sábado, 28 de março de 2020

FACULDADE DE TEOLOGIA
TESTEMUNHAS HOJE


CURSO LIVRE
HÉROIS DA FÉ
AVIVALISTAS DA IGREJA


PREMEIRA PARTE


















AVIVALISTAS DA IGREJA
INTRODUÇÃO
A história do Cristianismo mostra que grandes pregadores surgiram em todos os lugares e foram responsáveis por manter a chama do avivamento acesa. Eles pregavam para um número tão grande de pessoas que muitos cultos foram realizados ao ar livre. Os templos não comportavam a multidão. A ênfase das mensagens era sobre a santidade de vida e o compromisso com Deus e sua palavra. Eles mudaram a vida espiritual no mundo. Os pregadores que impactaram suas igrejas e gerações, e comoveram indivíduos nessas igrejas e na sociedade e também nas áreas em que eles exerceram seus ministérios. Estes homens derramaram a sua vida como uma oferta suave, entregando-se completamente até o final de suas vidas.O tamanho do impacto que eles causaram não pode ser avaliado ou completamente entendido até aquele dia que estaremos diante do Senhor para nossas recompensas e receber os nossos tesouros no céu. Há tantos desses homens ao longo dos séculos que se destacaram como os maiores pregadores de todos os tempos, se não de toda a eternidade. E que com suas vidas, seus testemunhos, sua fé, moveram os braços de Deus em favor de si, de suas cidades, seus povos, suas gerações.
Naturalmente, devemos colocar Jesus em primeiro lugar, não só porque foi Ele a Palavra, mas porque Ele é o nosso modelo, a Autoridade por trás da Palavra e a expressão exata da comunicação divina. É óbvio que como toda pregação deriva Dele, de como Ele dirige a igreja, e sendo Ele é o cabeça da Igreja, fica bem claro que Jesus Cristo é o maior pregador de todos os tempos. A igreja brasileira está crescendo, exponencialmente vidas em todos os segmentos da sociedade estão sendo salvas, nos esportes, nas artes, no teatro, na TV, no congresso, profissionais liberais e até nas periferias. Graças a Deus por isso! É muito bom saber que muitas almas estão sendo alcançadas pelo evangelho, e então entendemos que algo muito mais que um bom evangelho precisa ser pregado em nossa geração. É tempo de parar e refletir um pouco a respeito daquilo que faremos com o evangelho para a próxima década, nestes tempos dificeis.  “Remindo o tempo; porquanto os dias são maus”.Ef.5:16.
Não devemos deixar nossa geração passar sem que ela experimente um poderoso avivamento, que tocará profundamente nas estruturas da igreja e na sociedade tão libertina e pecaminosa. O que será que nos falta para termos avivamento neste presente século. O que poderemos fazer para que isso venha a acontecer?
Creio que, em primeiro lugar, precisamos reconhecer a necessidade de um avivamento em nossa nação, começando com nossas vidas, pois lamentavelmente muitos se encontram descompromissados nesta era das destrações, do intretenimento e da diversão, dispersos abosolvidos pela correria do dia, sem saber o tempo que estamos vivendo, ou então nem sabem exatamente o que querem de suas vidas.
Em segundo lugar precisamos entender o que é avivamento, pois temos corrido o risco de confundir avivamento com bênçãos, com prosperidade, com milagres, com igrejas cheias, com muitas músicas, muito barulho, com reuniões avivalistas, com grandes campanhas de evangelização, e tantas outras coisas; mas é urgentemente necessário que compreendamos avivamento segundo a ótica de Deus e de sua palavra.
Em terceiro lugar, precisamos desejar de todo o nosso coração que tanto a nossa vida quanto a nossa nação sejam sacudidas com esse poderoso avivamento.
Em quarto lugar, é necessário, agora, buscarmos da forma correta este avivamento.
Em quinto e último lugar, para termos esse avivamento em nosso país é preciso saber que o nosso amado Deus anseia demasiadamente mais do que nós derramar esse poderoso avivamento em nossa tão amada nação.
Antes de qualquer outra consideração é muito importante que os queridos(as) e amados(as) tenham em suas mentes a seguinte afirmativa de nosso amado Deus, dada ao profeta Isaías: “Lembrai- vos das coisas passadas da antigüidade; que eu sou Deus e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antigüidade as coisas que ainda não sucederam, que digo: o meu conselho permanecerá de pé; farei toda a minha vontade!” (Is 46.8-10).
Que coisa tremenda! Independentemente do que o diabo e os homens estão tentando fazer com a igreja de Jesus hoje em dia, ela vai prosperar. O propósito de Deus não será frustrado e as portas do inferno não prevalecerão. Uma igreja linda, forte e gloriosa será levantada em cada cidade alta, em cada lugar estratégico, em cada cidade das nações, e cumprirá todo o querer de Deus na terra, detonará o inferno com o diabo e seus demônios e levantará o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, e todo o joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor.
O diabo por muito tempo tem mentido e enganado o povo de Deus. Agora é hora da igreja se levantar com sabedoria e inteligência espiritual, debaixo da autoridade de Deus expulsá-lo desse perímetro e fazer o reino de Deus se manifestar na terra.
Deus nunca permitirá que seu propósito seja frustrado. Sua igreja nunca será perdedora. Ela será gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante!
Ainda que as coisas por um tempo pareçam caminhar mal, ele prevalecerá. Ele cumprirá seu eterno propósito!
Ó, Deus! Que o Senhor nos ajude nesse tempo do fim e coloque um novo colírio em nossos olhos para entendermos a urgente necessidade de um AVIVAMENTO!

DWIGHT LYMAN MOODY
CÉLEBRE GANHADOR DE ALMAS
(1837-1899) - Tudo aconteceu durante uma das famosas campanhas de Moody e Sankey para salvar almas. A noite de uma se­gunda-feira tinha sido reservada para um discurso dirigido aos materialistas. Carlos Bradlaugh, campeão do ceticis­mo, então no zênite da fama, ordenou que todos os membros dos clubes que fundara assistissem à reunião. Assim, cerca de 5000 homens, resolvidos a dominar o culto, entraram e ocuparam todos os bancos.
Moody pregou sobre o texto: " A rocha deles não é como a nossa Rocha, sendo os nossos próprios inimigos os juizes" (Deuteronômio 32.31).
"Com uma rajada de incidentes pertinentes e como­ventes das suas experiências com pessoas presas ao leito de morte, Moody deixou que os homens julgassem por si mes­mos quem tinha melhor alicerce sobre o qual deviam ba­sear sua fé e esperança. Sem querer, muitos dos assistentes tinham lágrimas nos olhos. A grande massa de homens, demonstrando o mais negro e determinado desafio a Deus estampado nos seus rostos, encarou o contínuo ataque de Moody aos pontos mais vulneráveis, isto é, o coração e o lar.
"Ao findar, Moody disse: 'Levantemo-nos para cantar: Oh! vinde vós aflitos! e, enquanto o fazemos, os porteiros abram todas as portas para que possam sair todos os que quiserem. Depois faremos o culto, como de costume, para aqueles que desejarem aceitar o Salvador.' Uma das pes­soas que assistiu a esse culto, disse: 'Eu esperava que todos saíssem imediatamente, deixando o prédio vazio. Mas a grande massa de cinco mil homens se levantou, cantou e assentou-se de novo; nenhum deles deixou seu assento!'
"Moody, então disse: 'Quero explicar quatro palavras: Recebei, crede, confiai, aceitai.' Um grande sorriso passou de um a outro em todo aquele mar de rostos. Depois de fa­lar um pouco sobre a palavra recebei, fez um apelo: 'Quem quer recebê-lo? É somente dizer: Quero.' Cerca de cin­qüenta dos que estavam em pé e encostados às paredes, responderam: 'Quero', mas nenhum dos que estavam sen­tados. Um homem exclamou: 'Eu não posso', ao que Moo­dy replicou: 'Falou bem e com razão, amigo; foi bom ter fa­lado. Escute e depois poderá dizer: Eu posso'. Moody en­tão explicou o sentido da palavra crer e fez o segundo ape­lo: 'Quem dirá: Quero crer nele?' De novo alguns dos ho­mens que estavam em pé responderam, aceitando, mas um dos chefes dirigente dum clube, bradou: 'Eu não quero!' Moody, vencido pela ternura e compaixão, respondeu com voz quebrantada: 'Todos os homens que estão aqui esta noite têm de dizer: Eu quero ou Eu não quero'.
"Então, levou todos a considerarem a história do Filho Pródigo, dizendo: 'A batalha é sobre o querer - só sobre o querer. Quando o Filho Pródigo disse: Levantar-me-ei a luta foi ganha, porque alcançara o domínio sobre a sua própria vontade. É com referência a este ponto que depen­de tudo hoje. Senhores, tendes aí em vosso meio o vosso campeão, o amigo que disse: Eu não quero . Desejo que to­dos aqui, que acreditam que esse campeão tem razão le­vantem-se e sigam o seu exemplo, dizendo: Eu não quero.' Todos ficaram quietos e houve grande silêncio até que, por fim, Moody interrompeu, dizendo: 'Graças a Deus! Ninguém diz: Eu não quero. Agora quem dirá: Eu quero? Instantaneamente parece que o Espírito Santo tomou con­ta do grande auditório de inimigos de Jesus Cristo, e cerca de quinhentos homens puseram-se de pé, as lágrimas ro­lando pelas faces e gritando: 'Eu quero! Eu quero!' Clama­ram até que todo o ambiente se transformou. A batalha foi ganha.
"O culto terminou sem demora, para que se começasse a obra entre aqueles que estavam desejosos de salvação. Em oito dias, cerca de dois mil foram transferidos das filei­ras do inimigo para o exército do Senhor, pela rendição da vontade. Os anos que se seguiram provaram a firmeza da obra, pois os clubes nunca se ergueram. Deus, na sua mise­ricórdia e poder, os aniquilou por seu Evangelho."
Um total de quinhentas mil preciosas almas ganhas para Cristo, é o cálculo da colheita que Deus fez por inter­médio de seu humilde servo, Dwight Lyman Moody. R. A. Torrey, que o conheceu intimamente, considerava-o, com razão, o maior homem do século XIX, isto é, o homem mais usado por Deus para ganhar almas.
Não é exagero dizer que, hoje em dia, muitas décadas depois de sua morte, os crentes se referem ao seu nome mais do que a qualquer outro nome depois dos tempos dos apóstolos.
Que ninguém julgue, contudo, que D. L. Moody era grande em si mesmo ou que tinha oportunidades que os de­mais não têm. Seus antepassados eram apenas lavradores que viveram por sete gerações, ou duzentos anos, no vale do Connecticut, nos Estados Unidos. Dwight nasceu a 5 de fevereiro de 1837, de pais pobres, o sexto entre nove filhos. Quando era ainda pequeno, seu pai faleceu e os credores tomaram conta do que ficou, deixando a família destituída de tudo, até da lenha para aquecer a casa em tempo de in­tenso frio.
Não há história que comova e inspire tanto quanto a daqueles anos de luta da viúva, mãe de Dwight. Poucos meses depois da morte de seu marido, nasceram-lhe gê­meos e o filho mais velho tinha apenas doze anos. O conse­lho de todos os parentes foi que ela entregasse os filhos para outros criarem. Mas com invencível coragem e santa dedicação a seus filhos, ela conseguiu filhos no próprio lar. Guarda-se ainda, como tesouro pre­cioso, sua Bíblia com as palavras de Jeremias 49.11 subli­nhadas: "Deixa os teus órfãos, eu os conservarei em vida; e confiem em mim tuas viúvas."
- "Pode-se esperar outra coisa a não ser que os filhos fi­cassem ligados à mãe e que crescessem para se tornarem homens e mulheres que conhecessem o mesmo Deus que ela conhecia?" - Assim se expressou Dwight, ao lado do ataúde quando ela faleceu com a idade de noventa anos: -"Se posso conter-me, quero dizer algumas palavras. É grande honra ser filho de uma mãe como ela. Já viajei mui­to, mas nunca encontrei alguém como ela. Ligava a si seus filhos de tal maneira que representava um grande sacrifí­cio para qualquer deles afastar-se do lar. Durante o pri­meiro ano depois que meu pai faleceu, ela adormecia todas as noites chorando. Contudo, estava sempre alegre e ani­mada na presença dos filhos. As saudades serviam para chegá-la mais perto de Deus. Muitas vezes eu me acordava e ela estava orando, às vezes, chorando. Não posso expres­sar a metade do que desejo dizer. Aquele rosto, como é querido! Durante cinqüenta anos não senti gozo maior do que o gozo de voltar a casa. Quando estava ainda a setenta e cinco quilômetros de distância, já me sentia tão inquieto e desejoso de chegar que me levantava do assento para passear pelo carro até o trem chegar à estação... Se chega­va depois de anoitecer, sempre olhava para ver a luz na ja­nela da minha mãe. Senti-me tão feliz esta vez por chegar a tempo de ela ainda me reconhecer! Perguntei-lhe: -'Mãe, me conhece?' Ela respondeu: - 'Ora, se eu te conhe­ço!' Aqui está a sua Bíblia, assim gasta, porque é a Bíblia do lar; tudo que ela tinha de bom veio deste livro e foi dele que nos ensinou. Se minha mãe foi uma bênção para o mundo é porque bebia desta fonte. A luz da viúva brilhou do outeiro durante cinquenta anos. Que Deus a abençoe, mãe; ainda a amamos! Adeus, por um pouco, mãe!"
Ao contemplar o êxito de Dwight L. Moody, somos constrangidos a acrescentar: - Quem pode calcular as pos­sibilidades de um filho criado num lar onde os pais amam sinceramente ao Pai celestial a ponto de chamar diariamente todos os filhos para escutarem a sua voz na leitura da Bíblia e reverentemente clamarem a Ele em oração? Todos os filhos da viúva Moody assistiam aos cultos nos domingos; levavam merenda para passar o dia inteiro na igreja. Tinham de ouvir dois prolongados sermões e, no intervalo, assistir à Escola Dominical. Dwight, depois de trabalhar a semana inteira, achava que sua mãe exigia de­mais obrigando-o a assistir aos sermões, os quais não com­preendia. Mas, por fim, chegou a ser agradecido a essa boa mãe pela dedicação nesse sentido.
Com a idade de dezessete anos, Moody saiu de casa para trabalhar na cidade de Boston, onde achou emprego na sapataria de um seu tio. Continuou a assistir aos cultos, mas ainda não era salvo.
Notai bem, os que vos dedicais à obra de ganhar almas: não foi num culto que Dwight Moody foi levado ao Salva­dor. Seu professor da Escola Dominical, Eduardo Kimball, conta:
"Resolvi falar-lhe acerca de Cristo e de sua alma. Vaci­lei um pouco em entrar na sapataria, não queria embara­çar o moço durante as horas de serviço. Por fim, entrei, re­solvido a falar sem mais demora. Achei Moody nos fundos da loja, embrulhando calçados. Aproximei-me logo dele e, colocando a mão sobre seu ombro, fiz o que depois parecia-me um apelo fraco, um convite para aceitar a Cristo. Não me lembro do que eu disse, nem mesmo Moody podia lembrar-se alguns anos depois. Simplesmente falei do amor de Cristo para com ele, e o amor que Cristo esperava dele, de volta. Parecia-me que o moço estava pronto para receber a luz que o iluminou naquele momento e, lá nos fundos da sapataria, entregou-se a Cristo."
Na história dos crentes, através dos séculos, não há crente que fosse, no zelo, menos remisso e, no espírito, mais fervoroso em servir ao Senhor, desde a conversão até o dia da morte, do que Moody de Northfield. Quantas ve­zes depois, o senhor Kimball dava graças a Deus por não ter sido desobediente à visão celestial; qual teria sido o re­sultado se não tivesse falado ao moço naquela manhã na sapataria?!Era costume das igrejas daquela época, alugarem os as­sentos. Moody, logo depois da sua conversão, transbordan­do de amor para com seu Salvador , pagou aluguel de um banco, percorrendo as ruas, hotéis e casas de pensão solici­tando homens e meninos para enchê-lo em todos os cultos. Depois alugou mais um, depois outro, até conseguir encher quatro bancos, todos os Domingos. Mas isso não era sufi­ciente para satisfazer o amor que sentia para com os perdi­dos. Certo domingo visitou uma Escola Dominical em ou­tra rua. Pediu permissão para ensinar também, uma clas­se. O dirigente respondeu: "Há doze professores e dezesseis alunos, porém o senhor pode ensinar todos os alunos que conseguir trazer à escola." Foi grande a surpresa de todos quando Moody, no domingo seguinte, entrou com dezoito meninos da rua, sem chapéu, descalços e de roupa suja e esfarrapada, mas, como ele disse: "Todos com uma alma para ser salva." Continuou a levar cada vez mais alunos à Escola até que, alguns domingos depois, no prédio não ca­biam mais; então resolveu abrir outra escola em outra par­te da cidade. Moody não ensinava, mas arranjava profes­sores, providenciava o pagamento do aluguel e de outras despesas. Em poucos meses essa Escola veio a ser a maior da cidade de Chicago. Não julgando conveniente pagar ou­tros para trabalhar no Domingo, Moody, cedo, pela ma­nhã, tirava as pipas de cerveja (outros ocupavam o prédio durante a semana), varria e preparava tudo para o funcio­namento da escola. Depois, então, saía para convidar alu­nos. Às duas horas, quando voltava de fazer os convites, achava o prédio repleto de alunos.
Depois de findar a escola, ele visitava os ausentes e convidava todos para ouvirem a pregação, à noite. No ape­lo, após o sermão, todos os interessados eram convidados a ficar para um culto especial, no qual tratavam individual­mente com todos. Moody também participava nessa co­lheita de almas.
Antes de findar o ano, 600 alunos, em média, assistiam à Escola Dominical, divididos em 80 classes. A seguir a as­sistência subiu a 10000 e, às vezes, a 1500.
O êxito de Moody na Escola Dominical atraiu a aten­ção de outros que se interessavam pelo mesmo trabalho.De vez em quando era convidado a participar nas grandes convenções das Escolas Dominicais. Certa vez, depois de Moody haver falado numa convenção, um orador censu­rou-o severamente por não saber dirigir-se a um auditório. Moody foi para a frente, e depois de explicar que reconhe­cia não ser instruído, agradeceu ao ministro por ter mos­trado seus defeitos e pediu-lhe que orasse a Deus para que o ajudasse a fazer o melhor que pudesse.
Ao mesmo tempo que Moody se aplicava à Escola Do­minical com tais resultados, esforçava-se, também, no co­mércio todos os dias. O grande alvo da sua vida era vir a ser um dos principais comerciantes do mundo, um multi­milionário. Não tinha mais de 23 anos e já tinha ajuntado 7000 dólares! Mas seu Salvador tinha um plano ainda mais nobre para seu servo.
Certo dia, um dos professores da Escola Dominical en­trou na sapataria onde Moody negociava. Informou-o de que estava tuberculoso e que, desenganado pelo médico, resolvera voltar para Nova Iorque e aguardar a morte. Confessou-se muito perturbado, não porque tinha de mor­rer, mas porque até então não conseguira levar ao Salvador nenhuma das moças da sua classe da Escola Dominical. Moody, profundamente comovido, sugeriu que visitassem juntos as moças em suas casas, uma por uma. Visitaram uma, o professor falou-lhe seriamente acerca da salvação da sua alma. A moça deixou seu espírito leviano e começou a chorar, entregando-se ao seu Salvador. Todas as outras moças que foram visitadas naquele dia fizeram o mesmo.
Passados dez dias, o professor foi novamente à sapata­ria. Com grande gozo informou a Moody que todas as mo­ças se haviam entregado a Cristo. Resolveram então convi­dar todas para um culto de oração e despedida na véspera da partida do professor para Nova Iorque. Todos se ajoe­lharam e Moody, depois de fazer uma oração, estava para se levantar quando uma das moças começou, também, a orar. Todos oraram suplicando a Deus em favor do profes­sor. Ao sair Moody suplicou: "Ó Deus, permite-me morrer antes de perder a bênção que recebi hoje aqui!"Moody, mais tarde, confessou: "Eu não sabia o preço que tinha de pagar, como resultado de haver participado na evangelização individual das moças. Perdi todo jeito de negociar; não tinha mais interesse no comércio. Experi­mentara um outro mundo e não mais queria ganhar di­nheiro... Oh! delícia, a de levar uma alma das trevas deste mundo à gloriosa luz e liberdade do Evangelho!"
Então, não muito depois de casar-se, com a idade de vinte e quatro anos, Moody deixou um bom emprego com o salário de cinco mil dólares por ano, um salário fabuloso naquele tempo, para trabalhar todos os dias no serviço de Cristo, sem ter promessa de receber um único cêntimo. De­pois de tomar essa resolução, apressou-se em ir à firma B. F. Jacobs & Cia., onde, muito comovido, anunciou: - "Já resolvi empregar todo o meu tempo no serviço de Deus!" -"Como vai manter-se?" - "Ora, Deus me suprirá de tudo, se Ele quiser que eu continue; e continuarei até ser obriga­do a desistir."
É muito interessante notar o que ele escreveu não mui­to depois, a seu irmão Samuel: "Caro irmão: As horas mais alegres que já experimentei na terra foram as que passei na obra da Escola Dominical. Samuel, arranja uma classe de moços perdidos leva-os à Escola Dominical e pede a Deus sabedoria, e instrui-os no caminho da vida eterna!" Ao mesmo tempo em que Moody descrevia a sua alegria, foi obrigado a deixar a pensão, a alimentar-se mais simples­mente e a dormir num dos bancos do salão.
Acerca de seu desprendimento pelo dinheiro, R. A. Torrey fez esta observação: "Ele (Moody) disse-me que, se ti­vesse aceitado lucros provenientes da venda dos hinários por ele publicados, eles somariam um milhão de dólares. Porém Moody recusou-se a tocar naquele dinheiro, embora por direito fosse seu... Numa certa cidade visitada por Moody nos últimos dias de sua vida, estando eu em sua companhia, foi publicamente anunciado que ele não acei­taria qualquer recompensa por seus serviços. O fato era que ele quase não tinha outros meios de sustento senão aquilo que recebia nas suas conferências, todavia ele não comentou o anúncio feito, mas saiu daquela cidade sem re­ceber um centavo sequer pelo seu árduo trabalho; e, pare­ce-me, que foi ele mesmo quem pagou sua conta no hotel onde se hospedara."
A parte da biografia de D. L. Moody que trata dos pri­meiros anos do seu ministério está repleta de proezas feitas na carne. Mencionamos aqui apenas uma, isto é, o fato de Moody fazer 200 visitas em um só dia. Ele mesmo mais tarde se referia àqueles anos como uma manifestação do "zelo de Deus, mas sem entendimento", acrescentando: Há, contudo muito mais esperança para o homem com zelo e sem entendimento do que para o homem de entendi­mento sem zelo."
Rompeu a tremenda Guerra Civil e Moody chegou com os primeiros soldados ao acampamento militar onde ar­mou uma grande tenda para os cultos. Depois ajuntou di­nheiro e levantou um templo onde dirigiu 1500 cultos du­rante a guerra. Uma pessoa que o conhecia assim comen­tou sua ação: "Moody precisa estar constantemente em to­dos os lugares, dia e noite, nos domingos e todos os dias da semana; orando, exortando, tratando com os soldados acerca das suas almas, regozijando-se nas oportunidades abundantes de trabalhar no grande fruto ao seu alcance por causa da guerra."
Depois de findar a guerra, dirigiu uma campanha para levantar em Chicago um prédio para os cultos, com capa­cidade para três mil pessoas. Quando, mais tarde esse edifício foi destruído por um incêndio, ele e dois outros ini­ciaram outra campanha, antes de os escombros haverem esfriado, para levantar novo edifício. Trata-se do Farwell Hall II, que se tornou um grande centro religioso em Chi­cago. O segredo desse êxito foram os cultos de oração que se realizavam diariamente, ao meio-dia, precedidos por uma hora de oração de Moody, escondido no vão debaixo da escada.
No meio desses grandes esforços, Moody resolveu, ines­peradamente, fazer uma visita à Inglaterra.
Em Londres, antes de tudo, foi ouvir Spurgeon pregar no Metropolitan Tabernacle. Já tinha lido muito do que "o príncipe dos pregadores" escrevera, mas ali pôde verificar que a grande obra não era de Spurgeon, mas de Deus, e saiu de lá com uma outra visão.
Visitou Jorge Müller e o orfanato em Bristol. Desde aquele tempo a Autobiografia de Müller exerceu tanta in­fluência sobre ele como já o tinha feito "O Peregrino", de Bunyan.
Entretanto, nessa viagem, o que levou Moody a buscar definitivamente uma experiência mais profunda com Cris­to, foram estas palavras proferidas por um grande ganha­dor de almas de Dubim, Henrique Varley: "O mundo ain­da não viu o que Deus fará com, para, e pelo homem intei­ramente a Ele entregue." Moody disse consigo mesmo: "E­le não disse por um grande homem, nem por um sábio, nem por um rico, nem por um eloqüente, nem por um inte­ligente, mas simplesmente por um homem. Eu sou um ho­mem, e cabe ao homem mesmo resolver se deseja ou não consagrar-se assim. Estou resolvido a fazer todo o possível para ser esse homem." Apesar de tudo isso, Moody, depois de voltar à América, continuava a se esforçar e a empregar métodos naturais. Foi nessa época que a cidade de Chicago foi reduzida a cinzas no pavoroso incêndio de 1871.
Na noite do início do pavoroso incêndio, Moody pregou sobre este tema: - "Que farei, então, de Jesus, chamado Cristo?" Ao concluir seu sermão, ele disse ao auditório, o maior a que pregara em Chicago: "Quero que leveis esse texto para casa e nele mediteis bem durante a semana e no domingo vindouro iremos ao Calvário e à cruz e resolvere­mos o que faremos de Jesus de Nazaré.
- "Como errei!" disse Moody, depois. - "Não me atrevo mais a conceder uma semana de prazo ao perdido para de­cidir sobre a salvação. Se se perderem serão capazes de se levantar contra mim no dia do juízo. Lembro-me bem de como Sankey cantou e como sua voz soou quando chegou a estrofe de apelo: "O Salvador chama para o refúgio. Rom­pe a tempestade e breve vem a morte."
"Nunca mais vi aquele auditório. Ainda hoje desejo chorar... Prefiro ter a mão direita decepada, a conceder ao auditório uma semana para decidir o que fará de Jesus. Muitos me censuram dizendo: - "Moody, o senhor quer que o povo se decida imediatamente. Por que não lhe dá tempo para consultar?"
"Tenho pedido a Deus muitas vezes que me perdoe por ter dito naquela noite que podiam passar oito dias para considerar, e se Ele poupar minha vida não o farei de novo."
O grande incêndio rugiu e ameaçou durante quatro dias; consumindo Farwell Hall, o templo de Moody e a sua própria residência. Os membros da igreja foram todos dis­persos. Moody reconheceu que a mão de Deus o castigara para o ensinar, e isso tornou-se para ele motivo de grande regozijo.
Foi a Nova Iorque, a fim de granjear dinheiro para os flagelados do grande sinistro. Acerca do que se passou, ele mesmo escreveu: "Não sentia o desejo no coração de solici­tar dinheiro. Todo o tempo eu clamava a Deus pedindo que me enchesse do seu Espírito. Então, certo dia, na cida­de de Nova Iorque - Ah! que dia! Não posso descrevê-lo, nem quero falar no assunto; é experiência quase sagrada demais para ser mencionada. O apóstolo Paulo teve uma experiência acerca da qual não falou por catorze anos. Pos­so apenas dizer que Deus se revelou a mim e tive uma ex­periência tão grande do seu amor que tive de rogar-lhe que retirasse de mim sua mão. Voltei a pregar. Os sermões não eram diferentes; não apresentei outras verdades; contudo, centenas se converteram. Não quero voltar para viver de novo como vivi outrora nem que eu pudesse possuir o mun­do inteiro."
Acerca dessa experiência, um de seus biógrafos acres­centou: "O Moody que andava na rua parecia outro. Nun­ca jamais bebera mosto, mas então conhecia a diferença entre o júbilo que Deus dá e o falso júbilo de Satanás. En­quanto andava, parecia-lhe que um pé dizia a cada passo, 'Glória!' e o outro respondia, 'Aleluia!'. O pregador rom­peu em soluços, balbuciando: 'Ó Deus, constrange-nos an­dar perto de ti para todo o sempre.'"
Sobre o mesmo acontecimento, ainda outro escreveu o seguinte: "O fruto da sua pregação tinha sido pequeno. Angustiado em espírito, ele andava pelas ruas da grande cidade de noite orando: 'Ó Deus unge-me com teu Espírito!' - Deus ouviu e concedeu-lhe lá mesmo na rua, aquilo por que rogava. Sua vida anterior era como se experimen­tasse puxar água dum poço que parecia seco. Fazia funcio­nar a bomba com toda a força, mas tirava muito pouca água. Agora Deus fez sua alma como um poço artesiano onde nunca falta água. Assim chegou a compreender o que significam as palavras: "A água que eu lhe der, virá a ser nele uma fonte de água que mana para a vida eterna."
O Senhor supriu dinheiro para Moody construir um edifício provisório para realizar os cultos em Chicago. Era de madeira rústica, forrado de papel grosso para evitar o frio; o teto era sustentado por fileiras de estacas colocadas no centro. Nesse templo provisório realizaram-se os cultos, durante três anos, no meio dum deserto de cinzas. A maior parte do trabalho de construção fora feita pelos membros que moravam em ranchos ou mesmo em lugares escavados por debaixo das calçadas das ruas. Ao primeiro culto assis­tiram mais de mil crianças com seus respectivos pais!
Esse templo provisório serviu de morada para Moody e Sankey, seu evangelista-cantor; eram tão pobres como os outros em redor, mas tão cheios de esperança e gozo que conseguiram levar muitos a Cristo e se tornarem ricos, apesar de nada possuírem. Onda após onda de avivamento passou sobre o povo. Os cultos continuavam dia e noite, quase sem cessar, durante alguns meses. Multidões chora­vam seus pecados, às vezes dias inteiros e no dia seguinte, perdoados, clamavam e louvavam em gratidão a Deus. Homens e mulheres até então desanimados participavam do gozo transbordante de Moody, transformado pelo batis­mo com o Espírito Santo.
Não muito depois de haver construído o templo perma­nente (com assentos para 2000 pessoas - e sem endividar-se), Moody fez a sua segunda viagem à Inglaterra. Nos seus primeiros cultos nesse país, encontrou igrejas frias, com pouca assistência e o povo sem interesse nas suas mensagens. Mas a unção do Espírito, que Moody recebera nas ruas de Nova Iorque, ainda permanecia na sua alma e Deus o usou como seu instrumento para um avivamento mundial.
Não desejava métodos sensacionais, mas usou os mesmos métodos humildes até o fim da vida: sermão dirigido direto aos ouvintes; aplicação prática da mensagem do Evangelho à necessidade individual; solos cantados sob a unção do Espírito; apelo para que o perdido se entregasse imediatamente; uma sala no lado aonde levava os que se achavam em "dificuldades" em aceitar a Cristo; a obra que depois os salvos faziam entre os "interessados" e re­cém-convertidos; diariamente uma hora de oração ao meio-dia, e cultos que duravam dias inteiros.
O próprio Moody disse estas palavras: "Se estamos cheios do Espírito, e de poder, um dia de serviço com poder vale mais do que um ano de serviço sem esse poder." Outra vez acrescentou: "Se estamos cheios do Espírito, ungidos, nossas palavras alcançarão os corações do povo."
Na Inglaterra, as cidades de York, Senderland, Bishop, Auckland, Carlisle e Newcastle foram vivificadas como nos dias de Whitefield e Wesley. Na Escócia, em Edinburgh, os cultos se realizaram no maior edifício e "a cidade inteira ficou comovida." Em Glasgow, a obra começou com uma reunião de professores da Escola Dominical, a que assistiram mais de 3000. O culto de noite foi anuncia­do para às 6,30, mas muito antes da hora marcada, o gran­de edifício ficou repleto e a multidão que não pôde entrar foi levada para as quatro igrejas mais próximas. Essa série de cultos transformou radicalmente a vida diária do povo. Na última noite Sankey cantou para 7000 pessoas que es­tavam dentro do edifício, e Moody, sem poder entrar no auditório, subiu numa carruagem e pregou a 20 mil pes­soas que se achavam congregadas do lado de fora. O coral cantou os hinos de cima dum galpão. Em um só culto mais de 2000 pessoas responderam ao apelo para se entregarem definitivamente a Cristo
Durante o verão, pregou em Aberdeen, Montrose, Brechin, Forfar, Huntley, Inverness, Arbroath, Fairn, Nairn, Elgin, Ferres, Grantown, Keith, Rothesay e Campbel-town; muitos milhares assistiam a todos os cultos.
Na Irlanda, Moody pregou nos maiores centros com os mesmos resultados, como na Inglaterra e Escócia. Os cul­tos em Belfast continuaram durante quarenta dias. O últi­mo culto foi reservado para os recém-convertidos, que só podiam ter ingresso por meio de bilhetes, concedidos gra­tuitamente. Assistiram 2.300 pessoas. Belfast fora o centro de vários avivamentos, mas todos concordam em que nun­ca houvera um avivamento antes desse de resultados tão permanentes.
Depois da campanha na Irlanda, Moody e Sankey vol­taram à Inglaterra e dirigiram cultos inesquecíveis em Shefield, Manchester, Birgmingham e Liverpool. Durante muitos meses, os maiores edifícios dessas cidades ficaram superlotados de multidões desejosas de ouvirem a apresen­tação clara e ousada do Evangelho por um homem livre de todo o interesse e ostentação. O poder do Espírito se mani­festou em todos os cultos produzindo resultados que per­manecem até hoje.
O itinerário de Moody e Sankey na Europa, findou-se após quatro meses de cultos em Londres. Moody pregava alternadamente em quatro centros. Os seguintes algaris­mos nos servem para compreender algo da grandeza dessa obra durante os quatro meses: Realizaram-se 60 cultos em Agricultural Hall, aos quais um total de 720.000 pessoas assistiram; em Bow Road Hall, 60 cultos, aos quais 600.000 assistiram; em Camberwell Hall, 60 cultos, com a assistên­cia de 480.000; Haymarket Opera House, 60 cultos, 330.000; Vitória Hall, 45 cultos, 400.000 assistentes.
Como é glorioso acrescentar aqui o seguinte: "As dife­renças entre as denominações quase desapareceram. Pre­gadores de todas as igrejas cooperavam numa plataforma comum para a salvação dos perdidos. Abriram-se de novo as bíblias e houve um grande interesse pelo estudo da Pa­lavra de Deus."
Quando Moody saiu dos Estados Unidos em 1873, era conhecido apenas em alguns Estados e tinha fama, apenas como obreiro de Escola Dominical e da Associação Cristã de Moços. Mas quando voltou da campanha na Inglaterra em 1875, era conhecido como o mais famoso pregador do mundo. Contudo continuou o mesmo humilde servo de Deus. Foi assim que uma pessoa que o conhecia intima­mente descreveu sua personalidade: "Creio que era a pes­soa mais humilde que jamais conheci... Ele não fingia hu­mildade. No íntimo do seu coração rebaixava-se a si mes-mo e superestimava os outros. Ele engrandecia outros ho­mens, e, sempre que possível arranjava para que eles pre­gassem. Fazia tudo para não aparecer."
Ao chegar novamente aos Estados Unidos, Moody rece­beu convites, para pregar, de todas as partes do País. Sua primeira campanha (em Brooklyn) foi um modelo para to­das as outras. As denominações cooperavam; alugaram um prédio que comportava 3000 pessoas. O resultado foi uma grande e permanente obra.
Durante um período de vinte anos, ele dirigiu campa­nhas com grandes resultados nas maiores cidades dos Es­tados Unidos, Canadá e México. Em diversos lugares as campanhas duraram até seis meses. Em todos os lugares Moody proclamava clara e praticamente a mensagem do Evangelho.
Nas suas campanhas havia ocasiões que eram realmen­te dramáticas. Em Chicago, o Circo Forepaugh, com uma tenda de lona que tinha assentos para 10.000 pessoas e lu­gares para outras 10.000 em pé, anunciou representações para dois domingos. Moody alugou a tenda para os cultos de manhã, os donos achando muita graça em tal tentativa. Mas no primeiro culto a tenda ficou repleta. Foram tão poucos os que assistiram às representações do circo à tar­de, que os donos resolveram não fazer sessão no segundo domingo. Entretanto, o culto realizou-se sob a lona no se­gundo domingo, o calor era tanto que dava a impressão de matar a todos, porém 18.000 pessoas ficaram em pé, ba­nhados em suor e esquecidos do calor. No silêncio que rei­nava durante a pregação de Moody, o poder desceu e cen­tenas foram salvos. Acerca de um desses cultos certo assis­tente deu estas impressões:
"Nunca jamais me esquecerei de certo sermão que Moody pregou. Foi no Circo de Forepaugh durante a Expo­sição Mundial. Estavam presentes 17.000 pessoas, de to­das as classes e de todas as qualificações. O texto do ser­mão foi: Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.' Grandiosa era a unção do pregador; pa­recia que estava em íntimo contacto com todos os corações daquela massa de gente. Moody disse repetidamente: Pois o Filho do homem veio - veio hoje ao Circo Forepaugh - para procurar e salvar o que se perdera.' Escrito e impres­so, isso parece um sermão comum, mas as suas palavras, pela santa unção que lhe sobreveio, tornaram-se palavras de espírito e de vida."
Durante a Exposição Mundial, no dia designado em honra de Chicago, todos os teatros da cidade fecharam, porque se esperava que todo o mundo fosse à Exposição a seis quilômetros de distância. Porém Moody alugou o Cen­tral Music Hall e R. A. Torrey testificou que a assistência era tão grande, que ele só conseguiu entrar por uma janela dos fundos do prédio. Os cultos de Moody continuaram tão concorridos que a Exposição Mundial teve de deixar de funcionar aos domingos, por falta de assistência.
Henrique Moorehouse, pregador escocês, dá a seguinte opinião acerca dos discursos de Moody:
1) "Crê firmemente que o Evangelho salva os pecado­res, quando eles crêem, e confia na história simples do Sal­vador crucificado e ressuscitado.
2) "Espera a salvação de almas, quando prega, e o re­sultado é que Deus honra a sua fé.
3) "Prega como se nunca jamais se realizasse outro cul­to e como se os pecadores nunca mais tivessem oportuni­dade de ouvir o som do Evangelho. Seus apelos a decisão agora mesmo são comoventes.
4) "Consegue levar os crentes a trabalhar com os inte­ressados depois do sermão. Insiste em que perguntem aos que estão assentados ao lado se são salvos ou não. Tudo na sua obra é muito simples e aconselho os obreiros da seara do Senhor a aprenderem de nosso amado irmão algumas li­ções preciosas sobre a obra de ganhar almas."
O doutor Dale disse: "Acerca do poder de Moody, acho difícil falar. É tão real e ao mesmo tempo tão diferente do poder dos demais pregadores, que não sei descrevê-lo. Sua realidade é inegável. Um homem que pode cativar o inte­resse de um auditório de três a seis mil pessoas, por meia hora, de manhã, por quarenta minutos, de novo, ao meio-dia e de um terceiro auditório, de 13 a 15 mil, durante qua­renta minutos, à noite, deve ter um poder extraordinário."
Acerca desse poder maravilhoso, Torrey testificou: "Várias vezes tenho ouvido diversas pessoas dizerem que viajaram grandes distâncias para ver e ouvir D. L. Moody, e que ele, de fato, é um maravilhoso pregador. Sim, ele era em verdade um maravilhoso pregador; considerando tudo, o mais maravilhoso que eu jamais ouvi; era grande o privi­légio de ouvi-lo pregar, como só ele sabia pregar. Contudo, conhecendo-o intimamente, quero testificar que Moody era maior como intercessor do que como pregador. Enfren­tando obstáculos aparentemente invencíveis, ele sabia vencer todas as dificuldades. Sabia, e cria no mais profun­do de sua alma, que não havia nada demasiadamente difí­cil para Deus fazer, e que a oração podia conseguir tudo que Deus pudesse realizar."
Certo dia, na sua grande campanha em Londres, Moo­dy estava pregando num teatro repleto de pessoas da alta sociedade, e entre elas havia um membro da família real. Moody levantou-se e leu Lucas 4.27: "E havia muitos le­prosos em Israel no tempo do profeta Eliseu..." Ao chegar à palavra "Eliseu", ele não a podia pronunciar e começou a gaguejar e balbuciar. Começou a ler o versículo de novo, mas de novo não podia passar adiante. Experimentou a terceira vez e falhou pela terceira vez. Então fechou o livro e muito comovido olhou para cima, dizendo: "Ó Deus! use esta língua de gago para proclamar Cristo crucificado a este povo!" Desceu sobre ele o poder de Deus e ele derra­mou sua alma em tal torrente de palavras que o auditório inteiro ficou como que derretido pelo fogo divino.
Foi durante essa segunda visita às Ilhas Britânicas que fez a sua obra entre os homens das suas célebres universi­dades, Oxford e Cambridge. É uma história muitas vezes repetida de como ele, sem instrução, mas, com a graça de Deus e diplomacia, venceu a censura e fez entre os intelec­tuais o que alguns consideram a maior obra da sua vida.
Apesar de Moody não ter instrução acadêmica, reco­nhecia o grande valor da educação e sempre aconselhava a mocidade a se preparar para manejar bem a Palavra de Deus. Reconhecia a grande vantagem da instrução tam­bém para os que pregam no poder do Espírito Santo. Ain­da existem três grandes monumentos às suas convicções nesse ponto - as três escolas que ele fundou: O Instituto Bíblico em Chicago, com 38 prédios e 16000 alunos matriculados nas aulas diurnas, noturnas e Cursos por Corres­pondência; o Northfield Seminário, com 490 alunos, e a Escola do Monte Hermom, com 500 alunos.
Entretanto, ninguém se engane como alguns desses alunos e como diversos crentes entre nós, pensando que o grande poder de Moody era mais intelectual do que espiri­tual. Nesse ponto ele mesmo falava com ênfase: para maior clareza, citamos o seguinte de seus "Short Talks": "Não conheço coisa mais importante que a América preci­se do que de homens e mulheres inflamados com o fogo do Céu; nunca encontrei um homem (ou uma mulher) infla­mado com o Espírito de Deus que fracassasse. Creio que isso seja mesmo impossível; tais pessoas nunca se sentem desanimadas. Avançam mais e mais e se animam mais e mais. Amados, se não tendes essa iluminação, resolvei ad­quiri-la, e orai: 'Ó Deus ilumina-me com o teu Espírito Santo!'"
No que R. A. Torrey escreveu aparece o espírito dessas escolas que fundou:
"Moody costumava escrever-me antes de iniciar uma nova campanha, dizendo: Pretendo dar início ao trabalho no lugar tal e em tal dia; peço-lhe que convoque os estu­dantes para um dia de jejum e oração.' Eu lia essas cartas aos estudantes e lhes dizia: Moody deseja que tenhamos um dia de jejum e oração para pedir, primeiramente, as bênçãos divinas sobre nossas próprias almas e nosso traba­lho! Muitas vezes ficávamos ali na sala das aulas até alta noite - ou mesmo até a madrugada - clamando a Deus, porque Moody nos exortava a esperar até que recebêsse­mos a bênção. Quantos homens e mulheres não tenho eu conhecido, cujas vidas e caracteres foram transformados por aquelas noites de oração, e quantos têm conseguido grandes coisas, em muitas terras, como resultado daquelas horas gastas em súplicas a Deus!
"Até o dia da minha morte não poderei esquecer-me de 8 de julho de 1894. Era o último dia da Assembléia dos Es­tudantes de Northfield... Às 15 horas reunimo-nos em frente à casa da progenitora de Moody... Havia 456 pessoas em nossa companhia... Depois de andarmos alguns minu­tos, Moody achou que podíamos parar. Nós nos sentamos nos troncos de árvores caídas, em pedras, ou no chão. Moody então franqueou a palavra, dando licença para qual­quer estudante expressar-se. Uns 75 deles, um após outro, levantaram-se, dizendo: 'Eu não pude esperar até às 15 ho­ras, mas tenho estado sozinho com Deus desde o culto de manhã e creio que posso dizer que recebi o batismo com o Espírito Santo.' Ouvindo o testemunho desses jovens, Moody sugeriu o seguinte: 'Moços, por que não podemos ajoelhar-nos aqui, agora, e pedir que Deus manifeste em nós o poder do seu Espírito de um modo especial, como fez aos apóstolos no dia de Pentecoste?' E ali na montanha oramos.
"Na subida, tínhamos notado como se iam acumulan­do nuvens pesadas; no momento em que começamos a orar, principiou a chuva a cair sobre os grandes pinheiros e sobre nós. Porém houve uma outra qualidade de nuvem que há dez dias estava se acumulando sobre a cidade de Northfield - uma nuvem cheia da misericórdia, da graça e do poder divino, de sorte que naquela hora parecia que nossas orações bombardeavam essas nuvens, fazendo des­cer sobre nós, em grande poder, a virtude do Espírito San­to.
"Homens e mulheres, eis o de que todos nós carecemos - o batismo com o Espírito Santo!"
Que Moody mesmo era um estudante incansável, vê-se no seguinte:
"Todos os dias da sua vida, até o fim, segundo creio, ele se levantava muito cedo de manhã para meditar na Pala­vra de Deus. Costumava deixar sua cama às quatro horas da madrugada, mais ou menos, para estudar a Bíblia. Um dia ele me disse: Tara estudar, preciso me levantar antes que as outras pessoas acordem'. Ele se fechava num quarto afastado do resto da família, sozinho com a sua Bíblia e com o seu Deus.
"Pode-se falar em poder, porém, ai do homem que ne­gligenciar o único Livro dado por Deus, que serve de ins­trumento, por meio do qual Ele dá e exerce seu poder. Um homem pode ler inúmeros livros e assistir a grandes con­venções; pode promover reuniões de oração que durem noi­tes inteiras, suplicando o poder do Espírito Santo, mas se tal homem não permanecer em contato íntimo e constante com o único Livro, a Bíblia, não lhe será concedido o po­der. Se já tem alguma força não conseguirá mantê-la, se­não pelo estudo diário, sério e intenso desse Livro."
Tudo no mundo tem de findar; chegou o tempo tam­bém para D. L. Moody findar o seu ministério aqui na ter­ra. Em 16 de novembro de 1899, no meio de sua campanha em Kansas City, com auditórios de 15.000 pessoas, pregou seu último sermão. É provável que soubesse que seria o úl­timo: certo é que seu apelo era ungido com poder vindo do Alto e centenas de almas foram ganhas para Cristo.
Para a nação, a sexta-feira, 22 de dezembro de 1899, foi o dia mais curto do ano, mas para D. L. Moody, foi o dia que clareou, foi o começo do dia que nunca findará. Às seis horas da manhã dormiu um ligeiro sono. Então os seus queridos ouviram-no dizer em voz clara: "Se isto é a mor­te, não há nenhum vale. Isto é glorioso. Entrei pelas portas e vi as crianças! (Dois de seus netos já falecidos). A terra recua; o céu se abre perante mim. Deus está me chaman­do!" Então virou-se para a sua esposa, a quem ele queria mais do que a todas as pessoas, a não ser Cristo, e disse: "Tu tens sido para mim uma boa esposa."
No singelo culto fúnebre, Torrey, Scofield, Sankey e outros falaram à grande multidão comovida que assistiu. Depois o ataúde foi levado pelos alunos da Escola Bíblica de Monte Hermom a um lugar alto que ficava próximo, chamado "Round Top". Três anos depois, a fiel serva de Deus, Ema Moody, sua esposa, também dormiu em Cristo e foi enterrada ao lado do marido, no mesmo alto, onde permanecerão até o glorioso dia da ressurreição.
Contemplemos de novo, por um momento, a vida ex­traordinária desse grande ganhador de almas. Quando o jovem Moody chorava sob o poder do alto na pregação do jovem Spurgeon, foi inspirado a exclamar: "Se Deus pode usar Spurgeon, Ele me pode usar também". A biografia de Moody é a história de como ele vivia completamente sub­misso a Deus, para esse fim. R. A. Torrey disse: "O primei­ro fator por cujo motivo Moody foi instrumento tão útil nas mãos de Deus é que ele era um homem inteiramente sub­misso à vontade divina. Cada grama daquele corpo de 127quilos pertencia ao Senhor; tudo que ele era e tudo que ti­nha pertencia inteiramente a Deus... Se nós, tu e eu, leitor, queremos ser usados por Deus, temos de nos submeter a Ele absolutamente e sem reservas."
Leitor, resolve agora, com a mesma determinação e pelo auxílio divino: "Se Deus podia usar Dwight Lyman Moody, Ele me pode usar também!"Que assim seja! Amém!
(estraido do livro hérois da fé)

MARTINHO LUTERO
O GRANDE REFORMADOR
(1483-1546) - No cárcere, sentenciado pelo Papa a ser queimado vivo, João Huss disse: "Podem matar o ganso (na sua língua, 'huss' é ganso), mas daqui a cem anos, Deus suscitará um cisne que não poderão queimar".
Enquanto caía a neve, e o vento frio uivava como fera em redor da casa, nasceu esse "cisne", em Eisleben, Ale­manha. No dia seguinte, o recém-nascido era batizado na Igreja de São Pedro e São Paulo. Sendo o dia de São Martinho, recebeu o nome de Martinho Lutero.
Cento e dois anos depois de João Huss expirar na fo­gueira, o "cisne" afixou, na porta da Igreja em Wittenberg, as suas noventa e cinco teses contra as indulgências, ato que gerou a Grande Reforma. João Huss enganara-se em apenas dois anos, na sua predição.
Para dar o valor devido à obra de Martinho Lutero, é necessário notar algo das trevas e confusão dos tempos em que nasceu.
Calcula-se que, pelo menos, um milhão de albigenses foram mortos na França, a fim de cumprir a ordem do Pa­pa, para que esses "hereges" fossem cruelmente extermi­nados. Wyclif, "a Estrela da Alva da Reforma", traduzira a Bíblia para a língua inglesa. João Huss, discípulo de Wy­clif, morrera na fogueira, na Boêmia, suplicando ao Senhor que perdoasse aos seus perseguidores. Jerônimo de Praga, companheiro de Huss e também erudito, sofrera o mesmo suplício, cantando hinos, nas chamas, até o último suspi­ro. João Wessália, notável pregador de Erfurt, fora preso por ensinar que a salvação é pela graça; seu frágil corpo fora metido entre ferros, onde morreu quatro anos antes do nascimento de Lutero. Na Itália, quinze anos depois de Lutero nascer, Savonarola, homem dedicado a Deus e fiel pregador da Palavra, foi enforcado e seu corpo reduzido a cinzas, por ordem da Igreja Romana.
Em tempos assim, nasceu Martinho Lutero. Como muitos dos mais célebres entre os homens, era de família pobre. Dizia ele: "Sou filho de camponeses; meu pai, meu avô e meu bisavô eram verdadeiros camponeses". A isso acrescentava: "Há tanta razão para vangloriarmo-nos de nossa ascendência, quanto há para o Diabo se orgulhar da sua linhagem angélica".
Os pais de Martinho, para vestir, alimentar e educar seus sete filhos, esforçavam-se incansavelmente. O pai tra­balhava nas minas de cobre; a mãe, além do serviço do­méstico, trazia lenha às costas, da floresta.
Os pais, não somente se interessavam pelo desenvolvi­mento físico e intelectual dos filhos, mas também do espi­ritual. O pai, quando Martinho chegou à idade de com­preender, ensinou-o a ajoelhar-se ao lado da sua cama, à noite, e rogava a Deus que fizesse o menino lembrar-se do nome de seu Criador (Eclesiastes 12.1)..
A sua mãe era sincera e devota; ensinou seus filhos a considerarem todos os monges como homens santos, e a sentirem todas as transgressões dos regulamentos da igreja como transgressões das leis de Deus. Martinho aprendeu os Dez Mandamentos, o "Pai Nosso", a respeitar a Santa Sé na distante e sagrada Roma, e a olhar, tremendo, para qualquer osso ou fragmento de roupa que tivesse pertencido a algum santo. A base da sua religião formava-se mais em que Deus é um juiz vingativo, do que um amigo de crianças (Mateus 19.13-15). Quando já era adulto, Lutero escreveu: "Estremecia e tornava-me pálido ao ouvir al­guém mencionar o nome de Cristo, porque fui ensinado a considerá-lo como um juiz encolerizado. Fomos ensinados que devíamos, nós mesmos, fazer propiciação por nossos pecados; que não podemos fazer compensação suficiente por nossa culpa, que é necessário recorrer aos santos nos céus, e clamar a Maria para desviar de nós a ira de Cristo."
O pai de Martinho, satisfeitíssimo pelos trabalhos esco­lares do filho, na vila onde morava, mandou-o, aos treze anos, para a escola franciscana na cidade de Magdeburgo.
O moço apresentava-se freqüentemente no confessio­nário, onde o padre lhe impunha penitências e o obrigava a praticar boas obras, para obter a absolvição. Esforçava-se incessantemente para adquirir o favor de Deus, pela pieda­de, desejo esse que o levou mais tarde à vida de convento.
Para conseguir a sua subsistência em Magdeburgo, Martinho era obrigado a esmolar pelas ruas, cantando can­ções de porta em porta. Seus pais, achando que em Eisenach passaria melhor, mandaram-no para estudar nessa cidade, onde moravam parentes de sua mãe. Porém esses parentes não o auxiliaram, e o moço continuou a mendigar o pão.
Quando estava a ponto de abandonar os estudos, j)ara trabalhar com as mãos, certa senhora de recursos, D. Ursula Cota, atraída por suas orações na igreja e comovida pela humilde maneira de receber quaisquer restos de comida, na porta, acolheu-o entre a família. Pela primeira vez Lu­tero sentira fartura. Mais tarde, ele referia-se à cidade de Eisenach como a "cidade bem amada". Quando Lutero se tornou famoso, um dos filhos da família Cota cursava em Wittenberg, onde Lutero o recebeu na sua casa.
Domiciliado na casa da sua extremosa mãe adotiva, D. Ursula, Martinho desenvolveu-se rapidamente, recebendo uma sólida educação. Seu mestre, João Trebunius, era ho­mem culto e de métodos esmerados. Não maltratava os alunos como os demais mestres. Conta-se que, ao encon­trar os moços da sua escola, cumprimentava-os tirando o chapéu, porque "ninguém sabia quais seriam dentre eles os doutores, regentes, chanceleres e reis..." O ambiente da escola e no lar era-lhe favorável para produzir um caráter forte e inquebrantável, tão necessário para enfrentar os mais temíveis inimigos de Deus.
Martinho Lutero era mais sóbrio e devoto que os de­mais rapazes da sua idade. Acerca deste fato, D. Ursula, na hora da morte, disse que Deus tinha abençoado o seu lar grandemente desde o dia em que Lutero entrara em sua casa.
Logo depois, os pais de Martinho alcançaram certa abastança. O pai alugou um forno para fundição de cobre e depois passou a possuir mais dois. Foi eleito vereador na sua cidade e começou a fazer planos para educar seus fi­lhos. Mas Martinho nunca se envergonhou dos dias da sua provação e miséria; antes reconhecia que fora a mão de Deus dirigindo-o e qualificando-o para a sua grande obra.
- Como poderia alguém, depois de homem feito, encarar fiel e destacadamente as vicissitudes da vida, se não aprendesse por experiência enquanto era jovem?
Aos dezoito anos, Martinho ansiava estudar numa uni­versidade. Seu pai, reconhecendo a idoneidade do filho, enviou-o a Erfurt, o centro intelectual do país, onde cursa­vam mais de mil estudantes. O moço estudou com tanto afinco que, no fim do terceiro semestre, obteve o grau de bacharel em filosofia. Com a idade de vinte e um anos, al­cançou o segundo grau acadêmico e o de doutor em filoso­fia. Os estudantes, professores e autoridades prestaram-lhe significativa homenagem.
Havia dentro dos muros de Erfurt, cem prédios que pertenciam à igreja, inclusive oito conventos. Havia, tam­bém uma importante biblioteca, que pertencia à universi­dade, e aí Lutero passava todo o tempo de que podia dis­por. Sempre suplicava fervorosamente a Deus que o aben­çoasse nos estudos. Dizia ele: "Orar bem é a melhor parte dos estudos." Acerca dele escreveu certo colega: "Cada manhã ele precede seus estudos com uma visita à igreja e uma prece a Deus".Seu pai, desejoso de que seu filho se formasse em direi­to e se tornasse célebre, comprou-lhe a caríssima obra: "Corpus Juris".
Mas a alma de Lutero suspirava por Deus, acima de to­das as coisas. Vários acontecimentos influenciaram-no a entrar para a vida monástica, passo que entristeceu pro­fundamente seu pai e horrorizou seus companheiros de universidade.
Primeiro, achou na biblioteca o maravilhoso Livro dos livros, a Bíblia completa, em latim. Até aquela ocasião, supunha que as pequenas porções escolhidas pela igreja para serem lidas aos domingos, constituíssem o todo da Palavra de Deus. Depois de uma longa leitura, exclamou: "Oh! se a Providência me desse um livro como este, só para mim!" Continuando a ler as Escrituras, o seu coração começou a perceber a luz, e a sua alma a sentir ainda mais sede de Deus.
A essa altura, quando se bacharelou, os estudos custa­ram-lhe uma doença que o levou às portas da morte. As­sim, a fome pela Palavra de Deus ficou ainda mais enrai­zada no coração de Lutero. Algum tempo depois da sua doença, em viagem para visitar a família, sofreu um golpe de espada, e duas vezes quase morreu antes de um cirur­gião conseguir pensar-lhe a ferida. Para Lutero, a salvação da sua alma ultrapassava qualquer outro anelo.
Certo dia, um de seus íntimos amigos na Universidade foi assassinado. "Ah!" exclamou Lutero, horrorizado, "o que seria de mim se eu tivesse sido chamado desta para a outra vida tão inopinadamente!"
Mas, de todos esses acontecimentos, o que mais o aba­lou em espírito, foi o que experimentou durante uma terrí­vel tempestade, quando voltava de visitar seus pais. Não havia abrigo próximo. Os céus estavam em brasa, os raios rasgavam as nuvens a cada instante. De repente um raio caiu ao seu lado. Lutero, tomado de grande susto, e sentin­do-se perto do Inferno, prostrou-se gritando: "Sant'Ana, salva-me e tornar-me-ei monge!"
Lutero chamava a esse incidente "A minha estrada, ca­minho de Damasco" e não tardou em cumprir a sua pro­messa feita a Sant'Ana. Convidou então os seus colegas para cearem com ele. Depois da refeição, enquanto eles se divertiam com palestras e música, repentinamente anun­ciou-lhes que dali em diante poderiam considerá-lo como morto, pois ia entrar para o convento. Debalde os seus companheiros procuraram dissuadi-lo do seu plano. Na es­curidão da mesma noite, o moço, antes de completar vinte e dois anos, dirigiu-se ao convento dos agostinianos e ba­teu. A porta abriu-se e Lutero entrou. O professor admira­do e festejado, a glória da universidade, aquele que passara os dias e as noites curvado sobre os livros, tornara-se irmão agostiniano!
O mosteiro dos agostinianos era o melhor dos claustros de Erfurt. Seus monges eram os pregadores da cidade, esti­mados por suas obras entre os pobres e oprimidos. Nunca houve um monge naquele convento mais submisso, mais devoto, mais piedoso, do que Martinho Lutero. Submetia-se aos serviços mais humildes, como o de porteiro, coveiro, varredor da igreja e das celas dos monges. Não recusava mendigar o pão cotidiano para o convento, nas ruas de Er­furt.
Durante o ano de noviciado, antes de Lutero ser feito monge, os seus amigos fizeram tudo para dissuadi-lo de confirmar esse passo. Os companheiros, que convidara para cearem com ele, quando anunciou a sua intenção de ser monge, ficaram no portão do convento dois dias, espe­rando que ele voltasse. Seu pai, vendo que seus rogos eram inúteis e que todos os seus anelantes planos acerca do filho iam fracassar, quase enlouqueceu.
Assim se justificou Lutero: "Fiz a promessa a Sant'A­na, para salvar a minha alma. Entrei para o convento e aceitei esse estado espiritual somente para servir a Deus e ser-lhe agradável durante a eternidade."
Quão grande, porém, era a sua ilusão. Depois de procu­rar crucificar a carne pelos jejuns prolongados, pelas priva­ções mais severas, e com vigílias sem conta, achou que, embora encarcerado na sua cela, tinha ainda de lutar con­tra os maus pensamentos. A sua alma clamava: "Dá-me santidade ou morro por toda a eternidade; leva-me ao rio de água pura e não a estes mananciais de águas poluídas; traze-me as águas da vida que saem do trono de Deus!" Certo dia Lutero achou, na biblioteca do convento, uma velha Bíblia latina, presa à mesa por uma cadeia. Achara, enfim, um tesouro infinitamente maior que todos os tesouros literários do convento. Ficou tão embevecido que, durante semanas inteiras, deixou de repetir as orações diurnas da ordem. Então, despertado pelas vozes da sua consciência, arrependeu-se da sua negligência: era tanto o remorso, que não podia dormir. Apressou-se a reparar o seu erro: fê-lo com tanto anseio que não se lembrava de ali­mentar-se.
Então, enfraquecidíssimo por tantos jejuns e vigílias, sentiu-se oprimido pelas apreensões até perder os sentidos e cair por terra. Aí os outros monges o acharam, admirados novamente de sua excepcional piedade! Lutero somente voltou a si depois de um grupo de coristas o haver rodeado, cantando. A suave harmonia penetrou-lhe o coração e des­pertou o seu espírito. Porém ainda assim lhe faltava a paz perpétua para a alma; ainda não havia ouvido cantar o coro celestial: "Glória a Deus nas maiores alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens!"
Nessa altura, o vigário geral da ordem agostiniana, Staupitz, visitou o convento. Era homem de grande discer­nimento, e devoção enraizada; compreendeu logo o proble­ma do jovem monge; ofereceu-lhe uma Bíblia na qual Lu­tero leu que "o justo viverá da fé". Por quanto tempo tinha ele anelado: "Oh! se Deus me desse um livro destes só para mim!" - e agora o possuía!
Na leitura da Bíblia achou grande consolação, mas a obra não podia completar-se em um dia. Ficou mais deter­minado do que nunca a alcançar paz para a sua alma, na vida monástica, jejuando e passando noites a fio sem dor­mir. Gravemente enfermo, exclamou: "Os meus pecados! Os meus pecados!" Apesar da sua vida ter sido livre de manchas, como ele afirmava e outros testificavam, sentia sua culpa perante Deus, até que um velho monge lhe lembrou uma palavra do Credo: "Creio na remissão dos pecados". Viu então que Deus não somente perdoara os pe­cados de Daniel e de Simão Pedro, mas também os seus.
Pouco tempo depois destes acontecimentos, Lutero foi ordenado padre. A primeira missa que celebrou foi um grande evento. O pai, irreconciliável, desde o dia em que o filho abandonara os estudos de advocacia até aquela oca­sião, assistiu à primeira missa, vindo a cavalo de Mans­field, com uma boa oferta para o convento, acompanhado por vinte e cinco amigos.
Depois de completar vinte e cinco anos de idade, Lutero foi nomeado para a cadeira de filosofia em Wittenberg, para onde se mudou para viver no convento da sua ordem. Porém a sua alma anelava pela Palavra de Deus, e pelo co­nhecimento de Cristo. No meio das ocupações do professorado, dedicou-se ao estudo das Escrituras e no primeiro ano conquistou o grau de baccalaureus ad bíblia. Sua alma ardia com o fogo dos céus; de todas as partes acorriam mul­tidões para ouvir os seus discursos, os quais fluíam abun­dante e vivamente do seu coração, sobre as maravilhosas verdades reveladas nas Escrituras. Um dos mais afamados professores de Leipzig, conhecido como a "Luz do Mun­do", disse: "Este frade há de envergonhar todos os douto­res; há de propalar uma doutrina nova e reformar toda a igreja, porque ele se baseia na Palavra de Cristo, Palavra à qual ninguém no mundo pode resistir, e que ninguém pode refutar, mesmo atacando-a com todas as armas da filoso­fia.
Um dos pontos iluminantes da biografia de Lutero é a sua visita a Roma. Surgiu uma disputa renhida entre sete conventos dos agostinianos e decidiram deixar os pontos de dissidência para o Papa resolver. Lutero, sendo o ho­mem mais hábil, mais eloquente e altamente apreciado e respeitado por todos que o conheciam, foi escolhido para representar o seu convento em Roma.
Fez a viagem a pé, acompanhado de outro monge. Nes­se tempo Lutero ainda continuava a dedicar-se fiel e intei­ramente à Igreja Romana. Quando, por fim, chegaram ao ponto da estrada onde se avistava a famosa cidade, Lutero caiu em terra e exclamou: "Saúdo-te, santa cidade!"
Os dois monges passaram um mês em Roma, visitando os vários santuários e os lugares de peregrinação. Lutero celebrou missa dez vezes. Lastimou, ao mesmo tempo, que seus pais ainda não tivessem morrido a fim de poder resga­tá-los do Purgatório! Um dia, subindo a Santa Escada de joelhos, desejando a indulgência que o chefe da igreja pro­metia por esse ato, ressoaram nos seus ouvidos como voz de trovão, as palavras de Deus: "O justo viverá da fé". Lutero ergueu-se e saiu envergonhado.
Depois da corrupção generalizada que viu em Roma, a sua alma aderiu à Bíblia mais que nunca. Ao chegar nova­mente ao seu convento, o vigário geral insistiu em que des­se os passos necessários para obter o título de doutor, com o qual teria o direito de pregar. Lutero, porém, reconhe­cendo a grande responsabilidade perante Deus e não que­rendo ceder, disse: "Não é de pouca importância que o ho­mem fale em lugar de Deus... Ah! Sr. Dr., fazendo isto, me tirais a vida; não resistirei mais que três meses." O vigário geral respondeu-lhe: "Seja assim, em nome de Deus, pois o Senhor Deus também necessita nos céus de homens dedi­cados e hábeis".
O coração de Lutero, elevado à dignidade de doutor em teologia, abrasava-se ainda mais do desejo de conhecer as Sagradas Escrituras e foi nomeado pregador da cidade de Wittenberg. Os livros que estudou e as margens cheias de anotações que escreveu em letras miúdas, servem aos eru­ditos atuais como exemplo de como cuidadosa e minucio­samente estudava tudo em ordem.
Acerca da grande transformação da sua vida, nesse tempo, ele mesmo escreve: "Desejando ardentemente compreender as palavras de Paulo, comecei o estudo da Epístola aos Romanos. Porém, logo no primeiro capítulo consta que a justiça de Deus se revela no Evangelho (vv. 16,17). Eu detestava as palavras: a justiça de Deus, por­que, conforme fui ensinado, eu a considerava como um atributo do Deus santo que o leva a castigar os pecadores. Apesar de viver irrepreensivelmente, como monge, a cons­ciência perturbada me mostrava que era pecador perante Deus. Assim odiava a um Deus justo, que castiga os peca­dores... Senti-me ferido de consciência, revoltado intima­mente, contudo voltava sempre para o mesmo versículo, porque queria saber o que Paulo ensinava. Contudo, de­pois de meditar sobre esse ponto durante muitos dias e noi­tes, Deus, na sua graça, me mostrou a palavra: 'O justo vi­verá da fé.' Vi então que a justiça de Deus, nesta passagem, é a justiça que o homem piedoso recebe de Deus pela fé, como dádiva."
A alma de Lutero dessa forma saiu da escravidão; ele mesmo escreveu assim: "Então me achei recém-nascido e no Paraíso. Todas as Escrituras tinham para mim outro aspecto; perscrutava-as para ver tudo quanto ensinam sobre a 'justiça de Deus'. Antes, estas palavras eram-me detestáveis; agora as recebo com o mais intenso amor. A passagem me servia como a porta do Paraíso."
Depois dessa experiência, pregava diariamente; em certas ocasiões, pregava até três vezes ao dia, conforme ele mesmo conta: "O que o pasto é para o rebanho, a casa para o homem, o ninho para o passarinho, a penha para a cabra rnontês, o arroio para o peixe, a Bíblia é para as almas fiéis. " A luz do Evangelho, por fim, tomara o lugar das tre­vas e a alma de Lutero abrasava por conduzir os seus ou­vintes ao Cordeiro de Deus, que tira todo o pecado.
Lutero levou o povo a considerar a verdadeira religião, não como uma mera profissão, ou sistema de doutrinas, mas como vida em Deus. A oração não era mais um exercí­cio sem sentido, mas o contato do coração com Deus que cuida de nós com um amor indizível. Nos seus sermões, Deus revelou o seu próprio coração a milhares de ouvintes, por meio do coração de Lutero.
Convidado a pregar durante uma convenção dos agostinianos, não deu uma mensagem doutrinai de sabedoria humana, como se esperava, mas fez um discurso ardente contra a língua maldizente dos monges. Os agostinianos, levados pela mensagem, elegeram-no diretor sobre onze conventos!
Lutero não somente pregava a virtude, mas praticava-a, amando verdadeiramente o próximo. Nesse tempo, a peste vinda do Oriente, visitou Wittenberg. Calcula-se que a quarta parte do povo da Europa, inclusive a metade da população alemã, foi ceifada pela morte. Quando professo­res e estudantes fugiram da cidade, instaram que Lutero fugisse também, porém ele respondeu: - "Para onde hei de fugir? O meu lugar é aqui: o dever não me permite ausen­tar-me do meu posto até que Aquele que me mandou para aqui me chame. Não que eu deixe de temer a morte, mas espero que o Senhor me dê ânimo". Assim ele ministrava à alma e ao corpo do próximo durante um tempo de aflição e de angústia.
A fama do jovem monge espalhou-se ate longe. Entre­tanto, sem o reconhecer, enquanto trabalhava incansavel­mente para a igreja, já havia deixado o rumo liberal que ela seguia em doutrina e prática.
Em outubro de 1517, Lutero afixou à porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, as suas 95 teses, o teor das quais é que Cristo requer o arrependimento e a tristeza pelo peca­do e não a penitência. Lutero afixou as teses ou proposi­ções para um debate público, na porta da igreja, como era costume nesse tempo. Mas as teses, escritas em latim, fo­ram logo traduzidas em alemão, holandês e espanhol. An­tes de decorrido um mês, para surpresa de Lutero, já esta­vam na Itália, fazendo estremecer os alicerces do velho edifício de Roma. Foi desse ato de afixar as 95 teses da Igreja de Wittenberg, que nasceu a Reforma, isto é, que to­mou forma o grande movimento de almas que em todo o mundo ansiavam voltar para a fonte pura, a Palavra de Deus. Contudo Lutero não atacara a Igreja Romana, mas antes, pensou fazer a defesa do Papa contra os vendedores de indulgências.
Em agosto de 1518, Lutero foi chamado a Roma para responder a uma denúncia de heresia. Contudo, o eleitor Frederico não consentiu que fosse levado para fora do país; assim Lutero foi intimado a apresentar-se em Augsburgo. "Eles te queimarão vivo", insistiram seus amigos. Lu­tero, porém, respondeu resolutamente: "Se Deus sustenta a causa, ela será sustentada".
A ordem do núncio do Papa em Augsburgo foi: "Retra­te-se ou não voltará daqui". Contudo Lutero conseguiu fu­gir, passando por uma pequena cancela no muro da cida­de, na escuridão da noite. Ao chegar de novo em Witten­berg, um ano depois de afixar as teses, era o homem mais popular em toda a Alemanha. Não havia jornais nesse tempo, mas fluíam da pena de Lutero respostas a todos os seus críticos para serem publicadas em folhetos. O que es­creveu dessa forma, hoje seriam cem volumes.
O célebre Erasmo, da Holanda, assim escreveu a Lute­ro: "Seus livros estão despertando todo o país... Os mais eminentes da Inglaterra gostam de seus escritos..."
Quando a bula de excomunhão, enviada pelo Papa, chegou em Wittenberg, Lutero respondeu com um tratado dirigido ao Papa Leão X, exortando-o, no nome do Senhor, a que se arrependesse. A bula do Papa foi queimada fora do muro da cidade de Wittenberg, perante grande ajunta­mento do povo. Assim escreveu Lutero ao vigário geral: "No momento de queimar a bula, estava tremendo e oran­do, mas agora estou satisfeito de ter praticado este ato enérgico". Lutero não esperou até que o Papa o excomun­gasse, mas deu logo o pulo da Igreja Romana para a Igreja do Deus vivo.
Porém, o imperador Carlos V, que ia convocar sua pri­meira Dieta na cidade de Worms, queria que Lutero com­parecesse para responder, pessoalmente, aos seus acusado­res. Os amigos de Lutero insistiam em que recusasse ir. -Não fora João Huss entregue a Roma para ser queimado, apesar da garantia de vida da parte do imperador?! Mas em resposta a todos que se esforçavam por dissuadi-lo de comparecer perante seus terríveis inimigos, Lutero, fiel à chamada de Deus, respondeu: "Ainda que haja em Worms, tantos demônios quantas sejam as telhas nos te­lhados, confiando em Deus, eu aí entrarei". Depois de dar ordens acerca do trabalho, no caso de ele não voltar, par­tiu.
Na sua viagem para Worms, o povo afluía em massa para ver o grande homem que teve coragem de desafiar a autoridade do Papa. Em Mora, pregou ao ar livre, porque as igrejas não mais comportavam as multidões que que­riam ouvir seus sermões. Ao avistar as torres das igrejas de Worms, levantou-se na carroça em que viajava e cantou o seu hino, o mais famoso da Reforma: "Ein Feste Berg", isto é: ''Castelo forte é nosso Deus". Ao entrar, por fim, na cidade, estava acompanhado de uma multidão de povo muito maior do que a que fora ao encontro de Carlos V. No dia seguinte foi levado perante o imperador, ao lado do qual se achavam o delegado do Papa, seis eleitores do im­pério, vinte e cinco duques, oito margraves, trinta cardeais e bispos, sete embaixadores, os deputados de dez cidades e grande número de príncipes, condes e barões.
É fácil imaginar que o reformador era um homem de grande coragem e de físico forte para enfrentar tantas feras que ansiavam despedaçar-lhe o corpo. A verdade é que passara uma grande parte da vida afastado dos homens e, mais ainda, achava-se fraco da viagem, na qual foi neces­sário que um médico o atendesse. Entretanto mostrou-se corajoso, não na sua própria força, mas no poder de Deus.
Sabendo que tinha de comparecer perante uma das mais imponentes assembleias de autoridades religiosas e civis de todos os tempos, Lutero passou a noite anterior de vigília. Prostrado com o rosto em terra, lutou com Deus, chorando e suplicando. Um dos seus amigos ouviu-o orar assim: "Oh! Deus todo-poderoso! a carne é fraca, o Diabo é forte! Ah! Deus, meu Deus, que perto de mim estejas con­tra a razão e a sabedoria do mundo! Fá-lo, pois somente tu o podes fazer. Não é a minha causa, mas sim a tua. - Que tenho eu com os grandes da terra? É a tua causa, Senhor, a tua justa e eterna causa. Salva-me, oh! Deus fiel! Somente em ti confio, oh! Deus! meu Deus... vem, estou pronto a dar, como um cordeiro, a minha vida. O mundo não conse­guirá prender a minha consciência, ainda que esteja cheio de demônios, e, se o meu corpo tem de ser destruído, a mi­nha alma te pertence, e estará contigo eternamente..."
Conta-se que, no dia seguinte, na ocasião de Lutero transpor a porta para comparecer perante a Dieta, o vete­rano general Freudsburgo, colocou a mão no ombro do Re­formador e disse-lhe: "Pequeno monge, vais a um encontro diferente, que eu ou qualquer outro capitão jamais experi­mentamos, mesmo nas nossas conquistas mais ensangüen­tadas. Contudo, se a causa é justa, e sabes que o é, avança no nome de Deus, e não temas nada! Deus não te abando­nará" - O grande general não sabia que Martinho Lutero vencera a batalha em oração e que entrava somente para declarar-lhes que a havia vencido de maiores inimigos.
Quando o núncio do papa exigiu de Lutero, perante a augusta assembleia, que se retratasse, ele respondeu: "Se não me refutardes pelo testemunho das Escrituras ou por argumentos - desde que não creio somente nos papas e nos concílios, por ser evidente que já muitas vezes se engana­ram e se contradisseram uns aos outros - a minha cons­ciência tem de ficar submissa à Palavra de Deus. Não pos­so retratar-me, nem me retratarei de qualquer coisa, pois não é justo nem seguro agir contra a consciência. Deus me ajude! Amém."
De volta ao seu aposento, Lutero levantou as mãos ao Céu e exclamou com o rosto todo iluminado: "Está cum­prido! Está cumprido! Se eu tivesse mil cabeças, preferiria que todas fossem decepadas antes de me retratar".
A cidade de Worms, ao receber as notícias da ousada resposta de Lutero ao núncio do papa, alvoroçou-se. As pa­lavras do reformador foram publicadas e espalhadas entre o povo que afluiu para honrá-lo.
Apesar de os papistas não conseguirem influenciar o imperador a violar o salvo-conduto, para que pudessem queimar numa fogueira o assim chamado herege, Lutero teve de enfrentar outro grave problema. O edito de exco­munhão entraria imediatamente em vigor; Lutero por cau­sa da excomunhão, era criminoso e, ao findar o prazo do seu salvo-conduto, devia ser entregue ao imperador; todos os seus livros deviam ser apreendidos e queimados; o ato de ajudá-lo em qualquer maneira era crime capital.
Mas para Deus é fácil cuidar dos seus filhos. Lutero, re­gressando a Wittenberg, foi repentinamente rodeado num bosque por um bando de cavaleiros mascarados que, de­pois de despedirem as pessoas que o acompanhavam, con­duziram-no, alta noite, ao castelo de Wartburgo, perto de Eisenach. Isto foi um estratagema do príncipe de Saxônia para salvar Lutero dos inimigos que planejavam assassiná-lo antes de chegar a casa.
No castelo, Lutero passou muitos meses disfarçado; to­mou o nome de cavaleiro Jorge e o mundo o considerava morto. Fiéis servos de Deus oravam dia e noite pelo refor­mador. As palavras do pintor Alberto Durer, exprimem o sentimento do povo: - "Oh! Deus! se Lutero fosse morto, quem agora nos exporia o Evangelho?"
Contudo, no seu retiro, livre dos inimigos, foi-lhe con­cedida a liberdade de escrever, e o mundo logo soube, pela grande quantidade de literatura, que essa obra saía da sua pena e que, de fato, Lutero vivia. O reformador conhecia bem o hebraico e o grego e em três meses tinha vertido todo o Novo Testamento para o alemão - em poucos meses mais a obra estava impressa e nas mãos do povo. Cem mil exem­plares foram vendidos, em quarenta anos, além das cinquenta e duas edições impressas em outras cidades. Era circulação imensa para aquele tempo, mas Lutero não aceitou um centavo de direitos.
A maior obra de toda a sua vida, sem dúvida, fora a de dar ao povo alemão a Bíblia na sua própria língua - depois de voltar a Wittenberg. Já havia outras traduções, mas es­critas em uma forma de alemão latinizado que o povo não compreendia. A língua alemã desse tempo era um agrega­do de dialetos, mas Lutero, ao traduzir a Bíblia, deu ao povo a língua que serviu depois a homens como Goethe e Schiler para escreverem as suas obras. O seu êxito em tra­duzir as Sagradas Escrituras para o uso dos mais humil­des, verifica-se no fato de que, depois de quatro séculos, a sua tradução permanece como a principal.
Outra coisa que contribuiu para o êxito da tradução de Lutero, é que ele era erudito em hebraico e grego e tradu­ziu direto das línguas originais. Contudo, o valor da sua obra não se baseia tão-somente sobre seus indiscutíveis do­tes literários. O que lhe deu realidade é que ele conhecia a Bíblia, como ninguém podia conhecê-la, sem primeiro sen­tir a angústia eterna e achar nas Escrituras a verdadeira e profunda consolação. Lutero conhecia intimamente e amava sinceramente o autor do Livro. O resultado foi que o seu coração abrasou-se com o fogo e poder do Espírito Santo. Foi esse o segredo de ele traduzir tudo para o ale­mão em tão pouco tempo.
Como todo mundo sabe, a fortaleza de Lutero e da Re­forma foi a Bíblia. Escreveu de Wartburgo para o seu povo em Wittenberg: "Jamais em todo o mundo se escreveu um livro mais fácil de compreender do que a Bíblia. Compara­da aos outros livros, é como o sol em contraste com todas as demais luzes. Não vos deixeis levar a abandoná-la sob qualquer pretexto da parte deles. Se vos afastardes dela por um momento, tudo estará perdido; podem levar-vos para onde quer que desejem. Se permanecerdes com as Es­crituras, sereis vitoriosos."
Depois de abandonar o hábito de monge, Lutero resol­veu deixar por completo a vida monástica, casando-se com Catarina von Bora, freira que também saíra do claustro, por ver que tal vida é contra a vontade de Deus. O vulto de Lutero sentado ao lume, com a esposa e seis filhos que amava ternamente, inspira os homens mais que o grande herói ao apresentar-se perante o legado em Augsburgo.
Nos cultos domésticos, a família rodeava um harmô­nio, com o qual louvavam a Deus juntos; o reformador lia o Livro que traduzira para o povo e depois louvavam a Deus e oravam até sentirem a presença divina entre eles.
Havia entre Lutero e sua esposa profundo amor de um para com o outro. São de Lutero estas palavras: "Sou rico, Deus me deu a minha freira e três filhos; não me importo das dívidas: Catarina paga tudo." Catarina von Bora era estimada por todos. Alguns, de fato, censuravam-na por­que era demasiado econômica; mas que teria acontecido a Martinho Lutero e à família se ela tivesse feito como ele? Dizia-se que ele, aproveitando-se da doença dela, cedeu o seu prato de comida a certo estudante que estava com fo­me. Não aceitava um kreuzer dos seus alunos e recusava vender seus escritos, deixando todo o lucro para os tipógra­fos.
Nas suas meditações sobre as Escrituras, muitas vezes se esquecia das refeições. Ao escrever o comentário sobre o Salmo 23, passou três dias no quarto comendo somente pão e sal. Quando a esposa chamou um serralheiro e quebraram a fechadura, acharam-no escrevendo, mergu­lhado em pensamentos e esquecido de tudo em redor.
É difícil concebermos a magnitude das coisas que deve­mos atualmente a Martinho Lutero. O grande passo que deu para que o povo ficasse livre para servir a Deus, como Ele mesmo ensina, está além da nossa compreensão. Era grande músico e escreveu alguns dos hinos mais espirituais cantados atualmente. Compilou o primeiro hinário e inau­gurou o costume de todos os assistentes aos cultos canta­rem juntos. Insistiu em que não somente os do sexo mascu­lino, mas também os do feminino fossem instruídos, tornando-se, assim, o pai das escolas públicas. Antes dele, o sermão nos cultos era de pouca importância. Mas Lutero fez do sermão a parte principal do culto. Ele mesmo serviu de exemplo para acentuar esse costume: era pregador de grande porte. Considerava-se como sendo nada; a mensa­gem saía-lhe do íntimo do coração: o povo sentia a presen­ça de Deus. Em Zwiekau pregou a um auditório de 25 mil pessoas na praça pública. Calcula-se que escreveu 180 vo­lumes na língua materna e quase um número igual no la­tim. Apesar de sofrer de várias doenças, sempre se esforça­va dizendo: "Se eu morrer na cama será uma vergonha para o papa."
Os homens geralmente querem atribuir o grande êxito de Lutero à sua extraordinária inteligência e aos seus des­tacados dons. O fato é que Lutero também tinha o costume de orar horas a fio. Dizia que se não passasse duas horas de manhã orando, recearia que Satanás ganhasse a vitória sobre ele durante o dia. Certo biógrafo seu escreveu: "O tempo que ele passa em oração, produz o tempo para tudo que faz. O tempo que passa com a Palavra vivificante en­che o coração até transbordar em sermões, correspondên­cia e ensinamentos".
A sua esposa disse que as orações de Lutero "eram", às vezes, como os pedidos insistentes do seu filhinho Hanschen, confiando na bondade de seu pai; outras vezes, eram como a luta de um gigante na angústia do combate".
Encontra-se o seguinte na História da Igreja Cristã, por Souer, Vol. 3, pág. 406: "Martinho Lutero profetizava, evangelizava, falava línguas e interpretava; revestido de todos os dons do Espírito".
Nos seus sessenta e dois anos pregou seu último sermão sobre o texto: "Ocultaste estas coisas aos sábios e entendi­dos e as revelaste aos pequeninos". No mesmo dia escreveu para a sua querida Catarina: "Lança o teu cuidado sobre o Senhor, e Ele te susterá. Amém". Isso foi na última carta que escreveu. Vivia sempre esperando que o papa conse­guisse executar a repetida ameaça de queimá-lo vivo. Con­tudo não era essa a vontade de Deus: Cristo o chamou en­quanto sofria dum ataque do coração, em Eisleben, cidade onde nascera.São estas as últimas palavras de Lutero: "Vou render o espírito". Então louvou a Deus em alta voz: "Oh! meu Pai celeste! meu Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, em quem creio e a quem preguei e confessei, amei e louvei! Oh! meu querido Senhor Jesus Cristo, encomendo-te a mi­nha pobre alma. Oh! meu Pai celeste! em breve tenho de deixar este corpo, mas sei que ficarei eternamente contigo e que ninguém me pode arrebatar das tuas mãos". Então, depois de recitar João 3.16 três vezes, repetiu as palavras: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito, pois tu me resgataste, Deus fiel". Assim fechou os olhos e adormeceu.
Um imenso cortejo de crentes que o amavam ardente­mente, com cinqüenta cavaleiros à frente, saiu de Eisleben para Wittenberg; passando pela porta da cidade onde o re­formador queimara a bula de excomunhão, entrou pelas portas da igreja onde, há vinte e nove anos, afixara suas 95 teses. No culto fúnebre, Bugenhangen, o pastor, e Melancton, inseparável companheiro de Lutero, discursaram. De­pois abriram a sepultura, preparada ao lado do púlpito, e ali depositaram o corpo.
Quatorze anos depois, o corpo de Melancton achou des­canso do outro lado do púlpito. Em redor dos dois, jazem os restos mortais de mais de noventa mestres da universi­dade.
As portas da Igreja do Castelo, destruídas pelo fogo no bombardeio de Wittenberg em 1760, foram substituídas por portas de bronze em 1812, nas quais estão gravadas as 95 teses. Contudo, este homem que perseverou em oração, deixou gravadas, não no metal que perece, mas em cente­nas de milhões de almas imortais, a Palavra de Deus que dará fruto para toda a eternidade.
(estraido do livro: Hérois da fé)

JOÃO WESLEY
TOCHA TIRADA DO FOGO
(1703-1791) - O céu, à meia-noite, era iluminado pelo reflexo sombrio das chamas que devoravam vorazmente a casa do pastor Samuel Wesley. Na rua, ouviam-se os gritos: "Fogo! Fo­go!" Contudo, a família do pastor continuava a dormir tranquilamente, até que os escombros ardentes caíram sobre a cama de uma filha, Hetty. A menina acordou sobressaltada e correu para o quarto do pai. Sem poder sal­var coisa alguma das chamas, a família foi obrigada a sair casa a fora, vestindo apenas as roupas de dormir, numa temperatura gélida
A ama, ao ser despertada pelo alarme, arrebatou a criança menor, Carlos, do berço. Chamou os outros meni­nos, insistindo que a seguissem, desceu a escada; porém, João, que então contava cinco anos e meio, ficou dormin­do
Três vezes a mãe, Susana Wesley, que se achava doen­te, tentou, debalde, subir a escada. Duas vezes o pai ten­tou, em vão, passar pelo meio das chamas, correndo. Sentindo o perigo, ajuntou a família no jardim, onde todos caí­ram de joelhos e suplicaram a favor da criança presa pelo fogo.
Enquanto a família orava, João acordou e, depois de tentar descer pela escada, subiu numa mala que estava em frente a uma janela, onde um vizinho o viu em pé. O vizi­nho chamou outras pessoas e conceberam o plano de um deles subir nos ombros de um primeiro enquanto um ter­ceiro subia nos ombros do segundo, e alcançaram a crian­ça. Dessa maneira, João foi salvo da casa em chamas, ape­nas instantes antes de o teto cair com grande fragor
O menino foi levado, pelos intrépidos homens que o sal­varam, para os braços do pai. "Cheguem, amigos!", cla­mou Samuel Wesley, ao receber o filhinho, "ajoelhemo-nos e agradecemos a Deus! Ele me restituiu todos os meus fi­lhos; deixem a casa arder; os meus recursos são suficien­tes." Quinze minutos depois, casa, livros, documentos e mobiliários, não existiam mais.
Anos depois, em certa publicação, apareceu o retrato de João Wesley e embaixo a representação de uma casa ar­dendo, com as palavras: "Não é este um tição tirado do fo­go?" (Zacarias 3.2).
Encontra-se nos escritos de Wesley, a seguinte referên­cia interessante, desse histórico sinistro: "Em 9 de feverei­ro de 1750, durante um culto de vigília, cerca das onze ho­ras da noite, lembrei-me de que era esse o dia e a hora, ha­via quarenta anos, em que me tiraram das chamas. Apro­veitei-me do ensejo para relatar a maravilhosa providên­cia. Os louvores e as ações de graças subiram às alturas e grande foi o regozijo perante o Senhor". Tanto o povo, como João Wesley, já sabiam naquele tempo porque o Se­nhor o poupara do incêndio.
O historiador Lecky, nomeia o Grande Avivamento como sendo a influência que salvou a Inglaterra de uma re­volução, igual à que, na mesma época, deixou a França em ruínas. Dos quatro vultos que se destacaram no Grande Avivamento, João Wesley era o maior. Jônatas Edwards, que nasceu no mesmo ano de Wesley, faleceu trinta e três anos antes dele; Jorge Whitefield, nascido onze anos de­pois de Wesley, faleceu vinte anos antes dele; e Carlos Wesley continuou o seu itinerário efetivo somente dezoito anos, enquanto João continuou durante meio século.
Mas a biografia deste célebre pregador, para ser com­pleta, deve incluir a história de sua mãe, Susana. De fato, é como certo biógrafo escreveu: "Não se pode traçar a his­tória do Grande Avivamento do século passado (1700), na Inglaterra, sem dar uma grande parte da herança merecida à mãe de João e Carlos Wesley; isso não somente por causa da instrução que inculcou profundamente aos filhos, mas por causa da direção que deu ao avivamento."
A mãe de Susana era filha de um pregador. Esforçada na obra de Deus, casou-se com o eminente ministro, Sa­muel Annesley. Dos vinte e cinco filhos deste enlace, Susa­na era a vigésima quarta. Durante a vida, seguiu o exem­plo da sua mãe, passando uma hora de madrugada e outra à noite, orando e meditando sobre as Escrituras. Pelo que ela escreveu certo dia, vê-se como se dedicava à oração: "Que Deus seja louvado por todos os dias em que nos com­portamos bem. Mas estou ainda descontente, porque não desfruto muito de Deus; sei que me conservo demasiada­mente longe dele; anseio ter a alma mais intimamente li­gada a Ele pela fé e amor".
João era o décimo-quinto filho dos dezenove filhos de Samuel e Susana Wesley. O que vamos transcrever, escrito pela mãe de João, mostra como ela era fiel em "ordenar a seus filhos e a sua casa depois" dela (Gênesis 18.19): "Para formar a mente da criança, a primeira coisa é vencer-lhe a vontade. A obra de instruir o intelecto leva tempo e deve ser gradual, conforme a capacidade da criança. Mas o sub­jugar-lhe a vontade deve ser feito de uma vez, e quanto mais cedo tanto melhor... Depois, pode-se governar a criança pela razão e piedade dos pais, até chegar o tempo de a criança poder, também exercer o raciocínio."
Acerca de Samuel e Susana Wesley e seus filhos, o cé­lebre comentador da Bíblia, Adão Clark, escreveu: "nunca li nem ouvi falar duma família; não conheço e nem existe outra, desde os dias de Abraão e Sara, de José e Maria de Nazaré, à qual a raça humana deve tanto."
Susana Wesley acreditava que "aquele que poupa a va­ra, aborrece a seu filho" (Provérbios 13.24), e não consentia que seus filhos chorassem em voz alta. Assim, apesar de a casa estar repleta de crianças, nunca havia tempos tristonhos nem balbúrdia no lar do pastor. Um filho jamais ganhou coisa alguma chorando, na casa de Susana Wesley.
Susana marcava o quinto aniversário de cada filho como o dia em que deviam aprender o alfabeto; e todos, a não ser dois, cumpriram a tarefa no tempo marcado. No dia seguinte, a criança que completava cinco anos e apren­dia o alfabeto, começava o estudo da leitura, iniciando-o com o primeiro versículo da Bíblia.
"Os meninos no lar de Samuel Wesley aprenderam o valor que há em observar fielmente os cultos. Não há em outras histórias fatos tão profundos e atraentes como o que consta acerca dos filhos de Samuel e Susana Wesley, pois antes de saberem ajoelhar-se ou falar, eram instruídos a dar graças pelo alimento, por meio de acenos apropriados. Logo que aprendiam a falar, repetiam a Oração Dominical de manhã e à noite; e eram ensinados, também, a acres­centar outros pedidos, conforme o seu desejo... Ao chega­rem à idade própria, um dia da semana era designado a cada filho, para conversar sobre as 'dúvidas e dificulda­des'. Na lista aparecem os nomes de João, para quarta-feira, e o de Carlos, para o sábado. E para os filhos, o dia de cada um tornou-se precioso e memorável... É comovente ler o que João Wesley, vinte anos depois de sair da casa pa­terna disse à sua mãe: "Em muitas coisas a senhora tem intercedido por mim e tem prevalecido. Quem sabe se ago­ra também, na intercessão para que eu renuncie inteira­mente o mundo, terá bom êxito?... Sem dúvida será tão eficaz para corrigir o meu coração, como era então para formar o meu caráter."
Depois do espetacular salvamento de João do incêndio, sua mãe, profundamente convencida de que Deus tinha grandes planos para seu filho, resolveu firmemente criá-lo para servir e ser útil na obra de Cristo. Susana escreveu es­tas palavras nas suas meditações particulares: "Senhor, esforçar-me-ei mais definitivamente em prol desta crian­ça, a qual salvaste tão misericordiosamente. Procurarei transmitir-lhe fielmente ao coração os princípios da tua re­ligião e virtude. Senhor, dá-me a graça necessária para fazer isso sincera e sabiamente, e abençoa os meus esforços com grande êxito!"
Ela era tão fiel, em cumprir sua resolução, que João foi admitido a participar da Ceia do Senhor, com a idade de oito anos
Nunca se omitia o culto doméstico do programa do dia, no lar de Samuel Wesley. Fosse qual fosse a ocupação dos membros da família, ou dos criados, todos se reuniam para adorar a Deus. Na ausência do marido, Susana, com o co­ração aceso pelo fogo dos céus, dirigia os cultos. Conta-se que, certa vez, quando ele prolongou a ausência mais do que de costume, trinta e quarenta pessoas assistiram aos cultos no lar dos Wesley e a fome pela Palavra de Deus au­mentou, a ponto de a casa ficar repleta das pessoas da vizi­nhança que assistiam aos cultos.
A família do pastor Samuel Wesley vivia rodeada de pobreza, mas pela influência do Duque de Buckinghan, conseguiram um lugar para João na Charterhouse, em Londres. Assim, o menino, antes de completar onze anos, deixou a atmosfera fragrante de oração ardente, para en­frentar as porfias de uma escola pública. Contudo, não ce­deu ao ambiente de pecado de que estava rodeado. Conser­vava, também, as suas forças físicas, obedecendo fielmen­te o conselho de seu pai, que corresse três vezes, de madru­gada, em redor do grande jardim da Charterhouse. Tomou como regra da sua vida, dali em diante, manter o vigor do corpo. Aos 80 anos, apesar de seu físico franzino, conside­rava coisa insignificante andar de pé uma légua e meia, para pregar.
Conta-se um exemplo da influência que João exercia sobre seus colegas de Charterhouse. Certo dia o porteiro sentiu falta dos meninos no terraço de recreio e foi achá-los em uma das salas, congregados em redor de João. Este contava-lhes histórias instrutivas, as quais atraíam mais do que o recreio.
Acerca deste tempo, João Wesley escreveu: "Eu parti­cipava de várias coisas que reconhecia como sendo pecado, embora não fossem escandalosas aos olhos do mundo. Con­tudo, continuei a ler as Escrituras e a orar de manhã e à noite. Baseava a minha salvação sobre os seguintes pontos:1) Não me considerava tão perverso como o próximo. 2) Conservava a inclinação de ser religioso. 3) Lia a Bíblia, assistia aos cultos e fazia oração".
Depois de estudar seis anos na Charterhouse, Wesley cursou em Oxford, tornando-se proficiente no latim, grego, hebraico e francês. Mas seu interesse principal não era o intelecto. Sobre esse assunto ele escreveu: "Comecei a re­conhecer que a religião verdadeira tem a sua fonte no cora­ção... reservei duas horas, todos os dias, para ficar sozinho com Deus. Participava da Ceia do Senhor de oito em oito dias. Guardei-me de todo o pecado, quer de palavras, quer de atos. Assim, na base das boas obras que praticava, eu me considerava um bom crente"
João se esforçava para levantar-se todos os dias às qua­tro horas. Por meio de anotações que escrevia diariamente de tudo que fazia durante o dia, conseguia dar conta de seu tempo para não desperdiçar um momento. Continuou a observar esse costume até quase o último dia da sua vida
Certo dia, quando ainda jovem, assistiu a um enterro em companhia de um moço, e conseguiu levá-lo a Cristo, ganhando, assim, a primeira alma para seu Salvador. Al­guns meses depois, com a idade de 24 anos, e depois de um período de oração, foi separado para o diaconato.
Enquanto estudava em Oxford, ajuntava-se ali um pe­queno grupo dos estudantes para orar, estudar as Escritu­ras juntos diariamente, jejuar às quartas e sextas-feiras, visitar os doentes e encarcerados e confortar os criminosos na hora da execução. Todas as manhãs e todas as noites cada um passava uma hora orando sozinho em oculto. Nas orações paravam de vez em quando para observarem se oravam com o devido fervor. Sempre oravam ao entrar e ao sair dos cultos na igreja. Três dos membros desse grupo, mais tarde tornaram-se famosos entre os crentes: 1) João Wesley, que talvez tenha feito mais que qualquer outro para aprofundar a vida espiritual, não somente de então, mas também de nosso tempo; 2) Carlos Wesley, que che­gou a ser um dos mais espirituais e famosos escritores de hinos evangélicos; e 3) Jorge Whitefield, que se tornou o comovente pregador ao ar livre
Naquele tempo, sentia-se a influência de João Wesleyem muitas partes das Américas, e hoje ainda é sentida. Contudo, passou menos que dois anos neste continente, e isto durante o período da sua vida, quando se achava per­turbado por causa de dúvidas. Aceitou a chamada para pregar o Evangelho aos silvícolas na colônia de Geórgia, desejoso de ganhar sua salvação por meio de boas obras. Pensou que vaidade e ostentação mundana não se encon­trariam nas matas da América.
Como era característico em sua vida, a bordo do navio em viagem à América do Norte, observava, com outros de seu grupo, um programa para não desperdiçar um momen­to durante o dia; levantava-se às quatro horas e deitava-se depois das vinte e uma. As primeiras três horas do dia eram dedicadas à oração e estudo das Escrituras. Depois de cumprir tudo que estava indicado no programa do dia, o cansaço era tanto que, não obstante o bramido do mar e o balanço do navio, dormiam sem perturbação, deitados sobre um cobertor estendido no convés.
Na Geórgia, a população inteira afluía à igreja para ou­vir a sua pregação. A influência de seus sermões foi tal que, depois de dez dias, uma sala de baile ficou quase inteira­mente abandonada, enquanto a igreja se enchia de pessoas que oravam e eram salvas.
Whitefield, que desembarcou na Geórgia alguns meses depois de Wesley voltar à Inglaterra, assim descreveu o que viu: "O êxito de João Wesley na América é indizível. Seu nome é precioso entre o povo, onde lançou os alicerces que nem os homens nem os demônios podem abalar. Oh! que eu possa segui-lo como ele seguiu a Cristo!" Contudo, a Wesley faltava uma coisa muito importante, conforme se vê pelos acontecimentos que o levaram a sair da Geórgia, como ele mesmo escreveu:
"Faz dois anos e quase quatro meses que deixei a mi­nha terra natal para pregar Cristo aos índios da Geórgia; entretanto, o que cheguei eu â saber? Ora, vim a saber o que eu menos esperava: fui à América para converter ou­tros, mas nunca fora realmente convertido a Deus."
Depois de voltar à Inglaterra, João Wesley começou a servir a Deus com a fé de um filho e não mais com a fé dum simples servo. Acerca desse assunto, eis o que ele escreveu:"Não reconhecia que esta fé era dada instantaneamente, que o homem podia sair das trevas para a luz imediata­mente, do pecado e da miséria para a justiça e gozo do Espírito Santo. Examinei de novo as Escrituras sobre este ponto, especialmente Atos dos Apóstolos. Fiquei grande­mente surpreendido ao ver quase que somente conversões instantâneas; quase nenhuma tão demorada como a de Saulo de Tarso". Desde então começou a sentir mais e mais fome e sede de justiça, a justiça de Deus pela fé.
Fracassara na sua primeira tentativa de pregar o Evan­gelho na América, porque, apesar de seu zelo e bondade de caráter, o cristianismo que possuía era uma coisa que rece­bera por instrução. Mas a segunda etapa de seu ministério destacou-se por um êxito fenomenal. E porque o fogo de Deus ardia na sua alma, chegara a ter contato direto com Deus por uma experiência pessoal.
Relatamos aqui, com suas próprias palavras, a sua ex­periência na qual o Espírito testificou ao seu espírito que era filho de Deus. Essa experiência transformou completa­mente a sua vida.
"Eram quase cinco horas, hoje, quando abri o Novo Testamento e encontrei estas palavras: 'Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas para que por elas fi­queis participantes da natureza divina" (2 Pedro 1.4). An­tes de sair, abri mais uma vez o Novo Testamento para ler estas outras palavras: 'Não estás longe do reino de Deus...' (Marcos 12.34). À noite, senti-me impelido a assistir em Aldersgate... Senti o coração abrasado; confiei em Cristo, somente em Cristo, para a salvação: foi-me dada a certeza de que Ele levara os meus pecados e de que me salvara da lei do pecado e da morte. Comecei a orar com todas as mi­nhas forças... e testifiquei a todos os presentes do que sen­tia no coração."
Depois dessa experiência em Aldersgate, Wesley aspi­rava a bênçãos ainda maiores do Senhor, conforme ele mesmo escreveu: "Eu suplicava a Deus que cumprisse to­das as suas promessas na minha alma. O Senhor honrou este anelo, em parte, não muito depois, enquanto eu orava com Carlos, Whitefield e cerca de sessenta outros crentes em Fetter Lane". São de João Wesley também estas palavras: "Cerca das três horas da madrugada, enquanto perseverávamos em oração (Romanos 12.12), o poder de Deus nos sobreveio de tal maneira, que bradamos impulsiona­dos de grande gozo e muitos caíram ao chão. A seguir, ao passar um pouco o temor e a surpresa que sentimos na pre­sença da majestade divina, rompemos em uma só voz: 'Louvamos-te, ó Deus, aceitamos-te como Senhor'".
Essa unção do Espírito Santo dilatou grandemente os horizontes espirituais de Wesley; o seu ministério tornou-se excepcionalmente frutuoso e ele trabalhou ininterrupta­mente durante 53 anos, com o coração abrasado pelo amor divino.
Um pastor prega, em média, cem vezes por ano, mas João Wesley pregou cerca de 780 Vezes por ano, durante 54 anos. Esse homenzinho, com a altura de apenas um metro e sessenta e seis centímetros e pesando menos de sessenta quilos, dirigia-se a grandes multidões e sob as maiores pro­vações. Quando as igrejas lhe fecharam as portas, levan­tou-se para pregar ao ar livre.
Apesar de enfrentar a apatia espiritual quase geral nos crentes, a par de uma onda de devassidão e crimes no país inteiro, multidões de 5 mil a 20 mil afluíam para ouvir seus sermões. Tornou-se comum, nesses cultos, os pecadores acharem-se tão angustiados, que gritavam e gemiam. Se célebres materialistas, tais como Voltaire e Tomaz Paine, gritaram de convicção ao se encontrarem com Deus no lei­to de morte, não é de admirar que centenas de pecadores gemessem, gritassem e caíssem ao chão, como mortos, quando o Espírito Santo os levava a sentir a presença de Deus. Multidões de perdidos, assim, tornavam-se novas criaturas em Cristo Jesus, nos cultos de João Wesley. Mui­tas vezes os ouvintes eram levados às alturas de amor, gozo e admiração; recebiam também visões da perfeição divina e das excelências de Cristo, até ficarem algumas horas como mortos. (Ver Apocalipse 1.17.)
Como todos que invadem o território de Satanás, os ir­mãos Carlos e João Wesley, tinham de sofrer terríveis per­seguições. Em Moorfield os inimigos do Evangelho acaba­ram com o culto, destruindo a mesa em que João subira para pregar e o insultaram e maltrataram. Em Sheffield, a casa foi demolida sobre a cabeça dos crentes. Em Wednesbury, destruíram as casas, roupas e móveis dos crentes, deixando-os desabrigados, expostos à neve e ao temporal. Diversas vezes João Wesley foi apedrejado e arrastado como morto, na rua. Certa vez foi espancado na boca, no rosto e na cabeça até ficar coberto de sangue.
Mas a perseguição da parte da igreja decadente era a sua maior cruz. Foram denunciados como "falsos profe­tas", "paroleiros", "impostores arrogantes", "homens des­tros na astúcia espiritual", "fanáticos", etc. Ao voltar para visitar Epworth, onde nascera e se criara, João assistiu, no domingo, ao culto da manhã e ao culto da tarde, na igreja onde seu pai fora fiel pastor durante muitos anos, mas não lhe foi concedida a oportunidade de falar ao povo. Às de­zoito horas, João, em pé, sobre o monumento, que marcava o lugar em que enterraram seu pai, ao lado da igreja, pre­gou ao maior auditório jamais visto em Epworth - e Deus salvou muitas almas.
- Qual a causa de tão grande oposição? Entre os crentes da igreja dormente , alegava-se que eram as suas pregações sobre a justificação pela fé, e a santificação. Os descrentes não gostavam dele porque "levou o povo a se levantar para cantar hinos às cinco da madrugada."
João Wesley não somente pregava mais que os outros pregadores, mas os excedia como pastor, exortando e con­fortando os crentes, e visitando de casa em casa.
Nas suas viagens, andava tanto a cavalo, como a pé, ora em dias ensolarados, ora sob chuvas, ora em temporais de neve. Durante os 54 anos do seu ministério, andou, em média, mais de 7 mil quilômetros por ano, para alcançar os pontos de pregação.
Esse homenzinho que andava 7 mil quilômetros por ano, ainda tinha tempo para a vida literária. Leu não me­nos de 1.200 tomos, a maior parte enquanto andava a cava­lo. Escreveu uma gramática hebraica, outra de latim, e ainda outras de francês e inglês. Serviu durante muitos anos como redator dum jornal de 56 páginas. O dicionário completo que compilou da língua inglesa era muito popu­lar, e seu comentário sobre o Novo Testamento ainda tem grande circulação. Revisou e republicou uma biblioteca de cinqüenta volumes, reduzindo-a para trinta volumes. O li­vro que escreveu sobre a filosofia natural teve grande acei­tação entre o ministério. Compilou uma obra de quatro vo­lumes sobre a história da Igreja. Escreveu e publicou um livro sobre a história de Roma e outro sobre a da Inglater­ra. Preparou e publicou três volumes sobre medicina e seis sobre música para os cultos. Depois da sua experiência em Fetter Lane, ele e seu irmão Carlos, escreveram e publica­ram 54 hinários. Diz-se que ao todo escreveu mais que 230 livros.
Esse homem de físico franzino, ao completar 88 anos, escreveu: "Durante mais de 86 anos não experimentei qualquer debilidade de velhice; os olhos nunca escurece­ram, nem perdi o meu vigor". Com a idade de 70 anos, pre­gou a um auditório de 30 mil pessoas, ao ar livre, e foi ouvi­do por todos. Aos 86 anos fez uma viagem à Irlanda, na qual, além de pregar seis vezes ao ar livre, pregou cem ve­zes em sessenta cidades. Certo ouvinte assim se referiu a Wesley: "Seu espírito era tão vivo como aos 53 anos, quan­do o encontrei pela primeira vez".
Atribuiu a sua saúde às seguintes regras: 1) Ao exercí­cio constante e ar fresco. 2) Ao fato de nunca, mesmo doen­te ou com saúde, em terra ou no mar, haver perdido uma noite de sono desde o seu nascimento. 3) À habilidade de dormir, de dia ou de noite, ao sentir-se cansado. 4) Ao fato de observar a regra por mais que sessenta anos de se levan­tar às 4 horas da manhã. 5) Ao costume de sempre orar às 5 da manhã, durante mais que cinqüenta anos. 6) Ao fato de quase nunca sofrer de dor, desânimo ou cuidado durante a vida inteira.
Não nos devemos esquecer da fonte desse vigor que João Wesley manifestava. Passava duas horas diariamente em oração, e muitas vezes mais. Iniciava o dia às quatro horas. Certo crente que o conhecia intimamente, assim es­creveu acerca dele: "Considerava a oração a coisa mais im­portante da sua vida e eu o tenho visto sair do quarto com a serenidade de alma visível no rosto até quase brilhar".
A qualquer história da vida de João Wesley faltará o ponto principal, se não se fizer menção dos cultos de vigília que se realizavam uma vez por mês entre os crentes. Esses cultos se iniciavam às 20 horas e continuavam até depois da meia-noite - ou até cair o Espírito Santo sobre eles. Ba­seavam tais cultos sobre as referências no Novo Testamen­to, de noites inteiras passadas em oração. Foi assim que al­guém se referiu ao sucesso: "Explica-se o poder de Wesley pelo fato de ele ser 'homo unius libri', isto é, um homem de um livro, e esse Livro é a Bíblia".
Pouco antes da sua morte, escreveu: "Hoje passamos o dia em jejum e oração para que Deus alargasse a sua obra. Só encerramos depois de uma noite de vigília, na qual o co­ração de muitos irmãos foi grandemente confortado".
No seu diário, João Wesley escreveu, entre outras coi­sas, sobre oração e jejum, o seguinte: "Enquanto cursava em Oxford... jejuávamos às quartas e às sextas-feiras, como faziam os crentes primitivos em todos os lugares. Es­creveu Epifânio (310-403): 'Quem não sabe que o jejum das quartas e das sextas-feiras é observado pelos crentes do mundo inteiro?"' Wesley continuou: "Não sei porque eles guardavam esses dois dias, mas é boa a regra; se lhes ser­via, também me serve. Contudo, não quero dar a entender que o único tempo de jejuar seja esses dois dias da semana, porque muitas vezes é necessário jejuar mais do que dois dias. É necessário permanecer sozinho e na presença de Deus, enquanto jejuamos e oramos, para que Deus possa mostrar-nos a sua vontade e dar-nos direção. Nos dias de jejum devemos afastar-nos, o mais possível, de todo servi­ço, de fazer visitas e das diversões, apesar dessas coisas se­rem lícitas em outras ocasiões".
Seu gozo em pregar ao ar livre não diminuiu na velhice: Em 7 de outubro de 1790, pregou pela última vez fora de casa, sobre o texto: "O reino de Deus está próximo, arrependei-vos, e crede no Evangelho". "A palavra manifes­tou-se com grande poder e as lágrimas do povo corriam em torrentes".
Um por um, seus fiéis companheiros de luta, inclusive sua esposa, foram chamados para o descanso, mas João Wesley continuava a trabalhar. Com a idade de 85 anos, seu irmão, Carlos, foi chamado pelo Senhor e João sentou-se perante a multidão, cobrindo o rosto com as mãos, para esconder as lágrimas que lhe corriam pelas faces. Seu ir-mão a quem amava tanto durante tão longo tempo, partira e ele, agora, tinha de trabalhar sozinho.
Em 2 de março de 1791, com a idade de quase 88 anos, completou a sua carreira terrestre. Durante toda a noite anterior, não cessaram em seus lábios o louvor e a adora­ção, pronunciando estas palavras: "As nuvens distilam a gordura". Sua alma saltou de alegria com a antecipação das glórias do lar eterno e exclamou: "O melhor de tudo é que Deus está conosco". Então, levantando a mão, como se fosse o sinal da vitória, novamente repetiu: "O melhor de tudo é que Deus está conosco". Às 10 horas da manhã, en­quanto os crentes rodeavam o leito, em oração, ele disse: "Adeus!", e assim passou para a presença do Senhor.
Um crente que assistiu à sua morte, assim relatou o ato: "A presença divina pairava sobre todos nós; não exis­tem palavras para descrever o que vimos no seu semblan­te! Quanto mais o fitávamos, tanto mais víamos parte dos indizíveis céus".
Calcula-se que dez mil pessoas em desfile passaram diante do ataúde para ver o rosto que ainda retinha um sorriso celestial. Por causa das grandes massas que afluí­ram para honrá-lo, foi necessário enterrá-lo às cinco horas da manhã.
João Wesley nasceu e criou-se em um lar onde não ha­via abundância de pão. Com a venda dos livros da sua au­toria ganhou uma fortuna, com a qual contribuía para a causa de Cristo; ao falecer, deixou no mundo "duas colheres, uma chaleira de prata, um casaco velho" e dezenas de milhares de almas, salvas em épocas de grande decadência espiritual.
A tocha em Epworth foi arrebatada do fogo, em Aldersgate e Fetter Lane começou a arder intensamente, e conti­nua a iluminar milhões de almas no mundo inteiro.
(estraido do livro hérois da fé)

CARLOS SPURGEON
O PRÍNCIPE DOS PREGADORES
(1834-1892) - No período da Inquisição, na Espanha, sob o reinado do imperador Carlos V, um número elevadíssimo de crentes foram queimados em praça pública ou enterrados vivos. O filho de Carlos V, Filipe II, em 1567, levou a perseguição aos Países Baixos, declarando que ainda que lhe custasse mil vezes a sua própria vida, limparia todo o seu domínio do "protestantismo". Antes da sua morte gabava-se ter mandado ao carrasco, pelo menos, 18.000 "hereges".
Ao começar esse reinado de terror nos Países Baixos, muitos milhares de crentes fugiram para a Inglaterra. En­tre os que escaparam do "Concilio de Sangue", encontra­va-se a família Spurgeon.
Na Inglaterra, o povo de Deus, contudo, não estava li­vre de toda a perseguição "passando a maior parte do tem­po sentado, por se achar fraco demais para se deitar". Os bisavôs de Carlos eram crentes fervorosos, criando os filhos na admoestação do Senhor. Seu avô paterno, depois de quase cinquenta anos de pastorado no mesmo lugar, podia dizer: "Não passei nem uma hora triste com a minha igreja depois que assumi o cargo de pastor!" O pai de Carlos, Tiago Spurgeon, era o amado pastor de Stambourne.
Carlos, quando ainda criança, interessava-se pela lei­tura de "O Peregrino", pela história dos mártires e por di­versas obras de teologia. É impossível calcular a influência dessas obras sobre a sua vida.
Que era precoce nas coisas espirituais, vê-se no seguin­te acontecimento: Apesar de criança de apenas cinco anos de idade, sentiu profundamente o cuidado do avô, por cau­sa do procedimento de um dos membros da igreja, chama­do "Velho Roads". Certo dia, Carlos, a criança, encontran­do Roads em companhia de outros fumando e bebendo cer­veja, dirigiu-se a ele, dizendo: "Que fazes aqui, Elias?" O "Velho Roads" arrependido, contou, então, ao seu pastor, como a princípio se irou com a criança, mas por fim ficou quebrantado. Desde aquele dia, o "Velho Roads" andou sempre perto do Salvador.
Quando Carlos era ainda pequeno, foi por Deus con­vencido do pecado. Durante alguns anos sentia-se uma criatura sem esperança e sem conforto; visitava um lugar de culto após outro, sem conseguir saber como podia li­vrar-se do pecado. Então, quando tinha quinze anos de idade, aumentou nele o desejo de ser salvo. E aumentou de tal forma, que passou seis meses agonizando em oração. Nesse tempo assistiu a um culto numa igreja; nesse dia, o pregador não fora ao culto, por causa duma grande tem­pestade de neve. Na falta do pastor, um sapateiro se levan­tou para pregar às poucas pessoas presentes, e leu este tex­to: "Olhai para mim e sede salvos, todos os confins da ter­ra" (Isaías 45.22). O sapateiro, inexperiente na arte de pre­gar, podia apenas repetir a passagem e dizer: "Olhai! Não vos é necessário levantar um pé, nem um dedo. Não vos é necessário estudar no colégio para saber olhar; nem contri­buir com mil libras. Olhai para mim, não para vós mes­mos. Não há conforto em vós. Olhai para mim, suando grandes gotas de sangue. Olhai para mim, pendurado na cruz. Olhai para mim, morto e sepultado. Olhai para mim, ressuscitado. Olhai para mim, à direita de Deus". Em se­guida, fitando os olhos em Carlos, disse: "Moço, tu pareces ser miserável. Serás infeliz na vida e na morte se não obedeceres". Então gritou ainda mais: "Moço, olha para Je­sus! Olha agora!" O rapaz olhou e continuou a olhar, até que por fim, um gozo indizível entrou na sua alma.
O recém-salvo, ao contemplar o constante zelo do Ma­ligno, foi tomado pela aspiração de fazer todo o possível para receber o poder divino, para frustrar a obra do inimigo do bem. Spurgeon aproveitava todas as oportunidades para distribuir folhetos. Entregava-se de todo o coração a ensinar na Escola Dominical, onde alcançou, de início, o amor dos alunos e, por intermédio desses a presença dos pais na escola. Com a idade de dezesseis anos começou a pregar. Acerca desse fato ele disse: "Quantas vezes me foi concedido o privilégio de pregar na cozinha duma casa de agricultor, ou num celeiro!"
Alguns meses depois de pregar seu primeiro sermão, foi chamado a pastorear a igreja em Waterbeach. Ao fim de dois anos, essa igreja de quarenta membros, passou a ter cem. O jovem pregador desejava educar-se e o diretor duma escola superior, que estava de visita à cidade, mar­cou uma hora para tratar com ele acerca desse assunto. A criada, porém, que recebeu Carlos, por descuido, não cha­mou o professor e este saiu sem saber que o moço o espera­va. Depois, Carlos, já na rua, um tanto triste, ouviu uma voz dizer-lhe: "Buscas grandes coisas para ti? Não as bus­ques!" Foi então , ali mesmo que abandonou a idéia de es­tudar nesse colégio, convencido de que Deus o dirigia para outras coisas. Não se deve concluir, contudo, que Carlos Spurgeon resolveu não se educar. Depois disso, ele apro­veitava todos os momentos livres para estudar. Diz-se que alcançou fama de ser um dos homens mais instruídos de seu tempo.
Spurgeon havia pregado em Waterbeach apenas du­rante dois anos quando foi chamado a pregar na Park Street Chapei, em Londres. O local era inconveniente para os cultos, e o templo, que tinha assentos para mil e duzen­tos ouvintes, era demasiado grande para os auditórios. Contudo, "havia ali um grupo de fiéis que nunca cessaram de rogar a Deus um glorioso avivamento". Este fato é as­sim registrado nas palavras do próprio Spurgeon: "No iní­cio, eu pregava somente a um punhado de ouvintes. Con­tudo, não me esqueço da insistência das suas orações. Às vezes parecia que rogavam até verem realmente presente o Anjo do Concerto (Cristo), querendo abençoá-los. Mais que uma vez nos admiramos com a solenidade das orações até alcançarmos quietude, enquanto o poder do Senhor nos sobrevinha... Assim desceu a bênção, a casa se encheu de ouvintes e foram salvas dezenas de almas!
Sob o ministério desse moço de dezenove anos, a con­corrência aumentou em poucos meses a ponto de o prédio não mais comportar as multidões; centenas de ouvintes permaneciam na rua para aproveitar as migalhas que caíam do banquete que havia dentro da casa.
Foi resolvido reformar a New Park Street Chapei e, du­rante o tempo da obra, realizavam-se os cultos em Exeter Hall, prédio que tinha assentos para quatro mil e quinhen­tos ouvintes. Aí, em menos que dois meses, os auditórios eram tão grandes, que as ruas, durante os cultos, se torna­vam intransitáveis.
Quando voltaram para a Chapei, o problema, em vez de ser resolvido, era maior; três mil pessoas ocupavam o espaço preparado para mil e quinhentas! O dinheiro gasto, que alcançou uma elevada quantia, fora desperdiçado! Tornou-se necessário voltar para o Exeter Hall.
Mas nem o Exeter Hall comportava mais os auditórios e a igreja tomou uma atitude espetacular - alugou o Surrey Music Hall, o prédio mais amplo, imponente e magnífico de Londres, construído para diversões públicas.
As notícias, de que os cultos passaram do Exeter Hall para Surrey Music Hall, eletrificaram toda a cidade de Londres. O culto inaugural foi anunciado para a noite de 19 de outubro de 1856. Na tarde do dia marcado, milhares de pessoas para lá se dirigiram para achar assento. Quan­do, por fim, o culto começou, o prédio no qual cabiam 12.000 pessoas, estava superlotado e havia mais 10.000 fora que não puderam entrar.
No primeiro culto em Surrey Music Hall, notaram-se vestígios da perseguição que Spurgeon tinha de encarar.Ele estava orando, e depois da leitura das Escrituras, os inimigos da obra de Deus se levantaram, gritando: 'Togo! Fogo!" Apesar de todos os esforços de Spurgeon e de outros crentes, a grande massa de gente alvoroçou-se e movimen­tou-se em pânico, de tal modo que sete pessoas morreram e vinte e oito ficaram gravemente feridas. Depois que tudo serenou, acharam-se espalhados em toda a parte do pré­dio, roupas de homens e senhoras; chapéus, mangas de vestidos, sapatos, pernas de calças, mangas e paletós, xales, etc., objetos esses que os milhares de pessoas aflitas deixaram, na luta para escapar do prédio. Spurgeon com­portou-se com a maior calma durante todo o tempo da in­descritível catástrofe, mas depois passou dias prostrado, sofrendo em consequência do tremendo choque.
As notícias sobre as trágicas ocorrências durante o pri­meiro culto em Surrey Music Hall, em vez de prejudica­rem a obra, concorreram para aumentar o interesse pelos cultos. De um dia para outro Spurgeon, o herói do Sul de Londres, tornou-se um vulto de projeção mundial. Aceitou convites para pregar em cidades da Inglaterra, Escócia, Ir­landa, Gales, Holanda e França. Pregava ao ar livre e nos maiores edifícios, em média oito a doze vezes por semana.
Nesse tempo, quando ainda moço, revelou como conse­guia entender, nas Escrituras, os textos difíceis, isto é, simplesmente pedia a Deus: - "Ó Senhor, mostra-me o sentido deste trecho!" E acrescentou: "É maravilhoso como o texto, duro como a pederneira, emite faíscas quan­do batido com o aço da oração." Quando mais velho, disse: "Orar acerca das Escrituras, é como pisar uvas no lagar, trilhar trigo na eira, ou extrair ouro do minério."
Acerca da vida familiar, Susana, a esposa de Spurgeon, assim escreveu: "Fazíamos culto doméstico, quer hospeda­dos em um rancho nas serras, quer num suntuoso quarto de hotel na cidade. E a bendita presença de Cristo, que muitos crentes dizem impossível alcançar, era para ele a atmosfera natural; ele vivia e respirava nele (em Deus).
Antes de iniciar a construção do famoso templo em Londres, o Metropolitan Tabernacle, Spurgeon, com al­guns dos seus membros, se ajoelharam no terreno entre as pilhas de materiais e rogaram a Deus que não permitisse que trabalhador algum morresse ou ficasse ferido durante a execução das obras de construção. Deus respondeu mara­vilhosamente, não deixando acontecer qualquer acidente durante o tempo da construção do imponente edifício que media oitenta metros de comprimento, vinte e oito de lar­gura e vinte de altura
A igreja começou a edificar o tabernáculo com o alvo de liquidar todas as dívidas de materiais e pagar toda a mão-de-obra antes de findar a construção. Como de costume, pediram a Deus que os ajudasse a realizar esse desejo, e tudo foi pago antes do dia da inauguração.
"O Metropolitan Tabernacle foi acabado em março de 1861. Durante os trinta e um anos que se seguiram, uma média de 5.000 pessoas se congregavam ali todos os domin­gos, pela manhã e à noite. De três em três meses Spurgeon pedia aos que haviam assistido neste período, que se au­sentassem. Eles assim faziam, porém, o tabernáculo era superlotado por outras pessoas das massas ainda não al­cançadas pela mensagem."
Durante certo período, pregou trezentas vezes em doze meses. O maior auditório, no qual pregou, foi no Crystal Palace, Londres, em 7 de outubro de 1857. O número exato de assistentes era de 23.654. Spurgeon esforçou-se tanto nessa ocasião, e o cansaço foi tal, que após o sermão da noi­te de quarta-feira, dormiu até a manhã de sexta-feira!
Todavia, não se deve julgar que era somente no púlpito que a sua alma ardia pela salvação dos perdidos. Também se ocupava grandemente no evangelismo individual. Nesse sentido citamos aqui o que certo crente disse a respeito de­le: "Tenho visto auditórios de 6.500 pessoas inteiramente levadas pelo fervor de Spurgeon. Mas ao lado de uma criança moribunda, que ele levara a Cristo, achei-a mais sublime do que quando dominava o interesse da multi­dão".
Parece impossível que tal pregador tivesse tempo para escrever. Entretanto os livros da sua autoria, constituem uma biblioteca de cento e trinta e cinco tomos. Até hoje não há obra mais rica de jóias espirituais do que a de Spurgeon, de sete volumes sobre os Salmos: "A Tesouraria de Davi". Ele publicou tão grande número de seus sermões, que, mesmo lendo um por dia, nem em dez anos o leitor os poderia ler todos. Muitos foram traduzidos em várias línguas e publicados nos jornais do mundo inteiro. Ele mesmo escrevia grande parte da matéria para seu jornal, "A Espada e a Colher", título este sugerido pela história da construção dos muros de Jerusalém no tempo angustioso de Neemias.
Além de pregar constantemente a grandes auditórios e de escrever tantos livros, esforçou-se em vários outros ra­mos de atividades. Inspirado pelo exemplo de Jorge Müller, fundou e dirigiu o orfanato de Stockwell. Pediam a Deus e recebiam o necessário para levantar prédio após prédio e alimentar centenas de crianças desamparadas.
Reconhecendo a necessidade de instruir os jovens cha­mados por Deus a proclamar o Evangelho, e, assim, alcan­çar muito maior número de perdidos, fundou e dirigiu o Colégio dos Pastores, com a mesma fé em Deus que mos­trou na obra de cuidar dos órfãos
Impressionado pela vasta circulação de literatura vicio­sa, formou uma junta de vendagem de livros evangélicos. Dezenas de vendedores foram sustentados e milhares de discursos feitos, além de muitas toneladas de Escrituras e outros livros vendidos de casa em casa.
Acerca de tão estupendo êxito na vida de Spurgeon, convém notar o seguinte: Nenhum dos seus antepassados alcançou fama. Sua voz podia pregar às maiores multi­dões, mas outros pregadores sem fama gozavam também da mesma voz. O Príncipe dos Pregadores era, antes de tu­do, O Príncipe de Joelhos. Como Saulo de Tarso, entrou no Reino de Deus, também agonizando de joelhos. No caso de Spurgeon, essa angústia durou seis meses. Depois (assim aconteceu com Saulo) a oração fervorosa era um hábito na sua vida. Aqueles que assistiam aos cultos no grande Ta-bernáculo Metropolitano diziam que as orações eram a parte mais sublime dos cultos
Quando alguém perguntava a Spurgeon a explicação do poder na sua pregação, O Príncipe de Joelhos apontava para a loja que ficava sob o salão do Metropolitan Taber­nacle e dizia: "Na sala que está embaixo, há trezentos crentes que sabem orar. Todas as vezes que prego eles se reúnem ali para sustentar-me as mãos, orando e suplican­do ininterruptamente. Na sala que está sob os nossos pés é que se encontra a explicação do mistério dessas bênçãos."
Spurgeon costumava dirigir-se aos alunos no Colégio dos Pastores desta forma: "Permanecei na presença de Deus!... Se o vosso fervor esfriar, não podereis orar bem no púlpito... pior com a família... e ainda pior nos estudos, so­zinhos. Se a alma se tornar magra, os ouvintes, sem sabe­rem como ou por quê, acharão que vossas orações públicas têm pouco sabor.
Ainda sobre a oração, sua esposa deu este testemunho: "Ele dava muita importância à meia-hora de oração que passava com Deus antes de começar o culto." Certo crente também escreveu a esse respeito: "Sente-se, durante a sua oração pública, que ele é um homem de bastante força para levar nas mãos ungidas as orações duma multidão. Isto é a idéia mais grandiosa, de sacerdote entre Deus e os homens".
Convicto do grande poder da oração, Spurgeon desig­nou o mês de fevereiro, de cada ano, no Grande Taberná­culo, para realizar a convenção anual e fazer súplicas por um avivamento na obra de Deus. Nessas ocasiões, passa­vam dias inteiros em jejum e oração, oração que se tornava mais e mais fervorosa. Não só sentiam a gloriosa presença do Espírito Santo nesses cultos, mas era-lhes aumentado o poder com frutos abundantes.
Na sua autobiografia, desde o começo do seu ministério em Londres, consta que pessoas gravemente enfermas fo­ram curadas em resposta às suas orações.
A vida de Spurgeon não era vida egoísta e de interesse próprio. Juntamente com sua esposa, fez os maiores sa­crifícios para colocar livros espirituais nas mãos de um grande número de pregadores pobres e ambos contribuíam constantemente para o sustento das viúvas e órfãos. Rece­biam grandes somas de dinheiro, mas davam tudo para o progresso da obra de Deus.
Não buscava fama nem a honra de fundador de outra denominação, como muitos amigos esperavam. A sua pre­gação nunca foi feita para sua própria glória, porém tinha como alvo a mensagem da Cruz, para levar os ouvintes a Deus. Considerava seus sermões como se fossem setas e dava todo o seu coração, empregava toda a sua força espi­ritual em produzir cada um. Pregava confiando no poder do Espírito Santo, empregando o que Deus lhe concedera para "matar" o maior número de ouvintes.
"Carlos Hadon Spurgeon recebia o fogo do Céu, estu­dando a Bíblia, horas a fio, em comunhão com Deus."
Cristo era o segredo do seu poder. Cristo era o centro de tudo, para ele; sempre e unicamente Cristo
J. P. Fruit disse: "Quando Spurgeon orava, parecia que Jesus estava em pé ao seu lado."
As suas últimas palavras, no leito de morte, dirigidas à sua esposa, foram: "Oh! querida, tenho desfrutado um tempo mui glorioso com meu Senhor!" Ela, ao ver, por fim, que seu marido passaria para o outro lado, caiu de joe­lhos e com lágrimas exclamou. "Oh! bendito Senhor Jesus, eu te agradeço o tesouro que me emprestaste no decurso destes anos; agora Senhor, dá-me força e direção durante todo o futuro."
Seis mil pessoas assistiram ao culto de funeral. No cai­xão estava uma Bíblia aberta, mostrando este texto usado por Deus para convertê-lo: "Olhai para mim, e sede salvos, todos os confins da terra."
O cortejo fúnebre passou entre centenas de milhares de pessoas postadas em pé nas calçadas; os homens des­cobriam-se à passagem do cortejo e as mulheres choravam.
O túmulo simples do célebre Príncipe dos Pregadores, no cemitério de Norwood, testifica da verdadeira grandeza da sua vida. Ali estão gravadas estas humildes palavras:
Aqui jaz o corpo de
CARLOS HADON SPURGEON
esperando o aparecimento do seu
Senhor e Salvador
JESUS CRISTO
(extraido do livro hérois da fé)

GEORGE WHITEFIELD
PREGADOR AO AR LIVRE
(1714-1770)
Mais de 100 mil homens e mulheres rodeavam o prega­dor, há mais de duzentos anos, em Cambuslang, Escócia. As palavras do sermão, vivificadas pelo Espírito Santo, ou­viam-se distintamente em todas as partes que formavam esse mar humano. É-nos difícil fazer uma idéia do vulto da multidão de 10 mil penitentes que responderam ao apelo para se entregarem ao Salvador. Estes acontecimentos ser­vem-nos como um dos poucos exemplos do cumprimento das palavras de Jesus: "Na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fa­rá maiores do que estas, porque vou para meu Pai" (João 14.12).
Havia "como um fogo ardente encerrado nos ossos" deste pregador, que era Jorge Whitefield. Ardia nele um zelo santo de ver todas as pessoas libertas da escravidão do pecado. Durante um período de vinte e oito dias fez a incrí­vel façanha de pregar a 10 mil pessoas diariamente. Sua voz se ouvia perfeitamente a mais de um quilômetro de distância, apesar de fraco de físico e de sofrer dos pulmões.Não havia prédio no qual coubessem os auditórios e, nos países onde pregou, armava seu púlpito nos campos, fora das cidades. Whitefield merece o título de príncipe dos pregadores ao ar livre, porque pregava em média dez vezes por semana, e isso fez durante um período de trinta e qua­tro anos, em grande parte sob o teto construído por Deus -os céus.
A vida de Jorge Whitefield era um milagre. Nasceu em uma taberna de bebidas alcoólicas. Antes de completar três anos, seu pai faleceu. Sua mãe casou-se novamente, mas a Jorge foi permitido continuar os estudos na escola. Na pensão de sua mãe, fazia a limpeza dos quartos, lavava roupa e vendia bebidas no bar. Estranho que pareça e ape­sar de não ser salvo, interessava-se grandemente pela lei­tura das Escrituras, lendo a Bíblia até alta noite prepa­rando sermões. Na escola era conhecido como orador: Sua eloquência era natural e espontânea, um dom extraordiná­rio de Deus, dom que possuía sem ele mesmo saber.
Custeou os próprios estudos em Pembroke College, Ox­ford, servindo como garçom em um hotel. Depois de estar algum tempo em Oxford, ajuntou-se ao grupo de estudan­tes a que pertenciam João e Carlos Wesley. Passou muito tempo, como os demais do grupo, jejuando e esforçando-se para mortificar a carne, a fim de alcançar a salvação, sem compreender que "a verdadeira religião é a união da alma com Deus e a formação de Cristo em nós."
Acerca da sua salvação, escreveu algum tempo antes de morrer: "Sei o lugar onde... Todas as vezes que vou a Ox­ford, sinto-me impelido a ir primeiro a este lugar onde Je­sus se revelou a mim, pela primeira vez, e me deu o novo nascimento".
Com a saúde abalada, talvez pelo excesso de estudo, Jorge voltou a casa para recuperá-la. Resolvido a não cair no indiferentismo, inaugurou uma classe bíblica para jo­vens que, como ele, desejavam orar e crescer na graça de Deus. Visitavam diariamente os doentes e os pobres e, frequentemente, os prisioneiros nas cadeias, para orarem com eles e prestarem-lhes qualquer serviço manual que pudes­sem. Jorge tinha no coração um plano que consistia em pre­parar cem sermões e apresentar-se para ser separado para o ministério. Porém quando havia preparado apenas um sermão, seu zelo era tanto, que a igreja insistia em ordená-lo, tendo penas vinte e um anos apesar de ser regra não aceitar ninguém para tal cargo, com menos de 23 anos.
O dia antes da sua separação para o ministério, passou-o em jejum e oração. Acerca desse fato, ele escreveu: "À tarde, retirei-me para um alto, perto da cidade, onde orei com instância durante duas horas, pedindo a meu favor e também por aqueles que estavam para ser separados comi­go. No domingo, levantei-me de madrugada e orei sobre o assunto da epístola de Paulo a Timóteo, especialmente sobre o preceito: 'Ninguém despreze a tua mocidade'. Quando o ancião me impôs as suas mãos, se meu vil cora­ção não me engana, ofereci todo o meu espírito, alma e cor­po para o serviço no santuário de Deus... Posso testificar; perante os céus e a terra, que dei-me a mim mesmo, quan­do o ancião me impôs as mãos, para ser um mártir por aquele que foi pregado na cruz em meu lugar".
Os lábios de Whitefield foram tocados pelo fogo divino do Espírito Santo na ocasião da sua separação para o mi­nistério. No domingo seguinte, naquela época de gelo espi­ritual, pregou pela primeira vez. Alguns se queixaram de que quinze dos ouvintes enlouqueceram ao ouvirem o ser­mão. O ancião, porém, compreendendo o que se passava, respondeu que seria muito bom, se os quinze não se esque­cessem da sua "loucura" antes de chegar o outro domingo.
Whitefield nunca se esqueceu nem deixou de aplicar a si as seguintes palavras do Doutor Delaney: "Desejo, todas as vezes que subir ao púlpito, considerar essa oportunida­de como a última que me é dada de pregar, e a última dada ao povo de ouvir". Alguém assim escreveu sobre uma de suas pregações: "Quase nunca pregava sem chorar e sei que as suas lágrimas eram sinceras. Ouvi-o dizer: 'Vós me censurais porque choro. Mas, como posso conter-me, quando não chorais por vós mesmos, apesar das vossas al­mas mortais estarem a beira da destruição? Não sabeis se estais ouvindo o último sermão, ou não, ou se jamais tereis outra oportunidade de chegar a Cristo!" Chorava, às vezes, até parecer que estava morto e custava a recuperar as forças. Diz-se que os corações da maioria dos ouvintes eram derretidos pelo calor intenso de seu espírito, como prata na fornalha do refinador.
Quando estudante no colégio de Oxford, seu coração ar­dia de zelo e pequenos grupos de alunos se reuniam no seu quarto, diariamente; eles eram movidos, como os discípu­los logo depois do derramamento do Espírito Santo, no Pentecoste. O Espírito continuou a operar poderosamente nele e por ele durante o resto da sua vida, porque nunca abandonou o costume de buscar a presença de Deus. Divi­dia o dia em três partes: oito horas sozinho com Deus e em estudos, oito horas para dormir e as refeições, oito horas para o trabalho entre o povo. De joelhos, lia, e orava sobre as leituras das Escrituras e recebia luz, vida e poder. Le­mos que numa das suas visitas aos Estados Unidos, "pas­sou a maior parte da viagem a bordo, sozinho em oração". Alguém escreveu sobre ele: "Seu coração encheu-se tanto dos céus que anelava por um lugar onde pudesse agradecer a Deus; e sozinho, durante horas, chorava comovido pelo amor consumidor do seu Senhor". Suas experiências no ministério confirmavam a sua fé na doutrina do Espírito Santo, como o Consolador ainda vivo, o poder de Deus ope­rando atualmente entre nós.
A pregação de Jorge Whitefield era feita de forma tão vivida que parecia quase sobrenatural. Conta-se que, certa vez pregando a alguns marinheiros, descreveu um navio perdido num furacão. Tudo foi apresentado em manifesta­ções tão reais que, quando chegou ao ponto de descrever o barco afundando, alguns marinheiros pularam dos assen­tos, gritando: "Às baleeiras! Às baleeiras!". Em outro ser­mão falou acerca dum cego andando na direção dum pre­cipício desconhecido. A cena foi tão real que, quando o pre­gador chegou ao ponto de descrever a chegada do cego à beira do profundo abismo, o camareiro-mor, Chesterfield, que assistia, deu um pulo gritando: "Meu Deus! ele desa­pareceu!"
O segredo, porém, da grande colheita de almas salvas não era a sua maravilhosa voz nem a sua grande eloqüên­cia. Não era também porque o povo tivesse o coração aberto para receber o Evangelho, porque era tempo de grande decadência espiritual entre os crentes.
Também não foi porque lhe faltasse oposição. Repeti­das vezes Whitefield pregou nos campos, porque as igrejas fecharam-lhe as portas. Às vezes nem os hotéis queriam aceitá-lo como hóspede. Em Basingstoke foi agredido a pauladas. Em Staffordshire atiraram-lhe torrões de terra. Em Moorfield destruíram a mesa que lhe servia de púlpito e arremessaram contra ele o lixo da feira. Em Evesham, as autoridades, antes de seu sermão, ameaçaram prendê-lo, se pregasse. Em Exeter, enquanto pregava a dez mil pes­soas, foi apedrejado de tal forma que pensou haver chega­do para ele a hora, como o ensangüentado Estevão, de ser imediatamente chamado à presença do Mestre. Em outro lugar, apedrejaram-no novamente, até ficar coberto de sangue. Verdadeiramente levava no corpo, até a morte, as marcas de Jesus.
O segredo de tais frutos na sua pregação era o seu amor para com Deus. Quando ainda muito novo, passava noites inteiras lendo a Bíblia, que muito amava. Depois de se converter, teve a primeira daquelas experiências de sentir-se arrebatado, ficando a sua alma inteiramente aberta, cheia, purificada, iluminada da glória e levada a sacrifi­car-se, inteiramente, ao seu Salvador. Desde então nunca mais foi indiferente em servir a Deus, mas regozijava-se no alvo de trabalhar de toda a sua alma, e de todas as suas forças, e de todo seu entendimento. Só achava interesse nos cultos e escreveu para sua mãe que nunca mais volta­ria ao seu emprego. Consagrou a vida completamente a Cristo. E a manifestação exterior daquela vida nunca exce­dia a sua realidade interior, portanto, nunca mostrou can­saço nem diminuiu a marcha durante o resto de sua vida.
Apesar de tudo, ele escreveu: "A minha alma era seca como o deserto. Sentia-me como encerrado dentro duma armadura de ferro. Não podia ajoelhar-me sem estar toma­do de grandes soluços e orava até ficar molhado de suor... Só Deus sabe quantas noites fiquei prostrado, de cama, ge­mendo, por causa do que sentia, e ordenando, em nome de Jesus, que Satanás se apartasse de mim. Outras vezes pas­sei dias e semanas inteiros prostrado em terra, suplicando para ser liberto dos pensamentos diabólicos que me dis­traíam. Interesse próprio, rebelião, orgulho e inveja me atormentavam, um após outro, até que resolvi vencê-los ou morrer. Lutei até Deus me conceder vitória sobre eles".
Jorge Whitefield considerava-se um peregrino errante no mundo, procurando almas. Nasceu, criou-se e diplo­mou-se na Inglaterra. Atravessou o Atlântico treze vezes. Visitou a Escócia quatorze vezes. Foi ao País de Gales vá­rias vezes. Visitou uma vez a Holanda. Passou quatro me­ses em Portugal. Nas Bermudas, ganhou muitas almas para Cristo, como nos demais lugares onde trabalhou.
Acerca do que sentiu em uma das viagens à colônia da Geórgia, Whitefield escreveu: 'Foram-me concedidas ma­nifestações extraordinárias do alto. Cedo de manhã, ao meio-dia, ao anoitecer e à meia-noite, de fato durante o dia inteiro, o amado Jesus me visitava para renovar-me o cora­ção. Se certas árvores perto de Stonehourse pudessem fa­lar, contariam acerca da doce comunhão, que eu e algumas almas amadas desfrutamos ali com Deus, sempre bendito. Às vezes, quando de passeio, a minha alma fazia tais in­cursões pelas regiões celestes, que parecia pronta a aban­donar o corpo. Outras vezes sentia-me tão vencido pela grandeza da majestade infinita de Deus, que me prostrava em terra e entregava-lhe a alma, como um papel em bran­co, para Ele escrever nela o que desejasse. De uma noite nunca me esquecerei. Relampejava excessivamente. Eu pregara a muitas pessoas e algumas ficaram receosas de voltar a casa. Senti-me dirigido a acompanhá-las e apro­veitar o ensejo para as animar a se prepararem para a vin­da do Filho do homem. Oh! que gozo senti na minha alma! Depois de voltar, enquanto alguns se levantavam das suas camas, assombrados pelos relâmpagos que andavam pelo chão e brilhavam duma parte do céu até outra, eu com mais um irmão ficamos no campo adorando, orando, exul­tando ao nosso Deus e desejando a revelação de Jesus dos céus, uma chama de fogo!"
- Como se pode esperar outra coisa a não ser que as multidões, a quem Whitefield pregava, fossem levadas a bus­car a mesma Presença? Na sua biografia há um grande nú­mero de exemplos como os seguintes: "Oh! quantas lágrimas foram derramadas, com forte clamor, pelo amor do querido Senhor Jesus! Alguns desmaiavam e quando re­cobravam as forças, ouviam e desmaiavam de novo. Ou­tros gritavam como quem sente a ânsia da morte. E depois de eu findar o último discurso, eu mesmo senti-me tão ven­cido pelo amor de Deus que quase fiquei sem vida. Contu­do, por fim, revivi e, depois de me alimentar um pouco, es­tava fortalecido bastante para viajar cerca de trinta quilô­metros, até Nottingham. No caminho, a alma alegrou-se cantando hinos. Chegamos quase à meia-noite; depois de nos entregarmos a Deus em oração, deitamo-nos e descan­samos na proteção do querido Senhor Jesus. Oh! Senhor, jamais existiu amor como o teu!"
Então Whitefield continuou, sem cansar: "No dia se­guinte em Fog's Manor, a concorrência aos cultos foi tão grande como em Nottingham. O povo ficou tão quebrantado que, por todos os lados, vi pessoas banhadas em lágri­mas. A palavra era mais cortante que espada de dois gu­mes e os gritos e gemidos alcançavam o coração mais endu­recido. Alguns tinham semblantes pálidos como a palidez de morte; outros torciam as mãos, cheios de angústia; ain­da outros foram prostrados ao chão, ao passo que outros caíam e eram aparados nos braços de amigos. A maior par­te do povo levantava os olhos para os céus, clamando e pe­dindo a misericórdia de Deus. Eu, enquanto os contempla­va, só podia pensar em uma coisa: o grande dia. Pareciam pessoas acordadas pela última trombeta, saindo dos seus túmulos para o juízo."
"O poder da presença divina nos acompanhou até Baskinridge, onde os arrependidos choravam e os salvos ora­vam, lado a lado. O indiferentismo de muitos transformou-se em assombro, e o assombro, depois, em grande alegria. Alcançou todas as classes, idades e caracteres. A embria­guez foi abandonada por aqueles que eram dominados por esse vício. Os que haviam praticado qualquer ato de injus­tiça foram tomados de remorso. Os que tinham furtado fo­ram constrangidos a fazer restituição. Os vingativos pedi­ram perdão. Os pastores ficaram ligados ao seu povo por um vínculo mais forte de compaixão. O culto doméstico foi iniciado nos lares. Os homens foram levados a estudar a Palavra de Deus e a terem comunhão com o seu Pai, nos céus".
Mas não foi somente os países populosos que o povo afluiu para o ouvir. Nos estados Unidos, quando eram ain­da um país novo, ajuntaram-se grandes multidões dos que moravam longe um do outro, nas florestas. O famoso Ben­jamim Franklin, no seu jornal, assim noticiou essas reu­niões: "Quinta-feira o reverendo Whitefield partiu de nos­sa cidade, acompanhado de cento e cinqüenta pessoas a cavalo, com destino a Chester, onde pregou a sete mil ou­vintes, mais ou menos. Sexta-feira pregou duas vezes em Willings Town a quase cinco mil; no sábado, em Newcas­tle, pregou a cerca de duas mil e quinhentas, e na tarde do mesmo dia, em Cristiana Bridge, pregou a quase três mil; no domingo, em White Clay Creek, pregou duas vezes (descansando uma meia hora entre os sermões a oito mil pessoas, das quais, cerca de três mil, tinha vindo a cavalo. Choveu a maior parte do tempo, porém, todos se conserva­ram em pé, ao ar livre".
Como Deus estendeu a sua mão para operar prodígios por meio de seu servo, vê-se no seguinte: Num estrado pe­rante a multidão, depois de alguns momentos de oração em silêncio, Whitefield anunciou de maneira solene o tex­to: "É ordenado aos homens que morram uma só vez, e de­pois disto vem o juízo". Depois de curto silêncio, ouviu-se um grito de horror, vindo dum lugar entre a multidão. Um pregador presente foi até o local da ocorrência, para saber o que tinha acontecido. Logo voltou e disse: - "Irmão Whi­tefield, estamos entre os mortos e os que estão morrendo. Uma alma imortal foi chamada à eternidade. O anjo da destruição está passando sobre o auditório. Clame em alta voz e.não cesse". Então foi anunciado ao povo que um den­tre a multidão havia morrido. Então Whitefield leu a se­gunda vez o mesmo texto: "É ordenado aos homens que morram uma só vez". Do local onde a Senhora Huntington estava em pé, veio outro grito agudo. De novo, um tremor de horror passou por toda a multidão quando anunciaram que outra pessoa havia morrido. Whitefield, porém, em vez de ficar tomado de pânico, como os demais, suplicou graça ao Ajudador invisível e começou, com eloqüência tremenda, a prevenir os impenitentes do perigo. Não deve­mos concluir, contudo, que ele era ou sempre solene ou sempre veemente. Nunca houve quem experimentasse mais formas de pregar do que ele.
Apesar da sua grande obra, não se pode acusar White­field de procurar fama ou riquezas terrestres. Sentia fome e sede da simplicidade e sinceridade divina. Dominava to­dos os seus interesses e os transformava para glória do rei­no do seu Senhor. Não ajuntou ao redor de si os seus con­vertidos para formar outra denominação, como alguns es­peravam. Não, apenas dava todo o seu ser, mas queria "mais línguas, mais corpos, mais almas a usar para o Se­nhor Jesus".
A maior parte de suas viagens à América do Norte fo­ram feitas a favor do orfanato que fundara na colônia da Geórgia. Vivia na pobreza e esforçava-se para granjear o necessário para o orfanato. Amava os órfãos ternamente, escrevendo-lhes cartas e dirigindo-se a cada um pelo no­me. Para muitas dessas crianças, ele era o único pai, o úni­co meio de elas terem o sustento. Fez uma grande parte da sua obra evangelística entre os órfãos e quase todos perma­neceram crentes fiéis, sendo que um bom número deles se tornaram ministros do Evangelho.
Whitefield não era de físico robusto: desde a mocidade sofria quase constantemente, anelando, muitas vezes, par­tir e estar com Cristo. A maior parte dos pregadores acham impossível pregar quando estão enfermos como ele.
Assim foi que, aos 65 anos de idade, durante sua sétima viagem à América do Norte, findou a sua carreira na Ter­ra, uma vida escondida com Cristo em Deus e derramada num sacrifício de amor pelos homens. No dia antes de fale­cer, teve de esforçar-se para ficar em pé. Porém, ao levan­tar-se, em Exeter, perante um auditório demasiado grande para caber em qualquer prédio, o poder de Deus veio sobre ele e pregou, como de costume, durante duas horas. Um dos que assistiram disse que "seu rosto brilhava como o sol". O fogo aceso no seu coração no dia de oração e jejum, quando da sua separação para o ministério, ardeu até den­tro dos seus ossos e nunca se apagou (Jeremias 20.9).Certo homem eminente dissera a Whitefield: "Não es­pero que Deus chame o irmão, breve, para o lar eterno, mas quando isso acontecer, regozijar-me-ei ao ouvir o seu testemunho". O pregador respondeu: "Então ficará desa­pontado; morrerei calado. A vontade de Deus é dar-me tan­tos ensejos para testificar dele durante minha vida, que não me serão dados outros na hora da morte".
E sua morte ocorreu como predissera.
Depois do sermão, em Exeter, foi a Newburyport para passar a noite na casa do pastor. Ao subir para o quarto de dormir, virou-se na escada e, com a vela na mão, proferiu uma curta mensagem aos amigos que ali estavam e insis­tiam em que pregasse.
Às duas horas da madrugada acordou. Faltava-lhe o fô­lego e pronunciou para o seu companheiro as suas últimas palavras na Terra: "Estou morrendo".
No seu enterro, os sinos das igrejas de Newburyport dobraram e as bandeiras ficaram a meia-haste. Ministros de toda a parte vieram assistir aos funerais; milhares de pessoas não conseguiram chegar perto da porta da igreja, por causa da imensa multidão. Conforme seu pedido, foi enterrado sob o púlpito da igreja.
Se quisermos os mesmos frutos de ver milhares salvos, como Jorge Whitefield os teve, temos de seguir o seu exem­plo de oração e dedicação.
- Alguém pensa que é tarefa demais? Que diria Jorge Whitefield, junto, agora, com os que levou a Cristo, se lhe fizéssemos essa pergunta?
(extraido do livro hérois da fé)

A.W. TOZER
"Nascido em Newburg, Pensilvânia, Estados Unidos, em 21 de abril de 1897.
Sua pregação e seus livros concentraram-se inteiramente em Deus. Ele não tinha tempo para mercenários religiosos que inventavam novas formas para promover suas mercadorias e subir nas estatísticas
“Penso que minha filosofia seja esta: tudo está errado até que Deus endireite.”
Esta afirmação do Dr. A. W. Tozer resume perfeitamente a sua crença e o que ele tentou realizar durante seus anos de ministério. Tozer marchou ao ritmo de uma batida diferente e, por esta razão, normalmente não acompanhava os passos de muitas das pessoas que participavam de desfiles religiosos.
No entanto, foi esta excentricidade cristã que nos fez amá-lo e apreciá-lo. Ele não tinha receio em apontar o que era errado. Nem hesitou em dizer como Deus poderia endireitar todas as coisas. Se é que um sermão pode ser comparado à luz, então, A. W. Tozer emitia raios laser do púlpito, um feixe de luz que penetrava o nosso coração, exauria nossa consciência, expunha nossos pecados e nos fazia clamar: “O que devo fazer para ser salvo?” A resposta era sempre a mesma: entregar-se a Cristo; procurar conhecê-lo de forma pessoal; crescer para tornar-se como Ele.
Aiden Wilson Tozer nasceu em Newburg (naquele tempo conhecida como La Jose), Pensilvânia, Estados Unidos, em 21 de abril de 1897. Em 1912, sua família deixou a fazenda e foi para Akron, Ohio; e, em 1915, ele se converteu a Cristo. No mesmo instante passou a levar uma vida fervorosa de devoção e testemunho pessoal. Em 1919, começou a pastorear a Alliance Church, em Nutter Fort, West Virginia. Também pastoreou igrejas em Morgantown, West Virginia; Toledo; Ohio; Indianapolis, Indiana; e, em 1928, foi para a Southside Alliance Church, em Chicago. Ali, ministrou até novembro de 1959, quando tornou-se pastor da Avenue Road Church, em Toronto, no Canadá. Um ataque cardíaco, em 12 de maio de 1963, pôs fim àquele ministério, e Tozer foi chamado para a Glória.
Tozer alcançou um número maior de pessoas por intermédio de suas obras do que por suas pregações. Grande parte do que escreveu era refletido na pregação de pastores que alimentavam a alma com as palavras de Tozer. Em maio de 1950, foi nomeado editor de The Alliance Weekly, agora conhecida como The Alliance Witness, que provavelmente foi a única revista religiosa a ser adquirida graças, sobretudo, aos seus editoriais. Certa vez, o Dr. Tozer, em uma conferência na Evangelical Press Association (Associação da Imprensa Evangélica), censurou alguns editores que praticavam o que ele chamava de “jornalismo de supermercado” – duas colunas de propagandas e uma nota de material para leitura. Era um escritor exigente e tão duro consigo mesmo quanto com os outros.
O que há nas obras de A. W. Tozer que nos prende a atenção e nos cativa? Primeiro, ele Tozer escrevia com convicção. Não estava interessado nos cristãos superficiais de Atenas que estavam à procura de algo novo. Tozer mergulhou novamente nas antigas fontes e nos chamou de volta às veredas do passado, tendo plena convicção e colocando em prática as verdades que ensinava.
Tozer era um místico cristão em uma época pragmática e materialista. Ele ainda nos convida a ver aquele verdadeiro mundo das coisas espirituais que transcendem o mundo material que tanto nos atraem. Suplica para que agrademos a Deus enos esqueçamos da multidão. Ele nos implora que adoremos a Deus de modo que nos tornemos mais parecidos com Ele. Como esta mensagem é desesperadamente necessária em nossos dias!
A. W. Tozer recebeu a dádiva de compreender uma verdade espiritual e erguê-la para a luz para que, como um diamante, cada faceta fosse observada e admirada. Ele não se perdeu nos pântanos da homilética; o vento do Espírito soprava e ossos mortos reviviam. Suas obras eram como graciosos camafeus cujo valor não se avalia por seu tamanho. Sua pregação se caracterizava pela intensidade espiritual que penetrava no coração do ouvinte e o ajudava a ver Deus. Feliz é o cristão que possui um livro de Tozer à mão quando sua alma está sedenta e ele sente que Deus está longe.
Tozer, em suas obras, nos entusiasma tanto sobre a verdade que nos esquecemos de Tozer e tratamos de pegar a Bíblia. Ele mesmo sempre dizia que o melhor livro é aquele que faz o leitor parar e pensar por si mesmo. Tozer é como um prisma que concentra a luz e depois revela sua beleza.
(Adaptado da Introdução do livro O Melhor de Tozer, vol. 2. © CCC Edições, 2001.) ."
BILLY GRAHAM
Meu objetivo de vida é ajudar as pessoas a encontrar uma relação pessoal com Deus, que creio, vir pelo conhecimento de Cristo." - Billy Graham.
O evangelista Billy Graham aceitou literalmente a Cristo quando Ele disse em Marcos 16:15, ide vós por todo o mundo pregar o Evangelho a toda criatura. O Pr. Graham pregou o Evangelho a mais pessoas em reuniões públicas que qualquer outro na história – cerca 210 milhões de pessoas em mais de 185 países e territórios, incluindo Missões Mundial e Global. Centenas de outros milhões mais foram alcançados pelos seus programas de televisão, vídeos, filmes, e internet.
Desde a cruzada de 1949, em Los Angeles, quando chamou a atenção das pessoas, Billy Graham levou centenas de milhares de indivíduos a tomar decisões pessoais de viver para Cristo - que é a força do seu ministério. Nascido em 07 de Novembro de 1918 em Charlotte na Carolina Norte a quatro dias do Armistício que terminou com a Primeira Guerra Mundial, Billy Graham criou-se em um sítio de gado leiteiro. Cresceu durante a grande depressão dos anos 30, por isso aprendeu o valor do trabalho duro na fazenda da família, mas lá, ele também encontrou tempo para passar muitas horas no celeiro lendo muitos livros assuntos variados.
No outono de 1934, com 16 anos de idade, Billy Graham fez um compromisso pessoal com Cristo pelo ministério de Mordecai Ham, um evangelista itinerante, que visitou Charlotte para uma série de reuniões de avivamento.
Foi Ordenado em 1939 por uma igreja da Convenção Batista do Sul, e recebeu uma formação sólida na Sagradas Escritura pelo Instituto Bíblico da Flórida ( Colégio Trinity da Flórida). Em 1943 ele se graduou na Faculdade Wheaton de Illinois e casou-se com sua colega de escola, Ruth McCue Bell, filha de um cirurgião missionário que tinha passado os 17 primeiros anos de sua vida na China.
Planejada durante três semanas, a cruzada de Los Angeles em 1949 lançou Billy Graham à proeminência internacional. Suas reuniões transcorreram ao longo de oito semanas, com multidões superlotando, toda noite, uma tenda erguida no centro da cidade . Suas cruzadas subseqüentes foram do mesmo modo extensas - a de Londres que durou 12 semanas e a de Nova York, no Madison Square Garden, em 1957, que aconteceu à noite durante 16 semanas consecutivas.
Hoje com 87 anos de idade, Billy Graham e seu ministério são conhecidos em todo globo. Ele pregou sermões em remotas aldeias africanas e também no coração da Cidade de Nova York; para chefes de estado em todo mundo, mas também a bosquímanos africanos , aborígenes da austrália e para tribos nômades da África e do Oriente Médio.
A partir de 1977, ao Pr. Graham foi concedido a oportunidade de conduzir missões evangelísticas em praticamente cada país da antiga aliança política oriental, inclusive à União Soviética. Fundou em 1950 a Associação de Evangelistica Billy Graham (BGEA) para conduzir seu ministério mundial que teve sede em Minneapolis no estado de Minnesota até 2003, quando quando se transferiu Charlotte, na Carolina Norte - sua terra natal.
Escreveu 25 livros muitos dos quais "Top Sellers". Seu Livro de memórias, "Do jeito que eu sou" publicado em 1997, conseguiu o prêmio da "tríplice coroa" ao aparecer simultaneamente em três listas de livros mais vendidos por uma semana. Nele o Pr. Graham faz reflexões sobre sua vida incluindo os mais de 60 anos de ministério ao redor do mundo. De um começo humilde como filho de produtor de leite da Carolina Norte, ele compartilha como sua inabalável fé em Cristo formou e talhou seu ministério.
O conselho do Pr. Graham foi requisitado por presidentes; seus apelos tanto nas areas seculares como religiosas é evidenciado pela larga variedade de grupos que o honraram, inclusive pelos numerosos títulos de doutor "Honoris Causa" de muitas instituições dos Estados Unidos e do exterior. Os reconhecimentos incluem Prêmio da Fundação Presidencial Ronald Reagan para a Liberdade(2000) para contribuições à causa da liberdade; a Medalha de Ouro Congressional (1996); o Prêmio da Fundação Templeton para o Progresso da Religião (1982); o Prêmio de Grande Irmão pelo seu trabalho em nome da prosperidade das crianças (1966). Em 1964 ele recebeu o Prêmio de "Locutor do Ano" foi citado pelo Instituto George Washington Carver Memorial pelas suas contribuições ao relacionamento inter-racial.
Também foi reconhecido pela Liga de anti-difamação B'nai B'rith em 1969 e pela Conferência Nacional de Cristãos e Judeus em 1971 pelos seus esforços em criar uma melhor compreensão entre todas as crenças. Em Dezembro de 2001 o Pr. Graham foi presenteado com a fidalguia honorária, de Comandante Honorário dos Cavaleiros da Ordem do Império Britânico (KBE) pela sua contribuição internacional para a vida cívica e religiosa por mais de 60 anos. Além de muitas outras honrarias.
Billy Graham é regularmente citado pelas Organizações Gallup com um dos 10 homens mais admirados do mundo, descrito com uma figura dominante com uma presença sem paralelo por 48 vezes, sendo 41 delas consecutivas.
Ele e sua esposa Ruth têm cinco filhos - três mulheres: Virginia, Anne Morrow e Ruth Bell; dois homens: William Franklin, III e Nelson Edman; 19 netos e muitos bisnetos. Atualmente mora nas montanhas do oeste da Carolina do Norte, USA.
TESTEMUNHOS
George W Bush - "Há somente uma razão por que estou aqui no Gabinete Oval, e não em um bar. Encontrei a fé, encontrei a Deus. Estou aqui pelo poder da oração" Bush disse publicamente que deixou de consumir álcool sem a ajuda dos Alcoólicos Anônimos , nem de nenhum programa contra o uso indevido de substâncias proibidas, e afirmou que deixou o hábito para sempre, com a ajuda de meios espirituais, como o estudo da Bíblia e aconselhamento com o evangelista Billy Graham." Dr. Justin A. Frank - "Bush no Divã".
Conta-se que Marilyn Moroe foi visitada por Billy Graham durante a apresentação de um show. Ele, um pregador do evangelho na época havia sido mandado pelo Espírito Santo àquele lugar para pregar à Marilyn. Ela, porém, depois de ouvir a mensagem do evangelho disse: "Não preciso do seu Jesus." Uma semana depois foi encontrada morta em seu apartamento.
MATTHEW HENRY
Comentarista bíblico Presbiteriana e alto-falante. O filho de um pastor evangélico de uma igreja da Inglaterra, nascido em Broad Oak, no condado galês de Flintshire elenco logo após o ministério de seu pai como um resultado do decreto de Homogeneidade passou pelo Rei George II. Matthew Henry foi levado por seu pai para um pequeno condado galês Iscoed, Flintshire, em outubro de 1662.
Seu pai, Philip Henry, nomeado ministro da Igreja da Inglaterra, foi considerado um dissidente. Sua mãe veio de uma família com sua própria história no Parlamento.
Ele tinha um patrimônio modesto, Philip Henry, portanto, deve ter vivido no trabalho agrícola e como um ministro sem sutiã.
Mateus, como seu pai, que nasceu tão frágil foi batizado um dia de vida apenas pelo medo de que ele não iria sobreviver uma semana.
Mateus era um garoto fraco fisicamente, mas mentalmente e espiritualmente muito forte. Este aspecto foi destacado para se destacar como estudante hábil e diligente. Alguém disse que ele poderia repetir em voz alta o que ele tinha lido a Bíblia quando tinha apenas três anos!
SUA CONVERSÃO OCORRE EM 1672.
Philip Henry, assumiu a preparação ministerial de Mateus. Até a idade de 18 anos, sua educação foi supervisionado por seu pai.
Como aconteceu a outros, seu estatuto de independente o impediu de se matricular na Oxford ou Cambridge, as universidades mais prestigiadas da época. Assim, em 1680, ele se matriculou na faculdade como "dissidentes" em Islington.
A universidade logo ganhou enorme prestígio e foi considerada a maior academia presbiteriana.
O rotulados como "dissidentes" eram absolutamente proibidos de expressão pública. Mas isto não era segundo o espírito de Mateus.
Portanto decide voltar a Londres. Lá encontrou-se extensivamente a pregação do Dr. Stillingfleet e Dr. Tillotson. Ele se juntou a um pequeno grupo de oração e estudo da Bíblia, que iria consolidar Wesley mais tarde, como o Clube Santo em Oxford.
Ele retornou à sua aldeia para definir a sua visão ministerial. Após uma análise aprofundada si mesmo, que ele escolheu para responder a sua chamada ".
Alguns ministros de Londres consagrada ele em particular em 9 de maio de 1687. Não foi até 1702 que ele poderia obter uma licença oficial.
A tragédia da família sofreu com a morte de sua primeira esposa e três dos seus nove filhos.
Matthew usado para orar pela manhã e à tarde. Na parte da manhã estudando o Antigo Testamento e à tarde em Novo.
Seus sermões eram destinadas a pessoas, não importa politicamente, embora ele nunca deixou de mencionar os perseguidos e discriminados na Fé
Em 1704, após se recuperar de uma doença grave, que começou suas cartas para o Novo Testamento, a base de seus comentários famosos.
Seis anos depois, em 1710, começou a trabalhar em sua maior obra: The Complete comentários bíblicos, um cinco monumental obra volume.
O trabalho duro alimentou a sua alma mas o corpo consumido.
Em 1714, ao visitar um amigo em Chester, murió.tenía apenas 52 anos.
À primeira vista, olhando para a sua volumosa obra, ninguém pode imaginar que seu autor tinha morrido com cinquenta apenas dois. Ao escrever uma peça que foi pedida à disposição de todos e, embora o comentário é cheia de esboços para sermões, é claro que Matthew Henry foi um mestre das línguas originais das Escrituras, muito mais do que os críticos mais modernos, e que, em sua teologia, não poucos cristãos evangélicos para se qualificar como intransponíveis. Sua teologia é uma fiel testemunha da verdade do evangelho, enfatizando a depravação total do homem e soberana graça e glória de Deus. Seu trabalho também mostra não só a capacidade de um fundo para a profundidade espiritual, mas a bolsa de estudos que oferece um grande conhecimento do grego e hebraico. Charles Spurgeon, entre muitos, reconheceu a importante influência que ele exerce sobre sua vida e ministério.

KATHRYN KUHLMAN
Em um mundo marcado pela doença e a escuridão espiritual, Kathryn Kuhlman ofereceu Esperança às pessoas. Com seus serviços de ministração, desde os anos 1950 até sua morte em 1976, milhares de pessoas entregaram suas vidas a Jesus Cristo.
Kathryn nasceu em 9 de maio de 1907, em uma fazenda fora de Concordia, Missouri, nos Estados Unidos e converteu-se em uma reunião quando tinha 14 anos. Dois anos mais tarde, saiu da casa com sua irmã e cunhado, Myrtle e Everett Parrott, pregando em tendas de avivamento no noroeste e no Midwest. Permaneceu com eles até completou 21 anos, o ano onde iniciou um trabalho evangelístico por conta própria.
Embora seu primeiro sermão fosse em um salão pequeno e sujo, Kathryn construiu um nome forte como pregadora de tendas em Idaho, Utá, e Colorado.
Estabeleceu-se em 1933 e abriu um trabalho avivalista no altamente bem sucedido Tabernacle de Denver de Colorado. As pessoas atravessavam o país para ouvir Kathryn, e evangelistas de renome vieram pregar em seu púlpito. Por cinco anos, o ministério floresceu e promoveu um avivamento grande na área. Seu ministério promissor foi comprometido quando o Evangelista Burroughs Waltrip veio pregar.
Waltrip divorciou-se de sua esposa e abandonou seus dois filhos novos logo após a reunião de Kathryn. Mudou-se para Iowa, iniciou um programa de rádio e uma igreja e manteve seu passado em segredo. Quando ele e Kathryn casaram-se em 18 de outubro de 1938, iniciou suas pregações em torno de Midwest. Entretanto, os líderes das igrejas descobriram seu passado e pediram que saísse.
Kathryn ao perceber as circunstâncias que lhe fizeram parar de pregar, resolveu deixar Waltrip em 1944. Kathryn disse que “morria a cada dia por ter posto de lado os desejos de seu coração para assim poder servir inteiramente a Deus”.
Encontrou finalmente um “paraíso” seguro da bisbilhotice e com pessoas famintas de se alimentar com o Evangelho quando chegou em Franklin, Pensilvânia, em 1946. Kathryn começou um programa de rádio popular e uma igreja e construiu um ministério que foi seguido por milagres, por sinais, e por maravilhas. Era em Franklin que ela veio compreender o poder do Espírito Santo e dos milagres.
Kathryn mudou-se para Pittsburgh em 1948, onde viveu até o fim de sua vida. Prestava seus famosos cultos de milagres no Carnegie Hall por 20 anos, lotando a capacidade do grande auditório em todos os cultos. Pessoas de todo o mundo vinham às suas reuniões de milagres e assistiam seus programas de rádio e de televisão.
Kathryn Kuhlman morreu em 20 de fevereiro de 1976 após complicadíssimos problemas no coração. Seu ministério não terminou, pois ela deixou um legado na pregação e ministração de milagres, amor e do poder do Espírito de Deus.

JOSEPH ALLEINE
Joseph Alleine (batizado 8 de abril de 1634 - 17 Novembro 1668) foi um pastor Puritano Inglês dissidente e autor de muitas obras religiosas.
Alleine pertencia a uma família que havia estabelecido originalmente no Suffolk. Já em 1430 alguns dos descendentes de Alan, Senhor do Buckenhall assente no bairro de Calne e Devizes.
Estes eram os ancestrais imediatos da "digno senhor Tobie Alleine de Devizes", o pai de José, que era o quarto de uma grande família, nascido em Devizes no início de 1634. 1645 está marcado na página-título de um tratado singular de idade, por uma testemunha ocular, como o ano da sua criação frente na corrida cristã.
Seu irmão mais velho Edward foi um clérigo, mas neste ano morreram, e José suplicou ao pai que ele poderia ser educado para suceder o irmão no ministério.
Em abril de 1649 ele entrou Lincoln College, Oxford, e em 3 de novembro de 1651, tornou-se estudioso de Corpus Christi College. Em 6 de julho de 1653, tomou o grau de BD, e tornou-se professor e capelão do Corpus Christi, preferindo isto a uma bolsa.
Em 1654 ele tinha ofertas de preferment alta no estado, que declinou, mas em 1655 George Newton, da grande Igreja de Santa Maria Madalena, Taunton, procurou-o para assistente e Alleine aceitou o convite. Quase coincidente com a sua ordenação como pastor associado veio de seu casamento com Theodosia Alleine, filha de Richard Alleine.
Amizades entre os "gentil e simples" do primeiro, com Lady Farewell, neta do testemunho protetor Somerset para a atração da vida privada Alleine's.
Sua vida pública foi um modelo de dedicação pastoral, ainda encontrou tempo para continuar seus estudos, um monumento de que era a sua Theologia Philosophica (a MS perdeu.), Uma tentativa aprendeu a harmonizar a revelação ea natureza, que era admirado por Richard Baxter.
Alleine era nenhum estudioso meros ou divino, mas um homem que associados em condições de igualdade com os fundadores da Royal Society. Estes estudos científicos, entretanto, foram mantidos em subordinação ao seu bom trabalho. Ele foi surpreendentemente influente para um homem tão jovem, e isso foi graças a sua seriedade e contundência.
O ano de 1662 encontrou pastores seniores e juniores da mesma opinião, e ambos estavam entre os dois mil ministros ejetado. Alleine, com John Wesley (avô do célebre John Wesley), também expulso, depois viajou aproximadamente, pregando sempre oportunidade foi encontrado.
Por isso ele foi preso, indiciado por ocasião das sessões, prepotências e multado. Suas cartas da prisão foi um Cardiphonia mais cedo do que John Newton. Ele foi libertado em 26 de maio de 1664, e apesar da Conventicle, ou Five Mile Act, ele retomou a sua pregação. Ele encontrou-se novamente na prisão, e outra vez um sofredor.
Sua Morte
Desgastados pela constante perseguição, ele morreu em novembro de 1668; e as rezadeiras, lembrando as palavras do seu ministro da amada, enquanto ainda com eles, "Se eu morrer cinquenta milhas de distância, deixe-me ser enterrado em Taunton," encontrou um túmulo para ele em mor de Santa Maria.
Nenhum nome é tão puritano inconformado carinhosamente acalentado como o de Joseph Alleine. Sua obra literária foi chefe de um alarme para os não-convertidos (1672), também conhecido como o guia seguro para o Céu, que tinha uma enorme circulação. Seus restos apareceram em 1674.
JOHN KNOX
“Deus é minha testemunha, nunca preguei Jesus Cristo com desrespeito a qualquer homem.”
1513: Reformador escocês, Nasce em nas proximidades da cidade de Haddington (a 20 kms a leste de Edimburgo). Filho de uma família distinta seu pai se chamava William Knox e sua mãe Sinclair. Nunca teve vergonha ou se escusou de suas origens rústicas mesmo quando a providência colocou-o entre os bem nascidos de seu tempo.
1522: Prosseguiu os seus estudos na Universidade de Glasgow, onde o nome "John Knox" figura entre os matriculados em 1522 ou em St. Andrews, onde se afirma que ele tenha sido aluno do celebrado John Major, nativo como Knox da região escocesa de East Lothian, e um dos maiores acadêmicos dos seu tempo. Ele aprendeu Grego e Hebraico num período posterior, como indicado na sua escrita.
1540: È ordenado padre. Até 1543, Knox ainda se mantinha sob o comando de Roma. Um documento assinado a 27 de Março desse ano, guardado no castelo de Tyninghame, prova-o.
1545: Knox professou pela primeira vez a fé protestante . Antes disso já tinha mostrado sinais de simpatia pela fé, sem o ter declarado explicitamente. De acordo com Thomas Guillaume Calderwood, um nativo de East Lothian, a ordem de Blackfriars em 1543, foi a primeira a "dar ao Sr. Knox um cheirinho da verdade". A sua mudança de opinião original tem sido atribuída ao seu estudo na sua juventude ao ler Agostinho e Jerônimo em particular lhe apresentaram os grandes temas das Escrituras: graça, fé, pecado, justificação, providência. Pelo resto de sua vida sua passagem predileta era João 17, na qual Jesus às vésperas de ser traído ora por aqueles que o Pai lhe dera, e ora especificamente para que sejam sustentados em todas as tormentas pelas quais passariam – não só eles, mas por todos os Filhos de Deus em qualquer época.
1547: Ele pregou no castelo de St. Andrew, criticando duramente a guarnição do castelo por sua degradação – e assim foi surpreendido subitamente ao ser chamado de pastor da congregação. Mas isto não durou muito. Dois meses após, vinte e uma galés francesas bombardearam o castelo furiosamente. Já enfraquecidos pela peste, a guarnição do castelo se rendeu. Knox e outros homens foram acorrentados a bancos, como remadores, e foram submetidos a violento esforço físico de dia, e a noite se juntavam para se aquecer sob as bancas comendo feito lobos. O rei da França, presumindo que agora poderia usar agora a Escócia como base para atacar a Inglaterra pensou que um patriota e um líder como Knox ajudaria-o a fazer isso. Ele soltou o escocês depois de 19 meses de agonia nas galés francesas. O monarca gaulês havia cometido um erro de cálculo, o escocês era qualquer coisa exceto antiinglês. Logo Knox estava na Inglaterra pregando para a crescente congregação que havia reunido. Aqui os reformadores ingleses ressaltaram os seus dons na teologia e na liturgia, incorporando seu trabalho no Livro de Orações da Igreja Anglicana.
1554-59: Deixando a Inglaterra pouco depois da morte de Eduardo, Knox dirigiu-se para o continente, uma viagem de que não temos as paragens ou datas em certeza. Em 1554, vivendo já em Genebra, ele aceitou, em acordo com João Calvino, uma posição na igreja inglesa de Frankfurt.
1555: Em 1555 regressou a Escócia, e cinco anos depois logró que o Parlamento aprovara a Confissão Scótica, donde se perfilavam já os princípios do presbiterianismo, movimento protestante caracterizado por uma acentuação da forma de organização eclesiástica proposta por Calvino. Knox foi um destacado opositor da rainha Maria, a sanguinária.
1572: Faleceu em Edimburgo a 24 de Novembro. A voz trovejante podia apenas sussurrar agora. Enquanto a morte chegava mais perto a sua esposa lia e relia suas passagens favoritas da Bíblia, sempre terminando com João 17, segundo ele “o lugar onde eu primeiro pus minha âncora”. No túmulo uma pessoa que foi ao funeral afirmou “Aqui jaz um homem que nunca dissimulou com palavras ou temeu a morte”.
JOÃO CALVINO

João Calvino(1509-1564) - “Deus sujeitou-me o coração à docilidade através duma conversão repentina”.
"Ninguém pode receber sequer a mínima parcela de reta e sã doutrina se não passar a ser um discípulo das Escrituras e não as interpretar guiado pelo Espírito Santo."
JOÃO CALVINO
1509: Nasce em Noyon, na Picardia, (próximo a Paris), no dia 10 de julho. Seu pai, Gérard Cauvin, era secretário do bispado de Noyon. A transposição do nome "Cauvin" para o Latim (Calvinus) deu a origem ao nome "Calvin" pelo qual ele é conhecido. Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha 8 anos de idade. Para muitos, Calvino terá sido para a língua francesa aquilo que Lutero foi para a língua alemã.
1515: Jeanne sua mãe falece, quando tinha apenas 6 anos de idade.
1521: Aos 12 anos, devido à influência que seu pai tinha, passou a receber alguns cargos eclesiásticos na região.
1523: Ingressa na Universidade de Paris.
1528: Forma-se em Filosofia e Dialética na Universidade de Paris. Aos 19 anos recebe o grau de mestre em Teologia
1528: Na Universidade de Orleans, França, começa a estudar Direito. 1529: Muda-se para a Universidade de Bourges, França, onde inicia também os seus estudos de Grego. Seu pai mudou de planos em relação ao seu futuro e quer que ele siga Direito. A "ciência das leis torna normalmente ricos aqueles que se debatem com ela", referia o seu pai (ele próprio um advogado do bispado), segundo as próprias palavras de Calvino. Cumpriu a vontade do pai e foi estudar
Direito, mas nunca deixou de preferir a teologia. Como disse mais tarde: "Se Deus me deu forças para que eu cumprisse a vontade de meu pai, determinou ele pela providência oculta que eu tomasse finalmente um outro caminho" (o da Teologia). Inicialmente Calvino preparava-se para ser padre, enveredaria pelo estudo do Direito, mas Deus trouxe-o de novo ao caminho da Teologia.
1531: Forma-se em Direito pela Universidade de Bourges. Perde seu pai, que falece neste ano. Regressa a Paris onde estuda grego e hebraico no Colégio da França.
1532: A publicação de seu Comentário ao Tratado de Sêneca sobre a Clemência, em abril, já era um indício de que sua conversão estava iminente. Neste mesmo ano converte-se à doutrina protestante. 1533: Começa a defender os protestantes contra a Inquisição. Em 1° de novembro, Nicolas Cop profere seu discurso de posse como reitor da Universidade de Paris. Cop recebe ajuda de Calvino para escrever o discurso, que continha idéias de Erasmo e Lutero. Não eram também chamados de heréticos os primeiros seguidores do cristianismo? O resultado foi a perseguição do próprio Nicolas Cop, que teve de se refugiar em Basiléia. Esconde-se junto com Cop em Angoulême, França, fugindo do rei Francisco I, opositor de todos os simpatizantes de Lutero. Entretanto, o papa Clemente VII pressionava o rei de França a reprimir os protestantes franceses. Em bulas de 30 de Agosto e de 10 de Novembro do mesmo ano, o papa exortava à "aniquilação da heresia Luterana e de outras seitas que ganham influência neste reino". Os dois encontram-se, então, nesse mesmo ano, em Marselha, onde discutem entre outras coisas a "guerra contra os turcos, lá fora, e a repressão das heresias cá dentro".
1534: Em 4 de maio chaga à Noyon afim de renunciar aos benefícios eclesiásticos que detinha. Ao chegar na cidade é preso. Escreve o seu segundo livro, que será também o primeiro sobre religião, e é relativamente pouco conhecido, em comparação com suas outras obras. Faz uma crítica severa aos anabatistas, que acusa de serem uma seita debandada. O livro coloca questões teológicas, mais do que oferece respostas. O título completo era: "Psychopannychia” - tratado pelo qual se prova que as almas permanecem vigilantes e vivas uma vez que tenham deixado os corpos, o que contraria o erro de alguns ignorantes que sustentam que elas dormem até ao último momento" - o que é, também, um ataque aos anabatistas. Apesar de escrito em 1534, o livro seria apenas publicado em 1542. Em 18 de Outubro de 1534, a história do protestantismo francês vive um dos seus momentos fundamentais. Cartazes de 37 por 25 cm que criticam a celebração da missa tal como ela é feita oficialmente pela Igreja católica são afixados em vários locais. É particularmente atacada a repetição cerimonial da morte de Cristo, simbólica, no altar.
Se o sacrifício já foi consumado, por que se apoderam os sacerdotes católicos deste ritual simbólico? Os argumentos teológicos dos protestantes fundamentam-se na Epístola de São Paulo aos Hebreus. A situação tornou-se particularmente crítica e descambou numa reação brutal por parte da Igreja católica e do estado francês.
1535: Protestantes franceses seriam encarcerados e assassinados. Em Janeiro , o rei Francisco I organiza uma procissão macabra pelas ruas de Paris. A procissão pára em 6 locais distintos. Em cada uma das paragens há um pódio onde o rei, os embaixadores e dignos membros do "parlement" se instalam para assistir à morte pela fogueira de 6 "heréticos" envolvidos no caso dos cartazes do ano anterior. Calvino foge para Basiléia, cidade onde vive até Março de 1536. È publicada a primeira bíblia escrita por um protestante, em francês. Tratava-se de uma tradução direta do Hebraico (o antigo testamento) e do Grego (o novo testamento) - línguas originais das escrituras - e não das versões então em uso, em latim. O autor é Olivétan, aliás Pierre Robert (1506-1538), primo de Calvino. o seu estilo de escrita foi considerado de difícil compreensão, além de uma certa falta de fluidez discursiva. O texto seria revisto (com a colaboração de Calvino) e publicado novamente em 1546.Em 16 de Julho, o rei Francisco I faz publicar o Édito de Coucy, uma medida de contemporização para com os protestantes e que corresponde também a uma nova guerra de Francisco I contra Carlos V (Guerra de 1535-1538). Necessitando do apoio dos protestantes alemães para o esforço de guerra e não convinha, necessariamente, perseguir os "Luteranos" em França. É prometido que se deixarão os protestantes em paz desde que vivam como "bons cristão" e renunciem à sua fé. Mas, em Dezembro de 1538, o Édito de Coucy é suspenso e as perseguições aos protestantes retomam a intensidade anterior.
1536: Novamente é preso por pregar doutrinas do protestantismo. Teve breve passagem pela corte de Ferrara, Itália, onde tenta converter sua compatriota, a Duquesa Renata. Em Março é publicada em Basiléia a primeira edição de "Institutio religionis Christianae". No prefácio menciona a sua estadia em Basiléia, "enquanto na França são queimados na fogueira crentes e pessoas santas". Fala de santos mártires. Dirige-se no livro ao Rei Francisco I, que procura convencer das boas intenções da reforma. Ao mesmo tempo, a sua teologia começa a adquirir contornos mais marcados e mais autônomos em relação ao Luteranismo. Uma tendência que se fortalecerá no futuro. Critica a vida dos mosteiros, que compara a bordéis. Calvino pretende não só a reforma da Igreja mas de todos os indivíduos. Fugindo da Inquisição Católica, se estabelece em Genebra. A cidade já estava aberta para acolher a nova fé, Em 1533 há o primeiro culto protestante de que há conhecimento nesta cidade. São então cunhadas moedas com a inscrição: "Post tenebras lux" (após a escuridão, a luz).
1537: Em Abril, por sugestão de Calvino, é constituído um "syndic" (síndico) que tem por objetivo ir de casa em casa e inquirir sobre a confissão dos moradores. A ação é contestada. Alguns moradores recusam-se a pronunciar-se sobre a sua fé. Em junho, as autoridades de Genebra decidem que o Domingo é o único dia feriado. Futuramente nenhum outro feriado será considerado. Em 30 de Outubro é definido como o prazo para todos os moradores de Genebra se pronunciarem quanto à sua religião. Aqueles que não reconhecem os decretos de Guillaume Farell são obrigados a deixar a cidade em 12 de Novembro.Após esta data, a situação complica-se para Farell e Calvino. Particularmente provocante é o fato de um estrangeiro (francês), como Calvino, decidir sobre a excomunhão e expulsão de habitantes naturais de Genebra. As autoridades, perante estes protestos, passam a ser mais críticas para com os líderes protestantes.1538: Junto com Farel, é expulso de Genebra acusado injustamente de arianismo.
Se estabelece em Strassburgo, na França (divisa com a Alemanha). em Estrasburgo Martin Bucer será o protetor de Calvino. Durante três anos Calvino dirigiu em Estrasburgo uma igreja de protestantes franceses, a convite de Bucer. Segundo o biógrafo Courvoisier, Estrasburgo é a cidade onde Calvino se torna verdadeiramente Calvino.
1539: No outono deste ano, Calvino escreve também um comentário à carta de Paulo aos Romanos. Este tema é particularmente querido do protestantismo, porque ali se encontra a justificação através da fé como a base de sustentação do movimento protestante, pois somente a fé salva e justifica. Os sacramentos só recebem o seu sentido através da fé. Sem fé não têm qualquer efeito. Já Lutero tinha destacado a carta de Paulo aos romanos como o cerne do Novo Testamento e o mais alto do evangelho.
1540: Em Estrasburgo, Calvino casa-se em Agosto, com a viúva Idelette de Bure, que tinha sido previamente adepta do anabatismo. Traz duas crianças do seu prévio casamento. Calvino tem 31 anos de idade. A cerimônia do casamento foi dirigida por Guillaume Farel.
1541: O partido de seus amigos assume o poder em Genebra. A 13 de Setembro, Calvino chega pela segunda vez a Genebra. Instala-se aí definitivamente até ao fim da sua vida, tendo ali organizado a estruturação da organização de ministérios, de professores, de diáconos, de acordo com as linhas bíblicas. Estabelece uma nova Constituição, as chamadas Ordenanças Eclesiásticas, onde redefinia a ordem de poder na Igreja Suíça As "Ordonnances de 1541" dispõem a formação de 4 corpos:
Pasteurs: pastores, que pregam.
Docteurs: ensinam.
Anciens: os mais velhos, chamam à ordem aqueles que prevaricam.
Diacres: diáconos, ocupam-se dos pobres e doentes - mendigar é estritamente proibido.
1542: Publica em Genebra o seu livro de catecismo: "Catéchisme de l'Église de Genève, c'est-a-dire, le formulaire d'instruire les enfants en la chrétienté". A chave do projeto de Calvino passa pela pedagogia. Objetivo é uma profunda transformação da mentalidade. Cada resquício de superstição, de práticas de magia, qualquer resto de catolicismo é perseguido como idolatria. o filho de Calvino, Jacques, morre pouco depois de nascer em 28 de Julho.
1546: Em Janeiro, é preso Pierre Ameaux, que tinha injuriado publicamente Calvino, esse "picard" que prega uma falsa fé.
1547: A 23 de Setembro, François Favre comparece perante tribunal por ter afirmado que Calvino se auto-nomeou de bispo de Genebra e os franceses tinham escravizado a sua cidade natal.
1548: Um senhor chamado Nicole Bromet declara que os franceses deveriam ser todos colocados num barco e enviados pelo rio Reno abaixo.
1549: Morre Idellete Calvino, após doença. Calvino não voltará a casar. Dedica-se ainda mais decididamente ao trabalho.
1550: Calvino escreve ao rei Eduardo VI de Inglaterra, um protestante, encorajando-o nas suas reformas. O rei Eduardo VI fez acolher protestantes franceses, perseguidos no país natal. Após o reinado de Eduardo VI (1547-1553) o catolicismo regressa à Inglaterra sob a liderança de Maria Tudor.
1551: Sofre oposição de Bolsec, que afirma: "a teoria da predestinação é falsa". Ele é expulso de Genebra, volta para a Igreja Romana e escreve uma biografia caluniosa de Calvino
1553: Ordena a morte de seu opositor, o espanhol Miguel Servet, que morre queimado.
1555: Em Janeiro, há uma procissão noturna de pessoas em Genebra, caminhando de vela na mão, ridicularizando Calvino. Todos os calvinistas são excomungados do catolicismo Também a doutrina da Predestinação foi muito atacada nestes anos. Um particular crítico foi o monge carmelita chamado Hiérome Bolsec, nascido em Paris, que se tinha estabelecido em Genebra. Ele argumenta que “uma vez que Deus é o responsável por tudo o que se passa, então Deus é também responsável pelos nossos pecados”. Calvino responde que “nunca disse isso”.( A teoria da predestinação de Calvino nasceu da sua crença na presciência absoluta de Deus, e da firma convicção, robustecida pelas suas leituras de São Paulo e Santo Agostinho, de que o homem é incapaz de se salvar pelas suas próprias ações; somente pode ser salvo pela imerecida graça de Deus, livremente concedida). As autoridades apoiam Calvino. Em Berna, críticos de Calvino são expulsos da cidade. são erguidas as primeiras igrejas calvinistas em França, nomeadamente em Paris, Meaux, Angers, Poitiers e Loudun. Nos três anos seguintes surgem as comunidades de Orléans, Rouen, La Rochelle, Toulouse, Rennes e Lyon.
1559: Funda a Universidade de Genebra. Entre 26 e 29 de Maio, realiza-se em Paris um sínodo nacional protestante. Cerca de 30 paróquias estão representadas. Vão elaborar um texto de linhas de orientação, (com a participação de Calvino na sua criação), que se vai chamar Confession de La Rochelle (foi confirmado nesta cidade em 1571).
1564: Morre no dia 27 de maio, aos 55 anos. A saúde de Calvino começou a vacilar. Ele sofria de enxaquecas, hemorragia pulmonar, gota e de pedras nos rins. Por vezes foi levado carregado para o púlpito. Calvino também tinha os seus detratores. Foi ameaçado e abusaram dele. Calvino apreciava passar os seus tempos livres no lago de Genebra, lendo as escrituras e bebendo vinho tinto. Nos finais de sua vida disse a seus amigos que estavam preocupados com o seu regime diário de trabalho: "Qual quê ? Querem que o senhor me encontre ocioso quando ele chegar ?"
João Calvino faleceu em Genebra a 27 de Maio de 1564.
Foi enterrado numa sepultura simples e não marcada, a seu próprio pedido. A influência que ele exerceu desde a cidade de Genebra, que praticamente governou a partir de 1541 até à sua morte, em 1564, espalhou-se pela Europa inteira e mais tarde pela América.

JÔNATAS EDWARDS
GRANDE DESPERTADOR
(1703-1758) - Há dois séculos que o mundo fala do famoso sermão: Pecadores nas mãos de um Deus irado e dos ouvintes que se agarravam aos bancos pensando que iam cair no fogo eterno. Esse fato foi, apenas, um dos muitos que acontece­ram nas reuniões em que o Espírito Santo desvendava os olhos dos presentes para eles contemplarem as glórias do Céu e a realidade do castigo que está bem perto daqueles que estão afastados de Deus.
Jônatas Edwards, entre os homens, era o vulto maior nesse avivamento, que se intitulava O grande desperta­mento. Sua vida é um exemplo destacado de consagração ao Senhor para o desenvolvimento maior do intelecto e, sem qualquer interesse próprio, de deixar o Espírito Santo usar o mesmo intelecto como instrumento nas suas mãos. Amava a Deus, não somente de coração e alma, mas tam­bém de todo o entendimento. "Sua mente prodigiosa apo­derava-se das verdades mais profundas". Contudo, "sua alma era, de fato, um santuário do Espírito Santo". Sob aparente calma exterior, ardia nele o fogo divino, como um vulcão.
Os crentes atuais devem a esse herói, graças à sua per­severança em orar e estudar sob a direção do Espírito, a volta às várias doutrinas e práticas da igreja primitiva. Grande é o fruto da dedicação do lar em que Edwards nas­ceu e se criou. Seu pai foi o amado pastor de uma só igreja durante um período de sessenta e quatro anos. Sua piedosa mãe era filha de um pregador que pastoreou uma igreja durante mais de cinquenta anos.
Dez das irmãs de Jônatas, quatro eram mais velhas do que ele e seis mais novas. "Muitas foram as orações que os pais ofereceram a Deus, para que o único e amado filho fos­se cheio do Espírito Santo, e que se tornasse grande peran­te o Senhor. Não somente oravam assim, fervorosa e cons­tantemente, mas mostravam-se igualmente zelosos em criá-lo para Deus. As orações, à volta da lareira, os estimu­laram a se esforçarem, e seus esforços redobrados os moti­varam a orarem mais fervorosamente... O ensino religioso e permanente resultou em Jônatas conhecer intimamente a Deus, quando ainda criança".
Quando Jônatas tinha sete ou oito anos, houve um despertamento na igreja de seu pai, e o menino acostumou-se a orar sozinho, cinco vezes, todos os dias, e a chamar ou­tros da sua idade para orarem com ele.
Citamos aqui as suas palavras sobre esse assunto: "A primeira experiência, de que me lembro, de sentir no ínti­mo a delícia de Deus e das coisas divinas, foi ao ler as pala­vras de 1 Timóteo 1.7: 'Ora, ao Rei dos séculos, imortal, in­visível; ao único Deus seja honra e glória para todo o sem­pre. Amém'. Sentia a presença de Deus até arder o coração e abrasar a alma de tal maneira, que não sei descrevê-la... Gostava de passar o tempo olhando para a lua e, de dia, a contemplar as nuvens e os céus. Passava muito tempo ob­servando a glória de Deus, revelada na natureza e cantan­do as minhas contemplações do Criador e Redentor... An­tes me sentia demasiado assombrado ao ver os relâmpagos e ouvir a troar do trovão. Porém mais tarde eu me regozija­va ao ouvir a majestosa e terrível voz de Deus na trovoada". Antes de completar treze anos, iniciou seu curso em Yale College, onde, no segundo ano, leu atentamente a fa­mosa obra de Locke: Ensaio sobre o entendimento huma­no. Vê-se, nas suas próprias palavras acerca dessa obra, o grande desenvolvimento intelectual do moço: "Achei mais gozo nisso do que o mais ávido avarento, em ajuntar gran­des quantidades de ouro e prata de tesouros recém-adquiridos".
Edwards, antes de completar dezessete anos, diplo­mou-se no Yale College com as maiores honras. Sempre es­tudava com esmero, mas também conseguia tempo para estudar a Bíblia, diariamente. Depois de. diplomar-se, con­tinuou seus estudos em Yale, durante dois. anos e foi então separado para o ministério.
Foi nessa altura que seu biógrafo escreveu acerca de seu costume de dedicar certos dias para jejuar, orar e exami­nar-se a si mesmo.
Acerca da sua consagração, com idade de vinte anos, Edwards escreveu: "Dediquei-me solenemente a Deus e o fiz por escrito, entregando a mim mesmo e tudo que me pertencia ao Senhor, para não ser mais meu em qualquer sentido, para não me comportar como quem tivesse direi­tos de forma alguma... travando, assim, uma batalha com o mundo, a carne e Satanás até o fim da vida".
Alguém assim se referiu a Jônatas: "Sua constante e solene comunhão com Deus, em secreto, fazia com que o rosto dele brilhasse perante o próximo, e sua aparência, semblante, palavras e todo o seu comportamento eram acompanhados por seriedade, gravidade e solenidade".
Aos vinte e quatro anos casou-se com Sara Pierrepont, filha de um pastor, e desse enlace nasceram, como na família do pai de Edwards, onze filhos.
Ao lado de Jônatas Edwards, no Grande Despertamento, estava o nome de Sara Edwards, sua fiel esposa e ajudadora em tudo. Como seu marido, ela nos serve como exemplo de rara intelectualidade. Profundamente estudio­sa, inteiramente entregue ao serviço de Deus, ela era co­nhecida por sua santa dedicação ao lar, pelo modo de criar seus filhos e pela economia que praticava, movida pelas palavras de Cristo: "Para que nada se perca". Mas antes de tudo, tanto ela como seu marido eram conhecidos por suas experiências em oração. Faz-se menção destacada es­pecialmente dum período de três anos, durante o qual, apesar de gozar de perfeita saúde, ficava repetidas vezes sem forças, por causa das revelações do Céu. A sua vida in­teira foi de intenso gozo no Senhor.
Jônatas Edwards costumava passar treze horas, todos os dias, estudando e orando. Sua esposa, também, diaria­mente o acompanhava na oração. Depois da última refei­ção, ele deixava toda a lida, a fim de passar uma hora com a família.
- Mas, quais as doutrinas de que a igreja havia esqueci­do e quais as que Edwards começou a ensinar e a observar de novo, com manifestações tão sublimes?
Basta uma leitura superficial para descobrir que a dou­trina, à qual deu mais ênfase, foi a do novo nascimento, como sendo uma experiência certa e definida, em contras­te com a idéia da Igreja Romana e de várias denominações.
O evento que marcou o começo do Grande Despertamento foi uma série de sermões feitos por Edwards sobre a doutrina da justificação pela fé, que fez os ouvintes senti­rem a verdade das Escrituras, de que toda a boca ficará fe­chada no dia de juízo, e que "não há coisa alguma que, por um momento, evite que o pecador caia no Inferno, senão o bel prazer de Deus".
É impossível avaliar o grau do poder de Deus, derrama­do para despertar milhares de almas, para a salvação, sem primeiro nos lembrarmos das condições das igrejas da Nova Inglaterra, e do mundo inteiro, nessa época. Quem, até hoje, não se admira do heroísmo dos puritanos que co­lonizaram as florestas da Nova Inglaterra? Passara, po­rém, essa glória e a igreja, indiferente e cheia de pecado, se encontrava face com o maior desastre. Parecia que Deus não queria abençoar a obra dos puritanos, obra que existiu unicamente para sua glória. Por isso, no mesmo grau que havia coragem e ardor entre os pioneiros, houve entre seus filhos, perplexidade e confusão. Se não pudessem alcan­çar, de novo, a espiritualidade, só lhes restava esperar o juízo dos céus. O famoso sermão de Edwards, ''Pecadores nas mãos de um Deus irado", merece menção especial.
O povo, ao entrar para o culto, mostrava um espírito le­viano, e mesmo de desrespeito, diante dos cinco pregado­res que estavam presentes. Jônatas Edwards foi escolhido para pregar. Era homem de dois metros de altura; seu ros­to tinha aspecto quase feminino, e o corpo magro de jejuar e orar. Sem quaisquer gestos, encostado num braço sobre a tribuna, segurando o manuscrito na outra mão, falava em voz monótona. Discursou sobre o texto de Deuteronômio 32.35: "Ao tempo em que resvalar o seu pé".
Depois de explicar a passagem, acrescentou que nada evitava, por um momento, que os pecadores caíssem no In­ferno, a não ser a própria vontade de Deus; que Deus esta­va mais encolerizado com alguns dos ouvintes do que com muitas pessoas que já estavam no Inferno; que o pecado era como um fogo encerrado dentro do pecador e pronto, com a permissão de Deus, a transformar-se em fornalhas de fogo e enxofre, e que somente a vontade do Deus indig­nado os guardava da morte instantânea.
Prosseguiu, então, aplicando o texto ao auditório: "Aí está o Inferno com a boca aberta. Não existe coisa alguma sobre a qual vós vos possais firmar e segurar. Entre vós e o Inferno existe apenas a atmosfera... há, atualmente, nu­vens negras da ira de Deus pairando sobre vossas cabeças, predizendo tempestades espantosas, com grandes trovões. Se não existisse a vontade soberana de Deus, que é a única coisa para evitar o ímpeto do vento até agora, serieis des­truídos e vos tornaríeis como a palha da eira... O Deus que vos segura na mão, sobre o abismo do Inferno, mais ou me­nos como o homem segura uma aranha ou outro inseto no­jento sobre o fogo, durante um momento, para deixá-lo cair depois, está sendo provocado em extremo... Não há que admirar, se alguns de vós com saúde e calmamente sentados aí nos bancos, passarem para lá antes de ama­nhã..."
O resultado do sermão foi como se Deus arrancasse um véu dos olhos da multidão para contemplar a realidade e o horror da posição em que estavam. Nessa altura o sermão foi interrompido pelos gemidos dos homens e os gritos das mulheres; quase todos ficaram de pé, ou caídos no chão. Foi como se um furacão soprasse e destruísse uma floresta. Durante a noite inteira a cidade de Enfield ficou como uma fortaleza sitiada. Ouvia-se, em quase todas as casas, o clamor das almas que, até aquela hora, confiavam na sua própria justiça. Esperavam que, a qualquer momento, o Cristo descesse dos céus com os anjos e apóstolos ao lado, e que os túmulos entregassem os mortos que neles havia.
Tais vitórias, contra o reino das trevas, foram ganhas de joelhos. Edwards não abandonara, nem deixara de go­zar os privilégios das orações, costume que vinha desde a meninice. Continuou a frequentar, também, os lugares so­litários na floresta onde podia ter comunhão com Deus. Como um exemplo citamos a sua experiência com a idade de trinta e quatro anos, quando entrou na floresta, a cava­lo. Lá, prostrado em terra, foi-lhe concedido ter uma visão tão preciosa da graça, amor e humilhação de Cristo como Mediador, que passou uma hora vencido por uma torrente de lágrimas e pranto.
Como era de esperar, o Maligno tentou anular a obra gloriosa do Espírito Santo no "Grande Despertamento", atribuindo tudo ao fanatismo. Em sua defesa Edwards es­creveu : "Deus, conforme as Escrituras, faz coisas extraor­dinárias. Há motivos para crer, pelas profecias da Bíblia, que sua obra mais maravilhosa seria feita nas últimas épo­cas do mundo. Nada se pode opor às manifestações físicas, como as lágrimas, gemidos, gritos, convulsões, falta de for­ças... De fato, é natural esperar, ao lembrarmo-nos da re­lação entre o corpo e o espírito, que tais coisas aconteçam. Assim falam as Escrituras: do carcereiro que caiu perante Paulo e Silas, angustiado e tremendo; do Salmista que ex­clamou, sob a convicção do pecado: 'Envelheceram os meus ossos pelo meu bramido durante o dia todo' (Salmo 32.3); dos discípulos, que, na tempestade do lago, clama­ram de medo; da Noiva, do Cântico dos Cânticos, que fi­cou vencida, pelo amor de Cristo, até desfalecer..."
Certo é que na Nova Inglaterra começou, em 1740, um dos maiores avivamentos dos tempos modernos. É igual­mente certo que este movimento se iniciou, não com os ser­mões célebres de Edwards, mas com a firme convicção deste, de que há uma "obra direta que o Espírito divino faz na alma humana". Note-se bem: Não foram seus sermões mo­nótonos, nem a eloqüência extraordinária de alguns, como Jorge Whitefield, mas, sim, a obra do Espírito Santo no co­ração dos mortos espiritualmente, que, "começando em Northampton, espalhou-se por toda a Nova Inglaterra e pelas colônias da América do Norte, chegando até a Escó­cia e a Inglaterra". De uma época de maior decadência, a Igreja de Cristo, entre a população escassa da Nova Ingla­terra, despertou e foram arrebatadas de trinta a cinqüenta mil almas do Inferno durante um período de dois a três anos.
No meio das suas lutas, sem ninguém esperar, a vida de Jônatas Edwards foi tirada da Terra. Apareceu a varíola em Princeton e um hábil médico foi chamado de Filadélfia para inocular os estudantes. O nosso pregador e duas de suas filhas foram também vacinados. Na febre que resul­tou, as forças de nosso herói diminuíram gradualmente até que, um mês depois, faleceu.
Assim diz um de seus biógrafos: "Em todo o mundo onde se falava o inglês, era considerado o maior erudito desde os dias do apóstolo Paulo ou de Agostinho".
Para nós, a vida de Jônatas Edwards é uma das muitas provas de que Deus não quer que desprezemos as faculda­des intelectuais que Ele nos concede, mas que as desenvol­vamos, sob a direção do Espírito Santo, e que as entregue­mos desinteressadamente para o seu uso.
(estraido do livro hérois da fé)
JOHN HUSS
John Huss (1373-1415) - Nascido em Hussinec, na Boêmia, hoje Tchecoslováquia, em 1373, de uma família pobre que vivia da agricultura. Ele recebeu boa educação elementar e cursou na Universidade de Praga (capital atual da República Tcheca), onde terminou seu mestrado em Filosofia no ano de 1396.
Dois anos depois, Huss começou ensinar na Universidade, e em 1401, veio a ser o seu reitor. Em 1400, Huss foi separado como padre e foi-lhe entregue a responsabilidade da prestigiada Capela de Belém.
Após o casamento do rei inglês, Ricardo II da Inglaterra com Ana, filha do imperador Carlos IV da Boêmia em 1382, os ensinamentos de Wycliff foram logo introduzidos no país. Estudando-os bem de perto, Huss começou não só a pregar, como também traduzir as obras de Wycliff na língua Tcheca.
Pregador e Precursor da Reforma na Boêmia Em 1403, John Huss se propôs a reformar a Igreja Romana na Boêmia, ensinando que o papado não tinha nenhuma autoridade de oferecer a remissão dos pecados através da venda de indulgências, como também questionou a legitimidade dos dois papas rivais Gregorio XII e AlexandreV. Por esta razão, em 1408, os incontentos padres e colegas da Universidade de Praga condenaram a Huss, e como resultado, foi proibido de exercer suas funções eclesiásticas em Praga.
Um ano depois, ele recebe novas acusações de estar ensinando heresias; mas não para de pregar na Capela de Belém. Em 1411, Huss é excomungado de sua congregação, e todos os cultos, cerimônias de batizado e funeral foram anulados. Tal ato trouxe grande revolta nos cidadãos de Praga, os quais defenderam a Huss.
O cúmulo da corrupção papal sucedeu em 1412, quando João XXIII lançou uma cruzada contra o Rei Ladislau de Nápoles, e ofereceu a remissão completa de pecados a todos os que participassem na guerra, ou a venda da indulgência para os que a suportassem. Ao ouvir tal notícia contrária a todos os preceitos bíblicos, Huss se levanta e ataca o papado de usar sanções espirituais e indulgências para fins pessoais e políticos. Em contra-ataque, Jan Huss foi excomungado de Roma e obrigado a deixar Praga.
A Intimidação Se Inicia Durante o seu exílio, Huss teve a oportunidade de concluir uma de suas obras mais importantes, “De Ecclesia”. No ano de 1414, os líderes da Igreja Romana se reuniram para um Concílio em Constança (atualmente na Alemanha), e John Huss foi convocado a comparecer a fim de esclarecer seus ensinos controversiais com o da Igreja. O imperador Boêmio, Sigismund, prometeu salvo-conduto, mas, após um mês em Constança, os seguidores do Papa João XXIII o prenderam, e ele foi impelido pelo Concílio de se retratar. Huss permanceceu preso durante os sete meses de seu julgamento, e pouca oportunidade foi-lhe dada de se defender. Por não voltar atrás, Jan Huss foi condenado como hereje, despido e queimado na estaca fora da cidade no dia 6 de julho de 1415.
Huss morreu cantando o hino em grego “Kyrie eleeson” (Senhor, tem misericórdia). O local de sua morte é marcado até hoje com uma pedra memorial. Como Wycliff, Huss lutou pela reforma da Igreja pagando o preço com sua vida. Os perseguidores destruíram o corpo, mas não os ensinos de Huss, que foi espalhado por toda a Europa por seus discípulos mais radicais, conhecidos como Taboritas. Estes rejeitaram tudo na fé e na prática da Igreja Romana que não se encontrasse na Bíblia. Destes discípulos surgiu a Igreja Moraviana, a qual tornou-se mais tarde numa das igrejas de mais visão missionária da História da Igreja. O resultado do trabalho de Huss e de tantos outros foi vista um século depois, na pessoa de Lutero.
JÔNATAS GOFORTH
«POR MEU ESPÍRITO»
(1859-1936) - Certo dia, no ano de 1900, em Changte, no interior da China, passou um correio galopando à doida. Levava um despacho da imperatriz para o governador, ordenando que tomasse medidas para exterminar imediatamente todos os estrangeiros. Na horrenda carnificina que se seguiu, Jônatas Goforth, com sua esposa e filhinhos, foram cercados por milhares de Boxers, determinados a tirar-lhes a vida.
O pai da família, ao cair no chão com uma tremenda pancada que quase lhe partiu o crânio, ouviu uma voz di­zer-lhe: "Não temas! Teus irmãos estão orando por ti." Antes de ficar inconsciente, viu chegar a galope um cavalo que ameaçava atropelá-lo. Ao voltar a si, viu que o cavalo caíra ao seu lado, esperneando de tal maneira que os seus atacantes foram obrigados a desistirem do propósito de matar o missionário. Assim ele reconheceu que a mão de Deus o guardava maravilhosa e constantemente durante o tempo do morticínio dos boxers, no qual centenas de cren­tes foram mortos. Jônatas Goforth e sua família, foram sal-vos de inumeráveis situações angustiosas entre o povo amotinado, até que, por fim, vinte dias depois, chegaram ao litoral do país.
Rosalind e Jônatas Goforth tinham as suas vidas escon­didas com Cristo em Deus. Eis como viviam, nas suas pró­prias palavras: "Não é somente tolice aceitar para nós mesmos a glória que pertence a Deus, mas é grave pecado, porque o Senhor diz: 'A minha glória a outrem não darei'."
Quando ainda jovem, Jônatas Goforth adotou as pala­vras de Zacarias 4.6 como lema da sua vida: "Não por for­ça nem por violência, mas por meu espírito, diz o Senhor dos Exércitos."
Alguém que o conhecia intimamente escreveu: "Antes de tudo, Jônatas Goforth era um ganhador de almas. Foi por essa razão que se tornou missionário para o estrangei­ro; não havia outro interesse, outra atividade, outro minis­tério que o atraísse. Com o fogo do amor de Deus no cora­ção, ele manifestava um entusiasmo irresistível e uma energia incansável. Nada podia impedir os esforços dinâ­micos na obra, para a qual Deus o chamara. Era assim tan­to aos setenta e sete anos como quando tinha cinqüenta e sete. Com a perda da vista durante os últimos três anos da sua vida, não diminuíram seus esforços - parece que au­mentaram."
Revela-se, nas suas próprias palavras, como foram lan­çados os alicerces da sua vida constantemente esforçada no serviço do Senhor: "Minha mãe, quando eu e meus ir­mãos éramos ainda crianças, com desvelo incessante, nos ensinava as Escrituras e orava conosco. Uma coisa que teve grande influência sobre a minha vida foi o fato de mi­nha mãe me pedir que lesse os Salmos para ela em voz al­ta. Tinha apenas cinco anos, quando comecei a fazer esse exercício e achei a leitura fácil. Com a continuação, adqui­ri o costume de decorar as Escrituras, coisa que continuei a fazer com grande proveito".
Todos podemos testificar que é fácil fazer com que a leitura das Escrituras e a oração cheguem a uma monótona formalidade. Mas, ao contrário, o semblante de Jônatas Goforth se iluminava com o reflexo da glória das Escritu­ras que recebia na alma. Depois da sua morte, uma criada católica romana declarou: "Quando o senhor Goforth se hospedava na casa onde trabalho, eu mirava seu rosto e di­zia a mim mesma: O rosto de Deus pode ser assim!
Acerca da conversão de seu pai, Jônatas escreveu: "No tempo da minha conversão, morava com meu irmão Gui­lherme. Certa vez, nossos pais nos visitaram, passando co­nosco mais ou menos um mês. Fazia tempo que o Senhor me dirigira a fazer culto doméstico. Assim, certo dia, anunciei: Taremos o culto doméstico de hoje e peço que todos se reúnam depois do jantar'. Esperava que meu pai se manifestasse contrariamente, porque em casa não cos­tumávamos dar graças antes das refeições, quanto mais fa­zer culto doméstico! Li um capítulo de Isaías e, depois de falar algumas palavras, oramos juntos, de joelhos. Conti­nuamos a realizar os cultos domésticos durante o tempo que eu estava em casa. Depois de alguns meses meu pai foi salvo."
O jovem Goforth, no tempo de estudante no ginásio, vi­sava a ser advogado, até que, certo dia, leu a inspiradora biografia do pregador Roberto McCheyne. Não somente se desvaneceram para sempre todas as suas visões de ambi­ção, mas ele dedicou, também, a sua própria vida a levar almas ao Salvador. Nesse tempo, "devorou" os livros: "Os Discursos de Spurgeon"; "Os Melhores Sermões de Spurgeon"; "Graça Abundante" (Bunyan); e "O Descanso dos Santos" (Baxter). A Bíblia, contudo, era o seu livro predi­leto, e costumava levantar-se duas horas mais cedo para estudar as Escrituras, antes de se ocupar em qualquer ou­tro serviço do dia.
Acerca da sua chamada, nesse tempo, ele escreveu: "Apesar de sentir-me dirigido ao ministério da Palavra, recu­sava terminantemente a ser missionário no estrangeiro. Mas um colega me convidou a assistir à reunião de um missionário, o qual fez o seguinte apelo: 'Faz dois anos que passo de cidade em cidade contando a situação de Formo­sa e rogando que algum jovem se ofereça para me auxiliar. Mas parece que não consegui transmitir a são a nenhum. Volto, então, sozinho. Dentro de pouco tempo meus ossos estarão enbranquecendo na encosta dum morro em Formosa. Quebranta-me o coração saber que nenhum moço se sente dirigido a continuar o trabalho que iniciei'.
"Ao ouvir essas palavras, senti-me vencido pela vergo­nha. Se o chão tivesse me engolido, teria sido um alívio. Eu, comprado com o precioso sangue de Cristo, ousava planejar a minha vida como eu mesmo queria. Ouvi a voz do Senhor dizer: 'A quem enviarei, e quem há de ir por nós?' E respondi: Eis-me aqui, envia-me a mim! Desde então sou missionário. Lia avidamente tudo que podia achar acerca de missões no estrangeiro e me esforçava por transmitir aos outros a visão que eu alcançara - a visão dos milhões da terra sem oportunidade de ouvirem um prega­dor".
Por fim chegou o tempo de iniciar seus estudos em To­ronto. O primeiro domingo ele o passou trabalhando entre os prisioneiros, na prisão "Don", um costume que conti­nuou durante todos os anos de estudos nessa cidade. Du­rante a semana, dedicava muito tempo a andar de casa em casa ganhando almas para Cristo. Quando o diretor do co­légio onde estudava perguntou-lhe quantas casas visitara durante os meses de junho a agosto, ele respondeu: "Novecentas e sessenta."
Foi nesse tempo dos estudos que Jônatas Goforth se ca­sou com Rosalind Bell-Smith. Acerca desse ato ela escre­veu:
"Comecei, aos vinte anos de idade, a orar pedindo que, se o Senhor desejasse que eu me casasse, Ele me dirigisse um moço inteiramente dedicado a Ele e ao seu serviço... Certo domingo, achei-me em uma reunião de obreiros da Toronto Mission Union. Um pouco antes de começar a reu­nião, alguém à porta chamou Jônatas Goforth. Ele, ao le­vantar-se para ir lá fora, deixou a Bíblia na cadeira. Então eu fiz uma coisa que nunca pude explicar, nem para ela achei desculpas; senti-me impelida a ir à cadeira dele, apanhei a Bíblia, e voltei à minha cadeira. Ao folhear rapi­damente o livro, achei-o quase gasto pelo uso, e marcado de capa a capa. Fechei-o, e sem demora, coloquei-o de novo na cadeira. Tudo isso aconteceu em um intervalo de poucos segundos. Ali, sentada no culto, eu disse a mim mesma: 'Esse é o moço com quem seria bom que eu me ca­sasse'.
"No mesmo dia fui apontada, juntamente com outras para abrir um ponto de pregação em outra parte de Toron­to. Jônatas Goforth estava também entre o grupo. Durante as semanas que se seguiram, eu tive muitas oportunidades de ver a verdadeira grandeza da alma desse homem, a qual nem seu exterior desprezível podia esconder. Assim, quan­do ele me perguntou: - 'Queres unir a tua vida à minha para irmos à China?' Sem vacilar um só momento, respon­di: - Quero! Mas, alguns dias depois, foi grande a minha surpresa quando ele me perguntou: - 'Prometes nunca me impedir de colocar o Senhor e a sua obra em primeiro lu­gar, mesmo antes de ti?' Era essa mesma a qualidade de moço que eu pedira, em oração, para que Deus mo desse como marido, e firmemente respondi: Prometo fazê-lo sempre! Oh! Como fora benigno o Mestre, ao esconder-me o que essa promessa significava!
"Poucos dias depois de eu haver prometido o que me pe­diu, veio a primeira prova. Eu sonhava, como mulher que era, com o bonito anel de casamento que ia receber. Foi en­tão que Jônatas me disse: - 'Não te importas se eu te não comprar uma aliança?' A seguir explicou com grande entu­siasmo, como se esforçava na distribuição de livros e folhe­tos sobre o trabalho na China. Queria economizar o mais possível para essa importante obra. Ao ouvi-lo, e depois de contemplar a luz no seu rosto, as visões de uma aliança bo­nita se desvaneceram: Era a minha primeira lição sobre os verdadeiros valores!"
Em 19 de janeiro de 1888, centenas de crentes se reuni­ram na estação em Toronto para se despedirem do casal Goforth que ia trabalhar na obra de Deus na China. Antes de sair o trem, todos baixaram a cabeça em oração e, ao partir o trem, a grande multidão cantava: "Avante, solda­dos de Cristo!" E, uma vez fora da estação, os dois no trem rogaram a Deus que os guardasse para viverem eternamen­te dignos da grande confiança que esses irmãos deposita­ram neles.
Não muito depois de chegarem à China, Hudson Tay­lor lhes escreveu: "Faz dez anos que a nossa missão se esforça para entrar no Sul da província e somente agora é que o conseguimos..." Se a China Inland Mission, com mis­sionários e auxiliares experientes na língua e nos costumes do povo sofre fracasso durante dez anos nessa província, como podia entrar ele, jovem inexperiente e sem conhecer a língua?! As palavras de Hudson Taylor, "avançar de joe­lhos", tornaram-se o lema da missão de Goforth para en­trar no Norte de Honã.
Jônatas Goforth levou mais tempo a aprender a língua, do que seu companheiro que chegara um ano depois dele. Certo dia, ao sair para pregar, ele, em grande desespero, disse à sua esposa: "Se o Senhor não operar um milagre para eu aprender essa língua, serei um grande fracasso como missionário!" Duas horas depois voltou, dizendo: "Oh! Rosa! Que maravilha! Ao começar a pregar, as pala­vras e as frases tornaram-se tão fáceis que o povo me com­preendeu bem." Dois meses depois receberam uma carta dos estudantes no colégio Knox, em Toronto, contando como em certo dia a certa hora eles se reuniram para orar por eles - "Somente pelos Goforth" - e ficaram convenci­dos de que eles foram abençoados por Deus, porque senti­ram muito a presença e o poder de Deus na oração. Goforth, ao abrir seu diário, descobriu que foi no mesmo dia e hora que Deus lhe deu a habilidade de falar fluentemente. Alguns anos depois, certo patrício seu, que falava bem o chinês, disse-lhe acerca do seu estilo de falar: "Compreen­de-se a fala do senhor sobre uma área maior do que de qualquer outra pessoa que conheço."
Um missionário veterano assim aconselhou a Goforth: "Os chineses têm tantos preconceitos do nome de Jesus que deve esforçar-se para demolir os deuses falsos e só de­pois mencionar o nome de Jesus, se houver oportunidade." Ao contar isso à sua esposa, Goforth exclamou indignado: "Nunca! Nunca! NUNCA!" Em nenhum tempo ele se le­vantou para pregar sem a Bíblia aberta na mão.
Quando, alguns anos depois, os missionários novatos lhe perguntaram o segredo do fruto extraordinário do seu ministério, ele respondeu: "Deixo Deus falar às almas dos ouvintes por intermédio da sua própria Palavra. Meu úni­co segredo para tocar no coração dos mais vis pecadores é mostrar-lhes a sua necessidade e pregar-lhes o Salvador poderoso para os salvar... Esse era o segredo de Lutero, era o segredo de João Wesley e ninguém se aproveitou mais dele do que D. L. Moody". Para manejar a ''Espada do Espírito" com grande execução, Goforth a "afiava", estudando-a diariamente, sem falhar. Em vez de falar contra os ídolos, ele exaltava a Cristo crucificado. Isso atraía os pecadores para deixarem as suas vaidades.
Em 1896, ele escreveu: "Depois de chegar a Changté, há cinco meses, o poder do Espírito Santo se manifesta quase diariamente para nos alegrar. Durante esses meses, um total de mais de 25.000 homens e mulheres nos visita­ram em casa, e todos ouviram a pregação do Evangelho. Pregamos, na média, oito horas por dia. Há, às vezes, mais de cinqüenta mulheres de uma vez no terraço. (Ele prega­va aos homens, enquanto a sua esposa pregava às mulhe­res.) Quase todas as vezes que apresentamos Cristo como Redentor e Salvador, o Espírito Santo salva alguém e, às vezes, dez a vinte."
Contudo, não se deve pensar que esses missionários es­caparam de grandes tribulações. Não muito depois de che­garem à China, um incêndio destruiu todas as suas posses­sões terrestres. O calor do verão era tão intenso que sua primogênita, Gertrude, faleceu e foi necessário levar o ca­dáver a uma distância de 75 quilômetros, a um lugar onde se permitia enterrar os estrangeiros. Quando faleceu outro filhinho, Donald, foi necessário fazer de novo a mesma lon­ga viagem de 75 quilômetros com os restos mortais. Depois de passarem doze anos na China, novamente perderam tudo quanto tinham em casa, quando as águas de uma en­chente subiram à altura de dois metros dentro da casa.
No ano 1900, logo após outra filha, Florença, morrer de meningite, veio a insurreição dos Boxers - acerca da qual já nos referimos. No levante dos Boxers, muitas centenas de missionários e crentes foram brutalmente mortos. Só a mão de Deus os guiou e os sustentou na fuga de Changté -uma viagem de 1.500 quilômetros, em tempo de intenso calor e de doença em um dos quatro filhos. Inúmeras vezes foram cercados pelas multidões que clamavam: "Matai-os! Matai-os!" Uma vez a multidão enfurecida arremessou pedras tão grandes que quebraram a espinha dos cavalos que puxavam a carroça, mas todas as pessoas do grupo es­caparam! Goforth levou vários golpes de espada, um dos quais atingiu o osso do braço esquerdo, quando o ergueu para defender a cabeça. Apesar de o grosso capacete, que tinha na cabeça, ficar quase inteiramente cortado em pe­daços, ele conseguiu manter-se em pé até que recebeu um golpe que, por pouco, não lhe partiu o crânio. Mas Deus não permitiu que a mão dos homens os destruíssem, por­que ainda tinha uma grande obra para fazer na China por intermédio desses servos. Assim, sem poderem cuidar das feridas e com as roupas ensangüentadas, o grupo enfrenta­va as multidões furiosas, dia após dia, até alcançar Shanghai. De lá, a família embarcou em um navio para o Canadá.
Logo que diminuiu o perigo na China, os nossos incan­sáveis heróis estavam novamente ocupados no trabalho em Changté. A região foi dividida em três: a parte que caiu em sorte a Goforth foi o vasto território ao norte da cidade com inúmeras vilas e povoados.
O plano de Goforth era alugar uma casa em um centro importante, passar um mês evangelizando e, depois mu­dar-se para outro centro. Queria que a sua esposa pregasse no pátio da casa, de dia, enquanto ele e seus auxiliares pre­gavam nas ruas e nos povoados ao redor. À noite, faziam os cultos juntos, ela tocando o harmonium. No fim do mês, podiam deixar um dos auxiliares para ensinar os novos convertidos, enquanto o grupo passava para outro centro. Acerca desse plano a esposa de Goforth escreveu:
"De fato, o plano foi bem concebido, a não ser uma coi­sa: não se lembrou das crianças... Lembrei-me de como os meninos com varíola, em Hopei, me cercaram quando se­gurava a criança no colo. Lembrei-me das quatro covas de nossos pequeninos, e endureci o coração, como pederneira, contra o plano. Como meu marido suplicava dia após dia! 'Rosa, por certo o plano é de Deus e receio o que possa acontecer aos filhos se desobedecermos. O lugar mais segu­ro para ti e os filhos é no caminho da obediência. Pensas em guardar os filhos seguros em casa, mas Deus pode mos­trar-te que não podes. Contudo, Ele guardará os filhos se obedeceres confiando nele!' Não muito depois, Wallace caiu doente de disenteria asiática e por quinze dias luta­mos para salvar a criança; meu marido me disse: 'Oh! Ro­sa, cede a Deus, antes de perder tudo.' Mas parecia-me que Jônatas era duro e cruel. Então nossa filha Constância caiu enferma da mesma doença. Deus revelou-se a mim como um Pai em quem eu podia confiar para conservar os meus filhos. Baixei a cabeça e disse: 'Ó Deus, é tarde de­mais para a Constância, mas confio em ti, guarda os meus filhos. Irei aonde quer que me mandes.' Na tarde do dia em que a criança faleceu, mandei chamar a senhora Wang, uma crente fervorosa e amada e lhe disse: 'Não posso con­tar-lhe tudo agora, mas estou resolvida a acompanhar meu marido nas viagens de evangelização. Quer ir comigo?' Com lágrimas nos olhos, ela respondeu: 'Não posso, pois a menina pode adoecer sob tais condições.' Não querendo in­sistir, pedi que ela orasse e me respondesse depois. No dia seguinte ela voltou com os olhos cheios de lágrimas e, com um sorriso, disse: 'Irei com vocês'."
É coisa notável que não faleceu mais nenhum filho dos Goforth, na China, apesar dos muitos anos que passaram na vida nômade de evangelização. Goforth observou tão fielmente seu costume de levantar-se às 5 horas para ora­ção e estudo das Escrituras, como quando estava em casa, em Chantgé. Geralmente, para o estudo tinha de ficar em pé diante da janela, com as costas viradas para a família. Acerca da obra em Chantgé, são de Goforth estas pa­lavras: "Nos primeiros anos de meu trabalho na China, contentava-me com a lembrança de que sempre há semen­teira antes da colheita. Mas já passavam mais de treze anos e a colheita parecia ainda distante. Tinha a certeza de que haveria uma coisa melhor para mim se eu tivesse a visão e a fé necessárias para adquiri-la. Estavam constan­temente perante mim as palavras do Mestre em João 14.12: 'Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maio­res do que estas; porque eu vou para meu Pai.' E sentia profundamente como no meu ministério faltavam as 'maiores obras'."
No ano de 1905, Jônatas Goforth leu na Autobiografia de Carlos Finney que um lavrador podia, com muita razão, orar pedindo uma colheita material independentemente de se cumprirem as leis da natureza, assim como os crentes podem esperar uma grande colheita de almas sem se cum­prirem as leis que governam a colheita espiritual. Resolveu então saber quais eram essas leis e decidiu-se a cumpri-las, a qualquer preço.
Fez um estudo a fundo e de joelhos, sobre o Espírito Santo e escreveu as notas nas margens da sua Bíblia chine­sa. Quando começou a ensinar essas lições aos crentes, houve grande quebrantamento, com confissão de pecados. Foi na grande exposição idólatra de Hsun Hsien que Deus primeiramente mostrou seu grande poder no ministério de Goforth. Durante o sermão, um obreiro exclamou em voz baixa: "Esse povo está tão comovido, pela pregação, como a multidão no dia de Pentecoste, pelo sermão de Pedro". Na noite do mesmo dia, num salão alugado e que não com­portava toda a grande multidão pagã que queria assistir, Goforth pregou sobre o texto: "Levando Ele em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro". Quase todos mostra­ram-se convictos do pecado e quando o pregador fez o ape­lo, levantaram-se clamando: "Queremos seguir a esse Je­sus que morreu por nós!" Um dos obreiros presentes assim expressou o que viu: "Irmão, aquele a quem oramos duran­te tanto tempo para que viesse, veio de fato esta noite." Nos dias que se seguiram, pecadores foram salvos em todos os pontos de pregação e em todos os cultos.
Acerca do avivamento, que nesse tempo visitou a Co­réia, um dos missionários escreveu sobre o que presenciou: "Os missionários eram como os demais crentes: não havia alguém entre eles de talento extraordinário. Viviam e tra­balhavam como quaisquer outros, a não ser nas orações... Nunca senti a presença divina como a senti nos seus rogos a Deus. Parecia que esses missionários nos levavam ao pró­prio trono no Céu! Fiquei muito impressionada, também, ao ver como o avivamento era prático... Havia dezenas de milhares de homens e mulheres transformados completa­mente pelo fogo divino. Grandes templos, com assentos para 1.500 pessoas, ficavam superlotados; era necessário realizar um culto para os homens e, em seguida, outro para as mulheres, a fim de que todos pudessem assistir. Em to­dos ardia o desejo de espalhar as 'boas-novas'. Crianças se aproximavam das pessoas que passavam pelas ruas, rogando-lhes que aceitassem a Cristo por seu Salvador... A pobreza do povo da Coréia era conhecida em todo o mun­do. Contudo, havia tanta liberalidade nas ofertas, que os missionários não queriam ensinar mais sobre o dever de contribuir. Havia grande dedicação à Bíblia, quase todos levando um exemplar no bolso. E o maravilhoso espírito de oração permeava tudo."
Ao voltar da Coréia, Goforth foi chamado a Manchúria. Mais tarde, ele escreveu: "Quando iniciei a longa viagem, estava convicto de que eu tinha uma mensagem de Deus para entregar àquele povo. Mas não tinha idéia de como presidir a um avivamento. Sabia pronunciar um discurso e sabia levar o povo a orar, porém nada mais sabia do que isso..."
Goforth teve um grande desapontamento ao chegar à Manchúria: os crentes não oravam como lhe prometeram fazer e a igreja estava dividida! Depois do primeiro culto, ele, sozinho no seu quarto, caiu de joelhos em desespero. E Deus respondeu à sua insistência, enviando tão grande de­sejo de oração nas igrejas e tão profunda contrição pelo pe­cado, que elas não somente foram purificadas de toda a classe de pecado, inclusive dos mais horrendos crimes, mas os perdidos, em grande número, vinham e eram salvos.
A senha do avivamento do ano de 1859 foi: "Necessário vos é nascer de novo" e a de 1870: "Crê no Senhor Jesus!" Mas a meta de Goforth foi: "Não por força, nem por vio­lência, mas por meu Espírito" (Zc 4.6). Que o Espírito Santo operava em vários lugares na Manchúria, em res­posta às orações insistentes e em face de embaraços de toda a sorte, vê-se claramente no que ele escreveu acerca da obra na cidade de Newchang:
"Ao subir ao púlpito, ajoelhei-me um momento, como de costume, para orar. Quando olhei para o auditório, pa­recia como que todos os homens, mulheres e crianças na igreja estivessem com dores de julgamento. As lágrimas corriam copiosamente e houve confissão de toda a espécie de pecado. Como se explica isso? A igreja era conhecida como igreja morta e sem mais esperança, contudo, antes de enunciar sequer uma palavra, sem mesmo cantar um hino e antes de orar, começou essa obra maravilhosa. Não há outra explicação: foi o Espírito de Deus, que operou em resposta às orações das igrejas de Mukden, Liaoyang e de outros lugares na Manchúria, as quais haviam experimen­tado a mesma qualidade de avivamento e foram induzidas a interceder por sua pobre e necessitada igreja irmã".
Jônatas Goforth, quando foi à Manchúria, era quase desconhecido fora do pequeno círculo da sua denominação. Depois de algumas semanas, quando voltou, os olhos dos crentes de todo o mundo estavam fitos nele. Contudo, per­maneceu o mesmo humilde servo de Deus, reconhecendo que a obra não era dele mas do Espírito de Deus.
Chansi é conhecida como "a província dos mártires". Certo chinês douto contou a Goforth como presenciara nes­sa província, durante a Insurreição dos Boxers, em 1900, de uma só vez a morte de 59 missionários. Todos eles enca­raram o carrasco com a maior calma. Uma mocinha, de ca­belos louros, perguntou ao governador: "Por que devemos morrer? Os nossos médicos não vieram de países remotos para dar suas vidas para servir ao seu povo? Muitos doen­tes sem esperança não foram curados? Diversos cegos não receberam a vista? É por causa do bem que fizemos que devemos morrer?" O governador baixou a cabeça, e não respondeu. Mas um soldado, pegou a mocinha pelos cabe­los, e com um só golpe, decepou-lhe a cabeça. Um após ou­tro foram mortos; todos morreram com um sorriso de paz. Esse mesmo chinês contou como viu, entre eles, uma se­nhora falando alegremente ao filhinho. Com um só golpe ela foi prostrada, mas a criança continuou a segurar-lhe a mão; logo a seguir outro golpe, um pequeno cadáver jazia ao lado do cadáver da mãe.
Foi a essa mesma "província dos mártires" que Deus enviou seus servos, os Goforth, oito anos depois, e aconte­ceu o que vamos ler: "Em Chuwahsien, não muito depois de começar a falar, vi muitos dos ouvintes baixarem a ca­beça, convictos, enquanto as lágrimas corriam-lhes pelas faces. Depois do discurso, todos que experimentaram orar, estavam quebrantados. O avivamento, que começou assim, continuou durante quatro dias. Houve confissão de toda a qualidade de pecados. O delegado regional se admi­rou grandemente ao ouvir confissões de homicídios, de rou­bos e de crimes de toda a sorte - confissões que ele só con­seguiria arrancar deles açoitando-os até quase os deixar mortos. Às vezes, depois de um culto de três horas, ou mais, o povo voltava a casa para continuar a orar. Mesmo em horas tardias da noite, havia pequenos grupos reunidos em vários lugares para orarem até quase clarear o dia".
No colégio de moças, em Chuwu, na mesma "província dos mártires", "as alunas insistiram para que lhes conce­dessem tempo para jejuar e orar... No dia seguinte, quando as moças se reuniram de manhã, para oração, o Espírito caiu sobre elas e ficaram de joelhos até a tarde desse dia."
Das centenas de exemplos evidentes da operação pode­rosa do Espírito Santo nos corações, dentre muitos outros lugares, citaremos aqui apenas os seguintes:
Changté: "Quase setecentas pessoas assistiram pela manhã. Havia um ferver de homens se esforçando para ir à frente, de modo que Goforth só conseguiu pregar à tarde. O culto era contínuo, prolongava-se o dia inteiro, com inter­valos para as refeições."
Kwangchow: "A igreja, com assentos para 1.400 ouvin­tes, não comportava as multidões. O Espírito Santo veio com poder extraordinário. Havia, às vezes, centenas de pe­cadores contritos chorando..." Dois endemoninhados fo­ram libertos e se tornaram crentes fervorosos na obra de Deus. Em quatro anos o número dos salvos aumentou de 2.000 para 8.000.
Shuntehfu: "Inesperadamente, uma dúzia de homens começaram a orar e a chorar... sem poderem resistir ao po­der do Espírito Santo... Velhos discípulos de Confúcio, vi­nham à frente, quebrantados e humilhados, para confessa­rem a Cristo como seu Senhor. Um total de quinhentos ho­mens e mulheres foram salvos. Foi, talvez, a maior obra do Espírito Santo que eu tinha visto."
Nanquim: "Assistiram mais de 1.500 pessoas. Cente­nas que também queriam assistir, não puderam entrar e voltaram a casa. O culto da manhã durou quatro horas. O resto do tempo foi dedicado à oração e confissão de pecados. A massa de pessoas que desejava chegar ao estrado para confessar seus pecados foi tão grande que se tornou necessário construir outra escada... Subi de novo ao estra­do, às 3 horas da tarde, para iniciar o segundo culto. Cen­tenas de pessoas, nesse momento, começaram a vir à fren­te e por isso eu não podia pregar... Às nove horas da noite, seis horas depois de iniciar o culto, fui obrigado a me reti­rar e embarcar para Pequim onde os crentes me esperavam para outra série de cultos."
Shantung: "O avivamento foi tão grande que cerca de 3.000 membros foram acrescentados à igreja em três anos."
Acerca dos cultos entre os soldados do general Feng, a esposa de Goforth escreveu: ''Desde o início, sentimos a presença de Deus. Duas vezes, todos os dias, Goforth tinha auditórios de cerca de 2.000 pessoas, principalmente ofi­ciais, que se mostravam grandemente interessados... A três cultos, às esposas foi permitido assistirem, e Deus me deu poder para falar-lhes. Quase todas declararam-se prontas a seguir a Cristo. O general Feng, ao experimentar orar, ficou quebrantado... A seguir outros oficiais, um após outro, começaram a clamar a Deus entre soluços e lágrimas."
Assim continuou a obra, ano após ano, geralmente com três cultos por dia, apesar de grandes obstáculos. No perío­do da seca de 1920, 30 a 40 milhões dos habitantes ao redor encararam a morte pela fome. Em 1924, Goforth assim es­creveu à sua esposa, forçada por doença a voltar ao Cana­dá: "Completo hoje 65 anos... Oh! Como cobiço, mais que qualquer avarento cobiça o ouro, vinte anos ainda para ga­nhar almas!"
Depois de completar 68 anos de idade e sua esposa 62, idades em que a maioria dos homens se afastam do serviço ativo, os dois foram enviados para um campo inteiramente novo, na Manchúria - campo distante, vasto e frio, que se estende até as fronteiras da Rússia e da Mongólia. Acerca da sua partida, Goforth escreveu:
"Certo dia, em fevereiro de 1926, a minha esposa esta­va deitada esperando a chegada da assistência para levá-la ao Hospital Geral de Toronto. De repente, a campainha da porta e a do telefone tocaram simultaneamente. Pelo tele­fone fomos avisados de que não haveria lugar no hospital antes de três dias. Na porta recebemos um cabograma do general Feng, da China, rogando que eu fosse sem demora. Nesse momento eu disse à minha esposa: 'Que farei? Não posso deixar-te'. (Todos pensávamos que ela não viveria muitos meses mais.) Minha esposa, depois de orar, disse: 'Vou contigo.' Os membros da junta estavam reunidos na ocasião; apresentei-lhes o cabograma do general Feng e concordaram que eu fosse. Mas quando os informaram de que a minha esposa queria acompanhar-me, mostraram-se horrorizados, respondendo que ela morreria no caminho. Então eu lhes disse: 'Os irmãos não conhecem essa mulher como eu. Quando ela diz que vai, ela vai!' Assim concorda­ram em que ela fosse."
Durante muito tempo, avisados pelo cônsul do novo campo da Manchúria, viviam com as malas arrumadas, a fim de partirem imediatamente no caso de haver uma se­gunda insurreição dos Boxers, como todos esperavam. Contudo, desde o início, Deus honrou o serviço desses ser­vos, conforme se lê no que ele escreveu na avançada idade de 70 anos: "Realizavam-se três horas de pregação de ma­nhã pelo grupo de missionários e quatro horas à tarde... Desde o primeiro dia houve conversões; às vezes doze em um só dia. Grande foi o nosso gozo ao vermos cerca de duzentas pessoas aceitaram a Cristo durante o mês de maio."
Havia muito tempo que diversos amigos insistiam em que ele escrevesse a história de como o Espírito Santo ope­rava no seu ministério. Em tempo de intenso frio, viu-se obrigado a extrair os dentes; durante quatro longos meses sofreu dores cruciantes nos maxilares, a ponto de não po­der pregar. Foi nessa época que seu filho menor chegou do Canadá. Goforth então conseguiu ditar a matéria para o fi­lho datilografar. Dessa forma foi impresso o livro "Por Meu Espírito", obra de grande circulação e influência.
Após quatro anos de serviço, foi-lhe necessário voltar ao Canadá, por causa da vista de sua esposa. Foi durante esse tempo que Goforth, também, começou a perder a vista. Enquanto convalescia das operações mal-sucedidas para restaurar-lhe a visão de um olho. Ele relatou, uma por uma, as histórias da obra na China, histórias que a sua en­fermeira estenografou e que, agora, completam o famoso livro intitulado: "Vidas Milagrosas da China".
Em 1931, Goforth e sua esposa, ela com 67 anos e ele com 72, com os corações ardendo pelo desejo de ganhar al­mas, voltaram mais uma vez à obra na Manchúria. Qua­trocentos e setenta e dois convertidos foram batizados em 1932. Um dia Goforth voltou de uma viagem evangelística para entrar em casa às apalpadelas. Depois de ficar um momento ao lado da sua esposa, ele lhe disse em voz baixa: "Receio que a retina do olho esquerdo tenha saído do lu­gar." E assim tinha acontecido. A perda completa da visão era para ele uma tristeza, uma tragédia, sentida por todos. Ao mesmo tempo chegou-lhes uma carta informando-os de uma redução tão grande no que recebiam para o sustento dos missionários e nas despesas das viagens evangelísticas, que parecia impossível continuar a obra. Foi a maior crise de toda a vida de Jônatas Goforth. Contudo, sem vacilar, olhou para Deus. A própria cegueira parecia mais uma bênção do que uma aflição: os crentes mostravam-se mais ligados a ele do que antes. Vencendo o desânimo inevitável dos que perdem a vista, não cessou de pregar com a Bíblia que amava, aberta nas mãos. No ano de 1933, setecentos e setenta e oito convertidos foram batizados.
Por fim, os Goforth cederam ao apelo dos crentes do Canadá a que voltassem para animar as igrejas a enviarem mais missionários. Durante os preparativos para a viagem, souberam que novecentos e sessenta e seis convertidos fo­ram batizados naquele ano, 1934. O culto de despedida foi um dos mais comoventes em toda a história da obra mis­sionária. O missionário, tão amado pelos crentes, agora, por causa da cegueira, não podia ver como tinham enfeita­do o templo, mas eles bondosamente e com prazer lhe des­creveram tudo acerca das muitas e lindas bandeiras de seda e veludo que cobriam inteiramente as quatro paredes do templo. Os pregadores que falaram, o fizeram choran­do. Um deles disse: "Agora Elias está para sair de nosso meio e cada um de nós deve tornar-se um Eliseu".
Na hora da despedida, na plataforma da estação estava uma multidão de crentes chorando. Goforth, sentado diante da janela no trem, com o rosto virado para aqueles cren­tes que tanto amava, mas não podia ver, continuava a fazer-lhes sinais com a cabeça, de vez em quando, levantan­do os olhos para cima, indicando, assim, a bendita espe­rança de uma reunião no Céu. Quando o trem partiu, os crentes com os olhos cheios de lágrimas, tentaram acom­panhá-lo, correndo paralelamente, a fim de conseguirem olhar mais uma vez para o rosto desses queridos missioná­rios.
Durante dezoito meses, Goforth pregou a grandes audi­tórios no Canadá e nos Estados Unidos. Dia após dia, esse veterano estava em pé diante desses auditórios, com a sua amada Bíblia aberta nas mãos. Abria o livro, aproximada­mente nas páginas, das quais citava as passagens de cor, durante o sermão. Isso ele fazia, tendo os olhos abertos e com tanta prática, que era difícil crer que as não lia como outrora.
O ponto principal de suas mensagens descobre-se nes­tas palavras que ele disse certo dia à sua esposa: "Querida, acabo de fazer um cálculo mental que prova com certeza qual o resultado de dar ao Evangelho a oportunidade de operar. Se cada um dos missionários enviados à China ti­vesse levado tantas almas a Jesus como os seis missioná­rios do nosso campo durante o ano de 1934, o último ano que passamos na Manchúria, isto é, 166 por cada missio­nário, o número de conversões na China teria alcançado a cifra de quase um milhão de almas, em vez de apenas 38.724, isto é, teria sido vinte e cinco vezes maior!"
Certo dia, quando tinha de pregar somente à noite, ele disse á sua esposa: "Em vez de sairmos de casa hoje, acho melhor participarmos de um banquete da Palavra. Lê para mim o precioso Evangelho de João". Ela leu dezesseis capítulos desse livro. "Percebia-se que era um verdadeiro banquete para ele, pela atenção que prestava à leitura de certas passagens." Antes de falecer, tinha lido a Bíblia, de capa a capa, mais de setenta e três vezes.
Na noite do dia 7 de outubro de 1936, Jônatas Goforth, depois de um discurso fervoroso e longo, sobre o tema: "Como o Fogo do Espírito Varreu a Coréia", deitou-se tar­de para dormir. Às sete horas da manhã seguinte, a sua esposa levantou-se e vestiu-se. Logo a seguir verificou que foi mais ou menos no momento em que ela se levantou que ele, "dormindo aqui na terra, num instante, acordou-se na Glória, vendo de novo." Poucos dias antes, ele tinha dito que se regozijava em saber que o primeiro rosto que ia ver, seria o de seu Salvador.
Cinco anos e meio depois de Jônatas Goforth haver dor­mido no Senhor, Rosalind Goforth reuniu-se ao seu amado marido e companheiro de lutas. As últimas palavras que pronunciou, foram estas: "O Rei me chama. Estou pron­ta".
Dela também pode-se dizer, como foi dito a respeito de­le: "Entregava-se à oração e ao estudo da Palavra, para sa­ber a vontade de Deus. Foi esse amor pela leitura da Bíblia e a ininterrupta comunhão com Deus que lhe deram o po­der de comover auditórios e convencê-los do pecado e da necessidade do arrependimento. Em todas as ocasiões ele dominava a sua própria pessoa e confiava inteiramente no poder do Espírito Santo para descobrir as coisas de Jesus aos ouvintes."
Que o mesmo brado de guerra seja sempre nosso: "Não por força, nem por violência, mas por meu Espírito" - "Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito San­to".
(extraido do livro hérois da fé)
PASTOR HSI
AMADO LÍDER CHINÊS
(1836-1896) - Acontecera "o impossível" e toda a população se condoía de tal "tragédia": o senhor Hsi, cidadão respeitado por todos, tornara-se crente! Fazia dois anos que um pre­gador da "nova religião" pregava na província de Shan-si. Enquanto se esperava que enredasse alguns dos mais igno­rantes, ninguém imaginava que o senhor Hsi, homem cul­to, de grande influência entre o povo e destacado adepto de Confúcio, seria o primeiro a ficar "enfeitiçado" pelos "dia­bos estrangeiros!"
Não havia entre o povo quem odiasse tanto os estran­geiros como o senhor Hsi. Mas, de repente, eis que ele esta­va ligado em espírito ao missionário. Abandonara todos os ídolos; dizia-se que os queimara! Deixara de adorar as tá­buas ancestrais. Não havia mais o cheiro de incenso na sua casa. E o que era ainda mais estranho: o senhor Hsi desis­tira de fumar ópio!
Os velhos recordavam que Shan-si fora uma das províncias mais prósperas da China e contavam como fora introduzido o "fumo estrangeiro", isto é, o ópio. O vício se tornara tão generalizado que todo o povo estava reduzido à maior pobreza. Nem mesmo os mais velhos se recordavam de alguém, habituado a fumar ópio, que, no decorrer dos anos, se libertasse do vício. Contudo, o erudito Hsi aban­donara, por completo, seu aparelho de fumar e parecia não sentir a ânsia que sentem os que são privados da droga en­torpecente.
obra volume.
O trabalho duro alimentou a sua alma mas o corpo consumido.
Em 1714, ao visitar um amigo em Chester, murió.tenía apenas 52 anos.
À primeira vista, olhando para a sua volumosa obra, ninguém pode imaginar que seu autor tinha morrido com cinquenta apenas dois. Ao escrever uma peça que foi pedida à disposição de todos e, embora o comentário é cheia de esboços para sermões, é claro que Matthew Henry foi um mestre das línguas originais das Escrituras, muito mais do que os críticos mais modernos, e que, em sua teologia, não poucos cristãos evangélicos para se qualificar como intransponíveis. Sua teologia é uma fiel testemunha da verdade do evangelho, enfatizando a depravação total do homem e soberana graça e glória de Deus. Seu trabalho também mostra não só a capacidade de um fundo para a profundidade espiritual, mas a bolsa de estudos que oferece um grande conhecimento do grego e hebraico. Charles Spurgeon, entre muitos, reconheceu a importante influência que ele exerce sobre sua vida e ministério.

KATHRYN KUHLMAN
Em um mundo marcado pela doença e a escuridão espiritual, Kathryn Kuhlman ofereceu Esperança às pessoas. Com seus serviços de ministração, desde os anos 1950 até sua morte em 1976, milhares de pessoas entregaram suas vidas a Jesus Cristo.
Kathryn nasceu em 9 de maio de 1907, em uma fazenda fora de Concordia, Missouri, nos Estados Unidos e converteu-se em uma reunião quando tinha 14 anos. Dois anos mais tarde, saiu da casa com sua irmã e cunhado, Myrtle e Everett Parrott, pregando em tendas de avivamento no noroeste e no Midwest. Permaneceu com eles até completou 21 anos, o ano onde iniciou um trabalho evangelístico por conta própria.
Embora seu primeiro sermão fosse em um salão pequeno e sujo, Kathryn construiu um nome forte como pregadora de tendas em Idaho, Utá, e Colorado.
Estabeleceu-se em 1933 e abriu um trabalho avivalista no altamente bem sucedido Tabernacle de Denver de Colorado. As pessoas atravessavam o país para ouvir Kathryn, e evangelistas de renome vieram pregar em seu púlpito. Por cinco anos, o ministério floresceu e promoveu um avivamento grande na área. Seu ministério promissor foi comprometido quando o Evangelista Burroughs Waltrip veio pregar.
Waltrip divorciou-se de sua esposa e abandonou seus dois filhos novos logo após a reunião de Kathryn. Mudou-se para Iowa, iniciou um programa de rádio e uma igreja e manteve seu passado em segredo. Quando ele e Kathryn casaram-se em 18 de outubro de 1938, iniciou suas pregações em torno de Midwest. Entretanto, os líderes das igrejas descobriram seu passado e pediram que saísse.
Kathryn ao perceber as circunstâncias que lhe fizeram parar de pregar, resolveu deixar Waltrip em 1944. Kathryn disse que “morria a cada dia por ter posto de lado os desejos de seu coração para assim poder servir inteiramente a Deus”.
Encontrou finalmente um “paraíso” seguro da bisbilhotice e com pessoas famintas de se alimentar com o Evangelho quando chegou em Franklin, Pensilvânia, em 1946. Kathryn começou um programa de rádio popular e uma igreja e construiu um ministério que foi seguido por milagres, por sinais, e por maravilhas. Era em Franklin que ela veio compreender o poder do Espírito Santo e dos milagres.
Kathryn mudou-se para Pittsburgh em 1948, onde viveu até o fim de sua vida. Prestava seus famosos cultos de milagres no Carnegie Hall por 20 anos, lotando a capacidade do grande auditório em todos os cultos. Pessoas de todo o mundo vinham às suas reuniões de milagres e assistiam seus programas de rádio e de televisão.
Kathryn Kuhlman morreu em 20 de fevereiro de 1976 após complicadíssimos problemas no coração. Seu ministério não terminou, pois ela deixou um legado na pregação e ministração de milagres, amor e do poder do Espírito de Deus.

JOSEPH ALLEINE
Joseph Alleine (batizado 8 de abril de 1634 - 17 Novembro 1668) foi um pastor Puritano Inglês dissidente e autor de muitas obras religiosas.
Alleine pertencia a uma família que havia estabelecido originalmente no Suffolk. Já em 1430 alguns dos descendentes de Alan, Senhor do Buckenhall assente no bairro de Calne e Devizes.
Estes eram os ancestrais imediatos da "digno senhor Tobie Alleine de Devizes", o pai de José, que era o quarto de uma grande família, nascido em Devizes no início de 1634. 1645 está marcado na página-título de um tratado singular de idade, por uma testemunha ocular, como o ano da sua criação frente na corrida cristã.
Seu irmão mais velho Edward foi um clérigo, mas neste ano morreram, e José suplicou ao pai que ele poderia ser educado para suceder o irmão no ministério.
Em abril de 1649 ele entrou Lincoln College, Oxford, e em 3 de novembro de 1651, tornou-se estudioso de Corpus Christi College. Em 6 de julho de 1653, tomou o grau de BD, e tornou-se professor e capelão do Corpus Christi, preferindo isto a uma bolsa.
Em 1654 ele tinha ofertas de preferment alta no estado, que declinou, mas em 1655 George Newton, da grande Igreja de Santa Maria Madalena, Taunton, procurou-o para assistente e Alleine aceitou o convite. Quase coincidente com a sua ordenação como pastor associado veio de seu casamento com Theodosia Alleine, filha de Richard Alleine.
Amizades entre os "gentil e simples" do primeiro, com Lady Farewell, neta do testemunho protetor Somerset para a atração da vida privada Alleine's.
Sua vida pública foi um modelo de dedicação pastoral, ainda encontrou tempo para continuar seus estudos, um monumento de que era a sua Theologia Philosophica (a MS perdeu.), Uma tentativa aprendeu a harmonizar a revelação ea natureza, que era admirado por Richard Baxter.
Alleine era nenhum estudioso meros ou divino, mas um homem que associados em condições de igualdade com os fundadores da Royal Society. Estes estudos científicos, entretanto, foram mantidos em subordinação ao seu bom trabalho. Ele foi surpreendentemente influente para um homem tão jovem, e isso foi graças a sua seriedade e contundência.
O ano de 1662 encontrou pastores seniores e juniores da mesma opinião, e ambos estavam entre os dois mil ministros ejetado. Alleine, com John Wesley (avô do célebre John Wesley), também expulso, depois viajou aproximadamente, pregando sempre oportunidade foi encontrado.
Por isso ele foi preso, indiciado por ocasião das sessões, prepotências e multado. Suas cartas da prisão foi um Cardiphonia mais cedo do que John Newton. Ele foi libertado em 26 de maio de 1664, e apesar da Conventicle, ou Five Mile Act, ele retomou a sua pregação. Ele encontrou-se novamente na prisão, e outra vez um sofredor.
Sua Morte
Desgastados pela constante perseguição, ele morreu em novembro de 1668; e as rezadeiras, lembrando as palavras do seu ministro da amada, enquanto ainda com eles, "Se eu morrer cinquenta milhas de distância, deixe-me ser enterrado em Taunton," encontrou um túmulo para ele em mor de Santa Maria.
Nenhum nome é tão puritano inconformado carinhosamente acalentado como o de Joseph Alleine. Sua obra literária foi chefe de um alarme para os não-convertidos (1672), também conhecido como o guia seguro para o Céu, que tinha uma enorme circulação. Seus restos apareceram em 1674.
JOHN KNOX
“Deus é minha testemunha, nunca preguei Jesus Cristo com desrespeito a qualquer homem.”
1513: Reformador escocês, Nasce em nas proximidades da cidade de Haddington (a 20 kms a leste de Edimburgo). Filho de uma família distinta seu pai se chamava William Knox e sua mãe Sinclair. Nunca teve vergonha ou se escusou de suas origens rústicas mesmo quando a providência colocou-o entre os bem nascidos de seu tempo.
1522: Prosseguiu os seus estudos na Universidade de Glasgow, onde o nome "John Knox" figura entre os matriculados em 1522 ou em St. Andrews, onde se afirma que ele tenha sido aluno do celebrado John Major, nativo como Knox da região escocesa de East Lothian, e um dos maiores acadêmicos dos seu tempo. Ele aprendeu Grego e Hebraico num período posterior, como indicado na sua escrita.
1540: È ordenado padre. Até 1543, Knox ainda se mantinha sob o comando de Roma. Um documento assinado a 27 de Março desse ano, guardado no castelo de Tyninghame, prova-o.
1545: Knox professou pela primeira vez a fé protestante . Antes disso já tinha mostrado sinais de simpatia pela fé, sem o ter declarado explicitamente. De acordo com Thomas Guillaume Calderwood, um nativo de East Lothian, a ordem de Blackfriars em 1543, foi a primeira a "dar ao Sr. Knox um cheirinho da verdade". A sua mudança de opinião original tem sido atribuída ao seu estudo na sua juventude ao ler Agostinho e Jerônimo em particular lhe apresentaram os grandes temas das Escrituras: graça, fé, pecado, justificação, providência. Pelo resto de sua vida sua passagem predileta era João 17, na qual Jesus às vésperas de ser traído ora por aqueles que o Pai lhe dera, e ora especificamente para que sejam sustentados em todas as tormentas pelas quais passariam – não só eles, mas por todos os Filhos de Deus em qualquer época.
1547: Ele pregou no castelo de St. Andrew, criticando duramente a guarnição do castelo por sua degradação – e assim foi surpreendido subitamente ao ser chamado de pastor da congregação. Mas isto não durou muito. Dois meses após, vinte e uma galés francesas bombardearam o castelo furiosamente. Já enfraquecidos pela peste, a guarnição do castelo se rendeu. Knox e outros homens foram acorrentados a bancos, como remadores, e foram submetidos a violento esforço físico de dia, e a noite se juntavam para se aquecer sob as bancas comendo feito lobos. O rei da França, presumindo que agora poderia usar agora a Escócia como base para atacar a Inglaterra pensou que um patriota e um líder como Knox ajudaria-o a fazer isso. Ele soltou o escocês depois de 19 meses de agonia nas galés francesas. O monarca gaulês havia cometido um erro de cálculo, o escocês era qualquer coisa exceto antiinglês. Logo Knox estava na Inglaterra pregando para a crescente congregação que havia reunido. Aqui os reformadores ingleses ressaltaram os seus dons na teologia e na liturgia, incorporando seu trabalho no Livro de Orações da Igreja Anglicana.
1554-59: Deixando a Inglaterra pouco depois da morte de Eduardo, Knox dirigiu-se para o continente, uma viagem de que não temos as paragens ou datas em certeza. Em 1554, vivendo já em Genebra, ele aceitou, em acordo com João Calvino, uma posição na igreja inglesa de Frankfurt.
1555: Em 1555 regressou a Escócia, e cinco anos depois logró que o Parlamento aprovara a Confissão Scótica, donde se perfilavam já os princípios do presbiterianismo, movimento protestante caracterizado por uma acentuação da forma de organização eclesiástica proposta por Calvino. Knox foi um destacado opositor da rainha Maria, a sanguinária.
1572: Faleceu em Edimburgo a 24 de Novembro. A voz trovejante podia apenas sussurrar agora. Enquanto a morte chegava mais perto a sua esposa lia e relia suas passagens favoritas da Bíblia, sempre terminando com João 17, segundo ele “o lugar onde eu primeiro pus minha âncora”. No túmulo uma pessoa que foi ao funeral afirmou “Aqui jaz um homem que nunca dissimulou com palavras ou temeu a morte”.
JOÃO CALVINO

João Calvino(1509-1564) - “Deus sujeitou-me o coração à docilidade através duma conversão repentina”.
"Ninguém pode receber sequer a mínima parcela de reta e sã doutrina se não passar a ser um discípulo das Escrituras e não as interpretar guiado pelo Espírito Santo."
JOÃO CALVINO
1509: Nasce em Noyon, na Picardia, (próximo a Paris), no dia 10 de julho. Seu pai, Gérard Cauvin, era secretário do bispado de Noyon. A transposição do nome "Cauvin" para o Latim (Calvinus) deu a origem ao nome "Calvin" pelo qual ele é conhecido. Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha 8 anos de idade. Para muitos, Calvino terá sido para a língua francesa aquilo que Lutero foi para a língua alemã.
1515: Jeanne sua mãe falece, quando tinha apenas 6 anos de idade.
1521: Aos 12 anos, devido à influência que seu pai tinha, passou a receber alguns cargos eclesiásticos na região.
1523: Ingressa na Universidade de Paris.
1528: Forma-se em Filosofia e Dialética na Universidade de Paris. Aos 19 anos recebe o grau de mestre em Teologia
1528: Na Universidade de Orleans, França, começa a estudar Direito. 1529: Muda-se para a Universidade de Bourges, França, onde inicia também os seus estudos de Grego. Seu pai mudou de planos em relação ao seu futuro e quer que ele siga Direito. A "ciência das leis torna normalmente ricos aqueles que se debatem com ela", referia o seu pai (ele próprio um advogado do bispado), segundo as próprias palavras de Calvino. Cumpriu a vontade do pai e foi estudar
Direito, mas nunca deixou de preferir a teologia. Como disse mais tarde: "Se Deus me deu forças para que eu cumprisse a vontade de meu pai, determinou ele pela providência oculta que eu tomasse finalmente um outro caminho" (o da Teologia). Inicialmente Calvino preparava-se para ser padre, enveredaria pelo estudo do Direito, mas Deus trouxe-o de novo ao caminho da Teologia.
1531: Forma-se em Direito pela Universidade de Bourges. Perde seu pai, que falece neste ano. Regressa a Paris onde estuda grego e hebraico no Colégio da França.
1532: A publicação de seu Comentário ao Tratado de Sêneca sobre a Clemência, em abril, já era um indício de que sua conversão estava iminente. Neste mesmo ano converte-se à doutrina protestante. 1533: Começa a defender os protestantes contra a Inquisição. Em 1° de novembro, Nicolas Cop profere seu discurso de posse como reitor da Universidade de Paris. Cop recebe ajuda de Calvino para escrever o discurso, que continha idéias de Erasmo e Lutero. Não eram também chamados de heréticos os primeiros seguidores do cristianismo? O resultado foi a perseguição do próprio Nicolas Cop, que teve de se refugiar em Basiléia. Esconde-se junto com Cop em Angoulême, França, fugindo do rei Francisco I, opositor de todos os simpatizantes de Lutero. Entretanto, o papa Clemente VII pressionava o rei de França a reprimir os protestantes franceses. Em bulas de 30 de Agosto e de 10 de Novembro do mesmo ano, o papa exortava à "aniquilação da heresia Luterana e de outras seitas que ganham influência neste reino". Os dois encontram-se, então, nesse mesmo ano, em Marselha, onde discutem entre outras coisas a "guerra contra os turcos, lá fora, e a repressão das heresias cá dentro".
1534: Em 4 de maio chaga à Noyon afim de renunciar aos benefícios eclesiásticos que detinha. Ao chegar na cidade é preso. Escreve o seu segundo livro, que será também o primeiro sobre religião, e é relativamente pouco conhecido, em comparação com suas outras obras. Faz uma crítica severa aos anabatistas, que acusa de serem uma seita debandada. O livro coloca questões teológicas, mais do que oferece respostas. O título completo era: "Psychopannychia” - tratado pelo qual se prova que as almas permanecem vigilantes e vivas uma vez que tenham deixado os corpos, o que contraria o erro de alguns ignorantes que sustentam que elas dormem até ao último momento" - o que é, também, um ataque aos anabatistas. Apesar de escrito em 1534, o livro seria apenas publicado em 1542. Em 18 de Outubro de 1534, a história do protestantismo francês vive um dos seus momentos fundamentais. Cartazes de 37 por 25 cm que criticam a celebração da missa tal como ela é feita oficialmente pela Igreja católica são afixados em vários locais. É particularmente atacada a repetição cerimonial da morte de Cristo, simbólica, no altar.
Se o sacrifício já foi consumado, por que se apoderam os sacerdotes católicos deste ritual simbólico? Os argumentos teológicos dos protestantes fundamentam-se na Epístola de São Paulo aos Hebreus. A situação tornou-se particularmente crítica e descambou numa reação brutal por parte da Igreja católica e do estado francês.
1535: Protestantes franceses seriam encarcerados e assassinados. Em Janeiro , o rei Francisco I organiza uma procissão macabra pelas ruas de Paris. A procissão pára em 6 locais distintos. Em cada uma das paragens há um pódio onde o rei, os embaixadores e dignos membros do "parlement" se instalam para assistir à morte pela fogueira de 6 "heréticos" envolvidos no caso dos cartazes do ano anterior. Calvino foge para Basiléia, cidade onde vive até Março de 1536. È publicada a primeira bíblia escrita por um protestante, em francês. Tratava-se de uma tradução direta do Hebraico (o antigo testamento) e do Grego (o novo testamento) - línguas originais das escrituras - e não das versões então em uso, em latim. O autor é Olivétan, aliás Pierre Robert (1506-1538), primo de Calvino. o seu estilo de escrita foi considerado de difícil compreensão, além de uma certa falta de fluidez discursiva. O texto seria revisto (com a colaboração de Calvino) e publicado novamente em 1546.Em 16 de Julho, o rei Francisco I faz publicar o Édito de Coucy, uma medida de contemporização para com os protestantes e que corresponde também a uma nova guerra de Francisco I contra Carlos V (Guerra de 1535-1538). Necessitando do apoio dos protestantes alemães para o esforço de guerra e não convinha, necessariamente, perseguir os "Luteranos" em França. É prometido que se deixarão os protestantes em paz desde que vivam como "bons cristão" e renunciem à sua fé. Mas, em Dezembro de 1538, o Édito de Coucy é suspenso e as perseguições aos protestantes retomam a intensidade anterior.
1536: Novamente é preso por pregar doutrinas do protestantismo. Teve breve passagem pela corte de Ferrara, Itália, onde tenta converter sua compatriota, a Duquesa Renata. Em Março é publicada em Basiléia a primeira edição de "Institutio religionis Christianae". No prefácio menciona a sua estadia em Basiléia, "enquanto na França são queimados na fogueira crentes e pessoas santas". Fala de santos mártires. Dirige-se no livro ao Rei Francisco I, que procura convencer das boas intenções da reforma. Ao mesmo tempo, a sua teologia começa a adquirir contornos mais marcados e mais autônomos em relação ao Luteranismo. Uma tendência que se fortalecerá no futuro. Critica a vida dos mosteiros, que compara a bordéis. Calvino pretende não só a reforma da Igreja mas de todos os indivíduos. Fugindo da Inquisição Católica, se estabelece em Genebra. A cidade já estava aberta para acolher a nova fé, Em 1533 há o primeiro culto protestante de que há conhecimento nesta cidade. São então cunhadas moedas com a inscrição: "Post tenebras lux" (após a escuridão, a luz).
1537: Em Abril, por sugestão de Calvino, é constituído um "syndic" (síndico) que tem por objetivo ir de casa em casa e inquirir sobre a confissão dos moradores. A ação é contestada. Alguns moradores recusam-se a pronunciar-se sobre a sua fé. Em junho, as autoridades de Genebra decidem que o Domingo é o único dia feriado. Futuramente nenhum outro feriado será considerado. Em 30 de Outubro é definido como o prazo para todos os moradores de Genebra se pronunciarem quanto à sua religião. Aqueles que não reconhecem os decretos de Guillaume Farell são obrigados a deixar a cidade em 12 de Novembro.Após esta data, a situação complica-se para Farell e Calvino. Particularmente provocante é o fato de um estrangeiro (francês), como Calvino, decidir sobre a excomunhão e expulsão de habitantes naturais de Genebra. As autoridades, perante estes protestos, passam a ser mais críticas para com os líderes protestantes.1538: Junto com Farel, é expulso de Genebra acusado injustamente de arianismo.
Se estabelece em Strassburgo, na França (divisa com a Alemanha). em Estrasburgo Martin Bucer será o protetor de Calvino. Durante três anos Calvino dirigiu em Estrasburgo uma igreja de protestantes franceses, a convite de Bucer. Segundo o biógrafo Courvoisier, Estrasburgo é a cidade onde Calvino se torna verdadeiramente Calvino.
1539: No outono deste ano, Calvino escreve também um comentário à carta de Paulo aos Romanos. Este tema é particularmente querido do protestantismo, porque ali se encontra a justificação através da fé como a base de sustentação do movimento protestante, pois somente a fé salva e justifica. Os sacramentos só recebem o seu sentido através da fé. Sem fé não têm qualquer efeito. Já Lutero tinha destacado a carta de Paulo aos romanos como o cerne do Novo Testamento e o mais alto do evangelho.
1540: Em Estrasburgo, Calvino casa-se em Agosto, com a viúva Idelette de Bure, que tinha sido previamente adepta do anabatismo. Traz duas crianças do seu prévio casamento. Calvino tem 31 anos de idade. A cerimônia do casamento foi dirigida por Guillaume Farel.
1541: O partido de seus amigos assume o poder em Genebra. A 13 de Setembro, Calvino chega pela segunda vez a Genebra. Instala-se aí definitivamente até ao fim da sua vida, tendo ali organizado a estruturação da organização de ministérios, de professores, de diáconos, de acordo com as linhas bíblicas. Estabelece uma nova Constituição, as chamadas Ordenanças Eclesiásticas, onde redefinia a ordem de poder na Igreja Suíça As "Ordonnances de 1541" dispõem a formação de 4 corpos:
Pasteurs: pastores, que pregam.
Docteurs: ensinam.
Anciens: os mais velhos, chamam à ordem aqueles que prevaricam.
Diacres: diáconos, ocupam-se dos pobres e doentes - mendigar é estritamente proibido.
1542: Publica em Genebra o seu livro de catecismo: "Catéchisme de l'Église de Genève, c'est-a-dire, le formulaire d'instruire les enfants en la chrétienté". A chave do projeto de Calvino passa pela pedagogia. Objetivo é uma profunda transformação da mentalidade. Cada resquício de superstição, de práticas de magia, qualquer resto de catolicismo é perseguido como idolatria. o filho de Calvino, Jacques, morre pouco depois de nascer em 28 de Julho.
1546: Em Janeiro, é preso Pierre Ameaux, que tinha injuriado publicamente Calvino, esse "picard" que prega uma falsa fé.
1547: A 23 de Setembro, François Favre comparece perante tribunal por ter afirmado que Calvino se auto-nomeou de bispo de Genebra e os franceses tinham escravizado a sua cidade natal.
1548: Um senhor chamado Nicole Bromet declara que os franceses deveriam ser todos colocados num barco e enviados pelo rio Reno abaixo.
1549: Morre Idellete Calvino, após doença. Calvino não voltará a casar. Dedica-se ainda mais decididamente ao trabalho.
1550: Calvino escreve ao rei Eduardo VI de Inglaterra, um protestante, encorajando-o nas suas reformas. O rei Eduardo VI fez acolher protestantes franceses, perseguidos no país natal. Após o reinado de Eduardo VI (1547-1553) o catolicismo regressa à Inglaterra sob a liderança de Maria Tudor.
1551: Sofre oposição de Bolsec, que afirma: "a teoria da predestinação é falsa". Ele é expulso de Genebra, volta para a Igreja Romana e escreve uma biografia caluniosa de Calvino
1553: Ordena a morte de seu opositor, o espanhol Miguel Servet, que morre queimado.
1555: Em Janeiro, há uma procissão noturna de pessoas em Genebra, caminhando de vela na mão, ridicularizando Calvino. Todos os calvinistas são excomungados do catolicismo Também a doutrina da Predestinação foi muito atacada nestes anos. Um particular crítico foi o monge carmelita chamado Hiérome Bolsec, nascido em Paris, que se tinha estabelecido em Genebra. Ele argumenta que “uma vez que Deus é o responsável por tudo o que se passa, então Deus é também responsável pelos nossos pecados”. Calvino responde que “nunca disse isso”.( A teoria da predestinação de Calvino nasceu da sua crença na presciência absoluta de Deus, e da firma convicção, robustecida pelas suas leituras de São Paulo e Santo Agostinho, de que o homem é incapaz de se salvar pelas suas próprias ações; somente pode ser salvo pela imerecida graça de Deus, livremente concedida). As autoridades apoiam Calvino. Em Berna, críticos de Calvino são expulsos da cidade. são erguidas as primeiras igrejas calvinistas em França, nomeadamente em Paris, Meaux, Angers, Poitiers e Loudun. Nos três anos seguintes surgem as comunidades de Orléans, Rouen, La Rochelle, Toulouse, Rennes e Lyon.
1559: Funda a Universidade de Genebra. Entre 26 e 29 de Maio, realiza-se em Paris um sínodo nacional protestante. Cerca de 30 paróquias estão representadas. Vão elaborar um texto de linhas de orientação, (com a participação de Calvino na sua criação), que se vai chamar Confession de La Rochelle (foi confirmado nesta cidade em 1571).
1564: Morre no dia 27 de maio, aos 55 anos. A saúde de Calvino começou a vacilar. Ele sofria de enxaquecas, hemorragia pulmonar, gota e de pedras nos rins. Por vezes foi levado carregado para o púlpito. Calvino também tinha os seus detratores. Foi ameaçado e abusaram dele. Calvino apreciava passar os seus tempos livres no lago de Genebra, lendo as escrituras e bebendo vinho tinto. Nos finais de sua vida disse a seus amigos que estavam preocupados com o seu regime diário de trabalho: "Qual quê ? Querem que o senhor me encontre ocioso quando ele chegar ?"
João Calvino faleceu em Genebra a 27 de Maio de 1564.
Foi enterrado numa sepultura simples e não marcada, a seu próprio pedido. A influência que ele exerceu desde a cidade de Genebra, que praticamente governou a partir de 1541 até à sua morte, em 1564, espalhou-se pela Europa inteira e mais tarde pela América.

JÔNATAS EDWARDS
GRANDE DESPERTADOR
(1703-1758) - Há dois séculos que o mundo fala do famoso sermão: Pecadores nas mãos de um Deus irado e dos ouvintes que se agarravam aos bancos pensando que iam cair no fogo eterno. Esse fato foi, apenas, um dos muitos que acontece­ram nas reuniões em que o Espírito Santo desvendava os olhos dos presentes para eles contemplarem as glórias do Céu e a realidade do castigo que está bem perto daqueles que estão afastados de Deus.
Jônatas Edwards, entre os homens, era o vulto maior nesse avivamento, que se intitulava O grande desperta­mento. Sua vida é um exemplo destacado de consagração ao Senhor para o desenvolvimento maior do intelecto e, sem qualquer interesse próprio, de deixar o Espírito Santo usar o mesmo intelecto como instrumento nas suas mãos. Amava a Deus, não somente de coração e alma, mas tam­bém de todo o entendimento. "Sua mente prodigiosa apo­derava-se das verdades mais profundas". Contudo, "sua alma era, de fato, um santuário do Espírito Santo". Sob aparente calma exterior, ardia nele o fogo divino, como um vulcão.
Os crentes atuais devem a esse herói, graças à sua per­severança em orar e estudar sob a direção do Espírito, a volta às várias doutrinas e práticas da igreja primitiva. Grande é o fruto da dedicação do lar em que Edwards nas­ceu e se criou. Seu pai foi o amado pastor de uma só igreja durante um período de sessenta e quatro anos. Sua piedosa mãe era filha de um pregador que pastoreou uma igreja durante mais de cinquenta anos.
Dez das irmãs de Jônatas, quatro eram mais velhas do que ele e seis mais novas. "Muitas foram as orações que os pais ofereceram a Deus, para que o único e amado filho fos­se cheio do Espírito Santo, e que se tornasse grande peran­te o Senhor. Não somente oravam assim, fervorosa e cons­tantemente, mas mostravam-se igualmente zelosos em criá-lo para Deus. As orações, à volta da lareira, os estimu­laram a se esforçarem, e seus esforços redobrados os moti­varam a orarem mais fervorosamente... O ensino religioso e permanente resultou em Jônatas conhecer intimamente a Deus, quando ainda criança".
Quando Jônatas tinha sete ou oito anos, houve um despertamento na igreja de seu pai, e o menino acostumou-se a orar sozinho, cinco vezes, todos os dias, e a chamar ou­tros da sua idade para orarem com ele.
Citamos aqui as suas palavras sobre esse assunto: "A primeira experiência, de que me lembro, de sentir no ínti­mo a delícia de Deus e das coisas divinas, foi ao ler as pala­vras de 1 Timóteo 1.7: 'Ora, ao Rei dos séculos, imortal, in­visível; ao único Deus seja honra e glória para todo o sem­pre. Amém'. Sentia a presença de Deus até arder o coração e abrasar a alma de tal maneira, que não sei descrevê-la... Gostava de passar o tempo olhando para a lua e, de dia, a contemplar as nuvens e os céus. Passava muito tempo ob­servando a glória de Deus, revelada na natureza e cantan­do as minhas contemplações do Criador e Redentor... An­tes me sentia demasiado assombrado ao ver os relâmpagos e ouvir a troar do trovão. Porém mais tarde eu me regozija­va ao ouvir a majestosa e terrível voz de Deus na trovoada". Antes de completar treze anos, iniciou seu curso em Yale College, onde, no segundo ano, leu atentamente a fa­mosa obra de Locke: Ensaio sobre o entendimento huma­no. Vê-se, nas suas próprias palavras acerca dessa obra, o grande desenvolvimento intelectual do moço: "Achei mais gozo nisso do que o mais ávido avarento, em ajuntar gran­des quantidades de ouro e prata de tesouros recém-adquiridos".
Edwards, antes de completar dezessete anos, diplo­mou-se no Yale College com as maiores honras. Sempre es­tudava com esmero, mas também conseguia tempo para estudar a Bíblia, diariamente. Depois de. diplomar-se, con­tinuou seus estudos em Yale, durante dois. anos e foi então separado para o ministério.
Foi nessa altura que seu biógrafo escreveu acerca de seu costume de dedicar certos dias para jejuar, orar e exami­nar-se a si mesmo.
Acerca da sua consagração, com idade de vinte anos, Edwards escreveu: "Dediquei-me solenemente a Deus e o fiz por escrito, entregando a mim mesmo e tudo que me pertencia ao Senhor, para não ser mais meu em qualquer sentido, para não me comportar como quem tivesse direi­tos de forma alguma... travando, assim, uma batalha com o mundo, a carne e Satanás até o fim da vida".
Alguém assim se referiu a Jônatas: "Sua constante e solene comunhão com Deus, em secreto, fazia com que o rosto dele brilhasse perante o próximo, e sua aparência, semblante, palavras e todo o seu comportamento eram acompanhados por seriedade, gravidade e solenidade".
Aos vinte e quatro anos casou-se com Sara Pierrepont, filha de um pastor, e desse enlace nasceram, como na família do pai de Edwards, onze filhos.
Ao lado de Jônatas Edwards, no Grande Despertamento, estava o nome de Sara Edwards, sua fiel esposa e ajudadora em tudo. Como seu marido, ela nos serve como exemplo de rara intelectualidade. Profundamente estudio­sa, inteiramente entregue ao serviço de Deus, ela era co­nhecida por sua santa dedicação ao lar, pelo modo de criar seus filhos e pela economia que praticava, movida pelas palavras de Cristo: "Para que nada se perca". Mas antes de tudo, tanto ela como seu marido eram conhecidos por suas experiências em oração. Faz-se menção destacada es­pecialmente dum período de três anos, durante o qual, apesar de gozar de perfeita saúde, ficava repetidas vezes sem forças, por causa das revelações do Céu. A sua vida in­teira foi de intenso gozo no Senhor.
Jônatas Edwards costumava passar treze horas, todos os dias, estudando e orando. Sua esposa, também, diaria­mente o acompanhava na oração. Depois da última refei­ção, ele deixava toda a lida, a fim de passar uma hora com a família.
- Mas, quais as doutrinas de que a igreja havia esqueci­do e quais as que Edwards começou a ensinar e a observar de novo, com manifestações tão sublimes?
Basta uma leitura superficial para descobrir que a dou­trina, à qual deu mais ênfase, foi a do novo nascimento, como sendo uma experiência certa e definida, em contras­te com a idéia da Igreja Romana e de várias denominações.
O evento que marcou o começo do Grande Despertamento foi uma série de sermões feitos por Edwards sobre a doutrina da justificação pela fé, que fez os ouvintes senti­rem a verdade das Escrituras, de que toda a boca ficará fe­chada no dia de juízo, e que "não há coisa alguma que, por um momento, evite que o pecador caia no Inferno, senão o bel prazer de Deus".
É impossível avaliar o grau do poder de Deus, derrama­do para despertar milhares de almas, para a salvação, sem primeiro nos lembrarmos das condições das igrejas da Nova Inglaterra, e do mundo inteiro, nessa época. Quem, até hoje, não se admira do heroísmo dos puritanos que co­lonizaram as florestas da Nova Inglaterra? Passara, po­rém, essa glória e a igreja, indiferente e cheia de pecado, se encontrava face com o maior desastre. Parecia que Deus não queria abençoar a obra dos puritanos, obra que existiu unicamente para sua glória. Por isso, no mesmo grau que havia coragem e ardor entre os pioneiros, houve entre seus filhos, perplexidade e confusão. Se não pudessem alcan­çar, de novo, a espiritualidade, só lhes restava esperar o juízo dos céus. O famoso sermão de Edwards, ''Pecadores nas mãos de um Deus irado", merece menção especial.
O povo, ao entrar para o culto, mostrava um espírito le­viano, e mesmo de desrespeito, diante dos cinco pregado­res que estavam presentes. Jônatas Edwards foi escolhido para pregar. Era homem de dois metros de altura; seu ros­to tinha aspecto quase feminino, e o corpo magro de jejuar e orar. Sem quaisquer gestos, encostado num braço sobre a tribuna, segurando o manuscrito na outra mão, falava em voz monótona. Discursou sobre o texto de Deuteronômio 32.35: "Ao tempo em que resvalar o seu pé".
Depois de explicar a passagem, acrescentou que nada evitava, por um momento, que os pecadores caíssem no In­ferno, a não ser a própria vontade de Deus; que Deus esta­va mais encolerizado com alguns dos ouvintes do que com muitas pessoas que já estavam no Inferno; que o pecado era como um fogo encerrado dentro do pecador e pronto, com a permissão de Deus, a transformar-se em fornalhas de fogo e enxofre, e que somente a vontade do Deus indig­nado os guardava da morte instantânea.
Prosseguiu, então, aplicando o texto ao auditório: "Aí está o Inferno com a boca aberta. Não existe coisa alguma sobre a qual vós vos possais firmar e segurar. Entre vós e o Inferno existe apenas a atmosfera... há, atualmente, nu­vens negras da ira de Deus pairando sobre vossas cabeças, predizendo tempestades espantosas, com grandes trovões. Se não existisse a vontade soberana de Deus, que é a única coisa para evitar o ímpeto do vento até agora, serieis des­truídos e vos tornaríeis como a palha da eira... O Deus que vos segura na mão, sobre o abismo do Inferno, mais ou me­nos como o homem segura uma aranha ou outro inseto no­jento sobre o fogo, durante um momento, para deixá-lo cair depois, está sendo provocado em extremo... Não há que admirar, se alguns de vós com saúde e calmamente sentados aí nos bancos, passarem para lá antes de ama­nhã..."
O resultado do sermão foi como se Deus arrancasse um véu dos olhos da multidão para contemplar a realidade e o horror da posição em que estavam. Nessa altura o sermão foi interrompido pelos gemidos dos homens e os gritos das mulheres; quase todos ficaram de pé, ou caídos no chão. Foi como se um furacão soprasse e destruísse uma floresta. Durante a noite inteira a cidade de Enfield ficou como uma fortaleza sitiada. Ouvia-se, em quase todas as casas, o clamor das almas que, até aquela hora, confiavam na sua própria justiça. Esperavam que, a qualquer momento, o Cristo descesse dos céus com os anjos e apóstolos ao lado, e que os túmulos entregassem os mortos que neles havia.
Tais vitórias, contra o reino das trevas, foram ganhas de joelhos. Edwards não abandonara, nem deixara de go­zar os privilégios das orações, costume que vinha desde a meninice. Continuou a frequentar, também, os lugares so­litários na floresta onde podia ter comunhão com Deus. Como um exemplo citamos a sua experiência com a idade de trinta e quatro anos, quando entrou na floresta, a cava­lo. Lá, prostrado em terra, foi-lhe concedido ter uma visão tão preciosa da graça, amor e humilhação de Cristo como Mediador, que passou uma hora vencido por uma torrente de lágrimas e pranto.
Como era de esperar, o Maligno tentou anular a obra gloriosa do Espírito Santo no "Grande Despertamento", atribuindo tudo ao fanatismo. Em sua defesa Edwards es­creveu : "Deus, conforme as Escrituras, faz coisas extraor­dinárias. Há motivos para crer, pelas profecias da Bíblia, que sua obra mais maravilhosa seria feita nas últimas épo­cas do mundo. Nada se pode opor às manifestações físicas, como as lágrimas, gemidos, gritos, convulsões, falta de for­ças... De fato, é natural esperar, ao lembrarmo-nos da re­lação entre o corpo e o espírito, que tais coisas aconteçam. Assim falam as Escrituras: do carcereiro que caiu perante Paulo e Silas, angustiado e tremendo; do Salmista que ex­clamou, sob a convicção do pecado: 'Envelheceram os meus ossos pelo meu bramido durante o dia todo' (Salmo 32.3); dos discípulos, que, na tempestade do lago, clama­ram de medo; da Noiva, do Cântico dos Cânticos, que fi­cou vencida, pelo amor de Cristo, até desfalecer..."
Certo é que na Nova Inglaterra começou, em 1740, um dos maiores avivamentos dos tempos modernos. É igual­mente certo que este movimento se iniciou, não com os ser­mões célebres de Edwards, mas com a firme convicção deste, de que há uma "obra direta que o Espírito divino faz na alma humana". Note-se bem: Não foram seus sermões mo­nótonos, nem a eloqüência extraordinária de alguns, como Jorge Whitefield, mas, sim, a obra do Espírito Santo no co­ração dos mortos espiritualmente, que, "começando em Northampton, espalhou-se por toda a Nova Inglaterra e pelas colônias da América do Norte, chegando até a Escó­cia e a Inglaterra". De uma época de maior decadência, a Igreja de Cristo, entre a população escassa da Nova Ingla­terra, despertou e foram arrebatadas de trinta a cinqüenta mil almas do Inferno durante um período de dois a três anos.
No meio das suas lutas, sem ninguém esperar, a vida de Jônatas Edwards foi tirada da Terra. Apareceu a varíola em Princeton e um hábil médico foi chamado de Filadélfia para inocular os estudantes. O nosso pregador e duas de suas filhas foram também vacinados. Na febre que resul­tou, as forças de nosso herói diminuíram gradualmente até que, um mês depois, faleceu.
Assim diz um de seus biógrafos: "Em todo o mundo onde se falava o inglês, era considerado o maior erudito desde os dias do apóstolo Paulo ou de Agostinho".
Para nós, a vida de Jônatas Edwards é uma das muitas provas de que Deus não quer que desprezemos as faculda­des intelectuais que Ele nos concede, mas que as desenvol­vamos, sob a direção do Espírito Santo, e que as entregue­mos desinteressadamente para o seu uso.
(estraido do livro hérois da fé)
JOHN HUSS
John Huss (1373-1415) - Nascido em Hussinec, na Boêmia, hoje Tchecoslováquia, em 1373, de uma família pobre que vivia da agricultura. Ele recebeu boa educação elementar e cursou na Universidade de Praga (capital atual da República Tcheca), onde terminou seu mestrado em Filosofia no ano de 1396.
Dois anos depois, Huss começou ensinar na Universidade, e em 1401, veio a ser o seu reitor. Em 1400, Huss foi separado como padre e foi-lhe entregue a responsabilidade da prestigiada Capela de Belém.
Após o casamento do rei inglês, Ricardo II da Inglaterra com Ana, filha do imperador Carlos IV da Boêmia em 1382, os ensinamentos de Wycliff foram logo introduzidos no país. Estudando-os bem de perto, Huss começou não só a pregar, como também traduzir as obras de Wycliff na língua Tcheca.
Pregador e Precursor da Reforma na Boêmia Em 1403, John Huss se propôs a reformar a Igreja Romana na Boêmia, ensinando que o papado não tinha nenhuma autoridade de oferecer a remissão dos pecados através da venda de indulgências, como também questionou a legitimidade dos dois papas rivais Gregorio XII e AlexandreV. Por esta razão, em 1408, os incontentos padres e colegas da Universidade de Praga condenaram a Huss, e como resultado, foi proibido de exercer suas funções eclesiásticas em Praga.
Um ano depois, ele recebe novas acusações de estar ensinando heresias; mas não para de pregar na Capela de Belém. Em 1411, Huss é excomungado de sua congregação, e todos os cultos, cerimônias de batizado e funeral foram anulados. Tal ato trouxe grande revolta nos cidadãos de Praga, os quais defenderam a Huss.
O cúmulo da corrupção papal sucedeu em 1412, quando João XXIII lançou uma cruzada contra o Rei Ladislau de Nápoles, e ofereceu a remissão completa de pecados a todos os que participassem na guerra, ou a venda da indulgência para os que a suportassem. Ao ouvir tal notícia contrária a todos os preceitos bíblicos, Huss se levanta e ataca o papado de usar sanções espirituais e indulgências para fins pessoais e políticos. Em contra-ataque, Jan Huss foi excomungado de Roma e obrigado a deixar Praga.
A Intimidação Se Inicia Durante o seu exílio, Huss teve a oportunidade de concluir uma de suas obras mais importantes, “De Ecclesia”. No ano de 1414, os líderes da Igreja Romana se reuniram para um Concílio em Constança (atualmente na Alemanha), e John Huss foi convocado a comparecer a fim de esclarecer seus ensinos controversiais com o da Igreja. O imperador Boêmio, Sigismund, prometeu salvo-conduto, mas, após um mês em Constança, os seguidores do Papa João XXIII o prenderam, e ele foi impelido pelo Concílio de se retratar. Huss permanceceu preso durante os sete meses de seu julgamento, e pouca oportunidade foi-lhe dada de se defender. Por não voltar atrás, Jan Huss foi condenado como hereje, despido e queimado na estaca fora da cidade no dia 6 de julho de 1415.
Huss morreu cantando o hino em grego “Kyrie eleeson” (Senhor, tem misericórdia). O local de sua morte é marcado até hoje com uma pedra memorial. Como Wycliff, Huss lutou pela reforma da Igreja pagando o preço com sua vida. Os perseguidores destruíram o corpo, mas não os ensinos de Huss, que foi espalhado por toda a Europa por seus discípulos mais radicais, conhecidos como Taboritas. Estes rejeitaram tudo na fé e na prática da Igreja Romana que não se encontrasse na Bíblia. Destes discípulos surgiu a Igreja Moraviana, a qual tornou-se mais tarde numa das igrejas de mais visão missionária da História da Igreja. O resultado do trabalho de Huss e de tantos outros foi vista um século depois, na pessoa de Lutero.
JÔNATAS GOFORTH
«POR MEU ESPÍRITO»
(1859-1936) - Certo dia, no ano de 1900, em Changte, no interior da China, passou um correio galopando à doida. Levava um despacho da imperatriz para o governador, ordenando que tomasse medidas para exterminar imediatamente todos os estrangeiros. Na horrenda carnificina que se seguiu, Jônatas Goforth, com sua esposa e filhinhos, foram cercados por milhares de Boxers, determinados a tirar-lhes a vida.
O pai da família, ao cair no chão com uma tremenda pancada que quase lhe partiu o crânio, ouviu uma voz di­zer-lhe: "Não temas! Teus irmãos estão orando por ti." Antes de ficar inconsciente, viu chegar a galope um cavalo que ameaçava atropelá-lo. Ao voltar a si, viu que o cavalo caíra ao seu lado, esperneando de tal maneira que os seus atacantes foram obrigados a desistirem do propósito de matar o missionário. Assim ele reconheceu que a mão de Deus o guardava maravilhosa e constantemente durante o tempo do morticínio dos boxers, no qual centenas de cren­tes foram mortos. Jônatas Goforth e sua família, foram sal-vos de inumeráveis situações angustiosas entre o povo amotinado, até que, por fim, vinte dias depois, chegaram ao litoral do país.
Rosalind e Jônatas Goforth tinham as suas vidas escon­didas com Cristo em Deus. Eis como viviam, nas suas pró­prias palavras: "Não é somente tolice aceitar para nós mesmos a glória que pertence a Deus, mas é grave pecado, porque o Senhor diz: 'A minha glória a outrem não darei'."
Quando ainda jovem, Jônatas Goforth adotou as pala­vras de Zacarias 4.6 como lema da sua vida: "Não por for­ça nem por violência, mas por meu espírito, diz o Senhor dos Exércitos."
Alguém que o conhecia intimamente escreveu: "Antes de tudo, Jônatas Goforth era um ganhador de almas. Foi por essa razão que se tornou missionário para o estrangei­ro; não havia outro interesse, outra atividade, outro minis­tério que o atraísse. Com o fogo do amor de Deus no cora­ção, ele manifestava um entusiasmo irresistível e uma energia incansável. Nada podia impedir os esforços dinâ­micos na obra, para a qual Deus o chamara. Era assim tan­to aos setenta e sete anos como quando tinha cinqüenta e sete. Com a perda da vista durante os últimos três anos da sua vida, não diminuíram seus esforços - parece que au­mentaram."
Revela-se, nas suas próprias palavras, como foram lan­çados os alicerces da sua vida constantemente esforçada no serviço do Senhor: "Minha mãe, quando eu e meus ir­mãos éramos ainda crianças, com desvelo incessante, nos ensinava as Escrituras e orava conosco. Uma coisa que teve grande influência sobre a minha vida foi o fato de mi­nha mãe me pedir que lesse os Salmos para ela em voz al­ta. Tinha apenas cinco anos, quando comecei a fazer esse exercício e achei a leitura fácil. Com a continuação, adqui­ri o costume de decorar as Escrituras, coisa que continuei a fazer com grande proveito".
Todos podemos testificar que é fácil fazer com que a leitura das Escrituras e a oração cheguem a uma monótona formalidade. Mas, ao contrário, o semblante de Jônatas Goforth se iluminava com o reflexo da glória das Escritu­ras que recebia na alma. Depois da sua morte, uma criada católica romana declarou: "Quando o senhor Goforth se hospedava na casa onde trabalho, eu mirava seu rosto e di­zia a mim mesma: O rosto de Deus pode ser assim!
Acerca da conversão de seu pai, Jônatas escreveu: "No tempo da minha conversão, morava com meu irmão Gui­lherme. Certa vez, nossos pais nos visitaram, passando co­nosco mais ou menos um mês. Fazia tempo que o Senhor me dirigira a fazer culto doméstico. Assim, certo dia, anunciei: Taremos o culto doméstico de hoje e peço que todos se reúnam depois do jantar'. Esperava que meu pai se manifestasse contrariamente, porque em casa não cos­tumávamos dar graças antes das refeições, quanto mais fa­zer culto doméstico! Li um capítulo de Isaías e, depois de falar algumas palavras, oramos juntos, de joelhos. Conti­nuamos a realizar os cultos domésticos durante o tempo que eu estava em casa. Depois de alguns meses meu pai foi salvo."
O jovem Goforth, no tempo de estudante no ginásio, vi­sava a ser advogado, até que, certo dia, leu a inspiradora biografia do pregador Roberto McCheyne. Não somente se desvaneceram para sempre todas as suas visões de ambi­ção, mas ele dedicou, também, a sua própria vida a levar almas ao Salvador. Nesse tempo, "devorou" os livros: "Os Discursos de Spurgeon"; "Os Melhores Sermões de Spurgeon"; "Graça Abundante" (Bunyan); e "O Descanso dos Santos" (Baxter). A Bíblia, contudo, era o seu livro predi­leto, e costumava levantar-se duas horas mais cedo para estudar as Escrituras, antes de se ocupar em qualquer ou­tro serviço do dia.
Acerca da sua chamada, nesse tempo, ele escreveu: "Apesar de sentir-me dirigido ao ministério da Palavra, recu­sava terminantemente a ser missionário no estrangeiro. Mas um colega me convidou a assistir à reunião de um missionário, o qual fez o seguinte apelo: 'Faz dois anos que passo de cidade em cidade contando a situação de Formo­sa e rogando que algum jovem se ofereça para me auxiliar. Mas parece que não consegui transmitir a são a nenhum. Volto, então, sozinho. Dentro de pouco tempo meus ossos estarão enbranquecendo na encosta dum morro em Formosa. Quebranta-me o coração saber que nenhum moço se sente dirigido a continuar o trabalho que iniciei'.
"Ao ouvir essas palavras, senti-me vencido pela vergo­nha. Se o chão tivesse me engolido, teria sido um alívio. Eu, comprado com o precioso sangue de Cristo, ousava planejar a minha vida como eu mesmo queria. Ouvi a voz do Senhor dizer: 'A quem enviarei, e quem há de ir por nós?' E respondi: Eis-me aqui, envia-me a mim! Desde então sou missionário. Lia avidamente tudo que podia achar acerca de missões no estrangeiro e me esforçava por transmitir aos outros a visão que eu alcançara - a visão dos milhões da terra sem oportunidade de ouvirem um prega­dor".
Por fim chegou o tempo de iniciar seus estudos em To­ronto. O primeiro domingo ele o passou trabalhando entre os prisioneiros, na prisão "Don", um costume que conti­nuou durante todos os anos de estudos nessa cidade. Du­rante a semana, dedicava muito tempo a andar de casa em casa ganhando almas para Cristo. Quando o diretor do co­légio onde estudava perguntou-lhe quantas casas visitara durante os meses de junho a agosto, ele respondeu: "Novecentas e sessenta."
Foi nesse tempo dos estudos que Jônatas Goforth se ca­sou com Rosalind Bell-Smith. Acerca desse ato ela escre­veu:
"Comecei, aos vinte anos de idade, a orar pedindo que, se o Senhor desejasse que eu me casasse, Ele me dirigisse um moço inteiramente dedicado a Ele e ao seu serviço... Certo domingo, achei-me em uma reunião de obreiros da Toronto Mission Union. Um pouco antes de começar a reu­nião, alguém à porta chamou Jônatas Goforth. Ele, ao le­vantar-se para ir lá fora, deixou a Bíblia na cadeira. Então eu fiz uma coisa que nunca pude explicar, nem para ela achei desculpas; senti-me impelida a ir à cadeira dele, apanhei a Bíblia, e voltei à minha cadeira. Ao folhear rapi­damente o livro, achei-o quase gasto pelo uso, e marcado de capa a capa. Fechei-o, e sem demora, coloquei-o de novo na cadeira. Tudo isso aconteceu em um intervalo de poucos segundos. Ali, sentada no culto, eu disse a mim mesma: 'Esse é o moço com quem seria bom que eu me ca­sasse'.
"No mesmo dia fui apontada, juntamente com outras para abrir um ponto de pregação em outra parte de Toron­to. Jônatas Goforth estava também entre o grupo. Durante as semanas que se seguiram, eu tive muitas oportunidades de ver a verdadeira grandeza da alma desse homem, a qual nem seu exterior desprezível podia esconder. Assim, quan­do ele me perguntou: - 'Queres unir a tua vida à minha para irmos à China?' Sem vacilar um só momento, respon­di: - Quero! Mas, alguns dias depois, foi grande a minha surpresa quando ele me perguntou: - 'Prometes nunca me impedir de colocar o Senhor e a sua obra em primeiro lu­gar, mesmo antes de ti?' Era essa mesma a qualidade de moço que eu pedira, em oração, para que Deus mo desse como marido, e firmemente respondi: Prometo fazê-lo sempre! Oh! Como fora benigno o Mestre, ao esconder-me o que essa promessa significava!
"Poucos dias depois de eu haver prometido o que me pe­diu, veio a primeira prova. Eu sonhava, como mulher que era, com o bonito anel de casamento que ia receber. Foi en­tão que Jônatas me disse: - 'Não te importas se eu te não comprar uma aliança?' A seguir explicou com grande entu­siasmo, como se esforçava na distribuição de livros e folhe­tos sobre o trabalho na China. Queria economizar o mais possível para essa importante obra. Ao ouvi-lo, e depois de contemplar a luz no seu rosto, as visões de uma aliança bo­nita se desvaneceram: Era a minha primeira lição sobre os verdadeiros valores!"
Em 19 de janeiro de 1888, centenas de crentes se reuni­ram na estação em Toronto para se despedirem do casal Goforth que ia trabalhar na obra de Deus na China. Antes de sair o trem, todos baixaram a cabeça em oração e, ao partir o trem, a grande multidão cantava: "Avante, solda­dos de Cristo!" E, uma vez fora da estação, os dois no trem rogaram a Deus que os guardasse para viverem eternamen­te dignos da grande confiança que esses irmãos deposita­ram neles.
Não muito depois de chegarem à China, Hudson Tay­lor lhes escreveu: "Faz dez anos que a nossa missão se esforça para entrar no Sul da província e somente agora é que o conseguimos..." Se a China Inland Mission, com mis­sionários e auxiliares experientes na língua e nos costumes do povo sofre fracasso durante dez anos nessa província, como podia entrar ele, jovem inexperiente e sem conhecer a língua?! As palavras de Hudson Taylor, "avançar de joe­lhos", tornaram-se o lema da missão de Goforth para en­trar no Norte de Honã.
Jônatas Goforth levou mais tempo a aprender a língua, do que seu companheiro que chegara um ano depois dele. Certo dia, ao sair para pregar, ele, em grande desespero, disse à sua esposa: "Se o Senhor não operar um milagre para eu aprender essa língua, serei um grande fracasso como missionário!" Duas horas depois voltou, dizendo: "Oh! Rosa! Que maravilha! Ao começar a pregar, as pala­vras e as frases tornaram-se tão fáceis que o povo me com­preendeu bem." Dois meses depois receberam uma carta dos estudantes no colégio Knox, em Toronto, contando como em certo dia a certa hora eles se reuniram para orar por eles - "Somente pelos Goforth" - e ficaram convenci­dos de que eles foram abençoados por Deus, porque senti­ram muito a presença e o poder de Deus na oração. Goforth, ao abrir seu diário, descobriu que foi no mesmo dia e hora que Deus lhe deu a habilidade de falar fluentemente. Alguns anos depois, certo patrício seu, que falava bem o chinês, disse-lhe acerca do seu estilo de falar: "Compreen­de-se a fala do senhor sobre uma área maior do que de qualquer outra pessoa que conheço."
Um missionário veterano assim aconselhou a Goforth: "Os chineses têm tantos preconceitos do nome de Jesus que deve esforçar-se para demolir os deuses falsos e só de­pois mencionar o nome de Jesus, se houver oportunidade." Ao contar isso à sua esposa, Goforth exclamou indignado: "Nunca! Nunca! NUNCA!" Em nenhum tempo ele se le­vantou para pregar sem a Bíblia aberta na mão.
Quando, alguns anos depois, os missionários novatos lhe perguntaram o segredo do fruto extraordinário do seu ministério, ele respondeu: "Deixo Deus falar às almas dos ouvintes por intermédio da sua própria Palavra. Meu úni­co segredo para tocar no coração dos mais vis pecadores é mostrar-lhes a sua necessidade e pregar-lhes o Salvador poderoso para os salvar... Esse era o segredo de Lutero, era o segredo de João Wesley e ninguém se aproveitou mais dele do que D. L. Moody". Para manejar a ''Espada do Espírito" com grande execução, Goforth a "afiava", estudando-a diariamente, sem falhar. Em vez de falar contra os ídolos, ele exaltava a Cristo crucificado. Isso atraía os pecadores para deixarem as suas vaidades.
Em 1896, ele escreveu: "Depois de chegar a Changté, há cinco meses, o poder do Espírito Santo se manifesta quase diariamente para nos alegrar. Durante esses meses, um total de mais de 25.000 homens e mulheres nos visita­ram em casa, e todos ouviram a pregação do Evangelho. Pregamos, na média, oito horas por dia. Há, às vezes, mais de cinqüenta mulheres de uma vez no terraço. (Ele prega­va aos homens, enquanto a sua esposa pregava às mulhe­res.) Quase todas as vezes que apresentamos Cristo como Redentor e Salvador, o Espírito Santo salva alguém e, às vezes, dez a vinte."
Contudo, não se deve pensar que esses missionários es­caparam de grandes tribulações. Não muito depois de che­garem à China, um incêndio destruiu todas as suas posses­sões terrestres. O calor do verão era tão intenso que sua primogênita, Gertrude, faleceu e foi necessário levar o ca­dáver a uma distância de 75 quilômetros, a um lugar onde se permitia enterrar os estrangeiros. Quando faleceu outro filhinho, Donald, foi necessário fazer de novo a mesma lon­ga viagem de 75 quilômetros com os restos mortais. Depois de passarem doze anos na China, novamente perderam tudo quanto tinham em casa, quando as águas de uma en­chente subiram à altura de dois metros dentro da casa.
No ano 1900, logo após outra filha, Florença, morrer de meningite, veio a insurreição dos Boxers - acerca da qual já nos referimos. No levante dos Boxers, muitas centenas de missionários e crentes foram brutalmente mortos. Só a mão de Deus os guiou e os sustentou na fuga de Changté -uma viagem de 1.500 quilômetros, em tempo de intenso calor e de doença em um dos quatro filhos. Inúmeras vezes foram cercados pelas multidões que clamavam: "Matai-os! Matai-os!" Uma vez a multidão enfurecida arremessou pedras tão grandes que quebraram a espinha dos cavalos que puxavam a carroça, mas todas as pessoas do grupo es­caparam! Goforth levou vários golpes de espada, um dos quais atingiu o osso do braço esquerdo, quando o ergueu para defender a cabeça. Apesar de o grosso capacete, que tinha na cabeça, ficar quase inteiramente cortado em pe­daços, ele conseguiu manter-se em pé até que recebeu um golpe que, por pouco, não lhe partiu o crânio. Mas Deus não permitiu que a mão dos homens os destruíssem, por­que ainda tinha uma grande obra para fazer na China por intermédio desses servos. Assim, sem poderem cuidar das feridas e com as roupas ensangüentadas, o grupo enfrenta­va as multidões furiosas, dia após dia, até alcançar Shanghai. De lá, a família embarcou em um navio para o Canadá.
Logo que diminuiu o perigo na China, os nossos incan­sáveis heróis estavam novamente ocupados no trabalho em Changté. A região foi dividida em três: a parte que caiu em sorte a Goforth foi o vasto território ao norte da cidade com inúmeras vilas e povoados.
O plano de Goforth era alugar uma casa em um centro importante, passar um mês evangelizando e, depois mu­dar-se para outro centro. Queria que a sua esposa pregasse no pátio da casa, de dia, enquanto ele e seus auxiliares pre­gavam nas ruas e nos povoados ao redor. À noite, faziam os cultos juntos, ela tocando o harmonium. No fim do mês, podiam deixar um dos auxiliares para ensinar os novos convertidos, enquanto o grupo passava para outro centro. Acerca desse plano a esposa de Goforth escreveu:
"De fato, o plano foi bem concebido, a não ser uma coi­sa: não se lembrou das crianças... Lembrei-me de como os meninos com varíola, em Hopei, me cercaram quando se­gurava a criança no colo. Lembrei-me das quatro covas de nossos pequeninos, e endureci o coração, como pederneira, contra o plano. Como meu marido suplicava dia após dia! 'Rosa, por certo o plano é de Deus e receio o que possa acontecer aos filhos se desobedecermos. O lugar mais segu­ro para ti e os filhos é no caminho da obediência. Pensas em guardar os filhos seguros em casa, mas Deus pode mos­trar-te que não podes. Contudo, Ele guardará os filhos se obedeceres confiando nele!' Não muito depois, Wallace caiu doente de disenteria asiática e por quinze dias luta­mos para salvar a criança; meu marido me disse: 'Oh! Ro­sa, cede a Deus, antes de perder tudo.' Mas parecia-me que Jônatas era duro e cruel. Então nossa filha Constância caiu enferma da mesma doença. Deus revelou-se a mim como um Pai em quem eu podia confiar para conservar os meus filhos. Baixei a cabeça e disse: 'Ó Deus, é tarde de­mais para a Constância, mas confio em ti, guarda os meus filhos. Irei aonde quer que me mandes.' Na tarde do dia em que a criança faleceu, mandei chamar a senhora Wang, uma crente fervorosa e amada e lhe disse: 'Não posso con­tar-lhe tudo agora, mas estou resolvida a acompanhar meu marido nas viagens de evangelização. Quer ir comigo?' Com lágrimas nos olhos, ela respondeu: 'Não posso, pois a menina pode adoecer sob tais condições.' Não querendo in­sistir, pedi que ela orasse e me respondesse depois. No dia seguinte ela voltou com os olhos cheios de lágrimas e, com um sorriso, disse: 'Irei com vocês'."
É coisa notável que não faleceu mais nenhum filho dos Goforth, na China, apesar dos muitos anos que passaram na vida nômade de evangelização. Goforth observou tão fielmente seu costume de levantar-se às 5 horas para ora­ção e estudo das Escrituras, como quando estava em casa, em Chantgé. Geralmente, para o estudo tinha de ficar em pé diante da janela, com as costas viradas para a família. Acerca da obra em Chantgé, são de Goforth estas pa­lavras: "Nos primeiros anos de meu trabalho na China, contentava-me com a lembrança de que sempre há semen­teira antes da colheita. Mas já passavam mais de treze anos e a colheita parecia ainda distante. Tinha a certeza de que haveria uma coisa melhor para mim se eu tivesse a visão e a fé necessárias para adquiri-la. Estavam constan­temente perante mim as palavras do Mestre em João 14.12: 'Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maio­res do que estas; porque eu vou para meu Pai.' E sentia profundamente como no meu ministério faltavam as 'maiores obras'."
No ano de 1905, Jônatas Goforth leu na Autobiografia de Carlos Finney que um lavrador podia, com muita razão, orar pedindo uma colheita material independentemente de se cumprirem as leis da natureza, assim como os crentes podem esperar uma grande colheita de almas sem se cum­prirem as leis que governam a colheita espiritual. Resolveu então saber quais eram essas leis e decidiu-se a cumpri-las, a qualquer preço.
Fez um estudo a fundo e de joelhos, sobre o Espírito Santo e escreveu as notas nas margens da sua Bíblia chine­sa. Quando começou a ensinar essas lições aos crentes, houve grande quebrantamento, com confissão de pecados. Foi na grande exposição idólatra de Hsun Hsien que Deus primeiramente mostrou seu grande poder no ministério de Goforth. Durante o sermão, um obreiro exclamou em voz baixa: "Esse povo está tão comovido, pela pregação, como a multidão no dia de Pentecoste, pelo sermão de Pedro". Na noite do mesmo dia, num salão alugado e que não com­portava toda a grande multidão pagã que queria assistir, Goforth pregou sobre o texto: "Levando Ele em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro". Quase todos mostra­ram-se convictos do pecado e quando o pregador fez o ape­lo, levantaram-se clamando: "Queremos seguir a esse Je­sus que morreu por nós!" Um dos obreiros presentes assim expressou o que viu: "Irmão, aquele a quem oramos duran­te tanto tempo para que viesse, veio de fato esta noite." Nos dias que se seguiram, pecadores foram salvos em todos os pontos de pregação e em todos os cultos.
Acerca do avivamento, que nesse tempo visitou a Co­réia, um dos missionários escreveu sobre o que presenciou: "Os missionários eram como os demais crentes: não havia alguém entre eles de talento extraordinário. Viviam e tra­balhavam como quaisquer outros, a não ser nas orações... Nunca senti a presença divina como a senti nos seus rogos a Deus. Parecia que esses missionários nos levavam ao pró­prio trono no Céu! Fiquei muito impressionada, também, ao ver como o avivamento era prático... Havia dezenas de milhares de homens e mulheres transformados completa­mente pelo fogo divino. Grandes templos, com assentos para 1.500 pessoas, ficavam superlotados; era necessário realizar um culto para os homens e, em seguida, outro para as mulheres, a fim de que todos pudessem assistir. Em to­dos ardia o desejo de espalhar as 'boas-novas'. Crianças se aproximavam das pessoas que passavam pelas ruas, rogando-lhes que aceitassem a Cristo por seu Salvador... A pobreza do povo da Coréia era conhecida em todo o mun­do. Contudo, havia tanta liberalidade nas ofertas, que os missionários não queriam ensinar mais sobre o dever de contribuir. Havia grande dedicação à Bíblia, quase todos levando um exemplar no bolso. E o maravilhoso espírito de oração permeava tudo."
Ao voltar da Coréia, Goforth foi chamado a Manchúria. Mais tarde, ele escreveu: "Quando iniciei a longa viagem, estava convicto de que eu tinha uma mensagem de Deus para entregar àquele povo. Mas não tinha idéia de como presidir a um avivamento. Sabia pronunciar um discurso e sabia levar o povo a orar, porém nada mais sabia do que isso..."
Goforth teve um grande desapontamento ao chegar à Manchúria: os crentes não oravam como lhe prometeram fazer e a igreja estava dividida! Depois do primeiro culto, ele, sozinho no seu quarto, caiu de joelhos em desespero. E Deus respondeu à sua insistência, enviando tão grande de­sejo de oração nas igrejas e tão profunda contrição pelo pe­cado, que elas não somente foram purificadas de toda a classe de pecado, inclusive dos mais horrendos crimes, mas os perdidos, em grande número, vinham e eram salvos.
A senha do avivamento do ano de 1859 foi: "Necessário vos é nascer de novo" e a de 1870: "Crê no Senhor Jesus!" Mas a meta de Goforth foi: "Não por força, nem por vio­lência, mas por meu Espírito" (Zc 4.6). Que o Espírito Santo operava em vários lugares na Manchúria, em res­posta às orações insistentes e em face de embaraços de toda a sorte, vê-se claramente no que ele escreveu acerca da obra na cidade de Newchang:
"Ao subir ao púlpito, ajoelhei-me um momento, como de costume, para orar. Quando olhei para o auditório, pa­recia como que todos os homens, mulheres e crianças na igreja estivessem com dores de julgamento. As lágrimas corriam copiosamente e houve confissão de toda a espécie de pecado. Como se explica isso? A igreja era conhecida como igreja morta e sem mais esperança, contudo, antes de enunciar sequer uma palavra, sem mesmo cantar um hino e antes de orar, começou essa obra maravilhosa. Não há outra explicação: foi o Espírito de Deus, que operou em resposta às orações das igrejas de Mukden, Liaoyang e de outros lugares na Manchúria, as quais haviam experimen­tado a mesma qualidade de avivamento e foram induzidas a interceder por sua pobre e necessitada igreja irmã".
Jônatas Goforth, quando foi à Manchúria, era quase desconhecido fora do pequeno círculo da sua denominação. Depois de algumas semanas, quando voltou, os olhos dos crentes de todo o mundo estavam fitos nele. Contudo, per­maneceu o mesmo humilde servo de Deus, reconhecendo que a obra não era dele mas do Espírito de Deus.
Chansi é conhecida como "a província dos mártires". Certo chinês douto contou a Goforth como presenciara nes­sa província, durante a Insurreição dos Boxers, em 1900, de uma só vez a morte de 59 missionários. Todos eles enca­raram o carrasco com a maior calma. Uma mocinha, de ca­belos louros, perguntou ao governador: "Por que devemos morrer? Os nossos médicos não vieram de países remotos para dar suas vidas para servir ao seu povo? Muitos doen­tes sem esperança não foram curados? Diversos cegos não receberam a vista? É por causa do bem que fizemos que devemos morrer?" O governador baixou a cabeça, e não respondeu. Mas um soldado, pegou a mocinha pelos cabe­los, e com um só golpe, decepou-lhe a cabeça. Um após ou­tro foram mortos; todos morreram com um sorriso de paz. Esse mesmo chinês contou como viu, entre eles, uma se­nhora falando alegremente ao filhinho. Com um só golpe ela foi prostrada, mas a criança continuou a segurar-lhe a mão; logo a seguir outro golpe, um pequeno cadáver jazia ao lado do cadáver da mãe.
Foi a essa mesma "província dos mártires" que Deus enviou seus servos, os Goforth, oito anos depois, e aconte­ceu o que vamos ler: "Em Chuwahsien, não muito depois de começar a falar, vi muitos dos ouvintes baixarem a ca­beça, convictos, enquanto as lágrimas corriam-lhes pelas faces. Depois do discurso, todos que experimentaram orar, estavam quebrantados. O avivamento, que começou assim, continuou durante quatro dias. Houve confissão de toda a qualidade de pecados. O delegado regional se admi­rou grandemente ao ouvir confissões de homicídios, de rou­bos e de crimes de toda a sorte - confissões que ele só con­seguiria arrancar deles açoitando-os até quase os deixar mortos. Às vezes, depois de um culto de três horas, ou mais, o povo voltava a casa para continuar a orar. Mesmo em horas tardias da noite, havia pequenos grupos reunidos em vários lugares para orarem até quase clarear o dia".
No colégio de moças, em Chuwu, na mesma "província dos mártires", "as alunas insistiram para que lhes conce­dessem tempo para jejuar e orar... No dia seguinte, quando as moças se reuniram de manhã, para oração, o Espírito caiu sobre elas e ficaram de joelhos até a tarde desse dia."
Das centenas de exemplos evidentes da operação pode­rosa do Espírito Santo nos corações, dentre muitos outros lugares, citaremos aqui apenas os seguintes:
Changté: "Quase setecentas pessoas assistiram pela manhã. Havia um ferver de homens se esforçando para ir à frente, de modo que Goforth só conseguiu pregar à tarde. O culto era contínuo, prolongava-se o dia inteiro, com inter­valos para as refeições."
Kwangchow: "A igreja, com assentos para 1.400 ouvin­tes, não comportava as multidões. O Espírito Santo veio com poder extraordinário. Havia, às vezes, centenas de pe­cadores contritos chorando..." Dois endemoninhados fo­ram libertos e se tornaram crentes fervorosos na obra de Deus. Em quatro anos o número dos salvos aumentou de 2.000 para 8.000.
Shuntehfu: "Inesperadamente, uma dúzia de homens começaram a orar e a chorar... sem poderem resistir ao po­der do Espírito Santo... Velhos discípulos de Confúcio, vi­nham à frente, quebrantados e humilhados, para confessa­rem a Cristo como seu Senhor. Um total de quinhentos ho­mens e mulheres foram salvos. Foi, talvez, a maior obra do Espírito Santo que eu tinha visto."
Nanquim: "Assistiram mais de 1.500 pessoas. Cente­nas que também queriam assistir, não puderam entrar e voltaram a casa. O culto da manhã durou quatro horas. O resto do tempo foi dedicado à oração e confissão de pecados. A massa de pessoas que desejava chegar ao estrado para confessar seus pecados foi tão grande que se tornou necessário construir outra escada... Subi de novo ao estra­do, às 3 horas da tarde, para iniciar o segundo culto. Cen­tenas de pessoas, nesse momento, começaram a vir à fren­te e por isso eu não podia pregar... Às nove horas da noite, seis horas depois de iniciar o culto, fui obrigado a me reti­rar e embarcar para Pequim onde os crentes me esperavam para outra série de cultos."
Shantung: "O avivamento foi tão grande que cerca de 3.000 membros foram acrescentados à igreja em três anos."
Acerca dos cultos entre os soldados do general Feng, a esposa de Goforth escreveu: ''Desde o início, sentimos a presença de Deus. Duas vezes, todos os dias, Goforth tinha auditórios de cerca de 2.000 pessoas, principalmente ofi­ciais, que se mostravam grandemente interessados... A três cultos, às esposas foi permitido assistirem, e Deus me deu poder para falar-lhes. Quase todas declararam-se prontas a seguir a Cristo. O general Feng, ao experimentar orar, ficou quebrantado... A seguir outros oficiais, um após outro, começaram a clamar a Deus entre soluços e lágrimas."
Assim continuou a obra, ano após ano, geralmente com três cultos por dia, apesar de grandes obstáculos. No perío­do da seca de 1920, 30 a 40 milhões dos habitantes ao redor encararam a morte pela fome. Em 1924, Goforth assim es­creveu à sua esposa, forçada por doença a voltar ao Cana­dá: "Completo hoje 65 anos... Oh! Como cobiço, mais que qualquer avarento cobiça o ouro, vinte anos ainda para ga­nhar almas!"
Depois de completar 68 anos de idade e sua esposa 62, idades em que a maioria dos homens se afastam do serviço ativo, os dois foram enviados para um campo inteiramente novo, na Manchúria - campo distante, vasto e frio, que se estende até as fronteiras da Rússia e da Mongólia. Acerca da sua partida, Goforth escreveu:
"Certo dia, em fevereiro de 1926, a minha esposa esta­va deitada esperando a chegada da assistência para levá-la ao Hospital Geral de Toronto. De repente, a campainha da porta e a do telefone tocaram simultaneamente. Pelo tele­fone fomos avisados de que não haveria lugar no hospital antes de três dias. Na porta recebemos um cabograma do general Feng, da China, rogando que eu fosse sem demora. Nesse momento eu disse à minha esposa: 'Que farei? Não posso deixar-te'. (Todos pensávamos que ela não viveria muitos meses mais.) Minha esposa, depois de orar, disse: 'Vou contigo.' Os membros da junta estavam reunidos na ocasião; apresentei-lhes o cabograma do general Feng e concordaram que eu fosse. Mas quando os informaram de que a minha esposa queria acompanhar-me, mostraram-se horrorizados, respondendo que ela morreria no caminho. Então eu lhes disse: 'Os irmãos não conhecem essa mulher como eu. Quando ela diz que vai, ela vai!' Assim concorda­ram em que ela fosse."
Durante muito tempo, avisados pelo cônsul do novo campo da Manchúria, viviam com as malas arrumadas, a fim de partirem imediatamente no caso de haver uma se­gunda insurreição dos Boxers, como todos esperavam. Contudo, desde o início, Deus honrou o serviço desses ser­vos, conforme se lê no que ele escreveu na avançada idade de 70 anos: "Realizavam-se três horas de pregação de ma­nhã pelo grupo de missionários e quatro horas à tarde... Desde o primeiro dia houve conversões; às vezes doze em um só dia. Grande foi o nosso gozo ao vermos cerca de duzentas pessoas aceitaram a Cristo durante o mês de maio."
Havia muito tempo que diversos amigos insistiam em que ele escrevesse a história de como o Espírito Santo ope­rava no seu ministério. Em tempo de intenso frio, viu-se obrigado a extrair os dentes; durante quatro longos meses sofreu dores cruciantes nos maxilares, a ponto de não po­der pregar. Foi nessa época que seu filho menor chegou do Canadá. Goforth então conseguiu ditar a matéria para o fi­lho datilografar. Dessa forma foi impresso o livro "Por Meu Espírito", obra de grande circulação e influência.
Após quatro anos de serviço, foi-lhe necessário voltar ao Canadá, por causa da vista de sua esposa. Foi durante esse tempo que Goforth, também, começou a perder a vista. Enquanto convalescia das operações mal-sucedidas para restaurar-lhe a visão de um olho. Ele relatou, uma por uma, as histórias da obra na China, histórias que a sua en­fermeira estenografou e que, agora, completam o famoso livro intitulado: "Vidas Milagrosas da China".
Em 1931, Goforth e sua esposa, ela com 67 anos e ele com 72, com os corações ardendo pelo desejo de ganhar al­mas, voltaram mais uma vez à obra na Manchúria. Qua­trocentos e setenta e dois convertidos foram batizados em 1932. Um dia Goforth voltou de uma viagem evangelística para entrar em casa às apalpadelas. Depois de ficar um momento ao lado da sua esposa, ele lhe disse em voz baixa: "Receio que a retina do olho esquerdo tenha saído do lu­gar." E assim tinha acontecido. A perda completa da visão era para ele uma tristeza, uma tragédia, sentida por todos. Ao mesmo tempo chegou-lhes uma carta informando-os de uma redução tão grande no que recebiam para o sustento dos missionários e nas despesas das viagens evangelísticas, que parecia impossível continuar a obra. Foi a maior crise de toda a vida de Jônatas Goforth. Contudo, sem vacilar, olhou para Deus. A própria cegueira parecia mais uma bênção do que uma aflição: os crentes mostravam-se mais ligados a ele do que antes. Vencendo o desânimo inevitável dos que perdem a vista, não cessou de pregar com a Bíblia que amava, aberta nas mãos. No ano de 1933, setecentos e setenta e oito convertidos foram batizados.
Por fim, os Goforth cederam ao apelo dos crentes do Canadá a que voltassem para animar as igrejas a enviarem mais missionários. Durante os preparativos para a viagem, souberam que novecentos e sessenta e seis convertidos fo­ram batizados naquele ano, 1934. O culto de despedida foi um dos mais comoventes em toda a história da obra mis­sionária. O missionário, tão amado pelos crentes, agora, por causa da cegueira, não podia ver como tinham enfeita­do o templo, mas eles bondosamente e com prazer lhe des­creveram tudo acerca das muitas e lindas bandeiras de seda e veludo que cobriam inteiramente as quatro paredes do templo. Os pregadores que falaram, o fizeram choran­do. Um deles disse: "Agora Elias está para sair de nosso meio e cada um de nós deve tornar-se um Eliseu".
Na hora da despedida, na plataforma da estação estava uma multidão de crentes chorando. Goforth, sentado diante da janela no trem, com o rosto virado para aqueles cren­tes que tanto amava, mas não podia ver, continuava a fazer-lhes sinais com a cabeça, de vez em quando, levantan­do os olhos para cima, indicando, assim, a bendita espe­rança de uma reunião no Céu. Quando o trem partiu, os crentes com os olhos cheios de lágrimas, tentaram acom­panhá-lo, correndo paralelamente, a fim de conseguirem olhar mais uma vez para o rosto desses queridos missioná­rios.
Durante dezoito meses, Goforth pregou a grandes audi­tórios no Canadá e nos Estados Unidos. Dia após dia, esse veterano estava em pé diante desses auditórios, com a sua amada Bíblia aberta nas mãos. Abria o livro, aproximada­mente nas páginas, das quais citava as passagens de cor, durante o sermão. Isso ele fazia, tendo os olhos abertos e com tanta prática, que era difícil crer que as não lia como outrora.
O ponto principal de suas mensagens descobre-se nes­tas palavras que ele disse certo dia à sua esposa: "Querida, acabo de fazer um cálculo mental que prova com certeza qual o resultado de dar ao Evangelho a oportunidade de operar. Se cada um dos missionários enviados à China ti­vesse levado tantas almas a Jesus como os seis missioná­rios do nosso campo durante o ano de 1934, o último ano que passamos na Manchúria, isto é, 166 por cada missio­nário, o número de conversões na China teria alcançado a cifra de quase um milhão de almas, em vez de apenas 38.724, isto é, teria sido vinte e cinco vezes maior!"
Certo dia, quando tinha de pregar somente à noite, ele disse á sua esposa: "Em vez de sairmos de casa hoje, acho melhor participarmos de um banquete da Palavra. Lê para mim o precioso Evangelho de João". Ela leu dezesseis capítulos desse livro. "Percebia-se que era um verdadeiro banquete para ele, pela atenção que prestava à leitura de certas passagens." Antes de falecer, tinha lido a Bíblia, de capa a capa, mais de setenta e três vezes.
Na noite do dia 7 de outubro de 1936, Jônatas Goforth, depois de um discurso fervoroso e longo, sobre o tema: "Como o Fogo do Espírito Varreu a Coréia", deitou-se tar­de para dormir. Às sete horas da manhã seguinte, a sua esposa levantou-se e vestiu-se. Logo a seguir verificou que foi mais ou menos no momento em que ela se levantou que ele, "dormindo aqui na terra, num instante, acordou-se na Glória, vendo de novo." Poucos dias antes, ele tinha dito que se regozijava em saber que o primeiro rosto que ia ver, seria o de seu Salvador.
Cinco anos e meio depois de Jônatas Goforth haver dor­mido no Senhor, Rosalind Goforth reuniu-se ao seu amado marido e companheiro de lutas. As últimas palavras que pronunciou, foram estas: "O Rei me chama. Estou pron­ta".
Dela também pode-se dizer, como foi dito a respeito de­le: "Entregava-se à oração e ao estudo da Palavra, para sa­ber a vontade de Deus. Foi esse amor pela leitura da Bíblia e a ininterrupta comunhão com Deus que lhe deram o po­der de comover auditórios e convencê-los do pecado e da necessidade do arrependimento. Em todas as ocasiões ele dominava a sua própria pessoa e confiava inteiramente no poder do Espírito Santo para descobrir as coisas de Jesus aos ouvintes."
Que o mesmo brado de guerra seja sempre nosso: "Não por força, nem por violência, mas por meu Espírito" - "Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito San­to".
(extraido do livro hérois da fé)
PASTOR HSI
AMADO LÍDER CHINÊS
(1836-1896) - Acontecera "o impossível" e toda a população se condoía de tal "tragédia": o senhor Hsi, cidadão respeitado por todos, tornara-se crente! Fazia dois anos que um pre­gador da "nova religião" pregava na província de Shan-si. Enquanto se esperava que enredasse alguns dos mais igno­rantes, ninguém imaginava que o senhor Hsi, homem cul­to, de grande influência entre o povo e destacado adepto de Confúcio, seria o primeiro a ficar "enfeitiçado" pelos "dia­bos estrangeiros!"
Não havia entre o povo quem odiasse tanto os estran­geiros como o senhor Hsi. Mas, de repente, eis que ele esta­va ligado em espírito ao missionário. Abandonara todos os ídolos; dizia-se que os queimara! Deixara de adorar as tá­buas ancestrais. Não havia mais o cheiro de incenso na sua casa. E o que era ainda mais estranho: o senhor Hsi desis­tira de fumar ópio!
Os velhos recordavam que Shansi fora uma das províncias mais prósperas da China e contavam como fora introduzido o "fumo estrangeiro", isto é, o ópio. O vício se tornara tão generalizado que todo o povo estava reduzido à maior pobreza. Nem mesmo os mais velhos se recordavam de alguém, habituado a fumar ópio, que, no decorrer dos anos, se libertasse do vício. Contudo, o erudito Hsi aban­donara, por completo, seu aparelho de fumar e parecia não sentir a ânsia que sentem os que são privados da droga en­torpecente.O tempo que passara outrora preparando e fumando o ópio, ele agora o empregava nas práticas, para eles estra­nhas, da nova religião. Dia e noite o recém-convertido se aplicava ao estudo dos "livros dos estrangeiros"; às vezes cantava de uma maneira singular e outras vezes de joelhos e, com os olhos fechados, falava ao "Deus dos estrangei­ros", o Deus que ninguém via e que não tinha santuário para localizar-se.
Dia após dia a senhora Hsi notava a grande transfor­mação da vida do marido e começou a abandonar o intenso ódio que sentiu quando ele se converteu. Ao acordar-se de noite, via-o absorto, lendo o precioso Livro dos livros, ou ajoelhado suplicando ao Deus invisível, que sentia estar presente. A persistência do homem em ajuntar todos os membros da família diariamente para os cultos estranhos, foi tal, que ganhou, também, sua esposa para Cristo.
Para o crente Hsi, Satanás era o temível adversário que realmente é, sempre incansável e constantemente esprei­tando para derrubar e destruir os crentes. Contudo, para ele o poder de Cristo era igualmente real e Hsi saía mais que vencedor em todas as dificuldades. Considerava a ora­ção indispensável e não muito depois de se converter che­gou a reconhecer o valor de jejuar para melhor orar.
Foi então que aconteceu a coisa menos esperada: a pró­pria natureza da senhora Hsi parecia mudada. Ao conver­ter-se, tornara-se profundamente alegre e recebia as lições das Escrituras avidamente. O marido esperava que breve ela se tornasse uma verdadeira companheira na obra de ganhar almas. Mas, repentinamente, parecia pairar sobre ela uma nuvem do mal. Apesar de todos os esforços, sen­tia-se levada, contra a própria vontade, a praticar tudo quanto o Diabo sugerisse. Caía, especialmente na hora de culto doméstico, com ataques violentos de cólera.
O povo então dizia: "O Hsi e sua esposa estão ceifando o que semearam! É, como afirmamos desde o começo, uma doutrina do Diabo e agora a senhora Hsi está possuída de demônios."
Durante algum tempo o inimigo das almas parecia in­vencível. A senhora Hsi, apesar de todas as orações dos crentes, continuava a definhar, ficando quase sem forças.
Nesta altura, Hsi, confiando no poder de Deus, chamou todos os membros da família para jejuarem e dedicarem-se à oração. Depois de orarem três dias e três noites seguidas, em jejum, Hsi, sentindo-se fraco no físico, mas forte no espírito, pôs as mãos sobre a cabeça da esposa e ordenou, em nome de Jesus, que os espíritos imundos saíssem para nunca mais a atormentarem. A cura da senhora Hsi foi tão notável e completa que houve grande repercussão em toda a cidade. O povo reconhecera o poder dos demônios sobre o corpo e ali, diante dos olhos, estava agora a prova de um poder maior do que o do Diabo.
Mas foi o senhor Hsi, mais que qualquer outra pessoa, que se aproveitou dessa sensacional maravilha. Esforçou-se, desde então, de uma maneira nova, a proclamar o Evangelho e dedicou-se, com crescente fé em Cristo, a orar sob todas as circunstâncias.
Assim, de uma maneira simples e natural, Hsi confiava que o Senhor faria o que prometera em Marcos 16.17,18: "Estes sinais acompanharão aos que crerem: Em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes;e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados."
Em resposta à oração desse humilde crente, o Senhor cooperava com ele e confirmava a Palavra com sinais como em Samaria, Lida, e outros lugares nos tempos dos apósto­los. E, como os tempos antigos, homens e mulheres, ao ve­rem o poder de Deus, convertiam-se ao Senhor.
Nunca antes houve alguém para contrariar a Satanás em toda a província de Shan-si; portanto não é de admirar que então ele se enfurecesse. Isso também foi como nos tempos antigos.
A perseguição, entretanto, se tornou mais e mais severa até que, por fim, o povo planejou, ao tempo de uma grande festa pagã, passar cordas por cima dos caibros nos templos idólatras e pendurar todos os crentes pelas mãos até que se retratassem e negassem a fé na "religião dos estrangeiros".
Ora, Hsi era tão prático como espiritual e levou o caso ao conhecimento das autoridades. Era novato na fé e não conhecia bem trechos das Escrituras como estes: "Não re­sistais ao mal" e "Minha é a vingança, eu recompensarei, diz o Senhor". Fez tão grande alvoroço perante o manda­rim que este, para se ver livre do homem, mandou soldados para defenderem os crentes.
A perseguição, por isso, fracassou; o povo, assombrado da "religião dos estrangeiros", submeteu-se; e grandes multidões afluíram aos cultos. Contudo, Hsi, com o passar do tempo, sentia-se descontente; os crentes não se desen­volviam como ele esperava. As pequenas igrejas, apesar de todos os seus esforços para alimentá-las, não cresciam e, com qualquer perturbação, grande número de crentes se desviava da fé.
O seguinte, que se encontra entre os seus próprios escri­tos, mostra como, nesse tempo, viu seu erro e se deu à ora­ção:
"Por causa das investidas de Satanás, dormimos, eu e minha esposa, durante o espaço de três anos, com a roupa que vestíamos de dia, a fim de melhor podermos vigiar e orar. Às vezes, num lugar solitário, passávamos toda a noi­te orando e o Espírito Santo descia sobre nós... Sempre cuidávamos de pensar, falar e nos comportar de modo a agradar ao Senhor, mas então reconhecíamos como nunca, a nossa fraqueza; que de fato não éramos coisa alguma, e nos esforçávamos para saber a vontade de Deus."
Não há maior prova, talvez, de verdadeira conversão do que a influência sobre o próximo. Depois de Hsi procurar estar mais perto do Senhor, foi eleito chefe pelo povo do vi­larejo onde morava, cargo que recusou de início porque não podia participar dos ritos no templo pagão. Mas esse fato foi previsto pelo povo, de modo que insistiram para que aceitasse a magistratura, com a condição de ficar desobrigado de quaisquer solenidades que diziam respeito aos deuses."É somente ele nos mandar e nós faremos", dizia a multidão. Porém quando Hsi recusou, a não ser que o povo cessasse todas as cerimônias pagãs e fechasse o seu templo, todos voltaram para casa.
Grande foi, pois, a surpresa quando, alguns dias de­pois, o povo voltou e concordou em fechar o templo. O eru­dito Hsi era o único entre eles liberto do ópio e capacitado para chefiar o povo.
O fervoroso crente, então, assumiu o cargo, como um serviço a ser feito perante o Senhor; houve boa safra, bom êxito na parte financeira e prevaleceram a paz e o conten­tamento. Foi reeleito para o segundo ano e para o terceiro. Mas quando reeleito para o quarto ano, recusou o cargo, insistindo em dizer que devia entregar todo o seu tempo na obra de evangelização, obra que aumentara grandemente. Quando o povo o elogiava pela boa maneira como servia a todos, ele respondia, com um sorriso: "Agora os ídolos por certo já morreram de fome e seria mais econômico se os não ressuscitásseis."
Foi uma lição prática e que perdurou por muito tempo.
O grande problema que o Pastor Hsi tinha de enfrentar era o da salvação de um povo dado a fumar ópio. Devia ha­ver um meio para libertar os infelizes escravos do desespe­ro indescritível, porque o Filho de Deus veio com o alvo de­finido de procurar e salvar os perdidos.
Enquanto o Pastor Hsi orava sobre esse problema, foi dirigido a converter a sua casa em Abrigo e convidou para o ajudar um missionário que tinha um remédio para ali­viar a ânsia dos viciados quando privados da droga. No iní­cio somente dois dos interessados tinham a coragem de ex­perimentar o tratamento; os outros frequentavam o Abri­go, dia após dia, para verem o resultado.
Por fim, um dos pacientes, agonizante de corpo e men­te, acordou os outros à meia-noite. Em resposta à oração, o Senhor, que é o mesmo ontem, hoje e para sempre, o ali­viou imediatamente. O gozo do homem que fora liberto era tanto, que um após outro dos mais interessados solicitaram permissão para começarem o tratamento imediata­mente.
Nessa altura faltou-lhes o remédio importado que usa­vam para diminuir os sofrimentos dos enfermos. Acerca disso, assim escreveu o fervoroso Hsi: "Em oração e jejum permaneci perante o Senhor, rogando que me mostrasse quais os ingredientes necessários e me fortalecesse e aju­dasse a preparar as pílulas para aliviar os que sofriam."
Para distrair os pacientes e aproveitar o ensejo, o mis­sionário ensinava-lhes hinos e passagens da Bíblia; reali­zava cultos duas vezes por dia e fazia os interessados repe­tir, hora após hora, trechos das Escrituras. Quando lhes faltava outro recurso, recorriam às pílulas preparadas pelo pastor Hsi, as quais faziam o mesmo efeito do remédio im­portado. Contudo o fiel Hsi não confiava nas pílulas, nem as fabricava sem antes jejuar e orar. Costumava, ao fabri­car as pílulas, passar o dia inteiro jejuando. Às vezes, de tarde, estando demasiadamente cansado para continuar de pé, saía para passar alguns minutos perante Deus. "Se­nhor é a tua obra. Dá-me a tua força", era o seu pedido e sempre voltava renovado como se tivesse comido e descan­sado.
Um dos segredos do incrível êxito do Pastor Hsi, na obra do Abrigo, era a audácia do seu amor para com os in­felicitados cativos do vício do ópio; amor que o levou a per­sistir e sacrificar tudo por eles. Quando caíam em alguma falta, ou mesmo tramavam para o derrubar, suportava tudo como somente o amor sabe suportar.
Quanto mais o pastor Hsi orava tanto mais Deus au­mentava a obra; e quanto mais crescia a obra, tanto mais ele sentia o anelo de orar. Em vez de ficar escravizado pe­las inumeráveis obrigações, deliberadamente dedicava ho­ras e mesmo dias, freqüentemente em jejum, para orar pe­rante o Senhor, a fim de saber a sua vontade e receber da sua plenitude.
Certo dia, quando assim orava, o Senhor o impressio­nou profundamente acerca do povo da cidade de Chao-ch'eng, que vivia e morria sem saber o caminho da salva­ção. - Mas como podia ele abrir outro abrigo em uma cida­de da qual não conhecia os costumes? Como podia arranjar tempo? Porém enquanto orava o Senhor lhe disse: "Todo o poder me é dado." Mas como podia ir, sem recursos; não possuía dinheiro suficiente para pagar a passagem até aquela cidade. Continuou a orar e o Senhor continuou a aplainar as dificuldades. - "Dinheiro? era de dinheiro que precisava para abrir os corações e ganhar almas? Se o Se­nhor chamava, não supriria Ele todo o necessário? Os mu­ros de Jericó não caíram rentes ao chão, sem a intervenção de mãos humanas?..."
"Assim, ao findar o ano de 1884, cinco anos depois da sua conversão, o pastor Hsi era o dirigente de uma obra que se estendia de Teng-ts'uen, ao sul de onde morava, até Chao-ch'eng sessenta quilômetros para o norte. Havia en­tão oito abrigos e um bom número de congregações espa­lhadas entre eles.
Mas o pastor Hsi não podia conter-se. À distância de um dia de viagem ainda mais ao norte, estava a grande ci­dade do Hoh-chau. Constrangido pelo amor de Deus, su­plicava ao Senhor que o usasse para abrir a obra ali. Todos os dias orava insistentemente por Hoh-chau, no culto do­méstico. Por fim, a senhora Hsi não mais se conteve e per­guntou: - "Já oramos durante tanto tempo, será que agora não convém agir?"
- "Por certo, se tivéssemos dinheiro?", respondeu seu marido.
No dia seguinte, o pastor Hsi, no culto doméstico, orou como de costume. Ao findar o culto, a esposa, em vez de re­tirar-se, avançou e colocou um pacotinho sobre a mesa, di­zendo: "Acho que o Senhor já respondeu às nossas súplicas."
Admirado e ignorando o que ela queria fazer, com aquele gesto, tomou o pacote da mesa. Continha algo pesa­do, embrulhado em várias tiras de papel, e dentro do papel um lenço. Ao abrir o lenço, encontrou os objetos mais pre­zados por uma senhora chinesa: anéis, pulseiras, brincos, grampos de ouro e de prata - objetos que lhe foram presen­teados quando se casaram.
Com os olhos cheios de lágrimas, ele olhou para a espo­sa, notando, pela primeira vez, a diferença na sua aparên­cia, sem os enfeites usados pelas mulheres casadas. Nãohavia mais aliança no dedo; em vez dos enfeites de prata nos cabelos, viam-se as trancas seguras por fios de barban­te!
Quando ele quis recusar a oferta, ela insistia alegre­mente, dizendo: "Não faz mal. Posso dispensar essas coi­sas. Hoh-chau deve ter o Evangelho."
O pastor aceitou a oferta de sua esposa, oferta que re­presentava profundo sacrifício, mas era suficiente para abrir o abrigo, que logo se tornou um centro de luz e bên­ção na grande cidade.
Depois de abrir o trabalho em Hoh-chau, realizou-se uma convenção na qual foram batizados setenta dos novos convertidos. O poder de Deus era tal e a assistência tão grande a essas reuniões que foi necessário realizar os cultos ao ar livre, apesar das grandes chuvas. Isso aconteceu após um grande período de seca, e os crentes não queriam orar ao Senhor que retivesse a chuva.
Certo moço endemoninhado, do Abrigo de Chao-ch'eng, assistiu a essa convenção. Ao cair o poder de Deus sobre os cultos, ele se tornou violento, tentando destruir-se e ferir as pessoas que estavam em redor. Quando o pastor Hsi se aproximou, o moço deixou de gritar e de lutar; os homens que o seguravam, disseram: "Ele está bom! Agora está bom! O espírito já saiu.
O pastor, contudo, não se enganou; pondo as mãos sobre a cabeça do moço, orou com instância, no nome de Jesus. Houve alívio imediato e quando o pastor se retirou o moço parecia completamente liberto.
Certo crente, comovido ao presenciar tudo isso, tirou cinqüenta dólares do bolso e disse ao pastor: "Aceite isso; sei que as despesas da obra são grandes."
O pastor, surpreendido, aceitou o dinheiro, mas ao pen­sar sobre o caso, sentiu-se turbado; a importância era mui­to elevada e aceitara-a sem pedir conselho ao Senhor. Reti­rou-se imediatamente para levar o caso a Deus.
Apenas tinha começado a orar, chegou um crente, apressadamente. O endemoninhado estava mais violento do que nunca, e os homens não podiam segurá-lo.
Ao chegar o pastor à presença do moço, o espírito cla­mou: "Podes vir, mas não te temo mais. Parecias tão elevado como os céus, mas agora és baixo, vil e insignificante! Não mais tens poder para me domar!"
O Pastor, reconhecendo que perdera a fé e o poder, ao aceitar o dinheiro, dirigiu-se ao crente que lho dera, en­quanto o infeliz endemoninhado blasfemava em alta voz. Devolveu toda a importância, explicando como, ao receber o dinheiro, perdera seu contato com Deus.
Depois, com as mãos vazias, mas com o coração cheio de gozo, voltou novamente para onde estava a multidão al­voroçada. O moço continuava furioso; porém o pastor esta­va em contato com o Mestre. Calmamente, e em nome de Jesus, ordenou ao espírito que se calasse e saísse. O moço, deu um grito, foi lançado ao chão pelo demônio, onde ficou alguns minutos contorcendo-se em dores agonizantes. En­tão se levantou, com o corpo abatido, mas completamente liberto do espírito maligno.
Certo missionário escreveu o seguinte acerca de Hsi:
"O pastor Hsi era perenemente alegre; servia ao próxi­mo incansavelmente; tratava a todas as pessoas com a maior delicadeza. Nunca se comportou levianamente, nem desperdiçou o tempo em assuntos desnecessários. Ganhar almas era a paixão da sua vida... Era impossível estar com o pastor Hsi sem orar. Seu instinto em tudo era o de olhar para Deus. Muito antes de clarear o dia, ouvia-o, no seu quarto orando e cantando horas a fio. A oração se parecia com a atmosfera em que vivia e ele esperava e recebia de Deus as mais destacadas respostas.
"Lembro-me de que certa vez, quando viajava com ele, hospedamo-nos em uma pequena pensão. Foi procurado por uma mulher que tinha uma criança de colo enferma e que sofria muito. Homens e mulheres em todos os lugares por onde ele passava também o procuravam. Reconheciam que era homem de Deus e que podia socorrê-los. O pastor Hsi imediatamente ficou em pé, cumprimentou a mulher com o filhinho; tomou o mesmo nos braços e orou pedindo a Deus que o curasse. A mulher, grandemente consolada, partiu. Algumas horas depois vi o menino são, correndo e brincando. Tais acontecimentos eram comuns.
"Nunca me esquecerei da convenção realizada em P'ing-vang. Ao aproximarmo-nos do local, durante a noite,ouvi os crentes chorando e orando em voz baixa. Ali estava o querido pastor Hsi juntamente com um grande número de irmãos, todos ajoelhados, clamando ao Senhor e supli­cando que salvasse seus parentes e amigos... Acreditavam no poder da oração, e se dedicavam à intercessão...
"Durante todo o inverno, o pastor Hsi esteve sob o po­der do Espírito e transmitia esse poder ao próximo. Quan­do encontrava um auxiliar passando por alguma prova, jejuava, orava e impunha-lhe as mãos. O resultado era que, geralmente, os auxiliares recebiam o mesmo poder.
"Nesse tempo, também havia grande falta de sujeição à Palavra de Deus. O pastor Hsi, porém, em tudo entrega­va-se à oração; no decorrer dos anos, tornou-se poderoso em expor as Escrituras".
A força e a resistência que manifestava sob provações físicas e mentais eram extraordinárias; recebia virtude de Deus para realizar a obra divina. Quando já velho, podia andar quarenta e cinco quilômetros de uma vez, e depois de jejuar por dois dias seguidos, podia ainda batizar cinquenta pessoas sem descansar, e sem interrupção.
Por fim, com a idade de sessenta anos, no meio da lida desta vida, Deus o chamou. Na mesma sala onde, antes da sua conversão fumava ópio, passou alguns meses de cama, sem qualquer sofrimento, apenas com as forças quase com­pletamente esgotadas. Ao fechar os olhos aqui no mundo, na manhã do dia 19 de fevereiro de 1896, para ir estar na presença de seu Senhor, centenas de seus filhos na fé, que o amavam ardentemente, não puderam mais conter-se, rompendo em grande choro e fortes soluços.
Durante a vida aqui entregou tudo ao Senhor. Para ele, não existia coisa demasiado preciosa, que não pudesse  usá-la para o seu Jesus. Não havia labor árduo demais, se pu­desse ganhar uma alma pela qual seu Salvador morrera. Nunca encontrou "cruz" pesada, se pudesse levá-la por amor de Cristo. Jamais julgou o caminho difícil, tratando-se de seguir as pisadas de seu Mestre.
Assim o fiel pastor Hsi foi promovido para fazer serviço mais alto, mais sublime, para estar em mais íntima liga­ção com Jesus.A obra pioneira que deixou em Chao-eh'eng, Teng-ts'uen, Hoh-chau, T'ai-yuan, Ping-yang e dezenas de ou­tros lugares, é como pujante fortaleza e como resplande­cente farol, dissipando as trevas do paganismo na China. Os abrigos e as igrejas fundados nesses lugares permane­cem como imponente monumento à sua memória.
(extraido do livro hérois da fé)
HUDSON TAYLOR
O PAI DAS MISSÕES NO INTERIOR DA CHINA
(1832-1905) - Tiago Taylor tinha-se levantado cedo de madrugada. Chegara por fim o auspicioso e anunciado dia de seu casa­mento; o moço ocupava-se em arrumar tudo para receber a noiva na casa que iam ocupar. Enquanto trabalhava, esta­va meditando sobre as ocorrências recentes na aldeola.
Duas famílias, a dos Cooper e a dos Shaw, converte­ram-se e convidaram João Wesley a pregar na feira. O ve­lho discursou sobre "a ira vindoura" de tal maneira, que o povo desistiu da amarga perseguição, deixando o intrépido pregador hospedar-se na casa do senhor Shaw.
Enquanto Tiago preparava a casa para a chegada da noiva, ouvia-se a voz da vizinha, a senhora Shaw, cantan­do. Lembrou-se de como ela, meses antes, passava todo o tempo acamada, gemendo dia após dia por causa do reu­matismo que a deixara aleijada. Mas quando "confiou no Senhor", como disse, para a cura imediata, grande foi a transformação. E indizível foi a surpresa do marido ao vol­tar a casa: a esposa não somente estava curada e de pé, mas estava varrendo a cozinha!Tiago Taylor odiava a religião. Ainda mais: esse era o dia em que se ia casar. Depois do casamento iam dançar e beber como se fazia em tais ocasiões. Mas não podia livrar-se das palavras, talvez ouvidas do sermão do pregador: "Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor."
Sim, ia ter uma esposa e assumir as responsabilidades de marido e de pai de família. Grande tinha sido seu des­cuido. Resolvido, então, a entrar seriamente na vida de ca­sado, começou a repetir as palavras: "Serviremos ao Se­nhor!"
As horas se passavam. O sol subia mais e mais sobre as casas cobertas de neve. Mas o jovem Tiago, esquecido de tudo que é material, e tomado pela realidade das coisas eternas, permaneceu de joelhos, face a face com Deus. O amor do Salvador, por fim, venceu o seu coração e Tiago Taylor levantou-se com a alma cheia do Senhor Jesus.
Podemos imaginar como os sinos dobraram, como a noiva e os convivas se impacientaram, nesse dia. Já havia passado a hora para o culto de casamento quando o jovem despertou do enlevo com Deus e se levantou da oração. De­pois de vestir-se, venceu rapidamente os três quilômetros até o vilarejo de Royston.
Sem perderem tempo em perguntar ao rapaz a razão de tanto atraso, realizou-se o culto, e Tiago e Elisabete saí­ram da igreja, casados. O jovem não vacilou, mas ao sair contou tudo acerca da sua conversão, ao ouvido de Bete. Ao ouvir o que ele relatava, ela exclamou em tom de deses­pero: "Casei-me, então, com um desses metodistas!"
Não houve dança nesse dia; a voz e o violino do noivo foram usados para glorificar o Mestre. Bete, apesar de sa­ber em seu coração que Tiago tinha razão, continuou a re­sistir e a queixar-se dia após dia. Então, certo dia, quando se mostrava ainda mais contrariada, o robusto Tiago le­vantou-a nos braços e a levou para o quarto, onde se ajoe­lhou ao seu lado, derramando a sua alma em oração por ela. Comovida pela profundeza da mágoa e cuidado que Tiago sentia por sua alma, ela começou a sentir também seu pecado e, no dia seguinte, de joelhos, ao lado do mari­do, Elisabete Taylor clamou a Deus, renunciando a vaida­de do mundo e entregando-se a Cristo.É, assim, com os bisavós, que começa a verdadeira bio­grafia do herói da fé, Hudson Taylor. Os avós e os pais, na mesma ordem, criaram seus filhos no mesmo temor de Deus.
Num memorável dia, antes do nascimento de Hudson, o primogênito da família, o pai procurou a sua esposa para conversar sobre uma passagem das Escrituras que o im­pressionava profundamente. Na sua Bíblia leu para ela uma parte dos capítulos 13 de Êxodo e 3 de Números: "Santifica-me todo o primogênito... Todo o primogênito meu é... Meus serão... Apartarás para o Senhor..."
Os dois conversaram muito tempo sobre o gozo que es­peravam ter. Então, de joelhos, entregaram seu primogêni­to ao Senhor, pedindo que desde já ele o separasse para a sua obra.
Tiago Taylor, o pai de Hudson, não somente orava fer­vorosamente por seus cinco filhos, mas ensinou-os a pedi­rem detalhadamente a Deus todas as coisas. Ajoelhados, diariamente, ao lado da cama, o pai colocava o braço ao re­dor de cada um enquanto orava insistentemente por ele. Desejava que cada membro da família passasse, também, ao menos meia hora, todos os dias, perante Deus, renovan­do a alma por meio de oração e estudo das Escrituras.
A porta fechada do quarto da sua mãe, diariamente ao meio-dia, apesar das suas constantes e inumeráveis obri­gações, tinha também grande influência sobre todos, pois sabiam que ela, assim, se prostrava perante Deus para re­novar suas forças e para que o próximo se sentisse atraído ao Amigo invisível que habitava nela.
Não é de admirar, portanto, que, ao crescer, Hudson se consagrasse inteiramente a Deus. O grande segredo do seu incrível êxito é que em tudo que carecia, no sentido espiri­tual ou material, recorria a Deus e recebia dos tesouros in­finitos.
Contudo, não devemos julgar que a mocidade de Hud­son Taylor fosse isenta de grandes lutas. Como acontece com muitos, o moço chegou à idade de dezessete anos sem reconhecer Cristo como seu Salvador. Acerca disso ele es­creveu mais tarde: "Pode ser coisa estranha, mas sou grato pelo tempo que passei no ceticismo. O absurdo de crentes que professam crer na Bíblia enquanto se comportam justamente como se não existisse tal livro, era um dos maiores argumentos dos meus companheiros céticos. Frequentemente afirmava que, se eu aceitasse a Bíblia, ao menos faria tudo para se­guir o que ela ensina e no caso de achar que tal coisa não era prática, lançaria tudo fora. Foi essa a minha resolução quando o Senhor me salvou. Acho que desde então real­mente provei a Palavra de Deus. Certamente nunca me ar­rependi de confiar nas suas promessas ou de seguir a sua direção.
"Quero relatar então como Deus respondeu às orações da minha mãe e da minha querida irmã, por minha con­versão:
"Certo dia, para mim inesquecível,... para me divertir, escolhi um tratado na biblioteca de meu pai. Pensei em ler o começo da história e não ler a exortação do fim.
"Eu não sabia o que acontecia ao mesmo tempo no co­ração da minha querida mãe, que estava a mais de cem quilômetros de casa. Ela levantara-se da mesa anelando a salvação de seu filho. Estando longe da família e livre da lida doméstica, entrou no seu quarto, resolvida a não sair antes de receber a resposta às suas orações. Orou hora após hora, até que, por fim, só podia louvar a Deus: o Espírito Santo revelou-lhe que o filho por quem orava já se havia convertido.
"Eu, como já mencionei, fui dirigido ao mesmo tempo a ler o tratado. Fui atraído pelas palavras: A obra consuma­da. Perguntei-me a mim mesmo: "Por. que o escritor não escreveu: A obra propiciatória? Qual é a obra consuma­da?" Então vi que a propiciação de Cristo era plena e per­feita. Toda a dívida de nossos pecados ficou paga e não res­tava coisa alguma que eu fizesse. Então raiou em mim a gloriosa convicção; fui iluminado pelo Espírito Santo, para reconhecer que eu somente precisava de prostrar-me e, aceitando o Salvador e a sua salvação, louvá-lo para todo o sempre.
"Assim, enquanto a minha querida mãe, no seu quarto, de joelhos, estava louvando a Deus, eu também louvava a Deus na biblioteca de meu pai, onde entrara para ler o li­vrinho."
Foi assim que Hudson Taylor aceitou, para a sua pró­pria vida, a obra propiciatória de Cristo, um ato que trans­formou todo o resto da sua vida. Acerca da sua consagra­ção, ele escreveu:
"Lembro-me bem da ocasião, quando, com gozo no co­ração, derramei a alma perante Deus, repentinamente, confessando-me grato e cheio de amor porque Ele tinha feito tudo - salvando-me quando eu não tinha mais espe­rança, nem queria a salvação. Supliquei-lhe que me conce­desse uma obra para fazer, como expressão do meu amor e gratidão, algo que envolvesse abnegação, fosse o que fosse; algo para agradar a quem fizera tanto para mim. Lembro-me de como, sem reserva, consagrei tudo, colocando a mi­nha própria pessoa, a minha vida, os amigos, tudo sobre o altar. Com a certeza de que a oferta fora aceita, a presença de Deus se tornou verdadeiramente real e preciosa. Pros­trei-me em terra perante Ele, humilhado e cheio de indizí­vel gozo. Para que serviço fora aceito eu não sabia. Mas fui possuído de uma certeza tão profunda de não pertencer mais a mim mesmo, que esse entendimento, depois domi­nou toda a minha vida".
O moço que entrou no quarto para estar sozinho com Deus nesse dia, não era o mesmo quando dali saiu. Um alvo e um poder se apossaram dele. Não mais ficou satis­feito em somente alimentar a sua própria alma nos cultos; começou a sentir a sua responsabilidade para com o próxi­mo - anelava tratar dos negócios de seu Pai. Regozijava-se com riquezas e bênçãos indizíveis. E, como os leprosos no arraial dos siros, Hudson e sua irmã, Amélia, diziam: Não fazemos bem; este dia é de boas novas, e nos calamos. De­sistiram, pois, de assistir aos cultos aos domingos à noite e saíram para anunciar a mensagem, de casa em casa, entre as classes mais pobres da cidade. Mas Hudson Taylor não se sentia satisfeito; sabia que ainda não estava no centro da vontade de Deus. Na angústia de seu espírito, como aquele da antiguidade, clamou: Não te deixarei ir, se me não abençoares. Então, sozinho e de joelhos, surgiu na sua alma um grande propósito: se Deus rompesse o poder do pecado e o salvasse em espírito, alma e corpo para toda a eternidade, ele renunciaria tudo na terra para ficar sempre ao seu dispor. Acerca desta experiência, foi ele mesmo que se expressou:
"Nunca me esquecerei do que senti então; não há pala­vras para descrever. Senti-me na presença de Deus, en­trando numa aliança com o Todo-poderoso. Pareceu-me que ouvi enunciadas as palavras: Tua oração é ouvida; to­das condições são aceitas.' Desde então nunca duvidei da convicção de que Deus me chamava a trabalhar na China."
A chamada de Deus, apesar de Hudson Taylor quase nunca a mencionar, ardia como um fogo dentro do seu co­ração. Copiamos a seguir o seguinte trecho de uma das car­tas enviada a sua irmã:
"Imagina, centenas de milhões de almas sem Deus, sem esperança, na China! Parece incrível; milhões de pes­soas morrem dentro de um ano sem qualquer conforto do Evangelho!... Quase ninguém liga importância à China, onde habita cerca da quarta parte da raça humana... Ora por mim, querida Amélia, pedindo ao Senhor que me dê mais da mente de Cristo... Eu oro no armazém, na estreba­ria, em qualquer canto onde posso estar sozinho com Deus. E ele me concede tempos gloriosos... Não é justo esperar que V... (a noiva de Hudson) vá comigo para morrer no es­trangeiro. Sinto profundamente deixá-la, mas meu Pai sabe qual é a melhor coisa e não me negará coisa alguma que seja boa..."
A falta de espaço não permite relatarmos aqui o heroís­mo da fé que o jovem mostrou suportando os sacrifícios e as privações necessárias para cursar a escola de medicina e de cirurgia para melhor servir o povo da China.
Antes de embarcar, escreveu estas palavras à sua mãe: "Anelo estar aí uma vez mais e sei que a senhora quer ver­me, mas acho melhor não nos abraçarmos um ao outro mais, pois isso seria encontrarmo-nos para logo nos sepa­rarmos para todo o sempre..." Contudo a sua mãe foi ao porto de onde o navio se ia fazer à vela. Alguns anos depois ele assim registrou a partida:"A minha querida mãe, que agora está com Cristo, veio a Liverpool para despedir-se de mim. Nunca me esquece­rei de como ela entrou comigo no camarote em que eu ia morar quase seis longos meses. Com o carinho de mãe, en­direitou os cobertores da pequena cama. Assentou-se ao meu lado e cantamos o último hino antes de nos separar­mos um do outro. Ajoelhamo-nos e ela orou. Foi a última oração de minha mãe antes de eu partir para a China. Ou­viu-se então o sinal para que todos os que não eram passa­geiros saíssem do navio. Despedimo-nos um do outro, sem a esperança de nos encontrarmos outra vez... Ao passar o navio pelas comportas, e quando a separação começou a ser realidade, do seu coração saiu um grito de angústia tão comovente, que jamais esquecerei. Foi como que meu cora­ção fosse traspassado por uma faca. Nunca reconheci tão plenamente até então, o que significam as palavras: Pois assim amou Deus ao mundo. Estou certo de que a minha preciosa mãe, nessa ocasião, chegou a compreender mais do amor de Deus para com um mundo que perece do que em qualquer outro tempo da sua vida. Oh! como se entris­tece o coração de Deus ao ver como seus filhos fecham os ouvidos à chamada divina para salvar o mundo pelo qual seu amado, seu único Filho sofreu e morreu!"
Os passageiros de navios modernos conhecem muito pouco do incômodo de viajar em navio à vela. Depois de uma das muitas tempestades por que passou o "Dum­fries", o nosso herói escreveu: "A maior parte do que pos­suo está molhado. O camarote do comissário, coitado, inundou-se..." Somente pelas orações e grandes esforços de todos a bordo é que conseguiram salvar as próprias vi­das quando o navio, levado por grande temporal, estava prestes a naufragar nas pedras da praia de Gales. A viagem que esperavam realizar em quarenta dias levou cinco me­ses e meio! Somente em 1 de março de 1854, Hudson Taylor, com a idade de vinte e um anos, conseguiu desembar­car em Shanghai, quando então ele escreveu estas impres­sões:
"Não posso descrever o que senti ao pisar em terra. Pa­recia-me que o coração ia estourar; as lágrimas de gratidão e gozo corriam-me pelas faces. "Sobreveio-lhe, então, uma grande onda de saudade; não havia amigos, nem conhecidos, nem qualquer pessoa em todo o país para saudá-lo bem-vindo nem mesmo al­guém que conhecesse o seu nome.
Nesse tempo a China era terra incógnita, a não ser os cinco portos no litoral, abertos à residência de estrangei­ros. Foi na casa de um missionário em Shanghai, um dos cinco portos, que o moço achou hospedagem.
A vitória em todas as variadas provações nesse tempo era devida à característica mais saliente de Hudson Tay­lor, talvez a de nunca ficar parado na sua obra, fosse qual fosse o contratempo.
Durante os primeiros três meses na China, distribuiu 1.800 Novos Testamentos e Evangelhos e mais de 2 mil li­vros. Durante o ano de 1855, fez oito viagens - uma de tre­zentos quilômetros, subindo o rio Yangtzé. Em outra via­gem visitou cinquenta e uma cidades onde nunca antes se ouvira a mensagem do Evangelho. Nessas viagens foi sem­pre prevenido do perigo que corria a sua vida entre um povo que nunca tinha visto estrangeiros.
Para ganhar mais almas para Cristo, apesar da censura dos demais missionários, adotou o hábito de vestir-se como os chineses. Rapou a cabeça na frente, deixando o resto dos cabelos a formar trança comprida. A calça, que tinha mais de meio metro de folga, ele a segurava conforme o costume, com um cinto. As meias eram de chita branca, o calçado de cetim. O manto pendendo dos ombros, sobressaía-lhe a ponta dos dedos das mãos mais que setenta centímetros.
Mas uma das cruzes mais pesadas que o nosso herói teve de levar foi a falta de dinheiro, quando a missão que o enviara se achava sem recursos.
Em 20 de janeiro de 1858, Hudson Taylor casou-se com Maria Dyer, uma missionária de talento na China. Desse enlace nasceram cinco filhos. A casa em que moraram pri­meiro, na cidade de Ningpo, tornou-se depois o berço da famosa Missão do Interior da China.
As privações e os encargos de serviço em Shanghai, Ningpo e outros lugares eram tais que Hudson Taylor, an­tes de completar seis anos na China, foi obrigado a voltar à Inglaterra para recuperar a saúde. Foi para ele quase como que uma sentença de morte quando os médicos informa­ram-lhe de que nunca mais devia voltar à China.
Entretanto, o fato de perecerem mais de um milhão de almas todos os meses na China era uma realidade para Hudson Taylor; com seu espírito indômito, ao chegar à In­glaterra, iniciou imediatamente a tarefa de preparar um hinário e a revisão do Novo Testamento para os novos con­vertidos que deixara na China. Usando ainda o traje de chinês, trabalhava tendo o mapa da China na parede e a Bíblia sempre aberta sobre a mesa. Depois de alimentar-se e fartar-se da Palavra de Deus, fitava o mapa, lembrando-se dos que não tinham tais riquezas. Todos os problemas ele os levava a Deus; não havia coisa alguma demasiado grande, nem tão insignificante, que a não deixasse com o Senhor em oração.
Em razão de suas atividades, estava tão sobrecarrega­do de correspondência e nos trabalhos dos cultos em prol da China, que após a sua chegada passaram-se mais de vinte dias antes de conseguir abraçar seus queridos pais em Bransley.
Passava, às vezes, a manhã, outras vezes a tarde, em jejum e oração. O seguinte trecho que ele escreveu mostra como a sua alma continuou a arder nos seus discursos nas igrejas da Inglaterra, sobre a obra missionária.
"Havia a bordo, entre os companheiros de viagem, cer­to chinês que se chamava Pedro. Passara alguns anos na Inglaterra, mas, apesar de conhecer algo do Evangelho, não reconhecia coisa alguma do seu poder para salvar. Senti-me ligado a ele e esforcei-me em orar e falar para levá-lo a Cristo. Mas quando o navio se aproximava de Sung-Kiang e eu me preparava para ir a terra, pregar e distribuir trata­dos, ouvi o grito de um homem que caíra na água. Fui ao convés com os outros - Pedro tinha desaparecido.
"Imediatamente arriamos as velas, mas a correnteza da maré era tal que não tínhamos a certeza do lugar onde o homem caíra. Vi alguns pescadores próximos, que usavam uma rede varredoura. Angustiado clamei:
- Venham passar a rede aqui, pois um homem está morrendo afogado!- Veh bin, foi a resposta inesperada, isto é, "Não é conveniente".
- Não falem se é ou não é conveniente. Venham depres­sa antes que o homem pereça.
- Estamos pescando.
- Eu sei! Mas venham imediatamente e pagarei bem.
- Quanto nos quer dar?
- Cinco dólares, mas não fiquem conversando. Salvem o homem sem demora!
- Cinco dólares não basta - responderam eles. Não o fa­remos por menos de trinta dólares.
- Mas não tenho tanto! - darei tudo que eu tenho.
- Quanto tem o senhor?
- Não sei - porém não é mais do que catorze dólares. "Então os pescadores vieram, passaram a rede no lugar indicado. Logo à primeira vez apanharam o corpo do ho­mem. Mas todos os meus esforços para restaurar-lhe a res­piração foram inúteis. Uma vida fora sacrificada pela indi­ferença dos que podiam salvá-la quase sem esforço."
Ao ouvirem contar esta história, uma onda de indigna­ção passou por todo o grande auditório. Haveria em todo o mundo um povo tão endurecido e interesseiro como esse! Mas ao continuar o seu discurso, a convicção feriu ainda mais o coração dos ouvintes.
- "O corpo então tem mais valor que a alma? Censura­mos esses pescadores, dizendo que foram culpados da mor­te de Pedro, porque era coisa fácil salvá-lo. - Mas que acontece com os milhões que estamos deixando perecer para toda a eternidade? Que diremos acerca da ordem implícita: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura? Deus nos diz também: 'Livra os que estão des­tinados à morte, e os que são levados para a matança, se os puderes retirar. Se disseres: eis que não o sabemos; por­ventura aquele que pondera os corações não o considerará? e aquele que atenta a tua alma não o saberá? não pagará ele ao homem conforme a sua obra?'
- "Credes que cada pessoa entre esses milhões da Chi­na, tem uma alma imortal e que não há outro nome debai­xo do céu, dado entre os homens a não ser o precioso nome de Jesus, pelo qual devamos ser salvos? - Credes que Ele, Ele só, é o Caminho, a Verdade e a Vida e que ninguém vai ao Pai senão por Ele? Se assim o credes, examinai-vos a vós mesmos para ver se estais fazendo todo o possível para levar seu nome a todos.
"Ninguém deve dizer que não é chamado para ir à Chi­na. Ao enfrentar tais fatos, todas as pessoas precisam sa­ber se têm uma chamada para ficarem em casa. Amigo, se não tens certeza de uma chamada para continuar onde es­tás, como podes desobedecer à clara ordem do Salvador, para ir? - Se estás certo, contudo, de estares no lugar onde Cristo quer, não por causa do conforto ou dos cuidados da vida, então estás tu orando como convém a favor dos mi­lhões de perdidos da China? Estás tu usando teus recursos para a salvação deles?"
Certo dia, não muito depois de haver regressado à In­glaterra, Hudson Taylor, ao completar a estatística, veio a saber que o número de missionários evangélicos na China diminuira em vez de aumentar. Apesar de a metade da po­pulação pagã estar na China, o número de missionários durante o ano tinha diminuído de cento e quinze para so­mente noventa e um. Começaram a soar aos ouvidos do missionário estas palavras: "Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; não avisando tu, não falando para avisar o ímpio acerca do seu caminho ímpio, para salvar a sua vida. aquele ímpio morrerá na sua maldade, mas o seu sangue da tua mão o requererei".
Era um domingo, 25 de junho de 1865, de manhã, à bei­ra-mar. Hudson Taylor, cansado e doente, estava com al­guns amigos em Brighton. Mas não podendo suportar mais o regozijo da multidão na casa de Deus, retirou-se para an­dar sozinho nas areias da maré vazante. Tudo em redor era paz e bonança, mas na alma do missionário rugia uma tempestade. Por fim, com alívio indizível, clamou: "Tu, Senhor, tu podes assumir todo o encargo. Com tua chama­da, e como teu servo, avançarei, deixando tudo nas tuas mãos."
Assim "a Missão do Interior da China foi concebida na sua alma e todas as etapas do seu progresso realizaram-se por seus esforços. Na calma do seu coração, na comunhão profunda e indizível com Deus, originou-se a missão. "Com o lápis na mão, abriu a Bíblia e, enquanto as on­das do vasto mar batiam aos seus pés, escreveu as simples mas memoráveis palavras: "Orei em Brighton pedindo vinte e quatro trabalhadores competentes e dispostos, em 25 de junho de 1865".
Mais tarde, recordando-se da vitória dessa ocasião es­creveu:
"Grande foi o alívio de espírito que senti ao regressar da praia. Depois de findar o conflito, tudo era gozo e paz. Parecia que me faltava muito pouco para voar até a casa do senhor Pearse. Na noite desse dia dormi profundamen­te. A querida esposa achou que a visita a Brighton serviu para renovar-me maravilhosamente. Era verdade!"
O vitorioso missionário, juntamente com a família e os vinte e quatro chamados por Deus, embarcaram em Lon­dres, no "Lammermuir", para a China em 26 de setembro de 1865. O anelante alvo de todos era o de erguer a bandei­ra de Cristo nas onze províncias ainda não ocupadas da China. Alguns dos amigos os animaram, mas outros disse­ram: "Todo o mundo ficará esquecido dos irmãos. Sem uma junta aqui na Inglaterra ninguém se importará com a obra por muito tempo. Promessas são fáceis de fazer hoje em dia; dentro de pouco tempo não terão o pão cotidiano".
A viagem levou mais que quatro meses. Acerca de uma das tempestades, um dos missionários escreveu:
"Durante todo o temporal, o senhor Taylor se compor­tou com a maior calma. Por fim os marinheiros recusaram-se a trabalhar. O comandante aconselhou todos a bordo a amarrarem os cintos de salvação, dizendo que o navio não resistiria à força das ondas mais que duas horas. Nessa al­tura, o comandante avançou na direção dos marinheiros com o revólver na mão. O senhor Taylor então aproximou-se dele e pediu-lhe que não obrigasse dessa forma os mari­nheiros a trabalhar. O missionário dirigiu-se também aos homens e explicou-lhes que Deus ia salvá-los, mas que eram necessários os maiores esforços de todas as pessoas a bordo. Acrescentou que tanto ele como todos os passagei­ros estavam prontos a ajudá-los, e que, como era evidente, as vidas deles também corriam perigo. Os homens conven­cidos por esses argumentos começaram a tirar os destroços, ajudados por todos nós; em pouco tempo conseguimos amarrar os grandes mastros, que batiam com tanta força que estavam demolindo um lado do navio".
Foram horas de grande regozijo quando o "Lammer­muir", por fim, aportou, com todos sãos a bordo, em Shanghai. Outro navio que chegou logo após, perdera de­zesseis das vinte e duas pessoas a bordo!
Os missionários iniciaram o ano de 1867 com um dia de jejum e oração, pedindo, como Jabez, que Deus os aben­çoasse e estendesse os seus termos. O Senhor os ouviu dan­do-lhes entrada, durante o ano, em outras tantas cidades! Encerraram o ano com outro dia de jejum e oração. Um culto durou das onze da manhã às três da tarde, sem nin­guém se sentir enfadado. Outro culto se realizou às 8,30 da noite quando sentiram ainda mais a unção do Espírito Santo. Continuaram juntos em oração até a meia-noite, quando celebraram a Ceia do Senhor.
No início de 1867, o Senhor chamou Graça Taylor, filha de Hudson Taylor, para o Lar Eterno, quando ela comple­tava oito anos de idade. No ano seguinte, a senhora Taylor e o filho, Noel, faleceram de cólera. Foi assim que se ex­pressou o pai e marido:
"Ao amanhecer o dia, apareceu à luz do sol o que fora ocultado pela luz de vela - a cor característica da morte no rosto da minha esposa. O meu amor não podia ignorar por mais, não somente o seu estado grave, mas que realmente ela estava morrendo. Ao conseguir acalmar o meu espírito, eu lhe disse:
- Sabes, querida, que estás morrendo?
- Morrendo! Achas que sim? Por que pensas tal coisa?
- Posso ver, que sim, querida. As tuas forças estão se acabando.
- Será mesmo? Não sinto qualquer dor, apenas cansa­ço.
- Sim, estás saindo para a Casa Paterna. Brevemente estarás com Jesus.
"Minha preciosa esposa, lembrando-se de mim e de como eu devia ficar sozinho, em um tempo de tão grandes lutas, privado da companheira com a qual tinha o costume de levar tudo ao trono da graça, disse:- Sinto muito!
Então ela parou, como que querendo corrigir o que dis­sera, porém eu lhe perguntei:
- Estás triste por causa da partida para estar com Jesus?
"Nunca me esquecerei de como ela olhou para mim e respondeu:
- Oh! não. Bem sabes, querido, que durante mais de dez anos, não houve sombra alguma entre mim e meu Sal­vador. Não estou triste por causa da partida para estar com Ele, mas me entristeço porque terás de ficar sozinho nessas lutas. Contudo... Ele estará contigo e suprirá tudo o que é mister."
"Nunca presenciei uma cena tão comovente" - escre­veu o senhor Duncan. - "Com a última respiração da que­rida senhora Taylor, o senhor Taylor caiu de joelhos, o co­ração transbordando, e a entregou ao Senhor, agradecen­do-lhe a dádiva e os doze anos e meio que passaram juntos. Agradeceu-lhe, também, pela bênção de Ele mesmo a le­var para a sua presença. Então, solenemente dedicou-se a si mesmo novamente ao serviço do Mestre.
Não é de supor que Satanás deixasse a Missão do Inte­rior da China invadir seu território com vinte e quatro ou­tros obreiros, sem incitar o povo a maior perseguição. Fo­ram distribuídos em muitos lugares, impressos atribuindo aos estrangeiros os mais horripilantes e bárbaros crimes, especialmente aos que propagavam a religião de Jesus. Al­voroçaram-se cidades inteiras e muitos dos missionários ti­veram de abandonar tudo e fugir para escapar com vida.
Quase seis anos depois de o grupo do "Lammermuir" haver desembarcado na China, Hudson Taylor estava no­vamente na Inglaterra. Durante esse tempo da obra na China, a missão aumentava de duas estações com sete obreiros, para treze estações com mais de trinta missionários e cinquenta obreiros, estando separadas as estações, uma da outra, na média de cento e vinte quilômetros.
Foi durante essa visita à Inglaterra que Hudson Taylor se casou com Miss Faulding, também fiel e provada mis­sionária na China.
Acerca de Hudson Taylor, nesse tempo, certa pessoa amiga, escreveu:
"O senhor Taylor anunciou um hino, sentou-se ao har­mônio e tocou. Não fui atraído por sua personalidade. Era de físico franzino e falou com voz mansa. Como os demais jovens, eu julgava que uma grande voz sempre acompa­nhava um verdadeiro prestígio. Mas quando ele disse: 'O­remos e nos dirigiu em oração, mudei de parecer; eu nunca ouvira alguém orar como ele. Havia na sua oração uma ousadia, um poder que fez todas as pessoas presentes se humilharem e sentirem-se na presença de Deus. Falava face a face com Deus como um homem com um amigo. Sem dúvida, tal oração era o fruto de longa permanência com o Senhor; era como o orvalho descendo dos céus. Te­nho ouvido muitos homens orarem, mas não ouvi ninguém como o senhor Taylor e o senhor Spurgeon. Ninguém, de­pois de ouvir como esses homens oravam, pode esquecer-se de tais orações. Foi a maior experiência da minha vida ou­vir o senhor Spurgeon, quando tomou, como se fosse a mão do auditório de seis mil pessoas e as levou ao Santo dos Santos. E ouvir o senhor Taylor rogar pela China era reco­nhecer algo do que significa a súplica fervorosa do justo. "
Foi em 1874 quando, com a esposa, subiam o grande rio Yangtze e ele meditava sobre as nove províncias que se es­tendiam dos trópicos de Burma ao planalto de Mongólia e as montanhas de Tibete, que Hudson Taylor escreveu:
"A minha alma anseia, e o coração arde pela evangeli­zação de centenas de milhões de habitantes dessas provín­cias sem obreiros. Oh! se eu tivesse cem vidas a dar ou gas­tar por eles!"
Mas, no meio da viagem, receberam notícias da morte da fiel missionária Amélia Blatchley, na Inglaterra. Ela não somente cuidava dos filhos do senhor Taylor, mas também servia como secretária da Missão.
Grande foi a tristeza de Hudson Taylor ao chegar à In­glaterra e achar não somente os seus queridos filhos sepa­rados e espalhados, mas a obra da Missão quase paralisa­da. Mas isso não foi ainda a sua maior tristeza. Na sua via­gem pelo rio Yangtze, o senhor Taylor, ao descer a escada do navio, levou uma grande queda, caiu sobre os calcanhares e de tal maneira que o choque ofendeu a espinha dorsal. Depois que chegou à Inglaterra o incômodo da queda agra­vou-se até ele ficar acamado. Sobreveio-lhe então a maior crise da sua vida, justamente quando havia maior necessi­dade de seus esforços. Completamente paralítico das per­nas, tinha de passar todo o tempo deitado de costas!
Uma pequena cama era a sua prisão; é melhor dizer que era a sua oportunidade. Ao pé da cama, na parede, es­tava afixado um mapa da China. E ao redor dele, de dia e de noite, estava a presença divina.
Aí, de costas, mês após mês, permaneceu o nosso herói, rogando e suplicando ao Senhor a favor da China. Foi-lhe concedida a fé para pedir que Deus enviasse dezoito mis­sionários. Em resposta aos seus apelos para oração, escri­tos com a maior dificuldade e publicados no jornal, sessen­ta moços responderam de uma vez. Dentre eles, vinte e quatro foram escolhidos. Ali, ao lado do leito, ele iniciou aulas para os futuros missionários e ensinou-lhes as pri­meiras lições da língua chinesa - e o Senhor os enviou para a China.
Lê-se o seguinte acerca de como o missionário inutiliza­do em corpo, nesse tempo, ficou bom:
"Ele foi tão maravilhosamente curado, em resposta à oração, que podia cumprir com um incrível número de suas obrigações. Passou quase todo o tempo das férias, com seus filhos em Guernsey, escrevendo. Durante os quinze dias que passou ali, apesar de desejar compartilhar da delícia da linda praia, com seus filhos, saiu com eles ape­nas uma vez. Mas as cartas que enviou para a China e ou­tros lugares valiam mais do que ouro."
Certo missionário assim escreveu acerca de uma visita que lhe fez na China:
"Nunca me esquecerei do gozo e da amável maneira com que me saudou. Conduziu-me logo para o 'escritório' da Missão do Interior da China. Devo dizer que foi para mim uma surpresa, ou choque, ou ambas as coisas. Os 'móveis' eram caixotes. Uma mesa estava coberta de inú­meros papéis e cartas. Ao lado do lume havia uma cama, bem arrumada, tendo um pedaço de tapete a servir de cobertor. Nessa cama o senhor Taylor descansava de dia e de noite.
"O senhor Taylor, sem qualquer palavra de desculpa, deitou-se na cama e travamos a palestra mais preciosa da minha vida. Toda a idéia que eu tinha das qualificações para ser um 'grande homem' foi completamente mudada; não havia nele coisa alguma do espírito de superioridade. Vi nele o ideal de Cristo, da verdadeira grandeza, tão evi­dente que permanece ainda no meu coração, através dos anos, até o presente momento. Hudson Taylor reconhecia profundamente que, para evangelizar os milhões da China, era imperioso que os crentes na Inglaterra mostrassem muito mais de abnegação e sacrifício. - Mas como podia ele insistir em sacrifício sem primeiramente praticá-lo na sua própria vida? Assim ele, deliberadamente, cortou da sua vida toda a aparência de conforto e luxo.
"Nas viagens pelo interior da China, ele, invariavel­mente, se levantava para passar uma hora com Deus antes de clarear o dia, às vezes, para depois dormir novamente. Quando eu despertava para alimentar os animais, sempre o achava lendo a Bíblia à luz de vela. Fosse qual fosse o ambiente ou o barulho nas hospedarias imundas, não des­cuidava o hábito de ler a Bíblia. Geralmente em tais via­gens, orava de bruços, porque lhe faltavam as forças  usá-la para o seu Jesus. Não havia labor árduo demais, se pu­desse ganhar uma alma pela qual seu Salvador morrera. Nunca encontrou "cruz" pesada, se pudesse levá-la por amor de Cristo. Jamais julgou o caminho difícil, tratando-se de seguir as pisadas de seu Mestre.
Assim o fiel pastor Hsi foi promovido para fazer serviço mais alto, mais sublime, para estar em mais íntima liga­ção com Jesus.A obra pioneira que deixou em Chao-eh'eng, Teng-ts'uen, Hoh-chau, T'ai-yuan, Ping-yang e dezenas de ou­tros lugares, é como pujante fortaleza e como resplande­cente farol, dissipando as trevas do paganismo na China. Os abrigos e as igrejas fundados nesses lugares permane­cem como imponente monumento à sua memória.
(extraido do livro hérois da fé)
HUDSON TAYLOR
O PAI DAS MISSÕES NO INTERIOR DA CHINA
(1832-1905) - Tiago Taylor tinha-se levantado cedo de madrugada. Chegara por fim o auspicioso e anunciado dia de seu casa­mento; o moço ocupava-se em arrumar tudo para receber a noiva na casa que iam ocupar. Enquanto trabalhava, esta­va meditando sobre as ocorrências recentes na aldeola.
Duas famílias, a dos Cooper e a dos Shaw, converte­ram-se e convidaram João Wesley a pregar na feira. O ve­lho discursou sobre "a ira vindoura" de tal maneira, que o povo desistiu da amarga perseguição, deixando o intrépido pregador hospedar-se na casa do senhor Shaw.
Enquanto Tiago preparava a casa para a chegada da noiva, ouvia-se a voz da vizinha, a senhora Shaw, cantan­do. Lembrou-se de como ela, meses antes, passava todo o tempo acamada, gemendo dia após dia por causa do reu­matismo que a deixara aleijada. Mas quando "confiou no Senhor", como disse, para a cura imediata, grande foi a transformação. E indizível foi a surpresa do marido ao vol­tar a casa: a esposa não somente estava curada e de pé, mas estava varrendo a cozinha!Tiago Taylor odiava a religião. Ainda mais: esse era o dia em que se ia casar. Depois do casamento iam dançar e beber como se fazia em tais ocasiões. Mas não podia livrar-se das palavras, talvez ouvidas do sermão do pregador: "Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor."
Sim, ia ter uma esposa e assumir as responsabilidades de marido e de pai de família. Grande tinha sido seu des­cuido. Resolvido, então, a entrar seriamente na vida de ca­sado, começou a repetir as palavras: "Serviremos ao Se­nhor!"
As horas se passavam. O sol subia mais e mais sobre as casas cobertas de neve. Mas o jovem Tiago, esquecido de tudo que é material, e tomado pela realidade das coisas eternas, permaneceu de joelhos, face a face com Deus. O amor do Salvador, por fim, venceu o seu coração e Tiago Taylor levantou-se com a alma cheia do Senhor Jesus.
Podemos imaginar como os sinos dobraram, como a noiva e os convivas se impacientaram, nesse dia. Já havia passado a hora para o culto de casamento quando o jovem despertou do enlevo com Deus e se levantou da oração. De­pois de vestir-se, venceu rapidamente os três quilômetros até o vilarejo de Royston.
Sem perderem tempo em perguntar ao rapaz a razão de tanto atraso, realizou-se o culto, e Tiago e Elisabete saí­ram da igreja, casados. O jovem não vacilou, mas ao sair contou tudo acerca da sua conversão, ao ouvido de Bete. Ao ouvir o que ele relatava, ela exclamou em tom de deses­pero: "Casei-me, então, com um desses metodistas!"
Não houve dança nesse dia; a voz e o violino do noivo foram usados para glorificar o Mestre. Bete, apesar de sa­ber em seu coração que Tiago tinha razão, continuou a re­sistir e a queixar-se dia após dia. Então, certo dia, quando se mostrava ainda mais contrariada, o robusto Tiago le­vantou-a nos braços e a levou para o quarto, onde se ajoe­lhou ao seu lado, derramando a sua alma em oração por ela. Comovida pela profundeza da mágoa e cuidado que Tiago sentia por sua alma, ela começou a sentir também seu pecado e, no dia seguinte, de joelhos, ao lado do mari­do, Elisabete Taylor clamou a Deus, renunciando a vaida­de do mundo e entregando-se a Cristo.É, assim, com os bisavós, que começa a verdadeira bio­grafia do herói da fé, Hudson Taylor. Os avós e os pais, na mesma ordem, criaram seus filhos no mesmo temor de Deus.
Num memorável dia, antes do nascimento de Hudson, o primogênito da família, o pai procurou a sua esposa para conversar sobre uma passagem das Escrituras que o im­pressionava profundamente. Na sua Bíblia leu para ela uma parte dos capítulos 13 de Êxodo e 3 de Números: "Santifica-me todo o primogênito... Todo o primogênito meu é... Meus serão... Apartarás para o Senhor..."
Os dois conversaram muito tempo sobre o gozo que es­peravam ter. Então, de joelhos, entregaram seu primogêni­to ao Senhor, pedindo que desde já ele o separasse para a sua obra.
Tiago Taylor, o pai de Hudson, não somente orava fer­vorosamente por seus cinco filhos, mas ensinou-os a pedi­rem detalhadamente a Deus todas as coisas. Ajoelhados, diariamente, ao lado da cama, o pai colocava o braço ao re­dor de cada um enquanto orava insistentemente por ele. Desejava que cada membro da família passasse, também, ao menos meia hora, todos os dias, perante Deus, renovan­do a alma por meio de oração e estudo das Escrituras.
A porta fechada do quarto da sua mãe, diariamente ao meio-dia, apesar das suas constantes e inumeráveis obri­gações, tinha também grande influência sobre todos, pois sabiam que ela, assim, se prostrava perante Deus para re­novar suas forças e para que o próximo se sentisse atraído ao Amigo invisível que habitava nela.
Não é de admirar, portanto, que, ao crescer, Hudson se consagrasse inteiramente a Deus. O grande segredo do seu incrível êxito é que em tudo que carecia, no sentido espiri­tual ou material, recorria a Deus e recebia dos tesouros in­finitos.
Contudo, não devemos julgar que a mocidade de Hud­son Taylor fosse isenta de grandes lutas. Como acontece com muitos, o moço chegou à idade de dezessete anos sem reconhecer Cristo como seu Salvador. Acerca disso ele es­creveu mais tarde: "Pode ser coisa estranha, mas sou grato pelo tempo que passei no ceticismo. O absurdo de crentes que professam crer na Bíblia enquanto se comportam justamente como se não existisse tal livro, era um dos maiores argumentos dos meus companheiros céticos. Frequentemente afirmava que, se eu aceitasse a Bíblia, ao menos faria tudo para se­guir o que ela ensina e no caso de achar que tal coisa não era prática, lançaria tudo fora. Foi essa a minha resolução quando o Senhor me salvou. Acho que desde então real­mente provei a Palavra de Deus. Certamente nunca me ar­rependi de confiar nas suas promessas ou de seguir a sua direção.
"Quero relatar então como Deus respondeu às orações da minha mãe e da minha querida irmã, por minha con­versão:
"Certo dia, para mim inesquecível,... para me divertir, escolhi um tratado na biblioteca de meu pai. Pensei em ler o começo da história e não ler a exortação do fim.
"Eu não sabia o que acontecia ao mesmo tempo no co­ração da minha querida mãe, que estava a mais de cem quilômetros de casa. Ela levantara-se da mesa anelando a salvação de seu filho. Estando longe da família e livre da lida doméstica, entrou no seu quarto, resolvida a não sair antes de receber a resposta às suas orações. Orou hora após hora, até que, por fim, só podia louvar a Deus: o Espírito Santo revelou-lhe que o filho por quem orava já se havia convertido.
"Eu, como já mencionei, fui dirigido ao mesmo tempo a ler o tratado. Fui atraído pelas palavras: A obra consuma­da. Perguntei-me a mim mesmo: "Por. que o escritor não escreveu: A obra propiciatória? Qual é a obra consuma­da?" Então vi que a propiciação de Cristo era plena e per­feita. Toda a dívida de nossos pecados ficou paga e não res­tava coisa alguma que eu fizesse. Então raiou em mim a gloriosa convicção; fui iluminado pelo Espírito Santo, para reconhecer que eu somente precisava de prostrar-me e, aceitando o Salvador e a sua salvação, louvá-lo para todo o sempre.
"Assim, enquanto a minha querida mãe, no seu quarto, de joelhos, estava louvando a Deus, eu também louvava a Deus na biblioteca de meu pai, onde entrara para ler o li­vrinho."
Foi assim que Hudson Taylor aceitou, para a sua pró­pria vida, a obra propiciatória de Cristo, um ato que trans­formou todo o resto da sua vida. Acerca da sua consagra­ção, ele escreveu:
"Lembro-me bem da ocasião, quando, com gozo no co­ração, derramei a alma perante Deus, repentinamente, confessando-me grato e cheio de amor porque Ele tinha feito tudo - salvando-me quando eu não tinha mais espe­rança, nem queria a salvação. Supliquei-lhe que me conce­desse uma obra para fazer, como expressão do meu amor e gratidão, algo que envolvesse abnegação, fosse o que fosse; algo para agradar a quem fizera tanto para mim. Lembro-me de como, sem reserva, consagrei tudo, colocando a mi­nha própria pessoa, a minha vida, os amigos, tudo sobre o altar. Com a certeza de que a oferta fora aceita, a presença de Deus se tornou verdadeiramente real e preciosa. Pros­trei-me em terra perante Ele, humilhado e cheio de indizí­vel gozo. Para que serviço fora aceito eu não sabia. Mas fui possuído de uma certeza tão profunda de não pertencer mais a mim mesmo, que esse entendimento, depois domi­nou toda a minha vida".
O moço que entrou no quarto para estar sozinho com Deus nesse dia, não era o mesmo quando dali saiu. Um alvo e um poder se apossaram dele. Não mais ficou satis­feito em somente alimentar a sua própria alma nos cultos; começou a sentir a sua responsabilidade para com o próxi­mo - anelava tratar dos negócios de seu Pai. Regozijava-se com riquezas e bênçãos indizíveis. E, como os leprosos no arraial dos siros, Hudson e sua irmã, Amélia, diziam: Não fazemos bem; este dia é de boas novas, e nos calamos. De­sistiram, pois, de assistir aos cultos aos domingos à noite e saíram para anunciar a mensagem, de casa em casa, entre as classes mais pobres da cidade. Mas Hudson Taylor não se sentia satisfeito; sabia que ainda não estava no centro da vontade de Deus. Na angústia de seu espírito, como aquele da antiguidade, clamou: Não te deixarei ir, se me não abençoares. Então, sozinho e de joelhos, surgiu na sua alma um grande propósito: se Deus rompesse o poder do pecado e o salvasse em espírito, alma e corpo para toda a eternidade, ele renunciaria tudo na terra para ficar sempre ao seu dispor. Acerca desta experiência, foi ele mesmo que se expressou:
"Nunca me esquecerei do que senti então; não há pala­vras para descrever. Senti-me na presença de Deus, en­trando numa aliança com o Todo-poderoso. Pareceu-me que ouvi enunciadas as palavras: Tua oração é ouvida; to­das condições são aceitas.' Desde então nunca duvidei da convicção de que Deus me chamava a trabalhar na China."
A chamada de Deus, apesar de Hudson Taylor quase nunca a mencionar, ardia como um fogo dentro do seu co­ração. Copiamos a seguir o seguinte trecho de uma das car­tas enviada a sua irmã:
"Imagina, centenas de milhões de almas sem Deus, sem esperança, na China! Parece incrível; milhões de pes­soas morrem dentro de um ano sem qualquer conforto do Evangelho!... Quase ninguém liga importância à China, onde habita cerca da quarta parte da raça humana... Ora por mim, querida Amélia, pedindo ao Senhor que me dê mais da mente de Cristo... Eu oro no armazém, na estreba­ria, em qualquer canto onde posso estar sozinho com Deus. E ele me concede tempos gloriosos... Não é justo esperar que V... (a noiva de Hudson) vá comigo para morrer no es­trangeiro. Sinto profundamente deixá-la, mas meu Pai sabe qual é a melhor coisa e não me negará coisa alguma que seja boa..."
A falta de espaço não permite relatarmos aqui o heroís­mo da fé que o jovem mostrou suportando os sacrifícios e as privações necessárias para cursar a escola de medicina e de cirurgia para melhor servir o povo da China.
Antes de embarcar, escreveu estas palavras à sua mãe: "Anelo estar aí uma vez mais e sei que a senhora quer ver­me, mas acho melhor não nos abraçarmos um ao outro mais, pois isso seria encontrarmo-nos para logo nos sepa­rarmos para todo o sempre..." Contudo a sua mãe foi ao porto de onde o navio se ia fazer à vela. Alguns anos depois ele assim registrou a partida:"A minha querida mãe, que agora está com Cristo, veio a Liverpool para despedir-se de mim. Nunca me esquece­rei de como ela entrou comigo no camarote em que eu ia morar quase seis longos meses. Com o carinho de mãe, en­direitou os cobertores da pequena cama. Assentou-se ao meu lado e cantamos o último hino antes de nos separar­mos um do outro. Ajoelhamo-nos e ela orou. Foi a última oração de minha mãe antes de eu partir para a China. Ou­viu-se então o sinal para que todos os que não eram passa­geiros saíssem do navio. Despedimo-nos um do outro, sem a esperança de nos encontrarmos outra vez... Ao passar o navio pelas comportas, e quando a separação começou a ser realidade, do seu coração saiu um grito de angústia tão comovente, que jamais esquecerei. Foi como que meu cora­ção fosse traspassado por uma faca. Nunca reconheci tão plenamente até então, o que significam as palavras: Pois assim amou Deus ao mundo. Estou certo de que a minha preciosa mãe, nessa ocasião, chegou a compreender mais do amor de Deus para com um mundo que perece do que em qualquer outro tempo da sua vida. Oh! como se entris­tece o coração de Deus ao ver como seus filhos fecham os ouvidos à chamada divina para salvar o mundo pelo qual seu amado, seu único Filho sofreu e morreu!"
Os passageiros de navios modernos conhecem muito pouco do incômodo de viajar em navio à vela. Depois de uma das muitas tempestades por que passou o "Dum­fries", o nosso herói escreveu: "A maior parte do que pos­suo está molhado. O camarote do comissário, coitado, inundou-se..." Somente pelas orações e grandes esforços de todos a bordo é que conseguiram salvar as próprias vi­das quando o navio, levado por grande temporal, estava prestes a naufragar nas pedras da praia de Gales. A viagem que esperavam realizar em quarenta dias levou cinco me­ses e meio! Somente em 1 de março de 1854, Hudson Taylor, com a idade de vinte e um anos, conseguiu desembar­car em Shanghai, quando então ele escreveu estas impres­sões:
"Não posso descrever o que senti ao pisar em terra. Pa­recia-me que o coração ia estourar; as lágrimas de gratidão e gozo corriam-me pelas faces. "Sobreveio-lhe, então, uma grande onda de saudade; não havia amigos, nem conhecidos, nem qualquer pessoa em todo o país para saudá-lo bem-vindo nem mesmo al­guém que conhecesse o seu nome.
Nesse tempo a China era terra incógnita, a não ser os cinco portos no litoral, abertos à residência de estrangei­ros. Foi na casa de um missionário em Shanghai, um dos cinco portos, que o moço achou hospedagem.
A vitória em todas as variadas provações nesse tempo era devida à característica mais saliente de Hudson Tay­lor, talvez a de nunca ficar parado na sua obra, fosse qual fosse o contratempo.
Durante os primeiros três meses na China, distribuiu 1.800 Novos Testamentos e Evangelhos e mais de 2 mil li­vros. Durante o ano de 1855, fez oito viagens - uma de tre­zentos quilômetros, subindo o rio Yangtzé. Em outra via­gem visitou cinquenta e uma cidades onde nunca antes se ouvira a mensagem do Evangelho. Nessas viagens foi sem­pre prevenido do perigo que corria a sua vida entre um povo que nunca tinha visto estrangeiros.
Para ganhar mais almas para Cristo, apesar da censura dos demais missionários, adotou o hábito de vestir-se como os chineses. Rapou a cabeça na frente, deixando o resto dos cabelos a formar trança comprida. A calça, que tinha mais de meio metro de folga, ele a segurava conforme o costume, com um cinto. As meias eram de chita branca, o calçado de cetim. O manto pendendo dos ombros, sobressaía-lhe a ponta dos dedos das mãos mais que setenta centímetros.
Mas uma das cruzes mais pesadas que o nosso herói teve de levar foi a falta de dinheiro, quando a missão que o enviara se achava sem recursos.
Em 20 de janeiro de 1858, Hudson Taylor casou-se com Maria Dyer, uma missionária de talento na China. Desse enlace nasceram cinco filhos. A casa em que moraram pri­meiro, na cidade de Ningpo, tornou-se depois o berço da famosa Missão do Interior da China.
As privações e os encargos de serviço em Shanghai, Ningpo e outros lugares eram tais que Hudson Taylor, an­tes de completar seis anos na China, foi obrigado a voltar à Inglaterra para recuperar a saúde. Foi para ele quase como que uma sentença de morte quando os médicos informa­ram-lhe de que nunca mais devia voltar à China.
Entretanto, o fato de perecerem mais de um milhão de almas todos os meses na China era uma realidade para Hudson Taylor; com seu espírito indômito, ao chegar à In­glaterra, iniciou imediatamente a tarefa de preparar um hinário e a revisão do Novo Testamento para os novos con­vertidos que deixara na China. Usando ainda o traje de chinês, trabalhava tendo o mapa da China na parede e a Bíblia sempre aberta sobre a mesa. Depois de alimentar-se e fartar-se da Palavra de Deus, fitava o mapa, lembrando-se dos que não tinham tais riquezas. Todos os problemas ele os levava a Deus; não havia coisa alguma demasiado grande, nem tão insignificante, que a não deixasse com o Senhor em oração.
Em razão de suas atividades, estava tão sobrecarrega­do de correspondência e nos trabalhos dos cultos em prol da China, que após a sua chegada passaram-se mais de vinte dias antes de conseguir abraçar seus queridos pais em Bransley.
Passava, às vezes, a manhã, outras vezes a tarde, em jejum e oração. O seguinte trecho que ele escreveu mostra como a sua alma continuou a arder nos seus discursos nas igrejas da Inglaterra, sobre a obra missionária.
"Havia a bordo, entre os companheiros de viagem, cer­to chinês que se chamava Pedro. Passara alguns anos na Inglaterra, mas, apesar de conhecer algo do Evangelho, não reconhecia coisa alguma do seu poder para salvar. Senti-me ligado a ele e esforcei-me em orar e falar para levá-lo a Cristo. Mas quando o navio se aproximava de Sung-Kiang e eu me preparava para ir a terra, pregar e distribuir trata­dos, ouvi o grito de um homem que caíra na água. Fui ao convés com os outros - Pedro tinha desaparecido.
"Imediatamente arriamos as velas, mas a correnteza da maré era tal que não tínhamos a certeza do lugar onde o homem caíra. Vi alguns pescadores próximos, que usavam uma rede varredoura. Angustiado clamei:
- Venham passar a rede aqui, pois um homem está morrendo afogado!- Veh bin, foi a resposta inesperada, isto é, "Não é conveniente".
- Não falem se é ou não é conveniente. Venham depres­sa antes que o homem pereça.
- Estamos pescando.
- Eu sei! Mas venham imediatamente e pagarei bem.
- Quanto nos quer dar?
- Cinco dólares, mas não fiquem conversando. Salvem o homem sem demora!
- Cinco dólares não basta - responderam eles. Não o fa­remos por menos de trinta dólares.
- Mas não tenho tanto! - darei tudo que eu tenho.
- Quanto tem o senhor?
- Não sei - porém não é mais do que catorze dólares. "Então os pescadores vieram, passaram a rede no lugar indicado. Logo à primeira vez apanharam o corpo do ho­mem. Mas todos os meus esforços para restaurar-lhe a res­piração foram inúteis. Uma vida fora sacrificada pela indi­ferença dos que podiam salvá-la quase sem esforço."
Ao ouvirem contar esta história, uma onda de indigna­ção passou por todo o grande auditório. Haveria em todo o mundo um povo tão endurecido e interesseiro como esse! Mas ao continuar o seu discurso, a convicção feriu ainda mais o coração dos ouvintes.
- "O corpo então tem mais valor que a alma? Censura­mos esses pescadores, dizendo que foram culpados da mor­te de Pedro, porque era coisa fácil salvá-lo. - Mas que acontece com os milhões que estamos deixando perecer para toda a eternidade? Que diremos acerca da ordem implícita: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura? Deus nos diz também: 'Livra os que estão des­tinados à morte, e os que são levados para a matança, se os puderes retirar. Se disseres: eis que não o sabemos; por­ventura aquele que pondera os corações não o considerará? e aquele que atenta a tua alma não o saberá? não pagará ele ao homem conforme a sua obra?'
- "Credes que cada pessoa entre esses milhões da Chi­na, tem uma alma imortal e que não há outro nome debai­xo do céu, dado entre os homens a não ser o precioso nome de Jesus, pelo qual devamos ser salvos? - Credes que Ele, Ele só, é o Caminho, a Verdade e a Vida e que ninguém vai ao Pai senão por Ele? Se assim o credes, examinai-vos a vós mesmos para ver se estais fazendo todo o possível para levar seu nome a todos.
"Ninguém deve dizer que não é chamado para ir à Chi­na. Ao enfrentar tais fatos, todas as pessoas precisam sa­ber se têm uma chamada para ficarem em casa. Amigo, se não tens certeza de uma chamada para continuar onde es­tás, como podes desobedecer à clara ordem do Salvador, para ir? - Se estás certo, contudo, de estares no lugar onde Cristo quer, não por causa do conforto ou dos cuidados da vida, então estás tu orando como convém a favor dos mi­lhões de perdidos da China? Estás tu usando teus recursos para a salvação deles?"
Certo dia, não muito depois de haver regressado à In­glaterra, Hudson Taylor, ao completar a estatística, veio a saber que o número de missionários evangélicos na China diminuira em vez de aumentar. Apesar de a metade da po­pulação pagã estar na China, o número de missionários durante o ano tinha diminuído de cento e quinze para so­mente noventa e um. Começaram a soar aos ouvidos do missionário estas palavras: "Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; não avisando tu, não falando para avisar o ímpio acerca do seu caminho ímpio, para salvar a sua vida. aquele ímpio morrerá na sua maldade, mas o seu sangue da tua mão o requererei".
Era um domingo, 25 de junho de 1865, de manhã, à bei­ra-mar. Hudson Taylor, cansado e doente, estava com al­guns amigos em Brighton. Mas não podendo suportar mais o regozijo da multidão na casa de Deus, retirou-se para an­dar sozinho nas areias da maré vazante. Tudo em redor era paz e bonança, mas na alma do missionário rugia uma tempestade. Por fim, com alívio indizível, clamou: "Tu, Senhor, tu podes assumir todo o encargo. Com tua chama­da, e como teu servo, avançarei, deixando tudo nas tuas mãos."
Assim "a Missão do Interior da China foi concebida na sua alma e todas as etapas do seu progresso realizaram-se por seus esforços. Na calma do seu coração, na comunhão profunda e indizível com Deus, originou-se a missão. "Com o lápis na mão, abriu a Bíblia e, enquanto as on­das do vasto mar batiam aos seus pés, escreveu as simples mas memoráveis palavras: "Orei em Brighton pedindo vinte e quatro trabalhadores competentes e dispostos, em 25 de junho de 1865".
Mais tarde, recordando-se da vitória dessa ocasião es­creveu:
"Grande foi o alívio de espírito que senti ao regressar da praia. Depois de findar o conflito, tudo era gozo e paz. Parecia que me faltava muito pouco para voar até a casa do senhor Pearse. Na noite desse dia dormi profundamen­te. A querida esposa achou que a visita a Brighton serviu para renovar-me maravilhosamente. Era verdade!"
O vitorioso missionário, juntamente com a família e os vinte e quatro chamados por Deus, embarcaram em Lon­dres, no "Lammermuir", para a China em 26 de setembro de 1865. O anelante alvo de todos era o de erguer a bandei­ra de Cristo nas onze províncias ainda não ocupadas da China. Alguns dos amigos os animaram, mas outros disse­ram: "Todo o mundo ficará esquecido dos irmãos. Sem uma junta aqui na Inglaterra ninguém se importará com a obra por muito tempo. Promessas são fáceis de fazer hoje em dia; dentro de pouco tempo não terão o pão cotidiano".
A viagem levou mais que quatro meses. Acerca de uma das tempestades, um dos missionários escreveu:
"Durante todo o temporal, o senhor Taylor se compor­tou com a maior calma. Por fim os marinheiros recusaram-se a trabalhar. O comandante aconselhou todos a bordo a amarrarem os cintos de salvação, dizendo que o navio não resistiria à força das ondas mais que duas horas. Nessa al­tura, o comandante avançou na direção dos marinheiros com o revólver na mão. O senhor Taylor então aproximou-se dele e pediu-lhe que não obrigasse dessa forma os mari­nheiros a trabalhar. O missionário dirigiu-se também aos homens e explicou-lhes que Deus ia salvá-los, mas que eram necessários os maiores esforços de todas as pessoas a bordo. Acrescentou que tanto ele como todos os passagei­ros estavam prontos a ajudá-los, e que, como era evidente, as vidas deles também corriam perigo. Os homens conven­cidos por esses argumentos começaram a tirar os destroços, ajudados por todos nós; em pouco tempo conseguimos amarrar os grandes mastros, que batiam com tanta força que estavam demolindo um lado do navio".
Foram horas de grande regozijo quando o "Lammer­muir", por fim, aportou, com todos sãos a bordo, em Shanghai. Outro navio que chegou logo após, perdera de­zesseis das vinte e duas pessoas a bordo!
Os missionários iniciaram o ano de 1867 com um dia de jejum e oração, pedindo, como Jabez, que Deus os aben­çoasse e estendesse os seus termos. O Senhor os ouviu dan­do-lhes entrada, durante o ano, em outras tantas cidades! Encerraram o ano com outro dia de jejum e oração. Um culto durou das onze da manhã às três da tarde, sem nin­guém se sentir enfadado. Outro culto se realizou às 8,30 da noite quando sentiram ainda mais a unção do Espírito Santo. Continuaram juntos em oração até a meia-noite, quando celebraram a Ceia do Senhor.
No início de 1867, o Senhor chamou Graça Taylor, filha de Hudson Taylor, para o Lar Eterno, quando ela comple­tava oito anos de idade. No ano seguinte, a senhora Taylor e o filho, Noel, faleceram de cólera. Foi assim que se ex­pressou o pai e marido:
"Ao amanhecer o dia, apareceu à luz do sol o que fora ocultado pela luz de vela - a cor característica da morte no rosto da minha esposa. O meu amor não podia ignorar por mais, não somente o seu estado grave, mas que realmente ela estava morrendo. Ao conseguir acalmar o meu espírito, eu lhe disse:
- Sabes, querida, que estás morrendo?
- Morrendo! Achas que sim? Por que pensas tal coisa?
- Posso ver, que sim, querida. As tuas forças estão se acabando.
- Será mesmo? Não sinto qualquer dor, apenas cansa­ço.
- Sim, estás saindo para a Casa Paterna. Brevemente estarás com Jesus.
"Minha preciosa esposa, lembrando-se de mim e de como eu devia ficar sozinho, em um tempo de tão grandes lutas, privado da companheira com a qual tinha o costume de levar tudo ao trono da graça, disse:- Sinto muito!
Então ela parou, como que querendo corrigir o que dis­sera, porém eu lhe perguntei:
- Estás triste por causa da partida para estar com Jesus?
"Nunca me esquecerei de como ela olhou para mim e respondeu:
- Oh! não. Bem sabes, querido, que durante mais de dez anos, não houve sombra alguma entre mim e meu Sal­vador. Não estou triste por causa da partida para estar com Ele, mas me entristeço porque terás de ficar sozinho nessas lutas. Contudo... Ele estará contigo e suprirá tudo o que é mister."
"Nunca presenciei uma cena tão comovente" - escre­veu o senhor Duncan. - "Com a última respiração da que­rida senhora Taylor, o senhor Taylor caiu de joelhos, o co­ração transbordando, e a entregou ao Senhor, agradecen­do-lhe a dádiva e os doze anos e meio que passaram juntos. Agradeceu-lhe, também, pela bênção de Ele mesmo a le­var para a sua presença. Então, solenemente dedicou-se a si mesmo novamente ao serviço do Mestre.
Não é de supor que Satanás deixasse a Missão do Inte­rior da China invadir seu território com vinte e quatro ou­tros obreiros, sem incitar o povo a maior perseguição. Fo­ram distribuídos em muitos lugares, impressos atribuindo aos estrangeiros os mais horripilantes e bárbaros crimes, especialmente aos que propagavam a religião de Jesus. Al­voroçaram-se cidades inteiras e muitos dos missionários ti­veram de abandonar tudo e fugir para escapar com vida.
Quase seis anos depois de o grupo do "Lammermuir" haver desembarcado na China, Hudson Taylor estava no­vamente na Inglaterra. Durante esse tempo da obra na China, a missão aumentava de duas estações com sete obreiros, para treze estações com mais de trinta missionários e cinquenta obreiros, estando separadas as estações, uma da outra, na média de cento e vinte quilômetros.
Foi durante essa visita à Inglaterra que Hudson Taylor se casou com Miss Faulding, também fiel e provada mis­sionária na China.
Acerca de Hudson Taylor, nesse tempo, certa pessoa amiga, escreveu:
"O senhor Taylor anunciou um hino, sentou-se ao har­mônio e tocou. Não fui atraído por sua personalidade. Era de físico franzino e falou com voz mansa. Como os demais jovens, eu julgava que uma grande voz sempre acompa­nhava um verdadeiro prestígio. Mas quando ele disse: 'O­remos e nos dirigiu em oração, mudei de parecer; eu nunca ouvira alguém orar como ele. Havia na sua oração uma ousadia, um poder que fez todas as pessoas presentes se humilharem e sentirem-se na presença de Deus. Falava face a face com Deus como um homem com um amigo. Sem dúvida, tal oração era o fruto de longa permanência com o Senhor; era como o orvalho descendo dos céus. Te­nho ouvido muitos homens orarem, mas não ouvi ninguém como o senhor Taylor e o senhor Spurgeon. Ninguém, de­pois de ouvir como esses homens oravam, pode esquecer-se de tais orações. Foi a maior experiência da minha vida ou­vir o senhor Spurgeon, quando tomou, como se fosse a mão do auditório de seis mil pessoas e as levou ao Santo dos Santos. E ouvir o senhor Taylor rogar pela China era reco­nhecer algo do que significa a súplica fervorosa do justo. "
Foi em 1874 quando, com a esposa, subiam o grande rio Yangtze e ele meditava sobre as nove províncias que se es­tendiam dos trópicos de Burma ao planalto de Mongólia e as montanhas de Tibete, que Hudson Taylor escreveu:
"A minha alma anseia, e o coração arde pela evangeli­zação de centenas de milhões de habitantes dessas provín­cias sem obreiros. Oh! se eu tivesse cem vidas a dar ou gas­tar por eles!"
Mas, no meio da viagem, receberam notícias da morte da fiel missionária Amélia Blatchley, na Inglaterra. Ela não somente cuidava dos filhos do senhor Taylor, mas também servia como secretária da Missão.
Grande foi a tristeza de Hudson Taylor ao chegar à In­glaterra e achar não somente os seus queridos filhos sepa­rados e espalhados, mas a obra da Missão quase paralisa­da. Mas isso não foi ainda a sua maior tristeza. Na sua via­gem pelo rio Yangtze, o senhor Taylor, ao descer a escada do navio, levou uma grande queda, caiu sobre os calcanhares e de tal maneira que o choque ofendeu a espinha dorsal. Depois que chegou à Inglaterra o incômodo da queda agra­vou-se até ele ficar acamado. Sobreveio-lhe então a maior crise da sua vida, justamente quando havia maior necessi­dade de seus esforços. Completamente paralítico das per­nas, tinha de passar todo o tempo deitado de costas!
Uma pequena cama era a sua prisão; é melhor dizer que era a sua oportunidade. Ao pé da cama, na parede, es­tava afixado um mapa da China. E ao redor dele, de dia e de noite, estava a presença divina.
Aí, de costas, mês após mês, permaneceu o nosso herói, rogando e suplicando ao Senhor a favor da China. Foi-lhe concedida a fé para pedir que Deus enviasse dezoito mis­sionários. Em resposta aos seus apelos para oração, escri­tos com a maior dificuldade e publicados no jornal, sessen­ta moços responderam de uma vez. Dentre eles, vinte e quatro foram escolhidos. Ali, ao lado do leito, ele iniciou aulas para os futuros missionários e ensinou-lhes as pri­meiras lições da língua chinesa - e o Senhor os enviou para a China.
Lê-se o seguinte acerca de como o missionário inutiliza­do em corpo, nesse tempo, ficou bom:
"Ele foi tão maravilhosamente curado, em resposta à oração, que podia cumprir com um incrível número de suas obrigações. Passou quase todo o tempo das férias, com seus filhos em Guernsey, escrevendo. Durante os quinze dias que passou ali, apesar de desejar compartilhar da delícia da linda praia, com seus filhos, saiu com eles ape­nas uma vez. Mas as cartas que enviou para a China e ou­tros lugares valiam mais do que ouro."
Certo missionário assim escreveu acerca de uma visita que lhe fez na China:
"Nunca me esquecerei do gozo e da amável maneira com que me saudou. Conduziu-me logo para o 'escritório' da Missão do Interior da China. Devo dizer que foi para mim uma surpresa, ou choque, ou ambas as coisas. Os 'móveis' eram caixotes. Uma mesa estava coberta de inú­meros papéis e cartas. Ao lado do lume havia uma cama, bem arrumada, tendo um pedaço de tapete a servir de cobertor. Nessa cama o senhor Taylor descansava de dia e de noite.
"O senhor Taylor, sem qualquer palavra de desculpa, deitou-se na cama e travamos a palestra mais preciosa da minha vida. Toda a idéia que eu tinha das qualificações para ser um 'grande homem' foi completamente mudada; não havia nele coisa alguma do espírito de superioridade. Vi nele o ideal de Cristo, da verdadeira grandeza, tão evi­dente que permanece ainda no meu coração, através dos anos, até o presente momento. Hudson Taylor reconhecia profundamente que, para evangelizar os milhões da China, era imperioso que os crentes na Inglaterra mostrassem muito mais de abnegação e sacrifício. - Mas como podia ele insistir em sacrifício sem primeiramente praticá-lo na sua própria vida? Assim ele, deliberadamente, cortou da sua vida toda a aparência de conforto e luxo.
"Nas viagens pelo interior da China, ele, invariavel­mente, se levantava para passar uma hora com Deus antes de clarear o dia, às vezes, para depois dormir novamente. Quando eu despertava para alimentar os animais, sempre o achava lendo a Bíblia à luz de vela. Fosse qual fosse o ambiente ou o barulho nas hospedarias imundas, não des­cuidava o hábito de ler a Bíblia. Geralmente em tais via­gens, orava de bruços, porque lhe faltavam as forças 

para permanecer tanto tempo de joelhos.
- Qual será o assunto do seu discurso, hoje? - pergun­tou-lhe certo crente que viajava com ele, de trem.
- Não tenho certeza; ainda não tive tempo de resolver, respondeu-lhe Hudson Taylor.
- Não teve tempo! - exclamou o homem. - Ora, que faz o senhor a não ser descansar depois de assentar-se aí?
- Não conheço o que seja descansar. - foi a resposta cal­ma que ele deu.
"Depois de embarcarmos em Edinburgo, passei todo o tempo orando e levando todos os nomes dos membros da Missão do Interior da China, e os problemas de cada um, ao Senhor."
Está além da nossa compreensão como no meio de uma das maiores obras de evangelização de toda a história, ele podia dizer: "Nunca fomos obrigados a abandonar uma porta aber­ta, por falta de recursos. Apesar de muitas vezes gastarmos até o último pêni, a nenhum dos obreiros nacionais nem a nenhum dos missionários, faltou o prometido 'pão' coti­diano. Os tempos de provações são sempre tempos aben­çoados e o que é necessário nunca chega demasiado tarde."
Outro segredo do seu grande êxito de levar a mensagem de salvação ao interior da China era a determinação de que a obra não somente continuasse com caráter internacional, mas também, interdenominacional - que aceitasse missio­nários dedicados a Deus, de qualquer nação e de qualquer denominação.
Em 1878, ao regressar de uma viagem, começou a orar pedindo que Deus enviasse mais trinta missionários antes de findar o ano de 1879. Diremos, ao lembrarmo-nos do di­nheiro necessário para pagar as passagens e sustentar tan­tas pessoas, que a sua fé era grande. Pois bem, vinte e oito pessoas, com os corações acesos pelo desejo de salvação dos perdidos na China, confiando em Deus para o seu sustento cotidiano, embarcaram antes de findar o ano de 1878 e mais seis em 1879.
Conversando com um companheiro de lutas, na cidade de Wuchang, Hudson Taylor começou a enumerar os pon­tos estratégicos em que deviam começar logo a evangelizar os dois milhões de habitantes do vale do grande rio Yangt-ze e o do seu tributário, o rio Hã. Com menos de cinqüenta ou sessenta novos obreiros, a Missão não podia dar tal pas­so - e a própria Missão não tinha mais de um total de cem! Contudo, a Hudson Taylor foi dada a fé de pedir outros se­tenta - lembrado das palavras: "Designou o Senhor ainda outros setenta".
"Reunimo-nos hoje para passar o dia em jejum e ora­ção" - escreveu Hudson Taylor em 30 de junho de 1872. - "O Senhor nos abençoou grandemente... Alguns passaram a maior parte da noite em oração... O Espírito Santo nos encheu até nos parecer ser impossível receber mais sem morrer."
Em certo culto, durante quase duas horas, louvaram ininterruptamente a Deus pelos setenta obreiros já recebidos - pela fé. E, em realidade, foram recebidos mais do que setenta, e dentro do prazo marcado.
O Senhor conduziu a Missão, pouco a pouco para uma visão ainda mais larga - levou os obreiros a pedirem ao Se­nhor outros cem, em 1887. Assim, disse o senhor Stephen­son: "Se me mostrassem uma foto de todos os cem, batida aqui na China, não seria mais real do que realmente é."
Contudo, Hudson Taylor não iniciou precipitadamente o programa de orar e se esforçar para receber mais cem missionários. Como sempre, devia ter certeza da direção de Deus antes de resolver orar e se esforçar para alcançar o alvo.
Seis vezes mais do que o número que pediram, se ofere­ceram para ir! Mas, a Missão rejeitou fielmente a todos que não concordaram com os princípios declarados desde o início. Assim, exatamente o número pedido embarcou para a China. - Não foram cento e um, nem noventa e no­ve, mas exatamente cem.
Depois da visita de Hudson Taylor ao Canadá, aos E.U.A. e à Suécia em 1888 e 1889, a Missão do Interior da China gozou de um dos maiores impulsos para avançar em todos os anais da história de missões. Assim escreveu de­pois, o nosso missionário, acerca do que lhe pesava grande­mente no coração durante toda a sua visita à Suécia:
"Confesso-me envergonhado de que, até essa ocasião, nunca tinha meditado sobre o que o Mestre realmente que­ria dizer ao mandar pregar o Evangelho 'a toda a criatura'. Esforcei-me durante muitos anos, como muitos outros ser­vos de Deus, para levar o Evangelho aos lugares mais dis­tantes; planejei alcançar todas as províncias e muitos dos distritos menores da China, sem compreender o sentido evidente das palavras do Salvador.
"'a toda a criatura'? O número total de comunicantes entre os crentes da China não excedia quarenta mil. Se houvesse outro tanto de aderentes, ou mesmo três vezes mais, e se cada um levasse a mensagem a oito de seus patrícios - mesmo assim, não alcançariam mais de um mi­lhão. 'a toda a criatura'! as palavras abrasavam-lhe o ínti­mo da alma. Mas como a Igreja, e eu mesmo, falhávamos em aceitá-las justamente como Cristo queria! Isso eu percebi então; para mim havia apenas uma saída, a de obede­cer.
"Qual será a nossa atitude para com o Senhor Jesus Cristo quanto a essa ordem? Suprimiremos o título Pe­nhor', que lhe foi dado, para reconhecê-lo apenas como nosso Salvador? Aceitaremos o fato de Ele tirar a penalida­de do pecado, e recusaremos a confessarmo-nos comprados por bom preço, e que Ele tem o direito de esperar a nossa obediência implícita? Diremos que somos os nossos pró­prios senhores, prontos a conceder-lhe apenas o que lhe é devido, a Ele que comprou-nos com seu próprio sangue, com a condição de Ele não pedir demasiado? As nossas vi­das, os nossos queridos, as nossas possessões são somente nossas, não são dele? Daremos o que acharmos convenien­te e obedeceremos à sua vontade somente se Ele não nos pedir demasiado sacrifício? Estamos prontos a deixar Jesus Cristo nos levar aos céus, mas não queremos que esse homem 'reine sobre nós'?
"O coração de todos os filhos de Deus rejeitará, certa­mente uma afirmação assim formulada. Mas não é verda­de que inumeráveis crentes, em todas as gerações, se com­portaram tal como se isso fosse a base própria para suas vi­das? São poucas as pessoas entre o povo de Deus que reco­nhecem a verdade de que, ou Cristo é o Senhor de tudo, ou então não é Senhor de coisa alguma! Se somos nós que jul­gamos a Palavra de Deus, e não a Palavra que nos julga; se concedemos a Deus somente o quanto quisermos então so­mos nós os senhores e Ele o nosso devedor e, conseqüente­mente, Ele deve ser grato pela esmola que lhe concedemos; deve sentir-se obrigado por nossa concordância aos seus desejos. Se, ao contrário, Ele é Senhor então tratemo-lo como Senhor: 'E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?'"
Foi assim que Hudson Taylor, sem esperar, alcançou a mais larga visão da sua vida, a visão que dominou a última década de seu serviço. Com os cabelos já grisalhos, após cinquenta e sete anos de experiência, enfrentou o novo sen­tido de responsabilidade com a mesma fé e confiança que o caracterizavam quando era mais novo. Sua alma ardia ao meditar nos alvos antigos! Ficou ainda mais firme ao exe­cutar a visão de outrora!
Foi assim que sentiu a direção de unificar todos os gru­pos evangélicos, que trabalhavam na evangelização da China, para orarem e se esforçarem para aumentar o nú­mero de missionários, enviando-se à China outros mil, dentro de cinco anos. O número exato enviado à China du­rante esse prazo, foi de mil cento e cinqüenta e três!
Não é, pois, de admitir que as forças físicas de Hudson Taylor começassem a faltar, não tanto pelas privações e cansaço das viagens contínuas, nem pelos esforços incan­sáveis em escrever e pregar, nem pelo peso das grandes e inumeráveis responsabilidades de dirigir a Missão do Inte­rior da China. Os que o conheciam intimamente sabiam que era um homem gasto de tanto amar.
A gloriosa colheita de almas na China aumentava cada vez mais. Mas a situação política do país piorava dia após dia até culminar na Carnificina dos Boxers, no ano de 1900, quando centenas de crentes foram mortos. Somente da China Inland Mission pereceram cinqüenta e oito mis­sionários, e vinte e um de seus filhos.
Hudson Taylor, com a sua esposa, estavam novamente na Inglaterra, quando começaram a chegar telegrama após telegrama avisando-os dos horripilantes acontecimentos na China; aquele coração que tanto amava a cada missio­nário, quase cessou de pulsar. Acerca desse acontecimento assim se manifestou: "Não sei ler, não sei pensar, nem mesmo sei orar, mas sei confiar."
Certo dia, alguns meses depois, Hudson Taylor, com o coração transbordante e as lágrimas correndo-lhe pelas fa­ces, estava contando o que lera em uma carta que acabara de receber de duas missionárias, escrita um dia antes de elas morrerem nas mãos dos boxers. Eis o que ele disse:
"Oh! o gozo de sair de tal motim de pessoas enfurecidas para estar na sua presença, para ver o seu sorriso!" Quan­do pôde continuar, acrescentou: "Elas agora não estão ar­rependidas. Têm a imperecível coroa! Andam com Cristo em vestes brancas, porque são dignas".
Falando acerca de seu grande desejo de ir a Shanghai, para estar ao lado dos refugiados, ele disse: "Não sei se poderia ajudá-los, mas sei que me amam. Se pudessem che­gar-se a mim nas tristezas para chorarmos juntos, ao me­nos poderiam ter um pouco de conforto." Mas ao lembrar-se de que tal viagem lhe era impossível por causa da saúde, a sua tristeza parecia maior do que podia suportar.
Apesar de sentir profundamente a sua incapacidade para trabalhar como de costume, achou grande conforto em estar com a sua esposa, a qual tanto amava. Findara o tempo em que deviam passar longos meses e anos separa­dos um do outro, nas lutas em tantos lugares.
Foi em 30 de julho de 1904 que sua esposa faleceu. "Não sinto nada de dor, nada de dor", dizia ela, apesar da ânsia em respirar. Então, de madrugada, percebendo a an­gústia de espírito do seu marido, pediu-lhe que orasse ro­gando ao Senhor que a levasse logo. Foi a oração mais difí­cil da vida de Hudson Taylor, mas por amor dela, ele orou pedindo a Deus que libertasse o espírito da sua esposa. Logo que orou, dentro de cinco minutos cessou a ânsia e não muito depois ela adormeceu em Cristo.
A desolação de espírito de Hudson Taylor sentiu depois da partida da sua fiel companheira era indescritível. Toda­via, achou indizível paz nesta promessa: "A minha graça te basta." Começou a recuperar as forças físicas e na pri­mavera fez a sua sétima viagem aos E.U.A. Daí fez a últi­ma viagem à China, desembarcando em Shanghai em 17 de abril de 1905.
O valente líder da Missão, depois de tão prolongada au­sência, foi recebido em todos os lugares com grandes mani­festações de amor e estima da parte dos missionários e crentes, especialmente dos que escaparam dos intraduzí­veis espetáculos da insurreição dos Boxers.
Em Chin-Kiang, o veterano missionário visitou o cemi­tério onde estão gravados os nomes de quatro filhos e o da esposa. As recordações eram motivo de grande gozo, isto é, o dia da grande reunião se aproximava.
No meio da viagem, quando visitava as igrejas na Chi­na, sem ninguém esperar, nem ele mesmo, findou a sua carreira na terra. Isso aconteceu na cidade de Chang-sha em 3 de junho de 1905. Sua nora contou o seguinte, sobre esse acontecimento:"O querido papai estava deitado. Como sempre gosta­va de fazer, tirou as cartas, dos queridos, da sua carteira e as estendeu sobre a cama. Baixou-se para ler uma das car­tas perto do candeeiro aceso colocado na cadeira ao lado do leito. Para que ele não se sentisse demasiadamente inco­modado, puxei outro travesseiro e o coloquei por baixo da sua cabeça e assentei-me numa cadeira ao seu lado. Men­cionei as fotografias da revista, Missionary Review, que es­tava aberta sobre a cama. Howard tinha saído para ir bus­car algo para comer, quando papai, de repente, virou a ca­beça e abriu a boca como se quisesse espirrar. Abriu a boca a segunda, e a terceira vez. Não clamou; não pronunciou qualquer palavra. Não mostrou qualquer dificuldade para respirar - nada de ânsia. Não olhou para mim, e não pare­cia cônscio... Não era a morte, era a entrada na vida imor­tal. Seu semblante era de descanso e sossego. Os vincos do rosto feitos pelo peso da luta de longos anos pareciam ha­ver desaparecido em poucos momentos. Parecia dormir como criança no colo da mãe; o próprio quarto parecia cheio de indizível paz."
Na cidade de Chin-Kiang, à beira do grande rio que tem a largura de mais de dois quilômetros, foi enterrado o corpo de Hudson Taylor.
Muitas foram as cartas de condolências recebidas de fiéis filhos de Deus no mundo inteiro. Emocionante foram os cultos celebrados em vários países, em sua memória. Impressionantes foram os artigos e livros impressos acerca das suas vitórias na obra de Deus. Mas as vozes mais des­tacadas, as que Hudson Taylor apreciaria mais, se pudesse ouvi-las, eram as das muitas crianças chineses, que, can­tando louvores a Deus, deitaram flores sobre o seu túmulo.
(extraido do livro hérois da fé)

JOÃO BUNYAN
SONHADOR IMORTAL
(1628-1688) - "Caminhando pelo deserto deste mundo, parei num sítio onde havia uma caverna (a prisão de Bedford): ali deitei-me para descansar.
Em breve adormeci e tive um sonho. Vi um homem coberto de andrajos, de pé, e com as costas voltadas para a sua habitação, tendo sobre os ombros uma pesada carga e nas mãos um livro".
Faz três séculos que João Bunyan assim iniciou o seu li­vro, o Peregrino. Os que conhecem as suas obras literárias podem testificar de que ele é, de fato, "o Sonhador Imor­tal" - "Estando ele morto, ainda fala". Contudo, enquanto miríades de crentes conhecem o Peregrino, poucos conhe­cem a história da vida de oração desse valente pregador.
Bunyan, na sua obra, Graça Abundante ao Principal dos Pecadores, nos informa que seus pais, apesar de vive­rem em extrema pobreza, conseguiram ensiná-lo a ler e es­crever. Ele mesmo se intitulou a si próprio de "o principal dos pecadores"; outros atestam que era "bem-sucedido" até na impiedade. Contudo, casou-se com uma moça de família cujos membros eram crentes fervorosos Bunyan era funileiro e, como acontecia com todos os funileiros, era paupérrimo; ele não possuía um prato nem uma colher - apenas dois livros: O Caminho do Homem Simples para os Céus e A Prática da Piedade, obras que seu pai, ao falecer, lhe deixara. Apesar de Bunyan achar algumas coisas que lhe interessavam nesses dois livros, somente nos cultos é que se sentiu convicto de estar no caminho para o Inferno.
Descobre-se nos seguintes trechos, copiados de Graça Abundante ao Principal dos Pecadores, como ele lutava em oração no tempo da sua conversão:
"Veio-me às mãos uma obra dos 'Ranters', livro esti­mado por alguns doutores. Não sabendo julgar os méritos dessas doutrinas, dediquei-me a orar desta maneira: 'Ó Senhor, não sei julgar entre o erro e a verdade. Senhor, não me abandones por aceitar ou rejeitar essa doutrina cega­mente; se ela for de ti, não me deixes desprezá-la; se for do Diabo, não me deixes abraçá-la!' - e, louvado seja Deus, Ele que me dirigiu a clamar; desconfiando na minha pró­pria sabedoria, Ele mesmo me guarda do erro dos 'Ran­ters'. A Bíblia já era para mim muito preciosa nesse tempo."
"Enquanto eu me sentia condenado às penas eternas, admirei-me de como o próximo se esforçava para ganhar bens terrestres, como se esperasse viver aqui eternamen­te... Se eu pudesse ter a certeza da salvação da minha al­ma, como se sentiria rico, mesmo que não tivesse mais para comer a não ser feijão."
"Busquei o Senhor, orando e chorando e do fundo da alma clamei: 'Ó Senhor, mostra-me, eu te rogo, que me amas com amor eterno!' Logo que clamei, voltaram para mim as palavras, como um eco: 'Eu te amo com amor eter­no!' Deitei-me para dormir em paz e, ao acordar, no dia se­guinte, a mesma paz permanecia na minha alma. O Se­nhor me assegurou: 'Amei-te enquanto vivias no pecado, amei-te antes, amo-te depois e amar-te-ei por todo o sem­pre'."
"Certa manhã, enquanto tremia na oração, porque pensava que não houvesse palavra de Deus para me sosse­gar, Ele me deu esta frase: 'A minha graça te basta'. "O meu entendimento foi tão iluminado como se o Se­nhor Jesus olhasse dos céus para mim, pelo telhado da ca­sa, e me dirigisse essas palavras. Voltei para casa choran­do, transbordando de gozo e humilhado até o pó."
"Contudo, certo dia, enquanto andava no campo, a consciência inquieta, de repente estas palavras entraram na minha alma: 'Tua justiça está nos céus.' E parecia que, com os olhos da alma, via Jesus Cristo à destra de Deus, permanecendo ali como minha justiça... Vi, além disso, que não é o meu bom coração que torna a minha justiça melhor, nem que a prejudica; porque a minha justiça é o próprio Cristo, o mesmo ontem, hoje e para sempre. As ca­deias então caíram-me das pernas; fiquei livre das angús­tias; as tentações perderam a força; o horror da severidade de Deus não mais me perturbava, e voltei para casa regozijando-me na graça e no amor de Deus. Não achei na Bíblia a frase: 'Tua justiça está nos céus.' Mas achei 'o qual para nós foi feito por Deus sabedoria e justiça, e santificação, e redenção' (1 Coríntios 1.30) e vi que a outra frase era ver­dade.
"Enquanto eu assim meditava, o seguinte trecho das Escrituras penetrou no meu espírito com poder: 'Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou.' Assim fui levantado para as al­turas e me achava nos braços da graça e misericórdia. An­tes temia a morte, mas depois clamei: 'Quero morrer.' A morte tornou-se para mim uma coisa desejável. Não se vive verdadeiramente antes de passar para a outra vida. 'Oh!' - pensava eu - 'esta vida é apenas um sonho em com­paração à outra!' Foi nessa ocasião que as palavras 'her­deiros de Deus' se tornaram tão cheias de sentido, que eu não posso explicar aqui neste mundo. 'Herdeiros de Deus!' O próprio Deus é a porção dos santos. Isso vi e disso me ad­mirei, contudo, não posso contar o que vi... Cristo era um Cristo precioso na minha alma, era o meu gozo; a paz e o triunfo por Cristo eram tão grandes que tive dificuldade em conter-me e ficar deitado."
Bunyan, na sua luta para sair da escravidão do vício e do pecado, não fechava a alma dos perdidos que ignora­vam os horrores do inferno. Acerca disto ele escreveu:
"Percebi pelas Escrituras que o Espírito Santo não quer que os homens enterrem os seus talentos e dons, mas antes que despertem esses dons... Dou graças a Deus, por me haver concedido uma medida de entranhas e compai­xão, pela alma do próximo, e me enviou a esforçar-me grandemente para falar uma palavra que Deus pudesse usar para apoderar-se da consciência e despertá-la. Nisso o bom Senhor respondeu ao apelo de seu servo, e o povo co­meçou a mostrar-se comovido e angustiado de espírito ao perceber o horror do seu pecado e a necessidade de aceitar a Jesus Cristo."
"De coração, clamei a Deus com grande insistência que Ele tornasse a Palavra eficaz para a salvação da alma... De fato, disse repetidamente ao Senhor que, se o meu enforca­mento perante os olhos dos ouvintes servisse para desper­tá-los e confirmá-los na verdade, eu o aceitaria alegremen­te."
"O maior anelo em cumprir meu ministério era o de en­trar nos lugares mais escuros do país... Na pregação, real­mente, sentia dores de parto para que nascessem filhos para Deus. Sem fruto, não ligava importância a qualquer louvor aos meus esforços; com fruto, não me importava com qualquer oposição."
Os obstáculos que Bunyan tinha de encarar eram mui­tos e variados. Satanás, vendo-se grandemente prejudica­do pela obra desse servo de Deus, começou a levantar bar­reiras de todas as formas. Bunyan resistia fielmente a to­das as tentações de vangloriar-se sobre o fruto de seu mi­nistério e cair na condenação do Diabo. Quando, certa vez, um dos ouvintes lhe disse que pregara um bom sermão, ele respondeu: "Não precisa dizer-me isso, o Diabo já cochi­chou a mesma coisa no meu ouvido antes de sair da tribuna."
Então o inimigo das almas suscitou os ímpios para ca­luniá-lo e espalhar boatos em todo o país, a fim de induzi-lo a abandonar seu ministério. Chamavam-no de feiticeiro, jesuíta, cangaceiro e afirmavam que vivia amancebado, que tinha duas esposas e que os seus filhos eram ilegítimos.
Quando o Maligno falhou em todos esses planos de des­viar Bunyan do seu ministério glorioso, os inimigos denunciaram-no por não observar os regulamentos dos cultos da igreja oficial. As autoridades civis o sentenciaram à prisão perpétua, recusando terminantemente a revogação da sen­tença, apesar de todos os esforços de seus amigos e dos ro­gos da sua esposa - tinha de ficar preso até se comprometer a não mais pregar.
Acerca da sua prisão, ele diz: "Nunca tinha sentido a presença de Deus ao meu lado em todas as ocasiões como depois de ser encerrado... fortalecendo-me tão ternamente com esta ou aquela Escritura até me fazer desejar, se fosse lícito, maiores provações para receber maiores consola­ções".
"Antes de ser preso, eu previa o que aconteceria, e duas coisas ardiam no coração, acerca de como podia encarar a morte, se chegasse a tal ponto. Fui dirigido a orar pedindo a Deus me fortalecesse com toda a força, segundo o poder da sua glória, em toda a fortaleza e longanimidade, dando com alegria graças ao Pai. Quase nunca orei, durante o ano antes de ser preso, sem que essa Escritura me entrasse na mente e eu compreendesse que para sofrer com toda a pa­ciência devia ter toda a fortaleza, especialmente para so­frer com alegria."
"A segunda consideração foi na passagem que diz: 'Mas nós temos tido dentro de nós mesmos a sentença de morte para que não confiássemos em nós mesmos, porém em Deus que ressuscita os mortos'. Cheguei a ver, por essa Escritura que, se eu chegasse a ponto de sofrer como devia, primeiramente tinha de sentenciar à morte todas as coisas que pertencem à nossa vida, considerando-me a mim mes­mo, minha esposa, meus filhos, a saúde, os prazeres, tudo, enfim, como mortos para comigo e eu morto para com eles.
"Resolvi, como Paulo disse, não olhar para as coisas que se vêem, mas sim, para as que se não vêem, porque as coisas que se vêem, são temporais, mas as coisas que se não vêem, são eternas. E compreendi que se eu fosse prevenido apenas de ser preso, poderia, de improviso, ser chamado, também, para ser açoitado, ou amarrado ao pelourinho. Ainda que esperasse apenas esses castigos, não suportaria o castigo de desterro. Mas a melhor maneira para passar os sofrimentos seria confiar em Deus, quanto ao mundo vindouro; quanto a este mundo, devia considerar o sepulcro como minha morada, estender o meu leito nas trevas, dizer à corrupção: Tu és meu pai', e aos vermes: 'Vós sois minha mãe e minha irmã' (Jó 17.13,14).
"Contudo, apesar desse auxílio, senti-me um homem cercado de fraquezas. A separação da minha esposa e de nossos filhos, aqui na prisão torna-se, às vezes, como se fosse a separação da carne dos ossos. E isto não somente porque me lembro das tribulações e misérias que meus queridos têm de sofrer; especialmente a filhinha cega. Mi­nha pobre filha, quão triste é a tua porção neste mundo! Serás maltratada, pedirás esmolas; passarás fome, frio, nudez e outras calamidades! Oh! os sofrimentos da minha ceguinha quebrar-me-iam o coração aos pedaços!"
"Eu meditava muito, também, sobre o horror ao Infer­no para os que temiam a Cruz a ponto de se recusarem a glorificar a Cristo, suas palavras e leis perante os filhos dos homens. Além do mais, pensava sobre a glória que Ele pre­parara para os que, em amor, fé e paciência, testificavam dele. A lembrança destas coisas serviam para diminuir a mágoa que sentia ao lembrar-me de que eu e meus queri­dos sofriam pelo testemunho de Cristo".
Nem todos os horrores da prisão abalaram o espírito de João Bunyan. Quando lhes ofereciam a sua liberdade sob a condição de ele não pregar mais, respondia: "Se eu sair hoje da prisão, pregarei amanhã, com o auxílio de Deus".
Mas se alguém pensar que, afinal de contas, João Bu­nyan era apenas um fanático, deve ler e meditar sobre as obras que nos deixou: Graça Abundante ao Principal dos Pecadores; Chamado ao Ministério; O Peregrino; A Pere­grina; A Conduta do Crente; A Glória do Templo; O Peca­dor de Jerusalém é Salvo; As Guerras da Famosa Cidade de Alma-humana; A vida e a Morte de Homem Mau; O Sermão do Monte; A Figueira Infrutífera; Discursos Sobre Oração; O Viajante Celestial; Gemidos de Uma Alma no Inferno; A Justificação é Imputada, etc.
Passou mais de doze anos encarcerado. É fácil dizer que foram doze longos anos, mas é difícil conceber o que isso significa - passou mais da quinta parte da sua vida na prisão, na idade de maior energia. Foi um quacre, chamado Whitehead, que conseguiu a sua libertação. Depois de liberto, pregou em Bedford, Londres, e muitas outras cida­des. Era tão popular, que foi alcunhado de "Bispo Bu­nyan". Continuou o seu ministério fielmente até a idade de sessenta anos, quando foi atacado de febre e faleceu. O seu túmulo é visitado por dezenas de milhares de pessoas.
- Como se explica o êxito de João Bunyan? O orador, o escritor, o pregador, o professor da E scola Dominical e o pai de família, cada um conforme o seu ofício, pode lucrar grandemente com um estudo do estilo e méritos de seus es­critos, apesar de ele ter sido apenas um humilde funileiro, sem instrução.
- Mas como se pode explicar o maravilhoso sucesso de Bunyan? Como pode um iletrado pregar como ele pregava e escrever num estilo capaz de interessar à criança e ao adulto; ao pobre e ao rico; ao douto e ao indouto? A única explicação do seu êxito é que "ele era um homem em cons­tante comunhão com Deus". Apesar de seu corpo estar preso no cárcere, a sua alma estava liberta. Porque foi ali, numa cela, que João Bunyan teve as visões descritas nos seus livros - visões muito mais reais do que os seus perse­guidores e as paredes que o cercavam. Depois de desapare­cerem os perseguidores da terra e as paredes caírem em pó, o que Bunyan escreveu continua a iluminar e alegrar a to­das as terras e a todas as gerações.
O que vamos citar mostra como Bunyan lutava com Deus em oração:
"Há, na oração, o ato de desvelar a própria pessoa, de abrir o coração perante Deus, de derramar afetuosamente a alma em pedidos, suspiros e gemidos. 'Senhor', disse Da­vi, 'diante de ti está todo o meu desejo e o meu gemido não te é oculto' (Salmo 38.9). E outra vez: 'A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresen­tarei ante a face de Deus? Quando me lembro disto, dentro de mim derramo a minha alma!' (Salmo 42.2-4). Note: 'Derramo a minha alma!' é um termo demonstrativo de que em oração sai a própria vida e toda a força para Deus".
Em outra ocasião escreveu: "As melhores orações con­sistem, às vezes, mais de gemidos do que de palavras e estas palavras não são mais que a mera representação do co­ração, vida e espírito de tais orações".
Como ele insistia e importunava em oração a Deus, é claro no trecho seguinte: "Eu te digo: Continua a bater, chorar, gemer e prantear; se Ele se não levantar para te dar, porque és seu amigo, ao menos por causa da tua im­portunação, levantar-se-á para dar-te tudo o que precisares".
Sem contestação, o grande fenômeno da vida de João Bunyan consistia no seu conhecimento íntimo das Escritu­ras, as quais amava; e na perseverança em oração ao Deus que adorava. Se alguém duvidar de que Bunyan seguia a vontade de Deus nos doze longos anos que passou na prisão de Bedford, deve lembrar-se de que esse servo de Cristo, ao escrever O Peregrino, na prisão de Bedford, pregou um ser­mão que já dura quase três séculos e que hoje é lido em cento e quarenta línguas. É o livro de maior circulação de­pois da Bíblia. Sem tal dedicação a Deus, não seria possí­vel conseguir o incalculável fruto eterno desse sermão pre­gado por um funileiro cheio da graça de Deus!
(extraido do livro hérois da fé)

JOÃO PATON
MISSIONÁRIO AOS ANTROPÓFAGOS
(1824-1907) - Perto de Dalswinton, na Escócia, morava um casal co­nhecido em toda a região como os velhos Adão e Eva. A esse lar veio em visita uma sobrinha, Janete Rogerson. É de supor-se que não houvesse muita coisa na casa isolada dos velhos para distrair a jovem, sempre viva e alegre.
Mas uma coisa atraiu-lhe o interesse: um rapaz chamado Tiago Paton, que entrava, dia após dia, no matagal perto da ca­sa. Levava sempre um livro na mão, como se fosse ali para estudar e meditar. Certo dia, a moça, vencida pela curiosi­dade, entrou furtivamente por entre as árvores e espiou o rapaz recitando os Sonetos Evangélicos de Erskine. A sua curiosidade tornou-se em santa admiração quando o jo­vem, deixando o chapéu no chão, ajoelhou-se debaixo duma árvore para derramar a alma em oração perante Deus. Ela, espírito de brincalhona, avançou e pendurou o chapéu em um galho que estava próximo. Em seguida es­condeu-se onde podia, sem ser vista, para presenciar o ra­paz perplexo, a procurar o chapéu. No dia seguinte a cena se repetiu. Mas o coração da moça comoveu-se ao ver a perturbação do rapaz, imóvel por alguns minutos com o chapéu na mão. Foi assim que ele, ao voltar no dia seguin­te ao lugar onde se ajoelhava diariamente, achou um car­tão preso na árvore. No cartão leu: "A pessoa que escondeu seu chapéu confessa-se sinceramente arrependida de tê-lo feito e pede que ore, rogando a Deus que a torne crente tão sincera como o senhor".
O jovem fitou por algum tempo o cartão esquecendo-se completamente naquele dia dos sonetos. Por fim, tirou o cartão da árvore. Estava reprovando a si mesmo e à sua es­tupidez por não saber que fora um ser humano quem es­condera o chapéu duas vezes, quando, por entre as árvores, uma moça, balde na mão e cantando um hino escocês, pas­sou na frente da casa do velho Adão.
Naquele momento, o moço, por instinto divino e tão in­falivelmente, como por qualquer voz que jamais falara a um profeta de Deus, sabia que a visita angélica que invadi­ra seu retiro de oração fora a gentil e hábil sobrinha dos ve­lhos Adão e Eva. Tiago Paton ainda não conhecia Janete Rogerson, mas ouvira falar nas suas extraordinárias quali­ficações intelectuais e espirituais.
E provável que Tiago Paton começasse a orar por ela -em um sentido diferente daquele que ela pedira. De qual­quer forma, a moça furtara não somente o chapéu do ra­paz, mas também, o seu leal coração - um furto que resul­tou, por fim, no casamento dos dois.
Tiago Paton, fabricante de meias no condado de Dunfries, e sua esposa Janete, andavam, como Zacarias e Isa­bel na Antiguidade, irrepreensíveis perante o Senhor. Ao nascer-lhes o primogênito, deram-lhe o nome de João, dedicando-o solenemente a Deus, com oração, para ser mis­sionário ao povos que não tinham oportunidade de conhe­cer a Cristo.
Entre a casa própria, em que morava a família dos Patons, e a parte que servia de fábrica, havia um pequeno aposento. Acerca desse quarto, João Paton escreveu:
"Era o santuário de nossa humilde casa. Várias vezes ao dia, geralmente depois das refeições, o nosso pai entra­va nesse quarto e, 'fechada a porta', orava. Nós, seus filhos, compreendíamos, como se fosse por instinto espiri­tual, que se derramavam orações por nós, como fazia na antiguidade o sumo sacerdote, quando entrava no Santo dos Santos, em favor do povo. De vez em quando se ouvia o eco duma voz em tons de quem suplica pela vida; passáva­mos pela porta nas pontinhas dos pés, de modo a não per­turbar a santa e íntima conversação. O mundo lá fora não sabia de onde vinha o gozo que brilhava no rosto de nosso pai, mas nós, seus filhos, o sabíamos: era o reflexo da pre­sença divina, que era sempre uma realidade para ele na vida cotidiana. Nunca espero, quer num templo, quer nas serras, quer nos vales, sentir Deus mais perto, mais visível, andando e conversando mais intimamente com os homens do que naquela humilde casa coberta de palha. Se, por uma catástrofe indizível, tudo quanto pertence à religião fosse apagado da memória, minha alma reverteria de novo ao tempo da minha mocidade: ela fechar-se-ia naquele santuário e, ao ouvir novamente os ecos daquelas súplicas a Deus, lançaria para longe toda a dúvida com este grito vitorioso: 'Meu pai andava com Deus; porque não posso eu também andar?'".
Na autobiografia de João Paton, vê-se que as suas lutas diárias eram grandes. Mas o que lemos abaixo revela qual a força que operava para que ele sempre avançasse na obra de Deus.
"Antes, realizava-se culto doméstico na casa de meus avós somente aos domingos, mas meu pai convenceu pri­meiro a minha avó a orar, ler um trecho da Bíblia e cantar um hino diariamente, pela manhã e à noite; depois todos os membros da família seguiram esse costume. Foi assim que meu pai começou, aos dezessete anos de idade, o ben­dito costume de fazer cultos matutinos e vespertinos em casa; costume que observou, talvez sem uma única exce­ção, até se achar no leito de morte, com setenta e sete anos de idade, quando, no último dia da sua vida, uma passa­gem das Escrituras foi lida, e ouviu-se sua voz na oração. Nenhum dos filhos se recorda de um só dia que não fosse assim santificado; muitas vezes havia pressa em atender a um negócio; inúmeras vezes chegavam os amigos, mas nada impedia que nos ajoelhássemos em redor do altar familiar, enquanto o 'sumo sacerdote' dirigia as nossas ora­ções a Deus e se oferecia a si mesmo e a seus filhos ao mes­mo Senhor. A luz de tal exemplo era uma bênção, tanto para o próximo, como para a nossa família. Muitos anos depois, contaram-me que a mais depravada mulher da vi­la, uma mulher da rua, mas depois salva e transformada pela graça divina, declarou que a única coisa que evitou o seu suicídio foi que, numa noite escura, perto da janela da casa de meu pai, ouviu-o implorando no culto doméstico, que Deus convertesse 'o ímpio do erro do seu caminho e o fizesse luzir como uma jóia na coroa do Redentor'.' Vi', dis­se ela, 'como eu era um grande peso sobre o coração desse bom homem e sabia que Deus responderia à sua súplica. Foi por causa dessa certeza que não entrei no Inferno e que achei o único Salvador'".
Não é de admirar que, em tal ambiente, três dos onze filhos de Tiago Paton: João, Valter e Tiago, fossem cons­trangidos a dar suas vidas à obra mais gloriosa, a de ga­nhar almas. Não julgamos estar esse ponto completo sem lhe acrescentar mais um trecho dessa autobiografia:
"Até que ponto fui impressionado nesse tempo pelas orações de meu pai, não posso dizer, nem ninguém pode compreender. Quando de joelhos, e todos nós ajoelhados em redor dele no culto doméstico, ele derramava toda a sua alma em oração, com lágrimas, não só por todas as ne­cessidades pessoais e domésticas, mas também pela con­versão da parte do mundo onde não havia pregadores para servirem a Jesus, sentíamo-nos na presença do Salvador vivo e chegamos a conhecê-lo e a amá-lo como nosso Amigo divino. Ao levantarmo-nos da oração, eu costumava olhar para a luz do rosto do meu pai e cobiçava o mesmo espíri­to; anelava, em resposta às suas orações, pela oportunida­de de me preparar e sair, levando o bendito Evangelho a uma parte do mundo então sem missionários".
Acerca da disciplina do lar, eis o que ele escreveu: "Se houvesse algo realmente sério para corrigir, meu pai se re­tirava primeiramente para o quarto de oração e nós com­preendíamos que ele levava o caso a Deus; essa era a parte mais severa do castigo para mim! Eu estava pronto a enca­rar qualquer penalidade, mas o que ele fazia penetrava na minha consciência como uma mensagem de Deus. Amáva­mos ainda mais o nosso pai ao ver quanto tinha de sofrer para nos castigar, e, de fato, tinha muito pouco a castigar-nos, pois - dirigia a todos nós, onze filhos, muito mais pelo amor do que pelo temor".
Por fim chegou o dia em que João tinha de deixar o lar paterno. Sem o dinheiro para a passagem e com tudo que possuía, inclusive uma Bíblia embrulhada num lenço, saiu a pé para trabalhar e estudar em Glasgow. O pai o acom­panhou até uma distância de nove quilômetros. O último quilômetro, antes de se separarem um do outro, os dois ca­minhavam sem poderem falar uma só palavra - o filho sa­bia pelo movimento dos lábios do pai que este orava em seu coração por ele. Ao chegarem ao lugar combinado para se separarem, o pai balbuciou: "Deus te abençoe, meu fi­lho! O Deus de teu pai te prospere e te guarde de todo o mal". Depois de se abraçarem, o filho saiu correndo en­quanto o pai, em pé, no meio da estrada, imóvel, o chapéu na mão e com lágrimas correndo pelas faces, continuava a orar em seu coração.
Alguns anos depois, o filho testificou de que essa cena, gravada na sua alma, o estimulava como um fogo inextin­guível a não desapontar o pai no que esperava dele, seu fi­lho, que seguisse o seu bendito exemplo de andar com Deus.
Durante os três anos de estudos em Glasgow, apesar de trabalhar com as próprias mãos para se sustentar, João Paton, no gozo do Espírito Santo, fez uma grande obra na seara do Senhor. Contudo, soava-lhe constantemente aos ouvidos o clamor dos selvagens nas ilhas do Pacífico e isso foi, antes de tudo, o assunto que ocupava as suas medita­ções e orações diárias. Havia outros para continuar a obra que fazia em Glasgow, mas quem desejava levar o Evange­lho a esses pobres bárbaros?!
Ao declarar sua resolução de trabalhar entre os antro­pófagos das Novas Hébridas, quase todos os membros da sua igreja se opuseram à sua saída. Um muito estimado ir­mão assim se exprimiu: "Entre os antropófagos! será co­mido por eles!" A isso João Paton respondeu: 'O irmão é muito mais velho que eu, breve será sepultado e comido por vermes; declaro ao irmão que, se eu conseguir viver e morrer servindo o Senhor Jesus e honrando o seu nome, não me importarei ser comido por antropófagos ou por ver­mes; no grande dia da ressurreição, o meu corpo se levan­tará tão belo como o seu, na semelhança do Redentor res­suscitado".
De fato, as Novas Hébridas haviam sido batizadas com sangue de mártires. Os dois missionários, Williams e Har­ris, enviados para evangelizar essas ilhas, poucos anos an­tes desse tempo, foram mortos a cacetadas, e seus cadáve­res cozidos e comidos. "Os pobres selvagens não sabiam que assassinavam seus amigos mais fiéis; assim os crentes em todos os lugares, ao receberem as notícias do martírio dos dois, oraram com lágrimas por esses povos."
E Deus ouviu as súplicas, chamando, entre outros, a João Paton. Porém, a oposição à sua saída era tal, que ele resolveu escrever a seus pais; pela resposta veio a saber que eles o haviam dedicado para tal serviço, no dia do seu nas­cimento. Desde esse momento, João Paton não mais duvi­dou da vontade de Deus, e assentou no seu coração gastar a vida servindo aos indígenas das ilhas do Pacífico.
O nosso herói conta muitas coisas de interesse acerca da longa viagem à vela para as Novas Hébridas. Quase no fim da viagem, quebrou-se o mastro do navio. As águas os levavam lentamente para Tana, uma ilha de antropófagos, onde a bagagem teria sido saqueada e todos a bordo cozi­dos para serem comidos. Contudo, Deus ouvira suas súpli­cas e alcançaram uma outra ilha. Alguns meses depois, fo­ram à mesma ilha de Tana, onde conseguiram comprar o terreno dos silvícolas e edificar uma casa. Comove o cora­ção ler que construíram a casa sobre os mesmos alicerces lançados pelo missionário Turner, quinze anos antes, o qual teve de fugir da ilha para escapar de ser morto e comi­do pelos selvagens.
Acerca da sua primeira impressão sobre o povo, Paton escreveu: "Fui levado ao maior desespero. Ao vê-los na sua nudez e miséria, senti tanto horror como compaixão. Eu ti­nha deixado a obra entre os amados irmãos em Glasgow, obra em que sentia muito gozo, para dedicar-me a criatu­ras tão degeneradas. Perguntei-me a mim mesmo: - 'É possível ensiná-las a distinguir entre o bem e o mal, e levá-las a Cristo, ou mesmo a civilizá-las? Mas tudo isso eram apenas sentimentos passageiros. Logo senti um desejo tão profundo de levá-los ao conhecimento e amor de Jesus, como jamais sentira quando trabalhava em Glasgow .
Antes de completar a casa em que o casal Paton iria morar, houve uma batalha entre duas tribos. As mulheres e crianças fugiram para a praia onde conversavam e riam ruidosamente, como se seus pais e irmãos estivessem ocu­pados em algum trabalho pacífico. Mas enquanto os selva­gens gritavam e se empenhavam em conflitos sangrentos, os missionários entregavam-se à oração por eles. Os cadá­veres dos mortos foram levados pelos vencedores a uma fonte de água fervente, onde foram cozidos e comidos. A noite ainda se ouvia pranto e gritos prolongados nas vilas em redor. Os missionários foram informados de que um guerreiro, ferido na batalha, acabara de morrer em casa. A sua viúva foi estrangulada imediatamente, conforme o cos­tume, para que o seu espírito acompanhasse o do marido e lhe continuasse a servir de escrava.
Os missionários, então, nesse ambiente da mais repug­nante superstição, da mais baixa crueldade e da mais fla­grante imoralidade, esforçavam-se para aprender a usar todas as palavras possíveis desse povo que não conhecia a escrita. Anelavam falar de Jesus e do amor de Deus a esses seres que adoravam árvores, pedras, fontes, riachos inse­tos, espíritos dos homens falecidos, relíquias de cabelos e unhas, astros, vulcões, etc.
A esposa de Paton era uma ajudadora esforçada e den­tro de poucas semanas reuniu oito mulheres da ilha e as instruía diariamente. Três meses depois da chegada dos missionários à ilha, a esposa de Paton faleceu de maleita e um mês depois o filhinho também morreu. - Quem pode avaliar as saudades de Paton, durante os anos que traba­lhou sem ajudadora em Tana?! Apesar de quase haver morrido também de maleita, de os crentes insistirem para que voltasse à sua terra, e de os indígenas fazerem plano após plano de matá-lo para o comerem, esse herói perma­neceu orando e trabalhando fielmente no posto onde Deus o colocara.Um templo foi construído e um bom número se congre­gava para ouvir a mensagem divina. Paton não somente conseguiu reduzir a língua dos tanianos à forma escrita, mas também traduziu uma parte das Escrituras, a qual imprimiu, apesar de não conhecer a arte tipográfica. Acer­ca dessa gloriosa façanha de imprimir o livro em Taniano, assim escreveu: "Confesso que gritei de alegria quando a primeira folha saiu do prelo, tendo todas as páginas na or­dem própria; era uma hora da madrugada. Eu era o único homem branco na ilha e havia horas em que todos os nati­vos dormiam. Contudo, atirei ao ar o chapéu e dancei como um menino, por algum tempo, ao redor do prelo".
- "Terei eu perdido a razão? Não devia, como missio­nário, estar de joelhos louvando a Deus, por mais esta pro­va de sua graça? Crede, amigos, o meu culto foi tão sincero como o de Davi, quando dançou diante da Arca do seu Deus! Não deveis pensar que, depois de pronta a primeira página, eu não me tivesse ajoelhado pedindo ao Todo-Poderoso que propagasse a luz e a alegria do seu Santo Li­vro nos corações entenebrecidos dos habitantes daquela terra inculta".
Depois de Paton haver passado três anos em Tana, o casal de missionários que vivia na ilha vizinha, Erromanga, foi martirizado barbaramente a machadadas, em pleno dia. Ao completar quatro anos de estada em Tana, o ódio dos indígenas dessa ilha chegou ao auge. Diversas tribos combinaram matar o "indefeso" missionário e findar, as­sim, com a religião do Deus de amor, em toda a ilha. Con­tudo, como ele mesmo se declarava imortal até findar sua obra na terra, evitava, em pleno campo, os inúmeros gol­pes de lanças, machadinhas e cacetes, armados pelas mãos dos indígenas, e assim conseguiu escapar para a ilha de Aneitium. Planejou então ocupar-se na obra de tradução do resto dos Evangelhos na língua taniana, enquanto espe­rava a oportunidade de voltar a Tana. Contudo, sentiu-se dirigido a aceitar a chamada para ir à Austrália. Em pou­cos meses, animou as igrejas ali a comprarem um navio à vela, para servir aos missionários. Despertou-as, também, a contribuírem liberalmente e a enviarem mais missioná­rios a evangelizar todas as ilhas.
Acerca da sua viagem à Escócia, depois de alguns anos nas Novas Hébridas, ele escreveu: "Fui, de trem, a Dunfries e lá achei condução para o querido lar paterno, onde fui acolhido com muitas lágrimas. Havia somente cinco curtíssimos anos que saíra desse santuário com a minha jo­vem esposa, e agora, ai de mim! - mãe e filhinho jaziam no túmulo, em Tana, nos braços um do outro, até o dia da res­surreição... Não foi com menos gozo, apesar de sentir-me angustiado, que, poucos dias depois, me encontrei com os pais da minha querida falecida esposa."
Antes de deixar a Escócia, para nova viagem, Paton ca­sou-se com a irmã de outro missionário. Chamada por Deus a trabalhar entre os povos mergulhados nas trevas das Novas Hébridas, ela serviu como fiel companheira de seu marido, por muitos anos.
"Meu último ato na Escócia foi ajoelhar-me no lar pa­terno, durante o culto doméstico, enquanto meu veneran­do pai, como sacerdote, de cabelos brancos, nos encomen­dava, uma vez mais, 'aos cuidados e proteção de Deus, Se­nhor das famílias de Israel.' Eu tinha por certo, quando nos levantamos da oração e nos despedimos uns dos ou­tros, que não nos encontraríamos com eles antes do dia da ressurreição. Porém ele e minha querida mãe, com cora­ções alegres, nos ofertaram de novo ao Senhor, para o seu serviço entre os silvícolas. Mais tarde, meu querido irmão me escreveu que a 'espada' que traspassara a alma da mi­nha mãe, era demasiado aguda e que, depois da nossa saí­da, ela jazeu por muito tempo como morta, nos braços de meu pai."
De volta às ilhas, Paton foi constrangido pelo voto de todos os missionários a não voltar a Tana, mas abrir a obra na vizinha ilha de Aniwa. Dessa forma, tinha de aprender outra língua e começar tudo de novo. Na obra de preparar o terreno para a construção da casa, Paton ajuntou dois cestos de ossos humanos de vítimas comidas pelo povo da ilha!
"Quando essas pobres criaturas começavam a usar um pedacinho de chita, ou um saiote, era sinal exterior de uma transformação, apesar de estarem longe da civilização. E quando começavam a olhar para cima, e a orar Àquele a quem chamavam de 'Pai, nosso Pai', meu coração se derre­tia em lágrimas de gozo; e sei por certo que havia um cora­ção divino nos céus que se regozijava também."
Contudo, como em Tana, Paton considerava-se imortal até completar a obra que lhe fora designada por Deus. Inú­meras vezes evitou a morte agarrando a arma levantada contra ele pelos selvagens para o matarem.
Por fim, a força das trevas unidas contra o Evangelho em Aniwa cedeu. Isso data do tempo em que cavou um poço na ilha. Para os indígenas, a água de coco, para satis­fazer a sede, era suficiente, porque se banhavam no mar e usavam pouco a água para cozinhar - e nenhuma para la­var a roupa! Mas para os missionários, a falta de água doce era o maior sacrifício e Paton resolveu cavar um poço.
No início, os indígenas auxiliaram-no na obra, apesar de considerarem o plano, "do Deus de Missi dar chuva de baixo", concepção de uma mente avariada. Mas depois, amedrontados pela profundeza da cavidade, deixaram o missionário a cavar sozinho, dia após dia, enquanto o con­templavam de longe, dizendo uns aos outros: - "Quem ja­mais ouviu falar em chuva que vem debaixo?! Pobre Mis­si! Coitado!" Quando o missionário insistia em dizer que o abastecimento de água em muitos países vinha de poços, eles respondiam: - "É assim que se dá com os doidos; nin­guém pode desviá-los de suas idéias loucas."
Depois de longos dias de labor enfadonho, Paton alcan­çou terra úmida. Confiava em Deus obter água doce, em resposta às suas orações; contudo, nessa altura, ao meditar sobre o efeito que causaria entre o povo, sentia-se quase to­mado do horror ao pensar que podia encontrar água salga­da. "Sentia-me", escreveu ele, "tão comovido que fiquei molhado de suor e tremia-me todo o corpo, quando a água começou a borbulhar debaixo e a encher o poço. Tomei um pouco de água na mão, levei-a à boca para prová-la. Era água! Era água potável! era água viva do poço de Jeová!"
Os chefes indígenas com seus homens a tudo assistiam. Era uma repetição, em ponto pequeno, dos israelitas ro­deando Moisés, quando ele fez água sair da rocha. O mis­sionário, depois de passar algum tempo louvando a Deus, ficou mais calmo, desceu novamente, encheu um jarro da"chuva que Deus Jeová lhe dava pelo poço", e entregou-o ao chefe. Este sacudiu o jarro para ver se realmente havia água dentro; então tomou um pouco na mão e, não satisfei­to com isso, levou à boca um pouco mais. Depois de revol­ver os olhos de alegria, bebeu-a e rompeu em gritos: "Chu­va! Chuva! É chuva mesmo! - Mas como a arranjou?" Paton respondeu: - "Foi Jeová, meu Deus, quem a deu da sua terra em resposta ao nosso labor e orações. Olhai e vede por vós mesmos como borbulha a terra!"
Não havia um homem entre eles que tivesse coragem de chegar-se perto da boca do poço; então formaram uma fila comprida e, segurando-se uns aos outros pelas mãos, avançaram até que o homem da frente pudesse olhar para dentro do poço; a seguir o que tinha olhado passava para a retaguarda, deixando o segundo olhar para a "chuva de Jeová, mui embaixo".
Depois de todos olharem, um por um, o chefe dirigiu-se a Paton e disse: "Missi, a obra de seu Deus Jeová é admi­rável, é maravilhosa! Nenhum dos deuses de Aniwa jamais nos abençoou tão maravilhosamente. - Mas, Missi, Ele continuará para sempre a dar chuva por essa forma?, ou acontecerá como a chuva das nuvens?" O missionário ex­plicou, para gozo indizível de todos, que essa bênção era permanente e para todos os aniwanianos.
Os nativos experimentaram, durante os anos que se se­guiram, em seis ou sete dos lugares mais prováveis, perto de várias vilas, cavar poços. Todas as vezes que o fizeram ou encontraram pederneira ou o poço dava água salgada. Diziam entre si: - "Sabemos cavar, mas não sabemos orar como Missi e, portanto, Jeová não nos dá chuva debaixo!"
Num domingo, depois que Paton alcançou água do po­ço, o chefe Namakei convocou o povo da ilha. Fazendo seus gestos com a machadinha na mão, dirigiu-se aos ouvintes da seguinte maneira: - "Amigos de Nakamei, todos os po­deres do mundo não podiam obrigar-nos a crer que fosse possível receber chuva das entranhas da terra, se não a ti­véssemos visto com os próprios olhos e provado com a bo­ca... Desde já, meu povo, devo adorar o Deus que nos abriu o poço e nos dá chuva debaixo. Os deuses de Aniwa não po­dem socorrer-nos como o Deus de Missi. Para todo o sempre sou um seguidor de Deus Jeová. Todos vós que quiserdes fazer o mesmo, tomai os ídolos de Aniwa, os deuses que nossos pais temiam e lançai-os aos pés de Missi... Vamos a Missi para ele nos ensinar como devemos servir a Jeová... que enviou seu Filho Jesus para morrer por nós e nos levar aos céus."
Durante os dias que se seguiram, grupo após grupo, al­guns dos silvícolas com lágrimas e soluços, outros aos gri­tos de louvor a Jeová, levaram seus ídolos de pau e pedra, os quais lançaram em montes perante o missionário. Os ídolos de pau foram queimados, os de pedra enterrados em covas de quatro a cinco metros de profundidade e alguns, de maior superstição, foram lançados no fundo do mar, longe da terra.
Um dos primeiros passos da vida cotidiana da ilha, de­pois de destruírem os ídolos, foi a invocação da bênção do Senhor às refeições. O segundo passo, uma surpresa maior e que também encheu o missionário de gozo, foi um acordo entre eles de fazer culto doméstico de manhã e à noite. Sem dúvida esses cultos eram misturados, por algum tem­po, com muitas das superstições do paganismo.
Mas Paton traduziu as Escrituras, e as imprimiu na língua aniwaniana e ensinou o povo a lê-las. A transforma­ção do povo da ilha foi uma das maravilhas dos tempos modernos. Como arde o coração ao ler acerca da ternura que o missionário sentia para com esses amados filhos na fé, e do carinho com que esses, outrora cruéis selvagens que comiam uns aos outros, mostravam para com o missioná­rio!
Que o nosso coração arda também para ver a mesma transformação dos milhares de silvícolas no interior de nosso querido Brasil!
Paton descreveu a primeira Ceia do Senhor com as se­guintes palavras: "Ao colocar o pão e o vinho nas mãos, ou­trora manchadas do sangue de antropofagia, agora esten­didas para receber e participar dos emblemas do amor do Redentor, antecipei o gozo da glória até o ponto de o cora­ção não suportar mais. É-me impossível experimentar delícia maior antes de eu poder fitar o rosto glorificado do próprio Senhor Jesus Cristo!"Deus, não somente concedeu ao nosso herói o indizível gozo de ver os aniwanianos irem evangelizar as ilhas vizi­nhas, mas também de ver seu próprio filho, Frank Paton, e esposa, morando na ilha de Tana e continuando a obra que ele começara com o maior sacrifício.
Foi com a idade de 83 anos, que João G. Paton ouviu a voz de seu precioso Jesus, chamando-o para o lar eterno. Quão grande o seu gozo, não somente ao reunir-se aos seus queridos filhos das ilhas do Sul do Pacífico, que entraram no Céu antes dele, mas, também, saudar bem-vindos os outros ao chegarem ali, um por um!
(extraido do livro hérois da fé)

DAVI LIVINGSTONE
CÉLEBRE MISSIONÁRIO E EXPLORADOR
(1813-1873) - Certo comerciante, ao visitar a abadia de Westminster, em Londres, onde se acham sepultados os reis e vultos eminentes da Inglaterra, inquiriu qual o túmulo, excluindo o do "soldado desconhecido", que é mais visitado. O por­teiro respondeu que era o de Davi Livingstone. São poucos os humildes e fiéis servos de Deus que o mundo distingue e honra assim.
Conta-se que, em Glasgow, depois de passar dezesseis anos na África, Livingstone foi convidado a fazer um dis­curso perante o corpo discente da universidade. Os alunos resolveram vaiar esse "camarada missionário'', fazendo o maior barulho possível. Certa testemunha do aconteci­mento disse: "Contudo, desde o momento em que Livings­tone compareceu perante eles, magro e delgado, depois de cair trinta e uma vezes de febre nas matas da África, e com um braço descansando numa tipóia, depois do encontro com um leão, os alunos guardaram grande silêncio. Ouvi­ram, com o maior respeito, tudo que o orador relatou e amaneira como Jesus cumprira a sua promessa: "Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos sécu­los".
Davi Livingstone nasceu na Escócia. Seu pai, Neil Li­vingstone, contava aos filhos as proezas de seus antepassa­dos, por oito gerações. Um dos bisavôs de Davi, com a família, fugira dos cruéis pactuários, para os pantanais e montes escabrosos, onde podia adorar a Deus em espírito e em verdade. Mas mesmo esses cultos, que se realizavam entre os espinhos e, às vezes, no gelo, eram interrompidos, de vez em quando, pela cavalaria que chegava galopando para matar ou levar presos, tanto homens como mulheres.
Os pais de Davi criaram seus filhos no temor do Se­nhor. O lar era sempre alegre e servia como notável modelo de todas as virtudes domésticas. Não se perdia uma hora durante os sete dias da semana e o domingo era esperado e honrado como o dia de descanso. Com a idade de nove anos, Davi ganhou um Novo Testamento, prêmio oferecido ao repetir de cor o capítulo mais comprido da Bíblia, o Sal­mo 119.
"Entre as recordações mais sagradas da minha infân­cia", escreveu Livingstone, "estão as da economia da mi­nha mãe para que os poucos recursos fossem suficientes para todos os membros da família. Quando completei dez anos de idade, meus pais me colocaram em uma tecelagem para que eu ajudasse a sustentar a família. Com parte do salário da primeira semana, comprei uma gramática de la­tim".
Davi iniciava o dia na tecelagem, às seis horas da ma­nhã e, com intervalos para o café e o almoço, trabalhava até oito da noite. Segurava a sua gramática aberta na má­quina de fiar algodão e, enquanto trabalhava, estudava-a linha por linha. Às oito horas da noite, dirigia-se, sem per­der tempo, à escola noturna. Depois das aulas, estudava as lições para o dia seguinte, às vezes, até a meia-noite, quan­do a mãe tinha de obrigá-lo a apagar a luz e dormir.
A inscrição no túmulo dos pais de Davi Livingstone indica as privações no lar paterno:
Para marcar o lugar onde descansa Neil Livingstone, e  Agnes Hunter, sua esposa e para exprimir a gratidão a Deus dos seus filhos:
João, Davi, Janet, Carlos e Agnes,por pais pobres e piedoso
Os amigos insistiam em que ele mudasse as últimas pa­lavras para "pais pobres, mas piedosos". Contudo, Davi recusou porque, para ele, tanto a pobreza, como a piedade eram motivos de gratidão. Sempre considerou o fato de aprender a trabalhar longos dias, mês após mês, ano atrás ano, na fábrica de algodão, uma das maiores felicidades da sua vida.
Nos dias feriados, Davi gostava de pescar e fazer longas excursões pelos campos e às margens dos rios. Esses pas­seios extensos lhe serviam tanto de instrução como de re­creio; saía para verificar na própria natureza o que estuda­ra nos livros sobre botânica e geologia. Sem o saber, ele as­sim se preparava em corpo e mente para as explorações científicas e para o que escreveria com exatidão acerca da natureza na África.
Aos vinte anos, houve grande mudança espiritual em Davi Livingstone, que determinou o rumo de todo o resto da sua vida. "A bênção divina inundou-lhe o ser como inundara o coração do apóstolo Paulo ou de Agostinho, e outros do mesmo tipo, dominando os desejos carnais... Atos de abnegação, muito difíceis de executar sob a lei fér­rea da consciência, tornaram-se em serviços de vontade li­vre sob o brilho do amor divino... É evidente que fora mo­vido por uma força calma, mas tremenda, dentro do pró­prio coração, até o fim da vida. O amor que começou a co­movê-lo, na casa paterna, continuou a inspirá-lo durante todas as longas e enfadonhas viagens pela África, e o levou a ajoelhar-se, à meia-noite, no rancho em Ilala, de onde seu espírito, enquanto ainda orava, voltou ao seu Deus e Salvador.
Davi, desde a infância, ouvia falar de um missionário valente na China, cujo nome era Gutzlaff. Nas suas ora­ções, à noite, ao lado de sua mãe, orava por ele. Com a idade de dezesseis anos, Davi começou a sentir desejo profun­do de fazer conhecido o amor e a graça de Cristo àqueles que jaziam em densas trevas, e resolveu firmemente no co­ração dar, também sua vida, como médico e missionário, ao mesmo país, a China.
Ao mesmo tempo, o professor da sua classe na Escola Dominical, Davi Hogg, o aconselhava: "Ora, moço, faça da religião o motivo principal da sua vida cotidiana e não uma coisa inconstante, se quer vencer as tentações e outras coisas que o querem derribar". E Davi assentou no seu co­ração dirigir sua vida por essa norma
Ao completar nove anos de serviços na fábrica, foi pro­movido a um trabalho mais lucrativo. Conseguiu comple­tar seus estudos, recebendo o diploma de licenciado da Fa­culdade de Médicos e Cirurgiões de Glasgow, sem ter rece­bido um tostão de auxílio de alguém.

Se os crentes não o tivessem aconselhado a que falasse à Sociedade Missionária de Londres acerca de enviá-lo como missionário, ele depois declarou que teria ido por seus próprios esforços.
Durante todos os anos de estudos para ser médico e missionário, sentia-se dirigido para ir a China. Certa vez, numa reunião, ouviu o discurso de um homem, de barba comprida e branca, alto, robusto e de olhos bondosos e pe­netrantes, chamado Roberto Moffat. Esse missionário vol­tara da África, um país misterioso, cujo interior era então desconhecido. Os mapas desse continente tinham no cen­tro enormes espaços em branco, sem rios e sem serras. Fa­lando da África, Moffat disse a Davi Livingstone: "Há uma vasta planície ao norte, onde tenho visto, nas manhãs ensolaradas, a fumaça de milhares de aldeias, onde ne­nhum missionário ainda chegou".
Comovido, ao ouvir falar em tantas aldeias sem o Evangelho e sabendo que não podia mais ir à China por causa de guerra que havia naquele país, Livingstone res­pondeu: "Irei imediatamente para a África".
Com isso os irmãos da missão concordaram e Davi vol­tou ao humilde lar em Blantire para se despedir dos pais e irmãos. Às cinco horas da manhã, do dia 17 de novembro de 1840, a família se levantou. Davi leu os salmos 121 e 135com eles. As seguintes palavras ficaram gravadas no seu coração, para o fortalecerem no calor e perigos durante os longos anos que passou depois, na África: "O sol não te molestará de dia e nem a lua de noite... O Senhor guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre". Depois de orarem, despediu-se da sua mãe e irmãs e andou a pé, com seu pai que o acompanhou até Glasgow. Depois de se despedirem um do outro, Davi embarcou no navio para não mais ver, aqui na terra, o rosto nobre de Neil Li­vingstone.
A viagem de Glasgow ao Rio de Janeiro e, por fim, à ci­dade do Cabo, na África, durou três meses. Mas Davi não desperdiçou o tempo. O comandante se tornou seu amigo íntimo e ajudou-o a preparar os cultos, nos quais Davi pre­gava aos tripulantes do navio. O novo missionário aprovei­tou, também, a oportunidade a bordo para aprender a usar o sextante e saber exatamente a posição do navio, obser­vando a lua e as estrelas. Essa ciência lhe foi mais tarde de incalculável valor para orientar-se nas viagens de evangelização e exploração no imenso interior desconhecido do qual "subia a fumaça de mil vilas sem missionário".
Da cidade do Cabo, a viagem de 190 léguas foi feita aos solavancos, num carro de boi, através de campos incultos. A viagem durou dois meses, até chegar em Curumã, onde devia esperar o regresso de Roberto Moffatt. Desejava es­tabelecer-se em um lugar cinqüenta a sessenta léguas mais para o norte de qualquer outro em que houvesse obra mis­sionária.
Para aprender a língua e os costumes do povo, nosso pioneiro passava o tempo viajando e vivendo entre os indí­genas. O seu boi de sela passava a noite amarrado, en­quanto ele assentava-se com os africanos ao redor do fogo, ouvindo as lendas dos seus heróis. Livingstone, por sua vez, contava-lhes as preciosas e verdadeiras histórias de Belém, da Galiléia e da Cruz. Continuou sempre os seus estudos enquanto viajava, fazendo mapas dos rios e serras do território percorrido. Em uma carta a um amigo escre­veu que descobrira trinta e duas qualidades de raízes co­mestíveis e quarenta e três espécies de fruteiras que davam no deserto sem serem cultivadas. De um ponto que alcançou, faltavam-lhe apenas dez dias de viagem para chegar ao grande lago Ngami, que descobriu sete anos depois.
De Curumã, o missionário, licenciado da Faculdade de Médicos e Cirurgiões de Glasgow, escreveu a seu pai: "Tenho uma clientela grande. Há pacientes aqui que andaram mais de sessenta léguas para receberem tratamento médico. Esses, ao regressarem, enviarão outros para o mesmo fim".
Estabeleceu a sua primeira missão no lindo vale de Mabotsa, na terra de Bacarla. Em uma carta, escrita de Curumã, Livingstone assim descreveu o local que escolhe­ra para centro de evangelização: "Está situado em um an­fiteatro de serras que se intitula 'Mabotsa', isto é, 'Ceia de Bodas'. Que Deus nos ilumine com a sua presença, para que, por intermédio de servos tão fracos, muito povo ache entrada para a Ceia das Bodas do Cordeiro!"
Foi em Mabotsa que teve o histórico encontro com um leão. Acerca disso escreveu Davi: "Ele saltou e me alcançou o ombro; ambos fomos ao chão. Rosnando horrivel­mente perto do meu ouvido, sacudiu-me como um cão faz a um gato. Os abalos que me deu o animal produziram-me um entorpecimento igual ao que deve sentir um rato, de­pois da primeira sacudidela que lhe dá o gato. Atacou-me uma espécie de adormecimento, em que não senti dor nem sensação de temor".
Contudo, antes de a fera ter tempo de o matar, deixou-o para atacar outro homem que, de lança na mão, entrara na luta. O ombro dilacerado de Livingstone nunca sarou completamente: ele nunca mais pôde apontar um rifle ou levar a mão à cabeça sem sentir dores.
Foi na casa de Roberto Moffatt, em Curumã, que chegou a conhecer Maria, a filha mais velha desse missionário. Depois de abrir a missão em Mabotsa os dois se casa­ram. Seis filhos foram o fruto desse enlace.
Depois de Livingstone se casar, a Escola Dominical em Mabotsa transformou-se em escola diária, tendo sua espo­sa como professora. Schele, o chefe da tribo, tornou-se grande estudante da Bíblia, mas queria "converter" todo o seu povo à força de "litupa", isto é, chicote de couro de ri­noceronte. Schele iniciou culto doméstico em casa e o próprio Livingstone se admirou da sua maneira, simples e na­ta, de orar. Era o costume de Livingstone começar o dia com culto doméstico e não é de admirar que o chefe o ado­tasse também.
Livingstone foi obrigado a mudar-se para Chonuane, dez léguas distante e, mais tarde, por falta de água, ele e todo o povo mudaram-se para Colobeng. Foi nesse último lugar que o chefe da tribo construiu uma casa para os cul­tos e Livingstone construiu com grande sacrifício de di­nheiro e labor, a sua terceira casa de residência. Nessa casa morou cinco anos para nunca mais conseguir fixar re­sidência em qualquer lugar na terra.
Acerca do trabalho nesse lugar, assim se expressou: "Aqui temos um campo muitíssimo difícil de cultivar... Se não confiássemos que o Espírito Santo opera em nós, desis­tiríamos em desespero".
Através do deserto de Calari, chegavam boatos de um grande lago e de um lugar chamado ''Fumaça Barulhen­ta", o que ele julgava ser uma grande cachoeira. As secas o oprimiam tanto em Colobeng que Livingstone resolveu fa­zer uma viagem de exploração e achar um lugar mais ideal para estabelecer a sua missão. Assim, em 1º de junho de 1849, com o chefe da tribo, seus "guerreiros", três brancos e sua família, saíram para atravessar o grande deserto de Calari. O guia do grupo, Romotobi, conhecia o segredo de subsistir no deserto, cavando com as mãos e chupando a água debaixo da areia por meio dum canudo.
Depois de viajarem muitos dias, chegaram ao rio Zouga. Ao inquirir os indígenas, estes o informaram de que o rio tinha nascente em uma terra de rios e florestas. Livingstone ficou convicto de que o interior da África não era um grande deserto como o mundo de então supunha, e o seu coração ardia com o desejo de achar uma via fluvial, para outros missionários irem para o interior do continen­te, com a mensagem de Cristo.
"A perspectiva", escreveu ele, "de achar um rio que dê entrada a uma vasta, populosa e desconhecida região, aumentou constantemente desde então; aumentou tanto que, quando, por fim chegamos ao grande lago, esse impor­tante descobrimento, em si mesmo, parecia de pouca mon­ta".
Foi em 1º de agosto de 1849 que o grupo atingiu o lago Ngami, tão grande é esse lago que, de uma margem, não se avista a margem oposta. Sofreram longos dias de cruciante sede sem obter uma gota dágua, mas venceram todas as di­ficuldades e descobriram esse lago enquanto outros explo­radores mais bem equipados, mas menos persistentes, fa­lharam.
As notícias do descobrimento foram comunicadas à Royal Geographical Society, o que lhe votou uma bela recompensa de vinte e cinco guinéus, "por ter descoberto uma importante terra, um importante rio e um grande lago".
O grupo teve de voltar a Colobeng. Depois de alguns meses, porém, iniciou novamente viagem para o lago Nga­mi. Não queria separar-se da sua família e levou-a em um carro de boi. Mas, ao alcançar o rio Zouga, os filhos foram atacados pela febre e ele teve de voltar com a família. Nas­ceu-lhe uma filha, que morreu logo de febre. Livingstone, contudo, ficou mais firme do que nunca, na sua resolução de achar um caminho para levar o Evangelho ao interior da África.
Depois de descansar alguns meses com a família, na casa de seu sogro, em Curumã, saíram com o propósito de achar um lugar saudável onde pudesse estabelecer uma missão mais para o interior. Foi nessa viagem, em junho de 1851, que descobriu o maior rio da África Oriental, o Zam­beze, rio do qual o mundo de então nunca ouvira falar.
No seguinte trecho que Livingstone escreveu, descobre-se algo do que tinham de sofrer nessas viagens: "Um dos assistentes desperdiçou a água que levávamos no carro e, à tarde, tínhamos apenas um restinho para as crianças. Pas­samos a noite angustiados e na manhã seguinte, quanto menos havia de água, tanto mais aumentava a sede das crianças. O pensamento de elas perecerem diante de nos­sos olhos, nos perturbava. Na tarde do quinto dia, senti­mos grande alívio, quando um dos homens voltou trazendo tanto desse líquido como jamais antes havíamos pensado."
Livingstone, convicto de que era a vontade de Deus que saísse para estabelecer outro centro de evangelização, ecom indômita fé de que o Senhor supriria todo o necessário para cumprir a sua vontade, avançava sem vacilar.
Depois de descobrir o rio Zambeze, Livingstone veio a saber que os lugares saudáveis eram sujeitos a serem sa­queados em qualquer tempo por outras tribos. Só nos luga­res infestados de doença e febre é que se achavam tribos específicas.
Resolveu, portanto, enviar a esposa para descansar na Inglaterra enquanto ele continuava as suas explorações a fim de estabelecer um centro para a obra de evangelização. Via-se forçado a estabelecer tal centro, porque os boêres holandeses invadiam o território, roubando as terras e o gado dos indígenas, pondo em prática um regime da mais vil escravatura. Livingstone enviou crentes fiéis para evangelizar os povos em redor, mas os boêres acabaram com essa obra, matando muitos dos indígenas e destruindo to­dos os bens que o missionário possuía em Colobeng.
Livingstone levou sua família para a cidade do Cabo, de onde seus queridos embarcaram em um navio para a Inglaterra.
Foi nesse tempo, quando Deus suprira todo o necessá­rio para a família voltar à Inglaterra, que disse: "Oh! Amor divino, eu não te amo com a força, a profundidade e o ardor que convém!"
A separação da família causou-lhe profunda mágoa, mas dirigiu o rosto heroicamente de novo para socorrer as infelizes tribos do interior da África.
Havia três motivos que o aconselhavam a fazer uma viagem de exploração: Primeiro, queria achar um lugar para residir com a família entre os "barotses" e evangeli­zá-los. Segundo, a comunicação entre o território dos "ba­rotses" e a cidade do Cabo era muito demorada e difícil e queria descobrir um caminho para um porto mais próxi­mo. Terceiro, queria fazer todo o possível para influenciar as autoridades contra o horrendo tráfico de escravos.
Foi nessa época da sua vida que Livingstone, por suas proezas, tornou-se conhecido no mundo inteiro.
No seu ardor, desejando que Deus lhe poupasse a vida e o usasse em abrir o continente para a entrada do Evange­lho, orou assim: "Ó Jesus, rogo que me enchas agora com oteu amor e me aceites e me uses um pouco para a tua gló­ria. Até agora não fiz nada para ti, mas quero fazer algo. Oh! eu te imploro que me aceites e me uses e que seja tua toda a glória". Escreveu mais ainda: "Não valeria coisa al­guma o que possuo ou o que possuirei, a não ser em relação ao reino de Cristo. Se alguma coisa que tenho pode servir para o seu reino, dar-lha-ei a Ele, a quem devo tudo neste inundo e durante a eternidade".
Livingstone atravessou, ida e volta, o continente africa­no, desde a foz do Zambeze a São Paulo de Luanda, faça­nha essa realizada pela primeira vez por um branco. Nas suas memórias que escrevia diariamente, nota-se como ad­mirava as lindas paisagens de um continente que o mundo julgava ser um vasto deserto.
Chegou a Luanda, magro e doente. Apesar da insistên­cia do cônsul britânico para que regressasse à Inglaterra, a fim de recuperar a saúde abalada, ele voltou novamente, por outro caminho, para levar seus fiéis companheiros até em casa, conforme lhes prometera antes de iniciarem a viagem.
Nessa viagem, Livingstone descobriu as magníficas ca­taratas de Vitória, nome que ele deu às grandes quedas em honra da rainha da Inglaterra. Nesse lugar, o rio Zambeze tem a largura de mais de um quilômetro; ali as águas desse grande rio se precipitam espetacularmente de uma altura de cem metros.
Levingstone continuou a pregar o Evangelho constan­temente, às vezes a auditórios de mais de mil indígenas. Antes de tudo, esforçava-se para ganhar a estima das tri­bos hostis, por onde passava, por sua conduta cristã, em grande contraste com a dos mercadores de escravos.
Sozinho, com os seus fiéis macololos, caiu trinta e uma vezes de febre nos matagais, durante um período de sete meses. Mas não era tanto o sofrimento físico. Suas cartas revelam a sua angústia de espírito ao ver os horrores do povo africano massacrado e arrebatado dos seus lares, con­duzido como gado para ser vendido no mercado. De um lu­gar alto onde subiu, contou dezessete aldeias em chamas, incendiadas por esses nefandos mercadores de seres huma­nos.Prometera à sua esposa reunir-se com a família depois de dois anos, mas passaram-se quatro anos e meio antes que ela recebesse qualquer notícia dele!
Por fim, após uma ausência de dezessete anos da pá­tria, regressou à Inglaterra. Voltou à civilização e à sua família como quem volta da morte. Antes de desembarcar, soube que seu querido pai falecera. Em toda a história de Livingstone, não se conta um acontecimento mais como­vente do que o seu encontro com a esposa e filhos. Na In­glaterra, foi aclamado e honrado como heróico descobridor e grande benfeitor da humanidade. Os diários publicavam os seus atos de bravura. As multidões afluíam para ouvi-lo contar a sua história. "O doutor Livingstone era muito hu­milde... Temia passear nas ruas, receando ser atropelado pelas massas. Certo dia, na Regent Street, em Londres, foi apertado por tão grande multidão, que só com grande difi­culdade conseguiu refugiar-se num táxi. Pela mesma razão evitava ir aos cultos. Certa vez, desejoso de assistir ao cul­to, meu pai persuadiu-o a ocupar um assento debaixo da galeria, em um lugar não visível ao auditório. Mas foi des­coberto e o povo passou por cima dos bancos para cercá-lo e apertar-lhe a mão".
Uma das muitas coisas que levou a efeito, enquanto na Inglaterra, foi a de escrever seu livro: Viagens Missionárias, obra que alcançou enorme circulação e produziu mais interesse na questão africana do que qualquer movimento anterior.
Em março de 1858, com a idade de 46 anos, Livingsto­ne, acompanhado de sua esposa e filho mais novo, Osval­do, embarcou novamente para a África. Deixando os dois na casa do sogro, o missionário Moffatt, Livingstone conti­nuou as suas viagens. No ano seguinte, descobriu o lago Niassa. Recebeu, também, uma carta da esposa, da casa de seus pais em Curumã, informando-o do nascimento de mais uma filha. A menina já estava há quase um ano no mundo quando o pai soube do seu nascimento.
As explorações dos rios Zambeze, Tete e Shire e do lago Niassa, foram feitas com o propósito de saber quais os pon­tos mais estratégicos para a evangelização, e missionários foram enviados da Inglaterra para ocuparem esses lugares.Em 1862 a esposa reuniu-se a ele novamente, e acom­panhava-o nas viagens, mas três meses depois faleceu, vítima da febre e foi enterrada em uma encosta verdejante na margem do rio Zambeze. Np seu diário, Livingstone assim escreveu: "Chorei-a porque merece as minhas lágrimas. Amei-a ao nos casarmos, e quanto mais tempo vivíamos juntos, tanto mais a amava. Que Deus tenha piedade dos filhos..."
Um dos maiores obstáculos que Livingstone enfrentou na obra missionária foi o terror dos indígenas ao verem um rosto de homem branco. Aldeias inteiras em ruínas; fugiti­vos escondendo-se nos campos de alto capim, sem nada terem para comer; centenas de esqueletos e cadáveres inse­pultos; comboios de homens e mulheres algemados aos troncos, seguros pelo pescoço, eram conduzidos aos portos - É difícil concebermos  a magnitude da desolação criada por homens cruéis que participavam do tráfico de escravos.
Esses homens tentavam, também, com ódio cruel e arte diabólica, terminar com a obra de Livingstone. Final­mente conseguiram, por meio da política do seu país, indu­zir a Inglaterra a chamá-lo de volta à sua terra. Foi assim que Livingstone chegou de novo à sua pátria depois de uma ausência de cerca de oito anos.
Os crentes e amigos na Inglaterra, animados pela visão de Livingstone, começaram a orar e enviar-lhe dinheiro para continuar sua obra no continente negro. O nosso herói desembarcou pela terceira e última vez na África, em Zanzibar.
Na expedição que iniciou em Zanzibar, descobriu os lagos Tanganyka (1867), Moero (1867) e Bangueolo (1868). Passou cinco longos anos explorando as bacias desses la­gos. A oração e a Palavra de Deus foram o seu sustento es­piritual durante esses anos de provações, que sofria por parte dos negociantes de escravos.
Resolveu, então, fazer o possível para descobrir as nas­centes do rio Nilo e solver um problema que durante mi­lhares de anos havia zombado dos geógrafos. Sabia que se descobrisse as nascentes do famoso Nilo, o mundo todo lhe daria ouvidos acerca da chaga aberta da África, com o comércio de escravos. É interessante conhecer o que ele es­creveu: "O mundo acha que busco fama, porém eu tenho uma regra, isto é, não leio coisa alguma sobre os elogios que me fazem". Ele sabia que, ao findar a escravatura, o continente se abriria para deixar entrar o Evangelho.
Durante os longos intervalos entre os períodos em que suas cartas eram recebidas na Inglaterra, vindas do coração da África, circularam boatos de que Livingstone mor­rera. Não só os homens que traficavam com escravos que­riam matá-lo, mas também muitos dos próprios indígenas, por não acreditarem existir um homem branco que fosse amigo de coração. Ele mesmo contou muitos fatos relacionados com as ciladas na terra do Maniuema para o matarem. Nesse lugar, ele escreveu no seu diário: "Li toda a Bíblia quatro vezes, enquanto estive em Maniuema". Na solidão achou grande conforto nas Escrituras.
Reconhecia sempre a possibilidade de perecer nas mãos dos inimigos, mas sempre respondia à insistência dos amigos com esta pergunta: - "Não pode o amor de Cristo constranger o missionário a ir onde a traficância leva o merca­dor de escravos?"
Pela primeira vez, nos milhares de léguas que cami­nhou, os pés do pioneiro falharam. Obrigado a ficar algum tempo em uma cabana, todos os seus companheiros o abandonaram, à exceção de três que ficaram com ele.
Por fim, chegou a Ujiji, reduzido a pele e ossos, por cau­sa da grave doença que sofrera em Maniuema. Não tinha recebido cartas havia dois anos e esperava receber também as provisões que enviara para lá. Contudo, as cartas não haviam chegado. Com o corpo enfraquecido, e destituído de roupas e alimentos, veio a saber que lhe tinham rouba­do tudo. Nessa situação, ele escreveu: "Na minha pobreza senti-me como o homem que, descendo de Jerusalém a Je­ricó, caiu nas mãos de ladrões. Não tinha esperança de que sacerdotes, levitas ou o bom samaritano viesse em meu so­corro. Entretanto, quando minha alma se achava mais abatida, o bom samaritano já estava bem perto de mim!"
O "bom samaritano" era Henrique Stanley, enviado pelo New York Herald, à insistência de muitos milhares de leitores desse jornal, para saber ao certo se Livingstone ainda vivia, ou, no caso de ter morrido, para trazer seu corpo.
Stanley passou o inverno com Livingstone. Mas este se recusou a ceder à insistência daquele de voltar à Inglaterra. Livingstone podia voltar e descansar entre amigos, com todo o conforto, mas preferiu ficar e realizar seu anelo de abrir o continente africano ao Evangelho.
A sua última viagem foi feita para explorar o Luapula, a fim de verificar se esse rio era a nascente do Nilo ou do Congo. Nessa região chovia incessantemente. Livingstone sofria dores atrozes; dia após dia tornava-se-lhe mais e mais difícil caminhar. Foi então carregado, pela primeira vez, pelos fiéis companheiros: Susi, Chuman e Jacó Wainwright, todos indígenas.
No seu diário, as últimas notas que escreveu dizem: "Cansadíssimo, fico... Recuperada a saúde... Estamos nas margens do Mililamo".
Chegaram à aldeia de Chitambo, em Ilala onde Susi fez uma cabana para ele. Nessa cabana, a 1º de maio de 1873, fiel Susi achou seu bondoso mestre de joelhos, ao lado da cama - morto. Orou enquanto viveu e partiu deste mundo orando!
Os dois fiéis companheiros, Susi e Chuman, enterra­ram o coração de Livingstone abaixo de uma árvore em Chitambo, secaram e embalsamaram o corpo, e o levaram até a costa - viagem que durou alguns meses, pelo territó­rio de várias tribos hostis.
O sacrifício desses valentes fi­lhos da África, sem terem qualquer propósito de remunera­ção, não será esquecido por Deus, nem pelo mundo.
O corpo, depois de chegar em Zanzibar, foi transporta­do para a Inglaterra, onde foi sepultado na Abadia de Westminster, entre os monumentos dos reis e heróis da­quela nação. Não havia dúvida quanto ao corpo de Li­vingstone; era fácil de identificar: o osso de cima do braço esquerdo tinha distintamente as marcas dos dentes do leão que o atacara.
Entre os que assistiram ao enterro, estavam seus filhos e o velho missionário Roberto Moffatt, pai da sua querida esposa. A multidão consistia de povo humilde, que o ama­va e dos grandes, que o honravam e respeitavam.Conta-se que havia, entre as multidões que permane­ciam nas calçadas das ruas de Londres no dia em que o cortejo, com o corpo de Davi Livingstone, passava, um ve­lho chorando amargamente. Ao lhe perguntarem por que chorava, respondeu: - "É porque Davizinho e eu nascemos na mesma aldeia, cursamos o mesmo colégio e assistimos a mesma Escola Dominical, trabalhávamos na mesma má­quina de fiar. Mas Davizinho foi por aquele caminho, eu por este. Agora ele é honrado pela nação, enquanto eu sou desprezado, desconhecido e desonrado. O único futuro para mim é o enterro de beberrão".
Não é somente o ambiente, mas a escolha na mocidade é que determina o destino, não só aqui no mundo, mas para toda a eternidade.
Quando Livingstone falou aos alunos da Universidade de Cambridge, em 1857, disse: "Por minha parte, nunca cesso de me regozijar por Deus ter-me apontado para tal ofício. O povo fala do sacrifício de eu passar tão grande parte da vida na África. - Será sacrifício pagar uma peque­na parte da dívida, dessa dívida que nunca poderemos li­quidar, do que devemos ao nosso Deus? É sacrifício aquilo que traz a bendita recompensa de saúde, o conhecimento de praticar o bem, a paz de espírito e a viva esperança de um glorioso destino? Longe esteja tal idéia! Digo com ênfa­se: Não é sacrifício... Nunca fiz sacrifício. Não devemos fa­lar dos nossos sacrifícios, ao nos lembrarmos do grande sa­crifício que fez Aquele que desceu do trono de seu Pai, nas alturas, para se entregar por nós".
Se Livingstone não tivesse adoecido, teria descoberto as nascentes do Nilo. Durante os trinta anos que passou na África, nunca se esqueceu do seu alvo principal que era le­var Cristo aos povos desse escuro continente. Todas as via­gens que realizou foram viagens missionárias.
Gravadas no seu túmulo podem ser lidas estas pala­vras: "O coração de Livingstone jaz na África, seu corpo descansa na Inglaterra, mas sua influência continua".
Gravados para sempre na história da Igreja de Cristo estão os grandes êxitos na África durante um período demais de 75 anos depois de sua morte, êxitos inspirados, em grande parte, pelas orações e persistência desse eminente servo de Deus, que foi fiel até a morte.
(extraido do livro hérois da fé)

JORGE MÜLLER
APÓSTOLO DA FÉ
(1805-1898) - "Pela fé, Abel... Pela fé, Noé... Pela fé, Abraão..." As­sim é que o Espírito Santo conta as incríveis proezas que Deus fez por intermédio dos homens que ousavam confiar unicamente nele. Foi no século XIX que Deus acrescentou o seguinte a essa lista: "Pela fé, Jorge Müller levantou or­fanatos, alimentou milhares de órfãos, pregou a milhões de ouvintes em redor do globo e ganhou multidões de almas para Cristo".
Jorge Müller nasceu em 1805, de pais que não conhe­ciam a Deus. Com a idade de dez anos, foi enviado a uma universidade, a fim de preparar-se para pregar o Evange­lho, não, porém, com o alvo de servir a Deus, mas para ter uma vida cômoda. Gastou esses primeiros anos de estudo nos mais desenfreados vícios, chegando, certa vez, a ser preso por vinte e quatro dias. Jorge, uma vez solto, esfor­çava-se nos estudos, levantando-se às quatro da manhã e estudando o dia inteiro até as dez da noite. Tudo isso, po­rém, ele fazia para alcançar uma vida descansada de pregador.
Aos vinte anos de idade, contudo, houve uma completa transformação na vida desse moço. Assistiu a um culto onde os crentes, de joelhos, pediam que Deus fizesse cair sua bênção sobre a reunião. Nunca se esqueceu desse cul­to, em que viu, pela primeira vez, crentes orando ajoelha­dos; ficou profundamente comovido com o ambiente espi­ritual a ponto de buscar também a presença de Deus, cos­tume esse que não abandonou durante o resto da vida.
Foi nesses dias, depois de sentir-se chamado para ser missionário, que passou dois meses hospedado no famoso orfanato de A. H. Frank. Apesar de esse fervoroso servo de Deus, o senhor Frank, ter morrido quase cem anos antes (em 1727), o seu orfanato continuava a funcionar com as mesmas regras de confiar inteiramente em Deus para todo o sustento. Mais ou menos ao mesmo tempo em que Jorge Müller hospedou-se no orfanato, um certo dentista, o se­nhor Graves, abandonou as Suas atividades que lhe davam um salário de 7.500 dólares por ano, a fim de ser missioná­rio na Pérsia, confiando só nas promessas de Deus para su­prir todo o seu sustento. Foi assim que Jorge Müller, o novo pregador, recebeu nessa visita a inspiração que o le­vou mais tarde a fundar seu orfanato sobre os mesmos princípios.
Logo depois de abandonar sua vida de vícios, para an­dar com Deus, chegou a reconhecer o erro, mais ou menos universal, de ler muito acerca da Bíblia e quase nada da Bíblia. Esse livro tornou-se a fonte de toda a sua inspira­ção e o segredo do seu maravilhoso crescimento espiritual. Ele mesmo escreveu: "O Senhor me ajudou a abandonar os comentários e a usar a simples leitura da Palavra de Deus como meditação. O resultado foi que, quando, a primeira noite, fechei a porta do meu quarto para orar e meditar sobre as Escrituras, aprendi mais em poucas horas do que antes durante alguns meses." E acrescentou: "A maior di­ferença, porém, foi que recebi, assim, força verdadeira para a minha alma". Antes de falecer, disse que lera a Bíblia inteira cerca de duzentas vezes; cem vezes o fez es­tando de joelhos.
Quando estava ainda no seminário, nos cultos domésti­cos de noite com os outros alunos, frequentemente continuou orando até a meia-noite. De manhã, ao acordar, cha­mava-os de novo para a oração, às seis horas.
Certo pregador, pouco tempo antes da morte de Jorge Müller, perguntou-lhe se orava muito. A resposta foi esta: "Algumas horas todos os dias. E ainda, vivo no espírito de oração; oro enquanto ando, enquanto deitado e quando me levanto. Estou constantemente recebendo respostas. Uma vez persuadido de que certa coisa é justa, continuo a orar até a receber. Nunca deixo de orar!... Milhares de almas têm sido salvas em respostas às minhas orações... Espero encontrar dezenas de milhares delas rio Céu... O grande ponto é nunca cansar de orar antes de receber a resposta. Tenho orado 52 anos, diariamente, por dois homens, filhos dum amigo da minha mocidade. Não são ainda converti­dos, porém, espero que o venham a ser. - Como pode ser de outra forma? Há promessas inabaláveis de Deus e sobre elas eu descanso".
Não muito antes de seu casamento, não se sentia bem com o costume de salário fixo, preferindo confiar em Deus em vez de confiar nas promessas dos irmãos. Deu sobre isso as três seguintes razões:
1) "Um salário significa uma importância designada, geralmente adquirida do aluguel dos bancos. Mas a vontade de Deus não é alugar bancos (Tiago 2.1-6)".
2) "O preço fixo dum assento na igreja, às vezes, é pesado demais para alguns filhos de Deus e não quero colocar o menor obstáculo no caminho do progresso espiritual da igreja".
3) "Toda a ideia de alugar os assentos e ter salário torna-se tropeço para o pregador, levando-o a trabalhar mais pelo dinheiro do que por razões espiri­tuais".
Jorge Müller achava quase impossível ajuntar e guar­dar dinheiro para qualquer imprevisto, e não ir direto a Deus. Assim o crente confia no dinheiro em caixa, em vez de confiar em Deus.
Um mês depois de seu casamento, colocou uma caixa no salão de cultos e anunciou que podiam deitar lá as ofer­tas para o seu sustento e que, daí em diante, não pediria mais nada, nem a seus amados irmãos; porque, como ele disse, "Sem me aperceber, tenho sido levado a confiar no braço de carne, mas o melhor é ir diretamente ao Senhor" O primeiro ano findou com grande triunfo e Jorge Müller disse aos irmãos que, apesar da pouca fé ao come­çar, o Senhor tinha ricamente suprido todas as suas neces­sidades materiais e, o que foi ainda mais importante, ti­nha-lhe concedido o privilégio de ser um instrumento na sua obra.
O ano seguinte foi, porém, de grande provação, porque muitas vezes não lhe restava nem um xelim. E Jorge Müller acrescenta que no momento próprio a sua fé sem­pre foi recompensada com a chegada de dinheiro ou ali­mentos.
Certo dia, quando só restavam oito xelins, Müller pe­diu ao Senhor que lhe desse dinheiro. Esperou muitas ho­ras sem qualquer resposta. Então chegou uma senhora e perguntou: - "O irmão precisa de dinheiro?" Foi uma grande prova da sua fé, porém, o pastor respondeu: - "Mi­nha irmã, eu disse aos irmãos, quando abandonei meu sa­lário, que só informaria o Senhor a respeito das minhas ne­cessidades". - "Mas", respondeu a senhora, "Ele me disse que eu lhe desse isto", e colocou 42 xelins na mão do prega­dor.
Outra vez passaram-se três dias sem terem dinheiro em casa e foram fortemente assaltados pelo Diabo, a ponto de quase resolverem que tinham errado em aceitar a doutrina de fé nesse sentido. Quando, porém, voltou ao seu quarto achou 40 xelins que uma irmã deixara. E ele acrescentou então: "Assim triunfou o Senhor e nossa fé foi fortalecida".
Antes de findar o ano, acharam-se de novo inteiramen­te sem dinheiro, num dia em que tinham de pagar o alu­guel. Pediram a Deus e o dinheiro foi enviado. Nessa oca­sião, Jorge Müller fez para si a seguinte regra da qual nun­ca mais se desviou: "Não nos endividaremos, porque acha­mos que tal coisa não é bíblica (Romanos 13.8), e assim não teremos contas a pagar. Somente compraremos o que pudermos, tendo o dinheiro em mãos, assim sempre sabe­remos quanto realmente possuímos e quanto temos o direi­to de gastar".
Deus, assim, gradualmente treinava o novo pregador a confiar nas suas promessas. Estava tão certo da fidelidade das promessas da Bíblia, que não se desviou, durante os longos anos da sua obra no orfanato, da resolução de não pedir ao próximo, e de não se endividar.
Um outro segredo que o levou a alcançar tão grande bênção de confiarem Deus, foi a sua resolução de usar o di­nheiro que recebia somente para o fim a que fora destina­do. Essa regra nunca infringiu, nem para tomar empresta­do de tais fundos, apesar de se ter achado milhares de ve­zes face a face com as maiores necessidades.
Nesses dias, quando começou a provar as promessas de Deus, ficou comovido pelo estado dos órfãos e pobres crian­ças que encontrava nas ruas. Ajuntou algumas dessas crianças para comer consigo às oito horas da manhã e a se­guir, durante uma hora e meia, ensinava-lhes as Escritu­ras. A obra aumentou rapidamente. Quanto mais crescia o número para comer, tanto mais recebia para alimentá-las até se achar cuidando de trinta a quarenta menores.
Ao mesmo tempo, Jorge Müller fundou a Junta para o Conhecimento das Escrituras na Nação e no Estrangeiro. O alvo era: 1) Auxiliar as escolas bíblicas e as escolas do­minicais. 2) Espalhar as Escrituras. 3) Aumentar a obra missionária. Não é necessário acrescentar que tudo foi fei­to com a mesma resolução de não se endividar, mas sem­pre pedir a Deus, em secreto, todo o necessário.
Certa noite, quando lia a Bíblia, ficou profundamente impressionado com as palavras: "Abre bem a tua boca, e ta encherei" (Salmo 81.10). Foi levado a aplicar essas pa­lavras ao orfanato, sendo-lhe dada a fé de pedir mil libras ao Senhor; também pediu que Deus levantasse irmãos com qualificação para cuidar das crianças. Desde aquele mo­mento, esse texto (Salmo 81.10), serviu-lhe como lema e a promessa se tornou em poder que determinou todo o curso da sua vida.
Deus não demorou muito a dar a sua aprovação de alu­gar uma casa para os órfãos. Foi apenas dois dias depois de começar a pedir, que ele escreveu no seu diário: "Hoje re­cebi o primeiro xelim para a casa dos órfãos".
Quatro dias depois foi recebida a primeira contribuição de móveis: um guarda-roupa; e uma irmã ofereceu dar seus serviços para cuidar dos órfãos. Jorge Müller escreveu naquele dia que estava alegre no Senhor e confiante em que Ele ia completar tudo.
No dia seguinte, Jorge Müller recebeu uma carta com estas palavras: "Oferecemo-nos para o serviço do orfanato, se o irmão achar que temos as qualificações. Oferecemos também todos os móveis, etc, que o Senhor nos tem dado. Faremos tudo isto sem qualquer salário, crendo que, se for a vontade do Senhor usar-nos, Ele suprirá todas as nossas necessidades". Desde aquele dia, nunca faltaram, no orfa­nato, auxiliares alegres e devotados, apesar de a obra au­mentar mais depressa do que Jorge Müller esperava.
Três meses depois, foi que conseguiu alugar uma gran­de casa e anunciou a data da inauguração do orfanato para o sexo feminino. No dia da inauguração, porém, ficou de­sapontado: nenhuma órfã foi recebida. Somente depois de chegar a casa é que se lembrou de que não as tinha pedido. Naquela noite humilhou-se rogando a Deus o que anelava. Ganhou a vitória de novo, pois veio uma órfã no dia se­guinte. Quarenta e duas pediram entrada antes de findar o mês, e já havia vinte e seis no orfanato.
Durante o ano, houve grandes e repetidas provas de fé. Aparece, por exemplo, no seu diário: "Sentindo grande ne­cessidade ontem de manhã, fui dirigido a pedir com insis­tência a Deus e, em resposta, à tarde, um irmão deu-me dez libras". Muitos anos antes da sua morte, afirmou que, até aquela data, tinha recebido da mesma forma 5.000 ve­zes a resposta, sempre no mesmo dia em que fazia o pedi­do.
Era seu costume, e recomendava também aos irmãos, guardar um livro. Numa página assentava seu pedido com a data e no lado oposto a data em que recebera a resposta. Dessa maneira, foi levado a desejar respostas concretas aos seus pedidos e não havia dúvida acerca dessas respostas.
Com o aumento do orfanato e do serviço de pastorear os quatrocentos membros de sua igreja, Jorge Müller achou-se demasiadamente ocupado para orar. Foi nesse tempo que chegou a reconhecer que o crente podia fazer mais em quatro horas, depois de uma em oração, do que em cinco sem oração. Essa regra ele a observou fielmente durante 60 anos. Quando alugou a segunda casa, para os órfãos de sexo masculino, disse: "Ao orar, estava lembrado de que pedia a Deus o que parecia impossível receber dos irmãos, mas que não era demasiado para o Senhor conceder". Ele orava com noventa pessoas sentadas às mesas: "Senhor, olha para as necessidades de teu servo..." Essa foi uma oração a que Deus abundantemente respondeu. Antes de morrer, testificou que, pela fé, alimentava 2.000 órfãos, e nenhuma refeição se fez com atraso de mais de trinta minutos.
Muitas pessoas perguntavam a Jorge Müller como con­seguia ele saber a vontade de Deus, pois não fazia nada sem primeiro ter a certeza de ser da vontade do Senhor. Ele respondia:
1) "Procuro manter o coração em tal estado que ele não tenha qualquer vontade própria no caso. De dez proble­mas, já temos a solução de nove, quando conseguimos ter um coração entregue para fazer a vontade do Senhor, seja essa qual for. Quando chegamos verdadeiramente a tal ponto, estamos, quase sempre, perto de saber qual é a sua vontade.
2) "Tenho o coração entregue para fazer a vontade do Senhor, não deixo o resultado ao mero sentimento ou a uma simples impressão. Se o faço, fico sujeito a grandes enganos.
3) "Procuro a vontade do Espírito de Deus por meio da sua Palavra. É essencial que o Espírito e a Palavra acom­panhem um ao outro. Se eu olhar para o Espírito, sem a Palavra, fico sujeito, também, a grandes ilusões.
4) "Depois considero as circunstâncias providenciais. Essas, ao lado da Palavra de Deus e do seu Espírito, indi­cam claramente a sua vontade.
5) "Peço a Deus em oração que me revele sua própria vontade.
6) "Assim, depois de orar a Deus, estudar a Palavra e refletir, chego à melhor resolução deliberada que posso com a minha capacidade e conhecimento; se eu continuar a sentir paz, no caso, depois de duas ou três petições mais, sigo conforme essa direção. Nos casos mínimos e nas tran­sações da maior responsabilidade, sempre acho esse méto­do eficiente".Jorge Müller, três anos antes da sua morte, escreveu: "Não me lembro, em toda a minha vida de crente, num período de 69 anos, de que eu jamais buscasse, sincera­mente e com paciência, saber a vontade de Deus pelo ensi­namento do Espírito Santo por intermédio da Palavra de Deus, e que não fosse guiado certo. Se me faltava, porém, sinceramente de coração e pureza perante Deus, ou se eu não olhava para Deus, com paciência pela direção, ou se eu preferia o conselho do próximo ao da Palavra do Deus vivo, então errava gravemente".
Sua confiança no "Pai dos órfãos" era tal, que nem uma só vez recusou aceitar crianças no orfanato. Quando lhe perguntavam porque assumira o encargo do orfanato, respondeu que não fora apenas para alimentar os órfãos material e espiritualmente, mas "o primeiro objetivo bási­co do orfanato era - afirmava -, e ainda é, que Deus seja magnificado pelo fato de que os órfãos sob os meus cuida­dos foram e estão sendo supridos de todo o necessário, so­mente por oração e fé, sem eu nem meus companheiros de trabalho pedirmos ao próximo; por isso mesmo se pode ver que Deus continua fiel e ainda responde às nossas ora­ções".
Em resposta a muitos que queriam saber como o crente pode adquirir tão grande fé, deu as seguintes regras:
1) Lendo a Bíblia e meditando sobre o texto lido, che­ga-se a conhecer a Deus, por meio de oração.
2) Procurar manter um coração íntegro e uma boa consciência.
3) Se desejamos que a nossa fé cresça, não devemos evitar aquilo que a prove e por meio do que ela seja fortale­cida.
"Ainda mais um ponto: para que a nossa fé se fortale­ça, é necessário que deixemos Deus agir por nós ao chegar a hora da provação, e não procurar a nossa própria liberta­ção.
"Se o crente desejar grande fé, deve dar tempo para Deus trabalhar."
Os cinco prédios construídos de pedras lavradas e si­tuados em Ashley Hill, Bristol, Inglaterra, com 1.700 janelas e lugar para acomodar mais de 2.000 pessoas, são teste­munhas atuais dessa grande fé de que ele escreveu.
Cada uma dessas dádivas (devemo-nos lembrar) Jorge Müller lutou com Deus em oração para obter; orou com alvo certo e com perseverança, e Deus lhe respondeu.
São de Jorge Müller estas palavras: "Muitas repetidas vezes tenho-me encontrado em posição muito difícil, não só com 2.000 pessoas comendo diariamente às mesas, mas também com a obrigação de atender a todas as demais despesas, estando a nossa caixa com os fundos esgotados. Havia ainda 189 missionários para sustentar, cerca de 100 colégios com mais ou menos 9.000 alunos, além de 4.000.000 de tratados para distribuir, tudo sob nossa res­ponsabilidade, sem que houvesse dinheiro em caixa para as despesas".
Certa vez o doutor A. T. Pierson foi hóspede de Jorge Müller no seu orfanato. Uma noite, depois que todos se deitaram, Jorge Müller o chamou para orar dizendo que não havia coisa alguma em casa para comer. O doutor Pierson quis lembrar-lhe que o comércio estava fechado, mas Jorge Müller bem sabia disso. Depois da oração deita­ram-se, dormiram e, ao amanhecer, a alimentação já esta­va suprida e em abundância para 2.000 crianças. Nem o doutor Pierson, nem Jorge Müller chegaram a saber como a alimentação foi suprida. A história foi contada naquela manhã, ao senhor Simão Short, sob a promessa de guardá-la em segredo até o dia da morte do benfeitor. O Senhor despertara essa pessoa do sono, à noite, e mandara que le­vasse alimentos suficientes para suprir o orfanato durante um mês. E isso sem a pessoa saber coisa alguma da oração de Jorge Müller e do doutor Pierson!
Com a idade de 69 anos Jorge Müller iniciou suas via­gens, nas quais pregou centenas de vezes em quarenta e duas nações, a mais de três milhões de pessoas. Recebeu, em resposta às suas orações, tudo de Deus para pagar as grandes despesas. Mais tarde, ele escreveu: "Digo com ra­zão: Creio que eu não fui dirigido a nenhum lugar onde não houvesse prova evidente de que o Senhor me mandara para lá". Ele não fez essas viagens com o plano de solicitar dinheiro para a junta; não recebeu o suficiente nem para as despesas de doze horas da junta. Segundo as suas pala­vras, o alvo era "que eu pudesse, por minha experiência e conhecimento das coisas divinas, comunicar uma bênção aos crentes... e que eu pudesse pregar o Evangelho aos que não conheciam o Senhor".
Assim escreveu ele sobre um seu problema espiritual: "Sinto constantemente a minha necessidade... Nada posso fazer sozinho, sem cair nas garras de Satanás. O orgulho, a incredulidade ou outros pecados me levariam à ruína. So­zinho não permaneço firme um momento. Que nenhum leitor pense que devido à minha dedicação, eu não me pos­sa 'inchar' ou me orgulhar, ou que eu não possa descrer de Deus!"
O estimado evangelista, Carlos Inglis, contou a respeito de Jorge Müller:
"Quando vim pela primeira vez à América, faz trinta e um anos, o comandante do navio era devoto tal que jamais conheci. Quando nos aproximamos da Terra Nova, ele me disse: 'Sr. Inglis, a última vez que passei aqui, há cinco se­manas, aconteceu uma coisa tão extraordinária que foi a causa de uma transformação de toda a minha vida de cren­te. Até aquele tempo eu era um crente comum. Havia a bordo conosco um homem de Deus, o senhor Jorge Müller, de Bristol. Eu tinha passado 22 horas sem me afastar da ponte de comando, nem por um momento, quando fui as­sustado por alguém que me tocou no ombro. Era o senhor Jorge Müller. Houve, então, entre nós o seguinte diálogo:
- Comandante - disse o senhor Müller, - vim dizer-lhe que tenho de estar em Quebec no sábado, à tarde.
Era quarta-feira.
- Impossível - respondi.                                        
- Pois bem, se seu navio não pode levar-me, Deus acha­rá outro meio de transporte. Durante 57 anos nunca deixei de estar no lugar à hora em que me achava comprometido.
- Teria muito prazer em ajudá-lo, mas o que posso fa­zer? - Não há meios!
- Vamos aqui dentro para orar - sugeriu.
Olhei para aquele homem e disse a mim mesmo: 'De qual casa de doidos escapou este?' Nunca eu ouvira al­guém falar desse modo.
- Sr. Müller, o senhor vê como é espessa esta neblina.
- Não - respondeu ele - os meus olhos não estão na neblina, mas no Deus vivo que governa todas as circuns­tâncias da minha vida.
O senhor Müller caiu de joelhos e orou da forma mais simples possível. Eu pensei: 'É uma oração como a de uma criança de oito ou nove anos'. Foi mais ou menos assim que ele orou: 'Ó Senhor, se for da tua vontade, retira esta neblina dentro de cinco minutos. Sabes como me compro­meti a estar em Quebec no sábado. Creio ser isso a tua vontade."
Quando findou, eu queria orar também, mas o senhor Müller pôs a sua mão no meu ombro e pediu que não o fizesse, dizendo:
- Comandante, primeiro o senhor não crê que Deus faça isso, e, em segundo lugar, eu creio que Ele já o fez. Não há, pois, qualquer necessidade de o senhor orar nesse sentido. Conheço, comandante, o meu Senhor há cinquenta e sete anos e não há dia em que eu não tenha audiência com Ele. Levante-se, por favor, abra a porta e verá que a neblina já desapareceu.
Levantei-me, olhei, e a neblina havia desaparecido. No sábado, à tarde, Jorge Müller estava em Quebec.'"
Para o ajudar a levar a carga dos orfanatos e a apro­priar-se das promessas de Deus em oração, lado a lado com ele, Jorge Müller tinha consigo, havia quase quarenta anos, uma esposa sempre fiel. Quando ela faleceu, milha­res de pessoas assistiram ao seu enterro, das quais cerca de 1.200 eram órfãos. Ele mesmo, fortalecido pelo Senhor, conforme confessou, dirigiu os cultos fúnebres no templo e no cemitério.
Com a idade de 90 anos pregou o sermão fúnebre da se­gunda esposa, como o fizera na morte da primeira. Uma pessoa que assistiu a esse enterro, assim se expressou: -"Tive o privilégio, sexta-feira, de assistir ao enterro da se­nhora Müller... e presenciar um culto simples, que foi, tal­vez, pelas suas peculiaridades, o único na história do mun­do: Um venerável patriarca preside ao culto do início ao fim. Com a idade de noventa anos, permanece ainda cheio daquela grande fé que o tem habilitado a alcançar tanto, e que o tem sustentado em emergência, problemas e traba­lhos duma longa vida..."
No ano de 1898, com a idade de noventa e três anos, na última noite antes de partir para estar com Cristo, sem mostrar sinal de diminuição de suas forças físicas, deitou-se como de costume. Na manhã do dia seguinte foi "cha­mado", na expressão de um amigo ao receber as notícias que assim explicam a partida: "O querido ancião Müller desapareceu de nosso meio para o Lar, quando o Mestre abriu a porta e o chamou ternamente, dizendo: 'Vem!'"
Os jornais publicaram, meio século depois da sua mor­te, a seguinte notícia: "O orfanato de Jorge Müller, em Bristol, permanece como uma das maravilhas do mundo. Desde a sua fundação, em 1836, a cifra que Deus tem con­cedido, unicamente em resposta às orações, sobe a mais de vinte milhões de dólares e o número de órfãos ascende a 19.935. Apesar de os vidros de cerca de 400 janelas terem sido partidos recentemente por bombas (na segunda guer­ra mundial), nenhuma criança e nenhum auxiliar foi feri­do".
(extraido do livro hérois da fé)

CARLOS FINNEY
APÓSTOLO DE AVIVAMENTOS
(1792-1875)  - Perto da aldeia de New York Mills, no século dezenove, havia uma fábrica de tecidos movida pela força das águas do rio Oriskany. Certa manhã, os operários se achavam co­movidos, conversando sobre o poderoso culto da noite an­terior, no prédio da escola pública.
Não muito depois de começar o ruído das máquinas, o pregador, um rapaz alto e atlético, entrou na fábrica. O po­der do Espírito Santo ainda permanecia sobre ele; os ope­rários, ao vê-lo, sentiram a culpa de seus pecados a ponto de terem de se esforçar para poderem continuar a traba­lhar. Ao passar perto de duas moças que trabalhavam jun­tas, uma delas, no ato de emendar um fio, foi tomada de tão forte convicção, que caiu em terra, chorando. Segundos depois, quase todos em redor tinham lágrimas nos olhos e, em poucos minutos, o avivamento encheu todas as depen­dências da fábrica.
O diretor, vendo que os operários não podiam traba­lhar, achou que seria melhor cuidassem da salvação da al­-ma, e mandou que parassem as máquinas. A comporta das águas foi fechada e os operários se ajuntaram em um salão do edifício. O Espírito Santo operou com grande poder e dentro de poucos dias quase todos se converteram.
Diz-se acerca deste pregador, que se chamava Carlos Finney, que, depois de ele pregar em Governeur, no Estado de New York, não houve baile nem representação de teatro na cidade durante seis anos. Calcula-se que, durante os anos de 1857 e 1858, mais de 100 mil pessoas foram ganhas para Cristo pela obra direta e indireta de Finney. A sua au­tobiografia é o mais maravilhoso relato de manifestação do Espírito Santo, excetuando o livro de Atos dos Apóstolos. Alguns consideram o seu livro, "Teologia Sistemática", a maior obra sobre teologia, a não ser as Sagradas Escritu­ras.
- Como se explica o seu êxito tão destacado nos anais dos servos da Igreja de Cristo? - Sem dúvida era, antes de tudo, o resultado da sua profunda conversão.
Nasceu de uma família descrente e se criou em um lu­gar onde os membros da igreja conheciam, apenas, a for­malidade fria dos cultos. Finney era advogado; ao encon­trar, nos seus livros de jurisprudência, muitas citações da Bíblia comprou um exemplar com a intenção de conhecer as Escrituras. O resultado foi que, após a leitura, achou mais e mais interesse nos cultos dos crentes. Acerca da sua conversão ele relata, na sua autobiografia, o seguinte:
"Ao ler a Bíblia, ao assistir às reuniões de oração, e ou­vir os sermões de senhor Gale, percebi que não me achava pronto a entrar nos céus... Fiquei impressionado especial­mente com o fato de as orações dos crentes, semana após semana, não serem respondidas. Li na Bíblia: 'Pedi e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á'. Li, também, que Deus é mais pronto a dar o Espírito Santo aos que lho pedirem, do que os pais terrestres a darem boas coisas aos filhos. Ouvia os crentes pedirem um derrama­mento do Espírito Santo e confessarem, depois, que não o receberam.
"Exortavam uns aos outros a se despertarem para pe­dir, em oração, um derramamento do Espírito de Deus e afirmavam que assim haveria um avivamento com a conversão de pecadores... Mas ao ler mais a Bíblia, vi que as orações dos crentes não eram respondidas porque não ti­nham fé, isto é, não esperavam que Deus lhes daria o que pediam... Entretanto, com isso senti um alívio acerca da veracidade do Evangelho... e fiquei convicto de que a Bíblia, apesar de tudo, é a verdadeira Palavra de Deus.
"Foi num domingo de 1821 que assentei no coração re­solver o problema sobre a salvação da minha alma e ter paz com Deus. Apesar das minhas grandes preocupações como advogado, resolvi seguir rigorosamente a determina­ção de ser salvo. Pela providência de Deus, não me achei muito ocupado nem segunda nem terça-feira, e consegui passar a maior parte do tempo lendo a Bíblia e orando.
"Mas ao encarar a situação resolutamente, achei-me sem coragem para orar sem tapar o buraco da fechadura. Antes deixava a Bíblia aberta na mesa com os outros livros e não me envergonhava de lê-la diante do próximo. Mas então, se entrasse alguém, eu colocaria um livro aberto sobre a Bíblia para escondê-la.
"Durante a segunda e a terça-feira, a minha con­vicção aumentou, mas parecia que o coração se havia en­durecido: eu não podia chorar, nem orar... Terça-feira, à noite, senti-me muito nervoso e parecia-me estar perto da morte. Reconhecia que, se eu morresse, por certo iria para o Inferno.
"De manhã cedo, fui para o gabinete... Parecia que uma voz me perguntava: - 'Por que esperas? Não prometes-te dar o coração a Deus? O que experimentas fazer? - al­cançar a justificação pelas obras?' Foi então que vi, clara­mente, como qualquer vez depois, a realidade e a plenitu­de da propiciação de Cristo. Vi que sua obra era completa e, em vez de eu necessitar duma justiça própria para Deus me aceitar, tinha de sujeitar-me à justiça de Deus por in­termédio de Cristo... Sem o saber, fiquei imóvel, não sei por quanto tempo, no meio da rua, no lugar onde a voz de dentro se dirigiu a mim. Então me veio a pergunta: - 'Aceitá-lo-ás, agora, hoje?' Repliquei: - 'Aceita-lo-ei hoje ou me esforçarei para isso até morrer...' Em vez de ir ao gabi­nete, voltei para entrar na floresta, onde podia derramar a alma sem alguém me ver nem me ouvir."Porém, o meu orgulho continuava a se manifestar; passei por cima dum alto e andei furtivamente atrás duma cerca, para que ninguém me visse, e pensasse que ia orar. Penetrei dentro da mata cerca de meio quilômetro, onde achei um lugar mais escondido entre algumas árvores caí­das. Ao entrar, disse a mim mesmo: 'Entregarei o coração a Deus, ou então não sairei daqui'.
"Mas ao tentar orar, o coração não queria. Pensara que, uma vez sozinho, onde ninguém pudesse ouvir-me, podia orar livremente. Porém, ao experimentar fazê-lo, achei-me sem coisa alguma a dizer a Delis. Toda a vez que tentava orar, parecia-me ouvir alguém chegando.
"Por fim, achei-me quase em desespero. O coração es­tava morto para com Deus e não queria orar. Então repro­vei-me a mim mesmo por ter-me comprometido a entregar o coração a Deus antes de sair da mata. Comecei a pensar que Deus já me tivesse abandonado... Achei-me tomado de uma fraqueza demasiadamente grande para ficar de joe­lhos.
"Foi justamente nessa altura que pensei novamente que ouvia alguém se aproximando e abri os olhos para ver. Logo foi-me revelado que o orgulho do meu coração era a barreira entre mim e a minha salvação. Fui vencido pela convicção do grande pecado de eu envergonhar-me se al­guém me encontrasse de joelhos perante Deus, e bradei em alta voz que não abandonaria o lugar, nem que todos os ho­mens da terra e todos os demônios do Inferno me cercas­sem. Gritei: 'Ora, um vil pecador como eu, de joelhos pe­rante o grande e santo Deus, e confessando-lhes os peca­dos, e me envergonho dele perante o próximo, pecador também, porque me encontro de joelhos para achar paz com o meu Deus ofendido!' O pecado parecia-me horren­do, infinito. Fiquei quebrantado até o pó perante o Senhor. Nessa altura, a seguinte passagem me iluminou: 'Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração...'
"Continuei a orar e a receber promessas e a apropriar-me delas, não sei por quanto tempo. Orei até que sem sa­ber como, achei-me voltando para a estrada. Lembro-me de que disse a mim mesmo: 'Se eu me converter, pregarei o Evangelho'.
"Na estrada, voltando para a aldeia, certifiquei-me da preciosa paz e da gloriosa calma na minha mente. - 'Que é isso?' Perguntei-me a mim mesmo. - 'Entristecera eu o Espírito Santo até retirar-se de mim? Não sinto mais con­vicção...' Então lembrei-me de que dissera a Deus, que confiaria na sua Palavra... A calma de meu espírito era in­descritível... Fui almoçar, mas não tinha vontade de co­mer. Fui ao gabinete, mas meu sócio não voltara do almo­ço. Comecei a tocar a música de um hino no rebecão, como de costume. Porém, ao começar a cantar as palavras sagra­das, o coração parecia derreter-se e só podia chorar...
"Ao entrar e fechar a porta atrás de mim, parecia-me ter encontrado o Senhor Jesus Cristo face a face. Não me entrou na mente, na ocasião, nem por algum tempo de­pois, que era apenas uma concepção mental. Ao contrário, parecia-me que eu o encontrara como encontro qualquer pessoa. Ele não disse coisa alguma, mas olhou para mim de tal forma, que fiquei quebrantado e prostrado aos seus pés. Isso, para mim, foi, depois, uma experiência extraor­dinária, porque parecia-me uma realidade, como se Ele mesmo ficasse em pé perante mim, e eu me prostrasse aos seus pés e lhe derramasse a minha alma. Chorei alto e fiz tanta confissão quanto foi possível, entre soluços. Parecia-me que lavava os seus pés com as minhas lágrimas; contu­do, sem sentir ter tocado na sua pessoa...
"Ao virar-me para me sentar, recebi o poderoso batis­mo com o Espírito Santo. Sem o esperar, sem mesmo saber que havia tal para mim, o Espírito Santo desceu de tal ma­neira, que parecia encher-me corpo e alma. Senti-o como uma onda elétrica que me traspassava repetidamente. De fato, parecia-me como ondas de amor liquefeito; porque não sei outra maneira de descrever isso. Parecia o próprio fôlego de Deus.
"Não existem palavras para descrever o maravilhoso amor derramado no meu coração. Chorei de tanto gozo e amor que senti; acho melhor dizer que exprimi, chorando em alta voz, as inundações indizíveis do meu coração. As ondas passaram sobre mim, uma após outra, até eu clamar: 'Morrerei, se estas ondas continuarem a passar sobre mim!. Senhor, não suporto mais!' Contudo, não receava a morte.
"Não sei por quanto tempo este batismo continuou a passar sobre mim e por todo o meu ser. Mas sei que era já noite quando o dirigente do coro veio ao gabinete para me visitar. Encontrou-me nesse estado de choro aos gritos e perguntou: - 'Sr. Finney, que tem?' Por algum tempo não pude responder-lhe. Então ele perguntou mais: - 'Está sentindo alguma dor?' Com dificuldade respondi: - Não, mas sinto-me demasiado feliz para viver.
"Saiu e, daí a pouco, voltou acompanhado por um dos anciãos da igreja. Esse ancião sempre foi um homem de espírito ponderado e quase nunca ria. Ele, ao entrar, en­controu-me no mesmo estado, mais ou menos, como quan­do o rapaz o foi chamar. Queria saber o que eu sentia e eu comecei a lhe explicar. Mas, em vez de responder-me, foi tomado de um riso espasmódico. Parecia impossível evitar o riso que procedia do fundo do seu coração."
Nessa altura, entrou certo rapaz que começara a frequentar os cultos da igreja. Presenciou tudo por alguns momentos, até cair ao chão em grande angústia de alma, clamando: "Orem por mim!"
O ancião da igreja e o outro crente oraram e depois Fin­ney também orou e logo após todos se retiraram deixando Finney sozinho.
Ao deitar-se para dormir, Finney adormeceu, mas logo se acordou, por causa do amor que lhe transbordava do co­ração. Isso aconteceu repetidas vezes durante a noite. Sobre isso ele escreveu depois:
"Quando me acordei, de manhã, a luz do sol penetrava no quarto. Faltam-me palavras para exprimir os meus sen­timentos ao ver a luz do sol. No mesmo instante, o batismo do dia anterior voltou sobre mim. Ajoelhei-me ao lado da cama e chorei pelo gozo que sentia. Passei muito tempo sem poder fazer coisa alguma senão derramar a alma pe­rante Deus".
Durante o dia, o povo se ocupava em falar na conversão do advogado. Ao anoitecer, sem qualquer anúncio do culto, ajuntou-se uma multidão no templo. Quando Finney relatou o que Deus fizera na sua alma, muitos foram profunda­mente comovidos; um, sentiu-se tão convicto que voltou a casa sem o chapéu. Certo advogado afirmou: "É claro que ele é sincero; mas que enlouqueceu, é evidente." Finney fa­lou e orou com grande liberdade. Realizavam-se cultos to­das as noites por algum tempo, aos quais assistiam pessoas de todas as classes. Esse grande avivamento espalhou-se para muitos lugares em redor.
Finney continuou:
"Por oito dias [depois da sua conversão) o meu cora­ção permanecia tão cheio, que não sentia desejo de comer nem de dormir. Parecia-me que tinha um manjar para co­mer que o mundo não conhecia. Não sentia necessidade de alimentar-me nem de dormir... Por fim, cheguei a ver que devia comer como de costume e dormir quanto fosse possí­vel.
"Grande poder acompanhava a Palavra de Deus; todos os dias admirava-me ao notar como poucas palavras, diri­gidas a uma pessoa, traspassavam-lhe o coração como uma seta.
"Não demorei muito em ir visitar meu pai. Ele não era salvo; o único membro da família que fizera profissão de religião era meu irmão mais novo. Meu pai encontrou-me no portão e me perguntou: - 'Como tem passado, Carlos?' Respondi-lhe: - Bem, meu pai, tanto no corpo como na al­ma. Meu pai, o senhor já é idoso, todos os seus filhos estão crescidos e casados; e nunca ouvi alguém orar na sua casa. Ele baixou a cabeça e começou a chorar, dizendo: - 'É ver­dade, Carlos; entre, e você mesmo ore'.
"Entramos e oramos. Meus pais ficaram comovidos e, não muito depois, converteram-se. Se a minha mãe tinha qualquer esperança antes, ninguém o sabia".
Assim, esse advogado, Carlos G. Finney, perdeu todo o gosto pela sua profissão e se tornou um dos mais famosos pregadores do Evangelho. Acerca de seu método de trabalhar, ele escreveu:
"Dei grande ênfase à oração como indispensável, se realmente queríamos um avivamento. Esforçava-me por ensinar a propiciação de Jesus Cristo, sua divindade, sua missão divina, sua vida perfeita, sua morte vicária, sua ressurreição, a necessidade de arrependimento e de fé, a justificação pela fé, e outras doutrinas que se tornaram vi­vas pelo poder do Espírito Santo.
"Os meios empregados eram simplesmente pregação, cultos de oração, muita oração em secreto, intensivo evangelismo pessoal e cultos para a instrução dos interessados.
"Eu tinha o costume de passar muito tempo orando; acho que, às vezes, orava realmente sem cessar. Achei, também, grande proveito em observar frequentemente dias inteiros de jejum em secreto. Em tais dias, para ficar inteiramente sozinho com Deus, eu entrava na mata, ou me fechava dentro do templo..."
Vê-se no seguinte, a maneira como Finney e seu com­panheiro de oração, o irmão Nash, "bombardeavam" os céus com as suas intercessões:
"Quase um quilômetro distante da residência do se­nhor S, morava certo adepto do universalismo. Nos seus preconceitos religiosos, recusava-se a assistir aos cultos. Certa vez o irmão Nash, que se hospedava comigo na casa do senhor S, retirou-se para dentro da mata para lutar em oração, sozinho, bem cedo de madrugada, conforme seu costume. A atmosfera era tal nessa ocasião que se ouvia qualquer som de longe. O universalista ao levantar-se, de madrugada, saiu de casa e ouviu a voz de quem orava, e, apesar de não compreender muitas das palavras, reconhe­ceu quem orava. E isso traspassou-lhe o coração como uma flecha. Sentiu a realidade da religião como nunca. A flecha permanecia. E ele achou alívio somente crendo em Cris­to".
Acerca do espírito de oração, Finney afirmou que "era coisa comum nesses avivamentos, os recém-convertidos se acharem tomados pelo desejo de orar noites inteiras até lhes faltarem as forças físicas. O Espírito Santo constran­gia grandemente o coração dos crentes, e sentiam constan­temente a responsabilidade pela salvação das almas imor­tais. A solenidade da mente se manifestava no cuidado com que falavam e se comportavam. Era muito comum encontrar crentes juntos caídos de joelhos em oração em vez de ocupados em palestras".
Em certo tempo, quando as nuvens de perseguição enegreciam cada vez mais, Finney, como era seu costume sob tais circunstâncias, sentia-se dirigido a dissipá-las, oran­do. Em vez de falar pública ou particularmente acerca das acusações, ele orava. Acerca da sua experiência escreveu: "Eu olhava para Deus com grande anelo, dia após dia, ro­gando que Ele me mostrasse o plano a seguir e a graça para suportar a borrasca... O Senhor mostrou-me, em uma vi­são, o que eu tinha de enfrentar. Ele chegou-se tão perto de mim, enquanto eu orava, que a minha carne literalmente estremecia sobre os ossos. Eu tremia da cabeça aos pés, sob o pleno conhecimento da presença de Deus".
Acrescentamos mais um exemplo, tirado da sua auto­biografia, da maneira de o Espírito Santo operar na sua pregação:
"Ao chegar, na hora anunciada para iniciar o culto, achei o prédio da escola repleto e tinha de ficar em pé perto da entrada. Cantamos um hino, isto é, o povo pretendia cantar. Entretanto, eles não tinham o costume de cantar os hinos de Deus, e cada um desentoava à sua própria ma­neira. Não podia conter-me e lancei-me de joelhos e come­cei a orar. O Senhor abriu as janelas dos céus, derramou o espírito de oração e entreguei-me de toda a alma a orar.
"Não escolhera um texto, mas logo ao levantar-me dos joelhos, eu disse: Levantai-vos, saí deste lugar, porque o Senhor há de destruir a cidade . Acrescentei que havia dois homens, um se chamava Abraão, e outro, Ló... Contei-lhes como Ló se mudara para Sodoma... O lugar era excessiva­mente corrupto... Deus resolveu destruir a cidade e Abraão orou por Sodoma. Mas os anjos acharam somente um justo lá, era Ló. Os anjos disseram: 'Tens alguém mais aqui? Teu genro, e teus filhos, e tuas filhas, e todos quantos tens nesta cidade, tira-os fora deste lugar; porque nós vamos destruir este lugar, porque o seu clamor tem engrossado diante da face do Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo'.
"Ao relatar estas coisas, os ouvintes se mostraram ira­dos a ponto de me açoitarem. Nessa altura, deixei de pre­gar e lhes expliquei que compreendera que nunca se reali­zara culto ali e que eu tinha o direito de, assim, considerá-los corruptos. Salientei isso com mais e mais ênfase e, com o coração cheio de amor até não poder mais conter-me.
"Depois de eu assim falar cerca de quinze minutos, pa­recia cair sobre os ouvintes uma tremenda solenidade e co­meçaram a cair ao chão, clamando e pedindo misericórdia. Se eu tivesse tido uma espada em cada mão, não os pode­ria derrubar tão depressa como caíram. De fato, dois mi­nutos depois de os ouvintes sentirem o choque do Espírito vir sobre eles, quase todos estavam ou caídos de joelhos ou prostrados no chão. Todos os que podiam falar de qualquer maneira, oravam por si mesmos.
"Tive de deixar de pregar, porque os ouvintes não pres­tavam mais atenção. Vi o ancião que me convidara para pregar, sentado no meio do salão, olhando em redor, estu­pefato. Gritei bem alto para ele ouvir, apesar da balbúrdia, pedindo-lhe que orasse. Caiu de joelhos e começou a orar em voz retumbante; mas o povo não prestou atenção. Gritei: Vós não estais ainda no Inferno; quero dirigir-vos a Cristo. O coração transbordava de gozo ao presenciar tal cena. Quando pude dominar os meus sentimentos, virei-me para um rapaz que estava perto de mim, consegui atrair a sua atenção e preguei Cristo, em voz bem alta, ao seu ouvido. Logo, ao olhar para a 'cruz' de Cristo, ele acal­mou-se por um pouco e então rompeu em oração pelos ou­tros. Depois fiz o mesmo com um outro; depois com mais outro e continuei assim tratando com eles até a hora do culto da noite, na aldeia. Deixei o ancião que me convidara a pregar, para continuar a obra com os que oravam.
"Ao voltar, havia tantos clamando a Deus que não po­demos encerrar a reunião, que continuou o resto da noite. Ao amanhecer o dia, alguns ainda permaneciam com a alma ferida. Não se podiam levantar e, para dar lugar às aulas, foi necessário levá-los a uma residência não muito distante. De tarde mandaram chamar-me porque ainda não findara o culto.
"Só nesta ocasião cheguei a saber a razão de o auditório agastar-se da mensagem. Aquele lugar cognominava-se 'Sodoma' e havia somente um homem piedoso lá a quem o povo tratava de 'Ló'. Era o ancião que me convidara a pregar. "Depois de já velho, Finney escreveu acerca do que o Se­nhor fez em "Sodoma". "Embora esse avivamento caísse tão repentinamente sobre eles era tão empolgante que as conversões eram profundas e a obra permanente e genuína. Nunca ouvi falar em qualquer repercussão desfavorável."
Não foi só na América do Norte que Finney viu o Espí­rito Santo cair e abater os ouvintes em terra. Na Inglater­ra, durante os nove meses de evangelização, que Finney promoveu lá, multidões também se prostraram enquanto ele pregava - em certa ocasião mais de dois mil, de uma vez.
Alguns pregadores confiam na instrução e ignoram a obra do Espírito Santo. Outros, com razão, rejeitam tal ministério infrutífero e sem graça; oram a Deus para o Espírito Santo tomar conta e alegram-se no grande pro­gresso da obra de Deus. Mas, ainda outros, como Finney, dedicam-se a buscar o poder do Espírito Santo, sem des­prezar a arma de instrução, e vêem resultados incrivel­mente mais vastos.
Durante os anos de 1851 a 1866, Finney foi diretor do Colégio de Oberlin e ensinou a um total de 20 mil estudan­tes. Dava mais ênfase ao coração puro e ao batismo com o Espírito Santo do que à preparação do intelecto; de Ober­lin saiu uma corrente contínua de alunos cheios do Espíri­to Santo. Assim, depois dos anos de uma campanha inten­siva de evangelismo e no meio dos seus esforços no colégio, "em 1857, Finney via cerca de 50 mil, todas as semanas, converterem-se a Deus." (By My Spirit, Jônathan Go­forth, p. 183.) Os diários de New York, às vezes quase não publicavam outras notícias, senão do avivamento.
Suas lições aos crentes sobre avivamento foram publi­cadas, primeiro em um jornal e depois em um livro de 445 páginas e que se intitulava "Discursos Sobre Avivamen­tos". As primeiras duas edições, de 12 mil exemplares, fo­ram vendidas logo ao saírem do prelo. Outras edições fo­ram impressas em vários idiomas. Uma só editora em Lon­dres publicou 80 mil. Entre suas outras obras de circulação mundial, contam-se as seguintes: sua "Autobiografia", "Discursos aos Crentes" e "Teologia Sistemática".
Os convertidos nos cultos de Finney eram pela graça constrangidos a andar de casa em casa para ganhar almas. Ele mesmo se esforçava para preparar o maior número de obreiros em Oberlin College. Mas o desejo que ardia sem­pre em tudo era o de transmitir a todos o espírito de ora­ção. Pregadores como Abel Câry e Father Nash viajavam com ele e, enquanto ele pregava, eles continuavam prostrados em oração. Vejamos isso nas palavras de Finney:
"Se eu não tivesse o espírito de oração, não alcançaria coisa alguma. Se por um dia, ou por uma hora eu perdesse o espírito de graça e de súplica, não poderia pregar com po­der e fruto, e nem ganhar almas pessoalmente."
Para que alguém não julgue que a obra era superficial, citamos outro escritor: "Descobriu-se, por pesquisa empol­gante, que mais de 85 pessoas de cada 100 que se conver­tiam sob a pregação de Finney, permaneciam fiéis a Deus; enquanto 75 pessoas de cada cem, das que professaram conversão nos cultos de algum dos maiores pregadores, se desviavam. Parece que Finney tinha o poder de impressio­nar a consciência dos homens, sobre a necessidade de um viver santo, de tal maneira que produzia fruto mais per­manente." (Deeper Experiences of Famous Christians, p. 243.)
Finney continuou a inspirar os estudantes de Oberlin College até a idade de 82 anos. Já no fim da vida, perma­necia tão lúcido de mente como quando jovem e sua vida nunca foi tão rica no fruto do Espírito e na beleza da sua santidade do que nesses últimos anos. No domingo, 16 de agosto de 1875, pregou seu último sermão. Mas de noite não assistiu ao culto. Ao ouvir os crentes cantarem "Jesus lover of my soul, let me to Thy bosom fly", saiu até o por­tão na frente da casa, e com estes que tanto amava, foi a última vez que cantou na terra. Acordou-se à meia-noite, sofrendo dores lancinantes no coração. Sofrera assim mui­tas vezes durante a sua vida. Semeara as sementes de avi­vamento e as regara com lágrimas. Todas as vezes que re­cebeu o fogo da mão de Deus, foi com sofrimento. Final­mente, antes de amanhecer o dia, dormiu na terra para acordar na Glória, nos céus. Faltavam-lhe apenas treze dias para completar 83 anos de vida aqui na terra
(extraido do livro hérois da fé)
PASTOR PAULO LEIVAS MACALÃO
GRANDE HOMEM DE DEUS
Paulo Leivas Macalão (1903-1982), também conhecido como Paulo Macalão, foi um brasileiro Congregacionalista; Músico; Violinista; Hinólogo da Harpa Cristã; Conselheiro da Sociedade Bíblica do Brasil-SBB e da Casa Publicadora das Assembleias de Deus-CPAD; Pioneiro do Evangelicalismo e do Pentecostalismo Brasileiro através do Campo Missionário de Madureira.
"Eu [Jesus] Sou a videira, e vocês são os ramos. Quem está unido Comigo e Eu com ele, esse dá muito fruto porque sem Mim vocês não podem fazer nada." (João 15:5, NTLH, SBB).
"Ora, vocês são o Corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente, é membro desse corpo. Assim, na igreja, Deus estabeleceu primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois os que realizam milagres, os que têm dons de curar, os que têm dom de prestar ajuda, os que têm dons de administração e os que falam diversas línguas. São todos apóstolos? São todos profetas? São todos mestres? Têm todos dons de curar? Falam todos em línguas? Todos interpretam? / Entretanto, busquem com dedicação os melhores dons. Passo agora a mostrar-lhes um caminho ainda mais excelente." (1ª Coríntios 12:27-31, NVI, SBI).
"Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor." (1ª Coríntios 13:13, VRA, SBB).
Paulo Leivas Macalão nasceu no dia 17 de Setembro de 1903 na cidade de Santana do Livramento, no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Seus pais, João Maria Macalão e Joaquina Georgina Leivas Macalão, valorizavam a educação e almejavam a carreira militar para o jovem Paulo.
Estudou inicialmente no Colégio Batista do Rio de Janeiro, na época, Distrito Federal do Brasil. Posteriormente, estudou no Colégio Pedro II, também na capital federal do Rio de Janeiro. O seu pai, Sr. João, possuía elevada patente nas Forças Armadas do Brasil como General do Exército Brasileiro, e planejou o ingresso do jovem Paulo Macalão na Academia Militar de Realengo.
O jovem Macalão estava pressionado com as responsabilidade da vida adulta que surgiram no horizonte de sua vida. Planejava seguir as trilhas do seu pai na estimada carreira militar e talvez alcançar o reconhecimento profissional, proporcionando alegrias para a família através das patentes que alcançasse, no entanto, Deus alistaria o ansioso jovem para outra carreira, na jornada divina e para engrossar as fileiras dos salvos.
Em 1924, Paulo Leivas Macalão caminhava pelas ruas do bairro imperial de São Cristóvão, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. No seu coração palpitava ansiedades e indagações, até que encontrou um pequenino papel amassado e desprezado na calçada. Abaixou! Pegou o papel e desamassou. Algumas letras começaram a atrair o seu olhar. Era um folheto evangelístico! A mensagem era salvífica em Jesus Cristo e oferecia uma chance para a sua eternidade. A Vida Eterna estava perante os seus olhos e ao alcance do seu coração. No verso do folheto constava um endereço: Rua São Luiz Gonzaga, nº 12.
Ele compareceu no endereço anunciado no folheto evangelístico. Muitas pessoas vieram oferecer boas vindas. Uma senhora, Florinda Brito, recebeu o rapaz e o convidou para as reuniões de oração que sempre ocorriam naquele local de cultos cristãos. Paulo Macalão não suspeitava que essa senhora seria sua futura sogra.
O jovem Macalão demonstrou ser assíduo frequentador das reuniões cristãs realizadas naquele local. Os sermões bíblicos impactavam o seu coração até que no dia 5 de Abril de 1924, prostrou a sua vida aos pés de Jesus Cristo, ao som do Hino Evangélico "Vem meu Libertador!" de autoria da Sra. Sarah Poulton Kalley, esposa do doutor Kalley.
Escuta os rogos que dirijo a Ti;
Vem, meu Libertador!
Poder e dons, por mim, não tenho aqui;
Vem, meu Libertador!
Vaguei perdido, longe do Senhor;
Qual triste escravo de pecados.
Oh! Vem salvar-me com Teu forte amor;
Vem, meu Libertador!
Ouve os lamentos do meu coração;
Vem, meu Libertador!
Tira a minha alma da hórrida prisão;
Vem, meu Libertador!
Eu ando em trevas, sem a Tua luz;
Vem, meu Libertador!
Vou fatigado, espero em Ti, Jesus!
Vem, meu Libertador!
Não te demores, dá-me a Tua paz;
Vem, meu Libertador!
Pois certo estou da Tua graça, é eficaz;
Vem, meu Libertador!
No domingo do dia 24 de Junho de 1924, o pastor Gunnar Vingren realizou na praia do Caju, na cidade do Rio de Janeiro, o primeiro batismo em águas. O evento foi maravilhoso para os crentes e uma multidão de curiosos estavam presentes. Dentre os candidatos ao batismo, estava o jovem Paulo Leivas Macalão.
O rapaz que deixou a carreira militar, tornar-se-ia um valoroso cooperador nos trabalhos cristãos do jovem Movimento Assembleia de Deus, auxiliando eficazmente o pioneiro Gunnar.
As atividades cristãs adquiriram expressão e outros missionários e evangelistas vieram de vários países para ajudar o campo missionário brasileiro. O suéco Lewis Pethrus, famoso jornalista, pregador e responsável por uma grande denominação Pentecostal na Europa, foi um dos que vieram para ajudar os pioneiros Daniel Berg e Gunnar Vingren.
Lewis Pethrus participou da primeira Convenção Geral das Assembleias de Deus na cidade de Natal, no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Em 1930, visitou os trabalhos missionários e pastorais na cidade do Rio de Janeiro, pregando diversos sermões para os cristãos cariocas. Na oportunidade, consagrou o jovem Paulo Leivas Macalão para os serviços pastorais.
 (1903-1982) - Paulo Macalão demonstrou incansável labor na semeação da Palavra de Deus. Rapidamente espalhou as Boas Novas para todas as regiões dos subúrbios do Rio de Janeiro. Alcançou muitas pessoas nos bairros do Realengo, Bangu, Campo Grande, Santa Cruz e Marechal Hermes.
Dons multi-funcionais surgiram na vida do pastor Macalão. Plantou várias igrejas no Estado do Rio de Janeiro. Iniciou vários trabalhos no Sudeste do Brasil e suas características evangelísticas encorajavam outros servos de Deus, promovendo um batalhão de crentes para o serviço pastoral em todo o território brasileiro.
(1903-1982) -"Um irmão que desde o princípio teve um papel muito importante no trabalho foi Paulo Leivas Macalão. Ele é filho de General e havia começado a estudar para seguir carreira militar. Mas então Deus o salvou e ele se alistou no Exército Celestial, para servir ao Rei dos reis e ao Senhor dos senhores. Ele se tornou o primeiro e mais fiel colaborador de Vingren. Em todos os lugares ele cooperava com a sua Bíblia e o seu violino, sempre fervente e zeloso e cheio do poder de Deus. Em horas livres ele escrevia e traduzia hinos e muitos destes hinos são cantados hoje no Brasil". O Diário do Pioneiro, p. 125, CPAD.
Paulo Leivas Macalão foi conselheiro da Sociedade Bíblica do Brasil-SBB e conselheiro vitalício da Casa Publicadora das Assembleias de Deus-CPAD. Foi presidente do Instituto Bíblico Ebenézer, da Conveção Nacional dos Obreiros de Madureira, e do Conselho Fiscal da Ordem dos Ministros Evangélicos do Brasil. Também foi membro do Comitê Internacional das Conferências Mundiais Pentecostais, em Dallas, Texas, nos Estados Unidos. O seu trabalho evangelístico alcançou projeção nacional e internacional.
Harpa Cristã.
Ofertou 52 anos de pastorado ao povo Assembleiano, ministrando os ensinamentos de Jesus Cristo e colaborando com a adoração nos cultos através das suas composições que perfazem aproximadamente 250 hinos na Harpa Cristã, patrimônio histórico da Assembleia de Deus no Brasil.
Em 17 de Janeiro de 1934 casou com a missionária Zélia Brito que foi uma excelente auxiliadora e esposa para encorajar o marido no labor cristão. Da união matrimonial nasceu um filho, Paulo Brito Macalão que casou com a Sra. Edna, gerando um neto para o casal Macalão: André Macalão, que atualmente é pastor Pentecostal responsável pela coordenação de dezenas de congregações no Estado de Goiás, mantendo a vocação pastoral da família Macalão.
Paulo Leivas foi responsável pelo Campo Missionário de Madureira que em muito ajudou o Pentecostalismo no Brasil. Os números demonstram o seu legado: 600 igrejas; 1.000 congregações; 3.000 pontos de pregação; 200 pastores; 500 evangelistas; 2.000 presbíteros; 5.000 diáconos; 4.000 auxiliares; 6.000 músicos; 500.000 membros assíduos.
Desde a década de 80, após o falecimento do pastor Paulo Macalão no dia 26 de Agosto de 1982 e de sua esposa Zélia, os Assembleianos enfrentaram muitas divisões na denominação originando muitas convenções e ministérios com administração autônoma em todo o país. O Campo Missionário de Madureira foi o ramo mais expressivo transformado em outra denominação através dos sucessores de Macalão.
O Campo Missionário de Madureira foi transformado na denominação Assembleia de Deus Madureira, deixando o governo eclesiástico Congregacional para assumir uma posição mista Episcopal. Atualmente os trabalhos são conduzidos pelo Bispo Manoel Ferreira. Deixaram o alinhamento da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil-CGADB para seguirem a condução dos trabalhos através da Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil - Ministério de Madureira (CONAMAD).
Depois de 30 anos do falecimento de Paulo Leivas Macalão, a Assembleia de Deus Madureira possui 3.500 igrejas; 3.000 congregações; 2.500 pastores; 8.000 presbíteros; 11.000 diáconos; 5.000 evangelistas; 3.500.000 membros.
FONTE:
Extraído do livro: O Grão de trigo que gerou as Assembleias de Deus - Pentecostalismo e História (4° EBOM) AD São Mateus, comentários: Pr. José Elias Croce;e
Casa Publicadora das Assembleias de Deus-CPAD: Harpa Cristã http://www.harpacrista.com.br/historia.php?i=3.

CONTINUA... 

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