FACULDADE DE TEOLOGIA
TESTEMUNHAS HOJE
CURSO LIVRE
HÉROIS DA FÉ
AVIVALISTAS DA IGREJA
PREMEIRA PARTE
AVIVALISTAS DA
IGREJA
INTRODUÇÃO
A história do
Cristianismo mostra que grandes pregadores surgiram em todos os lugares e foram
responsáveis por manter a chama do avivamento acesa. Eles pregavam para um
número tão grande de pessoas que muitos cultos foram realizados ao ar livre. Os
templos não comportavam a multidão. A ênfase das mensagens era sobre a
santidade de vida e o compromisso com Deus e sua palavra. Eles mudaram a vida espiritual
no mundo. Os
pregadores que impactaram suas igrejas e gerações, e comoveram indivíduos
nessas igrejas e na sociedade e também nas áreas em que eles exerceram seus
ministérios. Estes homens derramaram a sua vida como uma oferta suave,
entregando-se completamente até o final de suas vidas.O tamanho do impacto que
eles causaram não pode ser avaliado ou completamente entendido até aquele dia
que estaremos diante do Senhor para nossas recompensas e receber os nossos
tesouros no céu. Há tantos desses homens ao longo dos séculos que se destacaram
como os maiores pregadores de todos os tempos, se não de toda a eternidade. E
que com suas vidas, seus testemunhos, sua fé, moveram os braços de Deus em
favor de si, de suas cidades, seus povos, suas gerações.
Naturalmente, devemos
colocar Jesus em primeiro lugar, não só porque foi Ele a Palavra, mas porque
Ele é o nosso modelo, a Autoridade por trás da Palavra e a expressão exata da
comunicação divina. É óbvio que como toda pregação deriva Dele, de como Ele
dirige a igreja, e sendo Ele é o cabeça da Igreja, fica bem claro que Jesus
Cristo é o maior pregador de todos os tempos. A igreja brasileira está
crescendo, exponencialmente vidas em todos os segmentos da sociedade estão
sendo salvas, nos esportes, nas artes, no teatro, na TV, no congresso,
profissionais liberais e até nas periferias. Graças a Deus por isso! É muito
bom saber que muitas almas estão sendo alcançadas pelo evangelho, e então
entendemos que algo muito mais que um bom evangelho precisa ser pregado em
nossa geração. É
tempo de parar e refletir um pouco a respeito daquilo que faremos com o evangelho
para a próxima década, nestes tempos dificeis. “Remindo o tempo; porquanto os dias são maus”.Ef.5:16.
Não devemos deixar
nossa geração passar sem que ela experimente um poderoso avivamento, que tocará
profundamente nas estruturas da igreja e na sociedade tão libertina e
pecaminosa. O que será que nos falta para termos avivamento neste presente
século. O que poderemos fazer para que isso venha a acontecer?
Creio que, em
primeiro lugar, precisamos reconhecer a necessidade de um avivamento em nossa
nação, começando com nossas vidas, pois lamentavelmente muitos se encontram descompromissados
nesta era das destrações, do intretenimento e da diversão, dispersos abosolvidos
pela correria do dia, sem saber o tempo que estamos vivendo, ou então nem sabem
exatamente o que querem de suas vidas.
Em segundo lugar
precisamos entender o que é avivamento, pois temos corrido o risco de confundir
avivamento com bênçãos, com prosperidade, com milagres, com igrejas cheias, com
muitas músicas, muito barulho, com reuniões avivalistas, com grandes campanhas
de evangelização, e tantas outras coisas; mas é urgentemente necessário que
compreendamos avivamento segundo a ótica de Deus e de sua palavra.
Em terceiro lugar, precisamos
desejar de todo o nosso coração que tanto a nossa vida quanto a nossa nação
sejam sacudidas com esse poderoso avivamento.
Em quarto lugar, é
necessário, agora, buscarmos da forma correta este avivamento.
Em quinto e último
lugar, para termos esse avivamento em nosso país é preciso saber que o nosso
amado Deus anseia demasiadamente mais do que nós derramar esse poderoso avivamento
em nossa tão amada nação.
Antes de qualquer
outra consideração é muito importante que os queridos(as) e amados(as) tenham em
suas mentes a seguinte afirmativa de nosso amado Deus, dada ao profeta Isaías:
“Lembrai- vos das coisas passadas da antigüidade; que eu sou Deus e não há
outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio
anuncio o que há de acontecer e desde a antigüidade as coisas que ainda não
sucederam, que digo: o meu conselho permanecerá de pé; farei toda a minha vontade!”
(Is 46.8-10).
Que coisa tremenda!
Independentemente do que o diabo e os homens estão tentando fazer com a igreja
de Jesus hoje em dia, ela vai prosperar. O propósito de Deus não será frustrado
e as portas do inferno não prevalecerão. Uma igreja linda, forte e gloriosa
será levantada em cada cidade alta, em cada lugar estratégico, em cada cidade
das nações, e cumprirá todo o querer de Deus na terra, detonará o inferno com o
diabo e seus demônios e levantará o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, e todo o
joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor.
O diabo por muito
tempo tem mentido e enganado o povo de Deus. Agora é hora da igreja se levantar
com sabedoria e inteligência espiritual, debaixo da autoridade de Deus
expulsá-lo desse perímetro e fazer o reino de Deus se manifestar na terra.
Deus nunca permitirá
que seu propósito seja frustrado. Sua igreja nunca será perdedora. Ela será
gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante!
Ainda que as coisas
por um tempo pareçam caminhar mal, ele prevalecerá. Ele cumprirá seu eterno
propósito!
Ó, Deus! Que o Senhor
nos ajude nesse tempo do fim e coloque um novo colírio em nossos olhos para
entendermos a urgente necessidade de um AVIVAMENTO!
DWIGHT LYMAN MOODY
CÉLEBRE GANHADOR DE ALMAS
(1837-1899) - Tudo
aconteceu durante uma das famosas campanhas de Moody e Sankey para salvar
almas. A noite de uma segunda-feira tinha sido reservada para um discurso
dirigido aos materialistas. Carlos Bradlaugh, campeão do ceticismo, então no
zênite da fama, ordenou que todos os membros dos clubes que fundara assistissem
à reunião. Assim, cerca de 5000 homens, resolvidos a dominar o culto, entraram
e ocuparam todos os bancos.
Moody pregou sobre o
texto: " A rocha deles não é como a nossa Rocha, sendo os nossos próprios
inimigos os juizes" (Deuteronômio 32.31).
"Com uma rajada
de incidentes pertinentes e comoventes das suas experiências com pessoas
presas ao leito de morte, Moody deixou que os homens julgassem por si mesmos
quem tinha melhor alicerce sobre o qual deviam basear sua fé e esperança. Sem
querer, muitos dos assistentes tinham lágrimas nos olhos. A grande massa de
homens, demonstrando o mais negro e determinado desafio a Deus estampado nos
seus rostos, encarou o contínuo ataque de Moody aos pontos mais vulneráveis,
isto é, o coração e o lar.
"Ao findar,
Moody disse: 'Levantemo-nos para cantar: Oh! vinde vós aflitos! e, enquanto o
fazemos, os porteiros abram todas as portas para que possam sair todos os que
quiserem. Depois faremos o culto, como de costume, para aqueles que desejarem
aceitar o Salvador.' Uma das pessoas que assistiu a esse culto, disse: 'Eu
esperava que todos saíssem imediatamente, deixando o prédio vazio. Mas a grande
massa de cinco mil homens se levantou, cantou e assentou-se de novo; nenhum
deles deixou seu assento!'
"Moody, então
disse: 'Quero explicar quatro palavras: Recebei, crede, confiai, aceitai.' Um
grande sorriso passou de um a outro em todo aquele mar de rostos. Depois de
falar um pouco sobre a palavra recebei, fez um apelo: 'Quem quer recebê-lo? É
somente dizer: Quero.' Cerca de cinqüenta dos que estavam em pé e encostados
às paredes, responderam: 'Quero', mas nenhum dos que estavam sentados. Um
homem exclamou: 'Eu não posso', ao que Moody replicou: 'Falou bem e com razão,
amigo; foi bom ter falado. Escute e depois poderá dizer: Eu posso'. Moody
então explicou o sentido da palavra crer e fez o segundo apelo: 'Quem dirá:
Quero crer nele?' De novo alguns dos homens que estavam em pé responderam,
aceitando, mas um dos chefes dirigente dum clube, bradou: 'Eu não quero!'
Moody, vencido pela ternura e compaixão, respondeu com voz quebrantada: 'Todos
os homens que estão aqui esta noite têm de dizer: Eu quero ou Eu não quero'.
"Então, levou
todos a considerarem a história do Filho Pródigo, dizendo: 'A batalha é sobre o
querer - só sobre o querer. Quando o Filho Pródigo disse: Levantar-me-ei a luta
foi ganha, porque alcançara o domínio sobre a sua própria vontade. É com
referência a este ponto que depende tudo hoje. Senhores, tendes aí em vosso
meio o vosso campeão, o amigo que disse: Eu não quero . Desejo que todos aqui,
que acreditam que esse campeão tem razão levantem-se e sigam o seu exemplo,
dizendo: Eu não quero.' Todos ficaram quietos e houve grande silêncio até que,
por fim, Moody interrompeu, dizendo: 'Graças a Deus! Ninguém diz: Eu não quero.
Agora quem dirá: Eu quero? Instantaneamente parece que o Espírito Santo tomou
conta do grande auditório de inimigos de Jesus Cristo, e cerca de quinhentos
homens puseram-se de pé, as lágrimas rolando pelas faces e gritando: 'Eu
quero! Eu quero!' Clamaram até que todo o ambiente se transformou. A batalha
foi ganha.
"O culto
terminou sem demora, para que se começasse a obra entre aqueles que estavam
desejosos de salvação. Em oito dias, cerca de dois mil foram transferidos das
fileiras do inimigo para o exército do Senhor, pela rendição da vontade. Os
anos que se seguiram provaram a firmeza da obra, pois os clubes nunca se
ergueram. Deus, na sua misericórdia e poder, os aniquilou por seu
Evangelho."
Um total de
quinhentas mil preciosas almas ganhas para Cristo, é o cálculo da colheita que
Deus fez por intermédio de seu humilde servo, Dwight Lyman Moody. R. A.
Torrey, que o conheceu intimamente, considerava-o, com razão, o maior homem do
século XIX, isto é, o homem mais usado por Deus para ganhar almas.
Não é exagero dizer
que, hoje em dia, muitas décadas depois de sua morte, os crentes se referem ao
seu nome mais do que a qualquer outro nome depois dos tempos dos apóstolos.
Que ninguém julgue,
contudo, que D. L. Moody era grande em si mesmo ou que tinha oportunidades que
os demais não têm. Seus antepassados eram apenas lavradores que viveram por
sete gerações, ou duzentos anos, no vale do Connecticut, nos Estados Unidos.
Dwight nasceu a 5 de fevereiro de 1837, de pais pobres, o sexto entre nove
filhos. Quando era ainda pequeno, seu pai faleceu e os credores tomaram conta
do que ficou, deixando a família destituída de tudo, até da lenha para aquecer
a casa em tempo de intenso frio.
Não há história que
comova e inspire tanto quanto a daqueles anos de luta da viúva, mãe de Dwight.
Poucos meses depois da morte de seu marido, nasceram-lhe gêmeos e o filho mais
velho tinha apenas doze anos. O conselho de todos os parentes foi que ela
entregasse os filhos para outros criarem. Mas com invencível coragem e santa
dedicação a seus filhos, ela conseguiu filhos no próprio lar. Guarda-se ainda,
como tesouro precioso, sua Bíblia com as palavras de Jeremias 49.11
sublinhadas: "Deixa os teus órfãos, eu os conservarei em vida; e confiem
em mim tuas viúvas."
- "Pode-se
esperar outra coisa a não ser que os filhos ficassem ligados à mãe e que
crescessem para se tornarem homens e mulheres que conhecessem o mesmo Deus que
ela conhecia?" - Assim se expressou Dwight, ao lado do ataúde quando ela
faleceu com a idade de noventa anos: -"Se posso conter-me, quero dizer
algumas palavras. É grande honra ser filho de uma mãe como ela. Já viajei
muito, mas nunca encontrei alguém como ela. Ligava a si seus filhos de tal
maneira que representava um grande sacrifício para qualquer deles afastar-se
do lar. Durante o primeiro ano depois que meu pai faleceu, ela adormecia todas
as noites chorando. Contudo, estava sempre alegre e animada na presença dos
filhos. As saudades serviam para chegá-la mais perto de Deus. Muitas vezes eu
me acordava e ela estava orando, às vezes, chorando. Não posso expressar a
metade do que desejo dizer. Aquele rosto, como é querido! Durante cinqüenta
anos não senti gozo maior do que o gozo de voltar a casa. Quando estava ainda a
setenta e cinco quilômetros de distância, já me sentia tão inquieto e desejoso
de chegar que me levantava do assento para passear pelo carro até o trem chegar
à estação... Se chegava depois de anoitecer, sempre olhava para ver a luz na
janela da minha mãe. Senti-me tão feliz esta vez por chegar a tempo de ela
ainda me reconhecer! Perguntei-lhe: -'Mãe, me conhece?' Ela respondeu: - 'Ora,
se eu te conheço!' Aqui está a sua Bíblia, assim gasta, porque é a Bíblia do
lar; tudo que ela tinha de bom veio deste livro e foi dele que nos ensinou. Se
minha mãe foi uma bênção para o mundo é porque bebia desta fonte. A luz da
viúva brilhou do outeiro durante cinquenta anos. Que Deus a abençoe, mãe; ainda
a amamos! Adeus, por um pouco, mãe!"
Ao contemplar o êxito
de Dwight L. Moody, somos constrangidos a acrescentar: - Quem pode calcular as
possibilidades de um filho criado num lar onde os pais amam sinceramente ao
Pai celestial a ponto de chamar diariamente todos os filhos para escutarem a
sua voz na leitura da Bíblia e reverentemente clamarem a Ele em oração? Todos
os filhos da viúva Moody assistiam aos cultos nos domingos; levavam merenda
para passar o dia inteiro na igreja. Tinham de ouvir dois prolongados sermões
e, no intervalo, assistir à Escola Dominical. Dwight, depois de trabalhar a
semana inteira, achava que sua mãe exigia demais obrigando-o a assistir aos
sermões, os quais não compreendia. Mas, por fim, chegou a ser agradecido a
essa boa mãe pela dedicação nesse sentido.
Com a idade de
dezessete anos, Moody saiu de casa para trabalhar na cidade de Boston, onde
achou emprego na sapataria de um seu tio. Continuou a assistir aos cultos, mas
ainda não era salvo.
Notai bem, os que vos
dedicais à obra de ganhar almas: não foi num culto que Dwight Moody foi levado
ao Salvador. Seu professor da Escola Dominical, Eduardo Kimball, conta:
"Resolvi
falar-lhe acerca de Cristo e de sua alma. Vacilei um pouco em entrar na
sapataria, não queria embaraçar o moço durante as horas de serviço. Por fim,
entrei, resolvido a falar sem mais demora. Achei Moody nos fundos da loja,
embrulhando calçados. Aproximei-me logo dele e, colocando a mão sobre seu
ombro, fiz o que depois parecia-me um apelo fraco, um convite para aceitar a
Cristo. Não me lembro do que eu disse, nem mesmo Moody podia lembrar-se alguns
anos depois. Simplesmente falei do amor de Cristo para com ele, e o amor que
Cristo esperava dele, de volta. Parecia-me que o moço estava pronto para
receber a luz que o iluminou naquele momento e, lá nos fundos da sapataria,
entregou-se a Cristo."
Na história dos
crentes, através dos séculos, não há crente que fosse, no zelo, menos remisso
e, no espírito, mais fervoroso em servir ao Senhor, desde a conversão até o dia
da morte, do que Moody de Northfield. Quantas vezes depois, o senhor Kimball
dava graças a Deus por não ter sido desobediente à visão celestial; qual teria
sido o resultado se não tivesse falado ao moço naquela manhã na sapataria?!Era
costume das igrejas daquela época, alugarem os assentos. Moody, logo depois da
sua conversão, transbordando de amor para com seu Salvador , pagou aluguel de um
banco, percorrendo as ruas, hotéis e casas de pensão solicitando homens e
meninos para enchê-lo em todos os cultos. Depois alugou mais um, depois outro,
até conseguir encher quatro bancos, todos os Domingos. Mas isso não era
suficiente para satisfazer o amor que sentia para com os perdidos. Certo
domingo visitou uma Escola Dominical em outra rua. Pediu permissão para ensinar
também, uma classe. O dirigente respondeu: "Há doze professores e
dezesseis alunos, porém o senhor pode ensinar todos os alunos que conseguir
trazer à escola." Foi grande a surpresa de todos quando Moody, no domingo
seguinte, entrou com dezoito meninos da rua, sem chapéu, descalços e de roupa
suja e esfarrapada, mas, como ele disse: "Todos com uma alma para ser
salva." Continuou a levar cada vez mais alunos à Escola até que, alguns
domingos depois, no prédio não cabiam mais; então resolveu abrir outra escola
em outra parte da cidade. Moody não ensinava, mas arranjava professores,
providenciava o pagamento do aluguel e de outras despesas. Em poucos meses essa
Escola veio a ser a maior da cidade de Chicago. Não julgando conveniente pagar
outros para trabalhar no Domingo, Moody, cedo, pela manhã, tirava as pipas de
cerveja (outros ocupavam o prédio durante a semana), varria e preparava tudo
para o funcionamento da escola. Depois, então, saía para convidar alunos. Às
duas horas, quando voltava de fazer os convites, achava o prédio repleto de
alunos.
Depois de findar a
escola, ele visitava os ausentes e convidava todos para ouvirem a pregação, à
noite. No apelo, após o sermão, todos os interessados eram convidados a ficar
para um culto especial, no qual tratavam individualmente com todos. Moody
também participava nessa colheita de almas.
Antes de findar o
ano, 600 alunos, em média, assistiam à Escola Dominical, divididos em 80
classes. A seguir a assistência subiu a 10000 e, às vezes, a 1500.
O êxito de Moody na
Escola Dominical atraiu a atenção de outros que se interessavam pelo mesmo
trabalho.De vez em quando era convidado a participar nas grandes convenções das
Escolas Dominicais. Certa vez, depois de Moody haver falado numa convenção, um
orador censurou-o severamente por não saber dirigir-se a um auditório. Moody
foi para a frente, e depois de explicar que reconhecia não ser instruído,
agradeceu ao ministro por ter mostrado seus defeitos e pediu-lhe que orasse a
Deus para que o ajudasse a fazer o melhor que pudesse.
Ao mesmo tempo que
Moody se aplicava à Escola Dominical com tais resultados, esforçava-se,
também, no comércio todos os dias. O grande alvo da sua vida era vir a ser um
dos principais comerciantes do mundo, um multimilionário. Não tinha mais de 23
anos e já tinha ajuntado 7000 dólares! Mas seu Salvador tinha um plano ainda
mais nobre para seu servo.
Certo dia, um dos
professores da Escola Dominical entrou na sapataria onde Moody negociava.
Informou-o de que estava tuberculoso e que, desenganado pelo médico, resolvera
voltar para Nova Iorque e aguardar a morte. Confessou-se muito perturbado, não
porque tinha de morrer, mas porque até então não conseguira levar ao Salvador
nenhuma das moças da sua classe da Escola Dominical. Moody, profundamente
comovido, sugeriu que visitassem juntos as moças em suas casas, uma por uma.
Visitaram uma, o professor falou-lhe seriamente acerca da salvação da sua alma.
A moça deixou seu espírito leviano e começou a chorar, entregando-se ao seu
Salvador. Todas as outras moças que foram visitadas naquele dia fizeram o
mesmo.
Passados dez dias, o
professor foi novamente à sapataria. Com grande gozo informou a Moody que
todas as moças se haviam entregado a Cristo. Resolveram então convidar todas
para um culto de oração e despedida na véspera da partida do professor para
Nova Iorque. Todos se ajoelharam e Moody, depois de fazer uma oração, estava
para se levantar quando uma das moças começou, também, a orar. Todos oraram
suplicando a Deus em favor do professor. Ao sair Moody suplicou: "Ó Deus,
permite-me morrer antes de perder a bênção que recebi hoje aqui!"Moody,
mais tarde, confessou: "Eu não sabia o preço que tinha de pagar, como
resultado de haver participado na evangelização individual das moças. Perdi
todo jeito de negociar; não tinha mais interesse no comércio. Experimentara um
outro mundo e não mais queria ganhar dinheiro... Oh! delícia, a de levar uma
alma das trevas deste mundo à gloriosa luz e liberdade do Evangelho!"
Então, não muito
depois de casar-se, com a idade de vinte e quatro anos, Moody deixou um bom
emprego com o salário de cinco mil dólares por ano, um salário fabuloso naquele
tempo, para trabalhar todos os dias no serviço de Cristo, sem ter promessa de
receber um único cêntimo. Depois de tomar essa resolução, apressou-se em ir à
firma B. F. Jacobs & Cia., onde, muito comovido, anunciou: - "Já
resolvi empregar todo o meu tempo no serviço de Deus!" -"Como vai
manter-se?" - "Ora, Deus me suprirá de tudo, se Ele quiser que eu
continue; e continuarei até ser obrigado a desistir."
É muito interessante
notar o que ele escreveu não muito depois, a seu irmão Samuel: "Caro
irmão: As horas mais alegres que já experimentei na terra foram as que passei
na obra da Escola Dominical. Samuel, arranja uma classe de moços perdidos
leva-os à Escola Dominical e pede a Deus sabedoria, e instrui-os no caminho da
vida eterna!" Ao mesmo tempo em que Moody descrevia a sua alegria, foi
obrigado a deixar a pensão, a alimentar-se mais simplesmente e a dormir num
dos bancos do salão.
Acerca de seu
desprendimento pelo dinheiro, R. A. Torrey fez esta observação: "Ele
(Moody) disse-me que, se tivesse aceitado lucros provenientes da venda dos
hinários por ele publicados, eles somariam um milhão de dólares. Porém Moody
recusou-se a tocar naquele dinheiro, embora por direito fosse seu... Numa certa
cidade visitada por Moody nos últimos dias de sua vida, estando eu em sua
companhia, foi publicamente anunciado que ele não aceitaria qualquer
recompensa por seus serviços. O fato era que ele quase não tinha outros meios
de sustento senão aquilo que recebia nas suas conferências, todavia ele não
comentou o anúncio feito, mas saiu daquela cidade sem receber um centavo
sequer pelo seu árduo trabalho; e, parece-me, que foi ele mesmo quem pagou sua
conta no hotel onde se hospedara."
A parte da biografia
de D. L. Moody que trata dos primeiros anos do seu ministério está repleta de
proezas feitas na carne. Mencionamos aqui apenas uma, isto é, o fato de Moody
fazer 200 visitas em um só dia. Ele mesmo mais tarde se referia àqueles anos
como uma manifestação do "zelo de Deus, mas sem entendimento",
acrescentando: Há, contudo muito mais esperança para o homem com zelo e sem
entendimento do que para o homem de entendimento sem zelo."
Rompeu a tremenda
Guerra Civil e Moody chegou com os primeiros soldados ao acampamento militar
onde armou uma grande tenda para os cultos. Depois ajuntou dinheiro e
levantou um templo onde dirigiu 1500 cultos durante a guerra. Uma pessoa que o
conhecia assim comentou sua ação: "Moody precisa estar constantemente em
todos os lugares, dia e noite, nos domingos e todos os dias da semana; orando,
exortando, tratando com os soldados acerca das suas almas, regozijando-se nas
oportunidades abundantes de trabalhar no grande fruto ao seu alcance por causa
da guerra."
Depois de findar a
guerra, dirigiu uma campanha para levantar em Chicago um prédio para os cultos,
com capacidade para três mil pessoas. Quando, mais tarde esse edifício foi
destruído por um incêndio, ele e dois outros iniciaram outra campanha, antes
de os escombros haverem esfriado, para levantar novo edifício. Trata-se do
Farwell Hall II, que se tornou um grande centro religioso em Chicago. O
segredo desse êxito foram os cultos de oração que se realizavam diariamente, ao
meio-dia, precedidos por uma hora de oração de Moody, escondido no vão debaixo
da escada.
No meio desses
grandes esforços, Moody resolveu, inesperadamente, fazer uma visita à
Inglaterra.
Em Londres, antes de
tudo, foi ouvir Spurgeon pregar no Metropolitan Tabernacle. Já tinha lido muito
do que "o príncipe dos pregadores" escrevera, mas ali pôde verificar
que a grande obra não era de Spurgeon, mas de Deus, e saiu de lá com uma outra
visão.
Visitou Jorge Müller
e o orfanato em Bristol. Desde aquele tempo a Autobiografia de Müller exerceu
tanta influência sobre ele como já o tinha feito "O Peregrino", de
Bunyan.
Entretanto, nessa
viagem, o que levou Moody a buscar definitivamente uma experiência mais
profunda com Cristo, foram estas palavras proferidas por um grande ganhador
de almas de Dubim, Henrique Varley: "O mundo ainda não viu o que Deus
fará com, para, e pelo homem inteiramente a Ele entregue." Moody disse
consigo mesmo: "Ele não disse por um grande homem, nem por um sábio, nem
por um rico, nem por um eloqüente, nem por um inteligente, mas simplesmente
por um homem. Eu sou um homem, e cabe ao homem mesmo resolver se deseja ou não
consagrar-se assim. Estou resolvido a fazer todo o possível para ser esse
homem." Apesar de tudo isso, Moody, depois de voltar à América, continuava
a se esforçar e a empregar métodos naturais. Foi nessa época que a cidade de
Chicago foi reduzida a cinzas no pavoroso incêndio de 1871.
Na noite do início do
pavoroso incêndio, Moody pregou sobre este tema: - "Que farei, então, de
Jesus, chamado Cristo?" Ao concluir seu sermão, ele disse ao auditório, o
maior a que pregara em Chicago: "Quero que leveis esse texto para casa e
nele mediteis bem durante a semana e no domingo vindouro iremos ao Calvário e à
cruz e resolveremos o que faremos de Jesus de Nazaré.
- "Como
errei!" disse Moody, depois. - "Não me atrevo mais a conceder uma
semana de prazo ao perdido para decidir sobre a salvação. Se se perderem serão
capazes de se levantar contra mim no dia do juízo. Lembro-me bem de como Sankey
cantou e como sua voz soou quando chegou a estrofe de apelo: "O Salvador
chama para o refúgio. Rompe a tempestade e breve vem a morte."
"Nunca mais vi
aquele auditório. Ainda hoje desejo chorar... Prefiro ter a mão direita
decepada, a conceder ao auditório uma semana para decidir o que fará de Jesus.
Muitos me censuram dizendo: - "Moody, o senhor quer que o povo se decida
imediatamente. Por que não lhe dá tempo para consultar?"
"Tenho pedido a
Deus muitas vezes que me perdoe por ter dito naquela noite que podiam passar
oito dias para considerar, e se Ele poupar minha vida não o farei de
novo."
O grande incêndio
rugiu e ameaçou durante quatro dias; consumindo Farwell Hall, o templo de Moody
e a sua própria residência. Os membros da igreja foram todos dispersos. Moody
reconheceu que a mão de Deus o castigara para o ensinar, e isso tornou-se para ele
motivo de grande regozijo.
Foi a Nova Iorque, a
fim de granjear dinheiro para os flagelados do grande sinistro. Acerca do que
se passou, ele mesmo escreveu: "Não sentia o desejo no coração de
solicitar dinheiro. Todo o tempo eu clamava a Deus pedindo que me enchesse do
seu Espírito. Então, certo dia, na cidade de Nova Iorque - Ah! que dia! Não
posso descrevê-lo, nem quero falar no assunto; é experiência quase sagrada
demais para ser mencionada. O apóstolo Paulo teve uma experiência acerca da
qual não falou por catorze anos. Posso apenas dizer que Deus se revelou a mim
e tive uma experiência tão grande do seu amor que tive de rogar-lhe que
retirasse de mim sua mão. Voltei a pregar. Os sermões não eram diferentes; não
apresentei outras verdades; contudo, centenas se converteram. Não quero voltar
para viver de novo como vivi outrora nem que eu pudesse possuir o mundo
inteiro."
Acerca dessa
experiência, um de seus biógrafos acrescentou: "O Moody que andava na rua
parecia outro. Nunca jamais bebera mosto, mas então conhecia a diferença entre
o júbilo que Deus dá e o falso júbilo de Satanás. Enquanto andava, parecia-lhe
que um pé dizia a cada passo, 'Glória!' e o outro respondia, 'Aleluia!'. O
pregador rompeu em soluços, balbuciando: 'Ó Deus, constrange-nos andar perto
de ti para todo o sempre.'"
Sobre o mesmo
acontecimento, ainda outro escreveu o seguinte: "O fruto da sua pregação
tinha sido pequeno. Angustiado em espírito, ele andava pelas ruas da grande
cidade de noite orando: 'Ó Deus unge-me com teu Espírito!' - Deus ouviu e
concedeu-lhe lá mesmo na rua, aquilo por que rogava. Sua vida anterior era como
se experimentasse puxar água dum poço que parecia seco. Fazia funcionar a
bomba com toda a força, mas tirava muito pouca água. Agora Deus fez sua alma
como um poço artesiano onde nunca falta água. Assim chegou a compreender o que
significam as palavras: "A água que eu lhe der, virá a ser nele uma fonte
de água que mana para a vida eterna."
O Senhor supriu
dinheiro para Moody construir um edifício provisório para realizar os cultos em
Chicago. Era de madeira rústica, forrado de papel grosso para evitar o frio; o
teto era sustentado por fileiras de estacas colocadas no centro. Nesse templo
provisório realizaram-se os cultos, durante três anos, no meio dum deserto de
cinzas. A maior parte do trabalho de construção fora feita pelos membros que
moravam em ranchos ou mesmo em lugares escavados por debaixo das calçadas das
ruas. Ao primeiro culto assistiram mais de mil crianças com seus respectivos
pais!
Esse templo
provisório serviu de morada para Moody e Sankey, seu evangelista-cantor; eram
tão pobres como os outros em redor, mas tão cheios de esperança e gozo que
conseguiram levar muitos a Cristo e se tornarem ricos, apesar de nada
possuírem. Onda após onda de avivamento passou sobre o povo. Os cultos
continuavam dia e noite, quase sem cessar, durante alguns meses. Multidões choravam
seus pecados, às vezes dias inteiros e no dia seguinte, perdoados, clamavam e
louvavam em gratidão a Deus. Homens e mulheres até então desanimados
participavam do gozo transbordante de Moody, transformado pelo batismo com o
Espírito Santo.
Não muito depois de
haver construído o templo permanente (com assentos para 2000 pessoas - e sem
endividar-se), Moody fez a sua segunda viagem à Inglaterra. Nos seus primeiros
cultos nesse país, encontrou igrejas frias, com pouca assistência e o povo sem
interesse nas suas mensagens. Mas a unção do Espírito, que Moody recebera nas
ruas de Nova Iorque, ainda permanecia na sua alma e Deus o usou como seu
instrumento para um avivamento mundial.
Não desejava métodos
sensacionais, mas usou os mesmos métodos humildes até o fim da vida: sermão
dirigido direto aos ouvintes; aplicação prática da mensagem do Evangelho à
necessidade individual; solos cantados sob a unção do Espírito; apelo para que
o perdido se entregasse imediatamente; uma sala no lado aonde levava os que se
achavam em "dificuldades" em aceitar a Cristo; a obra que depois os
salvos faziam entre os "interessados" e recém-convertidos;
diariamente uma hora de oração ao meio-dia, e cultos que duravam dias inteiros.
O próprio Moody disse
estas palavras: "Se estamos cheios do Espírito, e de poder, um dia de
serviço com poder vale mais do que um ano de serviço sem esse poder."
Outra vez acrescentou: "Se estamos cheios do Espírito, ungidos, nossas
palavras alcançarão os corações do povo."
Na Inglaterra, as
cidades de York, Senderland, Bishop, Auckland, Carlisle e Newcastle foram
vivificadas como nos dias de Whitefield e Wesley. Na Escócia, em Edinburgh, os
cultos se realizaram no maior edifício e "a cidade inteira ficou
comovida." Em Glasgow, a obra começou com uma reunião de professores da
Escola Dominical, a que assistiram mais de 3000. O culto de noite foi
anunciado para às 6,30, mas muito antes da hora marcada, o grande edifício
ficou repleto e a multidão que não pôde entrar foi levada para as quatro
igrejas mais próximas. Essa série de cultos transformou radicalmente a vida
diária do povo. Na última noite Sankey cantou para 7000 pessoas que estavam
dentro do edifício, e Moody, sem poder entrar no auditório, subiu numa
carruagem e pregou a 20 mil pessoas que se achavam congregadas do lado de
fora. O coral cantou os hinos de cima dum galpão. Em um só culto mais de 2000
pessoas responderam ao apelo para se entregarem definitivamente a Cristo
Durante o verão,
pregou em Aberdeen, Montrose, Brechin, Forfar, Huntley, Inverness, Arbroath,
Fairn, Nairn, Elgin, Ferres, Grantown, Keith, Rothesay e Campbel-town; muitos
milhares assistiam a todos os cultos.
Na Irlanda, Moody
pregou nos maiores centros com os mesmos resultados, como na Inglaterra e
Escócia. Os cultos em Belfast continuaram durante quarenta dias. O último
culto foi reservado para os recém-convertidos, que só podiam ter ingresso por
meio de bilhetes, concedidos gratuitamente. Assistiram 2.300 pessoas. Belfast
fora o centro de vários avivamentos, mas todos concordam em que nunca houvera
um avivamento antes desse de resultados tão permanentes.
Depois da campanha na
Irlanda, Moody e Sankey voltaram à Inglaterra e dirigiram cultos inesquecíveis
em Shefield, Manchester, Birgmingham e Liverpool. Durante muitos meses, os
maiores edifícios dessas cidades ficaram superlotados de multidões desejosas de
ouvirem a apresentação clara e ousada do Evangelho por um homem livre de todo
o interesse e ostentação. O poder do Espírito se manifestou em todos os cultos
produzindo resultados que permanecem até hoje.
O itinerário de Moody
e Sankey na Europa, findou-se após quatro meses de cultos em Londres. Moody
pregava alternadamente em quatro centros. Os seguintes algarismos nos servem
para compreender algo da grandeza dessa obra durante os quatro meses:
Realizaram-se 60 cultos em Agricultural Hall, aos quais um total de 720.000
pessoas assistiram; em Bow Road Hall, 60 cultos, aos quais 600.000 assistiram;
em Camberwell Hall, 60 cultos, com a assistência de 480.000; Haymarket Opera
House, 60 cultos, 330.000; Vitória Hall, 45 cultos, 400.000 assistentes.
Como é glorioso
acrescentar aqui o seguinte: "As diferenças entre as denominações quase
desapareceram. Pregadores de todas as igrejas cooperavam numa plataforma comum
para a salvação dos perdidos. Abriram-se de novo as bíblias e houve um grande
interesse pelo estudo da Palavra de Deus."
Quando Moody saiu dos
Estados Unidos em 1873, era conhecido apenas em alguns Estados e tinha fama,
apenas como obreiro de Escola Dominical e da Associação Cristã de Moços. Mas
quando voltou da campanha na Inglaterra em 1875, era conhecido como o mais
famoso pregador do mundo. Contudo continuou o mesmo humilde servo de Deus. Foi
assim que uma pessoa que o conhecia intimamente descreveu sua personalidade:
"Creio que era a pessoa mais humilde que jamais conheci... Ele não fingia
humildade. No íntimo do seu coração rebaixava-se a si mes-mo e superestimava
os outros. Ele engrandecia outros homens, e, sempre que possível arranjava
para que eles pregassem. Fazia tudo para não aparecer."
Ao chegar novamente
aos Estados Unidos, Moody recebeu convites, para pregar, de todas as partes do
País. Sua primeira campanha (em Brooklyn) foi um modelo para todas as outras.
As denominações cooperavam; alugaram um prédio que comportava 3000 pessoas. O
resultado foi uma grande e permanente obra.
Durante um período de
vinte anos, ele dirigiu campanhas com grandes resultados nas maiores cidades
dos Estados Unidos, Canadá e México. Em diversos lugares as campanhas duraram
até seis meses. Em todos os lugares Moody proclamava clara e praticamente a
mensagem do Evangelho.
Nas suas campanhas
havia ocasiões que eram realmente dramáticas. Em Chicago, o Circo Forepaugh,
com uma tenda de lona que tinha assentos para 10.000 pessoas e lugares para
outras 10.000 em pé, anunciou representações para dois domingos. Moody alugou a
tenda para os cultos de manhã, os donos achando muita graça em tal tentativa.
Mas no primeiro culto a tenda ficou repleta. Foram tão poucos os que assistiram
às representações do circo à tarde, que os donos resolveram não fazer sessão
no segundo domingo. Entretanto, o culto realizou-se sob a lona no segundo
domingo, o calor era tanto que dava a impressão de matar a todos, porém 18.000
pessoas ficaram em pé, banhados em suor e esquecidos do calor. No silêncio que
reinava durante a pregação de Moody, o poder desceu e centenas foram salvos.
Acerca de um desses cultos certo assistente deu estas impressões:
"Nunca jamais me
esquecerei de certo sermão que Moody pregou. Foi no Circo de Forepaugh durante
a Exposição Mundial. Estavam presentes 17.000 pessoas, de todas as classes e
de todas as qualificações. O texto do sermão foi: Pois o Filho do homem veio
buscar e salvar o que se havia perdido.' Grandiosa era a unção do pregador;
parecia que estava em íntimo contacto com todos os corações daquela massa de
gente. Moody disse repetidamente: Pois o Filho do homem veio - veio hoje ao
Circo Forepaugh - para procurar e salvar o que se perdera.' Escrito e impresso,
isso parece um sermão comum, mas as suas palavras, pela santa unção que lhe
sobreveio, tornaram-se palavras de espírito e de vida."
Durante a Exposição
Mundial, no dia designado em honra de Chicago, todos os teatros da cidade
fecharam, porque se esperava que todo o mundo fosse à Exposição a seis
quilômetros de distância. Porém Moody alugou o Central Music Hall e R. A.
Torrey testificou que a assistência era tão grande, que ele só conseguiu entrar
por uma janela dos fundos do prédio. Os cultos de Moody continuaram tão
concorridos que a Exposição Mundial teve de deixar de funcionar aos domingos,
por falta de assistência.
Henrique Moorehouse,
pregador escocês, dá a seguinte opinião acerca dos discursos de Moody:
1) "Crê
firmemente que o Evangelho salva os pecadores, quando eles crêem, e confia na
história simples do Salvador crucificado e ressuscitado.
2) "Espera a
salvação de almas, quando prega, e o resultado é que Deus honra a sua fé.
3) "Prega como
se nunca jamais se realizasse outro culto e como se os pecadores nunca mais
tivessem oportunidade de ouvir o som do Evangelho. Seus apelos a decisão agora
mesmo são comoventes.
4) "Consegue
levar os crentes a trabalhar com os interessados depois do sermão. Insiste em
que perguntem aos que estão assentados ao lado se são salvos ou não. Tudo na
sua obra é muito simples e aconselho os obreiros da seara do Senhor a
aprenderem de nosso amado irmão algumas lições preciosas sobre a obra de
ganhar almas."
O doutor Dale disse:
"Acerca do poder de Moody, acho difícil falar. É tão real e ao mesmo tempo
tão diferente do poder dos demais pregadores, que não sei descrevê-lo. Sua
realidade é inegável. Um homem que pode cativar o interesse de um auditório de
três a seis mil pessoas, por meia hora, de manhã, por quarenta minutos, de
novo, ao meio-dia e de um terceiro auditório, de 13 a 15 mil, durante quarenta
minutos, à noite, deve ter um poder extraordinário."
Acerca desse poder
maravilhoso, Torrey testificou: "Várias vezes tenho ouvido diversas
pessoas dizerem que viajaram grandes distâncias para ver e ouvir D. L. Moody, e
que ele, de fato, é um maravilhoso pregador. Sim, ele era em verdade um
maravilhoso pregador; considerando tudo, o mais maravilhoso que eu jamais ouvi;
era grande o privilégio de ouvi-lo pregar, como só ele sabia pregar. Contudo,
conhecendo-o intimamente, quero testificar que Moody era maior como intercessor
do que como pregador. Enfrentando obstáculos aparentemente invencíveis, ele
sabia vencer todas as dificuldades. Sabia, e cria no mais profundo de sua
alma, que não havia nada demasiadamente difícil para Deus fazer, e que a
oração podia conseguir tudo que Deus pudesse realizar."
Certo dia, na sua
grande campanha em Londres, Moody estava pregando num teatro repleto de
pessoas da alta sociedade, e entre elas havia um membro da família real. Moody
levantou-se e leu Lucas 4.27: "E havia muitos leprosos em Israel no tempo
do profeta Eliseu..." Ao chegar à palavra "Eliseu", ele não a
podia pronunciar e começou a gaguejar e balbuciar. Começou a ler o versículo de
novo, mas de novo não podia passar adiante. Experimentou a terceira vez e
falhou pela terceira vez. Então fechou o livro e muito comovido olhou para
cima, dizendo: "Ó Deus! use esta língua de gago para proclamar Cristo
crucificado a este povo!" Desceu sobre ele o poder de Deus e ele derramou
sua alma em tal torrente de palavras que o auditório inteiro ficou como que
derretido pelo fogo divino.
Foi durante essa
segunda visita às Ilhas Britânicas que fez a sua obra entre os homens das suas
célebres universidades, Oxford e Cambridge. É uma história muitas vezes
repetida de como ele, sem instrução, mas, com a graça de Deus e diplomacia,
venceu a censura e fez entre os intelectuais o que alguns consideram a maior
obra da sua vida.
Apesar de Moody não
ter instrução acadêmica, reconhecia o grande valor da educação e sempre
aconselhava a mocidade a se preparar para manejar bem a Palavra de Deus.
Reconhecia a grande vantagem da instrução também para os que pregam no poder
do Espírito Santo. Ainda existem três grandes monumentos às suas convicções
nesse ponto - as três escolas que ele fundou: O Instituto Bíblico em Chicago,
com 38 prédios e 16000 alunos matriculados nas aulas diurnas, noturnas e Cursos
por Correspondência; o Northfield Seminário, com 490 alunos, e a Escola do
Monte Hermom, com 500 alunos.
Entretanto, ninguém
se engane como alguns desses alunos e como diversos crentes entre nós, pensando
que o grande poder de Moody era mais intelectual do que espiritual. Nesse
ponto ele mesmo falava com ênfase: para maior clareza, citamos o seguinte de
seus "Short Talks": "Não conheço coisa mais importante que a
América precise do que de homens e mulheres inflamados com o fogo do Céu;
nunca encontrei um homem (ou uma mulher) inflamado com o Espírito de Deus que
fracassasse. Creio que isso seja mesmo impossível; tais pessoas nunca se sentem
desanimadas. Avançam mais e mais e se animam mais e mais. Amados, se não tendes
essa iluminação, resolvei adquiri-la, e orai: 'Ó Deus ilumina-me com o teu
Espírito Santo!'"
No que R. A. Torrey
escreveu aparece o espírito dessas escolas que fundou:
"Moody costumava
escrever-me antes de iniciar uma nova campanha, dizendo: Pretendo dar início ao
trabalho no lugar tal e em tal dia; peço-lhe que convoque os estudantes para
um dia de jejum e oração.' Eu lia essas cartas aos estudantes e lhes dizia:
Moody deseja que tenhamos um dia de jejum e oração para pedir, primeiramente,
as bênçãos divinas sobre nossas próprias almas e nosso trabalho! Muitas vezes
ficávamos ali na sala das aulas até alta noite - ou mesmo até a madrugada -
clamando a Deus, porque Moody nos exortava a esperar até que recebêssemos a
bênção. Quantos homens e mulheres não tenho eu conhecido, cujas vidas e
caracteres foram transformados por aquelas noites de oração, e quantos têm
conseguido grandes coisas, em muitas terras, como resultado daquelas horas
gastas em súplicas a Deus!
"Até o dia da
minha morte não poderei esquecer-me de 8 de julho de 1894. Era o último dia da
Assembléia dos Estudantes de Northfield... Às 15 horas reunimo-nos em frente à
casa da progenitora de Moody... Havia 456 pessoas em nossa companhia... Depois
de andarmos alguns minutos, Moody achou que podíamos parar. Nós nos sentamos
nos troncos de árvores caídas, em pedras, ou no chão. Moody então franqueou a
palavra, dando licença para qualquer estudante expressar-se. Uns 75 deles, um
após outro, levantaram-se, dizendo: 'Eu não pude esperar até às 15 horas, mas
tenho estado sozinho com Deus desde o culto de manhã e creio que posso dizer que
recebi o batismo com o Espírito Santo.' Ouvindo o testemunho desses jovens,
Moody sugeriu o seguinte: 'Moços, por que não podemos ajoelhar-nos aqui, agora,
e pedir que Deus manifeste em nós o poder do seu Espírito de um modo especial,
como fez aos apóstolos no dia de Pentecoste?' E ali na montanha oramos.
"Na subida,
tínhamos notado como se iam acumulando nuvens pesadas; no momento em que
começamos a orar, principiou a chuva a cair sobre os grandes pinheiros e sobre
nós. Porém houve uma outra qualidade de nuvem que há dez dias estava se
acumulando sobre a cidade de Northfield - uma nuvem cheia da misericórdia, da
graça e do poder divino, de sorte que naquela hora parecia que nossas orações
bombardeavam essas nuvens, fazendo descer sobre nós, em grande poder, a
virtude do Espírito Santo.
"Homens e
mulheres, eis o de que todos nós carecemos - o batismo com o Espírito
Santo!"
Que Moody mesmo era
um estudante incansável, vê-se no seguinte:
"Todos os dias
da sua vida, até o fim, segundo creio, ele se levantava muito cedo de manhã
para meditar na Palavra de Deus. Costumava deixar sua cama às quatro horas da
madrugada, mais ou menos, para estudar a Bíblia. Um dia ele me disse: Tara
estudar, preciso me levantar antes que as outras pessoas acordem'. Ele se fechava
num quarto afastado do resto da família, sozinho com a sua Bíblia e com o seu
Deus.
"Pode-se falar
em poder, porém, ai do homem que negligenciar o único Livro dado por Deus, que
serve de instrumento, por meio do qual Ele dá e exerce seu poder. Um homem
pode ler inúmeros livros e assistir a grandes convenções; pode promover
reuniões de oração que durem noites inteiras, suplicando o poder do Espírito
Santo, mas se tal homem não permanecer em contato íntimo e constante com o
único Livro, a Bíblia, não lhe será concedido o poder. Se já tem alguma força
não conseguirá mantê-la, senão pelo estudo diário, sério e intenso desse
Livro."
Tudo no mundo tem de
findar; chegou o tempo também para D. L. Moody findar o seu ministério aqui na
terra. Em 16 de novembro de 1899, no meio de sua campanha em Kansas City, com
auditórios de 15.000 pessoas, pregou seu último sermão. É provável que soubesse
que seria o último: certo é que seu apelo era ungido com poder vindo do Alto e
centenas de almas foram ganhas para Cristo.
Para a nação, a
sexta-feira, 22 de dezembro de 1899, foi o dia mais curto do ano, mas para D.
L. Moody, foi o dia que clareou, foi o começo do dia que nunca findará. Às seis
horas da manhã dormiu um ligeiro sono. Então os seus queridos ouviram-no dizer
em voz clara: "Se isto é a morte, não há nenhum vale. Isto é glorioso.
Entrei pelas portas e vi as crianças! (Dois de seus netos já falecidos). A
terra recua; o céu se abre perante mim. Deus está me chamando!" Então
virou-se para a sua esposa, a quem ele queria mais do que a todas as pessoas, a
não ser Cristo, e disse: "Tu tens sido para mim uma boa esposa."
No singelo culto
fúnebre, Torrey, Scofield, Sankey e outros falaram à grande multidão comovida
que assistiu. Depois o ataúde foi levado pelos alunos da Escola Bíblica de
Monte Hermom a um lugar alto que ficava próximo, chamado "Round Top".
Três anos depois, a fiel serva de Deus, Ema Moody, sua esposa, também dormiu em
Cristo e foi enterrada ao lado do marido, no mesmo alto, onde permanecerão até
o glorioso dia da ressurreição.
Contemplemos de novo,
por um momento, a vida extraordinária desse grande ganhador de almas. Quando o
jovem Moody chorava sob o poder do alto na pregação do jovem Spurgeon, foi
inspirado a exclamar: "Se Deus pode usar Spurgeon, Ele me pode usar
também". A biografia de Moody é a história de como ele vivia completamente
submisso a Deus, para esse fim. R. A. Torrey disse: "O primeiro fator
por cujo motivo Moody foi instrumento tão útil nas mãos de Deus é que ele era
um homem inteiramente submisso à vontade divina. Cada grama daquele corpo de
127quilos pertencia ao Senhor; tudo que ele era e tudo que tinha pertencia
inteiramente a Deus... Se nós, tu e eu, leitor, queremos ser usados por Deus,
temos de nos submeter a Ele absolutamente e sem reservas."
Leitor, resolve
agora, com a mesma determinação e pelo auxílio divino: "Se Deus podia usar
Dwight Lyman Moody, Ele me pode usar também!"Que assim seja! Amém!
(estraido do livro
hérois da fé)
MARTINHO LUTERO
O GRANDE REFORMADOR
(1483-1546) - No
cárcere, sentenciado pelo Papa a ser queimado vivo, João Huss disse:
"Podem matar o ganso (na sua língua, 'huss' é ganso), mas daqui a cem
anos, Deus suscitará um cisne que não poderão queimar".
Enquanto caía a neve,
e o vento frio uivava como fera em redor da casa, nasceu esse
"cisne", em Eisleben, Alemanha. No dia seguinte, o recém-nascido era
batizado na Igreja de São Pedro e São Paulo. Sendo o dia de São Martinho, recebeu
o nome de Martinho Lutero.
Cento e dois anos
depois de João Huss expirar na fogueira, o "cisne" afixou, na porta
da Igreja em Wittenberg, as suas noventa e cinco teses contra as indulgências,
ato que gerou a Grande Reforma. João Huss enganara-se em apenas dois anos, na
sua predição.
Para dar o valor
devido à obra de Martinho Lutero, é necessário notar algo das trevas e confusão
dos tempos em que nasceu.
Calcula-se que, pelo
menos, um milhão de albigenses foram mortos na França, a fim de cumprir a ordem
do Papa, para que esses "hereges" fossem cruelmente exterminados.
Wyclif, "a Estrela da Alva da Reforma", traduzira a Bíblia para a
língua inglesa. João Huss, discípulo de Wyclif, morrera na fogueira, na
Boêmia, suplicando ao Senhor que perdoasse aos seus perseguidores. Jerônimo de
Praga, companheiro de Huss e também erudito, sofrera o mesmo suplício, cantando
hinos, nas chamas, até o último suspiro. João Wessália, notável pregador de
Erfurt, fora preso por ensinar que a salvação é pela graça; seu frágil corpo
fora metido entre ferros, onde morreu quatro anos antes do nascimento de
Lutero. Na Itália, quinze anos depois de Lutero nascer, Savonarola, homem
dedicado a Deus e fiel pregador da Palavra, foi enforcado e seu corpo reduzido
a cinzas, por ordem da Igreja Romana.
Em tempos assim,
nasceu Martinho Lutero. Como muitos dos mais célebres entre os homens, era de
família pobre. Dizia ele: "Sou filho de camponeses; meu pai, meu avô e meu
bisavô eram verdadeiros camponeses". A isso acrescentava: "Há tanta
razão para vangloriarmo-nos de nossa ascendência, quanto há para o Diabo se
orgulhar da sua linhagem angélica".
Os pais de Martinho,
para vestir, alimentar e educar seus sete filhos, esforçavam-se
incansavelmente. O pai trabalhava nas minas de cobre; a mãe, além do serviço
doméstico, trazia lenha às costas, da floresta.
Os pais, não somente
se interessavam pelo desenvolvimento físico e intelectual dos filhos, mas
também do espiritual. O pai, quando Martinho chegou à idade de compreender,
ensinou-o a ajoelhar-se ao lado da sua cama, à noite, e rogava a Deus que
fizesse o menino lembrar-se do nome de seu Criador (Eclesiastes 12.1)..
A sua mãe era sincera
e devota; ensinou seus filhos a considerarem todos os monges como homens
santos, e a sentirem todas as transgressões dos regulamentos da igreja como
transgressões das leis de Deus. Martinho aprendeu os Dez Mandamentos, o
"Pai Nosso", a respeitar a Santa Sé na distante e sagrada Roma, e a
olhar, tremendo, para qualquer osso ou fragmento de roupa que tivesse
pertencido a algum santo. A base da sua religião formava-se mais em que Deus é
um juiz vingativo, do que um amigo de crianças (Mateus 19.13-15). Quando já era
adulto, Lutero escreveu: "Estremecia e tornava-me pálido ao ouvir alguém
mencionar o nome de Cristo, porque fui ensinado a considerá-lo como um juiz
encolerizado. Fomos ensinados que devíamos, nós mesmos, fazer propiciação por
nossos pecados; que não podemos fazer compensação suficiente por nossa culpa,
que é necessário recorrer aos santos nos céus, e clamar a Maria para desviar de
nós a ira de Cristo."
O pai de Martinho, satisfeitíssimo
pelos trabalhos escolares do filho, na vila onde morava, mandou-o, aos treze
anos, para a escola franciscana na cidade de Magdeburgo.
O moço apresentava-se
freqüentemente no confessionário, onde o padre lhe impunha penitências e o
obrigava a praticar boas obras, para obter a absolvição. Esforçava-se
incessantemente para adquirir o favor de Deus, pela piedade, desejo esse que o
levou mais tarde à vida de convento.
Para conseguir a sua
subsistência em Magdeburgo, Martinho era obrigado a esmolar pelas ruas,
cantando canções de porta em porta. Seus pais, achando que em Eisenach
passaria melhor, mandaram-no para estudar nessa cidade, onde moravam parentes
de sua mãe. Porém esses parentes não o auxiliaram, e o moço continuou a
mendigar o pão.
Quando estava a ponto
de abandonar os estudos, j)ara trabalhar com as mãos, certa senhora de
recursos, D. Ursula Cota, atraída por suas orações na igreja e comovida pela
humilde maneira de receber quaisquer restos de comida, na porta, acolheu-o
entre a família. Pela primeira vez Lutero sentira fartura. Mais tarde, ele
referia-se à cidade de Eisenach como a "cidade bem amada". Quando
Lutero se tornou famoso, um dos filhos da família Cota cursava em Wittenberg,
onde Lutero o recebeu na sua casa.
Domiciliado na casa
da sua extremosa mãe adotiva, D. Ursula, Martinho desenvolveu-se rapidamente,
recebendo uma sólida educação. Seu mestre, João Trebunius, era homem culto e
de métodos esmerados. Não maltratava os alunos como os demais mestres. Conta-se
que, ao encontrar os moços da sua escola, cumprimentava-os tirando o chapéu,
porque "ninguém sabia quais seriam dentre eles os doutores, regentes,
chanceleres e reis..." O ambiente da escola e no lar era-lhe favorável
para produzir um caráter forte e inquebrantável, tão necessário para enfrentar
os mais temíveis inimigos de Deus.
Martinho Lutero era
mais sóbrio e devoto que os demais rapazes da sua idade. Acerca deste fato, D.
Ursula, na hora da morte, disse que Deus tinha abençoado o seu lar grandemente
desde o dia em que Lutero entrara em sua casa.
Logo depois, os pais
de Martinho alcançaram certa abastança. O pai alugou um forno para fundição de
cobre e depois passou a possuir mais dois. Foi eleito vereador na sua cidade e
começou a fazer planos para educar seus filhos. Mas Martinho nunca se
envergonhou dos dias da sua provação e miséria; antes reconhecia que fora a mão
de Deus dirigindo-o e qualificando-o para a sua grande obra.
- Como poderia
alguém, depois de homem feito, encarar fiel e destacadamente as vicissitudes da
vida, se não aprendesse por experiência enquanto era jovem?
Aos dezoito anos,
Martinho ansiava estudar numa universidade. Seu pai, reconhecendo a idoneidade
do filho, enviou-o a Erfurt, o centro intelectual do país, onde cursavam mais
de mil estudantes. O moço estudou com tanto afinco que, no fim do terceiro
semestre, obteve o grau de bacharel em filosofia. Com a idade de vinte e um
anos, alcançou o segundo grau acadêmico e o de doutor em filosofia. Os
estudantes, professores e autoridades prestaram-lhe significativa homenagem.
Havia dentro dos
muros de Erfurt, cem prédios que pertenciam à igreja, inclusive oito conventos.
Havia, também uma importante biblioteca, que pertencia à universidade, e aí
Lutero passava todo o tempo de que podia dispor. Sempre suplicava
fervorosamente a Deus que o abençoasse nos estudos. Dizia ele: "Orar bem
é a melhor parte dos estudos." Acerca dele escreveu certo colega:
"Cada manhã ele precede seus estudos com uma visita à igreja e uma prece a
Deus".Seu pai, desejoso de que seu filho se formasse em direito e se
tornasse célebre, comprou-lhe a caríssima obra: "Corpus Juris".
Mas a alma de Lutero
suspirava por Deus, acima de todas as coisas. Vários acontecimentos
influenciaram-no a entrar para a vida monástica, passo que entristeceu
profundamente seu pai e horrorizou seus companheiros de universidade.
Primeiro, achou na
biblioteca o maravilhoso Livro dos livros, a Bíblia completa, em latim. Até
aquela ocasião, supunha que as pequenas porções escolhidas pela igreja para
serem lidas aos domingos, constituíssem o todo da Palavra de Deus. Depois de
uma longa leitura, exclamou: "Oh! se a Providência me desse um livro como
este, só para mim!" Continuando a ler as Escrituras, o seu coração começou
a perceber a luz, e a sua alma a sentir ainda mais sede de Deus.
A essa altura, quando
se bacharelou, os estudos custaram-lhe uma doença que o levou às portas da
morte. Assim, a fome pela Palavra de Deus ficou ainda mais enraizada no
coração de Lutero. Algum tempo depois da sua doença, em viagem para visitar a
família, sofreu um golpe de espada, e duas vezes quase morreu antes de um
cirurgião conseguir pensar-lhe a ferida. Para Lutero, a salvação da sua alma
ultrapassava qualquer outro anelo.
Certo dia, um de seus
íntimos amigos na Universidade foi assassinado. "Ah!" exclamou
Lutero, horrorizado, "o que seria de mim se eu tivesse sido chamado desta
para a outra vida tão inopinadamente!"
Mas, de todos esses
acontecimentos, o que mais o abalou em espírito, foi o que experimentou durante
uma terrível tempestade, quando voltava de visitar seus pais. Não havia abrigo
próximo. Os céus estavam em brasa, os raios rasgavam as nuvens a cada instante.
De repente um raio caiu ao seu lado. Lutero, tomado de grande susto, e
sentindo-se perto do Inferno, prostrou-se gritando: "Sant'Ana, salva-me e
tornar-me-ei monge!"
Lutero chamava a esse
incidente "A minha estrada, caminho de Damasco" e não tardou em
cumprir a sua promessa feita a Sant'Ana. Convidou então os seus colegas para
cearem com ele. Depois da refeição, enquanto eles se divertiam com palestras e
música, repentinamente anunciou-lhes que dali em diante poderiam considerá-lo
como morto, pois ia entrar para o convento. Debalde os seus companheiros
procuraram dissuadi-lo do seu plano. Na escuridão da mesma noite, o moço,
antes de completar vinte e dois anos, dirigiu-se ao convento dos agostinianos e
bateu. A porta abriu-se e Lutero entrou. O professor admirado e festejado, a
glória da universidade, aquele que passara os dias e as noites curvado sobre os
livros, tornara-se irmão agostiniano!
O mosteiro dos
agostinianos era o melhor dos claustros de Erfurt. Seus monges eram os
pregadores da cidade, estimados por suas obras entre os pobres e oprimidos.
Nunca houve um monge naquele convento mais submisso, mais devoto, mais piedoso,
do que Martinho Lutero. Submetia-se aos serviços mais humildes, como o de
porteiro, coveiro, varredor da igreja e das celas dos monges. Não recusava
mendigar o pão cotidiano para o convento, nas ruas de Erfurt.
Durante o ano de
noviciado, antes de Lutero ser feito monge, os seus amigos fizeram tudo para
dissuadi-lo de confirmar esse passo. Os companheiros, que convidara para cearem
com ele, quando anunciou a sua intenção de ser monge, ficaram no portão do
convento dois dias, esperando que ele voltasse. Seu pai, vendo que seus rogos
eram inúteis e que todos os seus anelantes planos acerca do filho iam
fracassar, quase enlouqueceu.
Assim se justificou
Lutero: "Fiz a promessa a Sant'Ana, para salvar a minha alma. Entrei para
o convento e aceitei esse estado espiritual somente para servir a Deus e
ser-lhe agradável durante a eternidade."
Quão grande, porém,
era a sua ilusão. Depois de procurar crucificar a carne pelos jejuns
prolongados, pelas privações mais severas, e com vigílias sem conta, achou
que, embora encarcerado na sua cela, tinha ainda de lutar contra os maus
pensamentos. A sua alma clamava: "Dá-me santidade ou morro por toda a
eternidade; leva-me ao rio de água pura e não a estes mananciais de águas poluídas;
traze-me as águas da vida que saem do trono de Deus!" Certo dia Lutero
achou, na biblioteca do convento, uma velha Bíblia latina, presa à mesa por uma
cadeia. Achara, enfim, um tesouro infinitamente maior que todos os tesouros
literários do convento. Ficou tão embevecido que, durante semanas inteiras,
deixou de repetir as orações diurnas da ordem. Então, despertado pelas vozes da
sua consciência, arrependeu-se da sua negligência: era tanto o remorso, que não
podia dormir. Apressou-se a reparar o seu erro: fê-lo com tanto anseio que não
se lembrava de alimentar-se.
Então,
enfraquecidíssimo por tantos jejuns e vigílias, sentiu-se oprimido pelas
apreensões até perder os sentidos e cair por terra. Aí os outros monges o
acharam, admirados novamente de sua excepcional piedade! Lutero somente voltou
a si depois de um grupo de coristas o haver rodeado, cantando. A suave harmonia
penetrou-lhe o coração e despertou o seu espírito. Porém ainda assim lhe
faltava a paz perpétua para a alma; ainda não havia ouvido cantar o coro
celestial: "Glória a Deus nas maiores alturas, paz na terra, boa vontade
para com os homens!"
Nessa altura, o
vigário geral da ordem agostiniana, Staupitz, visitou o convento. Era homem de
grande discernimento, e devoção enraizada; compreendeu logo o problema do
jovem monge; ofereceu-lhe uma Bíblia na qual Lutero leu que "o justo
viverá da fé". Por quanto tempo tinha ele anelado: "Oh! se Deus me
desse um livro destes só para mim!" - e agora o possuía!
Na leitura da Bíblia
achou grande consolação, mas a obra não podia completar-se em um dia. Ficou
mais determinado do que nunca a alcançar paz para a sua alma, na vida
monástica, jejuando e passando noites a fio sem dormir. Gravemente enfermo,
exclamou: "Os meus pecados! Os meus pecados!" Apesar da sua vida ter
sido livre de manchas, como ele afirmava e outros testificavam, sentia sua
culpa perante Deus, até que um velho monge lhe lembrou uma palavra do Credo:
"Creio na remissão dos pecados". Viu então que Deus não somente
perdoara os pecados de Daniel e de Simão Pedro, mas também os seus.
Pouco tempo depois
destes acontecimentos, Lutero foi ordenado padre. A primeira missa que celebrou
foi um grande evento. O pai, irreconciliável, desde o dia em que o filho
abandonara os estudos de advocacia até aquela ocasião, assistiu à primeira
missa, vindo a cavalo de Mansfield, com uma boa oferta para o convento, acompanhado
por vinte e cinco amigos.
Depois de completar
vinte e cinco anos de idade, Lutero foi nomeado para a cadeira de filosofia em
Wittenberg, para onde se mudou para viver no convento da sua ordem. Porém a sua
alma anelava pela Palavra de Deus, e pelo conhecimento de Cristo. No meio das
ocupações do professorado, dedicou-se ao estudo das Escrituras e no primeiro
ano conquistou o grau de baccalaureus ad bíblia. Sua alma ardia com o fogo dos
céus; de todas as partes acorriam multidões para ouvir os seus discursos, os
quais fluíam abundante e vivamente do seu coração, sobre as maravilhosas
verdades reveladas nas Escrituras. Um dos mais afamados professores de Leipzig,
conhecido como a "Luz do Mundo", disse: "Este frade há de
envergonhar todos os doutores; há de propalar uma doutrina nova e reformar
toda a igreja, porque ele se baseia na Palavra de Cristo, Palavra à qual ninguém
no mundo pode resistir, e que ninguém pode refutar, mesmo atacando-a com todas
as armas da filosofia.
Um dos pontos
iluminantes da biografia de Lutero é a sua visita a Roma. Surgiu uma disputa
renhida entre sete conventos dos agostinianos e decidiram deixar os pontos de
dissidência para o Papa resolver. Lutero, sendo o homem mais hábil, mais eloquente
e altamente apreciado e respeitado por todos que o conheciam, foi escolhido
para representar o seu convento em Roma.
Fez a viagem a pé,
acompanhado de outro monge. Nesse tempo Lutero ainda continuava a dedicar-se
fiel e inteiramente à Igreja Romana. Quando, por fim, chegaram ao ponto da
estrada onde se avistava a famosa cidade, Lutero caiu em terra e exclamou:
"Saúdo-te, santa cidade!"
Os dois monges
passaram um mês em Roma, visitando os vários santuários e os lugares de
peregrinação. Lutero celebrou missa dez vezes. Lastimou, ao mesmo tempo, que
seus pais ainda não tivessem morrido a fim de poder resgatá-los do Purgatório!
Um dia, subindo a Santa Escada de joelhos, desejando a indulgência que o chefe
da igreja prometia por esse ato, ressoaram nos seus ouvidos como voz de
trovão, as palavras de Deus: "O justo viverá da fé". Lutero ergueu-se
e saiu envergonhado.
Depois da corrupção
generalizada que viu em Roma, a sua alma aderiu à Bíblia mais que nunca. Ao
chegar novamente ao seu convento, o vigário geral insistiu em que desse os
passos necessários para obter o título de doutor, com o qual teria o direito de
pregar. Lutero, porém, reconhecendo a grande responsabilidade perante Deus e
não querendo ceder, disse: "Não é de pouca importância que o homem fale
em lugar de Deus... Ah! Sr. Dr., fazendo isto, me tirais a vida; não resistirei
mais que três meses." O vigário geral respondeu-lhe: "Seja assim, em
nome de Deus, pois o Senhor Deus também necessita nos céus de homens dedicados
e hábeis".
O coração de Lutero,
elevado à dignidade de doutor em teologia, abrasava-se ainda mais do desejo de
conhecer as Sagradas Escrituras e foi nomeado pregador da cidade de Wittenberg.
Os livros que estudou e as margens cheias de anotações que escreveu em letras
miúdas, servem aos eruditos atuais como exemplo de como cuidadosa e minuciosamente
estudava tudo em ordem.
Acerca da grande
transformação da sua vida, nesse tempo, ele mesmo escreve: "Desejando
ardentemente compreender as palavras de Paulo, comecei o estudo da Epístola aos
Romanos. Porém, logo no primeiro capítulo consta que a justiça de Deus se
revela no Evangelho (vv. 16,17). Eu detestava as palavras: a justiça de Deus,
porque, conforme fui ensinado, eu a considerava como um atributo do Deus santo
que o leva a castigar os pecadores. Apesar de viver irrepreensivelmente, como
monge, a consciência perturbada me mostrava que era pecador perante Deus.
Assim odiava a um Deus justo, que castiga os pecadores... Senti-me ferido de
consciência, revoltado intimamente, contudo voltava sempre para o mesmo
versículo, porque queria saber o que Paulo ensinava. Contudo, depois de
meditar sobre esse ponto durante muitos dias e noites, Deus, na sua graça, me
mostrou a palavra: 'O justo viverá da fé.' Vi então que a justiça de Deus,
nesta passagem, é a justiça que o homem piedoso recebe de Deus pela fé, como
dádiva."
A alma de Lutero
dessa forma saiu da escravidão; ele mesmo escreveu assim: "Então me achei
recém-nascido e no Paraíso. Todas as Escrituras tinham para mim outro aspecto;
perscrutava-as para ver tudo quanto ensinam sobre a 'justiça de Deus'. Antes,
estas palavras eram-me detestáveis; agora as recebo com o mais intenso amor. A
passagem me servia como a porta do Paraíso."
Depois dessa
experiência, pregava diariamente; em certas ocasiões, pregava até três vezes ao
dia, conforme ele mesmo conta: "O que o pasto é para o rebanho, a casa
para o homem, o ninho para o passarinho, a penha para a cabra rnontês, o arroio
para o peixe, a Bíblia é para as almas fiéis. " A luz do Evangelho, por
fim, tomara o lugar das trevas e a alma de Lutero abrasava por conduzir os
seus ouvintes ao Cordeiro de Deus, que tira todo o pecado.
Lutero levou o povo a
considerar a verdadeira religião, não como uma mera profissão, ou sistema de
doutrinas, mas como vida em Deus. A oração não era mais um exercício sem
sentido, mas o contato do coração com Deus que cuida de nós com um amor
indizível. Nos seus sermões, Deus revelou o seu próprio coração a milhares de
ouvintes, por meio do coração de Lutero.
Convidado a pregar
durante uma convenção dos agostinianos, não deu uma mensagem doutrinai de
sabedoria humana, como se esperava, mas fez um discurso ardente contra a língua
maldizente dos monges. Os agostinianos, levados pela mensagem, elegeram-no
diretor sobre onze conventos!
Lutero não somente
pregava a virtude, mas praticava-a, amando verdadeiramente o próximo. Nesse
tempo, a peste vinda do Oriente, visitou Wittenberg. Calcula-se que a quarta
parte do povo da Europa, inclusive a metade da população alemã, foi ceifada
pela morte. Quando professores e estudantes fugiram da cidade, instaram que
Lutero fugisse também, porém ele respondeu: - "Para onde hei de fugir? O
meu lugar é aqui: o dever não me permite ausentar-me do meu posto até que
Aquele que me mandou para aqui me chame. Não que eu deixe de temer a morte, mas
espero que o Senhor me dê ânimo". Assim ele ministrava à alma e ao corpo
do próximo durante um tempo de aflição e de angústia.
A fama do jovem monge
espalhou-se ate longe. Entretanto, sem o reconhecer, enquanto trabalhava
incansavelmente para a igreja, já havia deixado o rumo liberal que ela seguia
em doutrina e prática.
Em outubro de 1517,
Lutero afixou à porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, as suas 95 teses, o
teor das quais é que Cristo requer o arrependimento e a tristeza pelo pecado e
não a penitência. Lutero afixou as teses ou proposições para um debate
público, na porta da igreja, como era costume nesse tempo. Mas as teses,
escritas em latim, foram logo traduzidas em alemão, holandês e espanhol.
Antes de decorrido um mês, para surpresa de Lutero, já estavam na Itália,
fazendo estremecer os alicerces do velho edifício de Roma. Foi desse ato de
afixar as 95 teses da Igreja de Wittenberg, que nasceu a Reforma, isto é, que
tomou forma o grande movimento de almas que em todo o mundo ansiavam voltar
para a fonte pura, a Palavra de Deus. Contudo Lutero não atacara a Igreja
Romana, mas antes, pensou fazer a defesa do Papa contra os vendedores de
indulgências.
Em agosto de 1518,
Lutero foi chamado a Roma para responder a uma denúncia de heresia. Contudo, o
eleitor Frederico não consentiu que fosse levado para fora do país; assim
Lutero foi intimado a apresentar-se em Augsburgo. "Eles te queimarão
vivo", insistiram seus amigos. Lutero, porém, respondeu resolutamente:
"Se Deus sustenta a causa, ela será sustentada".
A ordem do núncio do
Papa em Augsburgo foi: "Retrate-se ou não voltará daqui". Contudo
Lutero conseguiu fugir, passando por uma pequena cancela no muro da cidade,
na escuridão da noite. Ao chegar de novo em Wittenberg, um ano depois de
afixar as teses, era o homem mais popular em toda a Alemanha. Não havia jornais
nesse tempo, mas fluíam da pena de Lutero respostas a todos os seus críticos
para serem publicadas em folhetos. O que escreveu dessa forma, hoje seriam cem
volumes.
O célebre Erasmo, da
Holanda, assim escreveu a Lutero: "Seus livros estão despertando todo o
país... Os mais eminentes da Inglaterra gostam de seus escritos..."
Quando a bula de
excomunhão, enviada pelo Papa, chegou em Wittenberg, Lutero respondeu com um
tratado dirigido ao Papa Leão X, exortando-o, no nome do Senhor, a que se
arrependesse. A bula do Papa foi queimada fora do muro da cidade de Wittenberg,
perante grande ajuntamento do povo. Assim escreveu Lutero ao vigário geral:
"No momento de queimar a bula, estava tremendo e orando, mas agora estou
satisfeito de ter praticado este ato enérgico". Lutero não esperou até que
o Papa o excomungasse, mas deu logo o pulo da Igreja Romana para a Igreja do
Deus vivo.
Porém, o imperador
Carlos V, que ia convocar sua primeira Dieta na cidade de Worms, queria que
Lutero comparecesse para responder, pessoalmente, aos seus acusadores. Os
amigos de Lutero insistiam em que recusasse ir. -Não fora João Huss entregue a
Roma para ser queimado, apesar da garantia de vida da parte do imperador?! Mas
em resposta a todos que se esforçavam por dissuadi-lo de comparecer perante
seus terríveis inimigos, Lutero, fiel à chamada de Deus, respondeu: "Ainda
que haja em Worms, tantos demônios quantas sejam as telhas nos telhados,
confiando em Deus, eu aí entrarei". Depois de dar ordens acerca do
trabalho, no caso de ele não voltar, partiu.
Na sua viagem para
Worms, o povo afluía em massa para ver o grande homem que teve coragem de
desafiar a autoridade do Papa. Em Mora, pregou ao ar livre, porque as igrejas
não mais comportavam as multidões que queriam ouvir seus sermões. Ao avistar
as torres das igrejas de Worms, levantou-se na carroça em que viajava e cantou
o seu hino, o mais famoso da Reforma: "Ein Feste Berg", isto é:
''Castelo forte é nosso Deus". Ao entrar, por fim, na cidade, estava
acompanhado de uma multidão de povo muito maior do que a que fora ao encontro
de Carlos V. No dia seguinte foi levado perante o imperador, ao lado do qual se
achavam o delegado do Papa, seis eleitores do império, vinte e cinco duques,
oito margraves, trinta cardeais e bispos, sete embaixadores, os deputados de
dez cidades e grande número de príncipes, condes e barões.
É fácil imaginar que
o reformador era um homem de grande coragem e de físico forte para enfrentar
tantas feras que ansiavam despedaçar-lhe o corpo. A verdade é que passara uma
grande parte da vida afastado dos homens e, mais ainda, achava-se fraco da
viagem, na qual foi necessário que um médico o atendesse. Entretanto
mostrou-se corajoso, não na sua própria força, mas no poder de Deus.
Sabendo que tinha de
comparecer perante uma das mais imponentes assembleias de autoridades
religiosas e civis de todos os tempos, Lutero passou a noite anterior de
vigília. Prostrado com o rosto em terra, lutou com Deus, chorando e suplicando.
Um dos seus amigos ouviu-o orar assim: "Oh! Deus todo-poderoso! a carne é
fraca, o Diabo é forte! Ah! Deus, meu Deus, que perto de mim estejas contra a
razão e a sabedoria do mundo! Fá-lo, pois somente tu o podes fazer. Não é a
minha causa, mas sim a tua. - Que tenho eu com os grandes da terra? É a tua
causa, Senhor, a tua justa e eterna causa. Salva-me, oh! Deus fiel! Somente em
ti confio, oh! Deus! meu Deus... vem, estou pronto a dar, como um cordeiro, a
minha vida. O mundo não conseguirá prender a minha consciência, ainda que
esteja cheio de demônios, e, se o meu corpo tem de ser destruído, a minha alma
te pertence, e estará contigo eternamente..."
Conta-se que, no dia
seguinte, na ocasião de Lutero transpor a porta para comparecer perante a
Dieta, o veterano general Freudsburgo, colocou a mão no ombro do Reformador e
disse-lhe: "Pequeno monge, vais a um encontro diferente, que eu ou
qualquer outro capitão jamais experimentamos, mesmo nas nossas conquistas mais
ensangüentadas. Contudo, se a causa é justa, e sabes que o é, avança no nome
de Deus, e não temas nada! Deus não te abandonará" - O grande general não
sabia que Martinho Lutero vencera a batalha em oração e que entrava somente
para declarar-lhes que a havia vencido de maiores inimigos.
Quando o núncio do
papa exigiu de Lutero, perante a augusta assembleia, que se retratasse, ele
respondeu: "Se não me refutardes pelo testemunho das Escrituras ou por
argumentos - desde que não creio somente nos papas e nos concílios, por ser
evidente que já muitas vezes se enganaram e se contradisseram uns aos outros -
a minha consciência tem de ficar submissa à Palavra de Deus. Não posso
retratar-me, nem me retratarei de qualquer coisa, pois não é justo nem seguro
agir contra a consciência. Deus me ajude! Amém."
De volta ao seu
aposento, Lutero levantou as mãos ao Céu e exclamou com o rosto todo iluminado:
"Está cumprido! Está cumprido! Se eu tivesse mil cabeças, preferiria que
todas fossem decepadas antes de me retratar".
A cidade de Worms, ao
receber as notícias da ousada resposta de Lutero ao núncio do papa,
alvoroçou-se. As palavras do reformador foram publicadas e espalhadas entre o
povo que afluiu para honrá-lo.
Apesar de os papistas
não conseguirem influenciar o imperador a violar o salvo-conduto, para que
pudessem queimar numa fogueira o assim chamado herege, Lutero teve de enfrentar
outro grave problema. O edito de excomunhão entraria imediatamente em vigor;
Lutero por causa da excomunhão, era criminoso e, ao findar o prazo do seu
salvo-conduto, devia ser entregue ao imperador; todos os seus livros deviam ser
apreendidos e queimados; o ato de ajudá-lo em qualquer maneira era crime
capital.
Mas para Deus é fácil
cuidar dos seus filhos. Lutero, regressando a Wittenberg, foi repentinamente
rodeado num bosque por um bando de cavaleiros mascarados que, depois de
despedirem as pessoas que o acompanhavam, conduziram-no, alta noite, ao
castelo de Wartburgo, perto de Eisenach. Isto foi um estratagema do príncipe de
Saxônia para salvar Lutero dos inimigos que planejavam assassiná-lo antes de
chegar a casa.
No castelo, Lutero passou
muitos meses disfarçado; tomou o nome de cavaleiro Jorge e o mundo o
considerava morto. Fiéis servos de Deus oravam dia e noite pelo reformador. As
palavras do pintor Alberto Durer, exprimem o sentimento do povo: - "Oh!
Deus! se Lutero fosse morto, quem agora nos exporia o Evangelho?"
Contudo, no seu
retiro, livre dos inimigos, foi-lhe concedida a liberdade de escrever, e o
mundo logo soube, pela grande quantidade de literatura, que essa obra saía da
sua pena e que, de fato, Lutero vivia. O reformador conhecia bem o hebraico e o
grego e em três meses tinha vertido todo o Novo Testamento para o alemão - em
poucos meses mais a obra estava impressa e nas mãos do povo. Cem mil
exemplares foram vendidos, em quarenta anos, além das cinquenta e duas edições
impressas em outras cidades. Era circulação imensa para aquele tempo, mas
Lutero não aceitou um centavo de direitos.
A maior obra de toda
a sua vida, sem dúvida, fora a de dar ao povo alemão a Bíblia na sua própria
língua - depois de voltar a Wittenberg. Já havia outras traduções, mas
escritas em uma forma de alemão latinizado que o povo não compreendia. A
língua alemã desse tempo era um agregado de dialetos, mas Lutero, ao traduzir
a Bíblia, deu ao povo a língua que serviu depois a homens como Goethe e Schiler
para escreverem as suas obras. O seu êxito em traduzir as Sagradas Escrituras
para o uso dos mais humildes, verifica-se no fato de que, depois de quatro
séculos, a sua tradução permanece como a principal.
Outra coisa que
contribuiu para o êxito da tradução de Lutero, é que ele era erudito em
hebraico e grego e traduziu direto das línguas originais. Contudo, o valor da
sua obra não se baseia tão-somente sobre seus indiscutíveis dotes literários.
O que lhe deu realidade é que ele conhecia a Bíblia, como ninguém podia
conhecê-la, sem primeiro sentir a angústia eterna e achar nas Escrituras a
verdadeira e profunda consolação. Lutero conhecia intimamente e amava
sinceramente o autor do Livro. O resultado foi que o seu coração abrasou-se com
o fogo e poder do Espírito Santo. Foi esse o segredo de ele traduzir tudo para
o alemão em tão pouco tempo.
Como todo mundo sabe,
a fortaleza de Lutero e da Reforma foi a Bíblia. Escreveu de Wartburgo para o
seu povo em Wittenberg: "Jamais em todo o mundo se escreveu um livro mais
fácil de compreender do que a Bíblia. Comparada aos outros livros, é como o
sol em contraste com todas as demais luzes. Não vos deixeis levar a abandoná-la
sob qualquer pretexto da parte deles. Se vos afastardes dela por um momento, tudo
estará perdido; podem levar-vos para onde quer que desejem. Se permanecerdes
com as Escrituras, sereis vitoriosos."
Depois de abandonar o
hábito de monge, Lutero resolveu deixar por completo a vida monástica,
casando-se com Catarina von Bora, freira que também saíra do claustro, por ver
que tal vida é contra a vontade de Deus. O vulto de Lutero sentado ao lume, com
a esposa e seis filhos que amava ternamente, inspira os homens mais que o
grande herói ao apresentar-se perante o legado em Augsburgo.
Nos cultos
domésticos, a família rodeava um harmônio, com o qual louvavam a Deus juntos;
o reformador lia o Livro que traduzira para o povo e depois louvavam a Deus e
oravam até sentirem a presença divina entre eles.
Havia entre Lutero e
sua esposa profundo amor de um para com o outro. São de Lutero estas palavras:
"Sou rico, Deus me deu a minha freira e três filhos; não me importo das
dívidas: Catarina paga tudo." Catarina von Bora era estimada por todos.
Alguns, de fato, censuravam-na porque era demasiado econômica; mas que teria
acontecido a Martinho Lutero e à família se ela tivesse feito como ele?
Dizia-se que ele, aproveitando-se da doença dela, cedeu o seu prato de comida a
certo estudante que estava com fome. Não aceitava um kreuzer dos seus alunos e
recusava vender seus escritos, deixando todo o lucro para os tipógrafos.
Nas suas meditações
sobre as Escrituras, muitas vezes se esquecia das refeições. Ao escrever o
comentário sobre o Salmo 23, passou três dias no quarto comendo somente pão e
sal. Quando a esposa chamou um serralheiro e quebraram a fechadura, acharam-no
escrevendo, mergulhado em pensamentos e esquecido de tudo em redor.
É difícil concebermos
a magnitude das coisas que devemos atualmente a Martinho Lutero. O grande
passo que deu para que o povo ficasse livre para servir a Deus, como Ele mesmo
ensina, está além da nossa compreensão. Era grande músico e escreveu alguns dos
hinos mais espirituais cantados atualmente. Compilou o primeiro hinário e
inaugurou o costume de todos os assistentes aos cultos cantarem juntos.
Insistiu em que não somente os do sexo masculino, mas também os do feminino
fossem instruídos, tornando-se, assim, o pai das escolas públicas. Antes dele,
o sermão nos cultos era de pouca importância. Mas Lutero fez do sermão a parte
principal do culto. Ele mesmo serviu de exemplo para acentuar esse costume: era
pregador de grande porte. Considerava-se como sendo nada; a mensagem saía-lhe
do íntimo do coração: o povo sentia a presença de Deus. Em Zwiekau pregou a um
auditório de 25 mil pessoas na praça pública. Calcula-se que escreveu 180
volumes na língua materna e quase um número igual no latim. Apesar de sofrer
de várias doenças, sempre se esforçava dizendo: "Se eu morrer na cama será
uma vergonha para o papa."
Os homens geralmente
querem atribuir o grande êxito de Lutero à sua extraordinária inteligência e
aos seus destacados dons. O fato é que Lutero também tinha o costume de orar
horas a fio. Dizia que se não passasse duas horas de manhã orando, recearia que
Satanás ganhasse a vitória sobre ele durante o dia. Certo biógrafo seu
escreveu: "O tempo que ele passa em oração, produz o tempo para tudo que
faz. O tempo que passa com a Palavra vivificante enche o coração até
transbordar em sermões, correspondência e ensinamentos".
A sua esposa disse
que as orações de Lutero "eram", às vezes, como os pedidos
insistentes do seu filhinho Hanschen, confiando na bondade de seu pai; outras
vezes, eram como a luta de um gigante na angústia do combate".
Encontra-se o
seguinte na História da Igreja Cristã, por Souer, Vol. 3, pág. 406:
"Martinho Lutero profetizava, evangelizava, falava línguas e interpretava;
revestido de todos os dons do Espírito".
Nos seus sessenta e
dois anos pregou seu último sermão sobre o texto: "Ocultaste estas coisas
aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos". No mesmo dia
escreveu para a sua querida Catarina: "Lança o teu cuidado sobre o Senhor,
e Ele te susterá. Amém". Isso foi na última carta que escreveu. Vivia
sempre esperando que o papa conseguisse executar a repetida ameaça de
queimá-lo vivo. Contudo não era essa a vontade de Deus: Cristo o chamou
enquanto sofria dum ataque do coração, em Eisleben, cidade onde nascera.São
estas as últimas palavras de Lutero: "Vou render o espírito". Então
louvou a Deus em alta voz: "Oh! meu Pai
celeste! meu Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, em quem creio e a quem
preguei e confessei, amei e louvei! Oh! meu querido Senhor Jesus Cristo,
encomendo-te a minha pobre alma. Oh! meu Pai celeste! em breve tenho de deixar
este corpo, mas sei que ficarei eternamente contigo e que ninguém me pode
arrebatar das tuas mãos". Então, depois de recitar João 3.16 três vezes,
repetiu as palavras: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito, pois tu me
resgataste, Deus fiel". Assim fechou os olhos e adormeceu.
Um imenso cortejo de
crentes que o amavam ardentemente, com cinqüenta cavaleiros à frente, saiu de
Eisleben para Wittenberg; passando pela porta da cidade onde o reformador
queimara a bula de excomunhão, entrou pelas portas da igreja onde, há vinte e
nove anos, afixara suas 95 teses. No culto fúnebre, Bugenhangen, o pastor, e
Melancton, inseparável companheiro de Lutero, discursaram. Depois abriram a
sepultura, preparada ao lado do púlpito, e ali depositaram o corpo.
Quatorze anos depois,
o corpo de Melancton achou descanso do outro lado do púlpito. Em redor dos
dois, jazem os restos mortais de mais de noventa mestres da universidade.
As portas da Igreja
do Castelo, destruídas pelo fogo no bombardeio de Wittenberg em 1760, foram
substituídas por portas de bronze em 1812, nas quais estão gravadas as 95
teses. Contudo, este homem que perseverou em oração, deixou gravadas, não no
metal que perece, mas em centenas de milhões de almas imortais, a Palavra de
Deus que dará fruto para toda a eternidade.
(estraido do livro:
Hérois da fé)
JOÃO WESLEY
TOCHA TIRADA DO FOGO
(1703-1791) - O céu,
à meia-noite, era iluminado pelo reflexo sombrio das chamas que devoravam
vorazmente a casa do pastor Samuel Wesley. Na rua, ouviam-se os gritos:
"Fogo! Fogo!" Contudo, a família do pastor continuava a dormir
tranquilamente, até que os escombros ardentes caíram sobre a cama de uma filha,
Hetty. A menina acordou sobressaltada e correu para o quarto do pai. Sem poder
salvar coisa alguma das chamas, a família foi obrigada a sair casa a fora,
vestindo apenas as roupas de dormir, numa temperatura gélida
A ama, ao ser
despertada pelo alarme, arrebatou a criança menor, Carlos, do berço. Chamou os
outros meninos, insistindo que a seguissem, desceu a escada; porém, João, que
então contava cinco anos e meio, ficou dormindo
Três vezes a mãe,
Susana Wesley, que se achava doente, tentou, debalde, subir a escada. Duas
vezes o pai tentou, em vão, passar pelo meio das chamas, correndo. Sentindo o perigo,
ajuntou a família no jardim, onde todos caíram de joelhos e suplicaram a favor
da criança presa pelo fogo.
Enquanto a família
orava, João acordou e, depois de tentar descer pela escada, subiu numa mala que
estava em frente a uma janela, onde um vizinho o viu em pé. O vizinho chamou
outras pessoas e conceberam o plano de um deles subir nos ombros de um primeiro
enquanto um terceiro subia nos ombros do segundo, e alcançaram a criança.
Dessa maneira, João foi salvo da casa em chamas, apenas instantes antes de o
teto cair com grande fragor
O menino foi levado,
pelos intrépidos homens que o salvaram, para os braços do pai. "Cheguem,
amigos!", clamou Samuel Wesley, ao receber o filhinho,
"ajoelhemo-nos e agradecemos a Deus! Ele me restituiu todos os meus
filhos; deixem a casa arder; os meus recursos são suficientes." Quinze
minutos depois, casa, livros, documentos e mobiliários, não existiam mais.
Anos depois, em certa
publicação, apareceu o retrato de João Wesley e embaixo a representação de uma
casa ardendo, com as palavras: "Não é este um tição tirado do
fogo?" (Zacarias 3.2).
Encontra-se nos
escritos de Wesley, a seguinte referência interessante, desse histórico
sinistro: "Em 9 de fevereiro de 1750, durante um culto de vigília, cerca
das onze horas da noite, lembrei-me de que era esse o dia e a hora, havia
quarenta anos, em que me tiraram das chamas. Aproveitei-me do ensejo para
relatar a maravilhosa providência. Os louvores e as ações de graças subiram às
alturas e grande foi o regozijo perante o Senhor". Tanto o povo, como João
Wesley, já sabiam naquele tempo porque o Senhor o poupara do incêndio.
O historiador Lecky,
nomeia o Grande Avivamento como sendo a influência que salvou a Inglaterra de
uma revolução, igual à que, na mesma época, deixou a França em ruínas. Dos
quatro vultos que se destacaram no Grande Avivamento, João Wesley era o maior.
Jônatas Edwards, que nasceu no mesmo ano de Wesley, faleceu trinta e três anos
antes dele; Jorge Whitefield, nascido onze anos depois de Wesley, faleceu
vinte anos antes dele; e Carlos Wesley continuou o seu itinerário efetivo
somente dezoito anos, enquanto João continuou durante meio século.
Mas a biografia deste
célebre pregador, para ser completa, deve incluir a história de sua mãe,
Susana. De fato, é como certo biógrafo escreveu: "Não se pode traçar a
história do Grande Avivamento do século passado (1700), na Inglaterra, sem dar
uma grande parte da herança merecida à mãe de João e Carlos Wesley; isso não
somente por causa da instrução que inculcou profundamente aos filhos, mas por
causa da direção que deu ao avivamento."
A mãe de Susana era
filha de um pregador. Esforçada na obra de Deus, casou-se com o eminente
ministro, Samuel Annesley. Dos vinte e cinco filhos deste enlace, Susana era
a vigésima quarta. Durante a vida, seguiu o exemplo da sua mãe, passando uma
hora de madrugada e outra à noite, orando e meditando sobre as Escrituras. Pelo
que ela escreveu certo dia, vê-se como se dedicava à oração: "Que Deus
seja louvado por todos os dias em que nos comportamos bem. Mas estou ainda
descontente, porque não desfruto muito de Deus; sei que me conservo
demasiadamente longe dele; anseio ter a alma mais intimamente ligada a Ele
pela fé e amor".
João era o
décimo-quinto filho dos dezenove filhos de Samuel e Susana Wesley. O que vamos
transcrever, escrito pela mãe de João, mostra como ela era fiel em
"ordenar a seus filhos e a sua casa depois" dela (Gênesis 18.19):
"Para formar a mente da criança, a primeira coisa é vencer-lhe a vontade.
A obra de instruir o intelecto leva tempo e deve ser gradual, conforme a
capacidade da criança. Mas o subjugar-lhe a vontade deve ser feito de uma vez,
e quanto mais cedo tanto melhor... Depois, pode-se governar a criança pela
razão e piedade dos pais, até chegar o tempo de a criança poder, também exercer
o raciocínio."
Acerca de Samuel e
Susana Wesley e seus filhos, o célebre comentador da Bíblia, Adão Clark,
escreveu: "nunca li nem ouvi falar duma família; não conheço e nem existe
outra, desde os dias de Abraão e Sara, de José e Maria de Nazaré, à qual a raça
humana deve tanto."
Susana Wesley
acreditava que "aquele que poupa a vara, aborrece a seu filho"
(Provérbios 13.24), e não consentia que seus filhos chorassem em voz alta.
Assim, apesar de a casa estar repleta de crianças, nunca havia tempos
tristonhos nem balbúrdia no lar do pastor. Um filho jamais ganhou coisa alguma
chorando, na casa de Susana Wesley.
Susana marcava o
quinto aniversário de cada filho como o dia em que deviam aprender o alfabeto;
e todos, a não ser dois, cumpriram a tarefa no tempo marcado. No dia seguinte,
a criança que completava cinco anos e aprendia o alfabeto, começava o estudo
da leitura, iniciando-o com o primeiro versículo da Bíblia.
"Os meninos no
lar de Samuel Wesley aprenderam o valor que há em observar fielmente os cultos.
Não há em outras histórias fatos tão profundos e atraentes como o que consta
acerca dos filhos de Samuel e Susana Wesley, pois antes de saberem ajoelhar-se
ou falar, eram instruídos a dar graças pelo alimento, por meio de acenos
apropriados. Logo que aprendiam a falar, repetiam a Oração Dominical de manhã e
à noite; e eram ensinados, também, a acrescentar outros pedidos, conforme o
seu desejo... Ao chegarem à idade própria, um dia da semana era designado a
cada filho, para conversar sobre as 'dúvidas e dificuldades'. Na lista
aparecem os nomes de João, para quarta-feira, e o de Carlos, para o sábado. E
para os filhos, o dia de cada um tornou-se precioso e memorável... É comovente
ler o que João Wesley, vinte anos depois de sair da casa paterna disse à sua
mãe: "Em muitas coisas a senhora tem intercedido por mim e tem
prevalecido. Quem sabe se agora também, na intercessão para que eu renuncie
inteiramente o mundo, terá bom êxito?... Sem dúvida será tão eficaz para
corrigir o meu coração, como era então para formar o meu caráter."
Depois do espetacular
salvamento de João do incêndio, sua mãe, profundamente convencida de que Deus
tinha grandes planos para seu filho, resolveu firmemente criá-lo para servir e
ser útil na obra de Cristo. Susana escreveu estas palavras nas suas meditações
particulares: "Senhor, esforçar-me-ei mais definitivamente em prol desta
criança, a qual salvaste tão misericordiosamente. Procurarei transmitir-lhe
fielmente ao coração os princípios da tua religião e virtude. Senhor, dá-me a
graça necessária para fazer isso sincera e sabiamente, e abençoa os meus
esforços com grande êxito!"
Ela era tão fiel, em
cumprir sua resolução, que João foi admitido a participar da Ceia do Senhor,
com a idade de oito anos
Nunca se omitia o
culto doméstico do programa do dia, no lar de Samuel Wesley. Fosse qual fosse a
ocupação dos membros da família, ou dos criados, todos se reuniam para adorar a
Deus. Na ausência do marido, Susana, com o coração aceso pelo fogo dos céus,
dirigia os cultos. Conta-se que, certa vez, quando ele prolongou a ausência
mais do que de costume, trinta e quarenta pessoas assistiram aos cultos no lar
dos Wesley e a fome pela Palavra de Deus aumentou, a ponto de a casa ficar repleta
das pessoas da vizinhança que assistiam aos cultos.
A família do pastor
Samuel Wesley vivia rodeada de pobreza, mas pela influência do Duque de
Buckinghan, conseguiram um lugar para João na Charterhouse, em Londres. Assim,
o menino, antes de completar onze anos, deixou a atmosfera fragrante de oração
ardente, para enfrentar as porfias de uma escola pública. Contudo, não cedeu
ao ambiente de pecado de que estava rodeado. Conservava, também, as suas
forças físicas, obedecendo fielmente o conselho de seu pai, que corresse três
vezes, de madrugada, em redor do grande jardim da Charterhouse. Tomou como
regra da sua vida, dali em diante, manter o vigor do corpo. Aos 80 anos, apesar
de seu físico franzino, considerava coisa insignificante andar de pé uma légua
e meia, para pregar.
Conta-se um exemplo
da influência que João exercia sobre seus colegas de Charterhouse. Certo dia o
porteiro sentiu falta dos meninos no terraço de recreio e foi achá-los em uma
das salas, congregados em redor de João. Este contava-lhes histórias
instrutivas, as quais atraíam mais do que o recreio.
Acerca deste tempo,
João Wesley escreveu: "Eu participava de várias coisas que reconhecia
como sendo pecado, embora não fossem escandalosas aos olhos do mundo. Contudo,
continuei a ler as Escrituras e a orar de manhã e à noite. Baseava a minha
salvação sobre os seguintes pontos:1) Não me considerava tão perverso como o
próximo. 2) Conservava a inclinação de ser religioso. 3) Lia a Bíblia, assistia
aos cultos e fazia oração".
Depois de estudar
seis anos na Charterhouse, Wesley cursou em Oxford, tornando-se proficiente no
latim, grego, hebraico e francês. Mas seu interesse principal não era o
intelecto. Sobre esse assunto ele escreveu: "Comecei a reconhecer que a
religião verdadeira tem a sua fonte no coração... reservei duas horas, todos
os dias, para ficar sozinho com Deus. Participava da Ceia do Senhor de oito em
oito dias. Guardei-me de todo o pecado, quer de palavras, quer de atos. Assim,
na base das boas obras que praticava, eu me considerava um bom crente"
João se esforçava
para levantar-se todos os dias às quatro horas. Por meio de anotações que
escrevia diariamente de tudo que fazia durante o dia, conseguia dar conta de
seu tempo para não desperdiçar um momento. Continuou a observar esse costume
até quase o último dia da sua vida
Certo dia, quando
ainda jovem, assistiu a um enterro em companhia de um moço, e conseguiu levá-lo
a Cristo, ganhando, assim, a primeira alma para seu Salvador. Alguns meses
depois, com a idade de 24 anos, e depois de um período de oração, foi separado
para o diaconato.
Enquanto estudava em
Oxford, ajuntava-se ali um pequeno grupo dos estudantes para orar, estudar as
Escrituras juntos diariamente, jejuar às quartas e sextas-feiras, visitar os
doentes e encarcerados e confortar os criminosos na hora da execução. Todas as
manhãs e todas as noites cada um passava uma hora orando sozinho em oculto. Nas
orações paravam de vez em quando para observarem se oravam com o devido fervor.
Sempre oravam ao entrar e ao sair dos cultos na igreja. Três dos membros desse
grupo, mais tarde tornaram-se famosos entre os crentes: 1) João Wesley, que
talvez tenha feito mais que qualquer outro para aprofundar a vida espiritual,
não somente de então, mas também de nosso tempo; 2) Carlos Wesley, que chegou
a ser um dos mais espirituais e famosos escritores de hinos evangélicos; e 3)
Jorge Whitefield, que se tornou o comovente pregador ao ar livre
Naquele tempo,
sentia-se a influência de João Wesleyem muitas partes das Américas, e hoje
ainda é sentida. Contudo, passou menos que dois anos neste continente, e isto
durante o período da sua vida, quando se achava perturbado por causa de
dúvidas. Aceitou a chamada para pregar o Evangelho aos silvícolas na colônia de
Geórgia, desejoso de ganhar sua salvação por meio de boas obras. Pensou que
vaidade e ostentação mundana não se encontrariam nas matas da América.
Como era
característico em sua vida, a bordo do navio em viagem à América do Norte,
observava, com outros de seu grupo, um programa para não desperdiçar um
momento durante o dia; levantava-se às quatro horas e deitava-se depois das
vinte e uma. As primeiras três horas do dia eram dedicadas à oração e estudo
das Escrituras. Depois de cumprir tudo que estava indicado no programa do dia,
o cansaço era tanto que, não obstante o bramido do mar e o balanço do navio,
dormiam sem perturbação, deitados sobre um cobertor estendido no convés.
Na Geórgia, a
população inteira afluía à igreja para ouvir a sua pregação. A influência de
seus sermões foi tal que, depois de dez dias, uma sala de baile ficou quase
inteiramente abandonada, enquanto a igreja se enchia de pessoas que oravam e
eram salvas.
Whitefield, que
desembarcou na Geórgia alguns meses depois de Wesley voltar à Inglaterra, assim
descreveu o que viu: "O êxito de João Wesley na América é indizível. Seu
nome é precioso entre o povo, onde lançou os alicerces que nem os homens nem os
demônios podem abalar. Oh! que eu possa segui-lo como ele seguiu a
Cristo!" Contudo, a Wesley faltava uma coisa muito importante, conforme se
vê pelos acontecimentos que o levaram a sair da Geórgia, como ele mesmo
escreveu:
"Faz dois anos e
quase quatro meses que deixei a minha terra natal para pregar Cristo aos
índios da Geórgia; entretanto, o que cheguei eu â saber? Ora, vim a saber o que
eu menos esperava: fui à América para converter outros, mas nunca fora
realmente convertido a Deus."
Depois de voltar à
Inglaterra, João Wesley começou a servir a Deus com a fé de um filho e não mais
com a fé dum simples servo. Acerca desse assunto, eis o que ele
escreveu:"Não reconhecia que esta fé era dada instantaneamente, que o
homem podia sair das trevas para a luz imediatamente, do pecado e da miséria
para a justiça e gozo do Espírito Santo. Examinei de novo as Escrituras sobre
este ponto, especialmente Atos dos Apóstolos. Fiquei grandemente surpreendido
ao ver quase que somente conversões instantâneas; quase nenhuma tão demorada
como a de Saulo de Tarso". Desde então começou a sentir mais e mais fome e
sede de justiça, a justiça de Deus pela fé.
Fracassara na sua
primeira tentativa de pregar o Evangelho na América, porque, apesar de seu
zelo e bondade de caráter, o cristianismo que possuía era uma coisa que
recebera por instrução. Mas a segunda etapa de seu ministério destacou-se por
um êxito fenomenal. E porque o fogo de Deus ardia na sua alma, chegara a ter
contato direto com Deus por uma experiência pessoal.
Relatamos aqui, com
suas próprias palavras, a sua experiência na qual o Espírito testificou ao seu
espírito que era filho de Deus. Essa experiência transformou completamente a
sua vida.
"Eram quase
cinco horas, hoje, quando abri o Novo Testamento e encontrei estas palavras:
'Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas para que por elas fiqueis
participantes da natureza divina" (2 Pedro 1.4). Antes de sair, abri mais
uma vez o Novo Testamento para ler estas outras palavras: 'Não estás longe do
reino de Deus...' (Marcos 12.34). À noite, senti-me impelido a assistir em
Aldersgate... Senti o coração abrasado; confiei em Cristo, somente em Cristo,
para a salvação: foi-me dada a certeza de que Ele levara os meus pecados e de
que me salvara da lei do pecado e da morte. Comecei a orar com todas as minhas
forças... e testifiquei a todos os presentes do que sentia no coração."
Depois dessa
experiência em Aldersgate, Wesley aspirava a bênçãos ainda maiores do Senhor,
conforme ele mesmo escreveu: "Eu suplicava a Deus que cumprisse todas as
suas promessas na minha alma. O Senhor honrou este anelo, em parte, não muito
depois, enquanto eu orava com Carlos, Whitefield e cerca de sessenta outros
crentes em Fetter Lane". São de João Wesley também estas palavras:
"Cerca das três horas da madrugada, enquanto perseverávamos em oração
(Romanos 12.12), o poder de Deus nos sobreveio de tal maneira, que bradamos
impulsionados de grande gozo e muitos caíram ao chão. A seguir, ao passar um
pouco o temor e a surpresa que sentimos na presença da majestade divina,
rompemos em uma só voz: 'Louvamos-te, ó Deus, aceitamos-te como Senhor'".
Essa unção do
Espírito Santo dilatou grandemente os horizontes espirituais de Wesley; o seu
ministério tornou-se excepcionalmente frutuoso e ele trabalhou
ininterruptamente durante 53 anos, com o coração abrasado pelo amor divino.
Um pastor prega, em
média, cem vezes por ano, mas João Wesley pregou cerca de 780 Vezes por ano,
durante 54 anos. Esse homenzinho, com a altura de apenas um metro e sessenta e
seis centímetros e pesando menos de sessenta quilos, dirigia-se a grandes
multidões e sob as maiores provações. Quando as igrejas lhe fecharam as
portas, levantou-se para pregar ao ar livre.
Apesar de enfrentar a
apatia espiritual quase geral nos crentes, a par de uma onda de devassidão e
crimes no país inteiro, multidões de 5 mil a 20 mil afluíam para ouvir seus
sermões. Tornou-se comum, nesses cultos, os pecadores acharem-se tão
angustiados, que gritavam e gemiam. Se célebres materialistas, tais como
Voltaire e Tomaz Paine, gritaram de convicção ao se encontrarem com Deus no
leito de morte, não é de admirar que centenas de pecadores gemessem, gritassem
e caíssem ao chão, como mortos, quando o Espírito Santo os levava a sentir a
presença de Deus. Multidões de perdidos, assim, tornavam-se novas criaturas em
Cristo Jesus, nos cultos de João Wesley. Muitas vezes os ouvintes eram levados
às alturas de amor, gozo e admiração; recebiam também visões da perfeição
divina e das excelências de Cristo, até ficarem algumas horas como mortos. (Ver
Apocalipse 1.17.)
Como todos que
invadem o território de Satanás, os irmãos Carlos e João Wesley, tinham de
sofrer terríveis perseguições. Em Moorfield os inimigos do Evangelho acabaram
com o culto, destruindo a mesa em que João subira para pregar e o insultaram e
maltrataram. Em Sheffield, a casa foi demolida sobre a cabeça dos crentes. Em
Wednesbury, destruíram as casas, roupas e móveis dos crentes, deixando-os
desabrigados, expostos à neve e ao temporal. Diversas vezes João Wesley foi
apedrejado e arrastado como morto, na rua. Certa vez foi espancado na boca, no
rosto e na cabeça até ficar coberto de sangue.
Mas a perseguição da
parte da igreja decadente era a sua maior cruz. Foram denunciados como
"falsos profetas", "paroleiros", "impostores
arrogantes", "homens destros na astúcia espiritual",
"fanáticos", etc. Ao voltar para visitar Epworth, onde nascera e se
criara, João assistiu, no domingo, ao culto da manhã e ao culto da tarde, na
igreja onde seu pai fora fiel pastor durante muitos anos, mas não lhe foi
concedida a oportunidade de falar ao povo. Às dezoito horas, João, em pé,
sobre o monumento, que marcava o lugar em que enterraram seu pai, ao lado da
igreja, pregou ao maior auditório jamais visto em Epworth - e Deus salvou
muitas almas.
- Qual a causa de tão
grande oposição? Entre os crentes da igreja dormente , alegava-se que eram as
suas pregações sobre a justificação pela fé, e a santificação. Os descrentes
não gostavam dele porque "levou o povo a se levantar para cantar hinos às
cinco da madrugada."
João Wesley não
somente pregava mais que os outros pregadores, mas os excedia como pastor,
exortando e confortando os crentes, e visitando de casa em casa.
Nas suas viagens,
andava tanto a cavalo, como a pé, ora em dias ensolarados, ora sob chuvas, ora
em temporais de neve. Durante os 54 anos do seu ministério, andou, em média,
mais de 7 mil quilômetros por ano, para alcançar os pontos de pregação.
Esse homenzinho que
andava 7 mil quilômetros por ano, ainda tinha tempo para a vida literária. Leu
não menos de 1.200 tomos, a maior parte enquanto andava a cavalo. Escreveu
uma gramática hebraica, outra de latim, e ainda outras de francês e inglês.
Serviu durante muitos anos como redator dum jornal de 56 páginas. O dicionário
completo que compilou da língua inglesa era muito popular, e seu comentário
sobre o Novo Testamento ainda tem grande circulação. Revisou e republicou uma
biblioteca de cinqüenta volumes, reduzindo-a para trinta volumes. O livro que
escreveu sobre a filosofia natural teve grande aceitação entre o ministério.
Compilou uma obra de quatro volumes sobre a história da Igreja. Escreveu e
publicou um livro sobre a história de Roma e outro sobre a da Inglaterra.
Preparou e publicou três volumes sobre medicina e seis sobre música para os
cultos. Depois da sua experiência em Fetter Lane, ele e seu irmão Carlos,
escreveram e publicaram 54 hinários. Diz-se que ao todo escreveu mais que 230
livros.
Esse homem de físico
franzino, ao completar 88 anos, escreveu: "Durante mais de 86 anos não
experimentei qualquer debilidade de velhice; os olhos nunca escureceram, nem
perdi o meu vigor". Com a idade de 70 anos, pregou a um auditório de 30
mil pessoas, ao ar livre, e foi ouvido por todos. Aos 86 anos fez uma viagem à
Irlanda, na qual, além de pregar seis vezes ao ar livre, pregou cem vezes em
sessenta cidades. Certo ouvinte assim se referiu a Wesley: "Seu espírito
era tão vivo como aos 53 anos, quando o encontrei pela primeira vez".
Atribuiu a sua saúde
às seguintes regras: 1) Ao exercício constante e ar fresco. 2) Ao fato de
nunca, mesmo doente ou com saúde, em terra ou no mar, haver perdido uma noite
de sono desde o seu nascimento. 3) À habilidade de dormir, de dia ou de noite,
ao sentir-se cansado. 4) Ao fato de observar a regra por mais que sessenta anos
de se levantar às 4 horas da manhã. 5) Ao costume de sempre orar às 5 da
manhã, durante mais que cinqüenta anos. 6) Ao fato de quase nunca sofrer de
dor, desânimo ou cuidado durante a vida inteira.
Não nos devemos
esquecer da fonte desse vigor que João Wesley manifestava. Passava duas horas
diariamente em oração, e muitas vezes mais. Iniciava o dia às quatro horas.
Certo crente que o conhecia intimamente, assim escreveu acerca dele:
"Considerava a oração a coisa mais importante da sua vida e eu o tenho
visto sair do quarto com a serenidade de alma visível no rosto até quase
brilhar".
A qualquer história
da vida de João Wesley faltará o ponto principal, se não se fizer menção dos
cultos de vigília que se realizavam uma vez por mês entre os crentes. Esses
cultos se iniciavam às 20 horas e continuavam até depois da meia-noite - ou até
cair o Espírito Santo sobre eles. Baseavam tais cultos sobre as referências no
Novo Testamento, de noites inteiras passadas em oração. Foi assim que alguém
se referiu ao sucesso: "Explica-se o poder de Wesley pelo fato de ele ser
'homo unius libri', isto é, um homem de um livro, e esse Livro é a
Bíblia".
Pouco antes da sua
morte, escreveu: "Hoje passamos o dia em jejum e oração para que Deus
alargasse a sua obra. Só encerramos depois de uma noite de vigília, na qual o
coração de muitos irmãos foi grandemente confortado".
No seu diário, João
Wesley escreveu, entre outras coisas, sobre oração e jejum, o seguinte:
"Enquanto cursava em Oxford... jejuávamos às quartas e às sextas-feiras,
como faziam os crentes primitivos em todos os lugares. Escreveu Epifânio
(310-403): 'Quem não sabe que o jejum das quartas e das sextas-feiras é
observado pelos crentes do mundo inteiro?"' Wesley continuou: "Não
sei porque eles guardavam esses dois dias, mas é boa a regra; se lhes servia,
também me serve. Contudo, não quero dar a entender que o único tempo de jejuar
seja esses dois dias da semana, porque muitas vezes é necessário jejuar mais do
que dois dias. É necessário permanecer sozinho e na presença de Deus, enquanto
jejuamos e oramos, para que Deus possa mostrar-nos a sua vontade e dar-nos
direção. Nos dias de jejum devemos afastar-nos, o mais possível, de todo
serviço, de fazer visitas e das diversões, apesar dessas coisas serem lícitas
em outras ocasiões".
Seu gozo em pregar ao
ar livre não diminuiu na velhice: Em 7 de outubro de 1790, pregou pela última
vez fora de casa, sobre o texto: "O reino de Deus está próximo,
arrependei-vos, e crede no Evangelho". "A palavra manifestou-se com
grande poder e as lágrimas do povo corriam em torrentes".
Um por um, seus fiéis
companheiros de luta, inclusive sua esposa, foram chamados para o descanso, mas
João Wesley continuava a trabalhar. Com a idade de 85 anos, seu irmão, Carlos,
foi chamado pelo Senhor e João sentou-se perante a multidão, cobrindo o rosto
com as mãos, para esconder as lágrimas que lhe corriam pelas faces. Seu ir-mão
a quem amava tanto durante tão longo tempo, partira e ele, agora, tinha de
trabalhar sozinho.
Em 2 de março de
1791, com a idade de quase 88 anos, completou a sua carreira terrestre. Durante
toda a noite anterior, não cessaram em seus lábios o louvor e a adoração,
pronunciando estas palavras: "As nuvens distilam a gordura". Sua alma
saltou de alegria com a antecipação das glórias do lar eterno e exclamou:
"O melhor de tudo é que Deus está conosco". Então, levantando a mão,
como se fosse o sinal da vitória, novamente repetiu: "O melhor de tudo é
que Deus está conosco". Às 10 horas da manhã, enquanto os crentes
rodeavam o leito, em oração, ele disse: "Adeus!", e assim passou para
a presença do Senhor.
Um crente que
assistiu à sua morte, assim relatou o ato: "A presença divina pairava
sobre todos nós; não existem palavras para descrever o que vimos no seu
semblante! Quanto mais o fitávamos, tanto mais víamos parte dos indizíveis
céus".
Calcula-se que dez
mil pessoas em desfile passaram diante do ataúde para ver o rosto que ainda
retinha um sorriso celestial. Por causa das grandes massas que afluíram para
honrá-lo, foi necessário enterrá-lo às cinco horas da manhã.
João Wesley nasceu e
criou-se em um lar onde não havia abundância de pão. Com a venda dos livros da
sua autoria ganhou uma fortuna, com a qual contribuía para a causa de Cristo;
ao falecer, deixou no mundo "duas colheres, uma chaleira de prata, um casaco
velho" e dezenas de milhares de almas, salvas em épocas de grande
decadência espiritual.
A tocha em Epworth
foi arrebatada do fogo, em Aldersgate e Fetter Lane começou a arder
intensamente, e continua a iluminar milhões de almas no mundo inteiro.
(estraido do livro
hérois da fé)
CARLOS SPURGEON
O PRÍNCIPE DOS PREGADORES
(1834-1892) - No
período da Inquisição, na Espanha, sob o reinado do imperador Carlos V, um
número elevadíssimo de crentes foram queimados em praça pública ou enterrados
vivos. O filho de Carlos V, Filipe II, em 1567, levou a perseguição aos Países
Baixos, declarando que ainda que lhe custasse mil vezes a sua própria vida, limparia
todo o seu domínio do "protestantismo". Antes da sua morte gabava-se
ter mandado ao carrasco, pelo menos, 18.000 "hereges".
Ao começar esse
reinado de terror nos Países Baixos, muitos milhares de crentes fugiram para a
Inglaterra. Entre os que escaparam do "Concilio de Sangue", encontrava-se
a família Spurgeon.
Na Inglaterra, o povo
de Deus, contudo, não estava livre de toda a perseguição "passando a
maior parte do tempo sentado, por se achar fraco demais para se deitar".
Os bisavôs de Carlos eram crentes fervorosos, criando os filhos na admoestação
do Senhor. Seu avô paterno, depois de quase cinquenta anos de pastorado no
mesmo lugar, podia dizer: "Não passei nem uma hora triste com a minha
igreja depois que assumi o cargo de pastor!" O pai de Carlos, Tiago
Spurgeon, era o amado pastor de Stambourne.
Carlos, quando ainda
criança, interessava-se pela leitura de "O Peregrino", pela história
dos mártires e por diversas obras de teologia. É impossível calcular a
influência dessas obras sobre a sua vida.
Que era precoce nas
coisas espirituais, vê-se no seguinte acontecimento: Apesar de criança de
apenas cinco anos de idade, sentiu profundamente o cuidado do avô, por causa
do procedimento de um dos membros da igreja, chamado "Velho Roads".
Certo dia, Carlos, a criança, encontrando Roads em companhia de outros fumando
e bebendo cerveja, dirigiu-se a ele, dizendo: "Que fazes aqui,
Elias?" O "Velho Roads" arrependido, contou, então, ao seu
pastor, como a princípio se irou com a criança, mas por fim ficou quebrantado.
Desde aquele dia, o "Velho Roads" andou sempre perto do Salvador.
Quando Carlos era
ainda pequeno, foi por Deus convencido do pecado. Durante alguns anos
sentia-se uma criatura sem esperança e sem conforto; visitava um lugar de culto
após outro, sem conseguir saber como podia livrar-se do pecado. Então, quando
tinha quinze anos de idade, aumentou nele o desejo de ser salvo. E aumentou de
tal forma, que passou seis meses agonizando em oração. Nesse tempo assistiu a
um culto numa igreja; nesse dia, o pregador não fora ao culto, por causa duma
grande tempestade de neve. Na falta do pastor, um sapateiro se levantou para
pregar às poucas pessoas presentes, e leu este texto: "Olhai para mim e
sede salvos, todos os confins da terra" (Isaías 45.22). O sapateiro,
inexperiente na arte de pregar, podia apenas repetir a passagem e dizer:
"Olhai! Não vos é necessário levantar um pé, nem um dedo. Não vos é
necessário estudar no colégio para saber olhar; nem contribuir com mil libras.
Olhai para mim, não para vós mesmos. Não há conforto em vós. Olhai para mim,
suando grandes gotas de sangue. Olhai para mim, pendurado na cruz. Olhai para
mim, morto e sepultado. Olhai para mim, ressuscitado. Olhai para mim, à direita
de Deus". Em seguida, fitando os olhos em Carlos, disse: "Moço, tu
pareces ser miserável. Serás infeliz na vida e na morte se não obedeceres".
Então gritou ainda mais: "Moço, olha para Jesus! Olha agora!" O
rapaz olhou e continuou a olhar, até que por fim, um gozo indizível entrou na
sua alma.
O recém-salvo, ao
contemplar o constante zelo do Maligno, foi tomado pela aspiração de fazer
todo o possível para receber o poder divino, para frustrar a obra do inimigo do
bem. Spurgeon aproveitava todas as oportunidades para distribuir folhetos.
Entregava-se de todo o coração a ensinar na Escola Dominical, onde alcançou, de
início, o amor dos alunos e, por intermédio desses a presença dos pais na
escola. Com a idade de dezesseis anos começou a pregar. Acerca desse fato ele
disse: "Quantas vezes me foi concedido o privilégio de pregar na cozinha
duma casa de agricultor, ou num celeiro!"
Alguns meses depois de
pregar seu primeiro sermão, foi chamado a pastorear a igreja em Waterbeach. Ao
fim de dois anos, essa igreja de quarenta membros, passou a ter cem. O jovem
pregador desejava educar-se e o diretor duma escola superior, que estava de
visita à cidade, marcou uma hora para tratar com ele acerca desse assunto. A
criada, porém, que recebeu Carlos, por descuido, não chamou o professor e este
saiu sem saber que o moço o esperava. Depois, Carlos, já na rua, um tanto
triste, ouviu uma voz dizer-lhe: "Buscas grandes coisas para ti? Não as
busques!" Foi então , ali mesmo que abandonou a idéia de estudar nesse
colégio, convencido de que Deus o dirigia para outras coisas. Não se deve
concluir, contudo, que Carlos Spurgeon resolveu não se educar. Depois disso,
ele aproveitava todos os momentos livres para estudar. Diz-se que alcançou
fama de ser um dos homens mais instruídos de seu tempo.
Spurgeon havia
pregado em Waterbeach apenas durante dois anos quando foi chamado a pregar na
Park Street Chapei, em Londres. O local era inconveniente para os cultos, e o
templo, que tinha assentos para mil e duzentos ouvintes, era demasiado grande
para os auditórios. Contudo, "havia ali um grupo de fiéis que nunca
cessaram de rogar a Deus um glorioso avivamento". Este fato é assim
registrado nas palavras do próprio Spurgeon: "No início, eu pregava
somente a um punhado de ouvintes. Contudo, não me esqueço da insistência das
suas orações. Às vezes parecia que rogavam até verem realmente presente o Anjo
do Concerto (Cristo), querendo abençoá-los. Mais que uma vez nos admiramos com
a solenidade das orações até alcançarmos quietude, enquanto o poder do Senhor
nos sobrevinha... Assim desceu a bênção, a casa se encheu de ouvintes e foram
salvas dezenas de almas!
Sob o ministério
desse moço de dezenove anos, a concorrência aumentou em poucos meses a ponto
de o prédio não mais comportar as multidões; centenas de ouvintes permaneciam
na rua para aproveitar as migalhas que caíam do banquete que havia dentro da
casa.
Foi resolvido
reformar a New Park Street Chapei e, durante o tempo da obra, realizavam-se os
cultos em Exeter Hall, prédio que tinha assentos para quatro mil e quinhentos
ouvintes. Aí, em menos que dois meses, os auditórios eram tão grandes, que as
ruas, durante os cultos, se tornavam intransitáveis.
Quando voltaram para
a Chapei, o problema, em vez de ser resolvido, era maior; três mil pessoas
ocupavam o espaço preparado para mil e quinhentas! O dinheiro gasto, que
alcançou uma elevada quantia, fora desperdiçado! Tornou-se necessário voltar
para o Exeter Hall.
Mas nem o Exeter Hall
comportava mais os auditórios e a igreja tomou uma atitude espetacular - alugou
o Surrey Music Hall, o prédio mais amplo, imponente e magnífico de Londres,
construído para diversões públicas.
As notícias, de que
os cultos passaram do Exeter Hall para Surrey Music Hall, eletrificaram toda a
cidade de Londres. O culto inaugural foi anunciado para a noite de 19 de
outubro de 1856. Na tarde do dia marcado, milhares de pessoas para lá se
dirigiram para achar assento. Quando, por fim, o culto começou, o prédio no
qual cabiam 12.000 pessoas, estava superlotado e havia mais 10.000 fora que não
puderam entrar.
No primeiro culto em
Surrey Music Hall, notaram-se vestígios da perseguição que Spurgeon tinha de encarar.Ele
estava orando, e depois da leitura das Escrituras, os inimigos da obra de Deus
se levantaram, gritando: 'Togo! Fogo!" Apesar de todos os esforços de
Spurgeon e de outros crentes, a grande massa de gente alvoroçou-se e
movimentou-se em pânico, de tal modo que sete pessoas morreram e vinte e oito
ficaram gravemente feridas. Depois que tudo serenou, acharam-se espalhados em
toda a parte do prédio, roupas de homens e senhoras; chapéus, mangas de
vestidos, sapatos, pernas de calças, mangas e paletós, xales, etc., objetos
esses que os milhares de pessoas aflitas deixaram, na luta para escapar do
prédio. Spurgeon comportou-se com a maior calma durante todo o tempo da
indescritível catástrofe, mas depois passou dias prostrado, sofrendo em consequência
do tremendo choque.
As notícias sobre as
trágicas ocorrências durante o primeiro culto em Surrey Music Hall, em vez de
prejudicarem a obra, concorreram para aumentar o interesse pelos cultos. De um
dia para outro Spurgeon, o herói do Sul de Londres, tornou-se um vulto de
projeção mundial. Aceitou convites para pregar em cidades da Inglaterra,
Escócia, Irlanda, Gales, Holanda e França. Pregava ao ar livre e nos maiores
edifícios, em média oito a doze vezes por semana.
Nesse tempo, quando
ainda moço, revelou como conseguia entender, nas Escrituras, os textos
difíceis, isto é, simplesmente pedia a Deus: - "Ó Senhor, mostra-me o
sentido deste trecho!" E acrescentou: "É maravilhoso como o texto,
duro como a pederneira, emite faíscas quando batido com o aço da oração."
Quando mais velho, disse: "Orar acerca das Escrituras, é como pisar uvas
no lagar, trilhar trigo na eira, ou extrair ouro do minério."
Acerca da vida
familiar, Susana, a esposa de Spurgeon, assim escreveu: "Fazíamos culto
doméstico, quer hospedados em um rancho nas serras, quer num suntuoso quarto
de hotel na cidade. E a bendita presença de Cristo, que muitos crentes dizem
impossível alcançar, era para ele a atmosfera natural; ele vivia e respirava
nele (em Deus).
Antes de iniciar a
construção do famoso templo em Londres, o Metropolitan Tabernacle, Spurgeon,
com alguns dos seus membros, se ajoelharam no terreno entre as pilhas de
materiais e rogaram a Deus que não permitisse que trabalhador algum morresse ou
ficasse ferido durante a execução das obras de construção. Deus respondeu
maravilhosamente, não deixando acontecer qualquer acidente durante o tempo da
construção do imponente edifício que media oitenta metros de comprimento, vinte
e oito de largura e vinte de altura
A igreja começou a
edificar o tabernáculo com o alvo de liquidar todas as dívidas de materiais e
pagar toda a mão-de-obra antes de findar a construção. Como de costume, pediram
a Deus que os ajudasse a realizar esse desejo, e tudo foi pago antes do dia da
inauguração.
"O Metropolitan
Tabernacle foi acabado em março de 1861. Durante os trinta e um anos que se
seguiram, uma média de 5.000 pessoas se congregavam ali todos os domingos,
pela manhã e à noite. De três em três meses Spurgeon pedia aos que haviam
assistido neste período, que se ausentassem. Eles assim faziam, porém, o
tabernáculo era superlotado por outras pessoas das massas ainda não alcançadas
pela mensagem."
Durante certo
período, pregou trezentas vezes em doze meses. O maior auditório, no qual
pregou, foi no Crystal Palace, Londres, em 7 de outubro de 1857. O número exato
de assistentes era de 23.654. Spurgeon esforçou-se tanto nessa ocasião, e o
cansaço foi tal, que após o sermão da noite de quarta-feira, dormiu até a
manhã de sexta-feira!
Todavia, não se deve
julgar que era somente no púlpito que a sua alma ardia pela salvação dos
perdidos. Também se ocupava grandemente no evangelismo individual. Nesse
sentido citamos aqui o que certo crente disse a respeito dele: "Tenho
visto auditórios de 6.500 pessoas inteiramente levadas pelo fervor de Spurgeon.
Mas ao lado de uma criança moribunda, que ele levara a Cristo, achei-a mais
sublime do que quando dominava o interesse da multidão".
Parece impossível que
tal pregador tivesse tempo para escrever. Entretanto os livros da sua autoria,
constituem uma biblioteca de cento e trinta e cinco tomos. Até hoje não há obra
mais rica de jóias espirituais do que a de Spurgeon, de sete volumes sobre os
Salmos: "A Tesouraria de Davi". Ele publicou tão grande número de
seus sermões, que, mesmo lendo um por dia, nem em dez anos o leitor os poderia
ler todos. Muitos foram traduzidos em várias línguas e publicados nos jornais
do mundo inteiro. Ele mesmo escrevia grande parte da matéria para seu jornal,
"A Espada e a Colher", título este sugerido pela história da
construção dos muros de Jerusalém no tempo angustioso de Neemias.
Além de pregar
constantemente a grandes auditórios e de escrever tantos livros, esforçou-se em
vários outros ramos de atividades. Inspirado pelo exemplo de Jorge Müller,
fundou e dirigiu o orfanato de Stockwell. Pediam a Deus e recebiam o necessário
para levantar prédio após prédio e alimentar centenas de crianças desamparadas.
Reconhecendo a
necessidade de instruir os jovens chamados por Deus a proclamar o Evangelho,
e, assim, alcançar muito maior número de perdidos, fundou e dirigiu o Colégio
dos Pastores, com a mesma fé em Deus que mostrou na obra de cuidar dos órfãos
Impressionado pela
vasta circulação de literatura viciosa, formou uma junta de vendagem de livros
evangélicos. Dezenas de vendedores foram sustentados e milhares de discursos
feitos, além de muitas toneladas de Escrituras e outros livros vendidos de casa
em casa.
Acerca de tão
estupendo êxito na vida de Spurgeon, convém notar o seguinte: Nenhum dos seus
antepassados alcançou fama. Sua voz podia pregar às maiores multidões, mas
outros pregadores sem fama gozavam também da mesma voz. O Príncipe dos
Pregadores era, antes de tudo, O Príncipe de Joelhos. Como Saulo de Tarso,
entrou no Reino de Deus, também agonizando de joelhos. No caso de Spurgeon,
essa angústia durou seis meses. Depois (assim aconteceu com Saulo) a oração
fervorosa era um hábito na sua vida. Aqueles que assistiam aos cultos no grande
Ta-bernáculo Metropolitano diziam que as orações eram a parte mais sublime dos
cultos
Quando alguém
perguntava a Spurgeon a explicação do poder na sua pregação, O Príncipe de
Joelhos apontava para a loja que ficava sob o salão do Metropolitan Tabernacle
e dizia: "Na sala que está embaixo, há trezentos crentes que sabem orar.
Todas as vezes que prego eles se reúnem ali para sustentar-me as mãos, orando e
suplicando ininterruptamente. Na sala que está sob os nossos pés é que se
encontra a explicação do mistério dessas bênçãos."
Spurgeon costumava
dirigir-se aos alunos no Colégio dos Pastores desta forma: "Permanecei na
presença de Deus!... Se o vosso fervor esfriar, não podereis orar bem no
púlpito... pior com a família... e ainda pior nos estudos, sozinhos. Se a alma
se tornar magra, os ouvintes, sem saberem como ou por quê, acharão que vossas
orações públicas têm pouco sabor.
Ainda sobre a oração,
sua esposa deu este testemunho: "Ele dava muita importância à meia-hora de
oração que passava com Deus antes de começar o culto." Certo crente também
escreveu a esse respeito: "Sente-se, durante a sua oração pública, que ele
é um homem de bastante força para levar nas mãos ungidas as orações duma
multidão. Isto é a idéia mais grandiosa, de sacerdote entre Deus e os
homens".
Convicto do grande
poder da oração, Spurgeon designou o mês de fevereiro, de cada ano, no Grande
Tabernáculo, para realizar a convenção anual e fazer súplicas por um
avivamento na obra de Deus. Nessas ocasiões, passavam dias inteiros em jejum e
oração, oração que se tornava mais e mais fervorosa. Não só sentiam a gloriosa
presença do Espírito Santo nesses cultos, mas era-lhes aumentado o poder com
frutos abundantes.
Na sua autobiografia,
desde o começo do seu ministério em Londres, consta que pessoas gravemente
enfermas foram curadas em resposta às suas orações.
A vida de Spurgeon
não era vida egoísta e de interesse próprio. Juntamente com sua esposa, fez os
maiores sacrifícios para colocar livros espirituais nas mãos de um grande
número de pregadores pobres e ambos contribuíam constantemente para o sustento
das viúvas e órfãos. Recebiam grandes somas de dinheiro, mas davam tudo para o
progresso da obra de Deus.
Não buscava fama nem
a honra de fundador de outra denominação, como muitos amigos esperavam. A sua
pregação nunca foi feita para sua própria glória, porém tinha como alvo a
mensagem da Cruz, para levar os ouvintes a Deus. Considerava seus sermões como
se fossem setas e dava todo o seu coração, empregava toda a sua força
espiritual em produzir cada um. Pregava confiando no poder do Espírito Santo,
empregando o que Deus lhe concedera para "matar" o maior número de
ouvintes.
"Carlos Hadon
Spurgeon recebia o fogo do Céu, estudando a Bíblia, horas a fio, em comunhão
com Deus."
Cristo era o segredo
do seu poder. Cristo era o centro de tudo, para ele; sempre e unicamente Cristo
J. P. Fruit disse:
"Quando Spurgeon orava, parecia que Jesus estava em pé ao seu lado."
As suas últimas
palavras, no leito de morte, dirigidas à sua esposa, foram: "Oh! querida,
tenho desfrutado um tempo mui glorioso com meu Senhor!" Ela, ao ver, por
fim, que seu marido passaria para o outro lado, caiu de joelhos e com lágrimas
exclamou. "Oh! bendito Senhor Jesus, eu te agradeço o tesouro que me
emprestaste no decurso destes anos; agora Senhor, dá-me força e direção durante
todo o futuro."
Seis mil pessoas
assistiram ao culto de funeral. No caixão estava uma Bíblia aberta, mostrando
este texto usado por Deus para convertê-lo: "Olhai para mim, e sede salvos,
todos os confins da terra."
O cortejo fúnebre
passou entre centenas de milhares de pessoas postadas em pé nas calçadas; os
homens descobriam-se à passagem do cortejo e as mulheres choravam.
O túmulo simples do
célebre Príncipe dos Pregadores, no cemitério de Norwood, testifica da
verdadeira grandeza da sua vida. Ali estão gravadas estas humildes palavras:
Aqui jaz o corpo de
CARLOS HADON SPURGEON
esperando o aparecimento do seu
Senhor e Salvador
JESUS CRISTO
(extraido do livro hérois da fé)
GEORGE WHITEFIELD
PREGADOR AO AR LIVRE
(1714-1770)
Mais de 100 mil
homens e mulheres rodeavam o pregador, há mais de duzentos anos, em
Cambuslang, Escócia. As palavras do sermão, vivificadas pelo Espírito Santo,
ouviam-se distintamente em todas as partes que formavam esse mar humano. É-nos
difícil fazer uma idéia do vulto da multidão de 10 mil penitentes que
responderam ao apelo para se entregarem ao Salvador. Estes acontecimentos
servem-nos como um dos poucos exemplos do cumprimento das palavras de Jesus:
"Na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu
faço, e as fará maiores do que estas, porque vou para meu Pai" (João
14.12).
Havia "como um
fogo ardente encerrado nos ossos" deste pregador, que era Jorge
Whitefield. Ardia nele um zelo santo de ver todas as pessoas libertas da
escravidão do pecado. Durante um período de vinte e oito dias fez a incrível
façanha de pregar a 10 mil pessoas diariamente. Sua voz se ouvia perfeitamente
a mais de um quilômetro de distância, apesar de fraco de físico e de sofrer dos
pulmões.Não havia prédio no qual coubessem os auditórios e, nos países onde
pregou, armava seu púlpito nos campos, fora das cidades. Whitefield merece o
título de príncipe dos pregadores ao ar livre, porque pregava em média dez
vezes por semana, e isso fez durante um período de trinta e quatro anos, em
grande parte sob o teto construído por Deus -os céus.
A vida de Jorge
Whitefield era um milagre. Nasceu em uma taberna de bebidas alcoólicas. Antes
de completar três anos, seu pai faleceu. Sua mãe casou-se novamente, mas a
Jorge foi permitido continuar os estudos na escola. Na pensão de sua mãe, fazia
a limpeza dos quartos, lavava roupa e vendia bebidas no bar. Estranho que
pareça e apesar de não ser salvo, interessava-se grandemente pela leitura das
Escrituras, lendo a Bíblia até alta noite preparando sermões. Na escola era conhecido
como orador: Sua eloquência era natural e espontânea, um dom extraordinário de
Deus, dom que possuía sem ele mesmo saber.
Custeou os próprios
estudos em Pembroke College, Oxford, servindo como garçom em um hotel. Depois
de estar algum tempo em Oxford, ajuntou-se ao grupo de estudantes a que
pertenciam João e Carlos Wesley. Passou muito tempo, como os demais do grupo,
jejuando e esforçando-se para mortificar a carne, a fim de alcançar a salvação,
sem compreender que "a verdadeira religião é a união da alma com Deus e a
formação de Cristo em nós."
Acerca da sua
salvação, escreveu algum tempo antes de morrer: "Sei o lugar onde... Todas
as vezes que vou a Oxford, sinto-me impelido a ir primeiro a este lugar onde
Jesus se revelou a mim, pela primeira vez, e me deu o novo nascimento".
Com a saúde abalada,
talvez pelo excesso de estudo, Jorge voltou a casa para recuperá-la. Resolvido
a não cair no indiferentismo, inaugurou uma classe bíblica para jovens que,
como ele, desejavam orar e crescer na graça de Deus. Visitavam diariamente os
doentes e os pobres e, frequentemente, os prisioneiros nas cadeias, para orarem
com eles e prestarem-lhes qualquer serviço manual que pudessem. Jorge tinha no
coração um plano que consistia em preparar cem sermões e apresentar-se para
ser separado para o ministério. Porém quando havia preparado apenas um sermão,
seu zelo era tanto, que a igreja insistia em ordená-lo, tendo penas vinte e um
anos apesar de ser regra não aceitar ninguém para tal cargo, com menos de 23
anos.
O dia antes da sua
separação para o ministério, passou-o em jejum e oração. Acerca desse fato, ele
escreveu: "À tarde, retirei-me para um alto, perto da cidade, onde orei
com instância durante duas horas, pedindo a meu favor e também por aqueles que
estavam para ser separados comigo. No domingo, levantei-me de madrugada e orei
sobre o assunto da epístola de Paulo a Timóteo, especialmente sobre o preceito:
'Ninguém despreze a tua mocidade'. Quando o ancião me impôs as suas mãos, se
meu vil coração não me engana, ofereci todo o meu espírito, alma e corpo para
o serviço no santuário de Deus... Posso testificar; perante os céus e a terra,
que dei-me a mim mesmo, quando o ancião me impôs as mãos, para ser um mártir
por aquele que foi pregado na cruz em meu lugar".
Os lábios de
Whitefield foram tocados pelo fogo divino do Espírito Santo na ocasião da sua
separação para o ministério. No domingo seguinte, naquela época de gelo
espiritual, pregou pela primeira vez. Alguns se queixaram de que quinze dos
ouvintes enlouqueceram ao ouvirem o sermão. O ancião, porém, compreendendo o
que se passava, respondeu que seria muito bom, se os quinze não se esquecessem
da sua "loucura" antes de chegar o outro domingo.
Whitefield nunca se
esqueceu nem deixou de aplicar a si as seguintes palavras do Doutor Delaney:
"Desejo, todas as vezes que subir ao púlpito, considerar essa
oportunidade como a última que me é dada de pregar, e a última dada ao povo de
ouvir". Alguém assim escreveu sobre uma de suas pregações: "Quase
nunca pregava sem chorar e sei que as suas lágrimas eram sinceras. Ouvi-o
dizer: 'Vós me censurais porque choro. Mas, como posso conter-me, quando não
chorais por vós mesmos, apesar das vossas almas mortais estarem a beira da destruição?
Não sabeis se estais ouvindo o último sermão, ou não, ou se jamais tereis outra
oportunidade de chegar a Cristo!" Chorava, às vezes, até parecer que
estava morto e custava a recuperar as forças. Diz-se que os corações da maioria
dos ouvintes eram derretidos pelo calor intenso de seu espírito, como prata na
fornalha do refinador.
Quando estudante no
colégio de Oxford, seu coração ardia de zelo e pequenos grupos de alunos se
reuniam no seu quarto, diariamente; eles eram movidos, como os discípulos logo
depois do derramamento do Espírito Santo, no Pentecoste. O Espírito continuou a
operar poderosamente nele e por ele durante o resto da sua vida, porque nunca
abandonou o costume de buscar a presença de Deus. Dividia o dia em três
partes: oito horas sozinho com Deus e em estudos, oito horas para dormir e as
refeições, oito horas para o trabalho entre o povo. De joelhos, lia, e orava
sobre as leituras das Escrituras e recebia luz, vida e poder. Lemos que numa
das suas visitas aos Estados Unidos, "passou a maior parte da viagem a
bordo, sozinho em oração". Alguém escreveu sobre ele: "Seu coração
encheu-se tanto dos céus que anelava por um lugar onde pudesse agradecer a
Deus; e sozinho, durante horas, chorava comovido pelo amor consumidor do seu
Senhor". Suas experiências no ministério confirmavam a sua fé na doutrina
do Espírito Santo, como o Consolador ainda vivo, o poder de Deus operando
atualmente entre nós.
A pregação de Jorge
Whitefield era feita de forma tão vivida que parecia quase sobrenatural. Conta-se
que, certa vez pregando a alguns marinheiros, descreveu um navio perdido num
furacão. Tudo foi apresentado em manifestações tão reais que, quando chegou ao
ponto de descrever o barco afundando, alguns marinheiros pularam dos assentos,
gritando: "Às baleeiras! Às baleeiras!". Em outro sermão falou
acerca dum cego andando na direção dum precipício desconhecido. A cena foi tão
real que, quando o pregador chegou ao ponto de descrever a chegada do cego à
beira do profundo abismo, o camareiro-mor, Chesterfield, que assistia, deu um
pulo gritando: "Meu Deus! ele desapareceu!"
O segredo, porém, da
grande colheita de almas salvas não era a sua maravilhosa voz nem a sua grande
eloqüência. Não era também porque o povo tivesse o coração aberto para receber
o Evangelho, porque era tempo de grande decadência espiritual entre os crentes.
Também não foi porque
lhe faltasse oposição. Repetidas vezes Whitefield pregou nos campos, porque as
igrejas fecharam-lhe as portas. Às vezes nem os hotéis queriam aceitá-lo como
hóspede. Em Basingstoke foi agredido a pauladas. Em Staffordshire atiraram-lhe
torrões de terra. Em Moorfield destruíram a mesa que lhe servia de púlpito e
arremessaram contra ele o lixo da feira. Em Evesham, as autoridades, antes de
seu sermão, ameaçaram prendê-lo, se pregasse. Em Exeter, enquanto pregava a dez
mil pessoas, foi apedrejado de tal forma que pensou haver chegado para ele a
hora, como o ensangüentado Estevão, de ser imediatamente chamado à presença do
Mestre. Em outro lugar, apedrejaram-no novamente, até ficar coberto de sangue.
Verdadeiramente levava no corpo, até a morte, as marcas de Jesus.
O segredo de tais
frutos na sua pregação era o seu amor para com Deus. Quando ainda muito novo,
passava noites inteiras lendo a Bíblia, que muito amava. Depois de se
converter, teve a primeira daquelas experiências de sentir-se arrebatado,
ficando a sua alma inteiramente aberta, cheia, purificada, iluminada da glória
e levada a sacrificar-se, inteiramente, ao seu Salvador. Desde então nunca mais
foi indiferente em servir a Deus, mas regozijava-se no alvo de trabalhar de
toda a sua alma, e de todas as suas forças, e de todo seu entendimento. Só
achava interesse nos cultos e escreveu para sua mãe que nunca mais voltaria ao
seu emprego. Consagrou a vida completamente a Cristo. E a manifestação exterior
daquela vida nunca excedia a sua realidade interior, portanto, nunca mostrou
cansaço nem diminuiu a marcha durante o resto de sua vida.
Apesar de tudo, ele
escreveu: "A minha alma era seca como o deserto. Sentia-me como encerrado
dentro duma armadura de ferro. Não podia ajoelhar-me sem estar tomado de
grandes soluços e orava até ficar molhado de suor... Só Deus sabe quantas
noites fiquei prostrado, de cama, gemendo, por causa do que sentia, e ordenando,
em nome de Jesus, que Satanás se apartasse de mim. Outras vezes passei dias e
semanas inteiros prostrado em terra, suplicando para ser liberto dos
pensamentos diabólicos que me distraíam. Interesse próprio, rebelião, orgulho
e inveja me atormentavam, um após outro, até que resolvi vencê-los ou morrer.
Lutei até Deus me conceder vitória sobre eles".
Jorge Whitefield
considerava-se um peregrino errante no mundo, procurando almas. Nasceu,
criou-se e diplomou-se na Inglaterra. Atravessou o Atlântico treze vezes.
Visitou a Escócia quatorze vezes. Foi ao País de Gales várias vezes. Visitou
uma vez a Holanda. Passou quatro meses em Portugal. Nas Bermudas, ganhou
muitas almas para Cristo, como nos demais lugares onde trabalhou.
Acerca do que sentiu
em uma das viagens à colônia da Geórgia, Whitefield escreveu: 'Foram-me
concedidas manifestações extraordinárias do alto. Cedo de manhã, ao meio-dia,
ao anoitecer e à meia-noite, de fato durante o dia inteiro, o amado Jesus me
visitava para renovar-me o coração. Se certas árvores perto de Stonehourse
pudessem falar, contariam acerca da doce comunhão, que eu e algumas almas
amadas desfrutamos ali com Deus, sempre bendito. Às vezes, quando de passeio, a
minha alma fazia tais incursões pelas regiões celestes, que parecia pronta a
abandonar o corpo. Outras vezes sentia-me tão vencido pela grandeza da
majestade infinita de Deus, que me prostrava em terra e entregava-lhe a alma,
como um papel em branco, para Ele escrever nela o que desejasse. De uma noite
nunca me esquecerei. Relampejava excessivamente. Eu pregara a muitas pessoas e
algumas ficaram receosas de voltar a casa. Senti-me dirigido a acompanhá-las e
aproveitar o ensejo para as animar a se prepararem para a vinda do Filho do
homem. Oh! que gozo senti na minha alma! Depois de voltar, enquanto alguns se
levantavam das suas camas, assombrados pelos relâmpagos que andavam pelo chão e
brilhavam duma parte do céu até outra, eu com mais um irmão ficamos no campo
adorando, orando, exultando ao nosso Deus e desejando a revelação de Jesus dos
céus, uma chama de fogo!"
- Como se pode
esperar outra coisa a não ser que as multidões, a quem Whitefield pregava,
fossem levadas a buscar a mesma Presença? Na sua biografia há um grande
número de exemplos como os seguintes: "Oh! quantas lágrimas foram
derramadas, com forte clamor, pelo amor do querido Senhor Jesus! Alguns
desmaiavam e quando recobravam as forças, ouviam e desmaiavam de novo. Outros
gritavam como quem sente a ânsia da morte. E depois de eu findar o último discurso,
eu mesmo senti-me tão vencido pelo amor de Deus que quase fiquei sem vida.
Contudo, por fim, revivi e, depois de me alimentar um pouco, estava
fortalecido bastante para viajar cerca de trinta quilômetros, até Nottingham.
No caminho, a alma alegrou-se cantando hinos. Chegamos quase à meia-noite;
depois de nos entregarmos a Deus em oração, deitamo-nos e descansamos na
proteção do querido Senhor Jesus. Oh! Senhor, jamais existiu amor como o
teu!"
Então Whitefield
continuou, sem cansar: "No dia seguinte em Fog's Manor, a concorrência
aos cultos foi tão grande como em Nottingham. O povo ficou tão quebrantado que,
por todos os lados, vi pessoas banhadas em lágrimas. A palavra era mais
cortante que espada de dois gumes e os gritos e gemidos alcançavam o coração
mais endurecido. Alguns tinham semblantes pálidos como a palidez de morte;
outros torciam as mãos, cheios de angústia; ainda outros foram prostrados ao
chão, ao passo que outros caíam e eram aparados nos braços de amigos. A maior
parte do povo levantava os olhos para os céus, clamando e pedindo a
misericórdia de Deus. Eu, enquanto os contemplava, só podia pensar em uma
coisa: o grande dia. Pareciam pessoas acordadas pela última trombeta, saindo
dos seus túmulos para o juízo."
"O poder da
presença divina nos acompanhou até Baskinridge, onde os arrependidos choravam e
os salvos oravam, lado a lado. O indiferentismo de muitos transformou-se em
assombro, e o assombro, depois, em grande alegria. Alcançou todas as classes,
idades e caracteres. A embriaguez foi abandonada por aqueles que eram
dominados por esse vício. Os que haviam praticado qualquer ato de injustiça
foram tomados de remorso. Os que tinham furtado foram constrangidos a fazer
restituição. Os vingativos pediram perdão. Os pastores ficaram ligados ao seu
povo por um vínculo mais forte de compaixão. O culto doméstico foi iniciado nos
lares. Os homens foram levados a estudar a Palavra de Deus e a terem comunhão
com o seu Pai, nos céus".
Mas não foi somente
os países populosos que o povo afluiu para o ouvir. Nos estados Unidos, quando
eram ainda um país novo, ajuntaram-se grandes multidões dos que moravam longe
um do outro, nas florestas. O famoso Benjamim Franklin, no seu jornal, assim
noticiou essas reuniões: "Quinta-feira o reverendo Whitefield partiu de
nossa cidade, acompanhado de cento e cinqüenta pessoas a cavalo, com destino a
Chester, onde pregou a sete mil ouvintes, mais ou menos. Sexta-feira pregou
duas vezes em Willings Town a quase cinco mil; no sábado, em Newcastle, pregou
a cerca de duas mil e quinhentas, e na tarde do mesmo dia, em Cristiana Bridge,
pregou a quase três mil; no domingo, em White Clay Creek, pregou duas vezes
(descansando uma meia hora entre os sermões a oito mil pessoas, das quais,
cerca de três mil, tinha vindo a cavalo. Choveu a maior parte do tempo, porém,
todos se conservaram em pé, ao ar livre".
Como Deus estendeu a
sua mão para operar prodígios por meio de seu servo, vê-se no seguinte: Num
estrado perante a multidão, depois de alguns momentos de oração em silêncio,
Whitefield anunciou de maneira solene o texto: "É ordenado aos homens que
morram uma só vez, e depois disto vem o juízo". Depois de curto silêncio,
ouviu-se um grito de horror, vindo dum lugar entre a multidão. Um pregador
presente foi até o local da ocorrência, para saber o que tinha acontecido. Logo
voltou e disse: - "Irmão Whitefield, estamos entre os mortos e os que
estão morrendo. Uma alma imortal foi chamada à eternidade. O anjo da destruição
está passando sobre o auditório. Clame em alta voz e.não cesse". Então foi
anunciado ao povo que um dentre a multidão havia morrido. Então Whitefield leu
a segunda vez o mesmo texto: "É ordenado aos homens que morram uma só
vez". Do local onde a Senhora Huntington estava em pé, veio outro grito
agudo. De novo, um tremor de horror passou por toda a multidão quando
anunciaram que outra pessoa havia morrido. Whitefield, porém, em vez de ficar
tomado de pânico, como os demais, suplicou graça ao Ajudador invisível e
começou, com eloqüência tremenda, a prevenir os impenitentes do perigo. Não
devemos concluir, contudo, que ele era ou sempre solene ou sempre veemente.
Nunca houve quem experimentasse mais formas de pregar do que ele.
Apesar da sua grande
obra, não se pode acusar Whitefield de procurar fama ou riquezas terrestres.
Sentia fome e sede da simplicidade e sinceridade divina. Dominava todos os
seus interesses e os transformava para glória do reino do seu Senhor. Não
ajuntou ao redor de si os seus convertidos para formar outra denominação, como
alguns esperavam. Não, apenas dava todo o seu ser, mas queria "mais
línguas, mais corpos, mais almas a usar para o Senhor Jesus".
A maior parte de suas
viagens à América do Norte foram feitas a favor do orfanato que fundara na
colônia da Geórgia. Vivia na pobreza e esforçava-se para granjear o necessário
para o orfanato. Amava os órfãos ternamente, escrevendo-lhes cartas e
dirigindo-se a cada um pelo nome. Para muitas dessas crianças, ele era o único
pai, o único meio de elas terem o sustento. Fez uma grande parte da sua obra
evangelística entre os órfãos e quase todos permaneceram crentes fiéis, sendo
que um bom número deles se tornaram ministros do Evangelho.
Whitefield não era de
físico robusto: desde a mocidade sofria quase constantemente, anelando, muitas
vezes, partir e estar com Cristo. A maior parte dos pregadores acham
impossível pregar quando estão enfermos como ele.
Assim foi que, aos 65
anos de idade, durante sua sétima viagem à América do Norte, findou a sua
carreira na Terra, uma vida escondida com Cristo em Deus e derramada num
sacrifício de amor pelos homens. No dia antes de falecer, teve de esforçar-se
para ficar em pé. Porém, ao levantar-se, em Exeter, perante um auditório
demasiado grande para caber em qualquer prédio, o poder de Deus veio sobre ele
e pregou, como de costume, durante duas horas. Um dos que assistiram disse que
"seu rosto brilhava como o sol". O fogo aceso no seu coração no dia
de oração e jejum, quando da sua separação para o ministério, ardeu até dentro
dos seus ossos e nunca se apagou (Jeremias 20.9).Certo homem eminente dissera a
Whitefield: "Não espero que Deus chame o irmão, breve, para o lar eterno,
mas quando isso acontecer, regozijar-me-ei ao ouvir o seu testemunho". O
pregador respondeu: "Então ficará desapontado; morrerei calado. A vontade
de Deus é dar-me tantos ensejos para testificar dele durante minha vida, que
não me serão dados outros na hora da morte".
E sua morte ocorreu
como predissera.
Depois do sermão, em
Exeter, foi a Newburyport para passar a noite na casa do pastor. Ao subir para
o quarto de dormir, virou-se na escada e, com a vela na mão, proferiu uma curta
mensagem aos amigos que ali estavam e insistiam em que pregasse.
Às duas horas da
madrugada acordou. Faltava-lhe o fôlego e pronunciou para o seu companheiro as
suas últimas palavras na Terra: "Estou morrendo".
No seu enterro, os
sinos das igrejas de Newburyport dobraram e as bandeiras ficaram a meia-haste.
Ministros de toda a parte vieram assistir aos funerais; milhares de pessoas não
conseguiram chegar perto da porta da igreja, por causa da imensa multidão.
Conforme seu pedido, foi enterrado sob o púlpito da igreja.
Se quisermos os
mesmos frutos de ver milhares salvos, como Jorge Whitefield os teve, temos de
seguir o seu exemplo de oração e dedicação.
- Alguém pensa que é
tarefa demais? Que diria Jorge Whitefield, junto, agora, com os que levou a
Cristo, se lhe fizéssemos essa pergunta?
(extraido do livro
hérois da fé)
A.W. TOZER
"Nascido em
Newburg, Pensilvânia, Estados Unidos, em 21 de abril de 1897.
Sua pregação e seus
livros concentraram-se inteiramente em Deus. Ele não tinha tempo para
mercenários religiosos que inventavam novas formas para promover suas mercadorias
e subir nas estatísticas
“Penso que minha
filosofia seja esta: tudo está errado até que Deus endireite.”
Esta afirmação do Dr.
A. W. Tozer resume perfeitamente a sua crença e o que ele tentou realizar
durante seus anos de ministério. Tozer marchou ao ritmo de uma batida diferente
e, por esta razão, normalmente não acompanhava os passos de muitas das pessoas
que participavam de desfiles religiosos.
No entanto, foi esta
excentricidade cristã que nos fez amá-lo e apreciá-lo. Ele não tinha receio em
apontar o que era errado. Nem hesitou em dizer como Deus poderia endireitar
todas as coisas. Se é que um sermão pode ser comparado à luz, então, A. W.
Tozer emitia raios laser do púlpito, um feixe de luz que penetrava o nosso
coração, exauria nossa consciência, expunha nossos pecados e nos fazia clamar:
“O que devo fazer para ser salvo?” A resposta era sempre a mesma: entregar-se a
Cristo; procurar conhecê-lo de forma pessoal; crescer para tornar-se como Ele.
Aiden Wilson Tozer
nasceu em Newburg (naquele tempo conhecida como La Jose), Pensilvânia, Estados
Unidos, em 21 de abril de 1897. Em 1912, sua família deixou a fazenda e foi
para Akron, Ohio; e, em 1915, ele se converteu a Cristo. No mesmo instante
passou a levar uma vida fervorosa de devoção e testemunho pessoal. Em 1919,
começou a pastorear a Alliance Church, em Nutter Fort, West Virginia. Também
pastoreou igrejas em Morgantown, West Virginia; Toledo; Ohio; Indianapolis,
Indiana; e, em 1928, foi para a Southside Alliance Church, em Chicago. Ali,
ministrou até novembro de 1959, quando tornou-se pastor da Avenue Road Church,
em Toronto, no Canadá. Um ataque cardíaco, em 12 de maio de 1963, pôs fim
àquele ministério, e Tozer foi chamado para a Glória.
Tozer alcançou um
número maior de pessoas por intermédio de suas obras do que por suas pregações.
Grande parte do que escreveu era refletido na pregação de pastores que
alimentavam a alma com as palavras de Tozer. Em maio de 1950, foi nomeado
editor de The Alliance Weekly, agora conhecida como The Alliance Witness, que
provavelmente foi a única revista religiosa a ser adquirida graças, sobretudo,
aos seus editoriais. Certa vez, o Dr. Tozer, em uma conferência na Evangelical
Press Association (Associação da Imprensa Evangélica), censurou alguns editores
que praticavam o que ele chamava de “jornalismo de supermercado” – duas colunas
de propagandas e uma nota de material para leitura. Era um escritor exigente e
tão duro consigo mesmo quanto com os outros.
O que há nas obras de
A. W. Tozer que nos prende a atenção e nos cativa? Primeiro, ele Tozer escrevia
com convicção. Não estava interessado nos cristãos superficiais de Atenas que
estavam à procura de algo novo. Tozer mergulhou novamente nas antigas fontes e
nos chamou de volta às veredas do passado, tendo plena convicção e colocando em
prática as verdades que ensinava.
Tozer era um místico
cristão em uma época pragmática e materialista. Ele ainda nos convida a ver
aquele verdadeiro mundo das coisas espirituais que transcendem o mundo material
que tanto nos atraem. Suplica para que agrademos a Deus enos esqueçamos da
multidão. Ele nos implora que adoremos a Deus de modo que nos tornemos mais
parecidos com Ele. Como esta mensagem é desesperadamente necessária em nossos
dias!
A. W. Tozer recebeu a
dádiva de compreender uma verdade espiritual e erguê-la para a luz para que,
como um diamante, cada faceta fosse observada e admirada. Ele não se perdeu nos
pântanos da homilética; o vento do Espírito soprava e ossos mortos reviviam.
Suas obras eram como graciosos camafeus cujo valor não se avalia por seu
tamanho. Sua pregação se caracterizava pela intensidade espiritual que
penetrava no coração do ouvinte e o ajudava a ver Deus. Feliz é o cristão que
possui um livro de Tozer à mão quando sua alma está sedenta e ele sente que
Deus está longe.
Tozer, em suas obras,
nos entusiasma tanto sobre a verdade que nos esquecemos de Tozer e tratamos de
pegar a Bíblia. Ele mesmo sempre dizia que o melhor livro é aquele que faz o
leitor parar e pensar por si mesmo. Tozer é como um prisma que concentra a luz
e depois revela sua beleza.
(Adaptado da Introdução
do livro O Melhor de Tozer, vol. 2. © CCC Edições, 2001.) ."
BILLY GRAHAM
Meu objetivo de vida
é ajudar as pessoas a encontrar uma relação pessoal com Deus, que creio, vir
pelo conhecimento de Cristo." - Billy Graham.
O evangelista Billy
Graham aceitou literalmente a Cristo quando Ele disse em Marcos 16:15, ide vós
por todo o mundo pregar o Evangelho a toda criatura. O Pr. Graham pregou o
Evangelho a mais pessoas em reuniões públicas que qualquer outro na história –
cerca 210 milhões de pessoas em mais de 185 países e territórios, incluindo
Missões Mundial e Global. Centenas de outros milhões mais foram alcançados
pelos seus programas de televisão, vídeos, filmes, e internet.
Desde a cruzada de
1949, em Los Angeles, quando chamou a atenção das pessoas, Billy Graham levou
centenas de milhares de indivíduos a tomar decisões pessoais de viver para
Cristo - que é a força do seu ministério. Nascido em 07 de Novembro de 1918 em
Charlotte na Carolina Norte a quatro dias do Armistício que terminou com a Primeira
Guerra Mundial, Billy Graham criou-se em um sítio de gado leiteiro. Cresceu
durante a grande depressão dos anos 30, por isso aprendeu o valor do trabalho
duro na fazenda da família, mas lá, ele também encontrou tempo para passar
muitas horas no celeiro lendo muitos livros assuntos variados.
No outono de 1934,
com 16 anos de idade, Billy Graham fez um compromisso pessoal com Cristo pelo
ministério de Mordecai Ham, um evangelista itinerante, que visitou Charlotte
para uma série de reuniões de avivamento.
Foi Ordenado em 1939
por uma igreja da Convenção Batista do Sul, e recebeu uma formação sólida na
Sagradas Escritura pelo Instituto Bíblico da Flórida ( Colégio Trinity da
Flórida). Em 1943 ele se graduou na Faculdade Wheaton de Illinois e casou-se
com sua colega de escola, Ruth McCue Bell, filha de um cirurgião missionário
que tinha passado os 17 primeiros anos de sua vida na China.
Planejada durante
três semanas, a cruzada de Los Angeles em 1949 lançou Billy Graham à
proeminência internacional. Suas reuniões transcorreram ao longo de oito
semanas, com multidões superlotando, toda noite, uma tenda erguida no centro da
cidade . Suas cruzadas subseqüentes foram do mesmo modo extensas - a de Londres
que durou 12 semanas e a de Nova York, no Madison Square Garden, em 1957, que
aconteceu à noite durante 16 semanas consecutivas.
Hoje com 87 anos de
idade, Billy Graham e seu ministério são conhecidos em todo globo. Ele pregou
sermões em remotas aldeias africanas e também no coração da Cidade de Nova
York; para chefes de estado em todo mundo, mas também a bosquímanos africanos ,
aborígenes da austrália e para tribos nômades da África e do Oriente Médio.
A partir de 1977, ao
Pr. Graham foi concedido a oportunidade de conduzir missões evangelísticas em
praticamente cada país da antiga aliança política oriental, inclusive à União
Soviética. Fundou em 1950 a Associação de Evangelistica Billy Graham (BGEA)
para conduzir seu ministério mundial que teve sede em Minneapolis no estado de
Minnesota até 2003, quando quando se transferiu Charlotte, na Carolina Norte -
sua terra natal.
Escreveu 25 livros
muitos dos quais "Top Sellers". Seu Livro de memórias, "Do jeito
que eu sou" publicado em 1997, conseguiu o prêmio da "tríplice
coroa" ao aparecer simultaneamente em três listas de livros mais vendidos
por uma semana. Nele o Pr. Graham faz reflexões sobre sua vida incluindo os
mais de 60 anos de ministério ao redor do mundo. De um começo humilde como
filho de produtor de leite da Carolina Norte, ele compartilha como sua inabalável
fé em Cristo formou e talhou seu ministério.
O conselho do Pr.
Graham foi requisitado por presidentes; seus apelos tanto nas areas seculares
como religiosas é evidenciado pela larga variedade de grupos que o honraram,
inclusive pelos numerosos títulos de doutor "Honoris Causa" de muitas
instituições dos Estados Unidos e do exterior. Os reconhecimentos incluem
Prêmio da Fundação Presidencial Ronald Reagan para a Liberdade(2000) para
contribuições à causa da liberdade; a Medalha de Ouro Congressional (1996); o
Prêmio da Fundação Templeton para o Progresso da Religião (1982); o Prêmio de
Grande Irmão pelo seu trabalho em nome da prosperidade das crianças (1966). Em
1964 ele recebeu o Prêmio de "Locutor do Ano" foi citado pelo
Instituto George Washington Carver Memorial pelas suas contribuições ao
relacionamento inter-racial.
Também foi
reconhecido pela Liga de anti-difamação B'nai B'rith em 1969 e pela Conferência
Nacional de Cristãos e Judeus em 1971 pelos seus esforços em criar uma melhor
compreensão entre todas as crenças. Em Dezembro de 2001 o Pr. Graham foi
presenteado com a fidalguia honorária, de Comandante Honorário dos Cavaleiros
da Ordem do Império Britânico (KBE) pela sua contribuição internacional para a
vida cívica e religiosa por mais de 60 anos. Além de muitas outras honrarias.
Billy Graham é
regularmente citado pelas Organizações Gallup com um dos 10 homens mais
admirados do mundo, descrito com uma figura dominante com uma presença sem
paralelo por 48 vezes, sendo 41 delas consecutivas.
Ele e sua esposa Ruth
têm cinco filhos - três mulheres: Virginia, Anne Morrow e Ruth Bell; dois
homens: William Franklin, III e Nelson Edman; 19 netos e muitos bisnetos.
Atualmente mora nas montanhas do oeste da Carolina do Norte, USA.
TESTEMUNHOS
George W Bush - "Há somente uma razão por que estou
aqui no Gabinete Oval, e não em um bar. Encontrei a fé, encontrei a Deus. Estou
aqui pelo poder da oração" Bush disse publicamente que deixou de consumir
álcool sem a ajuda dos Alcoólicos Anônimos , nem de nenhum programa contra o
uso indevido de substâncias proibidas, e afirmou que deixou o hábito para
sempre, com a ajuda de meios espirituais, como o estudo da Bíblia e
aconselhamento com o evangelista Billy Graham." Dr. Justin A. Frank -
"Bush no Divã".
Conta-se que Marilyn
Moroe foi visitada por Billy Graham durante a apresentação de um show. Ele, um
pregador do evangelho na época havia sido mandado pelo Espírito Santo àquele
lugar para pregar à Marilyn. Ela, porém, depois de ouvir a mensagem do
evangelho disse: "Não preciso do seu Jesus." Uma semana depois foi
encontrada morta em seu apartamento.
MATTHEW HENRY
Comentarista bíblico
Presbiteriana e alto-falante. O filho de um pastor evangélico de uma igreja da
Inglaterra, nascido em Broad Oak, no condado galês de Flintshire elenco logo
após o ministério de seu pai como um resultado do decreto de Homogeneidade
passou pelo Rei George II. Matthew Henry foi levado por seu pai para um pequeno
condado galês Iscoed, Flintshire, em outubro de 1662.
Seu pai, Philip
Henry, nomeado ministro da Igreja da Inglaterra, foi considerado um dissidente.
Sua mãe veio de uma família com sua própria história no Parlamento.
Ele tinha um
patrimônio modesto, Philip Henry, portanto, deve ter vivido no trabalho agrícola
e como um ministro sem sutiã.
Mateus, como seu pai,
que nasceu tão frágil foi batizado um dia de vida apenas pelo medo de que ele não
iria sobreviver uma semana.
Mateus era um garoto
fraco fisicamente, mas mentalmente e espiritualmente muito forte. Este aspecto
foi destacado para se destacar como estudante hábil e diligente. Alguém disse
que ele poderia repetir em voz alta o que ele tinha lido a Bíblia quando tinha
apenas três anos!
SUA CONVERSÃO OCORRE EM 1672.
Philip Henry, assumiu
a preparação ministerial de Mateus. Até a idade de 18 anos, sua educação foi
supervisionado por seu pai.
Como aconteceu a
outros, seu estatuto de independente o impediu de se matricular na Oxford ou
Cambridge, as universidades mais prestigiadas da época. Assim, em 1680, ele se
matriculou na faculdade como "dissidentes" em Islington.
A universidade logo
ganhou enorme prestígio e foi considerada a maior academia presbiteriana.
O rotulados como
"dissidentes" eram absolutamente proibidos de expressão pública. Mas
isto não era segundo o espírito de Mateus.
Portanto decide
voltar a Londres. Lá encontrou-se extensivamente a pregação do Dr.
Stillingfleet e Dr. Tillotson. Ele se juntou a um pequeno grupo de oração e
estudo da Bíblia, que iria consolidar Wesley mais tarde, como o Clube Santo em
Oxford.
Ele retornou à sua aldeia
para definir a sua visão ministerial. Após uma análise aprofundada si mesmo,
que ele escolheu para responder a sua chamada ".
Alguns ministros de
Londres consagrada ele em particular em 9 de maio de 1687. Não foi até 1702 que
ele poderia obter uma licença oficial.
A tragédia da família
sofreu com a morte de sua primeira esposa e três dos seus nove filhos.
Matthew usado para
orar pela manhã e à tarde. Na parte da manhã estudando o Antigo Testamento e à
tarde em Novo.
Seus sermões eram
destinadas a pessoas, não importa politicamente, embora ele nunca deixou de
mencionar os perseguidos e discriminados na Fé
Em 1704, após se
recuperar de uma doença grave, que começou suas cartas para o Novo Testamento,
a base de seus comentários famosos.
Seis anos depois, em
1710, começou a trabalhar em sua maior obra: The Complete comentários bíblicos,
um cinco monumental obra volume.
O trabalho duro
alimentou a sua alma mas o corpo consumido.
Em 1714, ao visitar
um amigo em Chester, murió.tenía apenas 52 anos.
À primeira vista,
olhando para a sua volumosa obra, ninguém pode imaginar que seu autor tinha
morrido com cinquenta apenas dois. Ao escrever uma peça que foi pedida à
disposição de todos e, embora o comentário é cheia de esboços para sermões, é
claro que Matthew Henry foi um mestre das línguas originais das Escrituras,
muito mais do que os críticos mais modernos, e que, em sua teologia, não poucos
cristãos evangélicos para se qualificar como intransponíveis. Sua teologia é
uma fiel testemunha da verdade do evangelho, enfatizando a depravação total do
homem e soberana graça e glória de Deus. Seu trabalho também mostra não só a
capacidade de um fundo para a profundidade espiritual, mas a bolsa de estudos
que oferece um grande conhecimento do grego e hebraico. Charles Spurgeon, entre
muitos, reconheceu a importante influência que ele exerce sobre sua vida e
ministério.
KATHRYN KUHLMAN
Em um mundo marcado
pela doença e a escuridão espiritual, Kathryn Kuhlman ofereceu Esperança às
pessoas. Com seus serviços de ministração, desde os anos 1950 até sua morte em
1976, milhares de pessoas entregaram suas vidas a Jesus Cristo.
Kathryn nasceu em 9
de maio de 1907, em uma fazenda fora de Concordia, Missouri, nos Estados Unidos
e converteu-se em uma reunião quando tinha 14 anos. Dois anos mais tarde, saiu
da casa com sua irmã e cunhado, Myrtle e Everett Parrott, pregando em tendas de
avivamento no noroeste e no Midwest. Permaneceu com eles até completou 21 anos,
o ano onde iniciou um trabalho evangelístico por conta própria.
Embora seu primeiro
sermão fosse em um salão pequeno e sujo, Kathryn construiu um nome forte como
pregadora de tendas em Idaho, Utá, e Colorado.
Estabeleceu-se em
1933 e abriu um trabalho avivalista no altamente bem sucedido Tabernacle de Denver
de Colorado. As pessoas atravessavam o país para ouvir Kathryn, e evangelistas
de renome vieram pregar em seu púlpito. Por cinco anos, o ministério floresceu
e promoveu um avivamento grande na área. Seu ministério promissor foi
comprometido quando o Evangelista Burroughs Waltrip veio pregar.
Waltrip divorciou-se
de sua esposa e abandonou seus dois filhos novos logo após a reunião de
Kathryn. Mudou-se para Iowa, iniciou um programa de rádio e uma igreja e
manteve seu passado em segredo. Quando ele e Kathryn casaram-se em 18 de
outubro de 1938, iniciou suas pregações em torno de Midwest. Entretanto, os
líderes das igrejas descobriram seu passado e pediram que saísse.
Kathryn ao perceber
as circunstâncias que lhe fizeram parar de pregar, resolveu deixar Waltrip em
1944. Kathryn disse que “morria a cada dia por ter posto de lado os desejos de
seu coração para assim poder servir inteiramente a Deus”.
Encontrou finalmente
um “paraíso” seguro da bisbilhotice e com pessoas famintas de se alimentar com
o Evangelho quando chegou em Franklin, Pensilvânia, em 1946. Kathryn começou um
programa de rádio popular e uma igreja e construiu um ministério que foi
seguido por milagres, por sinais, e por maravilhas. Era em Franklin que ela
veio compreender o poder do Espírito Santo e dos milagres.
Kathryn mudou-se para
Pittsburgh em 1948, onde viveu até o fim de sua vida. Prestava seus famosos
cultos de milagres no Carnegie Hall por 20 anos, lotando a capacidade do grande
auditório em todos os cultos. Pessoas de todo o mundo vinham às suas reuniões
de milagres e assistiam seus programas de rádio e de televisão.
Kathryn Kuhlman
morreu em 20 de fevereiro de 1976 após complicadíssimos problemas no coração.
Seu ministério não terminou, pois ela deixou um legado na pregação e ministração
de milagres, amor e do poder do Espírito de Deus.
JOSEPH ALLEINE
Joseph Alleine
(batizado 8 de abril de 1634 - 17 Novembro 1668) foi um pastor Puritano Inglês
dissidente e autor de muitas obras religiosas.
Alleine pertencia a
uma família que havia estabelecido originalmente no Suffolk. Já em 1430 alguns
dos descendentes de Alan, Senhor do Buckenhall assente no bairro de Calne e
Devizes.
Estes eram os
ancestrais imediatos da "digno senhor Tobie Alleine de Devizes", o
pai de José, que era o quarto de uma grande família, nascido em Devizes no
início de 1634. 1645 está marcado na página-título de um tratado singular de
idade, por uma testemunha ocular, como o ano da sua criação frente na corrida
cristã.
Seu irmão mais velho
Edward foi um clérigo, mas neste ano morreram, e José suplicou ao pai que ele
poderia ser educado para suceder o irmão no ministério.
Em abril de 1649 ele
entrou Lincoln College, Oxford, e em 3 de novembro de 1651, tornou-se estudioso
de Corpus Christi College. Em 6 de julho de 1653, tomou o grau de BD, e
tornou-se professor e capelão do Corpus Christi, preferindo isto a uma bolsa.
Em 1654 ele tinha
ofertas de preferment alta no estado, que declinou, mas em 1655 George Newton,
da grande Igreja de Santa Maria Madalena, Taunton, procurou-o para assistente e
Alleine aceitou o convite. Quase coincidente com a sua ordenação como pastor
associado veio de seu casamento com Theodosia Alleine, filha de Richard
Alleine.
Amizades entre os
"gentil e simples" do primeiro, com Lady Farewell, neta do testemunho
protetor Somerset para a atração da vida privada Alleine's.
Sua vida pública foi
um modelo de dedicação pastoral, ainda encontrou tempo para continuar seus
estudos, um monumento de que era a sua Theologia Philosophica (a MS perdeu.),
Uma tentativa aprendeu a harmonizar a revelação ea natureza, que era admirado
por Richard Baxter.
Alleine era nenhum
estudioso meros ou divino, mas um homem que associados em condições de
igualdade com os fundadores da Royal Society. Estes estudos científicos,
entretanto, foram mantidos em subordinação ao seu bom trabalho. Ele foi
surpreendentemente influente para um homem tão jovem, e isso foi graças a sua
seriedade e contundência.
O ano de 1662
encontrou pastores seniores e juniores da mesma opinião, e ambos estavam entre
os dois mil ministros ejetado. Alleine, com John Wesley (avô do célebre John
Wesley), também expulso, depois viajou aproximadamente, pregando sempre
oportunidade foi encontrado.
Por isso ele foi
preso, indiciado por ocasião das sessões, prepotências e multado. Suas cartas
da prisão foi um Cardiphonia mais cedo do que John Newton. Ele foi libertado em
26 de maio de 1664, e apesar da Conventicle, ou Five Mile Act, ele retomou a
sua pregação. Ele encontrou-se novamente na prisão, e outra vez um sofredor.
Sua Morte
Desgastados pela
constante perseguição, ele morreu em novembro de 1668; e as rezadeiras,
lembrando as palavras do seu ministro da amada, enquanto ainda com eles,
"Se eu morrer cinquenta milhas de distância, deixe-me ser enterrado em Taunton,"
encontrou um túmulo para ele em mor de Santa Maria.
Nenhum nome é tão
puritano inconformado carinhosamente acalentado como o de Joseph Alleine. Sua
obra literária foi chefe de um alarme para os não-convertidos (1672), também
conhecido como o guia seguro para o Céu, que tinha uma enorme circulação. Seus
restos apareceram em 1674.
JOHN KNOX
“Deus é minha
testemunha, nunca preguei Jesus Cristo com desrespeito a qualquer homem.”
1513: Reformador
escocês, Nasce em nas proximidades da cidade de Haddington (a 20 kms a leste de
Edimburgo). Filho de uma família distinta seu pai se chamava William Knox e sua
mãe Sinclair. Nunca teve vergonha ou se escusou de suas origens rústicas mesmo
quando a providência colocou-o entre os bem nascidos de seu tempo.
1522: Prosseguiu os
seus estudos na Universidade de Glasgow, onde o nome "John Knox"
figura entre os matriculados em 1522 ou em St. Andrews, onde se afirma que ele
tenha sido aluno do celebrado John Major, nativo como Knox da região escocesa
de East Lothian, e um dos maiores acadêmicos dos seu tempo. Ele aprendeu Grego
e Hebraico num período posterior, como indicado na sua escrita.
1540: È ordenado
padre. Até 1543, Knox ainda se mantinha sob o comando de Roma. Um documento
assinado a 27 de Março desse ano, guardado no castelo de Tyninghame, prova-o.
1545: Knox professou
pela primeira vez a fé protestante . Antes disso já tinha mostrado sinais de
simpatia pela fé, sem o ter declarado explicitamente. De acordo com Thomas
Guillaume Calderwood, um nativo de East Lothian, a ordem de Blackfriars em
1543, foi a primeira a "dar ao Sr. Knox um cheirinho da verdade". A
sua mudança de opinião original tem sido atribuída ao seu estudo na sua
juventude ao ler Agostinho e Jerônimo em particular lhe apresentaram os grandes
temas das Escrituras: graça, fé, pecado, justificação, providência. Pelo resto
de sua vida sua passagem predileta era João 17, na qual Jesus às vésperas de
ser traído ora por aqueles que o Pai lhe dera, e ora especificamente para que
sejam sustentados em todas as tormentas pelas quais passariam – não só eles,
mas por todos os Filhos de Deus em qualquer época.
1547: Ele pregou no
castelo de St. Andrew, criticando duramente a guarnição do castelo por sua
degradação – e assim foi surpreendido subitamente ao ser chamado de pastor da
congregação. Mas isto não durou muito. Dois meses após, vinte e uma galés
francesas bombardearam o castelo furiosamente. Já enfraquecidos pela peste, a
guarnição do castelo se rendeu. Knox e outros homens foram acorrentados a
bancos, como remadores, e foram submetidos a violento esforço físico de dia, e
a noite se juntavam para se aquecer sob as bancas comendo feito lobos. O rei da
França, presumindo que agora poderia usar agora a Escócia como base para atacar
a Inglaterra pensou que um patriota e um líder como Knox ajudaria-o a fazer
isso. Ele soltou o escocês depois de 19 meses de agonia nas galés francesas. O
monarca gaulês havia cometido um erro de cálculo, o escocês era qualquer coisa
exceto antiinglês. Logo Knox estava na Inglaterra pregando para a crescente
congregação que havia reunido. Aqui os reformadores ingleses ressaltaram os
seus dons na teologia e na liturgia, incorporando seu trabalho no Livro de
Orações da Igreja Anglicana.
1554-59: Deixando a
Inglaterra pouco depois da morte de Eduardo, Knox dirigiu-se para o continente,
uma viagem de que não temos as paragens ou datas em certeza. Em 1554, vivendo
já em Genebra, ele aceitou, em acordo com João Calvino, uma posição na igreja
inglesa de Frankfurt.
1555: Em 1555
regressou a Escócia, e cinco anos depois logró que o Parlamento aprovara a
Confissão Scótica, donde se perfilavam já os princípios do presbiterianismo,
movimento protestante caracterizado por uma acentuação da forma de organização
eclesiástica proposta por Calvino. Knox foi um destacado opositor da rainha
Maria, a sanguinária.
1572: Faleceu em
Edimburgo a 24 de Novembro. A voz trovejante podia apenas sussurrar agora.
Enquanto a morte chegava mais perto a sua esposa lia e relia suas passagens
favoritas da Bíblia, sempre terminando com João 17, segundo ele “o lugar onde
eu primeiro pus minha âncora”. No túmulo uma pessoa que foi ao funeral afirmou
“Aqui jaz um homem que nunca dissimulou com palavras ou temeu a morte”.
JOÃO CALVINO
João
Calvino(1509-1564) - “Deus sujeitou-me o coração à docilidade através duma
conversão repentina”.
"Ninguém pode
receber sequer a mínima parcela de reta e sã doutrina se não passar a ser um
discípulo das Escrituras e não as interpretar guiado pelo Espírito Santo."
JOÃO CALVINO
1509: Nasce em Noyon,
na Picardia, (próximo a Paris), no dia 10 de julho. Seu pai, Gérard Cauvin, era
secretário do bispado de Noyon. A transposição do nome "Cauvin" para
o Latim (Calvinus) deu a origem ao nome "Calvin" pelo qual ele é
conhecido. Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino
tinha 8 anos de idade. Para muitos, Calvino terá sido para a língua francesa
aquilo que Lutero foi para a língua alemã.
1515: Jeanne sua mãe
falece, quando tinha apenas 6 anos de idade.
1521: Aos 12 anos,
devido à influência que seu pai tinha, passou a receber alguns cargos
eclesiásticos na região.
1523: Ingressa na
Universidade de Paris.
1528: Forma-se em
Filosofia e Dialética na Universidade de Paris. Aos 19 anos recebe o grau de
mestre em Teologia
1528: Na Universidade
de Orleans, França, começa a estudar Direito. 1529: Muda-se para a Universidade
de Bourges, França, onde inicia também os seus estudos de Grego. Seu pai mudou
de planos em relação ao seu futuro e quer que ele siga Direito. A "ciência
das leis torna normalmente ricos aqueles que se debatem com ela", referia
o seu pai (ele próprio um advogado do bispado), segundo as próprias palavras de
Calvino. Cumpriu a vontade do pai e foi estudar
Direito, mas nunca
deixou de preferir a teologia. Como disse mais tarde: "Se Deus me deu
forças para que eu cumprisse a vontade de meu pai, determinou ele pela
providência oculta que eu tomasse finalmente um outro caminho" (o da
Teologia). Inicialmente Calvino preparava-se para ser padre, enveredaria pelo
estudo do Direito, mas Deus trouxe-o de novo ao caminho da Teologia.
1531: Forma-se em
Direito pela Universidade de Bourges. Perde seu pai, que falece neste ano.
Regressa a Paris onde estuda grego e hebraico no Colégio da França.
1532: A publicação de
seu Comentário ao Tratado de Sêneca sobre a Clemência, em abril, já era um
indício de que sua conversão estava iminente. Neste mesmo ano converte-se à
doutrina protestante. 1533: Começa a defender os protestantes contra a
Inquisição. Em 1° de novembro, Nicolas Cop profere seu discurso de posse como
reitor da Universidade de Paris. Cop recebe ajuda de Calvino para escrever o
discurso, que continha idéias de Erasmo e Lutero. Não eram também chamados de
heréticos os primeiros seguidores do cristianismo? O resultado foi a
perseguição do próprio Nicolas Cop, que teve de se refugiar em Basiléia.
Esconde-se junto com Cop em Angoulême, França, fugindo do rei Francisco I,
opositor de todos os simpatizantes de Lutero. Entretanto, o papa Clemente VII
pressionava o rei de França a reprimir os protestantes franceses. Em bulas de
30 de Agosto e de 10 de Novembro do mesmo ano, o papa exortava à
"aniquilação da heresia Luterana e de outras seitas que ganham influência
neste reino". Os dois encontram-se, então, nesse mesmo ano, em Marselha, onde
discutem entre outras coisas a "guerra contra os turcos, lá fora, e a repressão
das heresias cá dentro".
1534: Em 4 de maio
chaga à Noyon afim de renunciar aos benefícios eclesiásticos que detinha. Ao
chegar na cidade é preso. Escreve o seu segundo livro, que será também o
primeiro sobre religião, e é relativamente pouco conhecido, em comparação com
suas outras obras. Faz uma crítica severa aos anabatistas, que acusa de serem
uma seita debandada. O livro coloca questões teológicas, mais do que oferece
respostas. O título completo era: "Psychopannychia” - tratado pelo qual se
prova que as almas permanecem vigilantes e vivas uma vez que tenham deixado os
corpos, o que contraria o erro de alguns ignorantes que sustentam que elas
dormem até ao último momento" - o que é, também, um ataque aos
anabatistas. Apesar de escrito em 1534, o livro seria apenas publicado em 1542.
Em 18 de Outubro de 1534, a história do protestantismo francês vive um dos seus
momentos fundamentais. Cartazes de 37 por 25 cm que criticam a celebração da
missa tal como ela é feita oficialmente pela Igreja católica são afixados em
vários locais. É particularmente atacada a repetição cerimonial da morte de
Cristo, simbólica, no altar.
Se o sacrifício já
foi consumado, por que se apoderam os sacerdotes católicos deste ritual
simbólico? Os argumentos teológicos dos protestantes fundamentam-se na Epístola
de São Paulo aos Hebreus. A situação tornou-se particularmente crítica e
descambou numa reação brutal por parte da Igreja católica e do estado francês.
1535: Protestantes
franceses seriam encarcerados e assassinados. Em Janeiro , o rei Francisco I
organiza uma procissão macabra pelas ruas de Paris. A procissão pára em 6
locais distintos. Em cada uma das paragens há um pódio onde o rei, os
embaixadores e dignos membros do "parlement" se instalam para
assistir à morte pela fogueira de 6 "heréticos" envolvidos no caso
dos cartazes do ano anterior. Calvino foge para Basiléia, cidade onde vive até
Março de 1536. È publicada a primeira bíblia escrita por um protestante, em
francês. Tratava-se de uma tradução direta do Hebraico (o antigo testamento) e
do Grego (o novo testamento) - línguas originais das escrituras - e não das
versões então em uso, em latim. O autor é Olivétan, aliás Pierre Robert
(1506-1538), primo de Calvino. o seu estilo de escrita foi considerado de
difícil compreensão, além de uma certa falta de fluidez discursiva. O texto
seria revisto (com a colaboração de Calvino) e publicado novamente em 1546.Em
16 de Julho, o rei Francisco I faz publicar o Édito de Coucy, uma medida de
contemporização para com os protestantes e que corresponde também a uma nova
guerra de Francisco I contra Carlos V (Guerra de 1535-1538). Necessitando do
apoio dos protestantes alemães para o esforço de guerra e não convinha, necessariamente,
perseguir os "Luteranos" em França. É prometido que se deixarão os
protestantes em paz desde que vivam como "bons cristão" e renunciem à
sua fé. Mas, em Dezembro de 1538, o Édito de Coucy é suspenso e as perseguições
aos protestantes retomam a intensidade anterior.
1536: Novamente é
preso por pregar doutrinas do protestantismo. Teve breve passagem pela corte de
Ferrara, Itália, onde tenta converter sua compatriota, a Duquesa Renata. Em
Março é publicada em Basiléia a primeira edição de "Institutio religionis
Christianae". No prefácio menciona a sua estadia em Basiléia,
"enquanto na França são queimados na fogueira crentes e pessoas
santas". Fala de santos mártires. Dirige-se no livro ao Rei Francisco I,
que procura convencer das boas intenções da reforma. Ao mesmo tempo, a sua
teologia começa a adquirir contornos mais marcados e mais autônomos em relação
ao Luteranismo. Uma tendência que se fortalecerá no futuro. Critica a vida dos
mosteiros, que compara a bordéis. Calvino pretende não só a reforma da Igreja
mas de todos os indivíduos. Fugindo da Inquisição Católica, se estabelece em
Genebra. A cidade já estava aberta para acolher a nova fé, Em 1533 há o
primeiro culto protestante de que há conhecimento nesta cidade. São então
cunhadas moedas com a inscrição: "Post tenebras lux" (após a
escuridão, a luz).
1537: Em Abril, por
sugestão de Calvino, é constituído um "syndic" (síndico) que tem por
objetivo ir de casa em casa e inquirir sobre a confissão dos moradores. A ação
é contestada. Alguns moradores recusam-se a pronunciar-se sobre a sua fé. Em
junho, as autoridades de Genebra decidem que o Domingo é o único dia feriado.
Futuramente nenhum outro feriado será considerado. Em 30 de Outubro é definido
como o prazo para todos os moradores de Genebra se pronunciarem quanto à sua
religião. Aqueles que não reconhecem os decretos de Guillaume Farell são
obrigados a deixar a cidade em 12 de Novembro.Após esta data, a situação
complica-se para Farell e Calvino. Particularmente provocante é o fato de um estrangeiro
(francês), como Calvino, decidir sobre a excomunhão e expulsão de habitantes
naturais de Genebra. As autoridades, perante estes protestos, passam a ser mais
críticas para com os líderes protestantes.1538: Junto com Farel, é expulso de
Genebra acusado injustamente de arianismo.
Se estabelece em
Strassburgo, na França (divisa com a Alemanha). em Estrasburgo Martin Bucer
será o protetor de Calvino. Durante três anos Calvino dirigiu em Estrasburgo
uma igreja de protestantes franceses, a convite de Bucer. Segundo o biógrafo
Courvoisier, Estrasburgo é a cidade onde Calvino se torna verdadeiramente
Calvino.
1539: No outono deste
ano, Calvino escreve também um comentário à carta de Paulo aos Romanos. Este
tema é particularmente querido do protestantismo, porque ali se encontra a
justificação através da fé como a base de sustentação do movimento protestante,
pois somente a fé salva e justifica. Os sacramentos só recebem o seu sentido
através da fé. Sem fé não têm qualquer efeito. Já Lutero tinha destacado a carta
de Paulo aos romanos como o cerne do Novo Testamento e o mais alto do
evangelho.
1540: Em Estrasburgo,
Calvino casa-se em Agosto, com a viúva Idelette de Bure, que tinha sido
previamente adepta do anabatismo. Traz duas crianças do seu prévio casamento.
Calvino tem 31 anos de idade. A cerimônia do casamento foi dirigida por
Guillaume Farel.
1541: O partido de
seus amigos assume o poder em Genebra. A 13 de Setembro, Calvino chega pela
segunda vez a Genebra. Instala-se aí definitivamente até ao fim da sua vida,
tendo ali organizado a estruturação da organização de ministérios, de
professores, de diáconos, de acordo com as linhas bíblicas. Estabelece uma nova
Constituição, as chamadas Ordenanças Eclesiásticas, onde redefinia a ordem de
poder na Igreja Suíça As "Ordonnances de 1541" dispõem a formação de
4 corpos:
Pasteurs: pastores,
que pregam.
Docteurs: ensinam.
Anciens: os mais
velhos, chamam à ordem aqueles que prevaricam.
Diacres: diáconos,
ocupam-se dos pobres e doentes - mendigar é estritamente proibido.
1542: Publica em
Genebra o seu livro de catecismo: "Catéchisme de l'Église de Genève,
c'est-a-dire, le formulaire d'instruire les enfants en la chrétienté". A
chave do projeto de Calvino passa pela pedagogia. Objetivo é uma profunda
transformação da mentalidade. Cada resquício de superstição, de práticas de
magia, qualquer resto de catolicismo é perseguido como idolatria. o filho de
Calvino, Jacques, morre pouco depois de nascer em 28 de Julho.
1546: Em Janeiro, é
preso Pierre Ameaux, que tinha injuriado publicamente Calvino, esse "picard"
que prega uma falsa fé.
1547: A 23 de
Setembro, François Favre comparece perante tribunal por ter afirmado que
Calvino se auto-nomeou de bispo de Genebra e os franceses tinham escravizado a
sua cidade natal.
1548: Um senhor
chamado Nicole Bromet declara que os franceses deveriam ser todos colocados num
barco e enviados pelo rio Reno abaixo.
1549: Morre Idellete
Calvino, após doença. Calvino não voltará a casar. Dedica-se ainda mais
decididamente ao trabalho.
1550: Calvino escreve
ao rei Eduardo VI de Inglaterra, um protestante, encorajando-o nas suas
reformas. O rei Eduardo VI fez acolher protestantes franceses, perseguidos no
país natal. Após o reinado de Eduardo VI (1547-1553) o catolicismo regressa à
Inglaterra sob a liderança de Maria Tudor.
1551: Sofre oposição
de Bolsec, que afirma: "a teoria da predestinação é falsa". Ele é
expulso de Genebra, volta para a Igreja Romana e escreve uma biografia
caluniosa de Calvino
1553: Ordena a morte
de seu opositor, o espanhol Miguel Servet, que morre queimado.
1555: Em Janeiro, há
uma procissão noturna de pessoas em Genebra, caminhando de vela na mão,
ridicularizando Calvino. Todos os calvinistas são excomungados do catolicismo
Também a doutrina da Predestinação foi muito atacada nestes anos. Um particular
crítico foi o monge carmelita chamado Hiérome Bolsec, nascido em Paris, que se
tinha estabelecido em Genebra. Ele argumenta que “uma vez que Deus é o
responsável por tudo o que se passa, então Deus é também responsável pelos nossos
pecados”. Calvino responde que “nunca disse isso”.( A teoria da predestinação
de Calvino nasceu da sua crença na presciência absoluta de Deus, e da firma
convicção, robustecida pelas suas leituras de São Paulo e Santo Agostinho, de
que o homem é incapaz de se salvar pelas suas próprias ações; somente pode ser
salvo pela imerecida graça de Deus, livremente concedida). As autoridades
apoiam Calvino. Em Berna, críticos de Calvino são expulsos da cidade. são
erguidas as primeiras igrejas calvinistas em França, nomeadamente em Paris,
Meaux, Angers, Poitiers e Loudun. Nos três anos seguintes surgem as comunidades
de Orléans, Rouen, La Rochelle, Toulouse, Rennes e Lyon.
1559: Funda a
Universidade de Genebra. Entre 26 e 29 de Maio, realiza-se em Paris um sínodo nacional
protestante. Cerca de 30 paróquias estão representadas. Vão elaborar um texto
de linhas de orientação, (com a participação de Calvino na sua criação), que se
vai chamar Confession de La Rochelle (foi confirmado nesta cidade em 1571).
1564: Morre no dia 27
de maio, aos 55 anos. A saúde de Calvino começou a vacilar. Ele sofria de
enxaquecas, hemorragia pulmonar, gota e de pedras nos rins. Por vezes foi
levado carregado para o púlpito. Calvino também tinha os seus detratores. Foi
ameaçado e abusaram dele. Calvino apreciava passar os seus tempos livres no
lago de Genebra, lendo as escrituras e bebendo vinho tinto. Nos finais de sua
vida disse a seus amigos que estavam preocupados com o seu regime diário de
trabalho: "Qual quê ? Querem que o senhor me encontre ocioso quando ele
chegar ?"
João Calvino faleceu
em Genebra a 27 de Maio de 1564.
Foi enterrado numa
sepultura simples e não marcada, a seu próprio pedido. A influência que ele
exerceu desde a cidade de Genebra, que praticamente governou a partir de 1541
até à sua morte, em 1564, espalhou-se pela Europa inteira e mais tarde pela
América.
JÔNATAS EDWARDS
GRANDE DESPERTADOR
(1703-1758) - Há dois
séculos que o mundo fala do famoso sermão: Pecadores nas mãos de um Deus irado
e dos ouvintes que se agarravam aos bancos pensando que iam cair no fogo
eterno. Esse fato foi, apenas, um dos muitos que aconteceram nas reuniões em
que o Espírito Santo desvendava os olhos dos presentes para eles contemplarem
as glórias do Céu e a realidade do castigo que está bem perto daqueles que
estão afastados de Deus.
Jônatas Edwards,
entre os homens, era o vulto maior nesse avivamento, que se intitulava O grande
despertamento. Sua vida é um exemplo destacado de consagração ao Senhor para o
desenvolvimento maior do intelecto e, sem qualquer interesse próprio, de deixar
o Espírito Santo usar o mesmo intelecto como instrumento nas suas mãos. Amava a
Deus, não somente de coração e alma, mas também de todo o entendimento.
"Sua mente prodigiosa apoderava-se das verdades mais profundas".
Contudo, "sua alma era, de fato, um santuário do Espírito Santo". Sob
aparente calma exterior, ardia nele o fogo divino, como um vulcão.
Os crentes atuais
devem a esse herói, graças à sua perseverança em orar e estudar sob a direção
do Espírito, a volta às várias doutrinas e práticas da igreja primitiva. Grande
é o fruto da dedicação do lar em que Edwards nasceu e se criou. Seu pai foi o
amado pastor de uma só igreja durante um período de sessenta e quatro anos. Sua
piedosa mãe era filha de um pregador que pastoreou uma igreja durante mais de
cinquenta anos.
Dez das irmãs de
Jônatas, quatro eram mais velhas do que ele e seis mais novas. "Muitas
foram as orações que os pais ofereceram a Deus, para que o único e amado filho
fosse cheio do Espírito Santo, e que se tornasse grande perante o Senhor. Não
somente oravam assim, fervorosa e constantemente, mas mostravam-se igualmente
zelosos em criá-lo para Deus. As orações, à volta da lareira, os estimularam a
se esforçarem, e seus esforços redobrados os motivaram a orarem mais
fervorosamente... O ensino religioso e permanente resultou em Jônatas conhecer
intimamente a Deus, quando ainda criança".
Quando Jônatas tinha
sete ou oito anos, houve um despertamento na igreja de seu pai, e o menino
acostumou-se a orar sozinho, cinco vezes, todos os dias, e a chamar outros da
sua idade para orarem com ele.
Citamos aqui as suas
palavras sobre esse assunto: "A primeira experiência, de que me lembro, de
sentir no íntimo a delícia de Deus e das coisas divinas, foi ao ler as
palavras de 1 Timóteo 1.7: 'Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível; ao
único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém'. Sentia a presença de
Deus até arder o coração e abrasar a alma de tal maneira, que não sei
descrevê-la... Gostava de passar o tempo olhando para a lua e, de dia, a
contemplar as nuvens e os céus. Passava muito tempo observando a glória de
Deus, revelada na natureza e cantando as minhas contemplações do Criador e
Redentor... Antes me sentia demasiado assombrado ao ver os relâmpagos e ouvir
a troar do trovão. Porém mais tarde eu me regozijava ao ouvir a majestosa e
terrível voz de Deus na trovoada". Antes de completar treze anos, iniciou
seu curso em Yale College, onde, no segundo ano, leu atentamente a famosa obra
de Locke: Ensaio sobre o entendimento humano. Vê-se, nas suas próprias
palavras acerca dessa obra, o grande desenvolvimento intelectual do moço:
"Achei mais gozo nisso do que o mais ávido avarento, em ajuntar grandes
quantidades de ouro e prata de tesouros recém-adquiridos".
Edwards, antes de
completar dezessete anos, diplomou-se no Yale College com as maiores honras.
Sempre estudava com esmero, mas também conseguia tempo para estudar a Bíblia,
diariamente. Depois de. diplomar-se, continuou seus estudos em Yale, durante
dois. anos e foi então separado para o ministério.
Foi nessa altura que
seu biógrafo escreveu acerca de seu costume de dedicar certos dias para jejuar,
orar e examinar-se a si mesmo.
Acerca da sua
consagração, com idade de vinte anos, Edwards escreveu: "Dediquei-me
solenemente a Deus e o fiz por escrito, entregando a mim mesmo e tudo que me
pertencia ao Senhor, para não ser mais meu em qualquer sentido, para não me
comportar como quem tivesse direitos de forma alguma... travando, assim, uma
batalha com o mundo, a carne e Satanás até o fim da vida".
Alguém assim se
referiu a Jônatas: "Sua constante e solene comunhão com Deus, em secreto,
fazia com que o rosto dele brilhasse perante o próximo, e sua aparência,
semblante, palavras e todo o seu comportamento eram acompanhados por seriedade,
gravidade e solenidade".
Aos vinte e quatro
anos casou-se com Sara Pierrepont, filha de um pastor, e desse enlace nasceram,
como na família do pai de Edwards, onze filhos.
Ao lado de Jônatas
Edwards, no Grande Despertamento, estava o nome de Sara Edwards, sua fiel
esposa e ajudadora em tudo. Como seu marido, ela nos serve como exemplo de rara
intelectualidade. Profundamente estudiosa, inteiramente entregue ao serviço de
Deus, ela era conhecida por sua santa dedicação ao lar, pelo modo de criar
seus filhos e pela economia que praticava, movida pelas palavras de Cristo:
"Para que nada se perca". Mas antes de tudo, tanto ela como seu
marido eram conhecidos por suas experiências em oração. Faz-se menção destacada
especialmente dum período de três anos, durante o qual, apesar de gozar de
perfeita saúde, ficava repetidas vezes sem forças, por causa das revelações do
Céu. A sua vida inteira foi de intenso gozo no Senhor.
Jônatas Edwards
costumava passar treze horas, todos os dias, estudando e orando. Sua esposa,
também, diariamente o acompanhava na oração. Depois da última refeição, ele
deixava toda a lida, a fim de passar uma hora com a família.
- Mas, quais as
doutrinas de que a igreja havia esquecido e quais as que Edwards começou a
ensinar e a observar de novo, com manifestações tão sublimes?
Basta uma leitura
superficial para descobrir que a doutrina, à qual deu mais ênfase, foi a do
novo nascimento, como sendo uma experiência certa e definida, em contraste com
a idéia da Igreja Romana e de várias denominações.
O evento que marcou o
começo do Grande Despertamento foi uma série de sermões feitos por Edwards
sobre a doutrina da justificação pela fé, que fez os ouvintes sentirem a
verdade das Escrituras, de que toda a boca ficará fechada no dia de juízo, e
que "não há coisa alguma que, por um momento, evite que o pecador caia no
Inferno, senão o bel prazer de Deus".
É impossível avaliar
o grau do poder de Deus, derramado para despertar milhares de almas, para a
salvação, sem primeiro nos lembrarmos das condições das igrejas da Nova
Inglaterra, e do mundo inteiro, nessa época. Quem, até hoje, não se admira do
heroísmo dos puritanos que colonizaram as florestas da Nova Inglaterra?
Passara, porém, essa glória e a igreja, indiferente e cheia de pecado, se
encontrava face com o maior desastre. Parecia que Deus não queria abençoar a
obra dos puritanos, obra que existiu unicamente para sua glória. Por isso, no
mesmo grau que havia coragem e ardor entre os pioneiros, houve entre seus
filhos, perplexidade e confusão. Se não pudessem alcançar, de novo, a
espiritualidade, só lhes restava esperar o juízo dos céus. O famoso sermão de
Edwards, ''Pecadores nas mãos de um Deus irado", merece menção especial.
O povo, ao entrar
para o culto, mostrava um espírito leviano, e mesmo de desrespeito, diante dos
cinco pregadores que estavam presentes. Jônatas Edwards foi escolhido para
pregar. Era homem de dois metros de altura; seu rosto tinha aspecto quase
feminino, e o corpo magro de jejuar e orar. Sem quaisquer gestos, encostado num
braço sobre a tribuna, segurando o manuscrito na outra mão, falava em voz
monótona. Discursou sobre o texto de Deuteronômio 32.35: "Ao tempo em que
resvalar o seu pé".
Depois de explicar a
passagem, acrescentou que nada evitava, por um momento, que os pecadores
caíssem no Inferno, a não ser a própria vontade de Deus; que Deus estava mais
encolerizado com alguns dos ouvintes do que com muitas pessoas que já estavam
no Inferno; que o pecado era como um fogo encerrado dentro do pecador e pronto,
com a permissão de Deus, a transformar-se em fornalhas de fogo e enxofre, e que
somente a vontade do Deus indignado os guardava da morte instantânea.
Prosseguiu, então,
aplicando o texto ao auditório: "Aí está o Inferno com a boca aberta. Não
existe coisa alguma sobre a qual vós vos possais firmar e segurar. Entre vós e
o Inferno existe apenas a atmosfera... há, atualmente, nuvens negras da ira de
Deus pairando sobre vossas cabeças, predizendo tempestades espantosas, com
grandes trovões. Se não existisse a vontade soberana de Deus, que é a única
coisa para evitar o ímpeto do vento até agora, serieis destruídos e vos
tornaríeis como a palha da eira... O Deus que vos segura na mão, sobre o abismo
do Inferno, mais ou menos como o homem segura uma aranha ou outro inseto
nojento sobre o fogo, durante um momento, para deixá-lo cair depois, está
sendo provocado em extremo... Não há que admirar, se alguns de vós com saúde e
calmamente sentados aí nos bancos, passarem para lá antes de amanhã..."
O resultado do sermão
foi como se Deus arrancasse um véu dos olhos da multidão para contemplar a
realidade e o horror da posição em que estavam. Nessa altura o sermão foi
interrompido pelos gemidos dos homens e os gritos das mulheres; quase todos
ficaram de pé, ou caídos no chão. Foi como se um furacão soprasse e destruísse
uma floresta. Durante a noite inteira a cidade de Enfield ficou como uma
fortaleza sitiada. Ouvia-se, em quase todas as casas, o clamor das almas que,
até aquela hora, confiavam na sua própria justiça. Esperavam que, a qualquer
momento, o Cristo descesse dos céus com os anjos e apóstolos ao lado, e que os
túmulos entregassem os mortos que neles havia.
Tais vitórias, contra
o reino das trevas, foram ganhas de joelhos. Edwards não abandonara, nem
deixara de gozar os privilégios das orações, costume que vinha desde a
meninice. Continuou a frequentar, também, os lugares solitários na floresta
onde podia ter comunhão com Deus. Como um exemplo citamos a sua experiência com
a idade de trinta e quatro anos, quando entrou na floresta, a cavalo. Lá,
prostrado em terra, foi-lhe concedido ter uma visão tão preciosa da graça, amor
e humilhação de Cristo como Mediador, que passou uma hora vencido por uma
torrente de lágrimas e pranto.
Como era de esperar,
o Maligno tentou anular a obra gloriosa do Espírito Santo no "Grande
Despertamento", atribuindo tudo ao fanatismo. Em sua defesa Edwards
escreveu : "Deus, conforme as Escrituras, faz coisas extraordinárias. Há
motivos para crer, pelas profecias da Bíblia, que sua obra mais maravilhosa
seria feita nas últimas épocas do mundo. Nada se pode opor às manifestações
físicas, como as lágrimas, gemidos, gritos, convulsões, falta de forças... De
fato, é natural esperar, ao lembrarmo-nos da relação entre o corpo e o
espírito, que tais coisas aconteçam. Assim falam as Escrituras: do carcereiro
que caiu perante Paulo e Silas, angustiado e tremendo; do Salmista que
exclamou, sob a convicção do pecado: 'Envelheceram os meus ossos pelo meu
bramido durante o dia todo' (Salmo 32.3); dos discípulos, que, na tempestade do
lago, clamaram de medo; da Noiva, do Cântico dos Cânticos, que ficou vencida,
pelo amor de Cristo, até desfalecer..."
Certo é que na Nova
Inglaterra começou, em 1740, um dos maiores avivamentos dos tempos modernos. É
igualmente certo que este movimento se iniciou, não com os sermões célebres
de Edwards, mas com a firme convicção deste, de que há uma "obra direta
que o Espírito divino faz na alma humana". Note-se bem: Não foram seus
sermões monótonos, nem a eloqüência extraordinária de alguns, como Jorge
Whitefield, mas, sim, a obra do Espírito Santo no coração dos mortos
espiritualmente, que, "começando em Northampton, espalhou-se por toda a
Nova Inglaterra e pelas colônias da América do Norte, chegando até a Escócia e
a Inglaterra". De uma época de maior decadência, a Igreja de Cristo, entre
a população escassa da Nova Inglaterra, despertou e foram arrebatadas de
trinta a cinqüenta mil almas do Inferno durante um período de dois a três anos.
No meio das suas
lutas, sem ninguém esperar, a vida de Jônatas Edwards foi tirada da Terra.
Apareceu a varíola em Princeton e um hábil médico foi chamado de Filadélfia
para inocular os estudantes. O nosso pregador e duas de suas filhas foram
também vacinados. Na febre que resultou, as forças de nosso herói diminuíram
gradualmente até que, um mês depois, faleceu.
Assim diz um de seus
biógrafos: "Em todo o mundo onde se falava o inglês, era considerado o
maior erudito desde os dias do apóstolo Paulo ou de Agostinho".
Para nós, a vida de
Jônatas Edwards é uma das muitas provas de que Deus não quer que desprezemos as
faculdades intelectuais que Ele nos concede, mas que as desenvolvamos, sob a
direção do Espírito Santo, e que as entreguemos desinteressadamente para o seu
uso.
(estraido do livro
hérois da fé)
JOHN HUSS
John Huss (1373-1415)
- Nascido em Hussinec, na Boêmia, hoje Tchecoslováquia, em 1373, de uma família
pobre que vivia da agricultura. Ele recebeu boa educação elementar e cursou na
Universidade de Praga (capital atual da República Tcheca), onde terminou seu
mestrado em Filosofia no ano de 1396.
Dois anos depois,
Huss começou ensinar na Universidade, e em 1401, veio a ser o seu reitor. Em
1400, Huss foi separado como padre e foi-lhe entregue a responsabilidade da
prestigiada Capela de Belém.
Após o casamento do
rei inglês, Ricardo II da Inglaterra com Ana, filha do imperador Carlos IV da
Boêmia em 1382, os ensinamentos de Wycliff foram logo introduzidos no país. Estudando-os
bem de perto, Huss começou não só a pregar, como também traduzir as obras de
Wycliff na língua Tcheca.
Pregador e Precursor
da Reforma na Boêmia Em 1403, John Huss se propôs a reformar a Igreja Romana na
Boêmia, ensinando que o papado não tinha nenhuma autoridade de oferecer a
remissão dos pecados através da venda de indulgências, como também questionou a
legitimidade dos dois papas rivais Gregorio XII e AlexandreV. Por esta razão,
em 1408, os incontentos padres e colegas da Universidade de Praga condenaram a
Huss, e como resultado, foi proibido de exercer suas funções eclesiásticas em
Praga.
Um ano depois, ele
recebe novas acusações de estar ensinando heresias; mas não para de pregar na
Capela de Belém. Em 1411, Huss é excomungado de sua congregação, e todos os
cultos, cerimônias de batizado e funeral foram anulados. Tal ato trouxe grande
revolta nos cidadãos de Praga, os quais defenderam a Huss.
O cúmulo da corrupção
papal sucedeu em 1412, quando João XXIII lançou uma cruzada contra o Rei
Ladislau de Nápoles, e ofereceu a remissão completa de pecados a todos os que
participassem na guerra, ou a venda da indulgência para os que a suportassem.
Ao ouvir tal notícia contrária a todos os preceitos bíblicos, Huss se levanta e
ataca o papado de usar sanções espirituais e indulgências para fins pessoais e
políticos. Em contra-ataque, Jan Huss foi excomungado de Roma e obrigado a
deixar Praga.
A Intimidação Se
Inicia Durante o seu exílio, Huss teve a oportunidade de concluir uma de suas
obras mais importantes, “De Ecclesia”. No ano de 1414, os líderes da Igreja
Romana se reuniram para um Concílio em Constança (atualmente na Alemanha), e
John Huss foi convocado a comparecer a fim de esclarecer seus ensinos
controversiais com o da Igreja. O imperador Boêmio, Sigismund, prometeu
salvo-conduto, mas, após um mês em Constança, os seguidores do Papa João XXIII
o prenderam, e ele foi impelido pelo Concílio de se retratar. Huss permanceceu
preso durante os sete meses de seu julgamento, e pouca oportunidade foi-lhe dada
de se defender. Por não voltar atrás, Jan Huss foi condenado como hereje,
despido e queimado na estaca fora da cidade no dia 6 de julho de 1415.
Huss morreu cantando
o hino em grego “Kyrie eleeson” (Senhor, tem misericórdia). O local de sua
morte é marcado até hoje com uma pedra memorial. Como Wycliff, Huss lutou pela
reforma da Igreja pagando o preço com sua vida. Os perseguidores destruíram o
corpo, mas não os ensinos de Huss, que foi espalhado por toda a Europa por seus
discípulos mais radicais, conhecidos como Taboritas. Estes rejeitaram tudo na
fé e na prática da Igreja Romana que não se encontrasse na Bíblia. Destes
discípulos surgiu a Igreja Moraviana, a qual tornou-se mais tarde numa das
igrejas de mais visão missionária da História da Igreja. O resultado do
trabalho de Huss e de tantos outros foi vista um século depois, na pessoa de
Lutero.
JÔNATAS GOFORTH
«POR MEU ESPÍRITO»
(1859-1936) - Certo
dia, no ano de 1900, em Changte, no interior da China, passou um correio
galopando à doida. Levava um despacho da imperatriz para o governador,
ordenando que tomasse medidas para exterminar imediatamente todos os
estrangeiros. Na horrenda carnificina que se seguiu, Jônatas Goforth, com sua
esposa e filhinhos, foram cercados por milhares de Boxers, determinados a
tirar-lhes a vida.
O pai da família, ao
cair no chão com uma tremenda pancada que quase lhe partiu o crânio, ouviu uma
voz dizer-lhe: "Não temas! Teus irmãos estão orando por ti." Antes
de ficar inconsciente, viu chegar a galope um cavalo que ameaçava atropelá-lo.
Ao voltar a si, viu que o cavalo caíra ao seu lado, esperneando de tal maneira
que os seus atacantes foram obrigados a desistirem do propósito de matar o
missionário. Assim ele reconheceu que a mão de Deus o guardava maravilhosa e
constantemente durante o tempo do morticínio dos boxers, no qual centenas de
crentes foram mortos. Jônatas Goforth e sua família, foram sal-vos de
inumeráveis situações angustiosas entre o povo amotinado, até que, por fim,
vinte dias depois, chegaram ao litoral do país.
Rosalind e Jônatas
Goforth tinham as suas vidas escondidas com Cristo em Deus. Eis como viviam,
nas suas próprias palavras: "Não é somente tolice aceitar para nós mesmos
a glória que pertence a Deus, mas é grave pecado, porque o Senhor diz: 'A minha
glória a outrem não darei'."
Quando ainda jovem,
Jônatas Goforth adotou as palavras de Zacarias 4.6 como lema da sua vida:
"Não por força nem por violência, mas por meu espírito, diz o Senhor dos
Exércitos."
Alguém que o conhecia
intimamente escreveu: "Antes de tudo, Jônatas Goforth era um ganhador de
almas. Foi por essa razão que se tornou missionário para o estrangeiro; não
havia outro interesse, outra atividade, outro ministério que o atraísse. Com o
fogo do amor de Deus no coração, ele manifestava um entusiasmo irresistível e
uma energia incansável. Nada podia impedir os esforços dinâmicos na obra, para
a qual Deus o chamara. Era assim tanto aos setenta e sete anos como quando
tinha cinqüenta e sete. Com a perda da vista durante os últimos três anos da
sua vida, não diminuíram seus esforços - parece que aumentaram."
Revela-se, nas suas
próprias palavras, como foram lançados os alicerces da sua vida constantemente
esforçada no serviço do Senhor: "Minha mãe, quando eu e meus irmãos
éramos ainda crianças, com desvelo incessante, nos ensinava as Escrituras e
orava conosco. Uma coisa que teve grande influência sobre a minha vida foi o
fato de minha mãe me pedir que lesse os Salmos para ela em voz alta. Tinha
apenas cinco anos, quando comecei a fazer esse exercício e achei a leitura
fácil. Com a continuação, adquiri o costume de decorar as Escrituras, coisa
que continuei a fazer com grande proveito".
Todos podemos
testificar que é fácil fazer com que a leitura das Escrituras e a oração
cheguem a uma monótona formalidade. Mas, ao contrário, o semblante de Jônatas
Goforth se iluminava com o reflexo da glória das Escrituras que recebia na
alma. Depois da sua morte, uma criada católica romana declarou: "Quando o
senhor Goforth se hospedava na casa onde trabalho, eu mirava seu rosto e dizia
a mim mesma: O rosto de Deus pode ser assim!
Acerca da conversão
de seu pai, Jônatas escreveu: "No tempo da minha conversão, morava com meu
irmão Guilherme. Certa vez, nossos pais nos visitaram, passando conosco mais
ou menos um mês. Fazia tempo que o Senhor me dirigira a fazer culto doméstico.
Assim, certo dia, anunciei: Taremos o culto doméstico de hoje e peço que todos
se reúnam depois do jantar'. Esperava que meu pai se manifestasse
contrariamente, porque em casa não costumávamos dar graças antes das
refeições, quanto mais fazer culto doméstico! Li um capítulo de Isaías e,
depois de falar algumas palavras, oramos juntos, de joelhos. Continuamos a
realizar os cultos domésticos durante o tempo que eu estava em casa. Depois de
alguns meses meu pai foi salvo."
O jovem Goforth, no
tempo de estudante no ginásio, visava a ser advogado, até que, certo dia, leu
a inspiradora biografia do pregador Roberto McCheyne. Não somente se
desvaneceram para sempre todas as suas visões de ambição, mas ele dedicou,
também, a sua própria vida a levar almas ao Salvador. Nesse tempo,
"devorou" os livros: "Os Discursos de Spurgeon"; "Os
Melhores Sermões de Spurgeon"; "Graça Abundante" (Bunyan); e
"O Descanso dos Santos" (Baxter). A Bíblia, contudo, era o seu livro
predileto, e costumava levantar-se duas horas mais cedo para estudar as
Escrituras, antes de se ocupar em qualquer outro serviço do dia.
Acerca da sua
chamada, nesse tempo, ele escreveu: "Apesar de sentir-me dirigido ao
ministério da Palavra, recusava terminantemente a ser missionário no
estrangeiro. Mas um colega me convidou a assistir à reunião de um missionário,
o qual fez o seguinte apelo: 'Faz dois anos que passo de cidade em cidade
contando a situação de Formosa e rogando que algum jovem se ofereça para me
auxiliar. Mas parece que não consegui transmitir a são a nenhum. Volto, então,
sozinho. Dentro de pouco tempo meus ossos estarão enbranquecendo na encosta dum
morro em Formosa. Quebranta-me o coração saber que nenhum moço se sente
dirigido a continuar o trabalho que iniciei'.
"Ao ouvir essas
palavras, senti-me vencido pela vergonha. Se o chão tivesse me engolido, teria
sido um alívio. Eu, comprado com o precioso sangue de Cristo, ousava planejar a
minha vida como eu mesmo queria. Ouvi a voz do Senhor dizer: 'A quem enviarei,
e quem há de ir por nós?' E respondi: Eis-me aqui, envia-me a mim! Desde então
sou missionário. Lia avidamente tudo que podia achar acerca de missões no
estrangeiro e me esforçava por transmitir aos outros a visão que eu alcançara -
a visão dos milhões da terra sem oportunidade de ouvirem um pregador".
Por fim chegou o
tempo de iniciar seus estudos em Toronto. O primeiro domingo ele o passou
trabalhando entre os prisioneiros, na prisão "Don", um costume que
continuou durante todos os anos de estudos nessa cidade. Durante a semana,
dedicava muito tempo a andar de casa em casa ganhando almas para Cristo. Quando
o diretor do colégio onde estudava perguntou-lhe quantas casas visitara
durante os meses de junho a agosto, ele respondeu: "Novecentas e
sessenta."
Foi nesse tempo dos
estudos que Jônatas Goforth se casou com Rosalind Bell-Smith. Acerca desse ato
ela escreveu:
"Comecei, aos
vinte anos de idade, a orar pedindo que, se o Senhor desejasse que eu me
casasse, Ele me dirigisse um moço inteiramente dedicado a Ele e ao seu
serviço... Certo domingo, achei-me em uma reunião de obreiros da Toronto
Mission Union. Um pouco antes de começar a reunião, alguém à porta chamou
Jônatas Goforth. Ele, ao levantar-se para ir lá fora, deixou a Bíblia na
cadeira. Então eu fiz uma coisa que nunca pude explicar, nem para ela achei
desculpas; senti-me impelida a ir à cadeira dele, apanhei a Bíblia, e voltei à
minha cadeira. Ao folhear rapidamente o livro, achei-o quase gasto pelo uso, e
marcado de capa a capa. Fechei-o, e sem demora, coloquei-o de novo na cadeira.
Tudo isso aconteceu em um intervalo de poucos segundos. Ali, sentada no culto,
eu disse a mim mesma: 'Esse é o moço com quem seria bom que eu me casasse'.
"No mesmo dia
fui apontada, juntamente com outras para abrir um ponto de pregação em outra
parte de Toronto. Jônatas Goforth estava também entre o grupo. Durante as
semanas que se seguiram, eu tive muitas oportunidades de ver a verdadeira
grandeza da alma desse homem, a qual nem seu exterior desprezível podia
esconder. Assim, quando ele me perguntou: - 'Queres unir a tua vida à minha
para irmos à China?' Sem vacilar um só momento, respondi: - Quero! Mas, alguns
dias depois, foi grande a minha surpresa quando ele me perguntou: - 'Prometes
nunca me impedir de colocar o Senhor e a sua obra em primeiro lugar, mesmo
antes de ti?' Era essa mesma a qualidade de moço que eu pedira, em oração, para
que Deus mo desse como marido, e firmemente respondi: Prometo fazê-lo sempre!
Oh! Como fora benigno o Mestre, ao esconder-me o que essa promessa significava!
"Poucos dias
depois de eu haver prometido o que me pediu, veio a primeira prova. Eu
sonhava, como mulher que era, com o bonito anel de casamento que ia receber.
Foi então que Jônatas me disse: - 'Não te importas se eu te não comprar uma
aliança?' A seguir explicou com grande entusiasmo, como se esforçava na distribuição
de livros e folhetos sobre o trabalho na China. Queria economizar o mais
possível para essa importante obra. Ao ouvi-lo, e depois de contemplar a luz no
seu rosto, as visões de uma aliança bonita se desvaneceram: Era a minha
primeira lição sobre os verdadeiros valores!"
Em 19 de janeiro de
1888, centenas de crentes se reuniram na estação em Toronto para se despedirem
do casal Goforth que ia trabalhar na obra de Deus na China. Antes de sair o
trem, todos baixaram a cabeça em oração e, ao partir o trem, a grande multidão
cantava: "Avante, soldados de Cristo!" E, uma vez fora da estação,
os dois no trem rogaram a Deus que os guardasse para viverem eternamente
dignos da grande confiança que esses irmãos depositaram neles.
Não muito depois de
chegarem à China, Hudson Taylor lhes escreveu: "Faz dez anos que a nossa
missão se esforça para entrar no Sul da província e somente agora é que o
conseguimos..." Se a China Inland Mission, com missionários e auxiliares
experientes na língua e nos costumes do povo sofre fracasso durante dez anos
nessa província, como podia entrar ele, jovem inexperiente e sem conhecer a
língua?! As palavras de Hudson Taylor, "avançar de joelhos",
tornaram-se o lema da missão de Goforth para entrar no Norte de Honã.
Jônatas Goforth levou
mais tempo a aprender a língua, do que seu companheiro que chegara um ano
depois dele. Certo dia, ao sair para pregar, ele, em grande desespero, disse à
sua esposa: "Se o Senhor não operar um milagre para eu aprender essa
língua, serei um grande fracasso como missionário!" Duas horas depois
voltou, dizendo: "Oh! Rosa! Que maravilha! Ao começar a pregar, as
palavras e as frases tornaram-se tão fáceis que o povo me compreendeu
bem." Dois meses depois receberam uma carta dos estudantes no colégio Knox,
em Toronto, contando como em certo dia a certa hora eles se reuniram para orar
por eles - "Somente pelos Goforth" - e ficaram convencidos de que
eles foram abençoados por Deus, porque sentiram muito a presença e o poder de
Deus na oração. Goforth, ao abrir seu diário, descobriu que foi no mesmo dia e
hora que Deus lhe deu a habilidade de falar fluentemente. Alguns anos depois,
certo patrício seu, que falava bem o chinês, disse-lhe acerca do seu estilo de
falar: "Compreende-se a fala do senhor sobre uma área maior do que de
qualquer outra pessoa que conheço."
Um missionário
veterano assim aconselhou a Goforth: "Os chineses têm tantos preconceitos
do nome de Jesus que deve esforçar-se para demolir os deuses falsos e só
depois mencionar o nome de Jesus, se houver oportunidade." Ao contar isso
à sua esposa, Goforth exclamou indignado: "Nunca! Nunca! NUNCA!" Em
nenhum tempo ele se levantou para pregar sem a Bíblia aberta na mão.
Quando, alguns anos
depois, os missionários novatos lhe perguntaram o segredo do fruto
extraordinário do seu ministério, ele respondeu: "Deixo Deus falar às
almas dos ouvintes por intermédio da sua própria Palavra. Meu único segredo
para tocar no coração dos mais vis pecadores é mostrar-lhes a sua necessidade e
pregar-lhes o Salvador poderoso para os salvar... Esse era o segredo de Lutero,
era o segredo de João Wesley e ninguém se aproveitou mais dele do que D. L.
Moody". Para manejar a ''Espada do Espírito" com grande execução,
Goforth a "afiava", estudando-a diariamente, sem falhar. Em vez de
falar contra os ídolos, ele exaltava a Cristo crucificado. Isso atraía os
pecadores para deixarem as suas vaidades.
Em 1896, ele
escreveu: "Depois de chegar a Changté, há cinco meses, o poder do Espírito
Santo se manifesta quase diariamente para nos alegrar. Durante esses meses, um
total de mais de 25.000 homens e mulheres nos visitaram em casa, e todos
ouviram a pregação do Evangelho. Pregamos, na média, oito horas por dia. Há, às
vezes, mais de cinqüenta mulheres de uma vez no terraço. (Ele pregava aos
homens, enquanto a sua esposa pregava às mulheres.) Quase todas as vezes que
apresentamos Cristo como Redentor e Salvador, o Espírito Santo salva alguém e,
às vezes, dez a vinte."
Contudo, não se deve
pensar que esses missionários escaparam de grandes tribulações. Não muito
depois de chegarem à China, um incêndio destruiu todas as suas possessões
terrestres. O calor do verão era tão intenso que sua primogênita, Gertrude,
faleceu e foi necessário levar o cadáver a uma distância de 75 quilômetros, a
um lugar onde se permitia enterrar os estrangeiros. Quando faleceu outro
filhinho, Donald, foi necessário fazer de novo a mesma longa viagem de 75
quilômetros com os restos mortais. Depois de passarem doze anos na China,
novamente perderam tudo quanto tinham em casa, quando as águas de uma enchente
subiram à altura de dois metros dentro da casa.
No ano 1900, logo
após outra filha, Florença, morrer de meningite, veio a insurreição dos Boxers
- acerca da qual já nos referimos. No levante dos Boxers, muitas centenas de
missionários e crentes foram brutalmente mortos. Só a mão de Deus os guiou e os
sustentou na fuga de Changté -uma viagem de 1.500 quilômetros, em tempo de
intenso calor e de doença em um dos quatro filhos. Inúmeras vezes foram cercados
pelas multidões que clamavam: "Matai-os! Matai-os!" Uma vez a
multidão enfurecida arremessou pedras tão grandes que quebraram a espinha dos
cavalos que puxavam a carroça, mas todas as pessoas do grupo escaparam!
Goforth levou vários golpes de espada, um dos quais atingiu o osso do braço
esquerdo, quando o ergueu para defender a cabeça. Apesar de o grosso capacete,
que tinha na cabeça, ficar quase inteiramente cortado em pedaços, ele
conseguiu manter-se em pé até que recebeu um golpe que, por pouco, não lhe
partiu o crânio. Mas Deus não permitiu que a mão dos homens os destruíssem,
porque ainda tinha uma grande obra para fazer na China por intermédio desses
servos. Assim, sem poderem cuidar das feridas e com as roupas ensangüentadas, o
grupo enfrentava as multidões furiosas, dia após dia, até alcançar Shanghai.
De lá, a família embarcou em um navio para o Canadá.
Logo que diminuiu o
perigo na China, os nossos incansáveis heróis estavam novamente ocupados no
trabalho em Changté. A região foi dividida em três: a parte que caiu em sorte a
Goforth foi o vasto território ao norte da cidade com inúmeras vilas e
povoados.
O plano de Goforth
era alugar uma casa em um centro importante, passar um mês evangelizando e,
depois mudar-se para outro centro. Queria que a sua esposa pregasse no pátio
da casa, de dia, enquanto ele e seus auxiliares pregavam nas ruas e nos
povoados ao redor. À noite, faziam os cultos juntos, ela tocando o harmonium.
No fim do mês, podiam deixar um dos auxiliares para ensinar os novos convertidos,
enquanto o grupo passava para outro centro. Acerca desse plano a esposa de
Goforth escreveu:
"De fato, o
plano foi bem concebido, a não ser uma coisa: não se lembrou das crianças...
Lembrei-me de como os meninos com varíola, em Hopei, me cercaram quando
segurava a criança no colo. Lembrei-me das quatro covas de nossos pequeninos,
e endureci o coração, como pederneira, contra o plano. Como meu marido
suplicava dia após dia! 'Rosa, por certo o plano é de Deus e receio o que possa
acontecer aos filhos se desobedecermos. O lugar mais seguro para ti e os
filhos é no caminho da obediência. Pensas em guardar os filhos seguros em casa,
mas Deus pode mostrar-te que não podes. Contudo, Ele guardará os filhos se
obedeceres confiando nele!' Não muito depois, Wallace caiu doente de disenteria
asiática e por quinze dias lutamos para salvar a criança; meu marido me disse:
'Oh! Rosa, cede a Deus, antes de perder tudo.' Mas parecia-me que Jônatas era
duro e cruel. Então nossa filha Constância caiu enferma da mesma doença. Deus
revelou-se a mim como um Pai em quem eu podia confiar para conservar os meus
filhos. Baixei a cabeça e disse: 'Ó Deus, é tarde demais para a Constância,
mas confio em ti, guarda os meus filhos. Irei aonde quer que me mandes.' Na
tarde do dia em que a criança faleceu, mandei chamar a senhora Wang, uma crente
fervorosa e amada e lhe disse: 'Não posso contar-lhe tudo agora, mas estou
resolvida a acompanhar meu marido nas viagens de evangelização. Quer ir
comigo?' Com lágrimas nos olhos, ela respondeu: 'Não posso, pois a menina pode
adoecer sob tais condições.' Não querendo insistir, pedi que ela orasse e me
respondesse depois. No dia seguinte ela voltou com os olhos cheios de lágrimas
e, com um sorriso, disse: 'Irei com vocês'."
É coisa notável que
não faleceu mais nenhum filho dos Goforth, na China, apesar dos muitos anos que
passaram na vida nômade de evangelização. Goforth observou tão fielmente seu
costume de levantar-se às 5 horas para oração e estudo das Escrituras, como
quando estava em casa, em Chantgé. Geralmente, para o estudo tinha de ficar em
pé diante da janela, com as costas viradas para a família. Acerca da obra em
Chantgé, são de Goforth estas palavras: "Nos primeiros anos de meu
trabalho na China, contentava-me com a lembrança de que sempre há sementeira
antes da colheita. Mas já passavam mais de treze anos e a colheita parecia
ainda distante. Tinha a certeza de que haveria uma coisa melhor para mim se eu
tivesse a visão e a fé necessárias para adquiri-la. Estavam constantemente
perante mim as palavras do Mestre em João 14.12: 'Na verdade, na verdade vos
digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará
maiores do que estas; porque eu vou para meu Pai.' E sentia profundamente como
no meu ministério faltavam as 'maiores obras'."
No ano de 1905,
Jônatas Goforth leu na Autobiografia de Carlos Finney que um lavrador podia,
com muita razão, orar pedindo uma colheita material independentemente de se
cumprirem as leis da natureza, assim como os crentes podem esperar uma grande
colheita de almas sem se cumprirem as leis que governam a colheita espiritual.
Resolveu então saber quais eram essas leis e decidiu-se a cumpri-las, a
qualquer preço.
Fez um estudo a fundo
e de joelhos, sobre o Espírito Santo e escreveu as notas nas margens da sua
Bíblia chinesa. Quando começou a ensinar essas lições aos crentes, houve
grande quebrantamento, com confissão de pecados. Foi na grande exposição
idólatra de Hsun Hsien que Deus primeiramente mostrou seu grande poder no ministério
de Goforth. Durante o sermão, um obreiro exclamou em voz baixa: "Esse povo
está tão comovido, pela pregação, como a multidão no dia de Pentecoste, pelo
sermão de Pedro". Na noite do mesmo dia, num salão alugado e que não
comportava toda a grande multidão pagã que queria assistir, Goforth pregou
sobre o texto: "Levando Ele em seu corpo os nossos pecados sobre o
madeiro". Quase todos mostraram-se convictos do pecado e quando o
pregador fez o apelo, levantaram-se clamando: "Queremos seguir a esse Jesus
que morreu por nós!" Um dos obreiros presentes assim expressou o que viu:
"Irmão, aquele a quem oramos durante tanto tempo para que viesse, veio de
fato esta noite." Nos dias que se seguiram, pecadores foram salvos em
todos os pontos de pregação e em todos os cultos.
Acerca do avivamento,
que nesse tempo visitou a Coréia, um dos missionários escreveu sobre o que
presenciou: "Os missionários eram como os demais crentes: não havia alguém
entre eles de talento extraordinário. Viviam e trabalhavam como quaisquer
outros, a não ser nas orações... Nunca senti a presença divina como a senti nos
seus rogos a Deus. Parecia que esses missionários nos levavam ao próprio trono
no Céu! Fiquei muito impressionada, também, ao ver como o avivamento era
prático... Havia dezenas de milhares de homens e mulheres transformados
completamente pelo fogo divino. Grandes templos, com assentos para 1.500
pessoas, ficavam superlotados; era necessário realizar um culto para os homens
e, em seguida, outro para as mulheres, a fim de que todos pudessem assistir. Em
todos ardia o desejo de espalhar as 'boas-novas'. Crianças se aproximavam das
pessoas que passavam pelas ruas, rogando-lhes que aceitassem a Cristo por seu
Salvador... A pobreza do povo da Coréia era conhecida em todo o mundo.
Contudo, havia tanta liberalidade nas ofertas, que os missionários não queriam
ensinar mais sobre o dever de contribuir. Havia grande dedicação à Bíblia,
quase todos levando um exemplar no bolso. E o maravilhoso espírito de oração
permeava tudo."
Ao voltar da Coréia,
Goforth foi chamado a Manchúria. Mais tarde, ele escreveu: "Quando iniciei
a longa viagem, estava convicto de que eu tinha uma mensagem de Deus para
entregar àquele povo. Mas não tinha idéia de como presidir a um avivamento. Sabia
pronunciar um discurso e sabia levar o povo a orar, porém nada mais sabia do
que isso..."
Goforth teve um
grande desapontamento ao chegar à Manchúria: os crentes não oravam como lhe
prometeram fazer e a igreja estava dividida! Depois do primeiro culto, ele, sozinho
no seu quarto, caiu de joelhos em desespero. E Deus respondeu à sua
insistência, enviando tão grande desejo de oração nas igrejas e tão profunda
contrição pelo pecado, que elas não somente foram purificadas de toda a classe
de pecado, inclusive dos mais horrendos crimes, mas os perdidos, em grande
número, vinham e eram salvos.
A senha do avivamento
do ano de 1859 foi: "Necessário vos é nascer de novo" e a de 1870:
"Crê no Senhor Jesus!" Mas a meta de Goforth foi: "Não por
força, nem por violência, mas por meu Espírito" (Zc 4.6). Que o Espírito
Santo operava em vários lugares na Manchúria, em resposta às orações
insistentes e em face de embaraços de toda a sorte, vê-se claramente no que ele
escreveu acerca da obra na cidade de Newchang:
"Ao subir ao
púlpito, ajoelhei-me um momento, como de costume, para orar. Quando olhei para
o auditório, parecia como que todos os homens, mulheres e crianças na igreja
estivessem com dores de julgamento. As lágrimas corriam copiosamente e houve
confissão de toda a espécie de pecado. Como se explica isso? A igreja era
conhecida como igreja morta e sem mais esperança, contudo, antes de enunciar
sequer uma palavra, sem mesmo cantar um hino e antes de orar, começou essa obra
maravilhosa. Não há outra explicação: foi o Espírito de Deus, que operou em
resposta às orações das igrejas de Mukden, Liaoyang e de outros lugares na
Manchúria, as quais haviam experimentado a mesma qualidade de avivamento e
foram induzidas a interceder por sua pobre e necessitada igreja irmã".
Jônatas Goforth,
quando foi à Manchúria, era quase desconhecido fora do pequeno círculo da sua
denominação. Depois de algumas semanas, quando voltou, os olhos dos crentes de
todo o mundo estavam fitos nele. Contudo, permaneceu o mesmo humilde servo de
Deus, reconhecendo que a obra não era dele mas do Espírito de Deus.
Chansi é conhecida
como "a província dos mártires". Certo chinês douto contou a Goforth
como presenciara nessa província, durante a Insurreição dos Boxers, em 1900,
de uma só vez a morte de 59 missionários. Todos eles encararam o carrasco com
a maior calma. Uma mocinha, de cabelos louros, perguntou ao governador:
"Por que devemos morrer? Os nossos médicos não vieram de países remotos
para dar suas vidas para servir ao seu povo? Muitos doentes sem esperança não
foram curados? Diversos cegos não receberam a vista? É por causa do bem que
fizemos que devemos morrer?" O governador baixou a cabeça, e não
respondeu. Mas um soldado, pegou a mocinha pelos cabelos, e com um só golpe,
decepou-lhe a cabeça. Um após outro foram mortos; todos morreram com um
sorriso de paz. Esse mesmo chinês contou como viu, entre eles, uma senhora
falando alegremente ao filhinho. Com um só golpe ela foi prostrada, mas a
criança continuou a segurar-lhe a mão; logo a seguir outro golpe, um pequeno
cadáver jazia ao lado do cadáver da mãe.
Foi a essa mesma
"província dos mártires" que Deus enviou seus servos, os Goforth,
oito anos depois, e aconteceu o que vamos ler: "Em Chuwahsien, não muito
depois de começar a falar, vi muitos dos ouvintes baixarem a cabeça,
convictos, enquanto as lágrimas corriam-lhes pelas faces. Depois do discurso,
todos que experimentaram orar, estavam quebrantados. O avivamento, que começou
assim, continuou durante quatro dias. Houve confissão de toda a qualidade de
pecados. O delegado regional se admirou grandemente ao ouvir confissões de
homicídios, de roubos e de crimes de toda a sorte - confissões que ele só
conseguiria arrancar deles açoitando-os até quase os deixar mortos. Às vezes,
depois de um culto de três horas, ou mais, o povo voltava a casa para continuar
a orar. Mesmo em horas tardias da noite, havia pequenos grupos reunidos em
vários lugares para orarem até quase clarear o dia".
No colégio de moças,
em Chuwu, na mesma "província dos mártires", "as alunas
insistiram para que lhes concedessem tempo para jejuar e orar... No dia
seguinte, quando as moças se reuniram de manhã, para oração, o Espírito caiu
sobre elas e ficaram de joelhos até a tarde desse dia."
Das centenas de
exemplos evidentes da operação poderosa do Espírito Santo nos corações, dentre
muitos outros lugares, citaremos aqui apenas os seguintes:
Changté: "Quase
setecentas pessoas assistiram pela manhã. Havia um ferver de homens se
esforçando para ir à frente, de modo que Goforth só conseguiu pregar à tarde. O
culto era contínuo, prolongava-se o dia inteiro, com intervalos para as
refeições."
Kwangchow: "A
igreja, com assentos para 1.400 ouvintes, não comportava as multidões. O
Espírito Santo veio com poder extraordinário. Havia, às vezes, centenas de
pecadores contritos chorando..." Dois endemoninhados foram libertos e se
tornaram crentes fervorosos na obra de Deus. Em quatro anos o número dos salvos
aumentou de 2.000 para 8.000.
Shuntehfu:
"Inesperadamente, uma dúzia de homens começaram a orar e a chorar... sem
poderem resistir ao poder do Espírito Santo... Velhos discípulos de Confúcio,
vinham à frente, quebrantados e humilhados, para confessarem a Cristo como
seu Senhor. Um total de quinhentos homens e mulheres foram salvos. Foi,
talvez, a maior obra do Espírito Santo que eu tinha visto."
Nanquim:
"Assistiram mais de 1.500 pessoas. Centenas que também queriam assistir,
não puderam entrar e voltaram a casa. O culto da manhã durou quatro horas. O
resto do tempo foi dedicado à oração e confissão de pecados. A massa de pessoas
que desejava chegar ao estrado para confessar seus pecados foi tão grande que
se tornou necessário construir outra escada... Subi de novo ao estrado, às 3
horas da tarde, para iniciar o segundo culto. Centenas de pessoas, nesse
momento, começaram a vir à frente e por isso eu não podia pregar... Às nove
horas da noite, seis horas depois de iniciar o culto, fui obrigado a me
retirar e embarcar para Pequim onde os crentes me esperavam para outra série
de cultos."
Shantung: "O
avivamento foi tão grande que cerca de 3.000 membros foram acrescentados à
igreja em três anos."
Acerca dos cultos
entre os soldados do general Feng, a esposa de Goforth escreveu: ''Desde o
início, sentimos a presença de Deus. Duas vezes, todos os dias, Goforth tinha
auditórios de cerca de 2.000 pessoas, principalmente oficiais, que se
mostravam grandemente interessados... A três cultos, às esposas foi permitido
assistirem, e Deus me deu poder para falar-lhes. Quase todas declararam-se
prontas a seguir a Cristo. O general Feng, ao experimentar orar, ficou
quebrantado... A seguir outros oficiais, um após outro, começaram a clamar a Deus
entre soluços e lágrimas."
Assim continuou a
obra, ano após ano, geralmente com três cultos por dia, apesar de grandes
obstáculos. No período da seca de 1920, 30 a 40 milhões dos habitantes ao
redor encararam a morte pela fome. Em 1924, Goforth assim escreveu à sua
esposa, forçada por doença a voltar ao Canadá: "Completo hoje 65 anos...
Oh! Como cobiço, mais que qualquer avarento cobiça o ouro, vinte anos ainda
para ganhar almas!"
Depois de completar
68 anos de idade e sua esposa 62, idades em que a maioria dos homens se afastam
do serviço ativo, os dois foram enviados para um campo inteiramente novo, na
Manchúria - campo distante, vasto e frio, que se estende até as fronteiras da
Rússia e da Mongólia. Acerca da sua partida, Goforth escreveu:
"Certo dia, em
fevereiro de 1926, a minha esposa estava deitada esperando a chegada da
assistência para levá-la ao Hospital Geral de Toronto. De repente, a campainha
da porta e a do telefone tocaram simultaneamente. Pelo telefone fomos avisados
de que não haveria lugar no hospital antes de três dias. Na porta recebemos um
cabograma do general Feng, da China, rogando que eu fosse sem demora. Nesse
momento eu disse à minha esposa: 'Que farei? Não posso deixar-te'. (Todos
pensávamos que ela não viveria muitos meses mais.) Minha esposa, depois de
orar, disse: 'Vou contigo.' Os membros da junta estavam reunidos na ocasião;
apresentei-lhes o cabograma do general Feng e concordaram que eu fosse. Mas
quando os informaram de que a minha esposa queria acompanhar-me, mostraram-se
horrorizados, respondendo que ela morreria no caminho. Então eu lhes disse: 'Os
irmãos não conhecem essa mulher como eu. Quando ela diz que vai, ela vai!'
Assim concordaram em que ela fosse."
Durante muito tempo,
avisados pelo cônsul do novo campo da Manchúria, viviam com as malas arrumadas,
a fim de partirem imediatamente no caso de haver uma segunda insurreição dos
Boxers, como todos esperavam. Contudo, desde o início, Deus honrou o serviço
desses servos, conforme se lê no que ele escreveu na avançada idade de 70
anos: "Realizavam-se três horas de pregação de manhã pelo grupo de
missionários e quatro horas à tarde... Desde o primeiro dia houve conversões;
às vezes doze em um só dia. Grande foi o nosso gozo ao vermos cerca de duzentas
pessoas aceitaram a Cristo durante o mês de maio."
Havia muito tempo que
diversos amigos insistiam em que ele escrevesse a história de como o Espírito
Santo operava no seu ministério. Em tempo de intenso frio, viu-se obrigado a
extrair os dentes; durante quatro longos meses sofreu dores cruciantes nos
maxilares, a ponto de não poder pregar. Foi nessa época que seu filho menor
chegou do Canadá. Goforth então conseguiu ditar a matéria para o filho
datilografar. Dessa forma foi impresso o livro "Por Meu Espírito",
obra de grande circulação e influência.
Após quatro anos de
serviço, foi-lhe necessário voltar ao Canadá, por causa da vista de sua esposa.
Foi durante esse tempo que Goforth, também, começou a perder a vista. Enquanto
convalescia das operações mal-sucedidas para restaurar-lhe a visão de um olho.
Ele relatou, uma por uma, as histórias da obra na China, histórias que a sua
enfermeira estenografou e que, agora, completam o famoso livro intitulado:
"Vidas Milagrosas da China".
Em 1931, Goforth e
sua esposa, ela com 67 anos e ele com 72, com os corações ardendo pelo desejo
de ganhar almas, voltaram mais uma vez à obra na Manchúria. Quatrocentos e
setenta e dois convertidos foram batizados em 1932. Um dia Goforth voltou de
uma viagem evangelística para entrar em casa às apalpadelas. Depois de ficar um
momento ao lado da sua esposa, ele lhe disse em voz baixa: "Receio que a
retina do olho esquerdo tenha saído do lugar." E assim tinha acontecido.
A perda completa da visão era para ele uma tristeza, uma tragédia, sentida por
todos. Ao mesmo tempo chegou-lhes uma carta informando-os de uma redução tão
grande no que recebiam para o sustento dos missionários e nas despesas das
viagens evangelísticas, que parecia impossível continuar a obra. Foi a maior
crise de toda a vida de Jônatas Goforth. Contudo, sem vacilar, olhou para Deus.
A própria cegueira parecia mais uma bênção do que uma aflição: os crentes
mostravam-se mais ligados a ele do que antes. Vencendo o desânimo inevitável
dos que perdem a vista, não cessou de pregar com a Bíblia que amava, aberta nas
mãos. No ano de 1933, setecentos e setenta e oito convertidos foram batizados.
Por fim, os Goforth
cederam ao apelo dos crentes do Canadá a que voltassem para animar as igrejas a
enviarem mais missionários. Durante os preparativos para a viagem, souberam que
novecentos e sessenta e seis convertidos foram batizados naquele ano, 1934. O
culto de despedida foi um dos mais comoventes em toda a história da obra
missionária. O missionário, tão amado pelos crentes, agora, por causa da
cegueira, não podia ver como tinham enfeitado o templo, mas eles bondosamente
e com prazer lhe descreveram tudo acerca das muitas e lindas bandeiras de seda
e veludo que cobriam inteiramente as quatro paredes do templo. Os pregadores
que falaram, o fizeram chorando. Um deles disse: "Agora Elias está para
sair de nosso meio e cada um de nós deve tornar-se um Eliseu".
Na hora da despedida,
na plataforma da estação estava uma multidão de crentes chorando. Goforth,
sentado diante da janela no trem, com o rosto virado para aqueles crentes que
tanto amava, mas não podia ver, continuava a fazer-lhes sinais com a cabeça, de
vez em quando, levantando os olhos para cima, indicando, assim, a bendita
esperança de uma reunião no Céu. Quando o trem partiu, os crentes com os olhos
cheios de lágrimas, tentaram acompanhá-lo, correndo paralelamente, a fim de
conseguirem olhar mais uma vez para o rosto desses queridos missionários.
Durante dezoito
meses, Goforth pregou a grandes auditórios no Canadá e nos Estados Unidos. Dia
após dia, esse veterano estava em pé diante desses auditórios, com a sua amada
Bíblia aberta nas mãos. Abria o livro, aproximadamente nas páginas, das quais
citava as passagens de cor, durante o sermão. Isso ele fazia, tendo os olhos
abertos e com tanta prática, que era difícil crer que as não lia como outrora.
O ponto principal de
suas mensagens descobre-se nestas palavras que ele disse certo dia à sua
esposa: "Querida, acabo de fazer um cálculo mental que prova com certeza
qual o resultado de dar ao Evangelho a oportunidade de operar. Se cada um dos
missionários enviados à China tivesse levado tantas almas a Jesus como os seis
missionários do nosso campo durante o ano de 1934, o último ano que passamos
na Manchúria, isto é, 166 por cada missionário, o número de conversões na
China teria alcançado a cifra de quase um milhão de almas, em vez de apenas
38.724, isto é, teria sido vinte e cinco vezes maior!"
Certo dia, quando
tinha de pregar somente à noite, ele disse á sua esposa: "Em vez de
sairmos de casa hoje, acho melhor participarmos de um banquete da Palavra. Lê
para mim o precioso Evangelho de João". Ela leu dezesseis capítulos desse
livro. "Percebia-se que era um verdadeiro banquete para ele, pela atenção
que prestava à leitura de certas passagens." Antes de falecer, tinha lido
a Bíblia, de capa a capa, mais de setenta e três vezes.
Na noite do dia 7 de
outubro de 1936, Jônatas Goforth, depois de um discurso fervoroso e longo,
sobre o tema: "Como o Fogo do Espírito Varreu a Coréia", deitou-se
tarde para dormir. Às sete horas da manhã seguinte, a sua esposa levantou-se e
vestiu-se. Logo a seguir verificou que foi mais ou menos no momento em que ela
se levantou que ele, "dormindo aqui na terra, num instante, acordou-se na
Glória, vendo de novo." Poucos dias antes, ele tinha dito que se
regozijava em saber que o primeiro rosto que ia ver, seria o de seu Salvador.
Cinco anos e meio
depois de Jônatas Goforth haver dormido no Senhor, Rosalind Goforth reuniu-se
ao seu amado marido e companheiro de lutas. As últimas palavras que pronunciou,
foram estas: "O Rei me chama. Estou pronta".
Dela também pode-se
dizer, como foi dito a respeito dele: "Entregava-se à oração e ao estudo
da Palavra, para saber a vontade de Deus. Foi esse amor pela leitura da Bíblia
e a ininterrupta comunhão com Deus que lhe deram o poder de comover auditórios
e convencê-los do pecado e da necessidade do arrependimento. Em todas as
ocasiões ele dominava a sua própria pessoa e confiava inteiramente no poder do
Espírito Santo para descobrir as coisas de Jesus aos ouvintes."
Que o mesmo brado de
guerra seja sempre nosso: "Não por força, nem por violência, mas por meu
Espírito" - "Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito
Santo".
(extraido do livro
hérois da fé)
PASTOR HSI
AMADO LÍDER CHINÊS
(1836-1896) - Acontecera
"o impossível" e toda a população se condoía de tal
"tragédia": o senhor Hsi, cidadão respeitado por todos, tornara-se
crente! Fazia dois anos que um pregador da "nova religião" pregava
na província de Shan-si. Enquanto se esperava que enredasse alguns dos mais
ignorantes, ninguém imaginava que o senhor Hsi, homem culto, de grande
influência entre o povo e destacado adepto de Confúcio, seria o primeiro a
ficar "enfeitiçado" pelos "diabos estrangeiros!"
Não havia entre o
povo quem odiasse tanto os estrangeiros como o senhor Hsi. Mas, de repente,
eis que ele estava ligado em espírito ao missionário. Abandonara todos os
ídolos; dizia-se que os queimara! Deixara de adorar as tábuas ancestrais. Não
havia mais o cheiro de incenso na sua casa. E o que era ainda mais estranho: o
senhor Hsi desistira de fumar ópio!
Os velhos recordavam
que Shan-si fora uma das províncias mais prósperas da China e contavam como
fora introduzido o "fumo estrangeiro", isto é, o ópio. O vício se
tornara tão generalizado que todo o povo estava reduzido à maior pobreza. Nem
mesmo os mais velhos se recordavam de alguém, habituado a fumar ópio, que, no
decorrer dos anos, se libertasse do vício. Contudo, o erudito Hsi abandonara,
por completo, seu aparelho de fumar e parecia não sentir a ânsia que sentem os
que são privados da droga entorpecente.
obra volume.
O trabalho duro
alimentou a sua alma mas o corpo consumido.
Em 1714, ao visitar
um amigo em Chester, murió.tenía apenas 52 anos.
À primeira vista,
olhando para a sua volumosa obra, ninguém pode imaginar que seu autor tinha
morrido com cinquenta apenas dois. Ao escrever uma peça que foi pedida à
disposição de todos e, embora o comentário é cheia de esboços para sermões, é
claro que Matthew Henry foi um mestre das línguas originais das Escrituras,
muito mais do que os críticos mais modernos, e que, em sua teologia, não poucos
cristãos evangélicos para se qualificar como intransponíveis. Sua teologia é
uma fiel testemunha da verdade do evangelho, enfatizando a depravação total do
homem e soberana graça e glória de Deus. Seu trabalho também mostra não só a
capacidade de um fundo para a profundidade espiritual, mas a bolsa de estudos
que oferece um grande conhecimento do grego e hebraico. Charles Spurgeon, entre
muitos, reconheceu a importante influência que ele exerce sobre sua vida e
ministério.
KATHRYN KUHLMAN
Em um mundo marcado
pela doença e a escuridão espiritual, Kathryn Kuhlman ofereceu Esperança às
pessoas. Com seus serviços de ministração, desde os anos 1950 até sua morte em
1976, milhares de pessoas entregaram suas vidas a Jesus Cristo.
Kathryn nasceu em 9
de maio de 1907, em uma fazenda fora de Concordia, Missouri, nos Estados Unidos
e converteu-se em uma reunião quando tinha 14 anos. Dois anos mais tarde, saiu
da casa com sua irmã e cunhado, Myrtle e Everett Parrott, pregando em tendas de
avivamento no noroeste e no Midwest. Permaneceu com eles até completou 21 anos,
o ano onde iniciou um trabalho evangelístico por conta própria.
Embora seu primeiro
sermão fosse em um salão pequeno e sujo, Kathryn construiu um nome forte como
pregadora de tendas em Idaho, Utá, e Colorado.
Estabeleceu-se em
1933 e abriu um trabalho avivalista no altamente bem sucedido Tabernacle de Denver
de Colorado. As pessoas atravessavam o país para ouvir Kathryn, e evangelistas
de renome vieram pregar em seu púlpito. Por cinco anos, o ministério floresceu
e promoveu um avivamento grande na área. Seu ministério promissor foi
comprometido quando o Evangelista Burroughs Waltrip veio pregar.
Waltrip divorciou-se
de sua esposa e abandonou seus dois filhos novos logo após a reunião de
Kathryn. Mudou-se para Iowa, iniciou um programa de rádio e uma igreja e
manteve seu passado em segredo. Quando ele e Kathryn casaram-se em 18 de
outubro de 1938, iniciou suas pregações em torno de Midwest. Entretanto, os
líderes das igrejas descobriram seu passado e pediram que saísse.
Kathryn ao perceber
as circunstâncias que lhe fizeram parar de pregar, resolveu deixar Waltrip em
1944. Kathryn disse que “morria a cada dia por ter posto de lado os desejos de
seu coração para assim poder servir inteiramente a Deus”.
Encontrou finalmente
um “paraíso” seguro da bisbilhotice e com pessoas famintas de se alimentar com
o Evangelho quando chegou em Franklin, Pensilvânia, em 1946. Kathryn começou um
programa de rádio popular e uma igreja e construiu um ministério que foi
seguido por milagres, por sinais, e por maravilhas. Era em Franklin que ela
veio compreender o poder do Espírito Santo e dos milagres.
Kathryn mudou-se para
Pittsburgh em 1948, onde viveu até o fim de sua vida. Prestava seus famosos
cultos de milagres no Carnegie Hall por 20 anos, lotando a capacidade do grande
auditório em todos os cultos. Pessoas de todo o mundo vinham às suas reuniões
de milagres e assistiam seus programas de rádio e de televisão.
Kathryn Kuhlman
morreu em 20 de fevereiro de 1976 após complicadíssimos problemas no coração.
Seu ministério não terminou, pois ela deixou um legado na pregação e ministração
de milagres, amor e do poder do Espírito de Deus.
JOSEPH ALLEINE
Joseph Alleine
(batizado 8 de abril de 1634 - 17 Novembro 1668) foi um pastor Puritano Inglês
dissidente e autor de muitas obras religiosas.
Alleine pertencia a
uma família que havia estabelecido originalmente no Suffolk. Já em 1430 alguns
dos descendentes de Alan, Senhor do Buckenhall assente no bairro de Calne e
Devizes.
Estes eram os
ancestrais imediatos da "digno senhor Tobie Alleine de Devizes", o
pai de José, que era o quarto de uma grande família, nascido em Devizes no
início de 1634. 1645 está marcado na página-título de um tratado singular de
idade, por uma testemunha ocular, como o ano da sua criação frente na corrida
cristã.
Seu irmão mais velho
Edward foi um clérigo, mas neste ano morreram, e José suplicou ao pai que ele
poderia ser educado para suceder o irmão no ministério.
Em abril de 1649 ele
entrou Lincoln College, Oxford, e em 3 de novembro de 1651, tornou-se estudioso
de Corpus Christi College. Em 6 de julho de 1653, tomou o grau de BD, e
tornou-se professor e capelão do Corpus Christi, preferindo isto a uma bolsa.
Em 1654 ele tinha
ofertas de preferment alta no estado, que declinou, mas em 1655 George Newton,
da grande Igreja de Santa Maria Madalena, Taunton, procurou-o para assistente e
Alleine aceitou o convite. Quase coincidente com a sua ordenação como pastor
associado veio de seu casamento com Theodosia Alleine, filha de Richard
Alleine.
Amizades entre os
"gentil e simples" do primeiro, com Lady Farewell, neta do testemunho
protetor Somerset para a atração da vida privada Alleine's.
Sua vida pública foi
um modelo de dedicação pastoral, ainda encontrou tempo para continuar seus
estudos, um monumento de que era a sua Theologia Philosophica (a MS perdeu.),
Uma tentativa aprendeu a harmonizar a revelação ea natureza, que era admirado
por Richard Baxter.
Alleine era nenhum
estudioso meros ou divino, mas um homem que associados em condições de
igualdade com os fundadores da Royal Society. Estes estudos científicos,
entretanto, foram mantidos em subordinação ao seu bom trabalho. Ele foi
surpreendentemente influente para um homem tão jovem, e isso foi graças a sua
seriedade e contundência.
O ano de 1662
encontrou pastores seniores e juniores da mesma opinião, e ambos estavam entre
os dois mil ministros ejetado. Alleine, com John Wesley (avô do célebre John
Wesley), também expulso, depois viajou aproximadamente, pregando sempre
oportunidade foi encontrado.
Por isso ele foi
preso, indiciado por ocasião das sessões, prepotências e multado. Suas cartas
da prisão foi um Cardiphonia mais cedo do que John Newton. Ele foi libertado em
26 de maio de 1664, e apesar da Conventicle, ou Five Mile Act, ele retomou a
sua pregação. Ele encontrou-se novamente na prisão, e outra vez um sofredor.
Sua Morte
Desgastados pela
constante perseguição, ele morreu em novembro de 1668; e as rezadeiras,
lembrando as palavras do seu ministro da amada, enquanto ainda com eles,
"Se eu morrer cinquenta milhas de distância, deixe-me ser enterrado em Taunton,"
encontrou um túmulo para ele em mor de Santa Maria.
Nenhum nome é tão
puritano inconformado carinhosamente acalentado como o de Joseph Alleine. Sua
obra literária foi chefe de um alarme para os não-convertidos (1672), também
conhecido como o guia seguro para o Céu, que tinha uma enorme circulação. Seus
restos apareceram em 1674.
JOHN KNOX
“Deus é minha
testemunha, nunca preguei Jesus Cristo com desrespeito a qualquer homem.”
1513: Reformador
escocês, Nasce em nas proximidades da cidade de Haddington (a 20 kms a leste de
Edimburgo). Filho de uma família distinta seu pai se chamava William Knox e sua
mãe Sinclair. Nunca teve vergonha ou se escusou de suas origens rústicas mesmo
quando a providência colocou-o entre os bem nascidos de seu tempo.
1522: Prosseguiu os
seus estudos na Universidade de Glasgow, onde o nome "John Knox"
figura entre os matriculados em 1522 ou em St. Andrews, onde se afirma que ele
tenha sido aluno do celebrado John Major, nativo como Knox da região escocesa
de East Lothian, e um dos maiores acadêmicos dos seu tempo. Ele aprendeu Grego
e Hebraico num período posterior, como indicado na sua escrita.
1540: È ordenado
padre. Até 1543, Knox ainda se mantinha sob o comando de Roma. Um documento
assinado a 27 de Março desse ano, guardado no castelo de Tyninghame, prova-o.
1545: Knox professou
pela primeira vez a fé protestante . Antes disso já tinha mostrado sinais de
simpatia pela fé, sem o ter declarado explicitamente. De acordo com Thomas
Guillaume Calderwood, um nativo de East Lothian, a ordem de Blackfriars em
1543, foi a primeira a "dar ao Sr. Knox um cheirinho da verdade". A
sua mudança de opinião original tem sido atribuída ao seu estudo na sua
juventude ao ler Agostinho e Jerônimo em particular lhe apresentaram os grandes
temas das Escrituras: graça, fé, pecado, justificação, providência. Pelo resto
de sua vida sua passagem predileta era João 17, na qual Jesus às vésperas de
ser traído ora por aqueles que o Pai lhe dera, e ora especificamente para que
sejam sustentados em todas as tormentas pelas quais passariam – não só eles,
mas por todos os Filhos de Deus em qualquer época.
1547: Ele pregou no
castelo de St. Andrew, criticando duramente a guarnição do castelo por sua
degradação – e assim foi surpreendido subitamente ao ser chamado de pastor da
congregação. Mas isto não durou muito. Dois meses após, vinte e uma galés
francesas bombardearam o castelo furiosamente. Já enfraquecidos pela peste, a
guarnição do castelo se rendeu. Knox e outros homens foram acorrentados a
bancos, como remadores, e foram submetidos a violento esforço físico de dia, e
a noite se juntavam para se aquecer sob as bancas comendo feito lobos. O rei da
França, presumindo que agora poderia usar agora a Escócia como base para atacar
a Inglaterra pensou que um patriota e um líder como Knox ajudaria-o a fazer
isso. Ele soltou o escocês depois de 19 meses de agonia nas galés francesas. O
monarca gaulês havia cometido um erro de cálculo, o escocês era qualquer coisa
exceto antiinglês. Logo Knox estava na Inglaterra pregando para a crescente
congregação que havia reunido. Aqui os reformadores ingleses ressaltaram os
seus dons na teologia e na liturgia, incorporando seu trabalho no Livro de
Orações da Igreja Anglicana.
1554-59: Deixando a
Inglaterra pouco depois da morte de Eduardo, Knox dirigiu-se para o continente,
uma viagem de que não temos as paragens ou datas em certeza. Em 1554, vivendo
já em Genebra, ele aceitou, em acordo com João Calvino, uma posição na igreja
inglesa de Frankfurt.
1555: Em 1555
regressou a Escócia, e cinco anos depois logró que o Parlamento aprovara a
Confissão Scótica, donde se perfilavam já os princípios do presbiterianismo,
movimento protestante caracterizado por uma acentuação da forma de organização
eclesiástica proposta por Calvino. Knox foi um destacado opositor da rainha
Maria, a sanguinária.
1572: Faleceu em
Edimburgo a 24 de Novembro. A voz trovejante podia apenas sussurrar agora.
Enquanto a morte chegava mais perto a sua esposa lia e relia suas passagens
favoritas da Bíblia, sempre terminando com João 17, segundo ele “o lugar onde
eu primeiro pus minha âncora”. No túmulo uma pessoa que foi ao funeral afirmou
“Aqui jaz um homem que nunca dissimulou com palavras ou temeu a morte”.
JOÃO CALVINO
João
Calvino(1509-1564) - “Deus sujeitou-me o coração à docilidade através duma
conversão repentina”.
"Ninguém pode
receber sequer a mínima parcela de reta e sã doutrina se não passar a ser um
discípulo das Escrituras e não as interpretar guiado pelo Espírito Santo."
JOÃO CALVINO
1509: Nasce em Noyon,
na Picardia, (próximo a Paris), no dia 10 de julho. Seu pai, Gérard Cauvin, era
secretário do bispado de Noyon. A transposição do nome "Cauvin" para
o Latim (Calvinus) deu a origem ao nome "Calvin" pelo qual ele é
conhecido. Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino
tinha 8 anos de idade. Para muitos, Calvino terá sido para a língua francesa
aquilo que Lutero foi para a língua alemã.
1515: Jeanne sua mãe
falece, quando tinha apenas 6 anos de idade.
1521: Aos 12 anos,
devido à influência que seu pai tinha, passou a receber alguns cargos
eclesiásticos na região.
1523: Ingressa na
Universidade de Paris.
1528: Forma-se em
Filosofia e Dialética na Universidade de Paris. Aos 19 anos recebe o grau de
mestre em Teologia
1528: Na Universidade
de Orleans, França, começa a estudar Direito. 1529: Muda-se para a Universidade
de Bourges, França, onde inicia também os seus estudos de Grego. Seu pai mudou
de planos em relação ao seu futuro e quer que ele siga Direito. A "ciência
das leis torna normalmente ricos aqueles que se debatem com ela", referia
o seu pai (ele próprio um advogado do bispado), segundo as próprias palavras de
Calvino. Cumpriu a vontade do pai e foi estudar
Direito, mas nunca
deixou de preferir a teologia. Como disse mais tarde: "Se Deus me deu
forças para que eu cumprisse a vontade de meu pai, determinou ele pela
providência oculta que eu tomasse finalmente um outro caminho" (o da
Teologia). Inicialmente Calvino preparava-se para ser padre, enveredaria pelo
estudo do Direito, mas Deus trouxe-o de novo ao caminho da Teologia.
1531: Forma-se em
Direito pela Universidade de Bourges. Perde seu pai, que falece neste ano.
Regressa a Paris onde estuda grego e hebraico no Colégio da França.
1532: A publicação de
seu Comentário ao Tratado de Sêneca sobre a Clemência, em abril, já era um
indício de que sua conversão estava iminente. Neste mesmo ano converte-se à
doutrina protestante. 1533: Começa a defender os protestantes contra a
Inquisição. Em 1° de novembro, Nicolas Cop profere seu discurso de posse como
reitor da Universidade de Paris. Cop recebe ajuda de Calvino para escrever o
discurso, que continha idéias de Erasmo e Lutero. Não eram também chamados de
heréticos os primeiros seguidores do cristianismo? O resultado foi a
perseguição do próprio Nicolas Cop, que teve de se refugiar em Basiléia.
Esconde-se junto com Cop em Angoulême, França, fugindo do rei Francisco I,
opositor de todos os simpatizantes de Lutero. Entretanto, o papa Clemente VII
pressionava o rei de França a reprimir os protestantes franceses. Em bulas de
30 de Agosto e de 10 de Novembro do mesmo ano, o papa exortava à
"aniquilação da heresia Luterana e de outras seitas que ganham influência
neste reino". Os dois encontram-se, então, nesse mesmo ano, em Marselha, onde
discutem entre outras coisas a "guerra contra os turcos, lá fora, e a repressão
das heresias cá dentro".
1534: Em 4 de maio
chaga à Noyon afim de renunciar aos benefícios eclesiásticos que detinha. Ao
chegar na cidade é preso. Escreve o seu segundo livro, que será também o
primeiro sobre religião, e é relativamente pouco conhecido, em comparação com
suas outras obras. Faz uma crítica severa aos anabatistas, que acusa de serem
uma seita debandada. O livro coloca questões teológicas, mais do que oferece
respostas. O título completo era: "Psychopannychia” - tratado pelo qual se
prova que as almas permanecem vigilantes e vivas uma vez que tenham deixado os
corpos, o que contraria o erro de alguns ignorantes que sustentam que elas
dormem até ao último momento" - o que é, também, um ataque aos
anabatistas. Apesar de escrito em 1534, o livro seria apenas publicado em 1542.
Em 18 de Outubro de 1534, a história do protestantismo francês vive um dos seus
momentos fundamentais. Cartazes de 37 por 25 cm que criticam a celebração da
missa tal como ela é feita oficialmente pela Igreja católica são afixados em
vários locais. É particularmente atacada a repetição cerimonial da morte de
Cristo, simbólica, no altar.
Se o sacrifício já
foi consumado, por que se apoderam os sacerdotes católicos deste ritual
simbólico? Os argumentos teológicos dos protestantes fundamentam-se na Epístola
de São Paulo aos Hebreus. A situação tornou-se particularmente crítica e
descambou numa reação brutal por parte da Igreja católica e do estado francês.
1535: Protestantes
franceses seriam encarcerados e assassinados. Em Janeiro , o rei Francisco I
organiza uma procissão macabra pelas ruas de Paris. A procissão pára em 6
locais distintos. Em cada uma das paragens há um pódio onde o rei, os
embaixadores e dignos membros do "parlement" se instalam para
assistir à morte pela fogueira de 6 "heréticos" envolvidos no caso
dos cartazes do ano anterior. Calvino foge para Basiléia, cidade onde vive até
Março de 1536. È publicada a primeira bíblia escrita por um protestante, em
francês. Tratava-se de uma tradução direta do Hebraico (o antigo testamento) e
do Grego (o novo testamento) - línguas originais das escrituras - e não das
versões então em uso, em latim. O autor é Olivétan, aliás Pierre Robert
(1506-1538), primo de Calvino. o seu estilo de escrita foi considerado de
difícil compreensão, além de uma certa falta de fluidez discursiva. O texto
seria revisto (com a colaboração de Calvino) e publicado novamente em 1546.Em
16 de Julho, o rei Francisco I faz publicar o Édito de Coucy, uma medida de
contemporização para com os protestantes e que corresponde também a uma nova
guerra de Francisco I contra Carlos V (Guerra de 1535-1538). Necessitando do
apoio dos protestantes alemães para o esforço de guerra e não convinha, necessariamente,
perseguir os "Luteranos" em França. É prometido que se deixarão os
protestantes em paz desde que vivam como "bons cristão" e renunciem à
sua fé. Mas, em Dezembro de 1538, o Édito de Coucy é suspenso e as perseguições
aos protestantes retomam a intensidade anterior.
1536: Novamente é
preso por pregar doutrinas do protestantismo. Teve breve passagem pela corte de
Ferrara, Itália, onde tenta converter sua compatriota, a Duquesa Renata. Em
Março é publicada em Basiléia a primeira edição de "Institutio religionis
Christianae". No prefácio menciona a sua estadia em Basiléia,
"enquanto na França são queimados na fogueira crentes e pessoas
santas". Fala de santos mártires. Dirige-se no livro ao Rei Francisco I,
que procura convencer das boas intenções da reforma. Ao mesmo tempo, a sua
teologia começa a adquirir contornos mais marcados e mais autônomos em relação
ao Luteranismo. Uma tendência que se fortalecerá no futuro. Critica a vida dos
mosteiros, que compara a bordéis. Calvino pretende não só a reforma da Igreja
mas de todos os indivíduos. Fugindo da Inquisição Católica, se estabelece em
Genebra. A cidade já estava aberta para acolher a nova fé, Em 1533 há o
primeiro culto protestante de que há conhecimento nesta cidade. São então
cunhadas moedas com a inscrição: "Post tenebras lux" (após a
escuridão, a luz).
1537: Em Abril, por
sugestão de Calvino, é constituído um "syndic" (síndico) que tem por
objetivo ir de casa em casa e inquirir sobre a confissão dos moradores. A ação
é contestada. Alguns moradores recusam-se a pronunciar-se sobre a sua fé. Em
junho, as autoridades de Genebra decidem que o Domingo é o único dia feriado.
Futuramente nenhum outro feriado será considerado. Em 30 de Outubro é definido
como o prazo para todos os moradores de Genebra se pronunciarem quanto à sua
religião. Aqueles que não reconhecem os decretos de Guillaume Farell são
obrigados a deixar a cidade em 12 de Novembro.Após esta data, a situação
complica-se para Farell e Calvino. Particularmente provocante é o fato de um estrangeiro
(francês), como Calvino, decidir sobre a excomunhão e expulsão de habitantes
naturais de Genebra. As autoridades, perante estes protestos, passam a ser mais
críticas para com os líderes protestantes.1538: Junto com Farel, é expulso de
Genebra acusado injustamente de arianismo.
Se estabelece em
Strassburgo, na França (divisa com a Alemanha). em Estrasburgo Martin Bucer
será o protetor de Calvino. Durante três anos Calvino dirigiu em Estrasburgo
uma igreja de protestantes franceses, a convite de Bucer. Segundo o biógrafo
Courvoisier, Estrasburgo é a cidade onde Calvino se torna verdadeiramente
Calvino.
1539: No outono deste
ano, Calvino escreve também um comentário à carta de Paulo aos Romanos. Este
tema é particularmente querido do protestantismo, porque ali se encontra a
justificação através da fé como a base de sustentação do movimento protestante,
pois somente a fé salva e justifica. Os sacramentos só recebem o seu sentido
através da fé. Sem fé não têm qualquer efeito. Já Lutero tinha destacado a carta
de Paulo aos romanos como o cerne do Novo Testamento e o mais alto do
evangelho.
1540: Em Estrasburgo,
Calvino casa-se em Agosto, com a viúva Idelette de Bure, que tinha sido
previamente adepta do anabatismo. Traz duas crianças do seu prévio casamento.
Calvino tem 31 anos de idade. A cerimônia do casamento foi dirigida por
Guillaume Farel.
1541: O partido de
seus amigos assume o poder em Genebra. A 13 de Setembro, Calvino chega pela
segunda vez a Genebra. Instala-se aí definitivamente até ao fim da sua vida,
tendo ali organizado a estruturação da organização de ministérios, de
professores, de diáconos, de acordo com as linhas bíblicas. Estabelece uma nova
Constituição, as chamadas Ordenanças Eclesiásticas, onde redefinia a ordem de
poder na Igreja Suíça As "Ordonnances de 1541" dispõem a formação de
4 corpos:
Pasteurs: pastores,
que pregam.
Docteurs: ensinam.
Anciens: os mais
velhos, chamam à ordem aqueles que prevaricam.
Diacres: diáconos,
ocupam-se dos pobres e doentes - mendigar é estritamente proibido.
1542: Publica em
Genebra o seu livro de catecismo: "Catéchisme de l'Église de Genève,
c'est-a-dire, le formulaire d'instruire les enfants en la chrétienté". A
chave do projeto de Calvino passa pela pedagogia. Objetivo é uma profunda
transformação da mentalidade. Cada resquício de superstição, de práticas de
magia, qualquer resto de catolicismo é perseguido como idolatria. o filho de
Calvino, Jacques, morre pouco depois de nascer em 28 de Julho.
1546: Em Janeiro, é
preso Pierre Ameaux, que tinha injuriado publicamente Calvino, esse "picard"
que prega uma falsa fé.
1547: A 23 de
Setembro, François Favre comparece perante tribunal por ter afirmado que
Calvino se auto-nomeou de bispo de Genebra e os franceses tinham escravizado a
sua cidade natal.
1548: Um senhor
chamado Nicole Bromet declara que os franceses deveriam ser todos colocados num
barco e enviados pelo rio Reno abaixo.
1549: Morre Idellete
Calvino, após doença. Calvino não voltará a casar. Dedica-se ainda mais
decididamente ao trabalho.
1550: Calvino escreve
ao rei Eduardo VI de Inglaterra, um protestante, encorajando-o nas suas
reformas. O rei Eduardo VI fez acolher protestantes franceses, perseguidos no
país natal. Após o reinado de Eduardo VI (1547-1553) o catolicismo regressa à
Inglaterra sob a liderança de Maria Tudor.
1551: Sofre oposição
de Bolsec, que afirma: "a teoria da predestinação é falsa". Ele é
expulso de Genebra, volta para a Igreja Romana e escreve uma biografia
caluniosa de Calvino
1553: Ordena a morte
de seu opositor, o espanhol Miguel Servet, que morre queimado.
1555: Em Janeiro, há
uma procissão noturna de pessoas em Genebra, caminhando de vela na mão,
ridicularizando Calvino. Todos os calvinistas são excomungados do catolicismo
Também a doutrina da Predestinação foi muito atacada nestes anos. Um particular
crítico foi o monge carmelita chamado Hiérome Bolsec, nascido em Paris, que se
tinha estabelecido em Genebra. Ele argumenta que “uma vez que Deus é o
responsável por tudo o que se passa, então Deus é também responsável pelos nossos
pecados”. Calvino responde que “nunca disse isso”.( A teoria da predestinação
de Calvino nasceu da sua crença na presciência absoluta de Deus, e da firma
convicção, robustecida pelas suas leituras de São Paulo e Santo Agostinho, de
que o homem é incapaz de se salvar pelas suas próprias ações; somente pode ser
salvo pela imerecida graça de Deus, livremente concedida). As autoridades
apoiam Calvino. Em Berna, críticos de Calvino são expulsos da cidade. são
erguidas as primeiras igrejas calvinistas em França, nomeadamente em Paris,
Meaux, Angers, Poitiers e Loudun. Nos três anos seguintes surgem as comunidades
de Orléans, Rouen, La Rochelle, Toulouse, Rennes e Lyon.
1559: Funda a
Universidade de Genebra. Entre 26 e 29 de Maio, realiza-se em Paris um sínodo nacional
protestante. Cerca de 30 paróquias estão representadas. Vão elaborar um texto
de linhas de orientação, (com a participação de Calvino na sua criação), que se
vai chamar Confession de La Rochelle (foi confirmado nesta cidade em 1571).
1564: Morre no dia 27
de maio, aos 55 anos. A saúde de Calvino começou a vacilar. Ele sofria de
enxaquecas, hemorragia pulmonar, gota e de pedras nos rins. Por vezes foi
levado carregado para o púlpito. Calvino também tinha os seus detratores. Foi
ameaçado e abusaram dele. Calvino apreciava passar os seus tempos livres no
lago de Genebra, lendo as escrituras e bebendo vinho tinto. Nos finais de sua
vida disse a seus amigos que estavam preocupados com o seu regime diário de
trabalho: "Qual quê ? Querem que o senhor me encontre ocioso quando ele
chegar ?"
João Calvino faleceu
em Genebra a 27 de Maio de 1564.
Foi enterrado numa
sepultura simples e não marcada, a seu próprio pedido. A influência que ele
exerceu desde a cidade de Genebra, que praticamente governou a partir de 1541
até à sua morte, em 1564, espalhou-se pela Europa inteira e mais tarde pela
América.
JÔNATAS EDWARDS
GRANDE DESPERTADOR
(1703-1758) - Há dois
séculos que o mundo fala do famoso sermão: Pecadores nas mãos de um Deus irado
e dos ouvintes que se agarravam aos bancos pensando que iam cair no fogo
eterno. Esse fato foi, apenas, um dos muitos que aconteceram nas reuniões em
que o Espírito Santo desvendava os olhos dos presentes para eles contemplarem
as glórias do Céu e a realidade do castigo que está bem perto daqueles que
estão afastados de Deus.
Jônatas Edwards,
entre os homens, era o vulto maior nesse avivamento, que se intitulava O grande
despertamento. Sua vida é um exemplo destacado de consagração ao Senhor para o
desenvolvimento maior do intelecto e, sem qualquer interesse próprio, de deixar
o Espírito Santo usar o mesmo intelecto como instrumento nas suas mãos. Amava a
Deus, não somente de coração e alma, mas também de todo o entendimento.
"Sua mente prodigiosa apoderava-se das verdades mais profundas".
Contudo, "sua alma era, de fato, um santuário do Espírito Santo". Sob
aparente calma exterior, ardia nele o fogo divino, como um vulcão.
Os crentes atuais
devem a esse herói, graças à sua perseverança em orar e estudar sob a direção
do Espírito, a volta às várias doutrinas e práticas da igreja primitiva. Grande
é o fruto da dedicação do lar em que Edwards nasceu e se criou. Seu pai foi o
amado pastor de uma só igreja durante um período de sessenta e quatro anos. Sua
piedosa mãe era filha de um pregador que pastoreou uma igreja durante mais de
cinquenta anos.
Dez das irmãs de
Jônatas, quatro eram mais velhas do que ele e seis mais novas. "Muitas
foram as orações que os pais ofereceram a Deus, para que o único e amado filho
fosse cheio do Espírito Santo, e que se tornasse grande perante o Senhor. Não
somente oravam assim, fervorosa e constantemente, mas mostravam-se igualmente
zelosos em criá-lo para Deus. As orações, à volta da lareira, os estimularam a
se esforçarem, e seus esforços redobrados os motivaram a orarem mais
fervorosamente... O ensino religioso e permanente resultou em Jônatas conhecer
intimamente a Deus, quando ainda criança".
Quando Jônatas tinha
sete ou oito anos, houve um despertamento na igreja de seu pai, e o menino
acostumou-se a orar sozinho, cinco vezes, todos os dias, e a chamar outros da
sua idade para orarem com ele.
Citamos aqui as suas
palavras sobre esse assunto: "A primeira experiência, de que me lembro, de
sentir no íntimo a delícia de Deus e das coisas divinas, foi ao ler as
palavras de 1 Timóteo 1.7: 'Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível; ao
único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém'. Sentia a presença de
Deus até arder o coração e abrasar a alma de tal maneira, que não sei
descrevê-la... Gostava de passar o tempo olhando para a lua e, de dia, a
contemplar as nuvens e os céus. Passava muito tempo observando a glória de
Deus, revelada na natureza e cantando as minhas contemplações do Criador e
Redentor... Antes me sentia demasiado assombrado ao ver os relâmpagos e ouvir
a troar do trovão. Porém mais tarde eu me regozijava ao ouvir a majestosa e
terrível voz de Deus na trovoada". Antes de completar treze anos, iniciou
seu curso em Yale College, onde, no segundo ano, leu atentamente a famosa obra
de Locke: Ensaio sobre o entendimento humano. Vê-se, nas suas próprias
palavras acerca dessa obra, o grande desenvolvimento intelectual do moço:
"Achei mais gozo nisso do que o mais ávido avarento, em ajuntar grandes
quantidades de ouro e prata de tesouros recém-adquiridos".
Edwards, antes de
completar dezessete anos, diplomou-se no Yale College com as maiores honras.
Sempre estudava com esmero, mas também conseguia tempo para estudar a Bíblia,
diariamente. Depois de. diplomar-se, continuou seus estudos em Yale, durante
dois. anos e foi então separado para o ministério.
Foi nessa altura que
seu biógrafo escreveu acerca de seu costume de dedicar certos dias para jejuar,
orar e examinar-se a si mesmo.
Acerca da sua
consagração, com idade de vinte anos, Edwards escreveu: "Dediquei-me
solenemente a Deus e o fiz por escrito, entregando a mim mesmo e tudo que me
pertencia ao Senhor, para não ser mais meu em qualquer sentido, para não me
comportar como quem tivesse direitos de forma alguma... travando, assim, uma
batalha com o mundo, a carne e Satanás até o fim da vida".
Alguém assim se
referiu a Jônatas: "Sua constante e solene comunhão com Deus, em secreto,
fazia com que o rosto dele brilhasse perante o próximo, e sua aparência,
semblante, palavras e todo o seu comportamento eram acompanhados por seriedade,
gravidade e solenidade".
Aos vinte e quatro
anos casou-se com Sara Pierrepont, filha de um pastor, e desse enlace nasceram,
como na família do pai de Edwards, onze filhos.
Ao lado de Jônatas
Edwards, no Grande Despertamento, estava o nome de Sara Edwards, sua fiel
esposa e ajudadora em tudo. Como seu marido, ela nos serve como exemplo de rara
intelectualidade. Profundamente estudiosa, inteiramente entregue ao serviço de
Deus, ela era conhecida por sua santa dedicação ao lar, pelo modo de criar
seus filhos e pela economia que praticava, movida pelas palavras de Cristo:
"Para que nada se perca". Mas antes de tudo, tanto ela como seu
marido eram conhecidos por suas experiências em oração. Faz-se menção destacada
especialmente dum período de três anos, durante o qual, apesar de gozar de
perfeita saúde, ficava repetidas vezes sem forças, por causa das revelações do
Céu. A sua vida inteira foi de intenso gozo no Senhor.
Jônatas Edwards
costumava passar treze horas, todos os dias, estudando e orando. Sua esposa,
também, diariamente o acompanhava na oração. Depois da última refeição, ele
deixava toda a lida, a fim de passar uma hora com a família.
- Mas, quais as
doutrinas de que a igreja havia esquecido e quais as que Edwards começou a
ensinar e a observar de novo, com manifestações tão sublimes?
Basta uma leitura
superficial para descobrir que a doutrina, à qual deu mais ênfase, foi a do
novo nascimento, como sendo uma experiência certa e definida, em contraste com
a idéia da Igreja Romana e de várias denominações.
O evento que marcou o
começo do Grande Despertamento foi uma série de sermões feitos por Edwards
sobre a doutrina da justificação pela fé, que fez os ouvintes sentirem a
verdade das Escrituras, de que toda a boca ficará fechada no dia de juízo, e
que "não há coisa alguma que, por um momento, evite que o pecador caia no
Inferno, senão o bel prazer de Deus".
É impossível avaliar
o grau do poder de Deus, derramado para despertar milhares de almas, para a
salvação, sem primeiro nos lembrarmos das condições das igrejas da Nova
Inglaterra, e do mundo inteiro, nessa época. Quem, até hoje, não se admira do
heroísmo dos puritanos que colonizaram as florestas da Nova Inglaterra?
Passara, porém, essa glória e a igreja, indiferente e cheia de pecado, se
encontrava face com o maior desastre. Parecia que Deus não queria abençoar a
obra dos puritanos, obra que existiu unicamente para sua glória. Por isso, no
mesmo grau que havia coragem e ardor entre os pioneiros, houve entre seus
filhos, perplexidade e confusão. Se não pudessem alcançar, de novo, a
espiritualidade, só lhes restava esperar o juízo dos céus. O famoso sermão de
Edwards, ''Pecadores nas mãos de um Deus irado", merece menção especial.
O povo, ao entrar
para o culto, mostrava um espírito leviano, e mesmo de desrespeito, diante dos
cinco pregadores que estavam presentes. Jônatas Edwards foi escolhido para
pregar. Era homem de dois metros de altura; seu rosto tinha aspecto quase
feminino, e o corpo magro de jejuar e orar. Sem quaisquer gestos, encostado num
braço sobre a tribuna, segurando o manuscrito na outra mão, falava em voz
monótona. Discursou sobre o texto de Deuteronômio 32.35: "Ao tempo em que
resvalar o seu pé".
Depois de explicar a
passagem, acrescentou que nada evitava, por um momento, que os pecadores
caíssem no Inferno, a não ser a própria vontade de Deus; que Deus estava mais
encolerizado com alguns dos ouvintes do que com muitas pessoas que já estavam
no Inferno; que o pecado era como um fogo encerrado dentro do pecador e pronto,
com a permissão de Deus, a transformar-se em fornalhas de fogo e enxofre, e que
somente a vontade do Deus indignado os guardava da morte instantânea.
Prosseguiu, então,
aplicando o texto ao auditório: "Aí está o Inferno com a boca aberta. Não
existe coisa alguma sobre a qual vós vos possais firmar e segurar. Entre vós e
o Inferno existe apenas a atmosfera... há, atualmente, nuvens negras da ira de
Deus pairando sobre vossas cabeças, predizendo tempestades espantosas, com
grandes trovões. Se não existisse a vontade soberana de Deus, que é a única
coisa para evitar o ímpeto do vento até agora, serieis destruídos e vos
tornaríeis como a palha da eira... O Deus que vos segura na mão, sobre o abismo
do Inferno, mais ou menos como o homem segura uma aranha ou outro inseto
nojento sobre o fogo, durante um momento, para deixá-lo cair depois, está
sendo provocado em extremo... Não há que admirar, se alguns de vós com saúde e
calmamente sentados aí nos bancos, passarem para lá antes de amanhã..."
O resultado do sermão
foi como se Deus arrancasse um véu dos olhos da multidão para contemplar a
realidade e o horror da posição em que estavam. Nessa altura o sermão foi
interrompido pelos gemidos dos homens e os gritos das mulheres; quase todos
ficaram de pé, ou caídos no chão. Foi como se um furacão soprasse e destruísse
uma floresta. Durante a noite inteira a cidade de Enfield ficou como uma
fortaleza sitiada. Ouvia-se, em quase todas as casas, o clamor das almas que,
até aquela hora, confiavam na sua própria justiça. Esperavam que, a qualquer
momento, o Cristo descesse dos céus com os anjos e apóstolos ao lado, e que os
túmulos entregassem os mortos que neles havia.
Tais vitórias, contra
o reino das trevas, foram ganhas de joelhos. Edwards não abandonara, nem
deixara de gozar os privilégios das orações, costume que vinha desde a
meninice. Continuou a frequentar, também, os lugares solitários na floresta
onde podia ter comunhão com Deus. Como um exemplo citamos a sua experiência com
a idade de trinta e quatro anos, quando entrou na floresta, a cavalo. Lá,
prostrado em terra, foi-lhe concedido ter uma visão tão preciosa da graça, amor
e humilhação de Cristo como Mediador, que passou uma hora vencido por uma
torrente de lágrimas e pranto.
Como era de esperar,
o Maligno tentou anular a obra gloriosa do Espírito Santo no "Grande
Despertamento", atribuindo tudo ao fanatismo. Em sua defesa Edwards
escreveu : "Deus, conforme as Escrituras, faz coisas extraordinárias. Há
motivos para crer, pelas profecias da Bíblia, que sua obra mais maravilhosa
seria feita nas últimas épocas do mundo. Nada se pode opor às manifestações
físicas, como as lágrimas, gemidos, gritos, convulsões, falta de forças... De
fato, é natural esperar, ao lembrarmo-nos da relação entre o corpo e o
espírito, que tais coisas aconteçam. Assim falam as Escrituras: do carcereiro
que caiu perante Paulo e Silas, angustiado e tremendo; do Salmista que
exclamou, sob a convicção do pecado: 'Envelheceram os meus ossos pelo meu
bramido durante o dia todo' (Salmo 32.3); dos discípulos, que, na tempestade do
lago, clamaram de medo; da Noiva, do Cântico dos Cânticos, que ficou vencida,
pelo amor de Cristo, até desfalecer..."
Certo é que na Nova
Inglaterra começou, em 1740, um dos maiores avivamentos dos tempos modernos. É
igualmente certo que este movimento se iniciou, não com os sermões célebres
de Edwards, mas com a firme convicção deste, de que há uma "obra direta
que o Espírito divino faz na alma humana". Note-se bem: Não foram seus
sermões monótonos, nem a eloqüência extraordinária de alguns, como Jorge
Whitefield, mas, sim, a obra do Espírito Santo no coração dos mortos
espiritualmente, que, "começando em Northampton, espalhou-se por toda a
Nova Inglaterra e pelas colônias da América do Norte, chegando até a Escócia e
a Inglaterra". De uma época de maior decadência, a Igreja de Cristo, entre
a população escassa da Nova Inglaterra, despertou e foram arrebatadas de
trinta a cinqüenta mil almas do Inferno durante um período de dois a três anos.
No meio das suas
lutas, sem ninguém esperar, a vida de Jônatas Edwards foi tirada da Terra.
Apareceu a varíola em Princeton e um hábil médico foi chamado de Filadélfia
para inocular os estudantes. O nosso pregador e duas de suas filhas foram
também vacinados. Na febre que resultou, as forças de nosso herói diminuíram
gradualmente até que, um mês depois, faleceu.
Assim diz um de seus
biógrafos: "Em todo o mundo onde se falava o inglês, era considerado o
maior erudito desde os dias do apóstolo Paulo ou de Agostinho".
Para nós, a vida de
Jônatas Edwards é uma das muitas provas de que Deus não quer que desprezemos as
faculdades intelectuais que Ele nos concede, mas que as desenvolvamos, sob a
direção do Espírito Santo, e que as entreguemos desinteressadamente para o seu
uso.
(estraido do livro
hérois da fé)
JOHN HUSS
John Huss (1373-1415)
- Nascido em Hussinec, na Boêmia, hoje Tchecoslováquia, em 1373, de uma família
pobre que vivia da agricultura. Ele recebeu boa educação elementar e cursou na
Universidade de Praga (capital atual da República Tcheca), onde terminou seu
mestrado em Filosofia no ano de 1396.
Dois anos depois,
Huss começou ensinar na Universidade, e em 1401, veio a ser o seu reitor. Em
1400, Huss foi separado como padre e foi-lhe entregue a responsabilidade da
prestigiada Capela de Belém.
Após o casamento do
rei inglês, Ricardo II da Inglaterra com Ana, filha do imperador Carlos IV da
Boêmia em 1382, os ensinamentos de Wycliff foram logo introduzidos no país. Estudando-os
bem de perto, Huss começou não só a pregar, como também traduzir as obras de
Wycliff na língua Tcheca.
Pregador e Precursor
da Reforma na Boêmia Em 1403, John Huss se propôs a reformar a Igreja Romana na
Boêmia, ensinando que o papado não tinha nenhuma autoridade de oferecer a
remissão dos pecados através da venda de indulgências, como também questionou a
legitimidade dos dois papas rivais Gregorio XII e AlexandreV. Por esta razão,
em 1408, os incontentos padres e colegas da Universidade de Praga condenaram a
Huss, e como resultado, foi proibido de exercer suas funções eclesiásticas em
Praga.
Um ano depois, ele
recebe novas acusações de estar ensinando heresias; mas não para de pregar na
Capela de Belém. Em 1411, Huss é excomungado de sua congregação, e todos os
cultos, cerimônias de batizado e funeral foram anulados. Tal ato trouxe grande
revolta nos cidadãos de Praga, os quais defenderam a Huss.
O cúmulo da corrupção
papal sucedeu em 1412, quando João XXIII lançou uma cruzada contra o Rei
Ladislau de Nápoles, e ofereceu a remissão completa de pecados a todos os que
participassem na guerra, ou a venda da indulgência para os que a suportassem.
Ao ouvir tal notícia contrária a todos os preceitos bíblicos, Huss se levanta e
ataca o papado de usar sanções espirituais e indulgências para fins pessoais e
políticos. Em contra-ataque, Jan Huss foi excomungado de Roma e obrigado a
deixar Praga.
A Intimidação Se
Inicia Durante o seu exílio, Huss teve a oportunidade de concluir uma de suas
obras mais importantes, “De Ecclesia”. No ano de 1414, os líderes da Igreja
Romana se reuniram para um Concílio em Constança (atualmente na Alemanha), e
John Huss foi convocado a comparecer a fim de esclarecer seus ensinos
controversiais com o da Igreja. O imperador Boêmio, Sigismund, prometeu
salvo-conduto, mas, após um mês em Constança, os seguidores do Papa João XXIII
o prenderam, e ele foi impelido pelo Concílio de se retratar. Huss permanceceu
preso durante os sete meses de seu julgamento, e pouca oportunidade foi-lhe dada
de se defender. Por não voltar atrás, Jan Huss foi condenado como hereje,
despido e queimado na estaca fora da cidade no dia 6 de julho de 1415.
Huss morreu cantando
o hino em grego “Kyrie eleeson” (Senhor, tem misericórdia). O local de sua
morte é marcado até hoje com uma pedra memorial. Como Wycliff, Huss lutou pela
reforma da Igreja pagando o preço com sua vida. Os perseguidores destruíram o
corpo, mas não os ensinos de Huss, que foi espalhado por toda a Europa por seus
discípulos mais radicais, conhecidos como Taboritas. Estes rejeitaram tudo na
fé e na prática da Igreja Romana que não se encontrasse na Bíblia. Destes
discípulos surgiu a Igreja Moraviana, a qual tornou-se mais tarde numa das
igrejas de mais visão missionária da História da Igreja. O resultado do
trabalho de Huss e de tantos outros foi vista um século depois, na pessoa de
Lutero.
JÔNATAS GOFORTH
«POR MEU ESPÍRITO»
(1859-1936) - Certo
dia, no ano de 1900, em Changte, no interior da China, passou um correio
galopando à doida. Levava um despacho da imperatriz para o governador,
ordenando que tomasse medidas para exterminar imediatamente todos os
estrangeiros. Na horrenda carnificina que se seguiu, Jônatas Goforth, com sua
esposa e filhinhos, foram cercados por milhares de Boxers, determinados a
tirar-lhes a vida.
O pai da família, ao
cair no chão com uma tremenda pancada que quase lhe partiu o crânio, ouviu uma
voz dizer-lhe: "Não temas! Teus irmãos estão orando por ti." Antes
de ficar inconsciente, viu chegar a galope um cavalo que ameaçava atropelá-lo.
Ao voltar a si, viu que o cavalo caíra ao seu lado, esperneando de tal maneira
que os seus atacantes foram obrigados a desistirem do propósito de matar o
missionário. Assim ele reconheceu que a mão de Deus o guardava maravilhosa e
constantemente durante o tempo do morticínio dos boxers, no qual centenas de
crentes foram mortos. Jônatas Goforth e sua família, foram sal-vos de
inumeráveis situações angustiosas entre o povo amotinado, até que, por fim,
vinte dias depois, chegaram ao litoral do país.
Rosalind e Jônatas
Goforth tinham as suas vidas escondidas com Cristo em Deus. Eis como viviam,
nas suas próprias palavras: "Não é somente tolice aceitar para nós mesmos
a glória que pertence a Deus, mas é grave pecado, porque o Senhor diz: 'A minha
glória a outrem não darei'."
Quando ainda jovem,
Jônatas Goforth adotou as palavras de Zacarias 4.6 como lema da sua vida:
"Não por força nem por violência, mas por meu espírito, diz o Senhor dos
Exércitos."
Alguém que o conhecia
intimamente escreveu: "Antes de tudo, Jônatas Goforth era um ganhador de
almas. Foi por essa razão que se tornou missionário para o estrangeiro; não
havia outro interesse, outra atividade, outro ministério que o atraísse. Com o
fogo do amor de Deus no coração, ele manifestava um entusiasmo irresistível e
uma energia incansável. Nada podia impedir os esforços dinâmicos na obra, para
a qual Deus o chamara. Era assim tanto aos setenta e sete anos como quando
tinha cinqüenta e sete. Com a perda da vista durante os últimos três anos da
sua vida, não diminuíram seus esforços - parece que aumentaram."
Revela-se, nas suas
próprias palavras, como foram lançados os alicerces da sua vida constantemente
esforçada no serviço do Senhor: "Minha mãe, quando eu e meus irmãos
éramos ainda crianças, com desvelo incessante, nos ensinava as Escrituras e
orava conosco. Uma coisa que teve grande influência sobre a minha vida foi o
fato de minha mãe me pedir que lesse os Salmos para ela em voz alta. Tinha
apenas cinco anos, quando comecei a fazer esse exercício e achei a leitura
fácil. Com a continuação, adquiri o costume de decorar as Escrituras, coisa
que continuei a fazer com grande proveito".
Todos podemos
testificar que é fácil fazer com que a leitura das Escrituras e a oração
cheguem a uma monótona formalidade. Mas, ao contrário, o semblante de Jônatas
Goforth se iluminava com o reflexo da glória das Escrituras que recebia na
alma. Depois da sua morte, uma criada católica romana declarou: "Quando o
senhor Goforth se hospedava na casa onde trabalho, eu mirava seu rosto e dizia
a mim mesma: O rosto de Deus pode ser assim!
Acerca da conversão
de seu pai, Jônatas escreveu: "No tempo da minha conversão, morava com meu
irmão Guilherme. Certa vez, nossos pais nos visitaram, passando conosco mais
ou menos um mês. Fazia tempo que o Senhor me dirigira a fazer culto doméstico.
Assim, certo dia, anunciei: Taremos o culto doméstico de hoje e peço que todos
se reúnam depois do jantar'. Esperava que meu pai se manifestasse
contrariamente, porque em casa não costumávamos dar graças antes das
refeições, quanto mais fazer culto doméstico! Li um capítulo de Isaías e,
depois de falar algumas palavras, oramos juntos, de joelhos. Continuamos a
realizar os cultos domésticos durante o tempo que eu estava em casa. Depois de
alguns meses meu pai foi salvo."
O jovem Goforth, no
tempo de estudante no ginásio, visava a ser advogado, até que, certo dia, leu
a inspiradora biografia do pregador Roberto McCheyne. Não somente se
desvaneceram para sempre todas as suas visões de ambição, mas ele dedicou,
também, a sua própria vida a levar almas ao Salvador. Nesse tempo,
"devorou" os livros: "Os Discursos de Spurgeon"; "Os
Melhores Sermões de Spurgeon"; "Graça Abundante" (Bunyan); e
"O Descanso dos Santos" (Baxter). A Bíblia, contudo, era o seu livro
predileto, e costumava levantar-se duas horas mais cedo para estudar as
Escrituras, antes de se ocupar em qualquer outro serviço do dia.
Acerca da sua
chamada, nesse tempo, ele escreveu: "Apesar de sentir-me dirigido ao
ministério da Palavra, recusava terminantemente a ser missionário no
estrangeiro. Mas um colega me convidou a assistir à reunião de um missionário,
o qual fez o seguinte apelo: 'Faz dois anos que passo de cidade em cidade
contando a situação de Formosa e rogando que algum jovem se ofereça para me
auxiliar. Mas parece que não consegui transmitir a são a nenhum. Volto, então,
sozinho. Dentro de pouco tempo meus ossos estarão enbranquecendo na encosta dum
morro em Formosa. Quebranta-me o coração saber que nenhum moço se sente
dirigido a continuar o trabalho que iniciei'.
"Ao ouvir essas
palavras, senti-me vencido pela vergonha. Se o chão tivesse me engolido, teria
sido um alívio. Eu, comprado com o precioso sangue de Cristo, ousava planejar a
minha vida como eu mesmo queria. Ouvi a voz do Senhor dizer: 'A quem enviarei,
e quem há de ir por nós?' E respondi: Eis-me aqui, envia-me a mim! Desde então
sou missionário. Lia avidamente tudo que podia achar acerca de missões no
estrangeiro e me esforçava por transmitir aos outros a visão que eu alcançara -
a visão dos milhões da terra sem oportunidade de ouvirem um pregador".
Por fim chegou o
tempo de iniciar seus estudos em Toronto. O primeiro domingo ele o passou
trabalhando entre os prisioneiros, na prisão "Don", um costume que
continuou durante todos os anos de estudos nessa cidade. Durante a semana,
dedicava muito tempo a andar de casa em casa ganhando almas para Cristo. Quando
o diretor do colégio onde estudava perguntou-lhe quantas casas visitara
durante os meses de junho a agosto, ele respondeu: "Novecentas e
sessenta."
Foi nesse tempo dos
estudos que Jônatas Goforth se casou com Rosalind Bell-Smith. Acerca desse ato
ela escreveu:
"Comecei, aos
vinte anos de idade, a orar pedindo que, se o Senhor desejasse que eu me
casasse, Ele me dirigisse um moço inteiramente dedicado a Ele e ao seu
serviço... Certo domingo, achei-me em uma reunião de obreiros da Toronto
Mission Union. Um pouco antes de começar a reunião, alguém à porta chamou
Jônatas Goforth. Ele, ao levantar-se para ir lá fora, deixou a Bíblia na
cadeira. Então eu fiz uma coisa que nunca pude explicar, nem para ela achei
desculpas; senti-me impelida a ir à cadeira dele, apanhei a Bíblia, e voltei à
minha cadeira. Ao folhear rapidamente o livro, achei-o quase gasto pelo uso, e
marcado de capa a capa. Fechei-o, e sem demora, coloquei-o de novo na cadeira.
Tudo isso aconteceu em um intervalo de poucos segundos. Ali, sentada no culto,
eu disse a mim mesma: 'Esse é o moço com quem seria bom que eu me casasse'.
"No mesmo dia
fui apontada, juntamente com outras para abrir um ponto de pregação em outra
parte de Toronto. Jônatas Goforth estava também entre o grupo. Durante as
semanas que se seguiram, eu tive muitas oportunidades de ver a verdadeira
grandeza da alma desse homem, a qual nem seu exterior desprezível podia
esconder. Assim, quando ele me perguntou: - 'Queres unir a tua vida à minha
para irmos à China?' Sem vacilar um só momento, respondi: - Quero! Mas, alguns
dias depois, foi grande a minha surpresa quando ele me perguntou: - 'Prometes
nunca me impedir de colocar o Senhor e a sua obra em primeiro lugar, mesmo
antes de ti?' Era essa mesma a qualidade de moço que eu pedira, em oração, para
que Deus mo desse como marido, e firmemente respondi: Prometo fazê-lo sempre!
Oh! Como fora benigno o Mestre, ao esconder-me o que essa promessa significava!
"Poucos dias
depois de eu haver prometido o que me pediu, veio a primeira prova. Eu
sonhava, como mulher que era, com o bonito anel de casamento que ia receber.
Foi então que Jônatas me disse: - 'Não te importas se eu te não comprar uma
aliança?' A seguir explicou com grande entusiasmo, como se esforçava na distribuição
de livros e folhetos sobre o trabalho na China. Queria economizar o mais
possível para essa importante obra. Ao ouvi-lo, e depois de contemplar a luz no
seu rosto, as visões de uma aliança bonita se desvaneceram: Era a minha
primeira lição sobre os verdadeiros valores!"
Em 19 de janeiro de
1888, centenas de crentes se reuniram na estação em Toronto para se despedirem
do casal Goforth que ia trabalhar na obra de Deus na China. Antes de sair o
trem, todos baixaram a cabeça em oração e, ao partir o trem, a grande multidão
cantava: "Avante, soldados de Cristo!" E, uma vez fora da estação,
os dois no trem rogaram a Deus que os guardasse para viverem eternamente
dignos da grande confiança que esses irmãos depositaram neles.
Não muito depois de
chegarem à China, Hudson Taylor lhes escreveu: "Faz dez anos que a nossa
missão se esforça para entrar no Sul da província e somente agora é que o
conseguimos..." Se a China Inland Mission, com missionários e auxiliares
experientes na língua e nos costumes do povo sofre fracasso durante dez anos
nessa província, como podia entrar ele, jovem inexperiente e sem conhecer a
língua?! As palavras de Hudson Taylor, "avançar de joelhos",
tornaram-se o lema da missão de Goforth para entrar no Norte de Honã.
Jônatas Goforth levou
mais tempo a aprender a língua, do que seu companheiro que chegara um ano
depois dele. Certo dia, ao sair para pregar, ele, em grande desespero, disse à
sua esposa: "Se o Senhor não operar um milagre para eu aprender essa
língua, serei um grande fracasso como missionário!" Duas horas depois
voltou, dizendo: "Oh! Rosa! Que maravilha! Ao começar a pregar, as
palavras e as frases tornaram-se tão fáceis que o povo me compreendeu
bem." Dois meses depois receberam uma carta dos estudantes no colégio Knox,
em Toronto, contando como em certo dia a certa hora eles se reuniram para orar
por eles - "Somente pelos Goforth" - e ficaram convencidos de que
eles foram abençoados por Deus, porque sentiram muito a presença e o poder de
Deus na oração. Goforth, ao abrir seu diário, descobriu que foi no mesmo dia e
hora que Deus lhe deu a habilidade de falar fluentemente. Alguns anos depois,
certo patrício seu, que falava bem o chinês, disse-lhe acerca do seu estilo de
falar: "Compreende-se a fala do senhor sobre uma área maior do que de
qualquer outra pessoa que conheço."
Um missionário
veterano assim aconselhou a Goforth: "Os chineses têm tantos preconceitos
do nome de Jesus que deve esforçar-se para demolir os deuses falsos e só
depois mencionar o nome de Jesus, se houver oportunidade." Ao contar isso
à sua esposa, Goforth exclamou indignado: "Nunca! Nunca! NUNCA!" Em
nenhum tempo ele se levantou para pregar sem a Bíblia aberta na mão.
Quando, alguns anos
depois, os missionários novatos lhe perguntaram o segredo do fruto
extraordinário do seu ministério, ele respondeu: "Deixo Deus falar às
almas dos ouvintes por intermédio da sua própria Palavra. Meu único segredo
para tocar no coração dos mais vis pecadores é mostrar-lhes a sua necessidade e
pregar-lhes o Salvador poderoso para os salvar... Esse era o segredo de Lutero,
era o segredo de João Wesley e ninguém se aproveitou mais dele do que D. L.
Moody". Para manejar a ''Espada do Espírito" com grande execução,
Goforth a "afiava", estudando-a diariamente, sem falhar. Em vez de
falar contra os ídolos, ele exaltava a Cristo crucificado. Isso atraía os
pecadores para deixarem as suas vaidades.
Em 1896, ele
escreveu: "Depois de chegar a Changté, há cinco meses, o poder do Espírito
Santo se manifesta quase diariamente para nos alegrar. Durante esses meses, um
total de mais de 25.000 homens e mulheres nos visitaram em casa, e todos
ouviram a pregação do Evangelho. Pregamos, na média, oito horas por dia. Há, às
vezes, mais de cinqüenta mulheres de uma vez no terraço. (Ele pregava aos
homens, enquanto a sua esposa pregava às mulheres.) Quase todas as vezes que
apresentamos Cristo como Redentor e Salvador, o Espírito Santo salva alguém e,
às vezes, dez a vinte."
Contudo, não se deve
pensar que esses missionários escaparam de grandes tribulações. Não muito
depois de chegarem à China, um incêndio destruiu todas as suas possessões
terrestres. O calor do verão era tão intenso que sua primogênita, Gertrude,
faleceu e foi necessário levar o cadáver a uma distância de 75 quilômetros, a
um lugar onde se permitia enterrar os estrangeiros. Quando faleceu outro
filhinho, Donald, foi necessário fazer de novo a mesma longa viagem de 75
quilômetros com os restos mortais. Depois de passarem doze anos na China,
novamente perderam tudo quanto tinham em casa, quando as águas de uma enchente
subiram à altura de dois metros dentro da casa.
No ano 1900, logo
após outra filha, Florença, morrer de meningite, veio a insurreição dos Boxers
- acerca da qual já nos referimos. No levante dos Boxers, muitas centenas de
missionários e crentes foram brutalmente mortos. Só a mão de Deus os guiou e os
sustentou na fuga de Changté -uma viagem de 1.500 quilômetros, em tempo de
intenso calor e de doença em um dos quatro filhos. Inúmeras vezes foram cercados
pelas multidões que clamavam: "Matai-os! Matai-os!" Uma vez a
multidão enfurecida arremessou pedras tão grandes que quebraram a espinha dos
cavalos que puxavam a carroça, mas todas as pessoas do grupo escaparam!
Goforth levou vários golpes de espada, um dos quais atingiu o osso do braço
esquerdo, quando o ergueu para defender a cabeça. Apesar de o grosso capacete,
que tinha na cabeça, ficar quase inteiramente cortado em pedaços, ele
conseguiu manter-se em pé até que recebeu um golpe que, por pouco, não lhe
partiu o crânio. Mas Deus não permitiu que a mão dos homens os destruíssem,
porque ainda tinha uma grande obra para fazer na China por intermédio desses
servos. Assim, sem poderem cuidar das feridas e com as roupas ensangüentadas, o
grupo enfrentava as multidões furiosas, dia após dia, até alcançar Shanghai.
De lá, a família embarcou em um navio para o Canadá.
Logo que diminuiu o
perigo na China, os nossos incansáveis heróis estavam novamente ocupados no
trabalho em Changté. A região foi dividida em três: a parte que caiu em sorte a
Goforth foi o vasto território ao norte da cidade com inúmeras vilas e
povoados.
O plano de Goforth
era alugar uma casa em um centro importante, passar um mês evangelizando e,
depois mudar-se para outro centro. Queria que a sua esposa pregasse no pátio
da casa, de dia, enquanto ele e seus auxiliares pregavam nas ruas e nos
povoados ao redor. À noite, faziam os cultos juntos, ela tocando o harmonium.
No fim do mês, podiam deixar um dos auxiliares para ensinar os novos convertidos,
enquanto o grupo passava para outro centro. Acerca desse plano a esposa de
Goforth escreveu:
"De fato, o
plano foi bem concebido, a não ser uma coisa: não se lembrou das crianças...
Lembrei-me de como os meninos com varíola, em Hopei, me cercaram quando
segurava a criança no colo. Lembrei-me das quatro covas de nossos pequeninos,
e endureci o coração, como pederneira, contra o plano. Como meu marido
suplicava dia após dia! 'Rosa, por certo o plano é de Deus e receio o que possa
acontecer aos filhos se desobedecermos. O lugar mais seguro para ti e os
filhos é no caminho da obediência. Pensas em guardar os filhos seguros em casa,
mas Deus pode mostrar-te que não podes. Contudo, Ele guardará os filhos se
obedeceres confiando nele!' Não muito depois, Wallace caiu doente de disenteria
asiática e por quinze dias lutamos para salvar a criança; meu marido me disse:
'Oh! Rosa, cede a Deus, antes de perder tudo.' Mas parecia-me que Jônatas era
duro e cruel. Então nossa filha Constância caiu enferma da mesma doença. Deus
revelou-se a mim como um Pai em quem eu podia confiar para conservar os meus
filhos. Baixei a cabeça e disse: 'Ó Deus, é tarde demais para a Constância,
mas confio em ti, guarda os meus filhos. Irei aonde quer que me mandes.' Na
tarde do dia em que a criança faleceu, mandei chamar a senhora Wang, uma crente
fervorosa e amada e lhe disse: 'Não posso contar-lhe tudo agora, mas estou
resolvida a acompanhar meu marido nas viagens de evangelização. Quer ir
comigo?' Com lágrimas nos olhos, ela respondeu: 'Não posso, pois a menina pode
adoecer sob tais condições.' Não querendo insistir, pedi que ela orasse e me
respondesse depois. No dia seguinte ela voltou com os olhos cheios de lágrimas
e, com um sorriso, disse: 'Irei com vocês'."
É coisa notável que
não faleceu mais nenhum filho dos Goforth, na China, apesar dos muitos anos que
passaram na vida nômade de evangelização. Goforth observou tão fielmente seu
costume de levantar-se às 5 horas para oração e estudo das Escrituras, como
quando estava em casa, em Chantgé. Geralmente, para o estudo tinha de ficar em
pé diante da janela, com as costas viradas para a família. Acerca da obra em
Chantgé, são de Goforth estas palavras: "Nos primeiros anos de meu
trabalho na China, contentava-me com a lembrança de que sempre há sementeira
antes da colheita. Mas já passavam mais de treze anos e a colheita parecia
ainda distante. Tinha a certeza de que haveria uma coisa melhor para mim se eu
tivesse a visão e a fé necessárias para adquiri-la. Estavam constantemente
perante mim as palavras do Mestre em João 14.12: 'Na verdade, na verdade vos
digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará
maiores do que estas; porque eu vou para meu Pai.' E sentia profundamente como
no meu ministério faltavam as 'maiores obras'."
No ano de 1905,
Jônatas Goforth leu na Autobiografia de Carlos Finney que um lavrador podia,
com muita razão, orar pedindo uma colheita material independentemente de se
cumprirem as leis da natureza, assim como os crentes podem esperar uma grande
colheita de almas sem se cumprirem as leis que governam a colheita espiritual.
Resolveu então saber quais eram essas leis e decidiu-se a cumpri-las, a
qualquer preço.
Fez um estudo a fundo
e de joelhos, sobre o Espírito Santo e escreveu as notas nas margens da sua
Bíblia chinesa. Quando começou a ensinar essas lições aos crentes, houve
grande quebrantamento, com confissão de pecados. Foi na grande exposição
idólatra de Hsun Hsien que Deus primeiramente mostrou seu grande poder no ministério
de Goforth. Durante o sermão, um obreiro exclamou em voz baixa: "Esse povo
está tão comovido, pela pregação, como a multidão no dia de Pentecoste, pelo
sermão de Pedro". Na noite do mesmo dia, num salão alugado e que não
comportava toda a grande multidão pagã que queria assistir, Goforth pregou
sobre o texto: "Levando Ele em seu corpo os nossos pecados sobre o
madeiro". Quase todos mostraram-se convictos do pecado e quando o
pregador fez o apelo, levantaram-se clamando: "Queremos seguir a esse Jesus
que morreu por nós!" Um dos obreiros presentes assim expressou o que viu:
"Irmão, aquele a quem oramos durante tanto tempo para que viesse, veio de
fato esta noite." Nos dias que se seguiram, pecadores foram salvos em
todos os pontos de pregação e em todos os cultos.
Acerca do avivamento,
que nesse tempo visitou a Coréia, um dos missionários escreveu sobre o que
presenciou: "Os missionários eram como os demais crentes: não havia alguém
entre eles de talento extraordinário. Viviam e trabalhavam como quaisquer
outros, a não ser nas orações... Nunca senti a presença divina como a senti nos
seus rogos a Deus. Parecia que esses missionários nos levavam ao próprio trono
no Céu! Fiquei muito impressionada, também, ao ver como o avivamento era
prático... Havia dezenas de milhares de homens e mulheres transformados
completamente pelo fogo divino. Grandes templos, com assentos para 1.500
pessoas, ficavam superlotados; era necessário realizar um culto para os homens
e, em seguida, outro para as mulheres, a fim de que todos pudessem assistir. Em
todos ardia o desejo de espalhar as 'boas-novas'. Crianças se aproximavam das
pessoas que passavam pelas ruas, rogando-lhes que aceitassem a Cristo por seu
Salvador... A pobreza do povo da Coréia era conhecida em todo o mundo.
Contudo, havia tanta liberalidade nas ofertas, que os missionários não queriam
ensinar mais sobre o dever de contribuir. Havia grande dedicação à Bíblia,
quase todos levando um exemplar no bolso. E o maravilhoso espírito de oração
permeava tudo."
Ao voltar da Coréia,
Goforth foi chamado a Manchúria. Mais tarde, ele escreveu: "Quando iniciei
a longa viagem, estava convicto de que eu tinha uma mensagem de Deus para
entregar àquele povo. Mas não tinha idéia de como presidir a um avivamento. Sabia
pronunciar um discurso e sabia levar o povo a orar, porém nada mais sabia do
que isso..."
Goforth teve um
grande desapontamento ao chegar à Manchúria: os crentes não oravam como lhe
prometeram fazer e a igreja estava dividida! Depois do primeiro culto, ele, sozinho
no seu quarto, caiu de joelhos em desespero. E Deus respondeu à sua
insistência, enviando tão grande desejo de oração nas igrejas e tão profunda
contrição pelo pecado, que elas não somente foram purificadas de toda a classe
de pecado, inclusive dos mais horrendos crimes, mas os perdidos, em grande
número, vinham e eram salvos.
A senha do avivamento
do ano de 1859 foi: "Necessário vos é nascer de novo" e a de 1870:
"Crê no Senhor Jesus!" Mas a meta de Goforth foi: "Não por
força, nem por violência, mas por meu Espírito" (Zc 4.6). Que o Espírito
Santo operava em vários lugares na Manchúria, em resposta às orações
insistentes e em face de embaraços de toda a sorte, vê-se claramente no que ele
escreveu acerca da obra na cidade de Newchang:
"Ao subir ao
púlpito, ajoelhei-me um momento, como de costume, para orar. Quando olhei para
o auditório, parecia como que todos os homens, mulheres e crianças na igreja
estivessem com dores de julgamento. As lágrimas corriam copiosamente e houve
confissão de toda a espécie de pecado. Como se explica isso? A igreja era
conhecida como igreja morta e sem mais esperança, contudo, antes de enunciar
sequer uma palavra, sem mesmo cantar um hino e antes de orar, começou essa obra
maravilhosa. Não há outra explicação: foi o Espírito de Deus, que operou em
resposta às orações das igrejas de Mukden, Liaoyang e de outros lugares na
Manchúria, as quais haviam experimentado a mesma qualidade de avivamento e
foram induzidas a interceder por sua pobre e necessitada igreja irmã".
Jônatas Goforth,
quando foi à Manchúria, era quase desconhecido fora do pequeno círculo da sua
denominação. Depois de algumas semanas, quando voltou, os olhos dos crentes de
todo o mundo estavam fitos nele. Contudo, permaneceu o mesmo humilde servo de
Deus, reconhecendo que a obra não era dele mas do Espírito de Deus.
Chansi é conhecida
como "a província dos mártires". Certo chinês douto contou a Goforth
como presenciara nessa província, durante a Insurreição dos Boxers, em 1900,
de uma só vez a morte de 59 missionários. Todos eles encararam o carrasco com
a maior calma. Uma mocinha, de cabelos louros, perguntou ao governador:
"Por que devemos morrer? Os nossos médicos não vieram de países remotos
para dar suas vidas para servir ao seu povo? Muitos doentes sem esperança não
foram curados? Diversos cegos não receberam a vista? É por causa do bem que
fizemos que devemos morrer?" O governador baixou a cabeça, e não
respondeu. Mas um soldado, pegou a mocinha pelos cabelos, e com um só golpe,
decepou-lhe a cabeça. Um após outro foram mortos; todos morreram com um
sorriso de paz. Esse mesmo chinês contou como viu, entre eles, uma senhora
falando alegremente ao filhinho. Com um só golpe ela foi prostrada, mas a
criança continuou a segurar-lhe a mão; logo a seguir outro golpe, um pequeno
cadáver jazia ao lado do cadáver da mãe.
Foi a essa mesma
"província dos mártires" que Deus enviou seus servos, os Goforth,
oito anos depois, e aconteceu o que vamos ler: "Em Chuwahsien, não muito
depois de começar a falar, vi muitos dos ouvintes baixarem a cabeça,
convictos, enquanto as lágrimas corriam-lhes pelas faces. Depois do discurso,
todos que experimentaram orar, estavam quebrantados. O avivamento, que começou
assim, continuou durante quatro dias. Houve confissão de toda a qualidade de
pecados. O delegado regional se admirou grandemente ao ouvir confissões de
homicídios, de roubos e de crimes de toda a sorte - confissões que ele só
conseguiria arrancar deles açoitando-os até quase os deixar mortos. Às vezes,
depois de um culto de três horas, ou mais, o povo voltava a casa para continuar
a orar. Mesmo em horas tardias da noite, havia pequenos grupos reunidos em
vários lugares para orarem até quase clarear o dia".
No colégio de moças,
em Chuwu, na mesma "província dos mártires", "as alunas
insistiram para que lhes concedessem tempo para jejuar e orar... No dia
seguinte, quando as moças se reuniram de manhã, para oração, o Espírito caiu
sobre elas e ficaram de joelhos até a tarde desse dia."
Das centenas de
exemplos evidentes da operação poderosa do Espírito Santo nos corações, dentre
muitos outros lugares, citaremos aqui apenas os seguintes:
Changté: "Quase
setecentas pessoas assistiram pela manhã. Havia um ferver de homens se
esforçando para ir à frente, de modo que Goforth só conseguiu pregar à tarde. O
culto era contínuo, prolongava-se o dia inteiro, com intervalos para as
refeições."
Kwangchow: "A
igreja, com assentos para 1.400 ouvintes, não comportava as multidões. O
Espírito Santo veio com poder extraordinário. Havia, às vezes, centenas de
pecadores contritos chorando..." Dois endemoninhados foram libertos e se
tornaram crentes fervorosos na obra de Deus. Em quatro anos o número dos salvos
aumentou de 2.000 para 8.000.
Shuntehfu:
"Inesperadamente, uma dúzia de homens começaram a orar e a chorar... sem
poderem resistir ao poder do Espírito Santo... Velhos discípulos de Confúcio,
vinham à frente, quebrantados e humilhados, para confessarem a Cristo como
seu Senhor. Um total de quinhentos homens e mulheres foram salvos. Foi,
talvez, a maior obra do Espírito Santo que eu tinha visto."
Nanquim:
"Assistiram mais de 1.500 pessoas. Centenas que também queriam assistir,
não puderam entrar e voltaram a casa. O culto da manhã durou quatro horas. O
resto do tempo foi dedicado à oração e confissão de pecados. A massa de pessoas
que desejava chegar ao estrado para confessar seus pecados foi tão grande que
se tornou necessário construir outra escada... Subi de novo ao estrado, às 3
horas da tarde, para iniciar o segundo culto. Centenas de pessoas, nesse
momento, começaram a vir à frente e por isso eu não podia pregar... Às nove
horas da noite, seis horas depois de iniciar o culto, fui obrigado a me
retirar e embarcar para Pequim onde os crentes me esperavam para outra série
de cultos."
Shantung: "O
avivamento foi tão grande que cerca de 3.000 membros foram acrescentados à
igreja em três anos."
Acerca dos cultos
entre os soldados do general Feng, a esposa de Goforth escreveu: ''Desde o
início, sentimos a presença de Deus. Duas vezes, todos os dias, Goforth tinha
auditórios de cerca de 2.000 pessoas, principalmente oficiais, que se
mostravam grandemente interessados... A três cultos, às esposas foi permitido
assistirem, e Deus me deu poder para falar-lhes. Quase todas declararam-se
prontas a seguir a Cristo. O general Feng, ao experimentar orar, ficou
quebrantado... A seguir outros oficiais, um após outro, começaram a clamar a Deus
entre soluços e lágrimas."
Assim continuou a
obra, ano após ano, geralmente com três cultos por dia, apesar de grandes
obstáculos. No período da seca de 1920, 30 a 40 milhões dos habitantes ao
redor encararam a morte pela fome. Em 1924, Goforth assim escreveu à sua
esposa, forçada por doença a voltar ao Canadá: "Completo hoje 65 anos...
Oh! Como cobiço, mais que qualquer avarento cobiça o ouro, vinte anos ainda
para ganhar almas!"
Depois de completar
68 anos de idade e sua esposa 62, idades em que a maioria dos homens se afastam
do serviço ativo, os dois foram enviados para um campo inteiramente novo, na
Manchúria - campo distante, vasto e frio, que se estende até as fronteiras da
Rússia e da Mongólia. Acerca da sua partida, Goforth escreveu:
"Certo dia, em
fevereiro de 1926, a minha esposa estava deitada esperando a chegada da
assistência para levá-la ao Hospital Geral de Toronto. De repente, a campainha
da porta e a do telefone tocaram simultaneamente. Pelo telefone fomos avisados
de que não haveria lugar no hospital antes de três dias. Na porta recebemos um
cabograma do general Feng, da China, rogando que eu fosse sem demora. Nesse
momento eu disse à minha esposa: 'Que farei? Não posso deixar-te'. (Todos
pensávamos que ela não viveria muitos meses mais.) Minha esposa, depois de
orar, disse: 'Vou contigo.' Os membros da junta estavam reunidos na ocasião;
apresentei-lhes o cabograma do general Feng e concordaram que eu fosse. Mas
quando os informaram de que a minha esposa queria acompanhar-me, mostraram-se
horrorizados, respondendo que ela morreria no caminho. Então eu lhes disse: 'Os
irmãos não conhecem essa mulher como eu. Quando ela diz que vai, ela vai!'
Assim concordaram em que ela fosse."
Durante muito tempo,
avisados pelo cônsul do novo campo da Manchúria, viviam com as malas arrumadas,
a fim de partirem imediatamente no caso de haver uma segunda insurreição dos
Boxers, como todos esperavam. Contudo, desde o início, Deus honrou o serviço
desses servos, conforme se lê no que ele escreveu na avançada idade de 70
anos: "Realizavam-se três horas de pregação de manhã pelo grupo de
missionários e quatro horas à tarde... Desde o primeiro dia houve conversões;
às vezes doze em um só dia. Grande foi o nosso gozo ao vermos cerca de duzentas
pessoas aceitaram a Cristo durante o mês de maio."
Havia muito tempo que
diversos amigos insistiam em que ele escrevesse a história de como o Espírito
Santo operava no seu ministério. Em tempo de intenso frio, viu-se obrigado a
extrair os dentes; durante quatro longos meses sofreu dores cruciantes nos
maxilares, a ponto de não poder pregar. Foi nessa época que seu filho menor
chegou do Canadá. Goforth então conseguiu ditar a matéria para o filho
datilografar. Dessa forma foi impresso o livro "Por Meu Espírito",
obra de grande circulação e influência.
Após quatro anos de
serviço, foi-lhe necessário voltar ao Canadá, por causa da vista de sua esposa.
Foi durante esse tempo que Goforth, também, começou a perder a vista. Enquanto
convalescia das operações mal-sucedidas para restaurar-lhe a visão de um olho.
Ele relatou, uma por uma, as histórias da obra na China, histórias que a sua
enfermeira estenografou e que, agora, completam o famoso livro intitulado:
"Vidas Milagrosas da China".
Em 1931, Goforth e
sua esposa, ela com 67 anos e ele com 72, com os corações ardendo pelo desejo
de ganhar almas, voltaram mais uma vez à obra na Manchúria. Quatrocentos e
setenta e dois convertidos foram batizados em 1932. Um dia Goforth voltou de
uma viagem evangelística para entrar em casa às apalpadelas. Depois de ficar um
momento ao lado da sua esposa, ele lhe disse em voz baixa: "Receio que a
retina do olho esquerdo tenha saído do lugar." E assim tinha acontecido.
A perda completa da visão era para ele uma tristeza, uma tragédia, sentida por
todos. Ao mesmo tempo chegou-lhes uma carta informando-os de uma redução tão
grande no que recebiam para o sustento dos missionários e nas despesas das
viagens evangelísticas, que parecia impossível continuar a obra. Foi a maior
crise de toda a vida de Jônatas Goforth. Contudo, sem vacilar, olhou para Deus.
A própria cegueira parecia mais uma bênção do que uma aflição: os crentes
mostravam-se mais ligados a ele do que antes. Vencendo o desânimo inevitável
dos que perdem a vista, não cessou de pregar com a Bíblia que amava, aberta nas
mãos. No ano de 1933, setecentos e setenta e oito convertidos foram batizados.
Por fim, os Goforth
cederam ao apelo dos crentes do Canadá a que voltassem para animar as igrejas a
enviarem mais missionários. Durante os preparativos para a viagem, souberam que
novecentos e sessenta e seis convertidos foram batizados naquele ano, 1934. O
culto de despedida foi um dos mais comoventes em toda a história da obra
missionária. O missionário, tão amado pelos crentes, agora, por causa da
cegueira, não podia ver como tinham enfeitado o templo, mas eles bondosamente
e com prazer lhe descreveram tudo acerca das muitas e lindas bandeiras de seda
e veludo que cobriam inteiramente as quatro paredes do templo. Os pregadores
que falaram, o fizeram chorando. Um deles disse: "Agora Elias está para
sair de nosso meio e cada um de nós deve tornar-se um Eliseu".
Na hora da despedida,
na plataforma da estação estava uma multidão de crentes chorando. Goforth,
sentado diante da janela no trem, com o rosto virado para aqueles crentes que
tanto amava, mas não podia ver, continuava a fazer-lhes sinais com a cabeça, de
vez em quando, levantando os olhos para cima, indicando, assim, a bendita
esperança de uma reunião no Céu. Quando o trem partiu, os crentes com os olhos
cheios de lágrimas, tentaram acompanhá-lo, correndo paralelamente, a fim de
conseguirem olhar mais uma vez para o rosto desses queridos missionários.
Durante dezoito
meses, Goforth pregou a grandes auditórios no Canadá e nos Estados Unidos. Dia
após dia, esse veterano estava em pé diante desses auditórios, com a sua amada
Bíblia aberta nas mãos. Abria o livro, aproximadamente nas páginas, das quais
citava as passagens de cor, durante o sermão. Isso ele fazia, tendo os olhos
abertos e com tanta prática, que era difícil crer que as não lia como outrora.
O ponto principal de
suas mensagens descobre-se nestas palavras que ele disse certo dia à sua
esposa: "Querida, acabo de fazer um cálculo mental que prova com certeza
qual o resultado de dar ao Evangelho a oportunidade de operar. Se cada um dos
missionários enviados à China tivesse levado tantas almas a Jesus como os seis
missionários do nosso campo durante o ano de 1934, o último ano que passamos
na Manchúria, isto é, 166 por cada missionário, o número de conversões na
China teria alcançado a cifra de quase um milhão de almas, em vez de apenas
38.724, isto é, teria sido vinte e cinco vezes maior!"
Certo dia, quando
tinha de pregar somente à noite, ele disse á sua esposa: "Em vez de
sairmos de casa hoje, acho melhor participarmos de um banquete da Palavra. Lê
para mim o precioso Evangelho de João". Ela leu dezesseis capítulos desse
livro. "Percebia-se que era um verdadeiro banquete para ele, pela atenção
que prestava à leitura de certas passagens." Antes de falecer, tinha lido
a Bíblia, de capa a capa, mais de setenta e três vezes.
Na noite do dia 7 de
outubro de 1936, Jônatas Goforth, depois de um discurso fervoroso e longo,
sobre o tema: "Como o Fogo do Espírito Varreu a Coréia", deitou-se
tarde para dormir. Às sete horas da manhã seguinte, a sua esposa levantou-se e
vestiu-se. Logo a seguir verificou que foi mais ou menos no momento em que ela
se levantou que ele, "dormindo aqui na terra, num instante, acordou-se na
Glória, vendo de novo." Poucos dias antes, ele tinha dito que se
regozijava em saber que o primeiro rosto que ia ver, seria o de seu Salvador.
Cinco anos e meio
depois de Jônatas Goforth haver dormido no Senhor, Rosalind Goforth reuniu-se
ao seu amado marido e companheiro de lutas. As últimas palavras que pronunciou,
foram estas: "O Rei me chama. Estou pronta".
Dela também pode-se
dizer, como foi dito a respeito dele: "Entregava-se à oração e ao estudo
da Palavra, para saber a vontade de Deus. Foi esse amor pela leitura da Bíblia
e a ininterrupta comunhão com Deus que lhe deram o poder de comover auditórios
e convencê-los do pecado e da necessidade do arrependimento. Em todas as
ocasiões ele dominava a sua própria pessoa e confiava inteiramente no poder do
Espírito Santo para descobrir as coisas de Jesus aos ouvintes."
Que o mesmo brado de
guerra seja sempre nosso: "Não por força, nem por violência, mas por meu
Espírito" - "Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito
Santo".
(extraido do livro
hérois da fé)
PASTOR HSI
AMADO LÍDER CHINÊS
(1836-1896) - Acontecera
"o impossível" e toda a população se condoía de tal
"tragédia": o senhor Hsi, cidadão respeitado por todos, tornara-se
crente! Fazia dois anos que um pregador da "nova religião" pregava
na província de Shan-si. Enquanto se esperava que enredasse alguns dos mais
ignorantes, ninguém imaginava que o senhor Hsi, homem culto, de grande
influência entre o povo e destacado adepto de Confúcio, seria o primeiro a
ficar "enfeitiçado" pelos "diabos estrangeiros!"
Não havia entre o
povo quem odiasse tanto os estrangeiros como o senhor Hsi. Mas, de repente,
eis que ele estava ligado em espírito ao missionário. Abandonara todos os
ídolos; dizia-se que os queimara! Deixara de adorar as tábuas ancestrais. Não
havia mais o cheiro de incenso na sua casa. E o que era ainda mais estranho: o
senhor Hsi desistira de fumar ópio!
Os velhos recordavam
que Shansi fora uma das províncias mais prósperas da China e contavam como
fora introduzido o "fumo estrangeiro", isto é, o ópio. O vício se
tornara tão generalizado que todo o povo estava reduzido à maior pobreza. Nem
mesmo os mais velhos se recordavam de alguém, habituado a fumar ópio, que, no
decorrer dos anos, se libertasse do vício. Contudo, o erudito Hsi abandonara,
por completo, seu aparelho de fumar e parecia não sentir a ânsia que sentem os
que são privados da droga entorpecente.O tempo que passara
outrora preparando e fumando o ópio, ele agora o empregava nas práticas, para
eles estranhas, da nova religião. Dia e noite o recém-convertido se aplicava
ao estudo dos "livros dos estrangeiros"; às vezes cantava de uma
maneira singular e outras vezes de joelhos e, com os olhos fechados, falava ao
"Deus dos estrangeiros", o Deus que ninguém via e que não tinha
santuário para localizar-se.
Dia após dia a
senhora Hsi notava a grande transformação da vida do marido e começou a
abandonar o intenso ódio que sentiu quando ele se converteu. Ao acordar-se de
noite, via-o absorto, lendo o precioso Livro dos livros, ou ajoelhado
suplicando ao Deus invisível, que sentia estar presente. A persistência do
homem em ajuntar todos os membros da família diariamente para os cultos
estranhos, foi tal, que ganhou, também, sua esposa para Cristo.
Para o crente Hsi,
Satanás era o temível adversário que realmente é, sempre incansável e
constantemente espreitando para derrubar e destruir os crentes. Contudo, para
ele o poder de Cristo era igualmente real e Hsi saía mais que vencedor em todas
as dificuldades. Considerava a oração indispensável e não muito depois de se
converter chegou a reconhecer o valor de jejuar para melhor orar.
Foi então que
aconteceu a coisa menos esperada: a própria natureza da senhora Hsi parecia
mudada. Ao converter-se, tornara-se profundamente alegre e recebia as lições
das Escrituras avidamente. O marido esperava que breve ela se tornasse uma
verdadeira companheira na obra de ganhar almas. Mas, repentinamente, parecia
pairar sobre ela uma nuvem do mal. Apesar de todos os esforços, sentia-se
levada, contra a própria vontade, a praticar tudo quanto o Diabo sugerisse.
Caía, especialmente na hora de culto doméstico, com ataques violentos de
cólera.
O povo então dizia:
"O Hsi e sua esposa estão ceifando o que semearam! É, como afirmamos desde
o começo, uma doutrina do Diabo e agora a senhora Hsi está possuída de
demônios."
Durante algum tempo o
inimigo das almas parecia invencível. A senhora Hsi, apesar de todas as
orações dos crentes, continuava a definhar, ficando quase sem forças.
Nesta altura, Hsi,
confiando no poder de Deus, chamou todos os membros da família para jejuarem e
dedicarem-se à oração. Depois de orarem três dias e três noites seguidas, em
jejum, Hsi, sentindo-se fraco no físico, mas forte no espírito, pôs as mãos
sobre a cabeça da esposa e ordenou, em nome de Jesus, que os espíritos imundos
saíssem para nunca mais a atormentarem. A cura da senhora Hsi foi tão notável e
completa que houve grande repercussão em toda a cidade. O povo reconhecera o
poder dos demônios sobre o corpo e ali, diante dos olhos, estava agora a prova
de um poder maior do que o do Diabo.
Mas foi o senhor Hsi,
mais que qualquer outra pessoa, que se aproveitou dessa sensacional maravilha.
Esforçou-se, desde então, de uma maneira nova, a proclamar o Evangelho e
dedicou-se, com crescente fé em Cristo, a orar sob todas as circunstâncias.
Assim, de uma maneira
simples e natural, Hsi confiava que o Senhor faria o que prometera em Marcos
16.17,18: "Estes sinais acompanharão aos que crerem: Em meu nome
expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes;e, se beberem
alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos,
e estes serão curados."
Em resposta à oração
desse humilde crente, o Senhor cooperava com ele e confirmava a Palavra com
sinais como em Samaria, Lida, e outros lugares nos tempos dos apóstolos. E,
como os tempos antigos, homens e mulheres, ao verem o poder de Deus,
convertiam-se ao Senhor.
Nunca antes houve
alguém para contrariar a Satanás em toda a província de Shan-si; portanto não é
de admirar que então ele se enfurecesse. Isso também foi como nos tempos
antigos.
A perseguição,
entretanto, se tornou mais e mais severa até que, por fim, o povo planejou, ao
tempo de uma grande festa pagã, passar cordas por cima dos caibros nos templos
idólatras e pendurar todos os crentes pelas mãos até que se retratassem e
negassem a fé na "religião dos estrangeiros".
Ora, Hsi era tão
prático como espiritual e levou o caso ao conhecimento das autoridades. Era
novato na fé e não conhecia bem trechos das Escrituras como estes: "Não
resistais ao mal" e "Minha é a vingança, eu recompensarei, diz o Senhor".
Fez tão grande alvoroço perante o mandarim que este, para se ver livre do
homem, mandou soldados para defenderem os crentes.
A perseguição, por
isso, fracassou; o povo, assombrado da "religião dos estrangeiros",
submeteu-se; e grandes multidões afluíram aos cultos. Contudo, Hsi, com o
passar do tempo, sentia-se descontente; os crentes não se desenvolviam como
ele esperava. As pequenas igrejas, apesar de todos os seus esforços para
alimentá-las, não cresciam e, com qualquer perturbação, grande número de
crentes se desviava da fé.
O seguinte, que se
encontra entre os seus próprios escritos, mostra como, nesse tempo, viu seu
erro e se deu à oração:
"Por causa das
investidas de Satanás, dormimos, eu e minha esposa, durante o espaço de três
anos, com a roupa que vestíamos de dia, a fim de melhor podermos vigiar e orar.
Às vezes, num lugar solitário, passávamos toda a noite orando e o Espírito
Santo descia sobre nós... Sempre cuidávamos de pensar, falar e nos comportar de
modo a agradar ao Senhor, mas então reconhecíamos como nunca, a nossa fraqueza;
que de fato não éramos coisa alguma, e nos esforçávamos para saber a vontade de
Deus."
Não há maior prova,
talvez, de verdadeira conversão do que a influência sobre o próximo. Depois de
Hsi procurar estar mais perto do Senhor, foi eleito chefe pelo povo do
vilarejo onde morava, cargo que recusou de início porque não podia participar
dos ritos no templo pagão. Mas esse fato foi previsto pelo povo, de modo que
insistiram para que aceitasse a magistratura, com a condição de ficar desobrigado
de quaisquer solenidades que diziam respeito aos deuses."É somente ele nos
mandar e nós faremos", dizia a multidão. Porém quando Hsi recusou, a não
ser que o povo cessasse todas as cerimônias pagãs e fechasse o seu templo, todos
voltaram para casa.
Grande foi, pois, a
surpresa quando, alguns dias depois, o povo voltou e concordou em fechar o
templo. O erudito Hsi era o único entre eles liberto do ópio e capacitado para
chefiar o povo.
O fervoroso crente,
então, assumiu o cargo, como um serviço a ser feito perante o Senhor; houve boa
safra, bom êxito na parte financeira e prevaleceram a paz e o contentamento.
Foi reeleito para o segundo ano e para o terceiro. Mas quando reeleito para o
quarto ano, recusou o cargo, insistindo em dizer que devia entregar todo o seu
tempo na obra de evangelização, obra que aumentara grandemente. Quando o povo o
elogiava pela boa maneira como servia a todos, ele respondia, com um sorriso:
"Agora os ídolos por certo já morreram de fome e seria mais econômico se
os não ressuscitásseis."
Foi uma lição prática
e que perdurou por muito tempo.
O grande problema que
o Pastor Hsi tinha de enfrentar era o da salvação de um povo dado a fumar ópio.
Devia haver um meio para libertar os infelizes escravos do desespero
indescritível, porque o Filho de Deus veio com o alvo definido de procurar e
salvar os perdidos.
Enquanto o Pastor Hsi
orava sobre esse problema, foi dirigido a converter a sua casa em Abrigo e
convidou para o ajudar um missionário que tinha um remédio para aliviar a
ânsia dos viciados quando privados da droga. No início somente dois dos
interessados tinham a coragem de experimentar o tratamento; os outros frequentavam
o Abrigo, dia após dia, para verem o resultado.
Por fim, um dos
pacientes, agonizante de corpo e mente, acordou os outros à meia-noite. Em
resposta à oração, o Senhor, que é o mesmo ontem, hoje e para sempre, o
aliviou imediatamente. O gozo do homem que fora liberto era tanto, que um após
outro dos mais interessados solicitaram permissão para começarem o tratamento
imediatamente.
Nessa altura
faltou-lhes o remédio importado que usavam para diminuir os sofrimentos dos
enfermos. Acerca disso, assim escreveu o fervoroso Hsi: "Em oração e jejum
permaneci perante o Senhor, rogando que me mostrasse quais os ingredientes
necessários e me fortalecesse e ajudasse a preparar as pílulas para aliviar os
que sofriam."
Para distrair os
pacientes e aproveitar o ensejo, o missionário ensinava-lhes hinos e passagens
da Bíblia; realizava cultos duas vezes por dia e fazia os interessados
repetir, hora após hora, trechos das Escrituras. Quando lhes faltava outro
recurso, recorriam às pílulas preparadas pelo pastor Hsi, as quais faziam o
mesmo efeito do remédio importado. Contudo o fiel Hsi não confiava nas
pílulas, nem as fabricava sem antes jejuar e orar. Costumava, ao fabricar as
pílulas, passar o dia inteiro jejuando. Às vezes, de tarde, estando
demasiadamente cansado para continuar de pé, saía para passar alguns minutos
perante Deus. "Senhor é a tua obra. Dá-me a tua força", era o seu
pedido e sempre voltava renovado como se tivesse comido e descansado.
Um dos segredos do
incrível êxito do Pastor Hsi, na obra do Abrigo, era a audácia do seu amor para
com os infelicitados cativos do vício do ópio; amor que o levou a persistir e
sacrificar tudo por eles. Quando caíam em alguma falta, ou mesmo tramavam para
o derrubar, suportava tudo como somente o amor sabe suportar.
Quanto mais o pastor
Hsi orava tanto mais Deus aumentava a obra; e quanto mais crescia a obra,
tanto mais ele sentia o anelo de orar. Em vez de ficar escravizado pelas
inumeráveis obrigações, deliberadamente dedicava horas e mesmo dias,
freqüentemente em jejum, para orar perante o Senhor, a fim de saber a sua vontade
e receber da sua plenitude.
Certo dia, quando
assim orava, o Senhor o impressionou profundamente acerca do povo da cidade de
Chao-ch'eng, que vivia e morria sem saber o caminho da salvação. - Mas como
podia ele abrir outro abrigo em uma cidade da qual não conhecia os costumes?
Como podia arranjar tempo? Porém enquanto orava o Senhor lhe disse: "Todo
o poder me é dado." Mas como podia ir, sem recursos; não possuía dinheiro
suficiente para pagar a passagem até aquela cidade. Continuou a orar e o Senhor
continuou a aplainar as dificuldades. - "Dinheiro? era de dinheiro que
precisava para abrir os corações e ganhar almas? Se o Senhor chamava, não
supriria Ele todo o necessário? Os muros de Jericó não caíram rentes ao chão,
sem a intervenção de mãos humanas?..."
"Assim, ao
findar o ano de 1884, cinco anos depois da sua conversão, o pastor Hsi era o
dirigente de uma obra que se estendia de Teng-ts'uen, ao sul de onde morava,
até Chao-ch'eng sessenta quilômetros para o norte. Havia então oito abrigos e
um bom número de congregações espalhadas entre eles.
Mas o pastor Hsi não
podia conter-se. À distância de um dia de viagem ainda mais ao norte, estava a
grande cidade do Hoh-chau. Constrangido pelo amor de Deus, suplicava ao
Senhor que o usasse para abrir a obra ali. Todos os dias orava insistentemente
por Hoh-chau, no culto doméstico. Por fim, a senhora Hsi não mais se conteve e
perguntou: - "Já oramos durante tanto tempo, será que agora não convém
agir?"
- "Por certo, se
tivéssemos dinheiro?", respondeu seu marido.
No dia seguinte, o
pastor Hsi, no culto doméstico, orou como de costume. Ao findar o culto, a
esposa, em vez de retirar-se, avançou e colocou um pacotinho sobre a mesa,
dizendo: "Acho que o Senhor já respondeu às nossas súplicas."
Admirado e ignorando
o que ela queria fazer, com aquele gesto, tomou o pacote da mesa. Continha algo
pesado, embrulhado em várias tiras de papel, e dentro do papel um lenço. Ao
abrir o lenço, encontrou os objetos mais prezados por uma senhora chinesa:
anéis, pulseiras, brincos, grampos de ouro e de prata - objetos que lhe foram presenteados
quando se casaram.
Com os olhos cheios
de lágrimas, ele olhou para a esposa, notando, pela primeira vez, a diferença
na sua aparência, sem os enfeites usados pelas mulheres casadas. Nãohavia mais
aliança no dedo; em vez dos enfeites de prata nos cabelos, viam-se as trancas
seguras por fios de barbante!
Quando ele quis
recusar a oferta, ela insistia alegremente, dizendo: "Não faz mal. Posso
dispensar essas coisas. Hoh-chau deve ter o Evangelho."
O pastor aceitou a
oferta de sua esposa, oferta que representava profundo sacrifício, mas era
suficiente para abrir o abrigo, que logo se tornou um centro de luz e bênção
na grande cidade.
Depois de abrir o
trabalho em Hoh-chau, realizou-se uma convenção na qual foram batizados setenta
dos novos convertidos. O poder de Deus era tal e a assistência tão grande a
essas reuniões que foi necessário realizar os cultos ao ar livre, apesar das
grandes chuvas. Isso aconteceu após um grande período de seca, e os crentes não
queriam orar ao Senhor que retivesse a chuva.
Certo moço
endemoninhado, do Abrigo de Chao-ch'eng, assistiu a essa convenção. Ao cair o
poder de Deus sobre os cultos, ele se tornou violento, tentando destruir-se e
ferir as pessoas que estavam em redor. Quando o pastor Hsi se aproximou, o moço
deixou de gritar e de lutar; os homens que o seguravam, disseram: "Ele
está bom! Agora está bom! O espírito já saiu.
O pastor, contudo,
não se enganou; pondo as mãos sobre a cabeça do moço, orou com instância, no
nome de Jesus. Houve alívio imediato e quando o pastor se retirou o moço
parecia completamente liberto.
Certo crente,
comovido ao presenciar tudo isso, tirou cinqüenta dólares do bolso e disse ao
pastor: "Aceite isso; sei que as despesas da obra são grandes."
O pastor,
surpreendido, aceitou o dinheiro, mas ao pensar sobre o caso, sentiu-se
turbado; a importância era muito elevada e aceitara-a sem pedir conselho ao
Senhor. Retirou-se imediatamente para levar o caso a Deus.
Apenas tinha começado
a orar, chegou um crente, apressadamente. O endemoninhado estava mais violento
do que nunca, e os homens não podiam segurá-lo.
Ao chegar o pastor à
presença do moço, o espírito clamou: "Podes vir, mas não te temo mais.
Parecias tão elevado como os céus, mas agora és baixo, vil e insignificante!
Não mais tens poder para me domar!"
O Pastor,
reconhecendo que perdera a fé e o poder, ao aceitar o dinheiro, dirigiu-se ao
crente que lho dera, enquanto o infeliz endemoninhado blasfemava em alta voz.
Devolveu toda a importância, explicando como, ao receber o dinheiro, perdera
seu contato com Deus.
Depois, com as mãos
vazias, mas com o coração cheio de gozo, voltou novamente para onde estava a
multidão alvoroçada. O moço continuava furioso; porém o pastor estava em
contato com o Mestre. Calmamente, e em nome de Jesus, ordenou ao espírito que
se calasse e saísse. O moço, deu um grito, foi lançado ao chão pelo demônio,
onde ficou alguns minutos contorcendo-se em dores agonizantes. Então se
levantou, com o corpo abatido, mas completamente liberto do espírito maligno.
Certo missionário
escreveu o seguinte acerca de Hsi:
"O pastor Hsi
era perenemente alegre; servia ao próximo incansavelmente; tratava a todas as
pessoas com a maior delicadeza. Nunca se comportou levianamente, nem
desperdiçou o tempo em assuntos desnecessários. Ganhar almas era a paixão da
sua vida... Era impossível estar com o pastor Hsi sem orar. Seu instinto em
tudo era o de olhar para Deus. Muito antes de clarear o dia, ouvia-o, no seu
quarto orando e cantando horas a fio. A oração se parecia com a atmosfera em
que vivia e ele esperava e recebia de Deus as mais destacadas respostas.
"Lembro-me de
que certa vez, quando viajava com ele, hospedamo-nos em uma pequena pensão. Foi
procurado por uma mulher que tinha uma criança de colo enferma e que sofria
muito. Homens e mulheres em todos os lugares por onde ele passava também o
procuravam. Reconheciam que era homem de Deus e que podia socorrê-los. O pastor
Hsi imediatamente ficou em pé, cumprimentou a mulher com o filhinho; tomou o
mesmo nos braços e orou pedindo a Deus que o curasse. A mulher, grandemente
consolada, partiu. Algumas horas depois vi o menino são, correndo e brincando.
Tais acontecimentos eram comuns.
"Nunca me
esquecerei da convenção realizada em P'ing-vang. Ao aproximarmo-nos do local,
durante a noite,ouvi os crentes chorando e orando em voz baixa. Ali estava o
querido pastor Hsi juntamente com um grande número de irmãos, todos ajoelhados,
clamando ao Senhor e suplicando que salvasse seus parentes e amigos...
Acreditavam no poder da oração, e se dedicavam à intercessão...
"Durante todo o
inverno, o pastor Hsi esteve sob o poder do Espírito e transmitia esse poder
ao próximo. Quando encontrava um auxiliar passando por alguma prova, jejuava,
orava e impunha-lhe as mãos. O resultado era que, geralmente, os auxiliares
recebiam o mesmo poder.
"Nesse tempo,
também havia grande falta de sujeição à Palavra de Deus. O pastor Hsi, porém,
em tudo entregava-se à oração; no decorrer dos anos, tornou-se poderoso em
expor as Escrituras".
A força e a
resistência que manifestava sob provações físicas e mentais eram
extraordinárias; recebia virtude de Deus para realizar a obra divina. Quando já
velho, podia andar quarenta e cinco quilômetros de uma vez, e depois de jejuar
por dois dias seguidos, podia ainda batizar cinquenta pessoas sem descansar, e
sem interrupção.
Por fim, com a idade
de sessenta anos, no meio da lida desta vida, Deus o chamou. Na mesma sala
onde, antes da sua conversão fumava ópio, passou alguns meses de cama, sem
qualquer sofrimento, apenas com as forças quase completamente esgotadas. Ao
fechar os olhos aqui no mundo, na manhã do dia 19 de fevereiro de 1896, para ir
estar na presença de seu Senhor, centenas de seus filhos na fé, que o amavam
ardentemente, não puderam mais conter-se, rompendo em grande choro e fortes
soluços.
Durante a vida aqui
entregou tudo ao Senhor. Para ele, não existia coisa demasiado preciosa, que
não pudesse usá-la para o seu Jesus. Não havia labor árduo
demais, se pudesse ganhar uma alma pela qual seu Salvador morrera. Nunca
encontrou "cruz" pesada, se pudesse levá-la por amor de Cristo.
Jamais julgou o caminho difícil, tratando-se de seguir as pisadas de seu
Mestre.
Assim o fiel pastor
Hsi foi promovido para fazer serviço mais alto, mais sublime, para estar em
mais íntima ligação com Jesus.A obra pioneira que deixou em Chao-eh'eng,
Teng-ts'uen, Hoh-chau, T'ai-yuan, Ping-yang e dezenas de outros lugares, é
como pujante fortaleza e como resplandecente farol, dissipando as trevas do
paganismo na China. Os abrigos e as igrejas fundados nesses lugares permanecem
como imponente monumento à sua memória.
(extraido do livro
hérois da fé)
HUDSON TAYLOR
O PAI DAS MISSÕES NO INTERIOR DA CHINA
(1832-1905) - Tiago
Taylor tinha-se levantado cedo de madrugada. Chegara por fim o auspicioso e
anunciado dia de seu casamento; o moço ocupava-se em arrumar tudo para receber
a noiva na casa que iam ocupar. Enquanto trabalhava, estava meditando sobre as
ocorrências recentes na aldeola.
Duas famílias, a dos
Cooper e a dos Shaw, converteram-se e convidaram João Wesley a pregar na
feira. O velho discursou sobre "a ira vindoura" de tal maneira, que
o povo desistiu da amarga perseguição, deixando o intrépido pregador hospedar-se
na casa do senhor Shaw.
Enquanto Tiago
preparava a casa para a chegada da noiva, ouvia-se a voz da vizinha, a senhora
Shaw, cantando. Lembrou-se de como ela, meses antes, passava todo o tempo
acamada, gemendo dia após dia por causa do reumatismo que a deixara aleijada.
Mas quando "confiou no Senhor", como disse, para a cura imediata,
grande foi a transformação. E indizível foi a surpresa do marido ao voltar a
casa: a esposa não somente estava curada e de pé, mas estava varrendo a
cozinha!Tiago Taylor odiava a religião. Ainda mais: esse era o dia em que se ia
casar. Depois do casamento iam dançar e beber como se fazia em tais ocasiões.
Mas não podia livrar-se das palavras, talvez ouvidas do sermão do pregador:
"Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor."
Sim, ia ter uma
esposa e assumir as responsabilidades de marido e de pai de família. Grande
tinha sido seu descuido. Resolvido, então, a entrar seriamente na vida de
casado, começou a repetir as palavras: "Serviremos ao Senhor!"
As horas se passavam.
O sol subia mais e mais sobre as casas cobertas de neve. Mas o jovem Tiago,
esquecido de tudo que é material, e tomado pela realidade das coisas eternas,
permaneceu de joelhos, face a face com Deus. O amor do Salvador, por fim,
venceu o seu coração e Tiago Taylor levantou-se com a alma cheia do Senhor
Jesus.
Podemos imaginar como
os sinos dobraram, como a noiva e os convivas se impacientaram, nesse dia. Já
havia passado a hora para o culto de casamento quando o jovem despertou do
enlevo com Deus e se levantou da oração. Depois de vestir-se, venceu
rapidamente os três quilômetros até o vilarejo de Royston.
Sem perderem tempo em
perguntar ao rapaz a razão de tanto atraso, realizou-se o culto, e Tiago e
Elisabete saíram da igreja, casados. O jovem não vacilou, mas ao sair contou
tudo acerca da sua conversão, ao ouvido de Bete. Ao ouvir o que ele relatava,
ela exclamou em tom de desespero: "Casei-me, então, com um desses
metodistas!"
Não houve dança nesse
dia; a voz e o violino do noivo foram usados para glorificar o Mestre. Bete,
apesar de saber em seu coração que Tiago tinha razão, continuou a resistir e
a queixar-se dia após dia. Então, certo dia, quando se mostrava ainda mais
contrariada, o robusto Tiago levantou-a nos braços e a levou para o quarto, onde
se ajoelhou ao seu lado, derramando a sua alma em oração por ela. Comovida
pela profundeza da mágoa e cuidado que Tiago sentia por sua alma, ela começou a
sentir também seu pecado e, no dia seguinte, de joelhos, ao lado do marido,
Elisabete Taylor clamou a Deus, renunciando a vaidade do mundo e entregando-se
a Cristo.É, assim, com os bisavós, que começa a verdadeira biografia do herói
da fé, Hudson Taylor. Os avós e os pais, na mesma ordem, criaram seus filhos no
mesmo temor de Deus.
Num memorável dia,
antes do nascimento de Hudson, o primogênito da família, o pai procurou a sua
esposa para conversar sobre uma passagem das Escrituras que o impressionava
profundamente. Na sua Bíblia leu para ela uma parte dos capítulos 13 de Êxodo e
3 de Números: "Santifica-me todo o primogênito... Todo o primogênito meu
é... Meus serão... Apartarás para o Senhor..."
Os dois conversaram
muito tempo sobre o gozo que esperavam ter. Então, de joelhos, entregaram seu
primogênito ao Senhor, pedindo que desde já ele o separasse para a sua obra.
Tiago Taylor, o pai
de Hudson, não somente orava fervorosamente por seus cinco filhos, mas
ensinou-os a pedirem detalhadamente a Deus todas as coisas. Ajoelhados,
diariamente, ao lado da cama, o pai colocava o braço ao redor de cada um
enquanto orava insistentemente por ele. Desejava que cada membro da família
passasse, também, ao menos meia hora, todos os dias, perante Deus, renovando a
alma por meio de oração e estudo das Escrituras.
A porta fechada do
quarto da sua mãe, diariamente ao meio-dia, apesar das suas constantes e
inumeráveis obrigações, tinha também grande influência sobre todos, pois
sabiam que ela, assim, se prostrava perante Deus para renovar suas forças e
para que o próximo se sentisse atraído ao Amigo invisível que habitava nela.
Não é de admirar,
portanto, que, ao crescer, Hudson se consagrasse inteiramente a Deus. O grande
segredo do seu incrível êxito é que em tudo que carecia, no sentido espiritual
ou material, recorria a Deus e recebia dos tesouros infinitos.
Contudo, não devemos
julgar que a mocidade de Hudson Taylor fosse isenta de grandes lutas. Como
acontece com muitos, o moço chegou à idade de dezessete anos sem reconhecer
Cristo como seu Salvador. Acerca disso ele escreveu mais tarde: "Pode ser
coisa estranha, mas sou grato pelo tempo que passei no ceticismo. O absurdo de
crentes que professam crer na Bíblia enquanto se comportam justamente como se
não existisse tal livro, era um dos maiores argumentos dos meus companheiros
céticos. Frequentemente afirmava que, se eu aceitasse a Bíblia, ao menos faria
tudo para seguir o que ela ensina e no caso de achar que tal coisa não era
prática, lançaria tudo fora. Foi essa a minha resolução quando o Senhor me
salvou. Acho que desde então realmente provei a Palavra de Deus. Certamente
nunca me arrependi de confiar nas suas promessas ou de seguir a sua direção.
"Quero relatar
então como Deus respondeu às orações da minha mãe e da minha querida irmã, por
minha conversão:
"Certo dia, para
mim inesquecível,... para me divertir, escolhi um tratado na biblioteca de meu
pai. Pensei em ler o começo da história e não ler a exortação do fim.
"Eu não sabia o
que acontecia ao mesmo tempo no coração da minha querida mãe, que estava a
mais de cem quilômetros de casa. Ela levantara-se da mesa anelando a salvação
de seu filho. Estando longe da família e livre da lida doméstica, entrou no seu
quarto, resolvida a não sair antes de receber a resposta às suas orações. Orou
hora após hora, até que, por fim, só podia louvar a Deus: o Espírito Santo
revelou-lhe que o filho por quem orava já se havia convertido.
"Eu, como já
mencionei, fui dirigido ao mesmo tempo a ler o tratado. Fui atraído pelas
palavras: A obra consumada. Perguntei-me a mim mesmo: "Por. que o
escritor não escreveu: A obra propiciatória? Qual é a obra consumada?"
Então vi que a propiciação de Cristo era plena e perfeita. Toda a dívida de
nossos pecados ficou paga e não restava coisa alguma que eu fizesse. Então
raiou em mim a gloriosa convicção; fui iluminado pelo Espírito Santo, para
reconhecer que eu somente precisava de prostrar-me e, aceitando o Salvador e a
sua salvação, louvá-lo para todo o sempre.
"Assim, enquanto
a minha querida mãe, no seu quarto, de joelhos, estava louvando a Deus, eu
também louvava a Deus na biblioteca de meu pai, onde entrara para ler o
livrinho."
Foi assim que Hudson
Taylor aceitou, para a sua própria vida, a obra propiciatória de Cristo, um
ato que transformou todo o resto da sua vida. Acerca da sua consagração, ele
escreveu:
"Lembro-me bem
da ocasião, quando, com gozo no coração, derramei a alma perante Deus,
repentinamente, confessando-me grato e cheio de amor porque Ele tinha feito
tudo - salvando-me quando eu não tinha mais esperança, nem queria a salvação.
Supliquei-lhe que me concedesse uma obra para fazer, como expressão do meu
amor e gratidão, algo que envolvesse abnegação, fosse o que fosse; algo para
agradar a quem fizera tanto para mim. Lembro-me de como, sem reserva, consagrei
tudo, colocando a minha própria pessoa, a minha vida, os amigos, tudo sobre o
altar. Com a certeza de que a oferta fora aceita, a presença de Deus se tornou
verdadeiramente real e preciosa. Prostrei-me em terra perante Ele, humilhado e
cheio de indizível gozo. Para que serviço fora aceito eu não sabia. Mas fui
possuído de uma certeza tão profunda de não pertencer mais a mim mesmo, que
esse entendimento, depois dominou toda a minha vida".
O moço que entrou no
quarto para estar sozinho com Deus nesse dia, não era o mesmo quando dali saiu.
Um alvo e um poder se apossaram dele. Não mais ficou satisfeito em somente
alimentar a sua própria alma nos cultos; começou a sentir a sua
responsabilidade para com o próximo - anelava tratar dos negócios de seu Pai.
Regozijava-se com riquezas e bênçãos indizíveis. E, como os leprosos no arraial
dos siros, Hudson e sua irmã, Amélia, diziam: Não fazemos bem; este dia é de
boas novas, e nos calamos. Desistiram, pois, de assistir aos cultos aos
domingos à noite e saíram para anunciar a mensagem, de casa em casa, entre as
classes mais pobres da cidade. Mas Hudson Taylor não se sentia satisfeito;
sabia que ainda não estava no centro da vontade de Deus. Na angústia de seu
espírito, como aquele da antiguidade, clamou: Não te deixarei ir, se me não
abençoares. Então, sozinho e de joelhos, surgiu na sua alma um grande
propósito: se Deus rompesse o poder do pecado e o salvasse em espírito, alma e
corpo para toda a eternidade, ele renunciaria tudo na terra para ficar sempre
ao seu dispor. Acerca desta experiência, foi ele mesmo que se expressou:
"Nunca me
esquecerei do que senti então; não há palavras para descrever. Senti-me na
presença de Deus, entrando numa aliança com o Todo-poderoso. Pareceu-me que
ouvi enunciadas as palavras: Tua oração é ouvida; todas condições são aceitas.'
Desde então nunca duvidei da convicção de que Deus me chamava a trabalhar na
China."
A chamada de Deus,
apesar de Hudson Taylor quase nunca a mencionar, ardia como um fogo dentro do
seu coração. Copiamos a seguir o seguinte trecho de uma das cartas enviada a
sua irmã:
"Imagina,
centenas de milhões de almas sem Deus, sem esperança, na China! Parece
incrível; milhões de pessoas morrem dentro de um ano sem qualquer conforto do
Evangelho!... Quase ninguém liga importância à China, onde habita cerca da
quarta parte da raça humana... Ora por mim, querida Amélia, pedindo ao Senhor
que me dê mais da mente de Cristo... Eu oro no armazém, na estrebaria, em
qualquer canto onde posso estar sozinho com Deus. E ele me concede tempos
gloriosos... Não é justo esperar que V... (a noiva de Hudson) vá comigo para
morrer no estrangeiro. Sinto profundamente deixá-la, mas meu Pai sabe qual é a
melhor coisa e não me negará coisa alguma que seja boa..."
A falta de espaço não
permite relatarmos aqui o heroísmo da fé que o jovem mostrou suportando os
sacrifícios e as privações necessárias para cursar a escola de medicina e de
cirurgia para melhor servir o povo da China.
Antes de embarcar,
escreveu estas palavras à sua mãe: "Anelo estar aí uma vez mais e sei que
a senhora quer verme, mas acho melhor não nos abraçarmos um ao outro mais,
pois isso seria encontrarmo-nos para logo nos separarmos para todo o
sempre..." Contudo a sua mãe foi ao porto de onde o navio se ia fazer à
vela. Alguns anos depois ele assim registrou a partida:"A minha querida
mãe, que agora está com Cristo, veio a Liverpool para despedir-se de mim. Nunca
me esquecerei de como ela entrou comigo no camarote em que eu ia morar quase
seis longos meses. Com o carinho de mãe, endireitou os cobertores da pequena
cama. Assentou-se ao meu lado e cantamos o último hino antes de nos separarmos
um do outro. Ajoelhamo-nos e ela orou. Foi a última oração de minha mãe antes
de eu partir para a China. Ouviu-se então o sinal para que todos os que não
eram passageiros saíssem do navio. Despedimo-nos um do outro, sem a esperança
de nos encontrarmos outra vez... Ao passar o navio pelas comportas, e quando a
separação começou a ser realidade, do seu coração saiu um grito de angústia tão
comovente, que jamais esquecerei. Foi como que meu coração fosse traspassado
por uma faca. Nunca reconheci tão plenamente até então, o que significam as
palavras: Pois assim amou Deus ao mundo. Estou certo de que a minha preciosa
mãe, nessa ocasião, chegou a compreender mais do amor de Deus para com um mundo
que perece do que em qualquer outro tempo da sua vida. Oh! como se entristece
o coração de Deus ao ver como seus filhos fecham os ouvidos à chamada divina
para salvar o mundo pelo qual seu amado, seu único Filho sofreu e morreu!"
Os passageiros de
navios modernos conhecem muito pouco do incômodo de viajar em navio à vela.
Depois de uma das muitas tempestades por que passou o "Dumfries", o
nosso herói escreveu: "A maior parte do que possuo está molhado. O
camarote do comissário, coitado, inundou-se..." Somente pelas orações e
grandes esforços de todos a bordo é que conseguiram salvar as próprias vidas
quando o navio, levado por grande temporal, estava prestes a naufragar nas
pedras da praia de Gales. A viagem que esperavam realizar em quarenta dias
levou cinco meses e meio! Somente em 1 de março de 1854, Hudson Taylor, com a
idade de vinte e um anos, conseguiu desembarcar em Shanghai, quando então ele
escreveu estas impressões:
"Não posso
descrever o que senti ao pisar em terra. Parecia-me que o coração ia estourar;
as lágrimas de gratidão e gozo corriam-me pelas faces. "Sobreveio-lhe,
então, uma grande onda de saudade; não havia amigos, nem conhecidos, nem
qualquer pessoa em todo o país para saudá-lo bem-vindo nem mesmo alguém que
conhecesse o seu nome.
Nesse tempo a China
era terra incógnita, a não ser os cinco portos no litoral, abertos à residência
de estrangeiros. Foi na casa de um missionário em Shanghai, um dos cinco portos,
que o moço achou hospedagem.
A vitória em todas as
variadas provações nesse tempo era devida à característica mais saliente de
Hudson Taylor, talvez a de nunca ficar parado na sua obra, fosse qual fosse o
contratempo.
Durante os primeiros
três meses na China, distribuiu 1.800 Novos Testamentos e Evangelhos e mais de
2 mil livros. Durante o ano de 1855, fez oito viagens - uma de trezentos
quilômetros, subindo o rio Yangtzé. Em outra viagem visitou cinquenta e uma
cidades onde nunca antes se ouvira a mensagem do Evangelho. Nessas viagens foi
sempre prevenido do perigo que corria a sua vida entre um povo que nunca tinha
visto estrangeiros.
Para ganhar mais
almas para Cristo, apesar da censura dos demais missionários, adotou o hábito
de vestir-se como os chineses. Rapou a cabeça na frente, deixando o resto dos
cabelos a formar trança comprida. A calça, que tinha mais de meio metro de
folga, ele a segurava conforme o costume, com um cinto. As meias eram de chita
branca, o calçado de cetim. O manto pendendo dos ombros, sobressaía-lhe a ponta
dos dedos das mãos mais que setenta centímetros.
Mas uma das cruzes
mais pesadas que o nosso herói teve de levar foi a falta de dinheiro, quando a
missão que o enviara se achava sem recursos.
Em 20 de janeiro de
1858, Hudson Taylor casou-se com Maria Dyer, uma missionária de talento na
China. Desse enlace nasceram cinco filhos. A casa em que moraram primeiro, na
cidade de Ningpo, tornou-se depois o berço da famosa Missão do Interior da
China.
As privações e os
encargos de serviço em Shanghai, Ningpo e outros lugares eram tais que Hudson
Taylor, antes de completar seis anos na China, foi obrigado a voltar à
Inglaterra para recuperar a saúde. Foi para ele quase como que uma sentença de
morte quando os médicos informaram-lhe de que nunca mais devia voltar à China.
Entretanto, o fato de
perecerem mais de um milhão de almas todos os meses na China era uma realidade
para Hudson Taylor; com seu espírito indômito, ao chegar à Inglaterra, iniciou
imediatamente a tarefa de preparar um hinário e a revisão do Novo Testamento
para os novos convertidos que deixara na China. Usando ainda o traje de
chinês, trabalhava tendo o mapa da China na parede e a Bíblia sempre aberta
sobre a mesa. Depois de alimentar-se e fartar-se da Palavra de Deus, fitava o
mapa, lembrando-se dos que não tinham tais riquezas. Todos os problemas ele os
levava a Deus; não havia coisa alguma demasiado grande, nem tão insignificante,
que a não deixasse com o Senhor em oração.
Em razão de suas
atividades, estava tão sobrecarregado de correspondência e nos trabalhos dos
cultos em prol da China, que após a sua chegada passaram-se mais de vinte dias
antes de conseguir abraçar seus queridos pais em Bransley.
Passava, às vezes, a
manhã, outras vezes a tarde, em jejum e oração. O seguinte trecho que ele
escreveu mostra como a sua alma continuou a arder nos seus discursos nas
igrejas da Inglaterra, sobre a obra missionária.
"Havia a bordo,
entre os companheiros de viagem, certo chinês que se chamava Pedro. Passara
alguns anos na Inglaterra, mas, apesar de conhecer algo do Evangelho, não
reconhecia coisa alguma do seu poder para salvar. Senti-me ligado a ele e
esforcei-me em orar e falar para levá-lo a Cristo. Mas quando o navio se
aproximava de Sung-Kiang e eu me preparava para ir a terra, pregar e distribuir
tratados, ouvi o grito de um homem que caíra na água. Fui ao convés com os
outros - Pedro tinha desaparecido.
"Imediatamente
arriamos as velas, mas a correnteza da maré era tal que não tínhamos a certeza
do lugar onde o homem caíra. Vi alguns pescadores próximos, que usavam uma rede
varredoura. Angustiado clamei:
- Venham passar a
rede aqui, pois um homem está morrendo afogado!- Veh bin, foi a resposta
inesperada, isto é, "Não é conveniente".
- Não falem se é ou
não é conveniente. Venham depressa antes que o homem pereça.
- Estamos pescando.
- Eu sei! Mas venham
imediatamente e pagarei bem.
- Quanto nos quer
dar?
- Cinco dólares, mas
não fiquem conversando. Salvem o homem sem demora!
- Cinco dólares não
basta - responderam eles. Não o faremos por menos de trinta dólares.
- Mas não tenho tanto!
- darei tudo que eu tenho.
- Quanto tem o
senhor?
- Não sei - porém não
é mais do que catorze dólares. "Então os pescadores vieram, passaram a
rede no lugar indicado. Logo à primeira vez apanharam o corpo do homem. Mas
todos os meus esforços para restaurar-lhe a respiração foram inúteis. Uma vida
fora sacrificada pela indiferença dos que podiam salvá-la quase sem
esforço."
Ao ouvirem contar
esta história, uma onda de indignação passou por todo o grande auditório.
Haveria em todo o mundo um povo tão endurecido e interesseiro como esse! Mas ao
continuar o seu discurso, a convicção feriu ainda mais o coração dos ouvintes.
- "O corpo então
tem mais valor que a alma? Censuramos esses pescadores, dizendo que foram
culpados da morte de Pedro, porque era coisa fácil salvá-lo. - Mas que
acontece com os milhões que estamos deixando perecer para toda a eternidade?
Que diremos acerca da ordem implícita: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho
a toda a criatura? Deus nos diz também: 'Livra os que estão destinados à
morte, e os que são levados para a matança, se os puderes retirar. Se disseres:
eis que não o sabemos; porventura aquele que pondera os corações não o
considerará? e aquele que atenta a tua alma não o saberá? não pagará ele ao homem
conforme a sua obra?'
- "Credes que
cada pessoa entre esses milhões da China, tem uma alma imortal e que não há
outro nome debaixo do céu, dado entre os homens a não ser o precioso nome de
Jesus, pelo qual devamos ser salvos? - Credes que Ele, Ele só, é o Caminho, a
Verdade e a Vida e que ninguém vai ao Pai senão por Ele? Se assim o credes,
examinai-vos a vós mesmos para ver se estais fazendo todo o possível para levar
seu nome a todos.
"Ninguém deve
dizer que não é chamado para ir à China. Ao enfrentar tais fatos, todas as
pessoas precisam saber se têm uma chamada para ficarem em casa. Amigo, se não
tens certeza de uma chamada para continuar onde estás, como podes desobedecer
à clara ordem do Salvador, para ir? - Se estás certo, contudo, de estares no
lugar onde Cristo quer, não por causa do conforto ou dos cuidados da vida,
então estás tu orando como convém a favor dos milhões de perdidos da China?
Estás tu usando teus recursos para a salvação deles?"
Certo dia, não muito
depois de haver regressado à Inglaterra, Hudson Taylor, ao completar a
estatística, veio a saber que o número de missionários evangélicos na China
diminuira em vez de aumentar. Apesar de a metade da população pagã estar na
China, o número de missionários durante o ano tinha diminuído de cento e quinze
para somente noventa e um. Começaram a soar aos ouvidos do missionário estas
palavras: "Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; não avisando
tu, não falando para avisar o ímpio acerca do seu caminho ímpio, para salvar a
sua vida. aquele ímpio morrerá na sua maldade, mas o seu sangue da tua mão o
requererei".
Era um domingo, 25 de
junho de 1865, de manhã, à beira-mar. Hudson Taylor, cansado e doente, estava
com alguns amigos em Brighton. Mas não podendo suportar mais o regozijo da
multidão na casa de Deus, retirou-se para andar sozinho nas areias da maré
vazante. Tudo em redor era paz e bonança, mas na alma do missionário rugia uma
tempestade. Por fim, com alívio indizível, clamou: "Tu, Senhor, tu podes
assumir todo o encargo. Com tua chamada, e como teu servo, avançarei, deixando
tudo nas tuas mãos."
Assim "a Missão
do Interior da China foi concebida na sua alma e todas as etapas do seu
progresso realizaram-se por seus esforços. Na calma do seu coração, na comunhão
profunda e indizível com Deus, originou-se a missão. "Com o lápis na mão,
abriu a Bíblia e, enquanto as ondas do vasto mar batiam aos seus pés, escreveu
as simples mas memoráveis palavras: "Orei em Brighton pedindo vinte e
quatro trabalhadores competentes e dispostos, em 25 de junho de 1865".
Mais tarde,
recordando-se da vitória dessa ocasião escreveu:
"Grande foi o
alívio de espírito que senti ao regressar da praia. Depois de findar o
conflito, tudo era gozo e paz. Parecia que me faltava muito pouco para voar até
a casa do senhor Pearse. Na noite desse dia dormi profundamente. A querida
esposa achou que a visita a Brighton serviu para renovar-me maravilhosamente.
Era verdade!"
O vitorioso
missionário, juntamente com a família e os vinte e quatro chamados por Deus,
embarcaram em Londres, no "Lammermuir", para a China em 26 de
setembro de 1865. O anelante alvo de todos era o de erguer a bandeira de
Cristo nas onze províncias ainda não ocupadas da China. Alguns dos amigos os
animaram, mas outros disseram: "Todo o mundo ficará esquecido dos irmãos.
Sem uma junta aqui na Inglaterra ninguém se importará com a obra por muito
tempo. Promessas são fáceis de fazer hoje em dia; dentro de pouco tempo não
terão o pão cotidiano".
A viagem levou mais
que quatro meses. Acerca de uma das tempestades, um dos missionários escreveu:
"Durante todo o
temporal, o senhor Taylor se comportou com a maior calma. Por fim os
marinheiros recusaram-se a trabalhar. O comandante aconselhou todos a bordo a
amarrarem os cintos de salvação, dizendo que o navio não resistiria à força das
ondas mais que duas horas. Nessa altura, o comandante avançou na direção dos
marinheiros com o revólver na mão. O senhor Taylor então aproximou-se dele e
pediu-lhe que não obrigasse dessa forma os marinheiros a trabalhar. O
missionário dirigiu-se também aos homens e explicou-lhes que Deus ia salvá-los,
mas que eram necessários os maiores esforços de todas as pessoas a bordo.
Acrescentou que tanto ele como todos os passageiros estavam prontos a
ajudá-los, e que, como era evidente, as vidas deles também corriam perigo. Os
homens convencidos por esses argumentos começaram a tirar os destroços, ajudados
por todos nós; em pouco tempo conseguimos amarrar os grandes mastros, que
batiam com tanta força que estavam demolindo um lado do navio".
Foram horas de grande
regozijo quando o "Lammermuir", por fim, aportou, com todos sãos a
bordo, em Shanghai. Outro navio que chegou logo após, perdera dezesseis das
vinte e duas pessoas a bordo!
Os missionários
iniciaram o ano de 1867 com um dia de jejum e oração, pedindo, como Jabez, que
Deus os abençoasse e estendesse os seus termos. O Senhor os ouviu dando-lhes
entrada, durante o ano, em outras tantas cidades! Encerraram o ano com outro
dia de jejum e oração. Um culto durou das onze da manhã às três da tarde, sem
ninguém se sentir enfadado. Outro culto se realizou às 8,30 da noite quando
sentiram ainda mais a unção do Espírito Santo. Continuaram juntos em oração até
a meia-noite, quando celebraram a Ceia do Senhor.
No início de 1867, o
Senhor chamou Graça Taylor, filha de Hudson Taylor, para o Lar Eterno, quando
ela completava oito anos de idade. No ano seguinte, a senhora Taylor e o
filho, Noel, faleceram de cólera. Foi assim que se expressou o pai e marido:
"Ao amanhecer o
dia, apareceu à luz do sol o que fora ocultado pela luz de vela - a cor
característica da morte no rosto da minha esposa. O meu amor não podia ignorar
por mais, não somente o seu estado grave, mas que realmente ela estava
morrendo. Ao conseguir acalmar o meu espírito, eu lhe disse:
- Sabes, querida, que
estás morrendo?
- Morrendo! Achas que
sim? Por que pensas tal coisa?
- Posso ver, que sim,
querida. As tuas forças estão se acabando.
- Será mesmo? Não
sinto qualquer dor, apenas cansaço.
- Sim, estás saindo
para a Casa Paterna. Brevemente estarás com Jesus.
"Minha preciosa
esposa, lembrando-se de mim e de como eu devia ficar sozinho, em um tempo de
tão grandes lutas, privado da companheira com a qual tinha o costume de levar
tudo ao trono da graça, disse:- Sinto muito!
Então ela parou, como
que querendo corrigir o que dissera, porém eu lhe perguntei:
- Estás triste por
causa da partida para estar com Jesus?
"Nunca me
esquecerei de como ela olhou para mim e respondeu:
- Oh! não. Bem sabes,
querido, que durante mais de dez anos, não houve sombra alguma entre mim e meu
Salvador. Não estou triste por causa da partida para estar com Ele, mas me
entristeço porque terás de ficar sozinho nessas lutas. Contudo... Ele estará
contigo e suprirá tudo o que é mister."
"Nunca
presenciei uma cena tão comovente" - escreveu o senhor Duncan. -
"Com a última respiração da querida senhora Taylor, o senhor Taylor caiu
de joelhos, o coração transbordando, e a entregou ao Senhor, agradecendo-lhe
a dádiva e os doze anos e meio que passaram juntos. Agradeceu-lhe, também, pela
bênção de Ele mesmo a levar para a sua presença. Então, solenemente dedicou-se
a si mesmo novamente ao serviço do Mestre.
Não é de supor que
Satanás deixasse a Missão do Interior da China invadir seu território com
vinte e quatro outros obreiros, sem incitar o povo a maior perseguição. Foram
distribuídos em muitos lugares, impressos atribuindo aos estrangeiros os mais
horripilantes e bárbaros crimes, especialmente aos que propagavam a religião de
Jesus. Alvoroçaram-se cidades inteiras e muitos dos missionários tiveram de
abandonar tudo e fugir para escapar com vida.
Quase seis anos
depois de o grupo do "Lammermuir" haver desembarcado na China, Hudson
Taylor estava novamente na Inglaterra. Durante esse tempo da obra na China, a
missão aumentava de duas estações com sete obreiros, para treze estações com
mais de trinta missionários e cinquenta obreiros, estando separadas as
estações, uma da outra, na média de cento e vinte quilômetros.
Foi durante essa visita
à Inglaterra que Hudson Taylor se casou com Miss Faulding, também fiel e
provada missionária na China.
Acerca de Hudson
Taylor, nesse tempo, certa pessoa amiga, escreveu:
"O senhor Taylor
anunciou um hino, sentou-se ao harmônio e tocou. Não fui atraído por sua
personalidade. Era de físico franzino e falou com voz mansa. Como os demais
jovens, eu julgava que uma grande voz sempre acompanhava um verdadeiro
prestígio. Mas quando ele disse: 'Oremos e nos dirigiu em oração, mudei de
parecer; eu nunca ouvira alguém orar como ele. Havia na sua oração uma ousadia,
um poder que fez todas as pessoas presentes se humilharem e sentirem-se na
presença de Deus. Falava face a face com Deus como um homem com um amigo. Sem
dúvida, tal oração era o fruto de longa permanência com o Senhor; era como o
orvalho descendo dos céus. Tenho ouvido muitos homens orarem, mas não ouvi
ninguém como o senhor Taylor e o senhor Spurgeon. Ninguém, depois de ouvir
como esses homens oravam, pode esquecer-se de tais orações. Foi a maior
experiência da minha vida ouvir o senhor Spurgeon, quando tomou, como se fosse
a mão do auditório de seis mil pessoas e as levou ao Santo dos Santos. E ouvir
o senhor Taylor rogar pela China era reconhecer algo do que significa a
súplica fervorosa do justo. "
Foi em 1874 quando,
com a esposa, subiam o grande rio Yangtze e ele meditava sobre as nove
províncias que se estendiam dos trópicos de Burma ao planalto de Mongólia e as
montanhas de Tibete, que Hudson Taylor escreveu:
"A minha alma
anseia, e o coração arde pela evangelização de centenas de milhões de
habitantes dessas províncias sem obreiros. Oh! se eu tivesse cem vidas a dar
ou gastar por eles!"
Mas, no meio da
viagem, receberam notícias da morte da fiel missionária Amélia Blatchley, na
Inglaterra. Ela não somente cuidava dos filhos do senhor Taylor, mas também servia
como secretária da Missão.
Grande foi a tristeza
de Hudson Taylor ao chegar à Inglaterra e achar não somente os seus queridos
filhos separados e espalhados, mas a obra da Missão quase paralisada. Mas
isso não foi ainda a sua maior tristeza. Na sua viagem pelo rio Yangtze, o
senhor Taylor, ao descer a escada do navio, levou uma grande queda, caiu sobre
os calcanhares e de tal maneira que o choque ofendeu a espinha dorsal. Depois
que chegou à Inglaterra o incômodo da queda agravou-se até ele ficar acamado.
Sobreveio-lhe então a maior crise da sua vida, justamente quando havia maior
necessidade de seus esforços. Completamente paralítico das pernas, tinha de
passar todo o tempo deitado de costas!
Uma pequena cama era
a sua prisão; é melhor dizer que era a sua oportunidade. Ao pé da cama, na
parede, estava afixado um mapa da China. E ao redor dele, de dia e de noite,
estava a presença divina.
Aí, de costas, mês
após mês, permaneceu o nosso herói, rogando e suplicando ao Senhor a favor da
China. Foi-lhe concedida a fé para pedir que Deus enviasse dezoito
missionários. Em resposta aos seus apelos para oração, escritos com a maior
dificuldade e publicados no jornal, sessenta moços responderam de uma vez.
Dentre eles, vinte e quatro foram escolhidos. Ali, ao lado do leito, ele
iniciou aulas para os futuros missionários e ensinou-lhes as primeiras lições
da língua chinesa - e o Senhor os enviou para a China.
Lê-se o seguinte
acerca de como o missionário inutilizado em corpo, nesse tempo, ficou bom:
"Ele foi tão
maravilhosamente curado, em resposta à oração, que podia cumprir com um
incrível número de suas obrigações. Passou quase todo o tempo das férias, com
seus filhos em Guernsey, escrevendo. Durante os quinze dias que passou ali,
apesar de desejar compartilhar da delícia da linda praia, com seus filhos, saiu
com eles apenas uma vez. Mas as cartas que enviou para a China e outros lugares
valiam mais do que ouro."
Certo missionário
assim escreveu acerca de uma visita que lhe fez na China:
"Nunca me
esquecerei do gozo e da amável maneira com que me saudou. Conduziu-me logo para
o 'escritório' da Missão do Interior da China. Devo dizer que foi para mim uma
surpresa, ou choque, ou ambas as coisas. Os 'móveis' eram caixotes. Uma mesa
estava coberta de inúmeros papéis e cartas. Ao lado do lume havia uma cama,
bem arrumada, tendo um pedaço de tapete a servir de cobertor. Nessa cama o
senhor Taylor descansava de dia e de noite.
"O senhor Taylor,
sem qualquer palavra de desculpa, deitou-se na cama e travamos a palestra mais
preciosa da minha vida. Toda a idéia que eu tinha das qualificações para ser um
'grande homem' foi completamente mudada; não havia nele coisa alguma do
espírito de superioridade. Vi nele o ideal de Cristo, da verdadeira grandeza,
tão evidente que permanece ainda no meu coração, através dos anos, até o
presente momento. Hudson Taylor reconhecia profundamente que, para evangelizar
os milhões da China, era imperioso que os crentes na Inglaterra mostrassem
muito mais de abnegação e sacrifício. - Mas como podia ele insistir em
sacrifício sem primeiramente praticá-lo na sua própria vida? Assim ele,
deliberadamente, cortou da sua vida toda a aparência de conforto e luxo.
"Nas viagens
pelo interior da China, ele, invariavelmente, se levantava para passar uma
hora com Deus antes de clarear o dia, às vezes, para depois dormir novamente.
Quando eu despertava para alimentar os animais, sempre o achava lendo a Bíblia
à luz de vela. Fosse qual fosse o ambiente ou o barulho nas hospedarias
imundas, não descuidava o hábito de ler a Bíblia. Geralmente em tais viagens,
orava de bruços, porque lhe faltavam as forças usá-la para o seu Jesus. Não havia labor árduo
demais, se pudesse ganhar uma alma pela qual seu Salvador morrera. Nunca
encontrou "cruz" pesada, se pudesse levá-la por amor de Cristo.
Jamais julgou o caminho difícil, tratando-se de seguir as pisadas de seu
Mestre.
Assim o fiel pastor
Hsi foi promovido para fazer serviço mais alto, mais sublime, para estar em
mais íntima ligação com Jesus.A obra pioneira que deixou em Chao-eh'eng,
Teng-ts'uen, Hoh-chau, T'ai-yuan, Ping-yang e dezenas de outros lugares, é
como pujante fortaleza e como resplandecente farol, dissipando as trevas do
paganismo na China. Os abrigos e as igrejas fundados nesses lugares permanecem
como imponente monumento à sua memória.
(extraido do livro
hérois da fé)
HUDSON TAYLOR
O PAI DAS MISSÕES NO INTERIOR DA CHINA
(1832-1905) - Tiago
Taylor tinha-se levantado cedo de madrugada. Chegara por fim o auspicioso e
anunciado dia de seu casamento; o moço ocupava-se em arrumar tudo para receber
a noiva na casa que iam ocupar. Enquanto trabalhava, estava meditando sobre as
ocorrências recentes na aldeola.
Duas famílias, a dos
Cooper e a dos Shaw, converteram-se e convidaram João Wesley a pregar na
feira. O velho discursou sobre "a ira vindoura" de tal maneira, que
o povo desistiu da amarga perseguição, deixando o intrépido pregador hospedar-se
na casa do senhor Shaw.
Enquanto Tiago
preparava a casa para a chegada da noiva, ouvia-se a voz da vizinha, a senhora
Shaw, cantando. Lembrou-se de como ela, meses antes, passava todo o tempo
acamada, gemendo dia após dia por causa do reumatismo que a deixara aleijada.
Mas quando "confiou no Senhor", como disse, para a cura imediata,
grande foi a transformação. E indizível foi a surpresa do marido ao voltar a
casa: a esposa não somente estava curada e de pé, mas estava varrendo a
cozinha!Tiago Taylor odiava a religião. Ainda mais: esse era o dia em que se ia
casar. Depois do casamento iam dançar e beber como se fazia em tais ocasiões.
Mas não podia livrar-se das palavras, talvez ouvidas do sermão do pregador:
"Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor."
Sim, ia ter uma
esposa e assumir as responsabilidades de marido e de pai de família. Grande
tinha sido seu descuido. Resolvido, então, a entrar seriamente na vida de
casado, começou a repetir as palavras: "Serviremos ao Senhor!"
As horas se passavam.
O sol subia mais e mais sobre as casas cobertas de neve. Mas o jovem Tiago,
esquecido de tudo que é material, e tomado pela realidade das coisas eternas,
permaneceu de joelhos, face a face com Deus. O amor do Salvador, por fim,
venceu o seu coração e Tiago Taylor levantou-se com a alma cheia do Senhor
Jesus.
Podemos imaginar como
os sinos dobraram, como a noiva e os convivas se impacientaram, nesse dia. Já
havia passado a hora para o culto de casamento quando o jovem despertou do
enlevo com Deus e se levantou da oração. Depois de vestir-se, venceu
rapidamente os três quilômetros até o vilarejo de Royston.
Sem perderem tempo em
perguntar ao rapaz a razão de tanto atraso, realizou-se o culto, e Tiago e
Elisabete saíram da igreja, casados. O jovem não vacilou, mas ao sair contou
tudo acerca da sua conversão, ao ouvido de Bete. Ao ouvir o que ele relatava,
ela exclamou em tom de desespero: "Casei-me, então, com um desses
metodistas!"
Não houve dança nesse
dia; a voz e o violino do noivo foram usados para glorificar o Mestre. Bete,
apesar de saber em seu coração que Tiago tinha razão, continuou a resistir e
a queixar-se dia após dia. Então, certo dia, quando se mostrava ainda mais
contrariada, o robusto Tiago levantou-a nos braços e a levou para o quarto, onde
se ajoelhou ao seu lado, derramando a sua alma em oração por ela. Comovida
pela profundeza da mágoa e cuidado que Tiago sentia por sua alma, ela começou a
sentir também seu pecado e, no dia seguinte, de joelhos, ao lado do marido,
Elisabete Taylor clamou a Deus, renunciando a vaidade do mundo e entregando-se
a Cristo.É, assim, com os bisavós, que começa a verdadeira biografia do herói
da fé, Hudson Taylor. Os avós e os pais, na mesma ordem, criaram seus filhos no
mesmo temor de Deus.
Num memorável dia,
antes do nascimento de Hudson, o primogênito da família, o pai procurou a sua
esposa para conversar sobre uma passagem das Escrituras que o impressionava
profundamente. Na sua Bíblia leu para ela uma parte dos capítulos 13 de Êxodo e
3 de Números: "Santifica-me todo o primogênito... Todo o primogênito meu
é... Meus serão... Apartarás para o Senhor..."
Os dois conversaram
muito tempo sobre o gozo que esperavam ter. Então, de joelhos, entregaram seu
primogênito ao Senhor, pedindo que desde já ele o separasse para a sua obra.
Tiago Taylor, o pai
de Hudson, não somente orava fervorosamente por seus cinco filhos, mas
ensinou-os a pedirem detalhadamente a Deus todas as coisas. Ajoelhados,
diariamente, ao lado da cama, o pai colocava o braço ao redor de cada um
enquanto orava insistentemente por ele. Desejava que cada membro da família
passasse, também, ao menos meia hora, todos os dias, perante Deus, renovando a
alma por meio de oração e estudo das Escrituras.
A porta fechada do
quarto da sua mãe, diariamente ao meio-dia, apesar das suas constantes e
inumeráveis obrigações, tinha também grande influência sobre todos, pois
sabiam que ela, assim, se prostrava perante Deus para renovar suas forças e
para que o próximo se sentisse atraído ao Amigo invisível que habitava nela.
Não é de admirar,
portanto, que, ao crescer, Hudson se consagrasse inteiramente a Deus. O grande
segredo do seu incrível êxito é que em tudo que carecia, no sentido espiritual
ou material, recorria a Deus e recebia dos tesouros infinitos.
Contudo, não devemos
julgar que a mocidade de Hudson Taylor fosse isenta de grandes lutas. Como
acontece com muitos, o moço chegou à idade de dezessete anos sem reconhecer
Cristo como seu Salvador. Acerca disso ele escreveu mais tarde: "Pode ser
coisa estranha, mas sou grato pelo tempo que passei no ceticismo. O absurdo de
crentes que professam crer na Bíblia enquanto se comportam justamente como se
não existisse tal livro, era um dos maiores argumentos dos meus companheiros
céticos. Frequentemente afirmava que, se eu aceitasse a Bíblia, ao menos faria
tudo para seguir o que ela ensina e no caso de achar que tal coisa não era
prática, lançaria tudo fora. Foi essa a minha resolução quando o Senhor me
salvou. Acho que desde então realmente provei a Palavra de Deus. Certamente
nunca me arrependi de confiar nas suas promessas ou de seguir a sua direção.
"Quero relatar
então como Deus respondeu às orações da minha mãe e da minha querida irmã, por
minha conversão:
"Certo dia, para
mim inesquecível,... para me divertir, escolhi um tratado na biblioteca de meu
pai. Pensei em ler o começo da história e não ler a exortação do fim.
"Eu não sabia o
que acontecia ao mesmo tempo no coração da minha querida mãe, que estava a
mais de cem quilômetros de casa. Ela levantara-se da mesa anelando a salvação
de seu filho. Estando longe da família e livre da lida doméstica, entrou no seu
quarto, resolvida a não sair antes de receber a resposta às suas orações. Orou
hora após hora, até que, por fim, só podia louvar a Deus: o Espírito Santo
revelou-lhe que o filho por quem orava já se havia convertido.
"Eu, como já
mencionei, fui dirigido ao mesmo tempo a ler o tratado. Fui atraído pelas
palavras: A obra consumada. Perguntei-me a mim mesmo: "Por. que o
escritor não escreveu: A obra propiciatória? Qual é a obra consumada?"
Então vi que a propiciação de Cristo era plena e perfeita. Toda a dívida de
nossos pecados ficou paga e não restava coisa alguma que eu fizesse. Então
raiou em mim a gloriosa convicção; fui iluminado pelo Espírito Santo, para
reconhecer que eu somente precisava de prostrar-me e, aceitando o Salvador e a
sua salvação, louvá-lo para todo o sempre.
"Assim, enquanto
a minha querida mãe, no seu quarto, de joelhos, estava louvando a Deus, eu
também louvava a Deus na biblioteca de meu pai, onde entrara para ler o
livrinho."
Foi assim que Hudson
Taylor aceitou, para a sua própria vida, a obra propiciatória de Cristo, um
ato que transformou todo o resto da sua vida. Acerca da sua consagração, ele
escreveu:
"Lembro-me bem
da ocasião, quando, com gozo no coração, derramei a alma perante Deus,
repentinamente, confessando-me grato e cheio de amor porque Ele tinha feito
tudo - salvando-me quando eu não tinha mais esperança, nem queria a salvação.
Supliquei-lhe que me concedesse uma obra para fazer, como expressão do meu
amor e gratidão, algo que envolvesse abnegação, fosse o que fosse; algo para
agradar a quem fizera tanto para mim. Lembro-me de como, sem reserva, consagrei
tudo, colocando a minha própria pessoa, a minha vida, os amigos, tudo sobre o
altar. Com a certeza de que a oferta fora aceita, a presença de Deus se tornou
verdadeiramente real e preciosa. Prostrei-me em terra perante Ele, humilhado e
cheio de indizível gozo. Para que serviço fora aceito eu não sabia. Mas fui
possuído de uma certeza tão profunda de não pertencer mais a mim mesmo, que
esse entendimento, depois dominou toda a minha vida".
O moço que entrou no
quarto para estar sozinho com Deus nesse dia, não era o mesmo quando dali saiu.
Um alvo e um poder se apossaram dele. Não mais ficou satisfeito em somente
alimentar a sua própria alma nos cultos; começou a sentir a sua
responsabilidade para com o próximo - anelava tratar dos negócios de seu Pai.
Regozijava-se com riquezas e bênçãos indizíveis. E, como os leprosos no arraial
dos siros, Hudson e sua irmã, Amélia, diziam: Não fazemos bem; este dia é de
boas novas, e nos calamos. Desistiram, pois, de assistir aos cultos aos
domingos à noite e saíram para anunciar a mensagem, de casa em casa, entre as
classes mais pobres da cidade. Mas Hudson Taylor não se sentia satisfeito;
sabia que ainda não estava no centro da vontade de Deus. Na angústia de seu
espírito, como aquele da antiguidade, clamou: Não te deixarei ir, se me não
abençoares. Então, sozinho e de joelhos, surgiu na sua alma um grande
propósito: se Deus rompesse o poder do pecado e o salvasse em espírito, alma e
corpo para toda a eternidade, ele renunciaria tudo na terra para ficar sempre
ao seu dispor. Acerca desta experiência, foi ele mesmo que se expressou:
"Nunca me
esquecerei do que senti então; não há palavras para descrever. Senti-me na
presença de Deus, entrando numa aliança com o Todo-poderoso. Pareceu-me que
ouvi enunciadas as palavras: Tua oração é ouvida; todas condições são aceitas.'
Desde então nunca duvidei da convicção de que Deus me chamava a trabalhar na
China."
A chamada de Deus,
apesar de Hudson Taylor quase nunca a mencionar, ardia como um fogo dentro do
seu coração. Copiamos a seguir o seguinte trecho de uma das cartas enviada a
sua irmã:
"Imagina,
centenas de milhões de almas sem Deus, sem esperança, na China! Parece
incrível; milhões de pessoas morrem dentro de um ano sem qualquer conforto do
Evangelho!... Quase ninguém liga importância à China, onde habita cerca da
quarta parte da raça humana... Ora por mim, querida Amélia, pedindo ao Senhor
que me dê mais da mente de Cristo... Eu oro no armazém, na estrebaria, em
qualquer canto onde posso estar sozinho com Deus. E ele me concede tempos
gloriosos... Não é justo esperar que V... (a noiva de Hudson) vá comigo para
morrer no estrangeiro. Sinto profundamente deixá-la, mas meu Pai sabe qual é a
melhor coisa e não me negará coisa alguma que seja boa..."
A falta de espaço não
permite relatarmos aqui o heroísmo da fé que o jovem mostrou suportando os
sacrifícios e as privações necessárias para cursar a escola de medicina e de
cirurgia para melhor servir o povo da China.
Antes de embarcar,
escreveu estas palavras à sua mãe: "Anelo estar aí uma vez mais e sei que
a senhora quer verme, mas acho melhor não nos abraçarmos um ao outro mais,
pois isso seria encontrarmo-nos para logo nos separarmos para todo o
sempre..." Contudo a sua mãe foi ao porto de onde o navio se ia fazer à
vela. Alguns anos depois ele assim registrou a partida:"A minha querida
mãe, que agora está com Cristo, veio a Liverpool para despedir-se de mim. Nunca
me esquecerei de como ela entrou comigo no camarote em que eu ia morar quase
seis longos meses. Com o carinho de mãe, endireitou os cobertores da pequena
cama. Assentou-se ao meu lado e cantamos o último hino antes de nos separarmos
um do outro. Ajoelhamo-nos e ela orou. Foi a última oração de minha mãe antes
de eu partir para a China. Ouviu-se então o sinal para que todos os que não
eram passageiros saíssem do navio. Despedimo-nos um do outro, sem a esperança
de nos encontrarmos outra vez... Ao passar o navio pelas comportas, e quando a
separação começou a ser realidade, do seu coração saiu um grito de angústia tão
comovente, que jamais esquecerei. Foi como que meu coração fosse traspassado
por uma faca. Nunca reconheci tão plenamente até então, o que significam as
palavras: Pois assim amou Deus ao mundo. Estou certo de que a minha preciosa
mãe, nessa ocasião, chegou a compreender mais do amor de Deus para com um mundo
que perece do que em qualquer outro tempo da sua vida. Oh! como se entristece
o coração de Deus ao ver como seus filhos fecham os ouvidos à chamada divina
para salvar o mundo pelo qual seu amado, seu único Filho sofreu e morreu!"
Os passageiros de
navios modernos conhecem muito pouco do incômodo de viajar em navio à vela.
Depois de uma das muitas tempestades por que passou o "Dumfries", o
nosso herói escreveu: "A maior parte do que possuo está molhado. O
camarote do comissário, coitado, inundou-se..." Somente pelas orações e
grandes esforços de todos a bordo é que conseguiram salvar as próprias vidas
quando o navio, levado por grande temporal, estava prestes a naufragar nas
pedras da praia de Gales. A viagem que esperavam realizar em quarenta dias
levou cinco meses e meio! Somente em 1 de março de 1854, Hudson Taylor, com a
idade de vinte e um anos, conseguiu desembarcar em Shanghai, quando então ele
escreveu estas impressões:
"Não posso
descrever o que senti ao pisar em terra. Parecia-me que o coração ia estourar;
as lágrimas de gratidão e gozo corriam-me pelas faces. "Sobreveio-lhe,
então, uma grande onda de saudade; não havia amigos, nem conhecidos, nem
qualquer pessoa em todo o país para saudá-lo bem-vindo nem mesmo alguém que
conhecesse o seu nome.
Nesse tempo a China
era terra incógnita, a não ser os cinco portos no litoral, abertos à residência
de estrangeiros. Foi na casa de um missionário em Shanghai, um dos cinco portos,
que o moço achou hospedagem.
A vitória em todas as
variadas provações nesse tempo era devida à característica mais saliente de
Hudson Taylor, talvez a de nunca ficar parado na sua obra, fosse qual fosse o
contratempo.
Durante os primeiros
três meses na China, distribuiu 1.800 Novos Testamentos e Evangelhos e mais de
2 mil livros. Durante o ano de 1855, fez oito viagens - uma de trezentos
quilômetros, subindo o rio Yangtzé. Em outra viagem visitou cinquenta e uma
cidades onde nunca antes se ouvira a mensagem do Evangelho. Nessas viagens foi
sempre prevenido do perigo que corria a sua vida entre um povo que nunca tinha
visto estrangeiros.
Para ganhar mais
almas para Cristo, apesar da censura dos demais missionários, adotou o hábito
de vestir-se como os chineses. Rapou a cabeça na frente, deixando o resto dos
cabelos a formar trança comprida. A calça, que tinha mais de meio metro de
folga, ele a segurava conforme o costume, com um cinto. As meias eram de chita
branca, o calçado de cetim. O manto pendendo dos ombros, sobressaía-lhe a ponta
dos dedos das mãos mais que setenta centímetros.
Mas uma das cruzes
mais pesadas que o nosso herói teve de levar foi a falta de dinheiro, quando a
missão que o enviara se achava sem recursos.
Em 20 de janeiro de
1858, Hudson Taylor casou-se com Maria Dyer, uma missionária de talento na
China. Desse enlace nasceram cinco filhos. A casa em que moraram primeiro, na
cidade de Ningpo, tornou-se depois o berço da famosa Missão do Interior da
China.
As privações e os
encargos de serviço em Shanghai, Ningpo e outros lugares eram tais que Hudson
Taylor, antes de completar seis anos na China, foi obrigado a voltar à
Inglaterra para recuperar a saúde. Foi para ele quase como que uma sentença de
morte quando os médicos informaram-lhe de que nunca mais devia voltar à China.
Entretanto, o fato de
perecerem mais de um milhão de almas todos os meses na China era uma realidade
para Hudson Taylor; com seu espírito indômito, ao chegar à Inglaterra, iniciou
imediatamente a tarefa de preparar um hinário e a revisão do Novo Testamento
para os novos convertidos que deixara na China. Usando ainda o traje de
chinês, trabalhava tendo o mapa da China na parede e a Bíblia sempre aberta
sobre a mesa. Depois de alimentar-se e fartar-se da Palavra de Deus, fitava o
mapa, lembrando-se dos que não tinham tais riquezas. Todos os problemas ele os
levava a Deus; não havia coisa alguma demasiado grande, nem tão insignificante,
que a não deixasse com o Senhor em oração.
Em razão de suas
atividades, estava tão sobrecarregado de correspondência e nos trabalhos dos
cultos em prol da China, que após a sua chegada passaram-se mais de vinte dias
antes de conseguir abraçar seus queridos pais em Bransley.
Passava, às vezes, a
manhã, outras vezes a tarde, em jejum e oração. O seguinte trecho que ele
escreveu mostra como a sua alma continuou a arder nos seus discursos nas
igrejas da Inglaterra, sobre a obra missionária.
"Havia a bordo,
entre os companheiros de viagem, certo chinês que se chamava Pedro. Passara
alguns anos na Inglaterra, mas, apesar de conhecer algo do Evangelho, não
reconhecia coisa alguma do seu poder para salvar. Senti-me ligado a ele e
esforcei-me em orar e falar para levá-lo a Cristo. Mas quando o navio se
aproximava de Sung-Kiang e eu me preparava para ir a terra, pregar e distribuir
tratados, ouvi o grito de um homem que caíra na água. Fui ao convés com os
outros - Pedro tinha desaparecido.
"Imediatamente
arriamos as velas, mas a correnteza da maré era tal que não tínhamos a certeza
do lugar onde o homem caíra. Vi alguns pescadores próximos, que usavam uma rede
varredoura. Angustiado clamei:
- Venham passar a
rede aqui, pois um homem está morrendo afogado!- Veh bin, foi a resposta
inesperada, isto é, "Não é conveniente".
- Não falem se é ou
não é conveniente. Venham depressa antes que o homem pereça.
- Estamos pescando.
- Eu sei! Mas venham
imediatamente e pagarei bem.
- Quanto nos quer
dar?
- Cinco dólares, mas
não fiquem conversando. Salvem o homem sem demora!
- Cinco dólares não
basta - responderam eles. Não o faremos por menos de trinta dólares.
- Mas não tenho tanto!
- darei tudo que eu tenho.
- Quanto tem o
senhor?
- Não sei - porém não
é mais do que catorze dólares. "Então os pescadores vieram, passaram a
rede no lugar indicado. Logo à primeira vez apanharam o corpo do homem. Mas
todos os meus esforços para restaurar-lhe a respiração foram inúteis. Uma vida
fora sacrificada pela indiferença dos que podiam salvá-la quase sem
esforço."
Ao ouvirem contar
esta história, uma onda de indignação passou por todo o grande auditório.
Haveria em todo o mundo um povo tão endurecido e interesseiro como esse! Mas ao
continuar o seu discurso, a convicção feriu ainda mais o coração dos ouvintes.
- "O corpo então
tem mais valor que a alma? Censuramos esses pescadores, dizendo que foram
culpados da morte de Pedro, porque era coisa fácil salvá-lo. - Mas que
acontece com os milhões que estamos deixando perecer para toda a eternidade?
Que diremos acerca da ordem implícita: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho
a toda a criatura? Deus nos diz também: 'Livra os que estão destinados à
morte, e os que são levados para a matança, se os puderes retirar. Se disseres:
eis que não o sabemos; porventura aquele que pondera os corações não o
considerará? e aquele que atenta a tua alma não o saberá? não pagará ele ao homem
conforme a sua obra?'
- "Credes que
cada pessoa entre esses milhões da China, tem uma alma imortal e que não há
outro nome debaixo do céu, dado entre os homens a não ser o precioso nome de
Jesus, pelo qual devamos ser salvos? - Credes que Ele, Ele só, é o Caminho, a
Verdade e a Vida e que ninguém vai ao Pai senão por Ele? Se assim o credes,
examinai-vos a vós mesmos para ver se estais fazendo todo o possível para levar
seu nome a todos.
"Ninguém deve
dizer que não é chamado para ir à China. Ao enfrentar tais fatos, todas as
pessoas precisam saber se têm uma chamada para ficarem em casa. Amigo, se não
tens certeza de uma chamada para continuar onde estás, como podes desobedecer
à clara ordem do Salvador, para ir? - Se estás certo, contudo, de estares no
lugar onde Cristo quer, não por causa do conforto ou dos cuidados da vida,
então estás tu orando como convém a favor dos milhões de perdidos da China?
Estás tu usando teus recursos para a salvação deles?"
Certo dia, não muito
depois de haver regressado à Inglaterra, Hudson Taylor, ao completar a
estatística, veio a saber que o número de missionários evangélicos na China
diminuira em vez de aumentar. Apesar de a metade da população pagã estar na
China, o número de missionários durante o ano tinha diminuído de cento e quinze
para somente noventa e um. Começaram a soar aos ouvidos do missionário estas
palavras: "Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; não avisando
tu, não falando para avisar o ímpio acerca do seu caminho ímpio, para salvar a
sua vida. aquele ímpio morrerá na sua maldade, mas o seu sangue da tua mão o
requererei".
Era um domingo, 25 de
junho de 1865, de manhã, à beira-mar. Hudson Taylor, cansado e doente, estava
com alguns amigos em Brighton. Mas não podendo suportar mais o regozijo da
multidão na casa de Deus, retirou-se para andar sozinho nas areias da maré
vazante. Tudo em redor era paz e bonança, mas na alma do missionário rugia uma
tempestade. Por fim, com alívio indizível, clamou: "Tu, Senhor, tu podes
assumir todo o encargo. Com tua chamada, e como teu servo, avançarei, deixando
tudo nas tuas mãos."
Assim "a Missão
do Interior da China foi concebida na sua alma e todas as etapas do seu
progresso realizaram-se por seus esforços. Na calma do seu coração, na comunhão
profunda e indizível com Deus, originou-se a missão. "Com o lápis na mão,
abriu a Bíblia e, enquanto as ondas do vasto mar batiam aos seus pés, escreveu
as simples mas memoráveis palavras: "Orei em Brighton pedindo vinte e
quatro trabalhadores competentes e dispostos, em 25 de junho de 1865".
Mais tarde,
recordando-se da vitória dessa ocasião escreveu:
"Grande foi o
alívio de espírito que senti ao regressar da praia. Depois de findar o
conflito, tudo era gozo e paz. Parecia que me faltava muito pouco para voar até
a casa do senhor Pearse. Na noite desse dia dormi profundamente. A querida
esposa achou que a visita a Brighton serviu para renovar-me maravilhosamente.
Era verdade!"
O vitorioso
missionário, juntamente com a família e os vinte e quatro chamados por Deus,
embarcaram em Londres, no "Lammermuir", para a China em 26 de
setembro de 1865. O anelante alvo de todos era o de erguer a bandeira de
Cristo nas onze províncias ainda não ocupadas da China. Alguns dos amigos os
animaram, mas outros disseram: "Todo o mundo ficará esquecido dos irmãos.
Sem uma junta aqui na Inglaterra ninguém se importará com a obra por muito
tempo. Promessas são fáceis de fazer hoje em dia; dentro de pouco tempo não
terão o pão cotidiano".
A viagem levou mais
que quatro meses. Acerca de uma das tempestades, um dos missionários escreveu:
"Durante todo o
temporal, o senhor Taylor se comportou com a maior calma. Por fim os
marinheiros recusaram-se a trabalhar. O comandante aconselhou todos a bordo a
amarrarem os cintos de salvação, dizendo que o navio não resistiria à força das
ondas mais que duas horas. Nessa altura, o comandante avançou na direção dos
marinheiros com o revólver na mão. O senhor Taylor então aproximou-se dele e
pediu-lhe que não obrigasse dessa forma os marinheiros a trabalhar. O
missionário dirigiu-se também aos homens e explicou-lhes que Deus ia salvá-los,
mas que eram necessários os maiores esforços de todas as pessoas a bordo.
Acrescentou que tanto ele como todos os passageiros estavam prontos a
ajudá-los, e que, como era evidente, as vidas deles também corriam perigo. Os
homens convencidos por esses argumentos começaram a tirar os destroços, ajudados
por todos nós; em pouco tempo conseguimos amarrar os grandes mastros, que
batiam com tanta força que estavam demolindo um lado do navio".
Foram horas de grande
regozijo quando o "Lammermuir", por fim, aportou, com todos sãos a
bordo, em Shanghai. Outro navio que chegou logo após, perdera dezesseis das
vinte e duas pessoas a bordo!
Os missionários
iniciaram o ano de 1867 com um dia de jejum e oração, pedindo, como Jabez, que
Deus os abençoasse e estendesse os seus termos. O Senhor os ouviu dando-lhes
entrada, durante o ano, em outras tantas cidades! Encerraram o ano com outro
dia de jejum e oração. Um culto durou das onze da manhã às três da tarde, sem
ninguém se sentir enfadado. Outro culto se realizou às 8,30 da noite quando
sentiram ainda mais a unção do Espírito Santo. Continuaram juntos em oração até
a meia-noite, quando celebraram a Ceia do Senhor.
No início de 1867, o
Senhor chamou Graça Taylor, filha de Hudson Taylor, para o Lar Eterno, quando
ela completava oito anos de idade. No ano seguinte, a senhora Taylor e o
filho, Noel, faleceram de cólera. Foi assim que se expressou o pai e marido:
"Ao amanhecer o
dia, apareceu à luz do sol o que fora ocultado pela luz de vela - a cor
característica da morte no rosto da minha esposa. O meu amor não podia ignorar
por mais, não somente o seu estado grave, mas que realmente ela estava
morrendo. Ao conseguir acalmar o meu espírito, eu lhe disse:
- Sabes, querida, que
estás morrendo?
- Morrendo! Achas que
sim? Por que pensas tal coisa?
- Posso ver, que sim,
querida. As tuas forças estão se acabando.
- Será mesmo? Não
sinto qualquer dor, apenas cansaço.
- Sim, estás saindo
para a Casa Paterna. Brevemente estarás com Jesus.
"Minha preciosa
esposa, lembrando-se de mim e de como eu devia ficar sozinho, em um tempo de
tão grandes lutas, privado da companheira com a qual tinha o costume de levar
tudo ao trono da graça, disse:- Sinto muito!
Então ela parou, como
que querendo corrigir o que dissera, porém eu lhe perguntei:
- Estás triste por
causa da partida para estar com Jesus?
"Nunca me
esquecerei de como ela olhou para mim e respondeu:
- Oh! não. Bem sabes,
querido, que durante mais de dez anos, não houve sombra alguma entre mim e meu
Salvador. Não estou triste por causa da partida para estar com Ele, mas me
entristeço porque terás de ficar sozinho nessas lutas. Contudo... Ele estará
contigo e suprirá tudo o que é mister."
"Nunca
presenciei uma cena tão comovente" - escreveu o senhor Duncan. -
"Com a última respiração da querida senhora Taylor, o senhor Taylor caiu
de joelhos, o coração transbordando, e a entregou ao Senhor, agradecendo-lhe
a dádiva e os doze anos e meio que passaram juntos. Agradeceu-lhe, também, pela
bênção de Ele mesmo a levar para a sua presença. Então, solenemente dedicou-se
a si mesmo novamente ao serviço do Mestre.
Não é de supor que
Satanás deixasse a Missão do Interior da China invadir seu território com
vinte e quatro outros obreiros, sem incitar o povo a maior perseguição. Foram
distribuídos em muitos lugares, impressos atribuindo aos estrangeiros os mais
horripilantes e bárbaros crimes, especialmente aos que propagavam a religião de
Jesus. Alvoroçaram-se cidades inteiras e muitos dos missionários tiveram de
abandonar tudo e fugir para escapar com vida.
Quase seis anos
depois de o grupo do "Lammermuir" haver desembarcado na China, Hudson
Taylor estava novamente na Inglaterra. Durante esse tempo da obra na China, a
missão aumentava de duas estações com sete obreiros, para treze estações com
mais de trinta missionários e cinquenta obreiros, estando separadas as
estações, uma da outra, na média de cento e vinte quilômetros.
Foi durante essa visita
à Inglaterra que Hudson Taylor se casou com Miss Faulding, também fiel e
provada missionária na China.
Acerca de Hudson
Taylor, nesse tempo, certa pessoa amiga, escreveu:
"O senhor Taylor
anunciou um hino, sentou-se ao harmônio e tocou. Não fui atraído por sua
personalidade. Era de físico franzino e falou com voz mansa. Como os demais
jovens, eu julgava que uma grande voz sempre acompanhava um verdadeiro
prestígio. Mas quando ele disse: 'Oremos e nos dirigiu em oração, mudei de
parecer; eu nunca ouvira alguém orar como ele. Havia na sua oração uma ousadia,
um poder que fez todas as pessoas presentes se humilharem e sentirem-se na
presença de Deus. Falava face a face com Deus como um homem com um amigo. Sem
dúvida, tal oração era o fruto de longa permanência com o Senhor; era como o
orvalho descendo dos céus. Tenho ouvido muitos homens orarem, mas não ouvi
ninguém como o senhor Taylor e o senhor Spurgeon. Ninguém, depois de ouvir
como esses homens oravam, pode esquecer-se de tais orações. Foi a maior
experiência da minha vida ouvir o senhor Spurgeon, quando tomou, como se fosse
a mão do auditório de seis mil pessoas e as levou ao Santo dos Santos. E ouvir
o senhor Taylor rogar pela China era reconhecer algo do que significa a
súplica fervorosa do justo. "
Foi em 1874 quando,
com a esposa, subiam o grande rio Yangtze e ele meditava sobre as nove
províncias que se estendiam dos trópicos de Burma ao planalto de Mongólia e as
montanhas de Tibete, que Hudson Taylor escreveu:
"A minha alma
anseia, e o coração arde pela evangelização de centenas de milhões de
habitantes dessas províncias sem obreiros. Oh! se eu tivesse cem vidas a dar
ou gastar por eles!"
Mas, no meio da
viagem, receberam notícias da morte da fiel missionária Amélia Blatchley, na
Inglaterra. Ela não somente cuidava dos filhos do senhor Taylor, mas também servia
como secretária da Missão.
Grande foi a tristeza
de Hudson Taylor ao chegar à Inglaterra e achar não somente os seus queridos
filhos separados e espalhados, mas a obra da Missão quase paralisada. Mas
isso não foi ainda a sua maior tristeza. Na sua viagem pelo rio Yangtze, o
senhor Taylor, ao descer a escada do navio, levou uma grande queda, caiu sobre
os calcanhares e de tal maneira que o choque ofendeu a espinha dorsal. Depois
que chegou à Inglaterra o incômodo da queda agravou-se até ele ficar acamado.
Sobreveio-lhe então a maior crise da sua vida, justamente quando havia maior
necessidade de seus esforços. Completamente paralítico das pernas, tinha de
passar todo o tempo deitado de costas!
Uma pequena cama era
a sua prisão; é melhor dizer que era a sua oportunidade. Ao pé da cama, na
parede, estava afixado um mapa da China. E ao redor dele, de dia e de noite,
estava a presença divina.
Aí, de costas, mês
após mês, permaneceu o nosso herói, rogando e suplicando ao Senhor a favor da
China. Foi-lhe concedida a fé para pedir que Deus enviasse dezoito
missionários. Em resposta aos seus apelos para oração, escritos com a maior
dificuldade e publicados no jornal, sessenta moços responderam de uma vez.
Dentre eles, vinte e quatro foram escolhidos. Ali, ao lado do leito, ele
iniciou aulas para os futuros missionários e ensinou-lhes as primeiras lições
da língua chinesa - e o Senhor os enviou para a China.
Lê-se o seguinte
acerca de como o missionário inutilizado em corpo, nesse tempo, ficou bom:
"Ele foi tão
maravilhosamente curado, em resposta à oração, que podia cumprir com um
incrível número de suas obrigações. Passou quase todo o tempo das férias, com
seus filhos em Guernsey, escrevendo. Durante os quinze dias que passou ali,
apesar de desejar compartilhar da delícia da linda praia, com seus filhos, saiu
com eles apenas uma vez. Mas as cartas que enviou para a China e outros lugares
valiam mais do que ouro."
Certo missionário
assim escreveu acerca de uma visita que lhe fez na China:
"Nunca me
esquecerei do gozo e da amável maneira com que me saudou. Conduziu-me logo para
o 'escritório' da Missão do Interior da China. Devo dizer que foi para mim uma
surpresa, ou choque, ou ambas as coisas. Os 'móveis' eram caixotes. Uma mesa
estava coberta de inúmeros papéis e cartas. Ao lado do lume havia uma cama,
bem arrumada, tendo um pedaço de tapete a servir de cobertor. Nessa cama o
senhor Taylor descansava de dia e de noite.
"O senhor Taylor,
sem qualquer palavra de desculpa, deitou-se na cama e travamos a palestra mais
preciosa da minha vida. Toda a idéia que eu tinha das qualificações para ser um
'grande homem' foi completamente mudada; não havia nele coisa alguma do
espírito de superioridade. Vi nele o ideal de Cristo, da verdadeira grandeza,
tão evidente que permanece ainda no meu coração, através dos anos, até o
presente momento. Hudson Taylor reconhecia profundamente que, para evangelizar
os milhões da China, era imperioso que os crentes na Inglaterra mostrassem
muito mais de abnegação e sacrifício. - Mas como podia ele insistir em
sacrifício sem primeiramente praticá-lo na sua própria vida? Assim ele,
deliberadamente, cortou da sua vida toda a aparência de conforto e luxo.
"Nas viagens
pelo interior da China, ele, invariavelmente, se levantava para passar uma
hora com Deus antes de clarear o dia, às vezes, para depois dormir novamente.
Quando eu despertava para alimentar os animais, sempre o achava lendo a Bíblia
à luz de vela. Fosse qual fosse o ambiente ou o barulho nas hospedarias
imundas, não descuidava o hábito de ler a Bíblia. Geralmente em tais viagens,
orava de bruços, porque lhe faltavam as forças
para permanecer tanto
tempo de joelhos.
- Qual será o assunto
do seu discurso, hoje? - perguntou-lhe certo crente que viajava com ele, de
trem.
- Não tenho certeza;
ainda não tive tempo de resolver, respondeu-lhe Hudson Taylor.
- Não teve tempo! -
exclamou o homem. - Ora, que faz o senhor a não ser descansar depois de
assentar-se aí?
- Não conheço o que
seja descansar. - foi a resposta calma que ele deu.
"Depois de
embarcarmos em Edinburgo, passei todo o tempo orando e levando todos os nomes
dos membros da Missão do Interior da China, e os problemas de cada um, ao
Senhor."
Está além da nossa
compreensão como no meio de uma das maiores obras de evangelização de toda a
história, ele podia dizer: "Nunca fomos obrigados a abandonar uma porta
aberta, por falta de recursos. Apesar de muitas vezes gastarmos até o último
pêni, a nenhum dos obreiros nacionais nem a nenhum dos missionários, faltou o
prometido 'pão' cotidiano. Os tempos de provações são sempre tempos
abençoados e o que é necessário nunca chega demasiado tarde."
Outro segredo do seu
grande êxito de levar a mensagem de salvação ao interior da China era a
determinação de que a obra não somente continuasse com caráter internacional,
mas também, interdenominacional - que aceitasse missionários dedicados a Deus,
de qualquer nação e de qualquer denominação.
Em 1878, ao regressar
de uma viagem, começou a orar pedindo que Deus enviasse mais trinta
missionários antes de findar o ano de 1879. Diremos, ao lembrarmo-nos do
dinheiro necessário para pagar as passagens e sustentar tantas pessoas, que a
sua fé era grande. Pois bem, vinte e oito pessoas, com os corações acesos pelo
desejo de salvação dos perdidos na China, confiando em Deus para o seu sustento
cotidiano, embarcaram antes de findar o ano de 1878 e mais seis em 1879.
Conversando com um
companheiro de lutas, na cidade de Wuchang, Hudson Taylor começou a enumerar os
pontos estratégicos em que deviam começar logo a evangelizar os dois milhões
de habitantes do vale do grande rio Yangt-ze e o do seu tributário, o rio Hã.
Com menos de cinqüenta ou sessenta novos obreiros, a Missão não podia dar tal
passo - e a própria Missão não tinha mais de um total de cem! Contudo, a
Hudson Taylor foi dada a fé de pedir outros setenta - lembrado das palavras:
"Designou o Senhor ainda outros setenta".
"Reunimo-nos
hoje para passar o dia em jejum e oração" - escreveu Hudson Taylor em 30
de junho de 1872. - "O Senhor nos abençoou grandemente... Alguns passaram
a maior parte da noite em oração... O Espírito Santo nos encheu até nos parecer
ser impossível receber mais sem morrer."
Em certo culto, durante
quase duas horas, louvaram ininterruptamente a Deus pelos setenta obreiros já
recebidos - pela fé. E, em realidade, foram recebidos mais do que setenta, e
dentro do prazo marcado.
O Senhor conduziu a
Missão, pouco a pouco para uma visão ainda mais larga - levou os obreiros a
pedirem ao Senhor outros cem, em 1887. Assim, disse o senhor Stephenson:
"Se me mostrassem uma foto de todos os cem, batida aqui na China, não
seria mais real do que realmente é."
Contudo, Hudson
Taylor não iniciou precipitadamente o programa de orar e se esforçar para
receber mais cem missionários. Como sempre, devia ter certeza da direção de
Deus antes de resolver orar e se esforçar para alcançar o alvo.
Seis vezes mais do
que o número que pediram, se ofereceram para ir! Mas, a Missão rejeitou
fielmente a todos que não concordaram com os princípios declarados desde o
início. Assim, exatamente o número pedido embarcou para a China. - Não foram
cento e um, nem noventa e nove, mas exatamente cem.
Depois da visita de
Hudson Taylor ao Canadá, aos E.U.A. e à Suécia em 1888 e 1889, a Missão do
Interior da China gozou de um dos maiores impulsos para avançar em todos os
anais da história de missões. Assim escreveu depois, o nosso missionário,
acerca do que lhe pesava grandemente no coração durante toda a sua visita à
Suécia:
"Confesso-me
envergonhado de que, até essa ocasião, nunca tinha meditado sobre o que o
Mestre realmente queria dizer ao mandar pregar o Evangelho 'a toda a
criatura'. Esforcei-me durante muitos anos, como muitos outros servos de Deus,
para levar o Evangelho aos lugares mais distantes; planejei alcançar todas as
províncias e muitos dos distritos menores da China, sem compreender o sentido
evidente das palavras do Salvador.
"'a toda a
criatura'? O número total de comunicantes entre os crentes da China não excedia
quarenta mil. Se houvesse outro tanto de aderentes, ou mesmo três vezes mais, e
se cada um levasse a mensagem a oito de seus patrícios - mesmo assim, não
alcançariam mais de um milhão. 'a toda a criatura'! as palavras abrasavam-lhe
o íntimo da alma. Mas como a Igreja, e eu mesmo, falhávamos em aceitá-las
justamente como Cristo queria! Isso eu percebi então; para mim havia apenas uma
saída, a de obedecer.
"Qual será a
nossa atitude para com o Senhor Jesus Cristo quanto a essa ordem? Suprimiremos
o título Penhor', que lhe foi dado, para reconhecê-lo apenas como nosso
Salvador? Aceitaremos o fato de Ele tirar a penalidade do pecado, e
recusaremos a confessarmo-nos comprados por bom preço, e que Ele tem o direito
de esperar a nossa obediência implícita? Diremos que somos os nossos próprios
senhores, prontos a conceder-lhe apenas o que lhe é devido, a Ele que
comprou-nos com seu próprio sangue, com a condição de Ele não pedir demasiado?
As nossas vidas, os nossos queridos, as nossas possessões são somente nossas,
não são dele? Daremos o que acharmos conveniente e obedeceremos à sua vontade
somente se Ele não nos pedir demasiado sacrifício? Estamos prontos a deixar Jesus
Cristo nos levar aos céus, mas não queremos que esse homem 'reine sobre nós'?
"O coração de
todos os filhos de Deus rejeitará, certamente uma afirmação assim formulada.
Mas não é verdade que inumeráveis crentes, em todas as gerações, se
comportaram tal como se isso fosse a base própria para suas vidas? São poucas
as pessoas entre o povo de Deus que reconhecem a verdade de que, ou Cristo é o
Senhor de tudo, ou então não é Senhor de coisa alguma! Se somos nós que
julgamos a Palavra de Deus, e não a Palavra que nos julga; se concedemos a Deus
somente o quanto quisermos então somos nós os senhores e Ele o nosso devedor
e, conseqüentemente, Ele deve ser grato pela esmola que lhe concedemos; deve
sentir-se obrigado por nossa concordância aos seus desejos. Se, ao contrário,
Ele é Senhor então tratemo-lo como Senhor: 'E por que me chamais, Senhor,
Senhor, e não fazeis o que eu digo?'"
Foi assim que Hudson
Taylor, sem esperar, alcançou a mais larga visão da sua vida, a visão que
dominou a última década de seu serviço. Com os cabelos já grisalhos, após cinquenta
e sete anos de experiência, enfrentou o novo sentido de responsabilidade com a
mesma fé e confiança que o caracterizavam quando era mais novo. Sua alma ardia
ao meditar nos alvos antigos! Ficou ainda mais firme ao executar a visão de
outrora!
Foi assim que sentiu
a direção de unificar todos os grupos evangélicos, que trabalhavam na
evangelização da China, para orarem e se esforçarem para aumentar o número de
missionários, enviando-se à China outros mil, dentro de cinco anos. O número exato
enviado à China durante esse prazo, foi de mil cento e cinqüenta e três!
Não é, pois, de
admitir que as forças físicas de Hudson Taylor começassem a faltar, não tanto
pelas privações e cansaço das viagens contínuas, nem pelos esforços
incansáveis em escrever e pregar, nem pelo peso das grandes e inumeráveis
responsabilidades de dirigir a Missão do Interior da China. Os que o conheciam
intimamente sabiam que era um homem gasto de tanto amar.
A gloriosa colheita
de almas na China aumentava cada vez mais. Mas a situação política do país
piorava dia após dia até culminar na Carnificina dos Boxers, no ano de 1900,
quando centenas de crentes foram mortos. Somente da China Inland Mission
pereceram cinqüenta e oito missionários, e vinte e um de seus filhos.
Hudson Taylor, com a
sua esposa, estavam novamente na Inglaterra, quando começaram a chegar
telegrama após telegrama avisando-os dos horripilantes acontecimentos na China;
aquele coração que tanto amava a cada missionário, quase cessou de pulsar.
Acerca desse acontecimento assim se manifestou: "Não sei ler, não sei
pensar, nem mesmo sei orar, mas sei confiar."
Certo dia, alguns
meses depois, Hudson Taylor, com o coração transbordante e as lágrimas
correndo-lhe pelas faces, estava contando o que lera em uma carta que acabara
de receber de duas missionárias, escrita um dia antes de elas morrerem nas mãos
dos boxers. Eis o que ele disse:
"Oh! o gozo de
sair de tal motim de pessoas enfurecidas para estar na sua presença, para ver o
seu sorriso!" Quando pôde continuar, acrescentou: "Elas agora não
estão arrependidas. Têm a imperecível coroa! Andam com Cristo em vestes
brancas, porque são dignas".
Falando acerca de seu
grande desejo de ir a Shanghai, para estar ao lado dos refugiados, ele disse:
"Não sei se poderia ajudá-los, mas sei que me amam. Se pudessem chegar-se
a mim nas tristezas para chorarmos juntos, ao menos poderiam ter um pouco de
conforto." Mas ao lembrar-se de que tal viagem lhe era impossível por
causa da saúde, a sua tristeza parecia maior do que podia suportar.
Apesar de sentir
profundamente a sua incapacidade para trabalhar como de costume, achou grande
conforto em estar com a sua esposa, a qual tanto amava. Findara o tempo em que
deviam passar longos meses e anos separados um do outro, nas lutas em tantos
lugares.
Foi em 30 de julho de
1904 que sua esposa faleceu. "Não sinto nada de dor, nada de dor",
dizia ela, apesar da ânsia em respirar. Então, de madrugada, percebendo a
angústia de espírito do seu marido, pediu-lhe que orasse rogando ao Senhor
que a levasse logo. Foi a oração mais difícil da vida de Hudson Taylor, mas
por amor dela, ele orou pedindo a Deus que libertasse o espírito da sua esposa.
Logo que orou, dentro de cinco minutos cessou a ânsia e não muito depois ela
adormeceu em Cristo.
A desolação de
espírito de Hudson Taylor sentiu depois da partida da sua fiel companheira era
indescritível. Todavia, achou indizível paz nesta promessa: "A minha
graça te basta." Começou a recuperar as forças físicas e na primavera fez
a sua sétima viagem aos E.U.A. Daí fez a última viagem à China, desembarcando
em Shanghai em 17 de abril de 1905.
O valente líder da
Missão, depois de tão prolongada ausência, foi recebido em todos os lugares
com grandes manifestações de amor e estima da parte dos missionários e
crentes, especialmente dos que escaparam dos intraduzíveis espetáculos da
insurreição dos Boxers.
Em Chin-Kiang, o
veterano missionário visitou o cemitério onde estão gravados os nomes de
quatro filhos e o da esposa. As recordações eram motivo de grande gozo, isto é,
o dia da grande reunião se aproximava.
No meio da viagem,
quando visitava as igrejas na China, sem ninguém esperar, nem ele mesmo,
findou a sua carreira na terra. Isso aconteceu na cidade de Chang-sha em 3 de
junho de 1905. Sua nora contou o seguinte, sobre esse acontecimento:"O
querido papai estava deitado. Como sempre gostava de fazer, tirou as cartas,
dos queridos, da sua carteira e as estendeu sobre a cama. Baixou-se para ler
uma das cartas perto do candeeiro aceso colocado na cadeira ao lado do leito.
Para que ele não se sentisse demasiadamente incomodado, puxei outro
travesseiro e o coloquei por baixo da sua cabeça e assentei-me numa cadeira ao
seu lado. Mencionei as fotografias da revista, Missionary Review, que estava
aberta sobre a cama. Howard tinha saído para ir buscar algo para comer, quando
papai, de repente, virou a cabeça e abriu a boca como se quisesse espirrar.
Abriu a boca a segunda, e a terceira vez. Não clamou; não pronunciou qualquer
palavra. Não mostrou qualquer dificuldade para respirar - nada de ânsia. Não
olhou para mim, e não parecia cônscio... Não era a morte, era a entrada na
vida imortal. Seu semblante era de descanso e sossego. Os vincos do rosto
feitos pelo peso da luta de longos anos pareciam haver desaparecido em poucos
momentos. Parecia dormir como criança no colo da mãe; o próprio quarto parecia
cheio de indizível paz."
Na cidade de
Chin-Kiang, à beira do grande rio que tem a largura de mais de dois
quilômetros, foi enterrado o corpo de Hudson Taylor.
Muitas foram as
cartas de condolências recebidas de fiéis filhos de Deus no mundo inteiro.
Emocionante foram os cultos celebrados em vários países, em sua memória.
Impressionantes foram os artigos e livros impressos acerca das suas vitórias na
obra de Deus. Mas as vozes mais destacadas, as que Hudson Taylor apreciaria
mais, se pudesse ouvi-las, eram as das muitas crianças chineses, que, cantando
louvores a Deus, deitaram flores sobre o seu túmulo.
(extraido do livro
hérois da fé)
JOÃO BUNYAN
SONHADOR IMORTAL
(1628-1688) - "Caminhando
pelo deserto deste mundo, parei num sítio onde havia uma caverna (a prisão de
Bedford): ali deitei-me para descansar.
Em breve adormeci e
tive um sonho. Vi um homem coberto de andrajos, de pé, e com as costas voltadas
para a sua habitação, tendo sobre os ombros uma pesada carga e nas mãos um
livro".
Faz três séculos que
João Bunyan assim iniciou o seu livro, o Peregrino. Os que conhecem as suas
obras literárias podem testificar de que ele é, de fato, "o Sonhador
Imortal" - "Estando ele morto, ainda fala". Contudo, enquanto
miríades de crentes conhecem o Peregrino, poucos conhecem a história da vida
de oração desse valente pregador.
Bunyan, na sua obra,
Graça Abundante ao Principal dos Pecadores, nos informa que seus pais, apesar
de viverem em extrema pobreza, conseguiram ensiná-lo a ler e escrever. Ele
mesmo se intitulou a si próprio de "o principal dos pecadores";
outros atestam que era "bem-sucedido" até na impiedade. Contudo,
casou-se com uma moça de família cujos membros eram crentes fervorosos Bunyan
era funileiro e, como acontecia com todos os funileiros, era paupérrimo; ele
não possuía um prato nem uma colher - apenas dois livros: O Caminho do Homem
Simples para os Céus e A Prática da Piedade, obras que seu pai, ao falecer, lhe
deixara. Apesar de Bunyan achar algumas coisas que lhe interessavam nesses dois
livros, somente nos cultos é que se sentiu convicto de estar no caminho para o
Inferno.
Descobre-se nos
seguintes trechos, copiados de Graça Abundante ao Principal dos Pecadores, como
ele lutava em oração no tempo da sua conversão:
"Veio-me às mãos
uma obra dos 'Ranters', livro estimado por alguns doutores. Não sabendo julgar
os méritos dessas doutrinas, dediquei-me a orar desta maneira: 'Ó Senhor, não
sei julgar entre o erro e a verdade. Senhor, não me abandones por aceitar ou
rejeitar essa doutrina cegamente; se ela for de ti, não me deixes desprezá-la;
se for do Diabo, não me deixes abraçá-la!' - e, louvado seja Deus, Ele que me
dirigiu a clamar; desconfiando na minha própria sabedoria, Ele mesmo me guarda
do erro dos 'Ranters'. A Bíblia já era para mim muito preciosa nesse
tempo."
"Enquanto eu me
sentia condenado às penas eternas, admirei-me de como o próximo se esforçava
para ganhar bens terrestres, como se esperasse viver aqui eternamente... Se eu
pudesse ter a certeza da salvação da minha alma, como se sentiria rico, mesmo
que não tivesse mais para comer a não ser feijão."
"Busquei o
Senhor, orando e chorando e do fundo da alma clamei: 'Ó Senhor, mostra-me, eu
te rogo, que me amas com amor eterno!' Logo que clamei, voltaram para mim as
palavras, como um eco: 'Eu te amo com amor eterno!' Deitei-me para dormir em
paz e, ao acordar, no dia seguinte, a mesma paz permanecia na minha alma. O Senhor
me assegurou: 'Amei-te enquanto vivias no pecado, amei-te antes, amo-te depois
e amar-te-ei por todo o sempre'."
"Certa manhã,
enquanto tremia na oração, porque pensava que não houvesse palavra de Deus para
me sossegar, Ele me deu esta frase: 'A minha graça te basta'. "O meu
entendimento foi tão iluminado como se o Senhor Jesus olhasse dos céus para
mim, pelo telhado da casa, e me dirigisse essas palavras. Voltei para casa
chorando, transbordando de gozo e humilhado até o pó."
"Contudo, certo
dia, enquanto andava no campo, a consciência inquieta, de repente estas
palavras entraram na minha alma: 'Tua justiça está nos céus.' E parecia que,
com os olhos da alma, via Jesus Cristo à destra de Deus, permanecendo ali como
minha justiça... Vi, além disso, que não é o meu bom coração que torna a minha
justiça melhor, nem que a prejudica; porque a minha justiça é o próprio Cristo,
o mesmo ontem, hoje e para sempre. As cadeias então caíram-me das pernas;
fiquei livre das angústias; as tentações perderam a força; o horror da
severidade de Deus não mais me perturbava, e voltei para casa regozijando-me na
graça e no amor de Deus. Não achei na Bíblia a frase: 'Tua justiça está nos
céus.' Mas achei 'o qual para nós foi feito por Deus sabedoria e justiça, e
santificação, e redenção' (1 Coríntios 1.30) e vi que a outra frase era
verdade.
"Enquanto eu
assim meditava, o seguinte trecho das Escrituras penetrou no meu espírito com
poder: 'Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua
misericórdia, nos salvou.' Assim fui levantado para as alturas e me achava nos
braços da graça e misericórdia. Antes temia a morte, mas depois clamei: 'Quero
morrer.' A morte tornou-se para mim uma coisa desejável. Não se vive
verdadeiramente antes de passar para a outra vida. 'Oh!' - pensava eu - 'esta
vida é apenas um sonho em comparação à outra!' Foi nessa ocasião que as
palavras 'herdeiros de Deus' se tornaram tão cheias de sentido, que eu não
posso explicar aqui neste mundo. 'Herdeiros de Deus!' O próprio Deus é a porção
dos santos. Isso vi e disso me admirei, contudo, não posso contar o que vi...
Cristo era um Cristo precioso na minha alma, era o meu gozo; a paz e o triunfo
por Cristo eram tão grandes que tive dificuldade em conter-me e ficar
deitado."
Bunyan, na sua luta
para sair da escravidão do vício e do pecado, não fechava a alma dos perdidos
que ignoravam os horrores do inferno. Acerca disto ele escreveu:
"Percebi pelas
Escrituras que o Espírito Santo não quer que os homens enterrem os seus
talentos e dons, mas antes que despertem esses dons... Dou graças a Deus, por
me haver concedido uma medida de entranhas e compaixão, pela alma do próximo,
e me enviou a esforçar-me grandemente para falar uma palavra que Deus pudesse
usar para apoderar-se da consciência e despertá-la. Nisso o bom Senhor
respondeu ao apelo de seu servo, e o povo começou a mostrar-se comovido e
angustiado de espírito ao perceber o horror do seu pecado e a necessidade de
aceitar a Jesus Cristo."
"De coração,
clamei a Deus com grande insistência que Ele tornasse a Palavra eficaz para a
salvação da alma... De fato, disse repetidamente ao Senhor que, se o meu
enforcamento perante os olhos dos ouvintes servisse para despertá-los e
confirmá-los na verdade, eu o aceitaria alegremente."
"O maior anelo
em cumprir meu ministério era o de entrar nos lugares mais escuros do país...
Na pregação, realmente, sentia dores de parto para que nascessem filhos para
Deus. Sem fruto, não ligava importância a qualquer louvor aos meus esforços;
com fruto, não me importava com qualquer oposição."
Os obstáculos que
Bunyan tinha de encarar eram muitos e variados. Satanás, vendo-se grandemente
prejudicado pela obra desse servo de Deus, começou a levantar barreiras de
todas as formas. Bunyan resistia fielmente a todas as tentações de
vangloriar-se sobre o fruto de seu ministério e cair na condenação do Diabo.
Quando, certa vez, um dos ouvintes lhe disse que pregara um bom sermão, ele
respondeu: "Não precisa dizer-me isso, o Diabo já cochichou a mesma coisa
no meu ouvido antes de sair da tribuna."
Então o inimigo das
almas suscitou os ímpios para caluniá-lo e espalhar boatos em todo o país, a
fim de induzi-lo a abandonar seu ministério. Chamavam-no de feiticeiro,
jesuíta, cangaceiro e afirmavam que vivia amancebado, que tinha duas esposas e
que os seus filhos eram ilegítimos.
Quando o Maligno
falhou em todos esses planos de desviar Bunyan do seu ministério glorioso, os
inimigos denunciaram-no por não observar os regulamentos dos cultos da igreja
oficial. As autoridades civis o sentenciaram à prisão perpétua, recusando
terminantemente a revogação da sentença, apesar de todos os esforços de seus
amigos e dos rogos da sua esposa - tinha de ficar preso até se comprometer a
não mais pregar.
Acerca da sua prisão,
ele diz: "Nunca tinha sentido a presença de Deus ao meu lado em todas as
ocasiões como depois de ser encerrado... fortalecendo-me tão ternamente com
esta ou aquela Escritura até me fazer desejar, se fosse lícito, maiores
provações para receber maiores consolações".
"Antes de ser
preso, eu previa o que aconteceria, e duas coisas ardiam no coração, acerca de
como podia encarar a morte, se chegasse a tal ponto. Fui dirigido a orar
pedindo a Deus me fortalecesse com toda a força, segundo o poder da sua glória,
em toda a fortaleza e longanimidade, dando com alegria graças ao Pai. Quase
nunca orei, durante o ano antes de ser preso, sem que essa Escritura me
entrasse na mente e eu compreendesse que para sofrer com toda a paciência
devia ter toda a fortaleza, especialmente para sofrer com alegria."
"A segunda
consideração foi na passagem que diz: 'Mas nós temos tido dentro de nós mesmos
a sentença de morte para que não confiássemos em nós mesmos, porém em Deus que
ressuscita os mortos'. Cheguei a ver, por essa Escritura que, se eu chegasse a
ponto de sofrer como devia, primeiramente tinha de sentenciar à morte todas as
coisas que pertencem à nossa vida, considerando-me a mim mesmo, minha esposa,
meus filhos, a saúde, os prazeres, tudo, enfim, como mortos para comigo e eu morto
para com eles.
"Resolvi, como
Paulo disse, não olhar para as coisas que se vêem, mas sim, para as que se não
vêem, porque as coisas que se vêem, são temporais, mas as coisas que se não
vêem, são eternas. E compreendi que se eu fosse prevenido apenas de ser preso,
poderia, de improviso, ser chamado, também, para ser açoitado, ou amarrado ao
pelourinho. Ainda que esperasse apenas esses castigos, não suportaria o castigo
de desterro. Mas a melhor maneira para passar os sofrimentos seria confiar em
Deus, quanto ao mundo vindouro; quanto a este mundo, devia considerar o
sepulcro como minha morada, estender o meu leito nas trevas, dizer à corrupção:
Tu és meu pai', e aos vermes: 'Vós sois minha mãe e minha irmã' (Jó 17.13,14).
"Contudo, apesar
desse auxílio, senti-me um homem cercado de fraquezas. A separação da minha
esposa e de nossos filhos, aqui na prisão torna-se, às vezes, como se fosse a
separação da carne dos ossos. E isto não somente porque me lembro das
tribulações e misérias que meus queridos têm de sofrer; especialmente a
filhinha cega. Minha pobre filha, quão triste é a tua porção neste mundo!
Serás maltratada, pedirás esmolas; passarás fome, frio, nudez e outras
calamidades! Oh! os sofrimentos da minha ceguinha quebrar-me-iam o coração aos
pedaços!"
"Eu meditava
muito, também, sobre o horror ao Inferno para os que temiam a Cruz a ponto de
se recusarem a glorificar a Cristo, suas palavras e leis perante os filhos dos
homens. Além do mais, pensava sobre a glória que Ele preparara para os que, em
amor, fé e paciência, testificavam dele. A lembrança destas coisas serviam para
diminuir a mágoa que sentia ao lembrar-me de que eu e meus queridos sofriam
pelo testemunho de Cristo".
Nem todos os horrores
da prisão abalaram o espírito de João Bunyan. Quando lhes ofereciam a sua
liberdade sob a condição de ele não pregar mais, respondia: "Se eu sair
hoje da prisão, pregarei amanhã, com o auxílio de Deus".
Mas se alguém pensar
que, afinal de contas, João Bunyan era apenas um fanático, deve ler e meditar
sobre as obras que nos deixou: Graça Abundante ao Principal dos Pecadores;
Chamado ao Ministério; O Peregrino; A Peregrina; A Conduta do Crente; A Glória
do Templo; O Pecador de Jerusalém é Salvo; As Guerras da Famosa Cidade de
Alma-humana; A vida e a Morte de Homem Mau; O Sermão do Monte; A Figueira
Infrutífera; Discursos Sobre Oração; O Viajante Celestial; Gemidos de Uma Alma
no Inferno; A Justificação é Imputada, etc.
Passou mais de doze
anos encarcerado. É fácil dizer que foram doze longos anos, mas é difícil
conceber o que isso significa - passou mais da quinta parte da sua vida na
prisão, na idade de maior energia. Foi um quacre, chamado Whitehead, que
conseguiu a sua libertação. Depois de liberto, pregou em Bedford, Londres, e
muitas outras cidades. Era tão popular, que foi alcunhado de "Bispo
Bunyan". Continuou o seu ministério fielmente até a idade de sessenta
anos, quando foi atacado de febre e faleceu. O seu túmulo é visitado por dezenas
de milhares de pessoas.
- Como se explica o
êxito de João Bunyan? O orador, o escritor, o pregador, o professor da E scola
Dominical e o pai de família, cada um conforme o seu ofício, pode lucrar
grandemente com um estudo do estilo e méritos de seus escritos, apesar de ele
ter sido apenas um humilde funileiro, sem instrução.
- Mas como se pode
explicar o maravilhoso sucesso de Bunyan? Como pode um iletrado pregar como ele
pregava e escrever num estilo capaz de interessar à criança e ao adulto; ao
pobre e ao rico; ao douto e ao indouto? A única explicação do seu êxito é que
"ele era um homem em constante comunhão com Deus". Apesar de seu
corpo estar preso no cárcere, a sua alma estava liberta. Porque foi ali, numa
cela, que João Bunyan teve as visões descritas nos seus livros - visões muito
mais reais do que os seus perseguidores e as paredes que o cercavam. Depois de
desaparecerem os perseguidores da terra e as paredes caírem em pó, o que
Bunyan escreveu continua a iluminar e alegrar a todas as terras e a todas as
gerações.
O que vamos citar
mostra como Bunyan lutava com Deus em oração:
"Há, na oração,
o ato de desvelar a própria pessoa, de abrir o coração perante Deus, de
derramar afetuosamente a alma em pedidos, suspiros e gemidos. 'Senhor', disse
Davi, 'diante de ti está todo o meu desejo e o meu gemido não te é oculto'
(Salmo 38.9). E outra vez: 'A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando
entrarei e me apresentarei ante a face de Deus? Quando me lembro disto, dentro
de mim derramo a minha alma!' (Salmo 42.2-4). Note: 'Derramo a minha alma!' é
um termo demonstrativo de que em oração sai a própria vida e toda a força para
Deus".
Em outra ocasião
escreveu: "As melhores orações consistem, às vezes, mais de gemidos do
que de palavras e estas palavras não são mais que a mera representação do coração,
vida e espírito de tais orações".
Como ele insistia e
importunava em oração a Deus, é claro no trecho seguinte: "Eu te digo:
Continua a bater, chorar, gemer e prantear; se Ele se não levantar para te dar,
porque és seu amigo, ao menos por causa da tua importunação, levantar-se-á
para dar-te tudo o que precisares".
Sem contestação, o
grande fenômeno da vida de João Bunyan consistia no seu conhecimento íntimo das
Escrituras, as quais amava; e na perseverança em oração ao Deus que adorava.
Se alguém duvidar de que Bunyan seguia a vontade de Deus nos doze longos anos
que passou na prisão de Bedford, deve lembrar-se de que esse servo de Cristo,
ao escrever O Peregrino, na prisão de Bedford, pregou um sermão que já dura
quase três séculos e que hoje é lido em cento e quarenta línguas. É o livro de
maior circulação depois da Bíblia. Sem tal dedicação a Deus, não seria
possível conseguir o incalculável fruto eterno desse sermão pregado por um
funileiro cheio da graça de Deus!
(extraido do livro
hérois da fé)
JOÃO PATON
MISSIONÁRIO AOS ANTROPÓFAGOS
(1824-1907) - Perto
de Dalswinton, na Escócia, morava um casal conhecido em toda a região como os
velhos Adão e Eva. A esse lar veio em visita uma sobrinha, Janete Rogerson. É
de supor-se que não houvesse muita coisa na casa isolada dos velhos para
distrair a jovem, sempre viva e alegre.
Mas uma coisa
atraiu-lhe o interesse: um rapaz chamado Tiago Paton, que entrava, dia após
dia, no matagal perto da casa. Levava sempre um livro na mão, como se fosse
ali para estudar e meditar. Certo dia, a moça, vencida pela curiosidade,
entrou furtivamente por entre as árvores e espiou o rapaz recitando os Sonetos
Evangélicos de Erskine. A sua curiosidade tornou-se em santa admiração quando o
jovem, deixando o chapéu no chão, ajoelhou-se debaixo duma árvore para
derramar a alma em oração perante Deus. Ela, espírito de brincalhona, avançou e
pendurou o chapéu em um galho que estava próximo. Em seguida escondeu-se onde
podia, sem ser vista, para presenciar o rapaz perplexo, a procurar o chapéu.
No dia seguinte a cena se repetiu. Mas o coração da moça comoveu-se ao ver a
perturbação do rapaz, imóvel por alguns minutos com o chapéu na mão. Foi assim
que ele, ao voltar no dia seguinte ao lugar onde se ajoelhava diariamente, achou
um cartão preso na árvore. No cartão leu: "A pessoa que escondeu seu
chapéu confessa-se sinceramente arrependida de tê-lo feito e pede que ore,
rogando a Deus que a torne crente tão sincera como o senhor".
O jovem fitou por
algum tempo o cartão esquecendo-se completamente naquele dia dos sonetos. Por
fim, tirou o cartão da árvore. Estava reprovando a si mesmo e à sua estupidez
por não saber que fora um ser humano quem escondera o chapéu duas vezes,
quando, por entre as árvores, uma moça, balde na mão e cantando um hino
escocês, passou na frente da casa do velho Adão.
Naquele momento, o
moço, por instinto divino e tão infalivelmente, como por qualquer voz que
jamais falara a um profeta de Deus, sabia que a visita angélica que invadira
seu retiro de oração fora a gentil e hábil sobrinha dos velhos Adão e Eva.
Tiago Paton ainda não conhecia Janete Rogerson, mas ouvira falar nas suas
extraordinárias qualificações intelectuais e espirituais.
E provável que Tiago
Paton começasse a orar por ela -em um sentido diferente daquele que ela pedira.
De qualquer forma, a moça furtara não somente o chapéu do rapaz, mas também,
o seu leal coração - um furto que resultou, por fim, no casamento dos dois.
Tiago Paton,
fabricante de meias no condado de Dunfries, e sua esposa Janete, andavam, como
Zacarias e Isabel na Antiguidade, irrepreensíveis perante o Senhor. Ao
nascer-lhes o primogênito, deram-lhe o nome de João, dedicando-o solenemente a
Deus, com oração, para ser missionário ao povos que não tinham oportunidade de
conhecer a Cristo.
Entre a casa própria,
em que morava a família dos Patons, e a parte que servia de fábrica, havia um
pequeno aposento. Acerca desse quarto, João Paton escreveu:
"Era o santuário
de nossa humilde casa. Várias vezes ao dia, geralmente depois das refeições, o
nosso pai entrava nesse quarto e, 'fechada a porta', orava. Nós, seus filhos,
compreendíamos, como se fosse por instinto espiritual, que se derramavam
orações por nós, como fazia na antiguidade o sumo sacerdote, quando entrava no
Santo dos Santos, em favor do povo. De vez em quando se ouvia o eco duma voz em
tons de quem suplica pela vida; passávamos pela porta nas pontinhas dos pés,
de modo a não perturbar a santa e íntima conversação. O mundo lá fora não
sabia de onde vinha o gozo que brilhava no rosto de nosso pai, mas nós, seus
filhos, o sabíamos: era o reflexo da presença divina, que era sempre uma
realidade para ele na vida cotidiana. Nunca espero, quer num templo, quer nas
serras, quer nos vales, sentir Deus mais perto, mais visível, andando e
conversando mais intimamente com os homens do que naquela humilde casa coberta
de palha. Se, por uma catástrofe indizível, tudo quanto pertence à religião
fosse apagado da memória, minha alma reverteria de novo ao tempo da minha mocidade:
ela fechar-se-ia naquele santuário e, ao ouvir novamente os ecos daquelas
súplicas a Deus, lançaria para longe toda a dúvida com este grito vitorioso:
'Meu pai andava com Deus; porque não posso eu também andar?'".
Na autobiografia de
João Paton, vê-se que as suas lutas diárias eram grandes. Mas o que lemos
abaixo revela qual a força que operava para que ele sempre avançasse na obra de
Deus.
"Antes,
realizava-se culto doméstico na casa de meus avós somente aos domingos, mas meu
pai convenceu primeiro a minha avó a orar, ler um trecho da Bíblia e cantar um
hino diariamente, pela manhã e à noite; depois todos os membros da família
seguiram esse costume. Foi assim que meu pai começou, aos dezessete anos de
idade, o bendito costume de fazer cultos matutinos e vespertinos em casa;
costume que observou, talvez sem uma única exceção, até se achar no leito de
morte, com setenta e sete anos de idade, quando, no último dia da sua vida, uma
passagem das Escrituras foi lida, e ouviu-se sua voz na oração. Nenhum dos
filhos se recorda de um só dia que não fosse assim santificado; muitas vezes
havia pressa em atender a um negócio; inúmeras vezes chegavam os amigos, mas
nada impedia que nos ajoelhássemos em redor do altar familiar, enquanto o 'sumo
sacerdote' dirigia as nossas orações a Deus e se oferecia a si mesmo e a seus
filhos ao mesmo Senhor. A luz de tal exemplo era uma bênção, tanto para o
próximo, como para a nossa família. Muitos anos depois, contaram-me que a mais
depravada mulher da vila, uma mulher da rua, mas depois salva e transformada
pela graça divina, declarou que a única coisa que evitou o seu suicídio foi
que, numa noite escura, perto da janela da casa de meu pai, ouviu-o implorando
no culto doméstico, que Deus convertesse 'o ímpio do erro do seu caminho e o
fizesse luzir como uma jóia na coroa do Redentor'.' Vi', disse ela, 'como eu
era um grande peso sobre o coração desse bom homem e sabia que Deus responderia
à sua súplica. Foi por causa dessa certeza que não entrei no Inferno e que
achei o único Salvador'".
Não é de admirar que,
em tal ambiente, três dos onze filhos de Tiago Paton: João, Valter e Tiago,
fossem constrangidos a dar suas vidas à obra mais gloriosa, a de ganhar
almas. Não julgamos estar esse ponto completo sem lhe acrescentar mais um
trecho dessa autobiografia:
"Até que ponto
fui impressionado nesse tempo pelas orações de meu pai, não posso dizer, nem
ninguém pode compreender. Quando de joelhos, e todos nós ajoelhados em redor
dele no culto doméstico, ele derramava toda a sua alma em oração, com lágrimas,
não só por todas as necessidades pessoais e domésticas, mas também pela
conversão da parte do mundo onde não havia pregadores para servirem a Jesus,
sentíamo-nos na presença do Salvador vivo e chegamos a conhecê-lo e a amá-lo como
nosso Amigo divino. Ao levantarmo-nos da oração, eu costumava olhar para a luz
do rosto do meu pai e cobiçava o mesmo espírito; anelava, em resposta às suas
orações, pela oportunidade de me preparar e sair, levando o bendito Evangelho
a uma parte do mundo então sem missionários".
Acerca da disciplina
do lar, eis o que ele escreveu: "Se houvesse algo realmente sério para
corrigir, meu pai se retirava primeiramente para o quarto de oração e nós
compreendíamos que ele levava o caso a Deus; essa era a parte mais severa do
castigo para mim! Eu estava pronto a encarar qualquer penalidade, mas o que
ele fazia penetrava na minha consciência como uma mensagem de Deus. Amávamos
ainda mais o nosso pai ao ver quanto tinha de sofrer para nos castigar, e, de fato,
tinha muito pouco a castigar-nos, pois - dirigia a todos nós, onze filhos,
muito mais pelo amor do que pelo temor".
Por fim chegou o dia
em que João tinha de deixar o lar paterno. Sem o dinheiro para a passagem e com
tudo que possuía, inclusive uma Bíblia embrulhada num lenço, saiu a pé para
trabalhar e estudar em Glasgow. O pai o acompanhou até uma distância de nove
quilômetros. O último quilômetro, antes de se separarem um do outro, os dois
caminhavam sem poderem falar uma só palavra - o filho sabia pelo movimento
dos lábios do pai que este orava em seu coração por ele. Ao chegarem ao lugar
combinado para se separarem, o pai balbuciou: "Deus te abençoe, meu
filho! O Deus de teu pai te prospere e te guarde de todo o mal". Depois
de se abraçarem, o filho saiu correndo enquanto o pai, em pé, no meio da
estrada, imóvel, o chapéu na mão e com lágrimas correndo pelas faces, continuava
a orar em seu coração.
Alguns anos depois, o
filho testificou de que essa cena, gravada na sua alma, o estimulava como um fogo
inextinguível a não desapontar o pai no que esperava dele, seu filho, que
seguisse o seu bendito exemplo de andar com Deus.
Durante os três anos
de estudos em Glasgow, apesar de trabalhar com as próprias mãos para se
sustentar, João Paton, no gozo do Espírito Santo, fez uma grande obra na seara
do Senhor. Contudo, soava-lhe constantemente aos ouvidos o clamor dos selvagens
nas ilhas do Pacífico e isso foi, antes de tudo, o assunto que ocupava as suas
meditações e orações diárias. Havia outros para continuar a obra que fazia em
Glasgow, mas quem desejava levar o Evangelho a esses pobres bárbaros?!
Ao declarar sua
resolução de trabalhar entre os antropófagos das Novas Hébridas, quase todos
os membros da sua igreja se opuseram à sua saída. Um muito estimado irmão
assim se exprimiu: "Entre os antropófagos! será comido por eles!" A
isso João Paton respondeu: 'O irmão é muito mais velho que eu, breve será
sepultado e comido por vermes; declaro ao irmão que, se eu conseguir viver e
morrer servindo o Senhor Jesus e honrando o seu nome, não me importarei ser
comido por antropófagos ou por vermes; no grande dia da ressurreição, o meu
corpo se levantará tão belo como o seu, na semelhança do Redentor
ressuscitado".
De fato, as Novas
Hébridas haviam sido batizadas com sangue de mártires. Os dois missionários,
Williams e Harris, enviados para evangelizar essas ilhas, poucos anos antes
desse tempo, foram mortos a cacetadas, e seus cadáveres cozidos e comidos.
"Os pobres selvagens não sabiam que assassinavam seus amigos mais fiéis;
assim os crentes em todos os lugares, ao receberem as notícias do martírio dos
dois, oraram com lágrimas por esses povos."
E Deus ouviu as
súplicas, chamando, entre outros, a João Paton. Porém, a oposição à sua saída
era tal, que ele resolveu escrever a seus pais; pela resposta veio a saber que
eles o haviam dedicado para tal serviço, no dia do seu nascimento. Desde esse
momento, João Paton não mais duvidou da vontade de Deus, e assentou no seu
coração gastar a vida servindo aos indígenas das ilhas do Pacífico.
O nosso herói conta
muitas coisas de interesse acerca da longa viagem à vela para as Novas
Hébridas. Quase no fim da viagem, quebrou-se o mastro do navio. As águas os
levavam lentamente para Tana, uma ilha de antropófagos, onde a bagagem teria
sido saqueada e todos a bordo cozidos para serem comidos. Contudo, Deus ouvira
suas súplicas e alcançaram uma outra ilha. Alguns meses depois, foram à mesma
ilha de Tana, onde conseguiram comprar o terreno dos silvícolas e edificar uma
casa. Comove o coração ler que construíram a casa sobre os mesmos alicerces
lançados pelo missionário Turner, quinze anos antes, o qual teve de fugir da
ilha para escapar de ser morto e comido pelos selvagens.
Acerca da sua
primeira impressão sobre o povo, Paton escreveu: "Fui levado ao maior
desespero. Ao vê-los na sua nudez e miséria, senti tanto horror como compaixão.
Eu tinha deixado a obra entre os amados irmãos em Glasgow, obra em que sentia
muito gozo, para dedicar-me a criaturas tão degeneradas. Perguntei-me a mim
mesmo: - 'É possível ensiná-las a distinguir entre o bem e o mal, e levá-las a
Cristo, ou mesmo a civilizá-las? Mas tudo isso eram apenas sentimentos
passageiros. Logo senti um desejo tão profundo de levá-los ao conhecimento e
amor de Jesus, como jamais sentira quando trabalhava em Glasgow .
Antes de completar a
casa em que o casal Paton iria morar, houve uma batalha entre duas tribos. As
mulheres e crianças fugiram para a praia onde conversavam e riam ruidosamente,
como se seus pais e irmãos estivessem ocupados em algum trabalho pacífico. Mas
enquanto os selvagens gritavam e se empenhavam em conflitos sangrentos, os
missionários entregavam-se à oração por eles. Os cadáveres dos mortos foram
levados pelos vencedores a uma fonte de água fervente, onde foram cozidos e
comidos. A noite ainda se ouvia pranto e gritos prolongados nas vilas em redor.
Os missionários foram informados de que um guerreiro, ferido na batalha,
acabara de morrer em casa. A sua viúva foi estrangulada imediatamente, conforme
o costume, para que o seu espírito acompanhasse o do marido e lhe continuasse
a servir de escrava.
Os missionários,
então, nesse ambiente da mais repugnante superstição, da mais baixa crueldade
e da mais flagrante imoralidade, esforçavam-se para aprender a usar todas as
palavras possíveis desse povo que não conhecia a escrita. Anelavam falar de
Jesus e do amor de Deus a esses seres que adoravam árvores, pedras, fontes,
riachos insetos, espíritos dos homens falecidos, relíquias de cabelos e unhas,
astros, vulcões, etc.
A esposa de Paton era
uma ajudadora esforçada e dentro de poucas semanas reuniu oito mulheres da
ilha e as instruía diariamente. Três meses depois da chegada dos missionários à
ilha, a esposa de Paton faleceu de maleita e um mês depois o filhinho também
morreu. - Quem pode avaliar as saudades de Paton, durante os anos que
trabalhou sem ajudadora em Tana?! Apesar de quase haver morrido também de
maleita, de os crentes insistirem para que voltasse à sua terra, e de os
indígenas fazerem plano após plano de matá-lo para o comerem, esse herói
permaneceu orando e trabalhando fielmente no posto onde Deus o colocara.Um
templo foi construído e um bom número se congregava para ouvir a mensagem
divina. Paton não somente conseguiu reduzir a língua dos tanianos à forma
escrita, mas também traduziu uma parte das Escrituras, a qual imprimiu, apesar
de não conhecer a arte tipográfica. Acerca dessa gloriosa façanha de imprimir
o livro em Taniano, assim escreveu: "Confesso que gritei de alegria quando
a primeira folha saiu do prelo, tendo todas as páginas na ordem própria; era
uma hora da madrugada. Eu era o único homem branco na ilha e havia horas em que
todos os nativos dormiam. Contudo, atirei ao ar o chapéu e dancei como um
menino, por algum tempo, ao redor do prelo".
- "Terei eu
perdido a razão? Não devia, como missionário, estar de joelhos louvando a
Deus, por mais esta prova de sua graça? Crede, amigos, o meu culto foi tão
sincero como o de Davi, quando dançou diante da Arca do seu Deus! Não deveis
pensar que, depois de pronta a primeira página, eu não me tivesse ajoelhado
pedindo ao Todo-Poderoso que propagasse a luz e a alegria do seu Santo Livro
nos corações entenebrecidos dos habitantes daquela terra inculta".
Depois de Paton haver
passado três anos em Tana, o casal de missionários que vivia na ilha vizinha,
Erromanga, foi martirizado barbaramente a machadadas, em pleno dia. Ao
completar quatro anos de estada em Tana, o ódio dos indígenas dessa ilha chegou
ao auge. Diversas tribos combinaram matar o "indefeso" missionário e
findar, assim, com a religião do Deus de amor, em toda a ilha. Contudo, como
ele mesmo se declarava imortal até findar sua obra na terra, evitava, em pleno
campo, os inúmeros golpes de lanças, machadinhas e cacetes, armados pelas mãos
dos indígenas, e assim conseguiu escapar para a ilha de Aneitium. Planejou
então ocupar-se na obra de tradução do resto dos Evangelhos na língua taniana,
enquanto esperava a oportunidade de voltar a Tana. Contudo, sentiu-se dirigido
a aceitar a chamada para ir à Austrália. Em poucos meses, animou as igrejas
ali a comprarem um navio à vela, para servir aos missionários. Despertou-as,
também, a contribuírem liberalmente e a enviarem mais missionários a
evangelizar todas as ilhas.
Acerca da sua viagem
à Escócia, depois de alguns anos nas Novas Hébridas, ele escreveu: "Fui,
de trem, a Dunfries e lá achei condução para o querido lar paterno, onde fui
acolhido com muitas lágrimas. Havia somente cinco curtíssimos anos que saíra
desse santuário com a minha jovem esposa, e agora, ai de mim! - mãe e filhinho
jaziam no túmulo, em Tana, nos braços um do outro, até o dia da
ressurreição... Não foi com menos gozo, apesar de sentir-me angustiado, que,
poucos dias depois, me encontrei com os pais da minha querida falecida
esposa."
Antes de deixar a
Escócia, para nova viagem, Paton casou-se com a irmã de outro missionário.
Chamada por Deus a trabalhar entre os povos mergulhados nas trevas das Novas
Hébridas, ela serviu como fiel companheira de seu marido, por muitos anos.
"Meu último ato
na Escócia foi ajoelhar-me no lar paterno, durante o culto doméstico, enquanto
meu venerando pai, como sacerdote, de cabelos brancos, nos encomendava, uma
vez mais, 'aos cuidados e proteção de Deus, Senhor das famílias de Israel.' Eu
tinha por certo, quando nos levantamos da oração e nos despedimos uns dos
outros, que não nos encontraríamos com eles antes do dia da ressurreição.
Porém ele e minha querida mãe, com corações alegres, nos ofertaram de novo ao
Senhor, para o seu serviço entre os silvícolas. Mais tarde, meu querido irmão
me escreveu que a 'espada' que traspassara a alma da minha mãe, era demasiado
aguda e que, depois da nossa saída, ela jazeu por muito tempo como morta, nos
braços de meu pai."
De volta às ilhas,
Paton foi constrangido pelo voto de todos os missionários a não voltar a Tana,
mas abrir a obra na vizinha ilha de Aniwa. Dessa forma, tinha de aprender outra
língua e começar tudo de novo. Na obra de preparar o terreno para a construção
da casa, Paton ajuntou dois cestos de ossos humanos de vítimas comidas pelo
povo da ilha!
"Quando essas
pobres criaturas começavam a usar um pedacinho de chita, ou um saiote, era
sinal exterior de uma transformação, apesar de estarem longe da civilização. E
quando começavam a olhar para cima, e a orar Àquele a quem chamavam de 'Pai,
nosso Pai', meu coração se derretia em lágrimas de gozo; e sei por certo que
havia um coração divino nos céus que se regozijava também."
Contudo, como em
Tana, Paton considerava-se imortal até completar a obra que lhe fora designada
por Deus. Inúmeras vezes evitou a morte agarrando a arma levantada contra ele pelos
selvagens para o matarem.
Por fim, a força das
trevas unidas contra o Evangelho em Aniwa cedeu. Isso data do tempo em que
cavou um poço na ilha. Para os indígenas, a água de coco, para satisfazer a
sede, era suficiente, porque se banhavam no mar e usavam pouco a água para
cozinhar - e nenhuma para lavar a roupa! Mas para os missionários, a falta de
água doce era o maior sacrifício e Paton resolveu cavar um poço.
No início, os
indígenas auxiliaram-no na obra, apesar de considerarem o plano, "do Deus
de Missi dar chuva de baixo", concepção de uma mente avariada. Mas depois,
amedrontados pela profundeza da cavidade, deixaram o missionário a cavar
sozinho, dia após dia, enquanto o contemplavam de longe, dizendo uns aos
outros: - "Quem jamais ouviu falar em chuva que vem debaixo?! Pobre
Missi! Coitado!" Quando o missionário insistia em dizer que o abastecimento
de água em muitos países vinha de poços, eles respondiam: - "É assim que
se dá com os doidos; ninguém pode desviá-los de suas idéias loucas."
Depois de longos dias
de labor enfadonho, Paton alcançou terra úmida. Confiava em Deus obter água
doce, em resposta às suas orações; contudo, nessa altura, ao meditar sobre o
efeito que causaria entre o povo, sentia-se quase tomado do horror ao pensar
que podia encontrar água salgada. "Sentia-me", escreveu ele,
"tão comovido que fiquei molhado de suor e tremia-me todo o corpo, quando
a água começou a borbulhar debaixo e a encher o poço. Tomei um pouco de água na
mão, levei-a à boca para prová-la. Era água! Era água potável! era água viva do
poço de Jeová!"
Os chefes indígenas
com seus homens a tudo assistiam. Era uma repetição, em ponto pequeno, dos
israelitas rodeando Moisés, quando ele fez água sair da rocha. O missionário,
depois de passar algum tempo louvando a Deus, ficou mais calmo, desceu
novamente, encheu um jarro da"chuva que Deus Jeová lhe dava pelo
poço", e entregou-o ao chefe. Este sacudiu o jarro para ver se realmente
havia água dentro; então tomou um pouco na mão e, não satisfeito com isso,
levou à boca um pouco mais. Depois de revolver os olhos de alegria, bebeu-a e
rompeu em gritos: "Chuva! Chuva! É chuva mesmo! - Mas como a
arranjou?" Paton respondeu: - "Foi Jeová, meu Deus, quem a deu da sua
terra em resposta ao nosso labor e orações. Olhai e vede por vós mesmos como
borbulha a terra!"
Não havia um homem
entre eles que tivesse coragem de chegar-se perto da boca do poço; então
formaram uma fila comprida e, segurando-se uns aos outros pelas mãos, avançaram
até que o homem da frente pudesse olhar para dentro do poço; a seguir o que
tinha olhado passava para a retaguarda, deixando o segundo olhar para a
"chuva de Jeová, mui embaixo".
Depois de todos
olharem, um por um, o chefe dirigiu-se a Paton e disse: "Missi, a obra de
seu Deus Jeová é admirável, é maravilhosa! Nenhum dos deuses de Aniwa jamais
nos abençoou tão maravilhosamente. - Mas, Missi, Ele continuará para sempre a
dar chuva por essa forma?, ou acontecerá como a chuva das nuvens?" O
missionário explicou, para gozo indizível de todos, que essa bênção era
permanente e para todos os aniwanianos.
Os nativos
experimentaram, durante os anos que se seguiram, em seis ou sete dos lugares
mais prováveis, perto de várias vilas, cavar poços. Todas as vezes que o
fizeram ou encontraram pederneira ou o poço dava água salgada. Diziam entre si:
- "Sabemos cavar, mas não sabemos orar como Missi e, portanto, Jeová não
nos dá chuva debaixo!"
Num domingo, depois
que Paton alcançou água do poço, o chefe Namakei convocou o povo da ilha.
Fazendo seus gestos com a machadinha na mão, dirigiu-se aos ouvintes da
seguinte maneira: - "Amigos de Nakamei, todos os poderes do mundo não
podiam obrigar-nos a crer que fosse possível receber chuva das entranhas da
terra, se não a tivéssemos visto com os próprios olhos e provado com a
boca... Desde já, meu povo, devo adorar o Deus que nos abriu o poço e nos dá
chuva debaixo. Os deuses de Aniwa não podem socorrer-nos como o Deus de Missi.
Para todo o sempre sou um seguidor de Deus Jeová. Todos vós que quiserdes fazer
o mesmo, tomai os ídolos de Aniwa, os deuses que nossos pais temiam e lançai-os
aos pés de Missi... Vamos a Missi para ele nos ensinar como devemos servir a
Jeová... que enviou seu Filho Jesus para morrer por nós e nos levar aos
céus."
Durante os dias que
se seguiram, grupo após grupo, alguns dos silvícolas com lágrimas e soluços,
outros aos gritos de louvor a Jeová, levaram seus ídolos de pau e pedra, os
quais lançaram em montes perante o missionário. Os ídolos de pau foram
queimados, os de pedra enterrados em covas de quatro a cinco metros de
profundidade e alguns, de maior superstição, foram lançados no fundo do mar,
longe da terra.
Um dos primeiros
passos da vida cotidiana da ilha, depois de destruírem os ídolos, foi a
invocação da bênção do Senhor às refeições. O segundo passo, uma surpresa maior
e que também encheu o missionário de gozo, foi um acordo entre eles de fazer
culto doméstico de manhã e à noite. Sem dúvida esses cultos eram misturados,
por algum tempo, com muitas das superstições do paganismo.
Mas Paton traduziu as
Escrituras, e as imprimiu na língua aniwaniana e ensinou o povo a lê-las. A
transformação do povo da ilha foi uma das maravilhas dos tempos modernos. Como
arde o coração ao ler acerca da ternura que o missionário sentia para com esses
amados filhos na fé, e do carinho com que esses, outrora cruéis selvagens que
comiam uns aos outros, mostravam para com o missionário!
Que o nosso coração
arda também para ver a mesma transformação dos milhares de silvícolas no interior
de nosso querido Brasil!
Paton descreveu a
primeira Ceia do Senhor com as seguintes palavras: "Ao colocar o pão e o
vinho nas mãos, outrora manchadas do sangue de antropofagia, agora estendidas
para receber e participar dos emblemas do amor do Redentor, antecipei o gozo da
glória até o ponto de o coração não suportar mais. É-me impossível
experimentar delícia maior antes de eu poder fitar o rosto glorificado do
próprio Senhor Jesus Cristo!"Deus, não somente concedeu ao nosso herói o
indizível gozo de ver os aniwanianos irem evangelizar as ilhas vizinhas, mas
também de ver seu próprio filho, Frank Paton, e esposa, morando na ilha de Tana
e continuando a obra que ele começara com o maior sacrifício.
Foi com a idade de 83
anos, que João G. Paton ouviu a voz de seu precioso Jesus, chamando-o para o
lar eterno. Quão grande o seu gozo, não somente ao reunir-se aos seus queridos
filhos das ilhas do Sul do Pacífico, que entraram no Céu antes dele, mas,
também, saudar bem-vindos os outros ao chegarem ali, um por um!
(extraido do livro
hérois da fé)
DAVI LIVINGSTONE
CÉLEBRE MISSIONÁRIO E EXPLORADOR
(1813-1873) - Certo
comerciante, ao visitar a abadia de Westminster, em Londres, onde se acham
sepultados os reis e vultos eminentes da Inglaterra, inquiriu qual o túmulo,
excluindo o do "soldado desconhecido", que é mais visitado. O
porteiro respondeu que era o de Davi Livingstone. São poucos os humildes e
fiéis servos de Deus que o mundo distingue e honra assim.
Conta-se que, em
Glasgow, depois de passar dezesseis anos na África, Livingstone foi convidado a
fazer um discurso perante o corpo discente da universidade. Os alunos
resolveram vaiar esse "camarada missionário'', fazendo o maior barulho
possível. Certa testemunha do acontecimento disse: "Contudo, desde o
momento em que Livingstone compareceu perante eles, magro e delgado, depois de
cair trinta e uma vezes de febre nas matas da África, e com um braço
descansando numa tipóia, depois do encontro com um leão, os alunos guardaram
grande silêncio. Ouviram, com o maior respeito, tudo que o orador relatou e
amaneira como Jesus cumprira a sua promessa: "Eis que eu estou convosco
todos os dias, até a consumação dos séculos".
Davi Livingstone
nasceu na Escócia. Seu pai, Neil Livingstone, contava aos filhos as proezas de
seus antepassados, por oito gerações. Um dos bisavôs de Davi, com a família,
fugira dos cruéis pactuários, para os pantanais e montes escabrosos, onde podia
adorar a Deus em espírito e em verdade. Mas mesmo esses cultos, que se
realizavam entre os espinhos e, às vezes, no gelo, eram interrompidos, de vez
em quando, pela cavalaria que chegava galopando para matar ou levar presos,
tanto homens como mulheres.
Os pais de Davi
criaram seus filhos no temor do Senhor. O lar era sempre alegre e servia como
notável modelo de todas as virtudes domésticas. Não se perdia uma hora durante
os sete dias da semana e o domingo era esperado e honrado como o dia de
descanso. Com a idade de nove anos, Davi ganhou um Novo Testamento, prêmio
oferecido ao repetir de cor o capítulo mais comprido da Bíblia, o Salmo 119.
"Entre as
recordações mais sagradas da minha infância", escreveu Livingstone,
"estão as da economia da minha mãe para que os poucos recursos fossem
suficientes para todos os membros da família. Quando completei dez anos de
idade, meus pais me colocaram em uma tecelagem para que eu ajudasse a sustentar
a família. Com parte do salário da primeira semana, comprei uma gramática de
latim".
Davi iniciava o dia
na tecelagem, às seis horas da manhã e, com intervalos para o café e o almoço,
trabalhava até oito da noite. Segurava a sua gramática aberta na máquina de
fiar algodão e, enquanto trabalhava, estudava-a linha por linha. Às oito horas
da noite, dirigia-se, sem perder tempo, à escola noturna. Depois das aulas,
estudava as lições para o dia seguinte, às vezes, até a meia-noite, quando a
mãe tinha de obrigá-lo a apagar a luz e dormir.
A inscrição no túmulo
dos pais de Davi Livingstone indica as privações no lar paterno:
Para marcar o lugar
onde descansa Neil Livingstone, e Agnes
Hunter, sua esposa e para exprimir a gratidão a Deus dos seus filhos:
João, Davi, Janet,
Carlos e Agnes,por pais pobres e piedoso
Os amigos insistiam
em que ele mudasse as últimas palavras para "pais pobres, mas
piedosos". Contudo, Davi recusou porque, para ele, tanto a pobreza, como a
piedade eram motivos de gratidão. Sempre considerou o fato de aprender a
trabalhar longos dias, mês após mês, ano atrás ano, na fábrica de algodão, uma
das maiores felicidades da sua vida.
Nos dias feriados,
Davi gostava de pescar e fazer longas excursões pelos campos e às margens dos
rios. Esses passeios extensos lhe serviam tanto de instrução como de recreio;
saía para verificar na própria natureza o que estudara nos livros sobre
botânica e geologia. Sem o saber, ele assim se preparava em corpo e mente para
as explorações científicas e para o que escreveria com exatidão acerca da
natureza na África.
Aos vinte anos, houve
grande mudança espiritual em Davi Livingstone, que determinou o rumo de todo o
resto da sua vida. "A bênção divina inundou-lhe o ser como inundara o
coração do apóstolo Paulo ou de Agostinho, e outros do mesmo tipo, dominando os
desejos carnais... Atos de abnegação, muito difíceis de executar sob a lei
férrea da consciência, tornaram-se em serviços de vontade livre sob o brilho
do amor divino... É evidente que fora movido por uma força calma, mas
tremenda, dentro do próprio coração, até o fim da vida. O amor que começou a
comovê-lo, na casa paterna, continuou a inspirá-lo durante todas as longas e
enfadonhas viagens pela África, e o levou a ajoelhar-se, à meia-noite, no
rancho em Ilala, de onde seu espírito, enquanto ainda orava, voltou ao seu Deus
e Salvador.
Davi, desde a
infância, ouvia falar de um missionário valente na China, cujo nome era
Gutzlaff. Nas suas orações, à noite, ao lado de sua mãe, orava por ele. Com a
idade de dezesseis anos, Davi começou a sentir desejo profundo de fazer
conhecido o amor e a graça de Cristo àqueles que jaziam em densas trevas, e
resolveu firmemente no coração dar, também sua vida, como médico e missionário,
ao mesmo país, a China.
Ao mesmo tempo, o
professor da sua classe na Escola Dominical, Davi Hogg, o aconselhava:
"Ora, moço, faça da religião o motivo principal da sua vida cotidiana e
não uma coisa inconstante, se quer vencer as tentações e outras coisas que o
querem derribar". E Davi assentou no seu coração dirigir sua vida por essa
norma
Ao completar nove
anos de serviços na fábrica, foi promovido a um trabalho mais lucrativo.
Conseguiu completar seus estudos, recebendo o diploma de licenciado da
Faculdade de Médicos e Cirurgiões de Glasgow, sem ter recebido um tostão de
auxílio de alguém.
Se os crentes não o
tivessem aconselhado a que falasse à Sociedade Missionária de Londres acerca de
enviá-lo como missionário, ele depois declarou que teria ido por seus próprios
esforços.
Durante todos os anos
de estudos para ser médico e missionário, sentia-se dirigido para ir a China.
Certa vez, numa reunião, ouviu o discurso de um homem, de barba comprida e
branca, alto, robusto e de olhos bondosos e penetrantes, chamado Roberto
Moffat. Esse missionário voltara da África, um país misterioso, cujo interior
era então desconhecido. Os mapas desse continente tinham no centro enormes
espaços em branco, sem rios e sem serras. Falando da África, Moffat disse a
Davi Livingstone: "Há uma vasta planície ao norte, onde tenho visto, nas
manhãs ensolaradas, a fumaça de milhares de aldeias, onde nenhum missionário
ainda chegou".
Comovido, ao ouvir
falar em tantas aldeias sem o Evangelho e sabendo que não podia mais ir à China
por causa de guerra que havia naquele país, Livingstone respondeu: "Irei
imediatamente para a África".
Com isso os irmãos da
missão concordaram e Davi voltou ao humilde lar em Blantire para se despedir dos
pais e irmãos. Às cinco horas da manhã, do dia 17 de novembro de 1840, a
família se levantou. Davi leu os salmos 121 e 135com eles. As seguintes
palavras ficaram gravadas no seu coração, para o fortalecerem no calor e
perigos durante os longos anos que passou depois, na África: "O sol não te
molestará de dia e nem a lua de noite... O Senhor guardará a tua entrada e a
tua saída, desde agora e para sempre". Depois de orarem, despediu-se da
sua mãe e irmãs e andou a pé, com seu pai que o acompanhou até Glasgow. Depois
de se despedirem um do outro, Davi embarcou no navio para não mais ver, aqui na
terra, o rosto nobre de Neil Livingstone.
A viagem de Glasgow
ao Rio de Janeiro e, por fim, à cidade do Cabo, na África, durou três meses.
Mas Davi não desperdiçou o tempo. O comandante se tornou seu amigo íntimo e
ajudou-o a preparar os cultos, nos quais Davi pregava aos tripulantes do
navio. O novo missionário aproveitou, também, a oportunidade a bordo para
aprender a usar o sextante e saber exatamente a posição do navio, observando a
lua e as estrelas. Essa ciência lhe foi mais tarde de incalculável valor para
orientar-se nas viagens de evangelização e exploração no imenso interior
desconhecido do qual "subia a fumaça de mil vilas sem missionário".
Da cidade do Cabo, a
viagem de 190 léguas foi feita aos solavancos, num carro de boi, através de
campos incultos. A viagem durou dois meses, até chegar em Curumã, onde devia
esperar o regresso de Roberto Moffatt. Desejava estabelecer-se em um lugar
cinqüenta a sessenta léguas mais para o norte de qualquer outro em que houvesse
obra missionária.
Para aprender a
língua e os costumes do povo, nosso pioneiro passava o tempo viajando e vivendo
entre os indígenas. O seu boi de sela passava a noite amarrado, enquanto ele
assentava-se com os africanos ao redor do fogo, ouvindo as lendas dos seus
heróis. Livingstone, por sua vez, contava-lhes as preciosas e verdadeiras
histórias de Belém, da Galiléia e da Cruz. Continuou sempre os seus estudos
enquanto viajava, fazendo mapas dos rios e serras do território percorrido. Em
uma carta a um amigo escreveu que descobrira trinta e duas qualidades de
raízes comestíveis e quarenta e três espécies de fruteiras que davam no
deserto sem serem cultivadas. De um ponto que alcançou, faltavam-lhe apenas dez
dias de viagem para chegar ao grande lago Ngami, que descobriu sete anos depois.
De Curumã, o
missionário, licenciado da Faculdade de Médicos e Cirurgiões de Glasgow,
escreveu a seu pai: "Tenho uma clientela grande. Há pacientes aqui que
andaram mais de sessenta léguas para receberem tratamento médico. Esses, ao
regressarem, enviarão outros para o mesmo fim".
Estabeleceu a sua
primeira missão no lindo vale de Mabotsa, na terra de Bacarla. Em uma carta,
escrita de Curumã, Livingstone assim descreveu o local que escolhera para
centro de evangelização: "Está situado em um anfiteatro de serras que se
intitula 'Mabotsa', isto é, 'Ceia de Bodas'. Que Deus nos ilumine com a sua
presença, para que, por intermédio de servos tão fracos, muito povo ache
entrada para a Ceia das Bodas do Cordeiro!"
Foi em Mabotsa que
teve o histórico encontro com um leão. Acerca disso escreveu Davi: "Ele
saltou e me alcançou o ombro; ambos fomos ao chão. Rosnando horrivelmente
perto do meu ouvido, sacudiu-me como um cão faz a um gato. Os abalos que me deu
o animal produziram-me um entorpecimento igual ao que deve sentir um rato,
depois da primeira sacudidela que lhe dá o gato. Atacou-me uma espécie de
adormecimento, em que não senti dor nem sensação de temor".
Contudo, antes de a
fera ter tempo de o matar, deixou-o para atacar outro homem que, de lança na
mão, entrara na luta. O ombro dilacerado de Livingstone nunca sarou
completamente: ele nunca mais pôde apontar um rifle ou levar a mão à cabeça sem
sentir dores.
Foi na casa de
Roberto Moffatt, em Curumã, que chegou a conhecer Maria, a filha mais velha
desse missionário. Depois de abrir a missão em Mabotsa os dois se casaram.
Seis filhos foram o fruto desse enlace.
Depois de Livingstone
se casar, a Escola Dominical em Mabotsa transformou-se em escola diária, tendo
sua esposa como professora. Schele, o chefe da tribo, tornou-se grande
estudante da Bíblia, mas queria "converter" todo o seu povo à força
de "litupa", isto é, chicote de couro de rinoceronte. Schele iniciou
culto doméstico em casa e o próprio Livingstone se admirou da sua maneira,
simples e nata, de orar. Era o costume de Livingstone começar o dia com culto
doméstico e não é de admirar que o chefe o adotasse também.
Livingstone foi
obrigado a mudar-se para Chonuane, dez léguas distante e, mais tarde, por falta
de água, ele e todo o povo mudaram-se para Colobeng. Foi nesse último lugar que
o chefe da tribo construiu uma casa para os cultos e Livingstone construiu com
grande sacrifício de dinheiro e labor, a sua terceira casa de residência.
Nessa casa morou cinco anos para nunca mais conseguir fixar residência em
qualquer lugar na terra.
Acerca do trabalho
nesse lugar, assim se expressou: "Aqui temos um campo muitíssimo difícil
de cultivar... Se não confiássemos que o Espírito Santo opera em nós,
desistiríamos em desespero".
Através do deserto de
Calari, chegavam boatos de um grande lago e de um lugar chamado ''Fumaça
Barulhenta", o que ele julgava ser uma grande cachoeira. As secas o
oprimiam tanto em Colobeng que Livingstone resolveu fazer uma viagem de
exploração e achar um lugar mais ideal para estabelecer a sua missão. Assim, em
1º de junho de 1849, com o chefe da tribo, seus "guerreiros", três brancos
e sua família, saíram para atravessar o grande deserto de Calari. O guia do
grupo, Romotobi, conhecia o segredo de subsistir no deserto, cavando com as
mãos e chupando a água debaixo da areia por meio dum canudo.
Depois de viajarem
muitos dias, chegaram ao rio Zouga. Ao inquirir os indígenas, estes o
informaram de que o rio tinha nascente em uma terra de rios e florestas. Livingstone
ficou convicto de que o interior da África não era um grande deserto como o
mundo de então supunha, e o seu coração ardia com o desejo de achar uma via
fluvial, para outros missionários irem para o interior do continente, com a
mensagem de Cristo.
"A
perspectiva", escreveu ele, "de achar um rio que dê entrada a uma
vasta, populosa e desconhecida região, aumentou constantemente desde então;
aumentou tanto que, quando, por fim chegamos ao grande lago, esse importante
descobrimento, em si mesmo, parecia de pouca monta".
Foi em 1º de agosto
de 1849 que o grupo atingiu o lago Ngami, tão grande é esse lago que, de uma
margem, não se avista a margem oposta. Sofreram longos dias de cruciante sede
sem obter uma gota dágua, mas venceram todas as dificuldades e descobriram
esse lago enquanto outros exploradores mais bem equipados, mas menos
persistentes, falharam.
As notícias do
descobrimento foram comunicadas à Royal Geographical Society, o que lhe votou
uma bela recompensa de vinte e cinco guinéus, "por ter descoberto uma
importante terra, um importante rio e um grande lago".
O grupo teve de
voltar a Colobeng. Depois de alguns meses, porém, iniciou novamente viagem para
o lago Ngami. Não queria separar-se da sua família e levou-a em um carro de
boi. Mas, ao alcançar o rio Zouga, os filhos foram atacados pela febre e ele
teve de voltar com a família. Nasceu-lhe uma filha, que morreu logo de febre.
Livingstone, contudo, ficou mais firme do que nunca, na sua resolução de achar
um caminho para levar o Evangelho ao interior da África.
Depois de descansar
alguns meses com a família, na casa de seu sogro, em Curumã, saíram com o
propósito de achar um lugar saudável onde pudesse estabelecer uma missão mais
para o interior. Foi nessa viagem, em junho de 1851, que descobriu o maior rio
da África Oriental, o Zambeze, rio do qual o mundo de então nunca ouvira
falar.
No seguinte trecho
que Livingstone escreveu, descobre-se algo do que tinham de sofrer nessas
viagens: "Um dos assistentes desperdiçou a água que levávamos no carro e,
à tarde, tínhamos apenas um restinho para as crianças. Passamos a noite
angustiados e na manhã seguinte, quanto menos havia de água, tanto mais
aumentava a sede das crianças. O pensamento de elas perecerem diante de nossos
olhos, nos perturbava. Na tarde do quinto dia, sentimos grande alívio, quando
um dos homens voltou trazendo tanto desse líquido como jamais antes havíamos
pensado."
Livingstone, convicto
de que era a vontade de Deus que saísse para estabelecer outro centro de
evangelização, ecom indômita fé de que o Senhor supriria todo o necessário para
cumprir a sua vontade, avançava sem vacilar.
Depois de descobrir o
rio Zambeze, Livingstone veio a saber que os lugares saudáveis eram sujeitos a
serem saqueados em qualquer tempo por outras tribos. Só nos lugares
infestados de doença e febre é que se achavam tribos específicas.
Resolveu, portanto,
enviar a esposa para descansar na Inglaterra enquanto ele continuava as suas
explorações a fim de estabelecer um centro para a obra de evangelização. Via-se
forçado a estabelecer tal centro, porque os boêres holandeses invadiam o
território, roubando as terras e o gado dos indígenas, pondo em prática um
regime da mais vil escravatura. Livingstone enviou crentes fiéis para
evangelizar os povos em redor, mas os boêres acabaram com essa obra, matando
muitos dos indígenas e destruindo todos os bens que o missionário possuía em
Colobeng.
Livingstone levou sua
família para a cidade do Cabo, de onde seus queridos embarcaram em um navio
para a Inglaterra.
Foi nesse tempo,
quando Deus suprira todo o necessário para a família voltar à Inglaterra, que
disse: "Oh! Amor divino, eu não te amo com a força, a profundidade e o
ardor que convém!"
A separação da
família causou-lhe profunda mágoa, mas dirigiu o rosto heroicamente de novo
para socorrer as infelizes tribos do interior da África.
Havia três motivos
que o aconselhavam a fazer uma viagem de exploração: Primeiro, queria achar um
lugar para residir com a família entre os "barotses" e
evangelizá-los. Segundo, a comunicação entre o território dos
"barotses" e a cidade do Cabo era muito demorada e difícil e queria
descobrir um caminho para um porto mais próximo. Terceiro, queria fazer todo o
possível para influenciar as autoridades contra o horrendo tráfico de escravos.
Foi nessa época da
sua vida que Livingstone, por suas proezas, tornou-se conhecido no mundo
inteiro.
No seu ardor,
desejando que Deus lhe poupasse a vida e o usasse em abrir o continente para a
entrada do Evangelho, orou assim: "Ó Jesus, rogo que me enchas agora com
oteu amor e me aceites e me uses um pouco para a tua glória. Até agora não fiz
nada para ti, mas quero fazer algo. Oh! eu te imploro que me aceites e me uses
e que seja tua toda a glória". Escreveu mais ainda: "Não valeria
coisa alguma o que possuo ou o que possuirei, a não ser em relação ao reino de
Cristo. Se alguma coisa que tenho pode servir para o seu reino, dar-lha-ei a
Ele, a quem devo tudo neste inundo e durante a eternidade".
Livingstone
atravessou, ida e volta, o continente africano, desde a foz do Zambeze a São
Paulo de Luanda, façanha essa realizada pela primeira vez por um branco. Nas
suas memórias que escrevia diariamente, nota-se como admirava as lindas
paisagens de um continente que o mundo julgava ser um vasto deserto.
Chegou a Luanda,
magro e doente. Apesar da insistência do cônsul britânico para que regressasse
à Inglaterra, a fim de recuperar a saúde abalada, ele voltou novamente, por
outro caminho, para levar seus fiéis companheiros até em casa, conforme lhes
prometera antes de iniciarem a viagem.
Nessa viagem,
Livingstone descobriu as magníficas cataratas de Vitória, nome que ele deu às
grandes quedas em honra da rainha da Inglaterra. Nesse lugar, o rio Zambeze tem
a largura de mais de um quilômetro; ali as águas desse grande rio se precipitam
espetacularmente de uma altura de cem metros.
Levingstone continuou
a pregar o Evangelho constantemente, às vezes a auditórios de mais de mil
indígenas. Antes de tudo, esforçava-se para ganhar a estima das tribos hostis,
por onde passava, por sua conduta cristã, em grande contraste com a dos
mercadores de escravos.
Sozinho, com os seus
fiéis macololos, caiu trinta e uma vezes de febre nos matagais, durante um
período de sete meses. Mas não era tanto o sofrimento físico. Suas cartas
revelam a sua angústia de espírito ao ver os horrores do povo africano
massacrado e arrebatado dos seus lares, conduzido como gado para ser vendido
no mercado. De um lugar alto onde subiu, contou dezessete aldeias em chamas,
incendiadas por esses nefandos mercadores de seres humanos.Prometera à sua
esposa reunir-se com a família depois de dois anos, mas passaram-se quatro anos
e meio antes que ela recebesse qualquer notícia dele!
Por fim, após uma
ausência de dezessete anos da pátria, regressou à Inglaterra. Voltou à
civilização e à sua família como quem volta da morte. Antes de desembarcar,
soube que seu querido pai falecera. Em toda a história de Livingstone, não se
conta um acontecimento mais comovente do que o seu encontro com a esposa e
filhos. Na Inglaterra, foi aclamado e honrado como heróico descobridor e
grande benfeitor da humanidade. Os diários publicavam os seus atos de bravura.
As multidões afluíam para ouvi-lo contar a sua história. "O doutor
Livingstone era muito humilde... Temia passear nas ruas, receando ser
atropelado pelas massas. Certo dia, na Regent Street, em Londres, foi apertado
por tão grande multidão, que só com grande dificuldade conseguiu refugiar-se
num táxi. Pela mesma razão evitava ir aos cultos. Certa vez, desejoso de
assistir ao culto, meu pai persuadiu-o a ocupar um assento debaixo da galeria,
em um lugar não visível ao auditório. Mas foi descoberto e o povo passou por
cima dos bancos para cercá-lo e apertar-lhe a mão".
Uma das muitas coisas
que levou a efeito, enquanto na Inglaterra, foi a de escrever seu livro: Viagens
Missionárias, obra que alcançou enorme circulação e produziu mais interesse na
questão africana do que qualquer movimento anterior.
Em março de 1858, com
a idade de 46 anos, Livingstone, acompanhado de sua esposa e filho mais novo,
Osvaldo, embarcou novamente para a África. Deixando os dois na casa do sogro,
o missionário Moffatt, Livingstone continuou as suas viagens. No ano seguinte,
descobriu o lago Niassa. Recebeu, também, uma carta da esposa, da casa de seus
pais em Curumã, informando-o do nascimento de mais uma filha. A menina já
estava há quase um ano no mundo quando o pai soube do seu nascimento.
As explorações dos
rios Zambeze, Tete e Shire e do lago Niassa, foram feitas com o propósito de
saber quais os pontos mais estratégicos para a evangelização, e missionários
foram enviados da Inglaterra para ocuparem esses lugares.Em 1862 a esposa
reuniu-se a ele novamente, e acompanhava-o nas viagens, mas três meses depois
faleceu, vítima da febre e foi enterrada em uma encosta verdejante na margem do
rio Zambeze. Np seu diário, Livingstone assim escreveu: "Chorei-a porque
merece as minhas lágrimas. Amei-a ao nos casarmos, e quanto mais tempo vivíamos
juntos, tanto mais a amava. Que Deus tenha piedade dos filhos..."
Um dos maiores obstáculos
que Livingstone enfrentou na obra missionária foi o terror dos indígenas ao
verem um rosto de homem branco. Aldeias inteiras em ruínas; fugitivos
escondendo-se nos campos de alto capim, sem nada terem para comer; centenas de
esqueletos e cadáveres insepultos; comboios de homens e mulheres algemados aos
troncos, seguros pelo pescoço, eram conduzidos aos portos - É difícil
concebermos a magnitude da
desolação criada por homens cruéis que participavam do tráfico de escravos.
Esses homens tentavam,
também, com ódio cruel e arte diabólica, terminar com a obra de Livingstone.
Finalmente conseguiram, por meio da política do seu país, induzir a
Inglaterra a chamá-lo de volta à sua terra. Foi assim que Livingstone chegou de
novo à sua pátria depois de uma ausência de cerca de oito anos.
Os crentes e amigos
na Inglaterra, animados pela visão de Livingstone, começaram a orar e
enviar-lhe dinheiro para continuar sua obra no continente negro. O nosso herói
desembarcou pela terceira e última vez na África, em Zanzibar.
Na expedição que
iniciou em Zanzibar, descobriu os lagos Tanganyka (1867), Moero (1867) e
Bangueolo (1868). Passou cinco longos anos explorando as bacias desses lagos.
A oração e a Palavra de Deus foram o seu sustento espiritual durante esses
anos de provações, que sofria por parte dos negociantes de escravos.
Resolveu, então,
fazer o possível para descobrir as nascentes do rio Nilo e solver um problema
que durante milhares de anos havia zombado dos geógrafos. Sabia que se descobrisse
as nascentes do famoso Nilo, o mundo todo lhe daria ouvidos acerca da chaga
aberta da África, com o comércio de escravos. É interessante conhecer o que ele
escreveu: "O mundo acha que busco fama, porém eu tenho uma regra, isto é,
não leio coisa alguma sobre os elogios que me fazem". Ele sabia que, ao
findar a escravatura, o continente se abriria para deixar entrar o Evangelho.
Durante os longos
intervalos entre os períodos em que suas cartas eram recebidas na Inglaterra,
vindas do coração da África, circularam boatos de que Livingstone morrera. Não
só os homens que traficavam com escravos queriam matá-lo, mas também muitos
dos próprios indígenas, por não acreditarem existir um homem branco que fosse
amigo de coração. Ele mesmo contou muitos fatos relacionados com as ciladas na
terra do Maniuema para o matarem. Nesse lugar, ele escreveu no seu diário:
"Li toda a Bíblia quatro vezes, enquanto estive em Maniuema". Na
solidão achou grande conforto nas Escrituras.
Reconhecia sempre a
possibilidade de perecer nas mãos dos inimigos, mas sempre respondia à
insistência dos amigos com esta pergunta: - "Não pode o amor de Cristo
constranger o missionário a ir onde a traficância leva o mercador de
escravos?"
Pela primeira vez,
nos milhares de léguas que caminhou, os pés do pioneiro falharam. Obrigado a
ficar algum tempo em uma cabana, todos os seus companheiros o abandonaram, à
exceção de três que ficaram com ele.
Por fim, chegou a
Ujiji, reduzido a pele e ossos, por causa da grave doença que sofrera em
Maniuema. Não tinha recebido cartas havia dois anos e esperava receber também
as provisões que enviara para lá. Contudo, as cartas não haviam chegado. Com o
corpo enfraquecido, e destituído de roupas e alimentos, veio a saber que lhe
tinham roubado tudo. Nessa situação, ele escreveu: "Na minha pobreza
senti-me como o homem que, descendo de Jerusalém a Jericó, caiu nas mãos de
ladrões. Não tinha esperança de que sacerdotes, levitas ou o bom samaritano
viesse em meu socorro. Entretanto, quando minha alma se achava mais abatida, o
bom samaritano já estava bem perto de mim!"
O "bom
samaritano" era Henrique Stanley, enviado pelo New York Herald, à
insistência de muitos milhares de leitores desse jornal, para saber ao certo se
Livingstone ainda vivia, ou, no caso de ter morrido, para trazer seu corpo.
Stanley passou o
inverno com Livingstone. Mas este se recusou a ceder à insistência daquele de
voltar à Inglaterra. Livingstone podia voltar e descansar entre amigos, com
todo o conforto, mas preferiu ficar e realizar seu anelo de abrir o continente
africano ao Evangelho.
A sua última viagem
foi feita para explorar o Luapula, a fim de verificar se esse rio era a
nascente do Nilo ou do Congo. Nessa região chovia incessantemente. Livingstone
sofria dores atrozes; dia após dia tornava-se-lhe mais e mais difícil caminhar.
Foi então carregado, pela primeira vez, pelos fiéis companheiros: Susi, Chuman
e Jacó Wainwright, todos indígenas.
No seu diário, as
últimas notas que escreveu dizem: "Cansadíssimo, fico... Recuperada a
saúde... Estamos nas margens do Mililamo".
Chegaram à aldeia de
Chitambo, em Ilala onde Susi fez uma cabana para ele. Nessa cabana, a 1º de
maio de 1873, fiel Susi achou seu bondoso mestre de joelhos, ao lado da cama -
morto. Orou enquanto viveu e partiu deste mundo orando!
Os dois fiéis
companheiros, Susi e Chuman, enterraram o coração de Livingstone abaixo de uma
árvore em Chitambo, secaram e embalsamaram o corpo, e o levaram até a costa -
viagem que durou alguns meses, pelo território de várias tribos hostis.
O sacrifício desses
valentes filhos da África, sem terem qualquer propósito de remuneração, não
será esquecido por Deus, nem pelo mundo.
O corpo, depois de
chegar em Zanzibar, foi transportado para a Inglaterra, onde foi sepultado na
Abadia de Westminster, entre os monumentos dos reis e heróis daquela nação.
Não havia dúvida quanto ao corpo de Livingstone; era fácil de identificar: o
osso de cima do braço esquerdo tinha distintamente as marcas dos dentes do leão
que o atacara.
Entre os que
assistiram ao enterro, estavam seus filhos e o velho missionário Roberto
Moffatt, pai da sua querida esposa. A multidão consistia de povo humilde, que o
amava e dos grandes, que o honravam e respeitavam.Conta-se que havia, entre as
multidões que permaneciam nas calçadas das ruas de Londres no dia em que o
cortejo, com o corpo de Davi Livingstone, passava, um velho chorando
amargamente. Ao lhe perguntarem por que chorava, respondeu: - "É porque
Davizinho e eu nascemos na mesma aldeia, cursamos o mesmo colégio e assistimos
a mesma Escola Dominical, trabalhávamos na mesma máquina de fiar. Mas
Davizinho foi por aquele caminho, eu por este. Agora ele é honrado pela nação,
enquanto eu sou desprezado, desconhecido e desonrado. O único futuro para mim é
o enterro de beberrão".
Não é somente o
ambiente, mas a escolha na mocidade é que determina o destino, não só aqui no
mundo, mas para toda a eternidade.
Quando Livingstone
falou aos alunos da Universidade de Cambridge, em 1857, disse: "Por minha
parte, nunca cesso de me regozijar por Deus ter-me apontado para tal ofício. O
povo fala do sacrifício de eu passar tão grande parte da vida na África. - Será
sacrifício pagar uma pequena parte da dívida, dessa dívida que nunca poderemos
liquidar, do que devemos ao nosso Deus? É sacrifício aquilo que traz a bendita
recompensa de saúde, o conhecimento de praticar o bem, a paz de espírito e a
viva esperança de um glorioso destino? Longe esteja tal idéia! Digo com
ênfase: Não é sacrifício... Nunca fiz sacrifício. Não devemos falar dos
nossos sacrifícios, ao nos lembrarmos do grande sacrifício que fez Aquele que
desceu do trono de seu Pai, nas alturas, para se entregar por nós".
Se Livingstone não
tivesse adoecido, teria descoberto as nascentes do Nilo. Durante os trinta anos
que passou na África, nunca se esqueceu do seu alvo principal que era levar
Cristo aos povos desse escuro continente. Todas as viagens que realizou foram
viagens missionárias.
Gravadas no seu
túmulo podem ser lidas estas palavras: "O coração de Livingstone jaz na
África, seu corpo descansa na Inglaterra, mas sua influência continua".
Gravados para sempre
na história da Igreja de Cristo estão os grandes êxitos na África durante um
período demais de 75 anos depois de sua morte, êxitos inspirados, em grande
parte, pelas orações e persistência desse eminente servo de Deus, que foi fiel
até a morte.
(extraido do livro
hérois da fé)
JORGE MÜLLER
APÓSTOLO DA FÉ
(1805-1898) - "Pela
fé, Abel... Pela fé, Noé... Pela fé, Abraão..." Assim é que o Espírito
Santo conta as incríveis proezas que Deus fez por intermédio dos homens que
ousavam confiar unicamente nele. Foi no século XIX que Deus acrescentou o
seguinte a essa lista: "Pela fé, Jorge Müller levantou orfanatos, alimentou
milhares de órfãos, pregou a milhões de ouvintes em redor do globo e ganhou multidões
de almas para Cristo".
Jorge Müller nasceu
em 1805, de pais que não conheciam a Deus. Com a idade de dez anos, foi
enviado a uma universidade, a fim de preparar-se para pregar o Evangelho, não,
porém, com o alvo de servir a Deus, mas para ter uma vida cômoda. Gastou esses
primeiros anos de estudo nos mais desenfreados vícios, chegando, certa vez, a
ser preso por vinte e quatro dias. Jorge, uma vez solto, esforçava-se nos
estudos, levantando-se às quatro da manhã e estudando o dia inteiro até as dez
da noite. Tudo isso, porém, ele fazia para alcançar uma vida descansada de
pregador.
Aos vinte anos de
idade, contudo, houve uma completa transformação na vida desse moço. Assistiu a
um culto onde os crentes, de joelhos, pediam que Deus fizesse cair sua bênção
sobre a reunião. Nunca se esqueceu desse culto, em que viu, pela primeira vez,
crentes orando ajoelhados; ficou profundamente comovido com o ambiente
espiritual a ponto de buscar também a presença de Deus, costume esse que não
abandonou durante o resto da vida.
Foi nesses dias,
depois de sentir-se chamado para ser missionário, que passou dois meses
hospedado no famoso orfanato de A. H. Frank. Apesar de esse fervoroso servo de
Deus, o senhor Frank, ter morrido quase cem anos antes (em 1727), o seu
orfanato continuava a funcionar com as mesmas regras de confiar inteiramente em
Deus para todo o sustento. Mais ou menos ao mesmo tempo em que Jorge Müller
hospedou-se no orfanato, um certo dentista, o senhor Graves, abandonou as Suas
atividades que lhe davam um salário de 7.500 dólares por ano, a fim de ser
missionário na Pérsia, confiando só nas promessas de Deus para suprir todo o
seu sustento. Foi assim que Jorge Müller, o novo pregador, recebeu nessa visita
a inspiração que o levou mais tarde a fundar seu orfanato sobre os mesmos
princípios.
Logo depois de
abandonar sua vida de vícios, para andar com Deus, chegou a reconhecer o erro,
mais ou menos universal, de ler muito acerca da Bíblia e quase nada da Bíblia.
Esse livro tornou-se a fonte de toda a sua inspiração e o segredo do seu
maravilhoso crescimento espiritual. Ele mesmo escreveu: "O Senhor me
ajudou a abandonar os comentários e a usar a simples leitura da Palavra de Deus
como meditação. O resultado foi que, quando, a primeira noite, fechei a porta
do meu quarto para orar e meditar sobre as Escrituras, aprendi mais em poucas
horas do que antes durante alguns meses." E acrescentou: "A maior
diferença, porém, foi que recebi, assim, força verdadeira para a minha
alma". Antes de falecer, disse que lera a Bíblia inteira cerca de duzentas
vezes; cem vezes o fez estando de joelhos.
Quando estava ainda
no seminário, nos cultos domésticos de noite com os outros alunos, frequentemente
continuou orando até a meia-noite. De manhã, ao acordar, chamava-os de novo
para a oração, às seis horas.
Certo pregador, pouco
tempo antes da morte de Jorge Müller, perguntou-lhe se orava muito. A resposta
foi esta: "Algumas horas todos os dias. E ainda, vivo no espírito de
oração; oro enquanto ando, enquanto deitado e quando me levanto. Estou
constantemente recebendo respostas. Uma vez persuadido de que certa coisa é
justa, continuo a orar até a receber. Nunca deixo de orar!... Milhares de almas
têm sido salvas em respostas às minhas orações... Espero encontrar dezenas de
milhares delas rio Céu... O grande ponto é nunca cansar de orar antes de
receber a resposta. Tenho orado 52 anos, diariamente, por dois homens, filhos
dum amigo da minha mocidade. Não são ainda convertidos, porém, espero que o
venham a ser. - Como pode ser de outra forma? Há promessas inabaláveis de Deus
e sobre elas eu descanso".
Não muito antes de
seu casamento, não se sentia bem com o costume de salário fixo, preferindo
confiar em Deus em vez de confiar nas promessas dos irmãos. Deu sobre isso as
três seguintes razões:
1) "Um salário
significa uma importância designada, geralmente adquirida do aluguel dos
bancos. Mas a vontade de Deus não é alugar bancos (Tiago 2.1-6)".
2) "O preço fixo
dum assento na igreja, às vezes, é pesado demais para alguns filhos de Deus e
não quero colocar o menor obstáculo no caminho do progresso espiritual da
igreja".
3) "Toda a ideia
de alugar os assentos e ter salário torna-se tropeço para o pregador, levando-o
a trabalhar mais pelo dinheiro do que por razões espirituais".
Jorge Müller achava
quase impossível ajuntar e guardar dinheiro para qualquer imprevisto, e não ir
direto a Deus. Assim o crente confia no dinheiro em caixa, em vez de confiar em
Deus.
Um mês depois de seu
casamento, colocou uma caixa no salão de cultos e anunciou que podiam deitar lá
as ofertas para o seu sustento e que, daí em diante, não pediria mais nada,
nem a seus amados irmãos; porque, como ele disse, "Sem me aperceber, tenho
sido levado a confiar no braço de carne, mas o melhor é ir diretamente ao
Senhor" O primeiro ano findou com grande triunfo e Jorge Müller disse aos
irmãos que, apesar da pouca fé ao começar, o Senhor tinha ricamente suprido
todas as suas necessidades materiais e, o que foi ainda mais importante,
tinha-lhe concedido o privilégio de ser um instrumento na sua obra.
O ano seguinte foi,
porém, de grande provação, porque muitas vezes não lhe restava nem um xelim. E
Jorge Müller acrescenta que no momento próprio a sua fé sempre foi
recompensada com a chegada de dinheiro ou alimentos.
Certo dia, quando só
restavam oito xelins, Müller pediu ao Senhor que lhe desse dinheiro. Esperou
muitas horas sem qualquer resposta. Então chegou uma senhora e perguntou: -
"O irmão precisa de dinheiro?" Foi uma grande prova da sua fé, porém,
o pastor respondeu: - "Minha irmã, eu disse aos irmãos, quando abandonei
meu salário, que só informaria o Senhor a respeito das minhas
necessidades". - "Mas", respondeu a senhora, "Ele me disse
que eu lhe desse isto", e colocou 42 xelins na mão do pregador.
Outra vez passaram-se
três dias sem terem dinheiro em casa e foram fortemente assaltados pelo Diabo,
a ponto de quase resolverem que tinham errado em aceitar a doutrina de fé nesse
sentido. Quando, porém, voltou ao seu quarto achou 40 xelins que uma irmã
deixara. E ele acrescentou então: "Assim triunfou o Senhor e nossa fé foi
fortalecida".
Antes de findar o
ano, acharam-se de novo inteiramente sem dinheiro, num dia em que tinham de
pagar o aluguel. Pediram a Deus e o dinheiro foi enviado. Nessa ocasião,
Jorge Müller fez para si a seguinte regra da qual nunca mais se desviou:
"Não nos endividaremos, porque achamos que tal coisa não é bíblica
(Romanos 13.8), e assim não teremos contas a pagar. Somente compraremos o que
pudermos, tendo o dinheiro em mãos, assim sempre saberemos quanto realmente
possuímos e quanto temos o direito de gastar".
Deus, assim,
gradualmente treinava o novo pregador a confiar nas suas promessas. Estava tão
certo da fidelidade das promessas da Bíblia, que não se desviou, durante os
longos anos da sua obra no orfanato, da resolução de não pedir ao próximo, e de
não se endividar.
Um outro segredo que
o levou a alcançar tão grande bênção de confiarem Deus, foi a sua resolução de
usar o dinheiro que recebia somente para o fim a que fora destinado. Essa
regra nunca infringiu, nem para tomar emprestado de tais fundos, apesar de se
ter achado milhares de vezes face a face com as maiores necessidades.
Nesses dias, quando
começou a provar as promessas de Deus, ficou comovido pelo estado dos órfãos e
pobres crianças que encontrava nas ruas. Ajuntou algumas dessas crianças para
comer consigo às oito horas da manhã e a seguir, durante uma hora e meia, ensinava-lhes
as Escrituras. A obra aumentou rapidamente. Quanto mais crescia o número para
comer, tanto mais recebia para alimentá-las até se achar cuidando de trinta a
quarenta menores.
Ao mesmo tempo, Jorge
Müller fundou a Junta para o Conhecimento das Escrituras na Nação e no
Estrangeiro. O alvo era: 1) Auxiliar as escolas bíblicas e as escolas
dominicais. 2) Espalhar as Escrituras. 3) Aumentar a obra missionária. Não é
necessário acrescentar que tudo foi feito com a mesma resolução de não se
endividar, mas sempre pedir a Deus, em secreto, todo o necessário.
Certa noite, quando
lia a Bíblia, ficou profundamente impressionado com as palavras: "Abre bem
a tua boca, e ta encherei" (Salmo 81.10). Foi levado a aplicar essas
palavras ao orfanato, sendo-lhe dada a fé de pedir mil libras ao Senhor;
também pediu que Deus levantasse irmãos com qualificação para cuidar das crianças. Desde aquele
momento, esse texto (Salmo 81.10), serviu-lhe como lema e a promessa se tornou
em poder que determinou todo o curso da sua vida.
Deus não demorou
muito a dar a sua aprovação de alugar uma casa para os órfãos. Foi apenas dois
dias depois de começar a pedir, que ele escreveu no seu diário: "Hoje
recebi o primeiro xelim para a casa dos órfãos".
Quatro dias depois
foi recebida a primeira contribuição de móveis: um guarda-roupa; e uma irmã
ofereceu dar seus serviços para cuidar dos órfãos. Jorge Müller escreveu
naquele dia que estava alegre no Senhor e confiante em que Ele ia completar
tudo.
No dia seguinte,
Jorge Müller recebeu uma carta com estas palavras: "Oferecemo-nos para o
serviço do orfanato, se o irmão achar que temos as qualificações. Oferecemos
também todos os móveis, etc, que o Senhor nos tem dado. Faremos tudo isto sem
qualquer salário, crendo que, se for a vontade do Senhor usar-nos, Ele suprirá
todas as nossas necessidades". Desde aquele dia, nunca faltaram, no
orfanato, auxiliares alegres e devotados, apesar de a obra aumentar mais
depressa do que Jorge Müller esperava.
Três meses depois,
foi que conseguiu alugar uma grande casa e anunciou a data da inauguração do
orfanato para o sexo feminino. No dia da inauguração, porém, ficou
desapontado: nenhuma órfã foi recebida. Somente depois de chegar a casa é que
se lembrou de que não as tinha pedido. Naquela noite humilhou-se rogando a Deus
o que anelava. Ganhou a vitória de novo, pois veio uma órfã no dia seguinte.
Quarenta e duas pediram entrada antes de findar o mês, e já havia vinte e seis
no orfanato.
Durante o ano, houve
grandes e repetidas provas de fé. Aparece, por exemplo, no seu diário:
"Sentindo grande necessidade ontem de manhã, fui dirigido a pedir com
insistência a Deus e, em resposta, à tarde, um irmão deu-me dez libras".
Muitos anos antes da sua morte, afirmou que, até aquela data, tinha recebido da
mesma forma 5.000 vezes a resposta, sempre no mesmo dia em que fazia o
pedido.
Era seu costume, e
recomendava também aos irmãos, guardar um livro. Numa página assentava seu
pedido com a data e no lado oposto a data em que recebera a resposta. Dessa maneira,
foi levado a desejar respostas concretas aos seus pedidos e não havia dúvida
acerca dessas respostas.
Com o aumento do
orfanato e do serviço de pastorear os quatrocentos membros de sua igreja, Jorge
Müller achou-se demasiadamente ocupado para orar. Foi nesse tempo que chegou a
reconhecer que o crente podia fazer mais em quatro horas, depois de uma em
oração, do que em cinco sem oração. Essa regra ele a observou fielmente durante
60 anos. Quando alugou a segunda casa, para os órfãos de sexo masculino, disse:
"Ao orar, estava lembrado de que pedia a Deus o que parecia impossível
receber dos irmãos, mas que não era demasiado para o Senhor conceder". Ele
orava com noventa pessoas sentadas às mesas: "Senhor, olha para as
necessidades de teu servo..." Essa foi uma oração a que Deus
abundantemente respondeu. Antes de morrer, testificou que, pela fé, alimentava
2.000 órfãos, e nenhuma refeição se fez com atraso de mais de trinta minutos.
Muitas pessoas
perguntavam a Jorge Müller como conseguia ele saber a vontade de Deus, pois
não fazia nada sem primeiro ter a certeza de ser da vontade do Senhor. Ele
respondia:
1) "Procuro
manter o coração em tal estado que ele não tenha qualquer vontade própria no
caso. De dez problemas, já temos a solução de nove, quando conseguimos ter um
coração entregue para fazer a vontade do Senhor, seja essa qual for. Quando
chegamos verdadeiramente a tal ponto, estamos, quase sempre, perto de saber
qual é a sua vontade.
2) "Tenho o
coração entregue para fazer a vontade do Senhor, não deixo o resultado ao mero
sentimento ou a uma simples impressão. Se o faço, fico sujeito a grandes
enganos.
3) "Procuro a
vontade do Espírito de Deus por meio da sua Palavra. É essencial que o Espírito
e a Palavra acompanhem um ao outro. Se eu olhar para o Espírito, sem a
Palavra, fico sujeito, também, a grandes ilusões.
4) "Depois
considero as circunstâncias providenciais. Essas, ao lado da Palavra de Deus e
do seu Espírito, indicam claramente a sua vontade.
5) "Peço a Deus
em oração que me revele sua própria vontade.
6) "Assim,
depois de orar a Deus, estudar a Palavra e refletir, chego à melhor resolução
deliberada que posso com a minha capacidade e conhecimento; se eu continuar a
sentir paz, no caso, depois de duas ou três petições mais, sigo conforme essa
direção. Nos casos mínimos e nas transações da maior responsabilidade, sempre
acho esse método eficiente".Jorge Müller, três anos antes da sua morte,
escreveu: "Não me lembro, em toda a minha vida de crente, num período de
69 anos, de que eu jamais buscasse, sinceramente e com paciência, saber a
vontade de Deus pelo ensinamento do Espírito Santo por intermédio da Palavra
de Deus, e que não fosse guiado certo. Se me faltava, porém, sinceramente de
coração e pureza perante Deus, ou se eu não olhava para Deus, com paciência
pela direção, ou se eu preferia o conselho do próximo ao da Palavra do Deus vivo,
então errava gravemente".
Sua confiança no
"Pai dos órfãos" era tal, que nem uma só vez recusou aceitar crianças
no orfanato. Quando lhe perguntavam porque assumira o encargo do orfanato,
respondeu que não fora apenas para alimentar os órfãos material e
espiritualmente, mas "o primeiro objetivo básico do orfanato era -
afirmava -, e ainda é, que Deus seja magnificado pelo fato de que os órfãos sob
os meus cuidados foram e estão sendo supridos de todo o necessário, somente
por oração e fé, sem eu nem meus companheiros de trabalho pedirmos ao próximo;
por isso mesmo se pode ver que Deus continua fiel e ainda responde às nossas
orações".
Em resposta a muitos
que queriam saber como o crente pode adquirir tão grande fé, deu as seguintes
regras:
1) Lendo a Bíblia e
meditando sobre o texto lido, chega-se a conhecer a Deus, por meio de oração.
2) Procurar manter um
coração íntegro e uma boa consciência.
3) Se desejamos que a
nossa fé cresça, não devemos evitar aquilo que a prove e por meio do que ela
seja fortalecida.
"Ainda mais um
ponto: para que a nossa fé se fortaleça, é necessário que deixemos Deus agir
por nós ao chegar a hora da provação, e não procurar a nossa própria
libertação.
"Se o crente
desejar grande fé, deve dar tempo para Deus trabalhar."
Os cinco prédios
construídos de pedras lavradas e situados em Ashley Hill, Bristol, Inglaterra,
com 1.700 janelas e lugar para acomodar mais de 2.000 pessoas, são testemunhas
atuais dessa grande fé de que ele escreveu.
Cada uma dessas
dádivas (devemo-nos lembrar) Jorge Müller lutou com Deus em oração para obter;
orou com alvo certo e com perseverança, e Deus lhe respondeu.
São de Jorge Müller
estas palavras: "Muitas repetidas vezes tenho-me encontrado em posição
muito difícil, não só com 2.000 pessoas comendo diariamente às mesas, mas
também com a obrigação de atender a todas as demais despesas, estando a nossa
caixa com os fundos esgotados. Havia ainda 189 missionários para sustentar,
cerca de 100 colégios com mais ou menos 9.000 alunos, além de 4.000.000 de
tratados para distribuir, tudo sob nossa responsabilidade, sem que houvesse
dinheiro em caixa para as despesas".
Certa vez o doutor A.
T. Pierson foi hóspede de Jorge Müller no seu orfanato. Uma noite, depois que
todos se deitaram, Jorge Müller o chamou para orar dizendo que não havia coisa
alguma em casa para comer. O doutor Pierson quis lembrar-lhe que o comércio
estava fechado, mas Jorge Müller bem sabia disso. Depois da oração
deitaram-se, dormiram e, ao amanhecer, a alimentação já estava suprida e em
abundância para 2.000 crianças. Nem o doutor Pierson, nem Jorge Müller chegaram
a saber como a alimentação foi suprida. A história foi contada naquela manhã,
ao senhor Simão Short, sob a promessa de guardá-la em segredo até o dia da
morte do benfeitor. O Senhor despertara essa pessoa do sono, à noite, e mandara
que levasse alimentos suficientes para suprir o orfanato durante um mês. E
isso sem a pessoa saber coisa alguma da oração de Jorge Müller e do doutor
Pierson!
Com a idade de 69
anos Jorge Müller iniciou suas viagens, nas quais pregou centenas de vezes em
quarenta e duas nações, a mais de três milhões de pessoas. Recebeu, em resposta
às suas orações, tudo de Deus para pagar as grandes despesas. Mais tarde, ele
escreveu: "Digo com razão: Creio que eu não fui dirigido a nenhum lugar
onde não houvesse prova evidente de que o Senhor me mandara para lá". Ele
não fez essas viagens com o plano de solicitar dinheiro para a junta; não
recebeu o suficiente nem para as despesas de doze horas da junta. Segundo as
suas palavras, o alvo era "que eu pudesse, por minha experiência e
conhecimento das coisas divinas, comunicar uma bênção aos crentes... e que eu pudesse
pregar o Evangelho aos que não conheciam o Senhor".
Assim escreveu ele
sobre um seu problema espiritual: "Sinto constantemente a minha
necessidade... Nada posso fazer sozinho, sem cair nas garras de Satanás. O
orgulho, a incredulidade ou outros pecados me levariam à ruína. Sozinho não
permaneço firme um momento. Que nenhum leitor pense que devido à minha
dedicação, eu não me possa 'inchar' ou me orgulhar, ou que eu não possa
descrer de Deus!"
O estimado
evangelista, Carlos Inglis, contou a respeito de Jorge Müller:
"Quando vim pela
primeira vez à América, faz trinta e um anos, o comandante do navio era devoto
tal que jamais conheci. Quando nos aproximamos da Terra Nova, ele me disse:
'Sr. Inglis, a última vez que passei aqui, há cinco semanas, aconteceu uma
coisa tão extraordinária que foi a causa de uma transformação de toda a minha
vida de crente. Até aquele tempo eu era um crente comum. Havia a bordo conosco
um homem de Deus, o senhor Jorge Müller, de Bristol. Eu tinha passado 22 horas
sem me afastar da ponte de comando, nem por um momento, quando fui assustado
por alguém que me tocou no ombro. Era o senhor Jorge Müller. Houve, então,
entre nós o seguinte diálogo:
- Comandante - disse
o senhor Müller, - vim dizer-lhe que tenho de estar em Quebec no sábado, à
tarde.
Era quarta-feira.
- Impossível -
respondi.
- Pois bem, se seu
navio não pode levar-me, Deus achará outro meio de transporte. Durante 57 anos
nunca deixei de estar no lugar à hora em que me achava comprometido.
- Teria muito prazer
em ajudá-lo, mas o que posso fazer? - Não há meios!
- Vamos aqui dentro
para orar - sugeriu.
Olhei para aquele
homem e disse a mim mesmo: 'De qual casa de doidos escapou este?' Nunca eu ouvira
alguém falar desse modo.
- Sr. Müller, o
senhor vê como é espessa esta neblina.
- Não - respondeu ele
- os meus olhos não estão na neblina, mas no Deus vivo que governa todas as
circunstâncias da minha vida.
O senhor Müller caiu
de joelhos e orou da forma mais simples possível. Eu pensei: 'É uma oração como
a de uma criança de oito ou nove anos'. Foi mais ou menos assim que ele orou:
'Ó Senhor, se for da tua vontade, retira esta neblina dentro de cinco minutos.
Sabes como me comprometi a estar em Quebec no sábado. Creio ser isso a tua
vontade."
Quando findou, eu
queria orar também, mas o senhor Müller pôs a sua mão no meu ombro e pediu que
não o fizesse, dizendo:
- Comandante,
primeiro o senhor não crê que Deus faça isso, e, em segundo lugar, eu creio que
Ele já o fez. Não há, pois, qualquer necessidade de o senhor orar nesse
sentido. Conheço, comandante, o meu Senhor há cinquenta e sete anos e não há
dia em que eu não tenha audiência com Ele. Levante-se, por favor, abra a porta
e verá que a neblina já desapareceu.
Levantei-me, olhei, e
a neblina havia desaparecido. No sábado, à tarde, Jorge Müller estava em
Quebec.'"
Para o ajudar a levar
a carga dos orfanatos e a apropriar-se das promessas de Deus em oração, lado a
lado com ele, Jorge Müller tinha consigo, havia quase quarenta anos, uma esposa
sempre fiel. Quando ela faleceu, milhares de pessoas assistiram ao seu
enterro, das quais cerca de 1.200 eram órfãos. Ele mesmo, fortalecido pelo
Senhor, conforme confessou, dirigiu os cultos fúnebres no templo e no
cemitério.
Com a idade de 90
anos pregou o sermão fúnebre da segunda esposa, como o fizera na morte da
primeira. Uma pessoa que assistiu a esse enterro, assim se expressou:
-"Tive o privilégio, sexta-feira, de assistir ao enterro da senhora
Müller... e presenciar um culto simples, que foi, talvez, pelas suas peculiaridades,
o único na história do mundo: Um venerável patriarca preside ao culto do
início ao fim. Com a idade de noventa anos, permanece ainda cheio daquela
grande fé que o tem habilitado a alcançar tanto, e que o tem sustentado em
emergência, problemas e trabalhos duma longa vida..."
No ano de 1898, com a
idade de noventa e três anos, na última noite antes de partir para estar com
Cristo, sem mostrar sinal de diminuição de suas forças físicas, deitou-se como
de costume. Na manhã do dia seguinte foi "chamado", na expressão de
um amigo ao receber as notícias que assim explicam a partida: "O querido
ancião Müller desapareceu de nosso meio para o Lar, quando o Mestre abriu a
porta e o chamou ternamente, dizendo: 'Vem!'"
Os jornais
publicaram, meio século depois da sua morte, a seguinte notícia: "O
orfanato de Jorge Müller, em Bristol, permanece como uma das maravilhas do
mundo. Desde a sua fundação, em 1836, a cifra que Deus tem concedido,
unicamente em resposta às orações, sobe a mais de vinte milhões de dólares e o
número de órfãos ascende a 19.935. Apesar de os vidros de cerca de 400 janelas
terem sido partidos recentemente por bombas (na segunda guerra mundial),
nenhuma criança e nenhum auxiliar foi ferido".
(extraido do livro
hérois da fé)
CARLOS FINNEY
APÓSTOLO DE AVIVAMENTOS
(1792-1875) - Perto da aldeia de New York Mills, no
século dezenove, havia uma fábrica de tecidos movida pela força das águas do
rio Oriskany. Certa manhã, os operários se achavam comovidos, conversando
sobre o poderoso culto da noite anterior, no prédio da escola pública.
Não muito depois de
começar o ruído das máquinas, o pregador, um rapaz alto e atlético, entrou na
fábrica. O poder do Espírito Santo ainda permanecia sobre ele; os operários,
ao vê-lo, sentiram a culpa de seus pecados a ponto de terem de se esforçar para
poderem continuar a trabalhar. Ao passar perto de duas moças que trabalhavam
juntas, uma delas, no ato de emendar um fio, foi tomada de tão forte
convicção, que caiu em terra, chorando. Segundos depois, quase todos em redor
tinham lágrimas nos olhos e, em poucos minutos, o avivamento encheu todas as
dependências da fábrica.
O diretor, vendo que
os operários não podiam trabalhar, achou que seria melhor cuidassem da
salvação da al-ma, e mandou que parassem as máquinas. A comporta das águas foi
fechada e os operários se ajuntaram em um salão do edifício. O Espírito Santo
operou com grande poder e dentro de poucos dias quase todos se converteram.
Diz-se acerca deste
pregador, que se chamava Carlos Finney, que, depois de ele pregar em Governeur,
no Estado de New York, não houve baile nem representação de teatro na cidade
durante seis anos. Calcula-se que, durante os anos de 1857 e 1858, mais de 100
mil pessoas foram ganhas para Cristo pela obra direta e indireta de Finney. A
sua autobiografia é o mais maravilhoso relato de manifestação do Espírito
Santo, excetuando o livro de Atos dos Apóstolos. Alguns consideram o seu livro,
"Teologia Sistemática", a maior obra sobre teologia, a não ser as
Sagradas Escrituras.
- Como se explica o
seu êxito tão destacado nos anais dos servos da Igreja de Cristo? - Sem dúvida
era, antes de tudo, o resultado da sua profunda conversão.
Nasceu de uma família
descrente e se criou em um lugar onde os membros da igreja conheciam, apenas,
a formalidade fria dos cultos. Finney era advogado; ao encontrar, nos seus
livros de jurisprudência, muitas citações da Bíblia comprou um exemplar com a
intenção de conhecer as Escrituras. O resultado foi que, após a leitura, achou
mais e mais interesse nos cultos dos crentes. Acerca da sua conversão ele
relata, na sua autobiografia, o seguinte:
"Ao ler a
Bíblia, ao assistir às reuniões de oração, e ouvir os sermões de senhor Gale,
percebi que não me achava pronto a entrar nos céus... Fiquei impressionado
especialmente com o fato de as orações dos crentes, semana após semana, não
serem respondidas. Li na Bíblia: 'Pedi e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis;
batei, e abrir-se-vos-á'. Li, também, que Deus é mais pronto a dar o Espírito
Santo aos que lho pedirem, do que os pais terrestres a darem boas coisas aos
filhos. Ouvia os crentes pedirem um derramamento do Espírito Santo e
confessarem, depois, que não o receberam.
"Exortavam uns
aos outros a se despertarem para pedir, em oração, um derramamento do Espírito
de Deus e afirmavam que assim haveria um avivamento com a conversão de
pecadores... Mas ao ler mais a Bíblia, vi que as orações dos crentes não eram
respondidas porque não tinham fé, isto é, não esperavam que Deus lhes daria o
que pediam... Entretanto, com isso senti um alívio acerca da veracidade do
Evangelho... e fiquei convicto de que a Bíblia, apesar de tudo, é a verdadeira
Palavra de Deus.
"Foi num domingo
de 1821 que assentei no coração resolver o problema sobre a salvação da minha
alma e ter paz com Deus. Apesar das minhas grandes preocupações como advogado,
resolvi seguir rigorosamente a determinação de ser salvo. Pela providência de
Deus, não me achei muito ocupado nem segunda nem terça-feira, e consegui passar
a maior parte do tempo lendo a Bíblia e orando.
"Mas ao encarar
a situação resolutamente, achei-me sem coragem para orar sem tapar o buraco da
fechadura. Antes deixava a Bíblia aberta na mesa com os outros livros e não me
envergonhava de lê-la diante do próximo. Mas então, se entrasse alguém, eu
colocaria um livro aberto sobre a Bíblia para escondê-la.
"Durante a
segunda e a terça-feira, a minha convicção aumentou, mas parecia que o coração
se havia endurecido: eu não podia chorar, nem orar... Terça-feira, à noite,
senti-me muito nervoso e parecia-me estar perto da morte. Reconhecia que, se eu
morresse, por certo iria para o Inferno.
"De manhã cedo,
fui para o gabinete... Parecia que uma voz me perguntava: - 'Por que esperas?
Não prometes-te dar o coração a Deus? O que experimentas fazer? - alcançar a
justificação pelas obras?' Foi então que vi, claramente, como qualquer vez
depois, a realidade e a plenitude da propiciação de Cristo. Vi que sua obra
era completa e, em vez de eu necessitar duma justiça própria para Deus me aceitar,
tinha de sujeitar-me à justiça de Deus por intermédio de Cristo... Sem o
saber, fiquei imóvel, não sei por quanto tempo, no meio da rua, no lugar onde a
voz de dentro se dirigiu a mim. Então me veio a pergunta: - 'Aceitá-lo-ás,
agora, hoje?' Repliquei: - 'Aceita-lo-ei hoje ou me esforçarei para isso até
morrer...' Em vez de ir ao gabinete, voltei para entrar na floresta, onde
podia derramar a alma sem alguém me ver nem me ouvir."Porém, o meu orgulho
continuava a se manifestar; passei por cima dum alto e andei furtivamente atrás
duma cerca, para que ninguém me visse, e pensasse que ia orar. Penetrei dentro
da mata cerca de meio quilômetro, onde achei um lugar mais escondido entre
algumas árvores caídas. Ao entrar, disse a mim mesmo: 'Entregarei o coração a
Deus, ou então não sairei daqui'.
"Mas ao tentar
orar, o coração não queria. Pensara que, uma vez sozinho, onde ninguém pudesse
ouvir-me, podia orar livremente. Porém, ao experimentar fazê-lo, achei-me sem
coisa alguma a dizer a Delis. Toda a vez que tentava orar, parecia-me ouvir
alguém chegando.
"Por fim,
achei-me quase em desespero. O coração estava morto para com Deus e não queria
orar. Então reprovei-me a mim mesmo por ter-me comprometido a entregar o
coração a Deus antes de sair da mata. Comecei a pensar que Deus já me tivesse
abandonado... Achei-me tomado de uma fraqueza demasiadamente grande para ficar
de joelhos.
"Foi justamente
nessa altura que pensei novamente que ouvia alguém se aproximando e abri os
olhos para ver. Logo foi-me revelado que o orgulho do meu coração era a
barreira entre mim e a minha salvação. Fui vencido pela convicção do grande
pecado de eu envergonhar-me se alguém me encontrasse de joelhos perante Deus,
e bradei em alta voz que não abandonaria o lugar, nem que todos os homens da
terra e todos os demônios do Inferno me cercassem. Gritei: 'Ora, um vil
pecador como eu, de joelhos perante o grande e santo Deus, e confessando-lhes
os pecados, e me envergonho dele perante o próximo, pecador também, porque me
encontro de joelhos para achar paz com o meu Deus ofendido!' O pecado
parecia-me horrendo, infinito. Fiquei quebrantado até o pó perante o Senhor.
Nessa altura, a seguinte passagem me iluminou: 'Então me invocareis, e ireis, e
orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me
buscardes de todo o vosso coração...'
"Continuei a
orar e a receber promessas e a apropriar-me delas, não sei por quanto tempo.
Orei até que sem saber como, achei-me voltando para a estrada. Lembro-me de
que disse a mim mesmo: 'Se eu me converter, pregarei o Evangelho'.
"Na estrada,
voltando para a aldeia, certifiquei-me da preciosa paz e da gloriosa calma na
minha mente. - 'Que é isso?' Perguntei-me a mim mesmo. - 'Entristecera eu o
Espírito Santo até retirar-se de mim? Não sinto mais convicção...' Então
lembrei-me de que dissera a Deus, que confiaria na sua Palavra... A calma de
meu espírito era indescritível... Fui almoçar, mas não tinha vontade de
comer. Fui ao gabinete, mas meu sócio não voltara do almoço. Comecei a tocar
a música de um hino no rebecão, como de costume. Porém, ao começar a cantar as
palavras sagradas, o coração parecia derreter-se e só podia chorar...
"Ao entrar e
fechar a porta atrás de mim, parecia-me ter encontrado o Senhor Jesus Cristo
face a face. Não me entrou na mente, na ocasião, nem por algum tempo depois,
que era apenas uma concepção mental. Ao contrário, parecia-me que eu o
encontrara como encontro qualquer pessoa. Ele não disse coisa alguma, mas olhou
para mim de tal forma, que fiquei quebrantado e prostrado aos seus pés. Isso,
para mim, foi, depois, uma experiência extraordinária, porque parecia-me uma
realidade, como se Ele mesmo ficasse em pé perante mim, e eu me prostrasse aos
seus pés e lhe derramasse a minha alma. Chorei alto e fiz tanta confissão
quanto foi possível, entre soluços. Parecia-me que lavava os seus pés com as
minhas lágrimas; contudo, sem sentir ter tocado na sua pessoa...
"Ao virar-me
para me sentar, recebi o poderoso batismo com o Espírito Santo. Sem o esperar,
sem mesmo saber que havia tal para mim, o Espírito Santo desceu de tal
maneira, que parecia encher-me corpo e alma. Senti-o como uma onda elétrica
que me traspassava repetidamente. De fato, parecia-me como ondas de amor
liquefeito; porque não sei outra maneira de descrever isso. Parecia o próprio
fôlego de Deus.
"Não existem
palavras para descrever o maravilhoso amor derramado no meu coração. Chorei de
tanto gozo e amor que senti; acho melhor dizer que exprimi, chorando em alta
voz, as inundações indizíveis do meu coração. As ondas passaram sobre mim, uma
após outra, até eu clamar: 'Morrerei, se estas ondas continuarem a passar sobre
mim!. Senhor, não suporto mais!' Contudo, não receava a morte.
"Não sei por
quanto tempo este batismo continuou a passar sobre mim e por todo o meu ser.
Mas sei que era já noite quando o dirigente do coro veio ao gabinete para me
visitar. Encontrou-me nesse estado de choro aos gritos e perguntou: - 'Sr.
Finney, que tem?' Por algum tempo não pude responder-lhe. Então ele perguntou
mais: - 'Está sentindo alguma dor?' Com dificuldade respondi: - Não, mas sinto-me
demasiado feliz para viver.
"Saiu e, daí a
pouco, voltou acompanhado por um dos anciãos da igreja. Esse ancião sempre foi
um homem de espírito ponderado e quase nunca ria. Ele, ao entrar, encontrou-me
no mesmo estado, mais ou menos, como quando o rapaz o foi chamar. Queria saber
o que eu sentia e eu comecei a lhe explicar. Mas, em vez de responder-me, foi
tomado de um riso espasmódico. Parecia impossível evitar o riso que procedia do
fundo do seu coração."
Nessa altura, entrou
certo rapaz que começara a frequentar os cultos da igreja. Presenciou tudo por
alguns momentos, até cair ao chão em grande angústia de alma, clamando:
"Orem por mim!"
O ancião da igreja e
o outro crente oraram e depois Finney também orou e logo após todos se retiraram
deixando Finney sozinho.
Ao deitar-se para
dormir, Finney adormeceu, mas logo se acordou, por causa do amor que lhe
transbordava do coração. Isso aconteceu repetidas vezes durante a noite. Sobre
isso ele escreveu depois:
"Quando me
acordei, de manhã, a luz do sol penetrava no quarto. Faltam-me palavras para
exprimir os meus sentimentos ao ver a luz do sol. No mesmo instante, o batismo
do dia anterior voltou sobre mim. Ajoelhei-me ao lado da cama e chorei pelo
gozo que sentia. Passei muito tempo sem poder fazer coisa alguma senão derramar
a alma perante Deus".
Durante o dia, o povo
se ocupava em falar na conversão do advogado. Ao anoitecer, sem qualquer
anúncio do culto, ajuntou-se uma multidão no templo. Quando Finney relatou o
que Deus fizera na sua alma, muitos foram profundamente comovidos; um,
sentiu-se tão convicto que voltou a casa sem o chapéu. Certo advogado afirmou:
"É claro que ele é sincero; mas que enlouqueceu, é evidente." Finney
falou e orou com grande liberdade. Realizavam-se cultos todas as noites por
algum tempo, aos quais assistiam pessoas de todas as classes. Esse grande
avivamento espalhou-se para muitos lugares em redor.
Finney continuou:
"Por oito dias
[depois da sua conversão) o meu coração permanecia tão cheio, que não sentia
desejo de comer nem de dormir. Parecia-me que tinha um manjar para comer que o
mundo não conhecia. Não sentia necessidade de alimentar-me nem de dormir... Por
fim, cheguei a ver que devia comer como de costume e dormir quanto fosse
possível.
"Grande poder
acompanhava a Palavra de Deus; todos os dias admirava-me ao notar como poucas
palavras, dirigidas a uma pessoa, traspassavam-lhe o coração como uma seta.
"Não demorei
muito em ir visitar meu pai. Ele não era salvo; o único membro da família que
fizera profissão de religião era meu irmão mais novo. Meu pai encontrou-me no
portão e me perguntou: - 'Como tem passado, Carlos?' Respondi-lhe: - Bem, meu
pai, tanto no corpo como na alma. Meu pai, o senhor já é idoso, todos os seus
filhos estão crescidos e casados; e nunca ouvi alguém orar na sua casa. Ele
baixou a cabeça e começou a chorar, dizendo: - 'É verdade, Carlos; entre, e
você mesmo ore'.
"Entramos e
oramos. Meus pais ficaram comovidos e, não muito depois, converteram-se. Se a
minha mãe tinha qualquer esperança antes, ninguém o sabia".
Assim, esse advogado,
Carlos G. Finney, perdeu todo o gosto pela sua profissão e se tornou um dos
mais famosos pregadores do Evangelho. Acerca de seu método de trabalhar, ele
escreveu:
"Dei grande
ênfase à oração como indispensável, se realmente queríamos um avivamento.
Esforçava-me por ensinar a propiciação de Jesus Cristo, sua divindade, sua
missão divina, sua vida perfeita, sua morte vicária, sua ressurreição, a
necessidade de arrependimento e de fé, a justificação pela fé, e outras
doutrinas que se tornaram vivas pelo poder do Espírito Santo.
"Os meios
empregados eram simplesmente pregação, cultos de oração, muita oração em
secreto, intensivo evangelismo pessoal e cultos para a instrução dos
interessados.
"Eu tinha o
costume de passar muito tempo orando; acho que, às vezes, orava realmente sem
cessar. Achei, também, grande proveito em observar frequentemente dias inteiros
de jejum em secreto. Em tais dias, para ficar inteiramente sozinho com Deus, eu
entrava na mata, ou me fechava dentro do templo..."
Vê-se no seguinte, a
maneira como Finney e seu companheiro de oração, o irmão Nash,
"bombardeavam" os céus com as suas intercessões:
"Quase um
quilômetro distante da residência do senhor S, morava certo adepto do
universalismo. Nos seus preconceitos religiosos, recusava-se a assistir aos
cultos. Certa vez o irmão Nash, que se hospedava comigo na casa do senhor S,
retirou-se para dentro da mata para lutar em oração, sozinho, bem cedo de
madrugada, conforme seu costume. A atmosfera era tal nessa ocasião que se ouvia
qualquer som de longe. O universalista ao levantar-se, de madrugada, saiu de
casa e ouviu a voz de quem orava, e, apesar de não compreender muitas das
palavras, reconheceu quem orava. E isso traspassou-lhe o coração como uma
flecha. Sentiu a realidade da religião como nunca. A flecha permanecia. E ele
achou alívio somente crendo em Cristo".
Acerca do espírito de
oração, Finney afirmou que "era coisa comum nesses avivamentos, os
recém-convertidos se acharem tomados pelo desejo de orar noites inteiras até
lhes faltarem as forças físicas. O Espírito Santo constrangia grandemente o
coração dos crentes, e sentiam constantemente a responsabilidade pela salvação
das almas imortais. A solenidade da mente se manifestava no cuidado com que
falavam e se comportavam. Era muito comum encontrar crentes juntos caídos de
joelhos em oração em vez de ocupados em palestras".
Em certo tempo,
quando as nuvens de perseguição enegreciam cada vez mais, Finney, como era seu
costume sob tais circunstâncias, sentia-se dirigido a dissipá-las, orando. Em
vez de falar pública ou particularmente acerca das acusações, ele orava. Acerca
da sua experiência escreveu: "Eu olhava para Deus com grande anelo, dia
após dia, rogando que Ele me mostrasse o plano a seguir e a graça para
suportar a borrasca... O Senhor mostrou-me, em uma visão, o que eu tinha de
enfrentar. Ele chegou-se tão perto de mim, enquanto eu orava, que a minha carne
literalmente estremecia sobre os ossos. Eu tremia da cabeça aos pés, sob o
pleno conhecimento da presença de Deus".
Acrescentamos mais um
exemplo, tirado da sua autobiografia, da maneira de o Espírito Santo operar na
sua pregação:
"Ao chegar, na
hora anunciada para iniciar o culto, achei o prédio da escola repleto e tinha
de ficar em pé perto da entrada. Cantamos um hino, isto é, o povo pretendia
cantar. Entretanto, eles não tinham o costume de cantar os hinos de Deus, e
cada um desentoava à sua própria maneira. Não podia conter-me e lancei-me de
joelhos e comecei a orar. O Senhor abriu as janelas dos céus, derramou o
espírito de oração e entreguei-me de toda a alma a orar.
"Não escolhera
um texto, mas logo ao levantar-me dos joelhos, eu disse: Levantai-vos, saí
deste lugar, porque o Senhor há de destruir a cidade . Acrescentei que havia
dois homens, um se chamava Abraão, e outro, Ló... Contei-lhes como Ló se mudara
para Sodoma... O lugar era excessivamente corrupto... Deus resolveu destruir a
cidade e Abraão orou por Sodoma. Mas os anjos acharam somente um justo lá, era
Ló. Os anjos disseram: 'Tens alguém mais aqui? Teu genro, e teus filhos, e tuas
filhas, e todos quantos tens nesta cidade, tira-os fora deste lugar; porque nós
vamos destruir este lugar, porque o seu clamor tem engrossado diante da face do
Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo'.
"Ao relatar
estas coisas, os ouvintes se mostraram irados a ponto de me açoitarem. Nessa
altura, deixei de pregar e lhes expliquei que compreendera que nunca se
realizara culto ali e que eu tinha o direito de, assim, considerá-los
corruptos. Salientei isso com mais e mais ênfase e, com o coração cheio de amor
até não poder mais conter-me.
"Depois de eu
assim falar cerca de quinze minutos, parecia cair sobre os ouvintes uma
tremenda solenidade e começaram a cair ao chão, clamando e pedindo
misericórdia. Se eu tivesse tido uma espada em cada mão, não os poderia
derrubar tão depressa como caíram. De fato, dois minutos depois de os ouvintes
sentirem o choque do Espírito vir sobre eles, quase todos estavam ou caídos de
joelhos ou prostrados no chão. Todos os que podiam falar de qualquer maneira,
oravam por si mesmos.
"Tive de deixar
de pregar, porque os ouvintes não prestavam mais atenção. Vi o ancião que me
convidara para pregar, sentado no meio do salão, olhando em redor, estupefato.
Gritei bem alto para ele ouvir, apesar da balbúrdia, pedindo-lhe que orasse.
Caiu de joelhos e começou a orar em voz retumbante; mas o povo não prestou
atenção. Gritei: Vós não estais ainda no Inferno; quero dirigir-vos a Cristo. O
coração transbordava de gozo ao presenciar tal cena. Quando pude dominar os
meus sentimentos, virei-me para um rapaz que estava perto de mim, consegui
atrair a sua atenção e preguei Cristo, em voz bem alta, ao seu ouvido. Logo, ao
olhar para a 'cruz' de Cristo, ele acalmou-se por um pouco e então rompeu em
oração pelos outros. Depois fiz o mesmo com um outro; depois com mais outro e
continuei assim tratando com eles até a hora do culto da noite, na aldeia.
Deixei o ancião que me convidara a pregar, para continuar a obra com os que
oravam.
"Ao voltar,
havia tantos clamando a Deus que não podemos encerrar a reunião, que continuou
o resto da noite. Ao amanhecer o dia, alguns ainda permaneciam com a alma
ferida. Não se podiam levantar e, para dar lugar às aulas, foi necessário
levá-los a uma residência não muito distante. De tarde mandaram chamar-me porque
ainda não findara o culto.
"Só nesta
ocasião cheguei a saber a razão de o auditório agastar-se da mensagem. Aquele
lugar cognominava-se 'Sodoma' e havia somente um homem piedoso lá a quem o povo
tratava de 'Ló'. Era o ancião que me convidara a pregar. "Depois de já
velho, Finney escreveu acerca do que o Senhor fez em "Sodoma".
"Embora esse avivamento caísse tão repentinamente sobre eles era tão
empolgante que as conversões eram profundas e a obra permanente e genuína.
Nunca ouvi falar em qualquer repercussão desfavorável."
Não foi só na América
do Norte que Finney viu o Espírito Santo cair e abater os ouvintes em terra.
Na Inglaterra, durante os nove meses de evangelização, que Finney promoveu lá,
multidões também se prostraram enquanto ele pregava - em certa ocasião mais de
dois mil, de uma vez.
Alguns pregadores
confiam na instrução e ignoram a obra do Espírito Santo. Outros, com razão,
rejeitam tal ministério infrutífero e sem graça; oram a Deus para o Espírito
Santo tomar conta e alegram-se no grande progresso da obra de Deus. Mas, ainda
outros, como Finney, dedicam-se a buscar o poder do Espírito Santo, sem
desprezar a arma de instrução, e vêem resultados incrivelmente mais vastos.
Durante os anos de
1851 a 1866, Finney foi diretor do Colégio de Oberlin e ensinou a um total de
20 mil estudantes. Dava mais ênfase ao coração puro e ao batismo com o
Espírito Santo do que à preparação do intelecto; de Oberlin saiu uma corrente
contínua de alunos cheios do Espírito Santo. Assim, depois dos anos de uma
campanha intensiva de evangelismo e no meio dos seus esforços no colégio,
"em 1857, Finney via cerca de 50 mil, todas as semanas, converterem-se a
Deus." (By My Spirit, Jônathan Goforth, p. 183.) Os diários de New York,
às vezes quase não publicavam outras notícias, senão do avivamento.
Suas lições aos
crentes sobre avivamento foram publicadas, primeiro em um jornal e depois em
um livro de 445 páginas e que se intitulava "Discursos Sobre
Avivamentos". As primeiras duas edições, de 12 mil exemplares, foram
vendidas logo ao saírem do prelo. Outras edições foram impressas em vários
idiomas. Uma só editora em Londres publicou 80 mil. Entre suas outras obras de
circulação mundial, contam-se as seguintes: sua "Autobiografia",
"Discursos aos Crentes" e "Teologia Sistemática".
Os convertidos nos
cultos de Finney eram pela graça constrangidos a andar de casa em casa para
ganhar almas. Ele mesmo se esforçava para preparar o maior número de obreiros
em Oberlin College. Mas o desejo que ardia sempre em tudo era o de transmitir
a todos o espírito de oração. Pregadores como Abel Câry e Father Nash viajavam
com ele e, enquanto ele pregava, eles continuavam prostrados em oração. Vejamos
isso nas palavras de Finney:
"Se eu não
tivesse o espírito de oração, não alcançaria coisa alguma. Se por um dia, ou
por uma hora eu perdesse o espírito de graça e de súplica, não poderia pregar
com poder e fruto, e nem ganhar almas pessoalmente."
Para que alguém não
julgue que a obra era superficial, citamos outro escritor: "Descobriu-se,
por pesquisa empolgante, que mais de 85 pessoas de cada 100 que se convertiam
sob a pregação de Finney, permaneciam fiéis a Deus; enquanto 75 pessoas de cada
cem, das que professaram conversão nos cultos de algum dos maiores pregadores,
se desviavam. Parece que Finney tinha o poder de impressionar a consciência
dos homens, sobre a necessidade de um viver santo, de tal maneira que produzia
fruto mais permanente." (Deeper Experiences of Famous Christians, p.
243.)
Finney continuou a
inspirar os estudantes de Oberlin College até a idade de 82 anos. Já no fim da
vida, permanecia tão lúcido de mente como quando jovem e sua vida nunca foi
tão rica no fruto do Espírito e na beleza da sua santidade do que nesses
últimos anos. No domingo, 16 de agosto de 1875, pregou seu último sermão. Mas
de noite não assistiu ao culto. Ao ouvir os crentes cantarem "Jesus lover
of my soul, let me to Thy bosom fly", saiu até o portão na frente da
casa, e com estes que tanto amava, foi a última vez que cantou na terra.
Acordou-se à meia-noite, sofrendo dores lancinantes no coração. Sofrera assim
muitas vezes durante a sua vida. Semeara as sementes de avivamento e as
regara com lágrimas. Todas as vezes que recebeu o fogo da mão de Deus, foi com
sofrimento. Finalmente, antes de amanhecer o dia, dormiu na terra para acordar
na Glória, nos céus. Faltavam-lhe apenas treze dias para completar 83 anos de
vida aqui na terra
(extraido do livro
hérois da fé)
PASTOR PAULO LEIVAS
MACALÃO
GRANDE HOMEM DE DEUS
Paulo Leivas Macalão
(1903-1982), também conhecido como Paulo Macalão, foi um brasileiro
Congregacionalista; Músico; Violinista; Hinólogo da Harpa Cristã; Conselheiro
da Sociedade Bíblica do Brasil-SBB e da Casa Publicadora das Assembleias de
Deus-CPAD; Pioneiro do Evangelicalismo e do Pentecostalismo Brasileiro através
do Campo Missionário de Madureira.
"Eu [Jesus] Sou
a videira, e vocês são os ramos. Quem está unido Comigo e Eu com ele, esse dá
muito fruto porque sem Mim vocês não podem fazer nada." (João 15:5, NTLH,
SBB).
"Ora, vocês são
o Corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente, é membro desse corpo.
Assim, na igreja, Deus estabeleceu primeiramente apóstolos; em segundo lugar,
profetas; em terceiro lugar, mestres; depois os que realizam milagres, os que
têm dons de curar, os que têm dom de prestar ajuda, os que têm dons de
administração e os que falam diversas línguas. São todos apóstolos? São todos
profetas? São todos mestres? Têm todos dons de curar? Falam todos em línguas?
Todos interpretam? / Entretanto, busquem com dedicação os melhores dons. Passo
agora a mostrar-lhes um caminho ainda mais excelente." (1ª Coríntios
12:27-31, NVI, SBI).
"Agora, pois,
permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o
amor." (1ª Coríntios 13:13, VRA, SBB).
Paulo Leivas Macalão
nasceu no dia 17 de Setembro de 1903 na cidade de Santana do Livramento, no
Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Seus pais, João Maria Macalão e Joaquina
Georgina Leivas Macalão, valorizavam a educação e almejavam a carreira militar
para o jovem Paulo.
Estudou inicialmente
no Colégio Batista do Rio de Janeiro, na época, Distrito Federal do Brasil.
Posteriormente, estudou no Colégio Pedro II, também na capital federal do Rio
de Janeiro. O seu pai, Sr. João, possuía elevada patente nas Forças Armadas do
Brasil como General do Exército Brasileiro, e planejou o ingresso do jovem
Paulo Macalão na Academia Militar de Realengo.
O jovem Macalão
estava pressionado com as responsabilidade da vida adulta que surgiram no
horizonte de sua vida. Planejava seguir as trilhas do seu pai na estimada
carreira militar e talvez alcançar o reconhecimento profissional,
proporcionando alegrias para a família através das patentes que alcançasse, no
entanto, Deus alistaria o ansioso jovem para outra carreira, na jornada divina
e para engrossar as fileiras dos salvos.
Em 1924, Paulo Leivas
Macalão caminhava pelas ruas do bairro imperial de São Cristóvão, na zona norte
da cidade do Rio de Janeiro. No seu coração palpitava ansiedades e indagações,
até que encontrou um pequenino papel amassado e desprezado na calçada. Abaixou!
Pegou o papel e desamassou. Algumas letras começaram a atrair o seu olhar. Era
um folheto evangelístico! A mensagem era salvífica em Jesus Cristo e oferecia
uma chance para a sua eternidade. A Vida Eterna estava perante os seus olhos e
ao alcance do seu coração. No verso do folheto constava um endereço: Rua São
Luiz Gonzaga, nº 12.
Ele compareceu no
endereço anunciado no folheto evangelístico. Muitas pessoas vieram oferecer
boas vindas. Uma senhora, Florinda Brito, recebeu o rapaz e o convidou para as
reuniões de oração que sempre ocorriam naquele local de cultos cristãos. Paulo
Macalão não suspeitava que essa senhora seria sua futura sogra.
O jovem Macalão
demonstrou ser assíduo frequentador das reuniões cristãs realizadas naquele
local. Os sermões bíblicos impactavam o seu coração até que no dia 5 de Abril
de 1924, prostrou a sua vida aos pés de Jesus Cristo, ao som do Hino Evangélico
"Vem meu Libertador!" de autoria da Sra. Sarah Poulton Kalley, esposa
do doutor Kalley.
Escuta os rogos que
dirijo a Ti;
Vem, meu Libertador!
Poder e dons, por
mim, não tenho aqui;
Vem, meu Libertador!
Vaguei perdido, longe
do Senhor;
Qual triste escravo
de pecados.
Oh! Vem salvar-me com
Teu forte amor;
Vem, meu Libertador!
Ouve os lamentos do
meu coração;
Vem, meu Libertador!
Tira a minha alma da
hórrida prisão;
Vem, meu Libertador!
Eu ando em trevas,
sem a Tua luz;
Vem, meu Libertador!
Vou fatigado, espero
em Ti, Jesus!
Vem, meu Libertador!
Não te demores, dá-me
a Tua paz;
Vem, meu Libertador!
Pois certo estou da
Tua graça, é eficaz;
Vem, meu Libertador!
No domingo do dia 24
de Junho de 1924, o pastor Gunnar Vingren realizou na praia do Caju, na cidade
do Rio de Janeiro, o primeiro batismo em águas. O evento foi maravilhoso para
os crentes e uma multidão de curiosos estavam presentes. Dentre os candidatos
ao batismo, estava o jovem Paulo Leivas Macalão.
O rapaz que deixou a
carreira militar, tornar-se-ia um valoroso cooperador nos trabalhos cristãos do
jovem Movimento Assembleia de Deus, auxiliando eficazmente o pioneiro Gunnar.
As atividades cristãs
adquiriram expressão e outros missionários e evangelistas vieram de vários
países para ajudar o campo missionário brasileiro. O suéco Lewis Pethrus,
famoso jornalista, pregador e responsável por uma grande denominação
Pentecostal na Europa, foi um dos que vieram para ajudar os pioneiros Daniel
Berg e Gunnar Vingren.
Lewis Pethrus
participou da primeira Convenção Geral das Assembleias de Deus na cidade de
Natal, no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Em 1930, visitou os trabalhos
missionários e pastorais na cidade do Rio de Janeiro, pregando diversos sermões
para os cristãos cariocas. Na oportunidade, consagrou o jovem Paulo Leivas
Macalão para os serviços pastorais.
(1903-1982) - Paulo Macalão demonstrou
incansável labor na semeação da Palavra de Deus. Rapidamente espalhou as Boas
Novas para todas as regiões dos subúrbios do Rio de Janeiro. Alcançou muitas
pessoas nos bairros do Realengo, Bangu, Campo Grande, Santa Cruz e Marechal
Hermes.
Dons multi-funcionais
surgiram na vida do pastor Macalão. Plantou várias igrejas no Estado do Rio de
Janeiro. Iniciou vários trabalhos no Sudeste do Brasil e suas características
evangelísticas encorajavam outros servos de Deus, promovendo um batalhão de
crentes para o serviço pastoral em todo o território brasileiro.
(1903-1982) -"Um
irmão que desde o princípio teve um papel muito importante no trabalho foi
Paulo Leivas Macalão. Ele é filho de General e havia começado a estudar para
seguir carreira militar. Mas então Deus o salvou e ele se alistou no Exército
Celestial, para servir ao Rei dos reis e ao Senhor dos senhores. Ele se tornou
o primeiro e mais fiel colaborador de Vingren. Em todos os lugares ele
cooperava com a sua Bíblia e o seu violino, sempre fervente e zeloso e cheio do
poder de Deus. Em horas livres ele escrevia e traduzia hinos e muitos destes
hinos são cantados hoje no Brasil". O Diário do Pioneiro, p. 125, CPAD.
Paulo Leivas Macalão
foi conselheiro da Sociedade Bíblica do Brasil-SBB e conselheiro vitalício da
Casa Publicadora das Assembleias de Deus-CPAD. Foi presidente do Instituto
Bíblico Ebenézer, da Conveção Nacional dos Obreiros de Madureira, e do Conselho
Fiscal da Ordem dos Ministros Evangélicos do Brasil. Também foi membro do
Comitê Internacional das Conferências Mundiais Pentecostais, em Dallas, Texas,
nos Estados Unidos. O seu trabalho evangelístico alcançou projeção nacional e
internacional.
Harpa Cristã.
Ofertou 52 anos de
pastorado ao povo Assembleiano, ministrando os ensinamentos de Jesus Cristo e
colaborando com a adoração nos cultos através das suas composições que perfazem
aproximadamente 250 hinos na Harpa Cristã, patrimônio histórico da Assembleia de
Deus no Brasil.
Em 17 de Janeiro de
1934 casou com a missionária Zélia Brito que foi uma excelente auxiliadora e
esposa para encorajar o marido no labor cristão. Da união matrimonial nasceu um
filho, Paulo Brito Macalão que casou com a Sra. Edna, gerando um neto para o
casal Macalão: André Macalão, que atualmente é pastor Pentecostal responsável
pela coordenação de dezenas de congregações no Estado de Goiás, mantendo a
vocação pastoral da família Macalão.
Paulo Leivas foi
responsável pelo Campo Missionário de Madureira que em muito ajudou o
Pentecostalismo no Brasil. Os números demonstram o seu legado: 600 igrejas;
1.000 congregações; 3.000 pontos de pregação; 200 pastores; 500 evangelistas;
2.000 presbíteros; 5.000 diáconos; 4.000 auxiliares; 6.000 músicos; 500.000
membros assíduos.
Desde a década de 80,
após o falecimento do pastor Paulo Macalão no dia 26 de Agosto de 1982 e de sua
esposa Zélia, os Assembleianos enfrentaram muitas divisões na denominação
originando muitas convenções e ministérios com administração autônoma em todo o
país. O Campo Missionário de Madureira foi o ramo mais expressivo transformado
em outra denominação através dos sucessores de Macalão.
O Campo Missionário
de Madureira foi transformado na denominação Assembleia de Deus Madureira,
deixando o governo eclesiástico Congregacional para assumir uma posição mista
Episcopal. Atualmente os trabalhos são conduzidos pelo Bispo Manoel Ferreira.
Deixaram o alinhamento da Convenção Geral das Assembleias de Deus no
Brasil-CGADB para seguirem a condução dos trabalhos através da Convenção
Nacional das Assembleias de Deus no Brasil - Ministério de Madureira (CONAMAD).
Depois de 30 anos do
falecimento de Paulo Leivas Macalão, a Assembleia de Deus Madureira possui
3.500 igrejas; 3.000 congregações; 2.500 pastores; 8.000 presbíteros; 11.000
diáconos; 5.000 evangelistas; 3.500.000 membros.
FONTE:
Extraído do livro: O
Grão de trigo que gerou as Assembleias de Deus - Pentecostalismo e História (4°
EBOM) AD São Mateus, comentários: Pr. José Elias Croce;e
Casa Publicadora das
Assembleias de Deus-CPAD: Harpa Cristã http://www.harpacrista.com.br/historia.php?i=3.
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