas
após o exílio, todos os que alegavam ser sacerdotes tinham de provar que
descendiam de Arão antes de serem admitidos no ofício (Esdras 2:61-63; Neemias
7:63-65).
Outros funcionários do templo que regressaram foram os
cantores os porteiros, os servidores do templo (Nethinitn), e os filhos dos
servos de Salomão (Esdras 2:41-58; cf. 7:24; Neemias 7:44-60). O livro das
Crônicas refere-se aos cantores e porteiros como levitas mas eles eram de
origem estrangeira. Eram descendentes de cativos de guerra que assistiam os
levitas no templo de Salomão. No tempo de Neemias essas pessoas juraram que
"andariam na lei de Deus e não se casariam com estrangeiros (Neemias
10:28-30).
Neste período pós-exílio ocorreu uma mudança muito importante
Levítico 10:10-11 deu aos sacerdotes responsabilidade tanto pela instrução
moral como pelas questões cerimoniais, mas o papei docente dos sacerdotes
parece ter desaparecido. Ocorre somente uma menção de ensino sacerdotal após o
exílio (Ageu 2:10-l3). Na verdade, o profeta Malaquias queixou-se de que os
sacerdotes de seu tempo falharam neste importante aspecto (Malaquias 2:7-8).
Levitas que não os sacerdotes instruíam o povo no tocante a Lei (Neemias 8:7).
O sacerdote tornou-se uma entidade semelhante ao rei, combinando funções tanto
religiosas como cívicas.
Sacrifício samaritano. Os
samaritanos ainda oferecem sacrifícios segundo a lei de Moisés, quase como os
que fizeram seus antepassados. Aqui são oferecidos cordeiros no monte Gerizim
em comemoração da Páscoa.
A jubilosa atmosfera dos antigos rituais cedeu lugar a uma
atmosfera de gravidade e remorso. As festas rituais tinham sido principalmente
refeições sociais; agora passaram a ser períodos de introspecção inspiradores
de temor. Após o exílio os israelitas buscavam aprender como poderiam ser mais
obedientes à aliança de Deus.
Um novo e mais alegre festival ― a festa de Purim ― foi
acrescentado às observâncias cerimoniais neste período. Esta festa realizava-se
nos dias 14 e 15 do mês de adar para comemorar o livramento dos judeus das mãos
de Hamã enquanto viviam sob o governo persa. Desde o tempo do exílio os judeus
têm observado esta festa em reconhecimento do contínuo livramento de Deus para
com o seu povo.
A observância do Purim seguia uma norma fixa. O dia 13 de
adar era dia de jejum. No crepúsculo daquele dia (que é o começo do dia 14), os
judeus congregavam-se para um culto nas suas sinagogas. Após o culto, lia-se o
livro de Ester.
Ao ser lido o nome de Hamã, o povo clamava. "Seja
apagado o seu nome", ou "O nome do perverso apodrecerá". Os
nomes dos filhos de Hamã eram todos lidos de um só fôlego, para acentuar o fato
de que todos foram enforcados ao mesmo tempo.
Na manhã seguinte o povo ia novamente à sinagoga a fim de
concluir a observância religiosa formal. O restante do dia era dedicado ao
folguedo. Como em outras observâncias festivas, os ricos eram convocados a
prover para os pobres.
No ano 333 a. C, Alexandre Magno começou a conquista da
Síria, do Oriente Médio e do Egito. Após sua morte em 323 a. C, seus generais
dividiram entre si as terras conquistadas. Após muitos anos de discórdias
políticas, assumiu o controle da Palestina uma linha de reis sírios conhecidos
como selêucidas. O governante selêucida por nome Antíoco IV impôs sua vontade
aos judeus proibindo-os de participar dos sacrifícios, ritos, festas e culto de
qualquer natureza.
Em 167 a. C, um oficial sírio levou ao templo um judeu e
obrigou-o a oferecer sacrifício a Zeus. Um sacerdote por nome Matatias
presenciou o acontecimento. Ele matou a ambos, exigiu que todos os judeus fiéis
o seguissem e fugiu para as colinas fora de Jerusalém. Aqui ele e seus filhos
organizaram-se para a guerra contra os selêucidas. Desceram contra Jerusalém,
derrotaram o exército sírio, e tomaram a cidade. Os dirigentes sírios foram
obrigados a revogar suas ordenanças contra o culto em Israel. Agora o templo
poderia ser purificado e o verdadeiro culto restaurado. (O relato bíblico deste
período pode ser encontrado nos livros deuterocanônicos de 1 e 2 Macabeus.) Os
judeus atuais lembram-se deste grande evento na festa da Dedicação ou
Hannukkah. O próprio Jesus estava em Jerusalém por ocasião de uma celebração de
Hannukkah, perto do fim de seu ministério terrena! (João 10:22). Esta festa que
dura oito dias é celebrada no vigésimo quinto dia do mês de quisleu, também
conhecida como Festa das Luzes; é marcada pelo acendimento de oito velas ― uma
em cada dia da festa. A celebração inclui o cântico dos salmos de hallel e é um
tanto semelhante à festa das Tendas.
Sob o governo dos macabeus, os judeus cultuavam de uma
maneira nacionalista. Suas esperanças de uma terra governada por Deus trouxeram
nova ênfase ao culto, tal como o uso de literatura apocalíptica. A profecia ia
diminuindo aos poucos à medida que a literatura apocalíptica lhe tomava o lugar.
Um escritor apocalíptico expressou desta forma suas esperanças de um reino
terrenal de Deus: "E agora, ó Senhor, eis que estes pagãos, que têm sido
reputados por nada, começaram a ser senhores sobre nós, e a devorar-nos. Nós,
porém, teu povo, a quem tu chamaste de teu primogênito, teu unigênito, e teu
fervente amante, somos entregues nas mãos deles. Se o mundo agora é feito por
nossa causa, por que não possuímos uma herança com o mundo? até quando durará
isto?" (2 Esdras 6:57-59). Todavia, durante este período o vidente ou
apocaliptista falava por Deus. Ele falava de demônios e anjos, de trevas e luz,
de mal e bem. Predizia o triunfo final da nação de Israel. Esta esperança fluía
como corrente subterrânea do culto judaico.
Outro aspecto do culto que se destacou neste período foi o
estudo da Lei. Era, antes de tudo, um dever sacerdotal, em que se concentravam
os hasidim (fariseus). Eles produziram muitos novos ensinos e doutrinas,
notadamente a doutrina da ressurreição dos mortos.
A
ERA NEOTESTAMENTÁRIA
No ano 47 a. C, Júlio César escolheu a Herodes Antipatro,
judeu da Iduméia (região sul da Judéia), para governador da Judéia. Seu filho,
Herodes o Grande, herdou o cargo e chamou a si mesmo de "rei dos
judeus". Reconhecendo a história de inquietação do povo, Herodes quis, de
alguma forma, ganhar-lhes o favor e a fé. Para tanto, ele anunciou a construção
de um terceiro templo em Jerusalém, Os sacerdotes especialmente treinados na
arte de construção contribuíram muito para a obra, para ter certeza de que o novo
edifício seguia a planta de Moisés. A maior parte do edifício se completou em
cerca de dez anos (cerca de 20-10 a. C), mas nem tudo estava terminado até por
volta do ano 60 A. D. (Na verdade, alguns eruditos acham que o novo templo não
tinha sido acabado no tempo em que Jerusalém caiu sob Tito, geral romano, em 70
A. D.). A maior parte das atividades de culto realizava-se aqui.
Não obstante, durante as perseguições e exílios de Israel,
muitos judeus achavam-se distantes demais de Jerusalém para cultuarem aqui.
Significa isto que eles não podiam prestar culto a Deus? De maneira nenhuma!
Pelo contrário, eles instituíram o costume do culto na sinagoga local.
Certamente, muitos desses lugares de culto informal existiram durante o exílio.
O Novo Testamento menciona as sinagogas muitas vezes (p. ex., Mateus 4:23;
23:6; Atos 6:9), mas nos dá pouca informação descritiva sobre elas. De fontes
rabínicas sabemos algo das primitivas sinagogas. Também sabemos que a Lei era
estudada e apresentada aí: "Porque Moisés tem, em cada cidade desde tempos
antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados"
(Atos 15:21). Recitavam-se muitas orações no culto da sinagoga (Mateus 6:5).
Fontes não bíblicas dizem que os cultos da sinagoga consistiam numa oração
invocativa, outras orações e bênçãos, a leitura da Lei de Moisés, a leitura dos
profetas, e uma oração abençoadora (Megilá 4:3). Somente determinadas pessoas
tinham permissão de dirigir o culto, daí ser questionado o direito de Jesus de
fazê-lo (Marcos 6:2-4). Paulo ensinou nas sinagogas, mas ele também teve alguma
dificuldade (Atos 17:17; 26:11).
Gerizlm
vs. Jerusalém
"Senhor, disse-lhe a mulher: Vejo que tu és profeta.
Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o
lugar onde se deve adorar" (João 4:19-20).
Essas palavras foram proferidas por uma mulher junto ao poço
no pé do monte Gerizim, em Samaria, onde Jesus parou para beber água, e revelam
um velho conflito entre judeus e samaritanos.
O monte Gerizim é o membro sulista de um par de montanhas,
entre as quais se situa a antiga Siquém. A montanha nortista, Ebal, é mais
baixa. A localização é estratégica, visto que as rotas de viagem se encontram
na passagem formada pelas montanhas. Por isso a cidade de Siquém é freqüentemente
mencionada em Gênesis. Foi em Ebal e Gerizim que as tribos se reuniram sob
Josué para ouvir a maldição e a bênção relacionadas com a violação e
observância da lei (Deuteronômio 11:29).
Os samaritanos sustentavam que Siquém, a primeira capital de
Israel, era o lugar escolhido por Deus para sua habitação. Os judeus alegavam
que o lugar escolhido por Deus era Jerusalém. Qual era a cidade de Deus?
Capturada pelos assírios em 722 a. C, a cidade de Samaria
tornou-se uma colônia militar. Os recém-chegados ligaram-se por casamento com
os samaritanos e aceitaram sua religião.
O império persa caiu em 333 a. C, e os macedônios sob a
direção de Alexandre Magno desceram a costa da Síria em direção do Egito.
Jerusalém estava entre as cidades que se renderam aos macedônios. Em 332 a. C.
Samaria rebelou-se, e como castigo Alexandre enviou colonizadores para lá.
Ao estabelecer-se uma colônia grega, as aldeias nativas sob o
controle grego muitas vezes formavam uma união em torno de um santuário
antepassado. Foi isto que aconteceu em Siquém. Os "sidônios (cananeus) de
Siquém" foram organizados neste estilo grego para servirem ao Deus de
Israel. Eles não aceitariam os macedônios nem se tornariam dependentes de
Jerusalém. Disseram eles aos judeus: "...como vós, buscaremos a vosso
Deus..." (Esdras 4:2), mas não cederiam à exigência dos judeus de adorarem
em Jerusalém.
O povo de Siquém fundou um novo santuário. Consagrado ao Deus
tanto de Jerusalém | como de Siquém, ele estava situado no cimo de Gerizim,
dando vistas para Siquém.
A principal querela entre judeu e samaritanos era sobre qual
possuía o santo templo de Deus. Mais tarde, cada grupo inventou suas próprias]
histórias para explicar as origens da controvérsia do templo samaritano. Os
samaritanos alegavam que seu templo fora fundado por Alexandre Magno. Os judeus
diziam que ele : fundado pelo filho de uma
família sumo-sacerdotal, a quem
Neemias expulsou do templo por ser casado com mulher samaritana. Reivindicações
tais como essas obscureciam a verdadeira origem do cisma e confundiam questão
de data, a qual ainda não se conhece com clareza.
Os judeus consideravam os seguidores de Jesus como uma seita
do Judaísmo. Foi-lhes, portanto, permitido cultuar no sábado juntamente com
seus companheiros nas sinagogas e no templo.
Jesus amava o templo e o respeitava. Ele o apoiava
incentivando seus seguidores a freqüentá-lo. Declarou-o sagrado (Mateus
23:16ss.) e julgou-o digno de purificação (Mateus 21:12). Não obstante, Jesus
disse: "Aqui está quem é maior que o templo" (Mateus 12:6),
referindo-se a si mesmo. Ele acusou que o templo havia sido transformado em
"covil de salteadores" (Mateus 21:13).
A princípio os discípulos tinham emoções conflitantes acerca
do culto no templo e na sinagoga. Finalmente, porém, os judeus e os cristãos se
antagonizaram a tal ponto que pouca escolha restava senão cultuar
separadamente. Este conflito não girava em torno da forma ou do local de culto,
mas em torno da natureza do próprio culto. Isto se reflete na conversa de Jesus
com a samaritana junto ao poço. Disse ela: "Nossos pais adoravam neste
monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve
adorar." Ela pensava claramente no culto em termos de aspectos externos,
tal como a localização. Jesus respondeu: "Mulher, podes crer-me, que a
hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai... Mas vem a
hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito
e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores"
(João 4:21, 23). Cristo e seus seguidores sabiam que a salvação e a justiça não
vinham de ofertas e sacrifícios, mas da obediência a Deus em "espírito e
em verdade". Quando Deus age e nós reagimos em adoração, nossa reação
visível não é tão importante quanto nossa atitude invisível. (Talvez a oferta
de Abel tivesse sido aceitável porque ele não abrigava ódio no coração, ao
passo que a oferta de Caim foi inaceitável por causa do ódio que tinha contra o
irmão.
Não sabemos se Jesus e os apóstolos participavam de todas as
festas e rituais judaicos. O Novo Testamento não nos dá um relato completo de
suas atividades. Mas há algum indício de que os cristãos primitivos se reuniam
nas casas para culto, quase como os judeus se reúnem nas sinagogas locais.
Paulo refere-se à "igreja que está em tua casa" (Filemom 2), "a
igreja que se reúne na casa deles" (Romanos 16:5), e à "igreja que
ela hospeda em sua casa" (Colossenses 4:15). Mais tarde, sob severa
perseguição romana, os lugares de reunião tornaram-se ainda mais humildes e até
mesmo secretos.
Muro ocidental, Jerusalém.
O mais santo dos lugares no mundo judaico é o lado ocidental do muro que
Herodes o Grande construiu para fechar a área de seu templo. O muro é chamado
"Muro das Lamentações" por dois motivos: Primeiro, os judeus se
reúnem aqui. para lamentar a perda do templo. Em segundo lugar, diz a lenda que
as gotas de orvalho que se formam nas pedras são lágrimas vertidas pelo muro
com pena dos judeus exilados.
Do Livro
VIDA COTIDIANANOS TEMPOS BÍBLICOS
Redatores:
JAMES I. PACKER, AM., D. PHIL.
Regent College
MERRILL C. TENNEY, A.M., Ph.D.
Wheaton Graduate School
WILLIAM WHITE, JR. Th.M., Ph.D.
Traduzido
por Luiz Aparecido Caruso
Editora
Vida
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